Você está na página 1de 16

Ministério das Finanças

Execução do Orçamento da Receita

- Texto de Apoio -

Preparado e atualizado por: Alberto Velez Nunes

Março de 2019
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................. 3
2. CICLO ORÇAMENTAL DA RECEITA E CLASSIFICAÇÕES ORÇAMENTAIS ............................................... 5
3. CONTABILIZAÇÕES ASSOCIADAS À EXECUÇÃO ORÇAMENTAL DA RECEITA ..................................... 7
3.1. LIQUIDAÇÃO .............................................................................................................................................. 7
3.2. RECEBIMENTO ............................................................................................................................................. 8
3.3. ANULAÇÃO DE LIQUIDAÇÃO .................................................................................................................. 9
3.4. REEMBOLSOS E RESTITUIÇÕES ................................................................................................................. 10
4. RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO ....................................................................................................... 11
5. RELATO ORÇAMENTAL INTERCALAR ......................................................................................................... 13
6. CASOS PRÁTICOS ......................................................................................................................................... 14

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................................ 16

- 2 / 16 -
1. INTRODUÇÃO
O Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas (SNC-AP), aprovado
pelo Decreto-Lei n.º 192/2015, de 11 de setembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 85/2016, de 21 de
dezembro e pelo Decreto-Lei n.º 33/2018, de 15 de maio, é composto por três subsistemas
contabilísticos: o subsistema da contabilidade orçamental, o subsistema da contabilidade
financeira e o subsistema da contabilidade de gestão. O presente módulo incide sobre uma parte
do primeiro subsistema referido – execução orçamental da receita – a qual, nos termos do disposto
na NCP 26 – Contabilidade e Relato Orçamental (NCP 26), entrou em vigor no início de 2018, para
a Administração Central e Regional, devendo a primeira prestação de contas em SNC-AP ocorrer
em 2019.

Em relação ao âmbito de aplicação, o disposto no artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 192/2015, de 11 de


setembro, na sua redação atual1, permite concluir que a NCP 26 é aplicável a todos os serviços e
organismos das Administrações Públicas2, inclusive às entidades públicas reclassificadas
supervisionadas pela Autoridade de Seguros e Fundos de Pensões, pelo Banco de Portugal e pela
Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, as quais estão dispensadas da aplicação do SNC-AP
no seu conjunto, mas aplicam a NCP 26.

A NCP 26 regula o subsistema da contabilidade orçamental, estabelecendo “(…) os conceitos,


regras e modelos de demonstrações orçamentais de finalidades gerais (individuais, separadas e
consolidadas), …”, ou seja, demonstrações orçamentais que se destinam a satisfazer as
necessidades de utilizadores que não estejam em posição de exigir relatórios elaborados para ir ao
encontro das suas necessidades particulares de informação.

A contabilidade orçamental é processada de acordo com o método das partidas dobradas, com
base num plano de contas todo ele assente na classe zero, deixando assim de existir contas da
contabilidade orçamental que se movimentam por contrapartida de contas da contabilidade
financeira. As contas da classe zero têm sempre por contrapartida outras contas da classe zero,
esta autonomização completa do subsistema da contabilidade orçamental permite que este seja
aplicado em adição ao subsistema da contabilidade financeira, mesmo por aquelas entidades que
aplicam as International Financial Reporting Standards (IFRS), como é o caso das entidades públicas
reclassificadas supervisionadas pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

As contas da classe zero suportam todas as fases do ciclo orçamental da receita e da despesa,
permitindo a escrituração contabilística de acordo com a NCP 26, desde a elaboração do

1 A redação do artigo 3.º foi alterada pelo Decreto-Lei n.º 33/2018, de 15 de maio, alterando o universo de entidades sujeitas
ao conjunto de normas do regime geral do SNC-AP, mas a aplicação obrigatória da NCP 26 manteve-se para todas as
entidades que integram o perímetro das Administrações Públicas (incluindo as entidades publicas reclassificadas)
2 Compostas pelos seguintes subsetores: Administração Central, Local, Regional e Segurança Socia

- 3 / 16 -
orçamento, passando pelas respetivas alterações e execução, até ao encerramento da
contabilidade orçamental.

Todas as contas da classe zero por definição não estão saldadas, com exceção das contas 011
Previsões iniciais e 021 Dotações iniciais que apenas se movimentam no momento da aprovação
do orçamento e da transferência do orçamento de receita para a conta 014 Previsões por liquidar,
assim como da transferência do orçamento de despesa para a conta 024 Dotações disponíveis,
tendo por isso um caráter estático. O facto de todas as outras contas da classe zero apresentarem
saldo não nulo permite que a leitura em balancete analítico às contas da classe zero seja uma
leitura compreensiva por via do seu saldo e não dos movimentos acumulados. Note-se que a leitura
do saldo das contas da classe zero não é prejudicada por estornos ou outros lançamentos de
correção (por exemplo, anulações de liquidações ou reembolsos e restituições) que movimentam
as contas que pretendem corrigir (respetivamente, as contas de liquidações e de recebimentos),
em sentido inverso.

Aquando da escrituração contabilística no subsistema da contabilidade orçamental, deverão ser


considerados, conjuntamente com as contas desta classe zero, os classificadores orçamentais que
estiverem em vigor.

A classe zero encontra-se abaixo apresentada no seu todo, desagregada até às contas de 2.º grau.
Estas contas serão abordadas por blocos de acordo com o módulo em que se inserem, tratando o
presente módulo da execução orçamental da receita e das contas referidas no ponto seguinte.

- 4 / 16 -
01 Receita do período corrente 02 Despesa do período corrente
011 Previsões iniciais 021 Dotações iniciais
012 Previsões corrigidas 022 Dotações corrigidas
013 Alterações orçamentais 023 Modificações orçamentais
014 Previsões por liquidar 024 Dotações disponíveis
015 Liquidações 025 Cabimentos
016 Liquidações anuladas 026 Compromissos
017 Recebimentos 027 Obrigações
018 Reembolsos e restituições 028 Pagamentos
029 Reposições abatidas aos pagamentos
03 Receita a receber em períodos futuros 04 Despesa a pagar em períodos períodos futuros
031 Orçamento 041 Orçamento
032 liquidações 042 Compromissos assumidos
043 Compromissos com obrigação
044 Obrigações

07 Operações de Tesouraria
071 Recebimentos por operações de tesouraria
072 Pagamentos por operações de tesouraria

079 Conta refletida
08 Encerramento contabilidade orçamental
081 Encerramento do orçamento
082 Desempenho orçamental

09 Responsabilidades contingentes e contas de controlo
091 Responsabilidades contingentes
092 Cauções não pecuniárias e garantias obtidas
093 Contas de controlo

099 Conta refletida

2. CICLO ORÇAMENTAL DA RECEITA E CLASSIFICAÇÕES ORÇAMENTAIS

O ciclo orçamental da receita deverá obedecer às seguintes fases executadas de forma


sequencial, sem prejuízo de eventuais anulações de receita emitida que corrijam a liquidação ou
de eventuais reembolsos e restituições que corrijam o recebimento e, eventualmente, a
liquidação:
 Inscrição de previsão de receita;
 Liquidação;
 Recebimento.
A liquidação pode fazer-se por valores que excedam a respetiva previsão de receita, discriminada
por classificação económica (aprovada pelo Decreto-Lei n.º 26/2002, de 14 de fevereiro), mas
exige-se que a natureza da receita em causa esteja prevista em orçamento.

- 5 / 16 -
A escrituração das fases de execução da receita baseia-se nas seguintes contas da classe 0:
01 Receita do período corrente

014 Previsões por liquidar
015 Liquidações
0151 Liquidações transitadas
0152 Liquidações emitidas
0153 Liquidações recebidas
0154 Liquidações a transitar
016 Liquidações anuladas
0161 Liquidações transitadas anuladas
0162 Liquidações emitidas anuladas
0163 Previsões por liquidar anuladas
017 Recebimentos
0171 Recebimentos do período
0172 Recebimentos de períodos findos
018 Reembolsos e restituições
0181 Reembolsos e restituições emitidos
0182 Reembolsos e restituições pagos
0183 Reembolsos e restituições transitados
0184 Reembolsos e restituições a transitar

Segundo a NCP 26, “Os classificadores orçamentais são um elemento estruturante de qualquer
sistema de gestão orçamental, pois definem a forma como os orçamentos são apresentados,
executados e relatados, tendo uma correlação direta com a transparência e coerência do
orçamento”. Destacando a NCP 26 a importância das classificações orçamentais para:
1) A formulação de políticas e análise do desempenho;
2) Alocação eficiente de recursos entre os setores;
3) Assegurar o cumprimento dos limites orçamentais aprovados pelos órgãos competentes;
4) Para a gestão corrente do orçamento.
A NCP 26 refere que a execução da receita é, em regra, classificada de acordo com a natureza
económica e fundos. A natureza é concretizada pelo classificador económico da receita,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 26/2002, de 14 de fevereiro, e os fundos pelas fontes de
financiamento.

A classificação económica é aquela que tem um papel preponderante, sendo utilizada


juntamente com outros classificadores orçamentais nos movimentos contabilísticos relacionados

- 6 / 16 -
com o reconhecimento e mensuração (sempre ao custo e pelo valor nominal)3 das transações e
outros eventos inerentes à contabilidade orçamental.

3. CONTABILIZAÇÕES ASSOCIADAS À EXECUÇÃO ORÇAMENTAL DA RECEITA


Após a aprovação do orçamento de receita pelo respetivo órgão deliberativo (Assembleia da
República, Assembleia Municipal, etc.), inicia-se a execução orçamental, que assenta em duas
fases: liquidação e recebimento, sem prejuízo de eventuais anulações de receita liquidada que
corrijam a fase da liquidação ou de eventuais reembolsos e restituições que corrijam a fase do
recebimento e, eventualmente, a da liquidação.

Em sede de execução, temos esquematicamente as seguintes fases da receita:

•Classificação •Classificação
económica económica
Liquidação Recebimento
•Fonte de •Fonte de
financiamento financiamento

3.1. LIQUIDAÇÃO
As liquidações transitadas do ano anterior (correspondem ao saldo da conta 0154 Liquidações a
transitar movimentada no encerramento da contabilidade orçamental no final do ano anterior)
devem dar origem, na abertura do ano económico, ao lançamento:

0151 Liquidações transitadas 014 Prev isões por liquidar


XX XX

3No subsistema da contabilidade financeira as quantias podem estar mensuradas por valores reais (descontados a uma taxa
de juro apropriada)

- 7 / 16 -
Discriminadas pelas classificações orçamentais em vigor (a conta 014 Previsões por liquidar deverá
ter adquirido saldo devedor pela transferência do orçamento aprovado a partir da conta 011
Previsões iniciais4).

A receita cuja liquidação transitou do ano anterior, após o lançamento referido anteriormente, está
agora apta a ser objeto de cobrança.

As liquidações emitidas no próprio ano devem dar origem ao lançamento:

0152 Liquidações emitidas 014 Prev isões por liquidar


XX XX

Discriminadas pelas classificações orçamentais em vigor. Note-se que as contas 0151 Liquidações
transitadas e 0152 Liquidações emitidas debitam-se, tal como as contas a receber na
contabilidade financeira.

3.2. RECEBIMENTO
A cobrança de liquidações emitidas no próprio ano, deve dar origem ao seguinte lançamento
pelo recebimento:

0171 Recebimentos do período 0153 Liquidações recebidas


XX XX

No caso da cobrança de liquidações emitidas no(s) ano(s) económico(s) anterior(es) (portanto,


liquidações transitadas), o recebimento adquire a designação de recebimento de períodos findos
e deve dar origem ao seguinte lançamento contabilístico efetuado no momento do recebimento:

0172 Recebimentos de períodos findos 0153 Liquidações recebidas


XX XX

Note-se que a conta 0171 Recebimentos do período, bem como a conta 0172 Recebimentos de
períodos findos, são movimentadas a débito aquando do recebimento tal como as contas de
meios financeiros líquidos no âmbito da contabilidade financeira aquando do influxo de caixa.

011 Prev isões iniciais 012 Prev isões corrigidas 014 Prev isões por liquidar 011 Prev isões iniciais

XX XX + XX XX
4

- 8 / 16 -
O saldo devedor da conta 0171 Recebimentos do período permite ler em balancete analítico a
quantia recebida, a qual será reduzida por eventuais estornos em que se procede ao lançamento
inverso, bem como pelo montante de reembolsos e restituições pagos, caso em que a conta em
apreço é movimentada a crédito. Raciocínio idêntico pode ser aplicado em relação à conta 0172
Recebimentos de períodos findos, cujo saldo devedor (líquido de estornos, reembolsos e
restituições) permite, em balancete analítico, ler a quantia recebida cuja liquidação ocorreu em
ano económico anterior.

Em resultado da supressão da conta 0173 Recebimentos diferidos sugere-se o seguinte


procedimento:

No caso de ocorrer uma retenção na fonte aplicada por um terceiro (devedor), resultando assim
um influxo de caixa (recebimento) inferior ao que decorre da liquidação (tendo esta sido
totalmente paga pelo devedor), porque o tipo de rendimento está sujeito a imposto aplicado
através de retenção na fonte por parte do devedor, a entidade que regista o recebimento deve
simultaneamente reconhecer no subsistema da contabilidade orçamental um recebimento pela
quantia bruta e um pagamento com natureza de imposto pela quantia retida pelo terceiro,
devendo, no subsistema da contabilidade financeira, reconhecer-se o influxo de caixa pela
quantia líquida (quantia compensada).

Assim, a retenção na fonte aplicada por uma entidade terceira, quando a entidade que
reconhece o recebimento seja uma entidade pública reclassificada, sujeito passivo de IRC, será
tratada de forma equivalente a um pagamento por conta de IRC.

3.3. ANULAÇÃO DE LIQUIDAÇÃO


Nos casos em que a liquidação foi emitida por um valor excessivo, devido a lapso, ou
posteriormente vem a revelar-se excessivo, em resultado de um facto superveniente (por exemplo,
devolução de vendas), a liquidação terá de ser corrigida, em parte ou no seu todo, por via da
anulação de liquidação.

Nestes casos, é necessário ter em consideração o ano de emissão da liquidação:

 Se o ano de emissão for anterior àquele em que se procede à anulação, deve realizar-se,
aquando da anulação da liquidação, o seguinte lançamento:

0161 Liquidações transitadas anuladas 0151 Liquidações transitadas


XX XX

- 9 / 16 -
 Se o ano de emissão coincidir com o próprio ano em que se procede à anulação, deve
realizar-se, aquando da anulação da liquidação, o seguinte lançamento:

0162 Liquidações emitidas anuladas 0152 Liquidações emitidas


XX XX

Note-se que em ambos os casos anteriores é necessário proceder a um outro lançamento


destinado a repor a previsão por liquidar (é de realçar que, quando se emite a liquidação,
consome-se a previsão por liquidar, então é compreensível que, quando se anula a liquidação, se
reponha o respetivo montante em previsões por liquidar). Assim, o lançamento contabilístico que
deve ser realizado a acompanhar cada um dos lançamentos acima é:

014 Prev isões por liquidar 0163 Prev isões por liquidar anuladas
XX XX

Através da leitura conjugada dos saldos das contas 0151 Liquidações transitadas e 0152
Liquidações emitidas com o saldo da conta 0153 Liquidações recebidas é possível determinar o
montante liquidado e ainda não cobrado, por natureza da receita (e fonte de financiamento),
expurgado de eventuais liquidações anuladas (que podem ser obtidas pelo somatório dos saldos
das contas 0161 e 0162).

3.4. REEMBOLSOS E RESTITUIÇÕES


Os reembolsos e restituições devem ocorrer sempre que se cobrou receita em excesso. Em ambos
os casos (reembolsos e restituições) ocorrerá um exfluxo de caixa que deve corrigir o montante
recebido, o qual pode dar origem também a uma correção da liquidação ou não.

A designação de reembolso só deve ser usada no contexto fiscal, aplicável a impostos sujeitos a
pagamentos por conta (quer sejam efetuados pelo próprio sujeito passivo, quer sejam efetuados
por outrem, como, por exemplo, no caso em que são efetuados pela entidade empregadora
depois de aplicada a retenção na fonte aos rendimentos do trabalho dependente).

Face ao exposto, a devolução de um recebimento em excesso assume a designação de


restituição, exceto para a Autoridade Tributária e Aduaneira, que pode assumir a designação de
reembolso, dependendo dos casos.

Note-se que a restituição/reembolso é sempre tratada contabilisticamente como um abate à


receita cobrada, mesmo nos casos em que a restituição/reembolso ocorre no ano seguinte àquele
em que a receita a que respeita foi cobrada. Nestes casos, o montante de receita cobrada na

- 10 / 16 -
natureza em que terá de ocorrer o reembolso/restituição pode não ser suficiente para lhe dar
cobertura, resultando assim um montante de receita cobrada líquida negativa. Este facto é
compatível com as disposições do SNC-AP.

No processo de abertura da contabilidade orçamental, em cumprimento da FAQ 33 da CNC,


devem reconhecer-se os reembolsos e restituições transitados do período anterior, ou seja, que
foram emitidos no período anterior, mas não chegaram a ser pagos (saldo da conta 0184
Reembolsos e restituições a transitar movimentada no processo de encerramento da contabilidade
orçamental no período anterior) através do seguinte lançamento:

0153 Liquidações recebidas 0183 Reembolsos e restituições transitados


XX XX

A emissão de um reembolso ou restituição deve dar origem ao seguinte lançamento:

0153 Liquidações recebidas 0181 Reembolsos e restituições emitidos


XX XX

e quando se proceder ao exfluxo de caixa deve realizar-se o seguinte lançamento:

0182 Reembolsos e restituições pagos 0171 Recebimentos do período


XX XX

Ou

0182 Reembolsos e restituições pagos 0172 Recebimentos de períodos findos


XX XX

consoante se trate de reembolsos e restituições incidentes sobre recebimentos do período (receita


cobrada e que tinha sido liquidada no próprio ano) ou sobre recebimentos de períodos findos
(receita cobrada no próprio ano, mas cuja liquidação já tinha ocorrido em ano anterior),
respetivamente.

4. RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO
Os montantes de previsões são reconhecidos após a aprovação do orçamento e na data de início
do período a que o mesmo se refere.

Em caso de não aprovação do orçamento, deverá recorrer-se aos valores que decorrem dos
normativos legais vigentes.

- 11 / 16 -
A liquidação da receita deve ser reconhecida quando se constitui o direito em contas a receber
do qual se espera influxos de caixa futuros. Portanto, pela emissão da nota de liquidação (no caso
da receita fiscal), fatura ou documento equivalente, deve ser reconhecido o direito a receber por
natureza da receita (liquidação) na contabilidade orçamental em paralelo com o
reconhecimento do direito a receber por tipo de entidade devedora na contabilidade financeira.
Este é um ponto de contacto entre o subsistema da contabilidade orçamental e o subsistema da
contabilidade financeira do SNC-AP.

A anulação da liquidação deve ser reconhecida aquando da emissão da nota de crédito ou


documento equivalente, independentemente do motivo, seja por necessidade de correção da
liquidação, por lapso emitida em excesso, seja pela devolução de vendas ou por descontos
concedidos fora da fatura.

O recebimento deve ser reconhecido quando ocorre o influxo de caixa que resulta da cobrança
da receita liquidada no período corrente ou em período anterior em paralelo com a escrituração
do recebimento na contabilidade financeira. O recebimento também pode resultar de uma
entrada em espécie no património da entidade, momento em que ocorre o reconhecimento do
recebimento, devendo neste caso a entidade reconhecer um influxo de caixa pela regularização
do crédito sobre um terceiro e, simultaneamente, um exfluxo de caixa de igual montante pela
aquisição virtual do bem.

Os reembolsos e restituições devem ser reconhecidos aquando da emissão da respetiva nota de


liquidação/reembolso (receita fiscal) contendo o valor a reembolsar ou, no caso da restituição,
pela emissão da nota de crédito nos casos em que esta dá origem a um exfluxo de caixa.

Os lançamentos nas contas orçamentais são feitos ao custo, sendo as verbas sempre registadas
pelo valor nominal.

Significa isto que, mesmo quando o recebimento é diferido em condições mais favoráveis (para o
devedor) do que as de mercado, como sucede, por exemplo, no caso em que a entidade pública
concede um empréstimo bonificado, a entidade pública continuará a usar, no subsistema da
contabilidade orçamental do SNC-AP, as quantias nominais ao invés do que sucede no subsistema
da contabilidade financeira em que o reconhecimento inicial do empréstimo bonificado
concedido deverá ocorrer pelo seu justo valor calculado à taxa de mercado. Portanto, no
subsistema da contabilidade financeira, o reconhecimento deverá ocorrer por quantias reais, ou
seja, descontadas a uma taxa de juro apropriada.

- 12 / 16 -
5. RELATO ORÇAMENTAL INTERCALAR
Sem prejuízo do relato intercalar previsto no artigo 64.º da Lei n.º 151/20155, de 11 de setembro, na
sua redação atual, o qual terá de ser estruturado, a Norma Técnica N.º 1/2017 da UniLEO estipula
já um relato intercalar, com periodicidade definida nessa norma, destacando-se a Demonstração
de Execução Orçamental da Receita por ser aquela que por definição serve para evidenciar as
diversas fases que compõem a execução orçamental da receita.

Como salientado na introdução deste módulo, as contas da classe zero, ao apresentarem saldo
não nulo, possibilitam que o balancete analítico (da classe zero) se assuma como um instrumento
de verificação do conteúdo das demonstrações orçamentais, à semelhança do que sucede, no
âmbito da contabilidade financeira, na relação entre o balancete analítico e as demonstrações
financeiras. Com os anteriores normativos de contabilidade pública não era possível validar o
conteúdo das demonstrações orçamentais com base no balancete da contabilidade orçamental,
o que constituía uma fragilidade técnica bastante relevante do anterior sistema.

DOREC – Demonstração de Execução Orçamental da Receita prevista na Norma Técnica n.º 1/2017
da UniLEO:

Receitas Reembolsos e
Receitas cobradas líquidas Receitas
Previsões por cobrar Receitas restituições
Previsões Receitas Liquidações por cobrar
Classificações por de cobradas
corrigidas liquidadas anuladas no final do
liquidar períodos brutas Períodos Período
orçamentais
detalhadas anteriores
Emitidos Pagos
anteriores corrente
Total período …

Receita corrente

Receita de capital

Total …
Previsões corrigidas = saldo da conta 012 Previsões corrigidas
Previsões por liquidar = saldo da conta 014 Previsões por liquidar
Receitas por cobrar de períodos anteriores = saldo da conta 0151 Liquidações transitadas + saldo da conta 0161 Liquidações
transitadas anuladas
Receitas liquidadas = saldo da conta 0152 Liquidações emitidas + saldo da conta 0162 Liquidações emitidas anuladas
Liquidações anuladas = saldo da conta 0161 Liquidações transitadas anuladas + saldo da conta 0162 Liquidações emitidas
anuladas
Receitas cobradas brutas = saldo da conta 0171 Recebimentos do período + saldo da conta 0172 Recebimentos de períodos
findos + saldo da conta 0182 Reembolsos e restituições pagos
Reembolsos e restituições emitidos = saldo da conta 0181 Reembolsos e restituições emitidos
Reembolsos e restituições pagos = saldo da conta 0182 Reembolsos e restituições pagos
Receitas cobradas líquidas de períodos anteriores = saldo da conta 0172 Recebimentos de períodos findos
Receitas cobradas líquidas do período corrente = saldo da conta 0171 Recebimentos do período
Receitas por cobrar no final do período = saldo da conta 0154 Liquidações a transitar

5 Aprova a Lei de Enquadramento Orçamental.

- 13 / 16 -
6. CASOS PRÁTICOS

Para ilustrar o exposto, apresentam-se os seguintes casos práticos resolvidos.

ENUNCIADO: A entidade Alfa responsável pela gestão do potencial vitivinícola do País orçamentou
na classificação económica 04.01.07 Taxas vinícolas € 1.000.000. Em 2 de janeiro do ano N emite
uma liquidação no valor de € 6.000 que é cobrada em 10 de janeiro de N.
Proceda à escrituração de acordo com o subsistema da contabilidade orçamental do SNC-AP.

RESOLUÇÃO:

Descrição Classe 0 Classificação Económica Débito Crédito


[02.01.N] 0152 Liquidações emitidas 04.01.07 Taxas vinícolas 6 000
Liquidação 014 Previsões por liquidar 04.01.07 Taxas vinícolas 6 000
[10.01.N] 0171 Recebimentos período 04.01.07 Taxas vinícolas 6 000
Recebimento 0153 Liquidações recebidas 04.01.07 Taxas vinícolas 6 000

ENUNCIADO: A entidade Beta aplicou a um agricultor a taxa, por arroba, de comercialização de


cortiça em pilha tendo-lhe liquidado e cobrado em 23.04.N o valor de € 42.000,00. Na verdade,
deveria ter-lhe aplicado a taxa, por arroba, de comercialização de cortiça na árvore ascendendo
a liquidação e cobrança a € 37.000,00. Pouco depois de ter pago a taxa foi alertado por um colega
para o lapso e após reclamação foi-lhe reconhecida razão, tendo a entidade Beta em 18.05.N
procedido à restituição da quantia cobrada em excesso e à anulação da respetiva liquidação.
Proceda à escrituração de acordo com o subsistema da contabilidade orçamental do SNC-AP.

- 14 / 16 -
RESOLUÇÃO:

Descrição Classe 0 Classificação Económica Débito Crédito


0152 Liquidações emitidas 04.01.06 Taxas florestais 42 000
[23.04.N] Liquidação
014 Previsões por liquidar 04.01.06 Taxas florestais 42 000
0171 Recebimentos período 04.01.06 Taxas florestais 42 000
[23.04.N] Recebimento
0153 Liquidações recebidas 04.01.06 Taxas florestais 42 000

[18.05.N] 0162 Liquidações emitidas anuladas 04.01.06 Taxas florestais 5 000


Liquidação anulada 0152 Liquidações emitidas 04.01.06 Taxas florestais 5 000

[18.05.N] Reposição de 014 Previsões por liquidar 04.01.06 Taxas florestais 5 000
previsões por liquidar 0163 Previsões por liquidar anuladas 04.01.06 Taxas florestais 5 000

[18.05.N] 0153 Liquidações recebidas 04.01.06 Taxas florestais 5 000


Restituição emitida 0181 Reembolsos e restituições emitidos 04.01.06 Taxas florestais 5 000

[18.05.N] 0182 Reembolsos e restituições pagos 04.01.06 Taxas florestais 5 000


Restituição paga 0171 Recebimentos período 04.01.06 Taxas florestais 5 000

ENUNCIADO: O Hospital Alfa recebe em 13.04.N um paciente transportado de ambulância em


resultado de um acidente de viação, o qual foi atendido nas urgências e depois, apesar de sair
pelos seus próprios meios, por lapso, não se dirige ao balcão de atendimento para pagar a
respetiva taxa moderadora. Alguns dias depois, em 17.04.N, o Hospital Alfa emite a fatura com o
valor de € 37,00 e os respetivos códigos de entidade e referência para que o utente possa efetuar
o pagamento via multibanco. Este, quando efetua o pagamento em 29.04.N, por distração paga
€ 47,00. O Hospital Alfa devolve ao utente o valor cobrado em excesso em 25.05.N.
Proceda à escrituração das transações e eventos de acordo com o subsistema da contabilidade
orçamental do SNC-AP.

RESOLUÇÃO:

Descrição Classe 0 Classificação Económica Débito Crédito


0152 Liquidações emitidas 04.01.08 Taxas moderadoras 37
[17.04.N] Liquidação
014 Previsões por liquidar 04.01.08 Taxas moderadoras 37
[29.04.N] 0171 Recebimentos período 04.01.08 Taxas moderadoras 47
Recebimento 0153 Liquidações recebidas 04.01.08 Taxas moderadoras 47
[25.05.N] 0153 Liquidações recebidas 04.01.08 Taxas moderadoras 10
Restituição emitida 0181 Reembolsos e restituições emitidos 04.01.08 Taxas moderadoras 10

[25.05.N] 0182 Reembolsos e restituições pagos 04.01.08 Taxas moderadoras 10


Restituição paga 0171 Recebimentos período 04.01.08 Taxas moderadoras 10

- 15 / 16 -
Referências

 Norma de Contabilidade Pública 26 – Contabilidade e Relato Orçamental aprovada pelo


Decreto-Lei 192/2015, de 11 de setembro, publicado na 1.ª Série do Diário da República de 11
de setembro de 2015

 Nunes, A., L. Rodrigues e L. Viana (2016), O Sistema de Normalização Contabilística –


Administrações Públicas: Teoria e Prática, Almedina

- 16 / 16 -

Você também pode gostar