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O legado do liberalismo na primeira

metade do século XIX


5.1. O Estado como garante da ordem liberal
5.1.1. O Liberalismo, uma ideologia centrada na defesa dos direitos do indivíduo
No mundo ocidental durante o século XIX implantou-se um novo sistema político,
económico, cultural e social, o Liberalismo. De uma forma geral, podemos dizer que o
Liberalismo se opõe ao Absolutismo.
O Liberalismo defende os direitos do indivíduo ou direitos naturais, uma vez que
considera ser a sociedade composta de indivíduos e não de grupos. Os direitos são: a
liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade.
O cidadão substitui o súbdito do Antigo Regime. Ao cidadão cabe desempenhar o papel
de ator político, exercendo a soberania nacional e representando a vontade da maioria.
Como eleitores, escolhiam os representantes para as assembleias. Como detentores de
cargos, elaboravam as leis e administravam o país. No entanto, esta cidadania política
tinha restrições, a participação era limitada: o direito de representação não era acessível
a todos, era acessível aos que tinham rendimentos e o voto era censitário.
Este foi o liberalismo moderado, que fez do Estado o garante dos interesses burgueses.
5.1.2. O Liberalismo político
O Liberalismo pretendia um Estado neutro que respeitasse e protejesse as liberdades
dos cidadãos e aplicasse uma lei igual para todos. O poder era limitado pela Constituição,
pela separação dos poderes do estado, pela soberania nacional e pela secularização das
instituições.
O constitucionalismo
Os liberais legitimam o seu poder através da Constituição, é um regime assente na
ordem jurídica que substitui o Antigo Regime que estava baseado no costume. As
constituições liberais podem resultar de dois processos: votadas pelos representantes
da Nação (Constituição) ou concedidas por um rei (Carta Constitucional).
A separação dos poderes
Os liberais moderados defendem a divisão dos poderes do Estado (judicial, executivo e
legislativo) como forma de impedir os abusos de poder, manter o equilíbrio de poderes,
a imparcialidade e a justiça.
A representação da Nação
Os liberais moderados defendem a soberania nacional entregue a uma representação
(deputados) dos mais cultos e inteligentes. Só os cidadãos com um determinado grau de
fortuna podiam eleger e ser eleitos. Os liberais moderados, eram, na sua maioria,
defensores do bicameralismo (existência de duas câmaras no parlamento).
A secularização das instituições
Para os liberias o Estado é laico, o temporal separa-se do espiritual e as instituições são
secularizadas. A criação do Estado laico reconhece ao Homem liberdade religiosa, de
consciência, de expressão e de enisno. Retira à Igreja o poder sobre o ensino, a legislação
e a assistência. Para isso, instituiu-se o registo civil para os nascimentos, casamentos e
óbitos; criou-se uma rede de assistência e ensino laicos e expropriou-se e nacionalizou-
se os bens da Igreja. Devido à secularização a Igreja perdeu os seus privilégios.
5.1.3. O Liberalismo económico
Quanto ao liberalismo económico podemos destacar alguns aspetos importantes: a
defesa da livre iniciativa e livre concorrência, a defesa da propriedade privada, a defesa
da não intervenção do Estado na economia, assente nas ideias de prosperidade
conseguida pelo trabalho, pelo lucro e pela poupança. O Estado devia assegurar as
condições para o desenvolvimento económico: aprovação de medidas que
favorecessem a livre circulação de mercadorias, promoção de políticas não dirigistas e
garantia das regras do mercado (lei da oferta e da procura). O Liberalismo económico
revelou-se uma força vital para o desenvolvimento do capitalismo industrial no século
XIX.
▪ Liberalismo económico designa a doutrina que defende a liberdade no domínio
económico, assente no comércio livre, nas regras de mercado, sem intervenção
do Estado, com base na defesa da propriedade, no desenvolvimento económico
individual e na livre iniciativa.
5.1.4. Os limites da universalidade dos direitos humanos
Os liberais definiram a liberdade, a igualdade e a propriedade como direitos humanos
universais. Mas na realidade o Estado liberal nem sempre garantiu essa universalidade.
O princípio da liberdade, o mais sagrado para os liberais, chocava frontalmente com a
prática da escravatura. A igualdade dos homens foi apenas perante a lei e nunca uma
verdadeira igualdade de oportunidades. A propriedade continuou privilégio dos mais
abastados.
Na França os primeiros debates em relação à escravatura tiveram lugar na Assembleia
Constituinte e foram concedidos direitos civis aos homens livres de cor. Só em 1848 foi
abolida definitivamente a escravatura. Nos EUA a escravatura, pela Constituição, estava
ao critério dos diversos estados. Apenas, em 1865, a escravatura foi definitivamente
abolida.
Em Portugal a problemática da abolição da escravatura relacionou-se claramente com a
proibição do tráfico negreiro. Foram razões económicas que levaram os governos a
proibir o tráfico de escravos nas colónias portuguesas a sul do Equador. Embora os
traficantes continuassem a demandar as colónias portuguesas, uma série de decretos,
consumou o abolicionismo em Portugal e, em 1869 é decretado o fim da escravatura em
todos os territórios portugueses.

5.2. O Romantismo, expressão da ideologia liberal


O início do século XIX foi caracterizado pelo surgir de uma nova corrente artística e
cultural, o Romantismo. O Romantismo valorizava o individualismo, a liberdade, as
emoções, os sentimentos e as raízes históricas dos povos. As principais características
do Romantismo são: a valorização do sentimento, a ideia do culto do eu, o drama e
expressividade da realidade, a valorização da natureza e o gosto pelo exotismo.
Sob o signo da liberdade, um dos temas mais caros do Romantismo torna-se, assim, a
expressão de ideologia liberal. O culto do eu vai expressar-se na figura do herói
romântico, um ser insatisfeito e solitário, que se abandona às emoções. O exotismo dos
costumes orientais apaixona os românticos. A atração pela Idade Média significa
revalorizar as raízes históricas das nacionalidades e lembrar a sua identidade cultural.
▪ Romantismo é o movimento cultural do século XIX que exalta o instinto e
privilegia as emoções contra a razão. Para além disso, foi também um estado de
espírito que fez bandeira da liberdade e do individualismo.
5.2.2. Uma revolução artística
A literatura romântica desenvolve-se à margem das regras clássicas. Cultiva o romance
sentimental e recusa a métrica tradicional.
O teatro sofreu uma revolução, onde se quebrou a divisão entre tragédia e comédia,
criando um novo género, o drama.
A pintura romântica reage contra o racionalismo. É uma pintura emocional e colorida.
Os pintores românticos defendiam a imaginação, o sonho, os sentimentos e a
sensibilidade.
A escultura e a arquitetura não se mostravam tão inovadoras, pois os modelos clássicos
continuavam pujantes. A revalorização das tradições nacionais e o sentido exótico
motivam, na arquitetura, os revivalismos históricos.
5.2.3. O Romantismo em Portugal
Na literatura, Almeida Garrett e Alexandre Herculano foram os introdutores do
Romantismo em Portugal.
Na arquitetura, o Romantismo ficou marcado pela construção do Palácio da Pena
(Sintra). A arquitetura romântica trouxe um período de revivalismo que teve um
carácter nacionalista.
Na escultura, o Romantismo revelou-se um período pobre.
O Romantismo entrou tarde na pintura portuguesa. Nunca possui objetivos bem
definidos e os temas pintados eram sobretudo paisagens e festas populares.

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