Você está na página 1de 2

ESTUDO DE CASO

Disciplina: Psicopatologia
Professor: Danilo de Freitas Araújo Data:
Aluno(a):

Adaptado de:

OLIVEIRA, Ana Teresa Marques. Estudo de caso de um indivíduo idoso demenciado.


2008. 117 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura) – Licenciatura em Psicologia
Clínica. Universidade Fernando Pessoa, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Porto,
2008.

A partir do caso clínico abaixo, procure responder as questões:

1. Quais funções mentais e alterações podem ser verificadas no caso? (descreva as


alterações).

2. Considerando que Seu Telerino apresenta manifestações variadas, identifique uma


ou mais hipóteses diagnósticas, justificando. OBS: não precisa indicar transtorno
psiquiátrico específico, apenas a síndrome psiquiátrica que se enquadra mais
adequadamente.

3. Do ponto de vista da psicopatologia e saúde mental do idoso, Seu Telerino poderia


ser considerado saudável? Discorra a respeito.

CASO SEU TELERINO

INTRODUÇÃO
Seu Telerino é um indivíduo do sexo masculino, atualmente com 76 anos de idade.
Seu Telerino foi casado cerca de 45 anos, e enviuvou há alguns anos. Deste casamento
nasceram três filhas. Dado que a filha mais velha faleceu ainda em criança, encontram-se
vivas apenas duas das suas filhas.
Existem dúvidas no que concerne à escolaridade de Seu Telerino, uma vez que não é
possível afirmar se este prosseguiu os estudos para além do 4º ano do ensino fundamental.
Ainda assim, teve vários empregos, encontrando-se aposentado por motivos de doença
desde 2006. Atualmente vive sozinho em residência alugada.

EXAMES E LAUDOS
Os resultados de exames e laudos médicos trazidos pelo paciente descrevem a
ocorrência de 3 AVCs ao longo dos últimos 20 anos (quando tinha 56, 60 e 71 anos,
respectivamente). Apontam que há notórias perdas mnésicas, confusão mental, dificuldades
em andar, vestir-se, lavar-se ou dirigir, falta de força nos membros, principalmente os do
lado direito do corpo e constantes dores de cabeça no lado direito (nas áreas
correspondentes aos lobos frontal, temporal e parietal). Estas modificações manifestaram-se
repentinamente quando do primeiro AVC, e acentuaram-se muito desde o segundo AVC.
Há anotações sobre Seu Telerino ter bebido durante toda a vida, embora o consumo
de álcool diminuiu depois de ter sofrido o segundo AVC. As considerações do geriatra que o
atendeu também fazem alusão ao caso da avó paterna que, alegadamente, teria demência,
e ao caso do irmão, que teve problemas com o consumo de álcool, e que à época estava
com sintomas iniciais de demência.

MINIEXAME DO ESTADO MENTAL


Na entrevista inicial (sem a presença dos familiares), Seu Telerino mostrou-se
desperto e consciente (vígil), evidenciando, no entanto, dificuldades para focar, manter e
alternar adequadamente a atenção sobre as situações ou sobre os objetos, distraindo-se
com facilidade. Demonstrou sinais de confusão mental, com dificuldade em ordenar
cronologicamente elementos de fases da sua vida, e perseveração do pensamento, uma vez
que se verificou uma persistência obstinada a certos temas, repetindo inúmeras vezes
palavras ou frases sem qualquer propósito identificável com a realidade do momento (por
exemplo, Seu Telerino interrompia as conversas para dizer palavras em alemão,
perguntando várias vezes: “Eu sei falar muito bem alemão. Sabe falar alemão?” [sic.]; outra
repetição constante era a seguinte: “A minha tia tem o seu nome” [sic.]).
O seu discurso revelava-se, por vezes, incoerente, com contradições e confabulações
(Seu Telerino refere que “com 30 e tantos tive um AVC. e me aposentei” [sic.], o que na
realidade só aconteceu com 60 anos). Ainda assim, o indivíduo não parecia apresentar
alterações significativas da linguagem, demonstrando capacidades de compreensão,
repetição e nomeação.
Parece haver uma relativa, mas ainda assim pouco constante, orientação no espaço,
denotando-se, no entanto, clara desorientação temporal. Também a sua orientação
autopsíquica aparentava alguma confusão no que diz respeito às pessoas que o doente
acredita estarem em contato com ele (Seu Telerino crê que ainda convive frequentemente
com o seu neto, que já faleceu há 5 anos).
O paciente apresentava lentificação psicomotora, tremuras esporádicas e dificuldade
em andar. Sem grandes oscilações na sua expressão facial, Seu Telerino raras vezes
conseguiu manter o contato visual. Apesar de a idade aparente dele ser coincidente com a
sua idade real, e de o vestuário usado ser adequado à época, Seu Telerino exibia um
aspecto pouco cuidado, evidenciando alguma falta de higiene.
Apresentava manifestações de irritabilidade, agressividade e impaciência, sem
demonstrar humor deprimido ou ansioso. Manteve uma atitude pouco colaborativa,
revelando alguma hostilidade e desconfiança no decurso das sessões de avaliação
psicológica. Apresentou certa resistência nas atividades propostas.
Sem grande capacidade de insight e juízo crítico, ele não aparentava reconhecer o
seu estado de saúde, não percebendo a razão pela qual tinha de ir ao médico e o porquê da
avaliação psicológica.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES:
Quando perguntado sobre a filha mais nova, Dália (sobre a qual não foi possível
apurar a idade nesta entrevista), Seu Telerino afirma ter perdido o contato com ela há muito
tempo: “Há muitos anos que não a vejo” (sic.). Nesta fase do discurso o indivíduo emociona-
se, sendo evidente lágrimas nos seus olhos. Faz, no entanto, um esforço para não chorar.
Seu Telerino também refere ter tido “três enfartes de miocárdio” (sic.), não
conseguindo dizer quando ocorreram. Queixa-se frequentemente de dores fortes no lado
direito da cabeça e de sensação de desconforto e falta de força no joelho direito,
principalmente ao subir escadas. Revela, a certa altura, que o seu irmão, Geraldo, “teve
várias tromboses. É natural na família” (sic.). Posteriormente, afirma já não se lembrar do
que havia dito e assegura não conhecer ninguém que tenha tido tromboses.

Você também pode gostar