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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES II
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
HISTÓRIA MODERNA
Resenha - Costumes em comum: Patrícios e Plebeus - E.P. Thompson
João Paulo Batista Braga - 494906
Márcio Lima de Andrade Filho - 499712

A presente resenha utilizará como referencial a obra, "Costumes em Comum" de


Edward Thompson, sendo o recorte especificamente em relação ao segundo capítulo
"Patrícios e Plebeus". Inicialmente o autor nos conduzirá a uma imersão em torno da
sociedade inglesa, particularmente ao século XVIII, onde será notório o imaginário de
transformações vigentes em todos os aspectos na Inglaterra. Partindo desse princípio, o autor
terá como norte o exame sobre a relação entre a "gentry" e "trabalhadores pobres", exaltando
essa dinâmica juntamente com a perspectiva de trabalhar temas ditos por não populares e que
por vezes se distancia da realidade, como por exemplo a construção da memória a partir das
imagens rurais do século em questão, além de buscar uma reconstrução que como o mesmo
define, menos "tranquilizadora".
Durante a exposição, é possível entender a dinâmica social, econômica e política em que a
Inglaterra estaria inserida, Thompson então ressaltaria que mesmo com o crescimento
perceptível no setor industrial o país ainda conservaria um perfil agrário até a década de
1760, de modo que a terra ainda seria um fator primordial. Assim, a tendência era de se ter
uma associação entre a gentry e a terra. Paralelamente a isso, mesmo aqueles que tivessem
alguma espécie de fortuna utilizariam da sua riqueza na tentativa de possuir status ao possuir
terras.

A partir disso, teríamos a contextualização em torno das terminologias, fidalgos e


pobres. Com isso, podemos refletir em torno da criação dessas palavras, afinal seriam termos
criados pela “gentry”, cuja nos salta aos olhos especificamente a crítica em torno da forma de
pensamento e que seriam tratados tanto pequenos fazendeiros, camponeses, miseráveis, como
se esses mesmos não fossem atores ativos da sociedade, como se não fosse os mesmos que
sustentasse todos os privilégios da parcela minoritária da conjuntura inglesa. Ao mesmo
tempo em que Thompson vai pontuando todas estas problemáticas, utilizaria a temática para
criticar historicamente a forma em que se trabalha com a gentry, onde o mesmo afirmaria que
"Ninguém é mais suscetível aos encantos da gentry do que o historiador do século XVIII",
além da crítica aos usos das fontes. Afinal, aqueles em que estavam inseridos os
trabalhadores pobres não guardariam muitos documentos para os historiadores pudessem
fazer suas análises e assim de se ter os devidos cuidados, pois a maioria da população não era
aquela descrita pela gentry. Teríamos então, a disputa em torno do imaginário sobre a
“gentry”, ao mesmo tempo que a visão em torno da Inglaterra seria como uma "Sociedade
dos Consumidores", mesmo havendo diversos problemas, e mesmo com a Revolução
Agrícola, o país de encontraria em uma verdadeira desordem.

É então que nos é apresentado o conceito de "Paternalismo'', dialogando com autores


como Weber e Marx, onde o autor ressalta a importância da unidade doméstica de produção
como um fator que favoreceu algumas atitudes, relações paternalistas, que foram contínuas
até a industrialização. Outro ponto, nesse viés que colaborou para inibir o confronto de
classes, foram as próprias oficinas, propriedades rurais e uma certa ausência de classe
trabalhadora com consciência de classe, o mesmo afirmaria a existência apenas de resquícios
de proto conflitos. Thompson demonstra a dificuldade de tentar descobrir qual seria a
consciência desses trabalhadores pobres que não estariam articulados, mas é então, que se
utiliza do mecanismo de se pensar na consciência partindo de um ofício e não de uma classe.
Retomando o conceito de "Paternalismo", o termo remete a uma ideia de relação humana,
numa perspectiva tal como pai e filho. O pai teria de prover, assumir deveres, enquanto o
filho deveria ser respeitoso enquanto sua posição filial. Fatos esses, que nos primeiros anos
da Revolução Industrial fariam se presentes, afinal os trabalhadores por vezes retomavam a
esses valores paternalistas. Por fim, temos a reflexão em torno do Paternalismo como um
componente importante em sociedades escravocratas, principalmente no que se refere às
relações sociais, paralelamente a visualização da situação na Inglaterra no século XVIII.

Importante pontuar a forma também em que o autor irá buscar interpretar esse tom
patriarcal, usando de interpretações, impressões e que culminam no levantamento de
hipóteses, como o mesmo afirma indo além de um viés de adivinhação. Assim, a princípio a
sociedade inglesa apresentaria poucas características paternalistas, sendo um momento em
que teríamos a importância do dinheiro e a valorização dos rendimentos. Basicamente tudo na
sociedade iria seguir esse comportamento, indo desde a realização de cerimônias entre a
aristocracia e a gentry, como a compra de cargos e postos que seriam possíveis de serem
comprados e vendidos.
É o momento da obra em observarmos a real importância e funcionalidade do
dinheiro, como é um agente que promove princípios básicos, como os de liberdade,
privilégios, compra de cargos, enquanto nesse mesmo momento aqueles que sustentam essa
pirâmide social tanto sofre. Entrando mais especificamente na temática dos cargos, como dito
anteriormente realmente haveria essa compra de cargos, sejam eles trabalham titulares de
prestígio, justiça, algo que realmente seria negociado, de modo a ter suas normas, não
podendo ser comprado e vendido por qualquer um. A influência da política também seria
notório nesse processo, todavia haviam cargos incertos, dessa maneira era importante a posse
de grandes propriedades rurais, pois essas mesmas eram seguras e hereditárias. É o momento
em que percebemos o estado sendo palco para as maiores barbáries, tudo isso em nome do
rei, a influência polícia como um mecanismo de aumento dos lucros do até como Thompson
referência no texto, o exemplo dos cercamentos e assim um momento inoportuno para o
"Paternalismo". Um imaginário bem diferente quando se pensa política no século XVIII.
Avançando no debate, outro ponto interessante que vale o comentário é as movimentações da
então classe média. É o instante em que teríamos o movimento de criar sua própria sociedade
civil, classe essa que nas 7 primeiras décadas não teria uma oposição capaz de ser eficaz em
relação ao poder oligárquico. Juntamente a essa abordagem, o autor demonstra que mesmo
com todos esses abusos, numa espécie de parasitismo, haveria então algumas regras que
impediram a anarquia total. Dentre elas, podemos citar a tradição "Contry", o papel da
imprensa, o papel da lei com objetivo de ser uma autoridade "imparcial", enquanto
observamos todo um sistema enfraquecido e com uma burocracia corrupta, além da
resistência da "multidão", abrangendo membros da pequena "Gentry" até os mais pobres.
Sendo assim, Edward buscaria relacionar a discussão em torno da "Gentry" e a multidão.

Seguindo na cronológicas dos tópicos, o inglês iria a fundo a pensar a relação entre o
trabalhador e os senhores, cujo é o momento em que se há uma certa independência da
relação de clientela da “Gentry, em companhia do pensamento de que as mudanças dos
costumes do trabalhos não foram rápidos. Rupturas essas que já foram trabalhadas e
discutidas durante a disciplina, no qual seria presente uma falsa ideia de mudanças, sejam
elas a modelos econômicos, modos de produção e de vida mesmo. Desse modo, temos a
contextualização sobre a mudança do papel dos senhores, especialmente sobre o comando
paternalista em detrimento aos modos de vida desses trabalhadores, que então estavam sendo
desfeitas. Então observamos as primeiras mudanças, dentre elas, é possível destacar a
mudança qualitativa na relação de trabalho, proclamação de direitos ao trabalhador rural e a
presença até mesmo feiras de contratações. Nessa altura, a subordinação está sendo um objeto
de negociações, simultaneamente a um trabalho “mais livre” e um modo de vida além da
disciplinarização do relógio e das fábricas. O papel das feiras também se faz presente. É o
ponto que o trabalho “livre”, ofereceu um declínio de antigas formas de produção e de
disciplinarização, além disso, Thompson entende que nesse século XVIII, o velho
paternalismo estaria entrando em crise.

Thompson demonstraria que crise talvez fosse um termo forte a ser utilizado, dessa
maneira, o autor irá analisar os intermédios dos controles que ainda se faziam presentes, de
modo a ser notório a influência da hegemonia cultural das classes dominantes, algo praticado
pela “Gentry” na Inglaterra do século XVIII. Outro ponto pontuado pelo mesmo, seria a
credibilidade da “Gentry” está muito ligado a visibilidade de suas funções, também ligados a
fatores estéticos e até mesmo a grandiosidade de suas residências, o autor citava que as
aparições dessa parcela da população eram quase como uma performance teatral. Por fim,
essas performances também seriam utilizadas em festividades, ao mesmo tempo em que os
pobres seriam utilizados, como cúmplices da sua própria opressão, paralelamente a isto a
justiça teriam presentes resquícios desse “paternalismo” artificial, com as prerrogativas de
serem clementes, algo percebido em todo o debate do texto.

Compreender este trabalho de Thompson, assim como outras obras historiográficas,


exige do leitor um distanciamento dos seus dias atuais. O que ocorre quando algumas pessoas
leem este texto, é pressupor que os trabalhadores do período abordado por Thompson seja a
classe operária vista no século XIX. Ou então encarar como uma visão teleológica de que,
necessariamente, os trabalhadores irão encobrir em uma organização de classe com o fito de
uma revolução. Quando na realidade, o que o historiador propõe em seu texto, para além de
analisar a relação entre patrícios-plebeus, é compreender como a cultura de da gentry e da
plebe dialogavam e viviam entre si. Em uma breve observação, enquanto líamos o texto de
Thompson, percebemos o quanto este material comunga com os estudos de Walter Benjamin
sobre a importância do discurso dos vencidos, especificamente quando o historiador inglês
traz para o cerne do debate a cultura da plebe em um período que a cultura de gentry era
completamente hegemônica.

Em um determinado momento do texto, para abordar como se dava a relação


patrícios-plebeus com base nas suas diferenças culturais, Thompson volta a discorrer sobre o
paternalismo que a gentry possuía em relação a plebe, e que este paternalismo não se limitava
aos teatros e aos gestos de caridade, pode-se perceber uma “ensaiada técnica de domínio”.
Vale lembrar que o paternalismo, de acordo com o historiador, é uma concentração de
autoridade, para além de econômica, cultural. No entanto, se aceitamos este termo proposto
com Thompson, deve-se em seguida problematizar, pois ele acaba se tornando vasto para
uma análise mais detalhada. Visto que o termo não muito fala sobre a origem do poder e do
Estado, em relação aos meios de posse de propriedade, sobre a ideologia e a cultura.
Ademais, de acordo com o autor, o termo paternalismo é um retrato das relações sociais
vistas de cima. De forma alguma, estas observações supracitadas invalida os estudos de
Thompson, no entanto, acreditamos ser pertinente observar, enquanto historiadores, com
olhar crítico algumas colocações utilizadas em obras de outras épocas, mas de modo em que
estas análises não caiam em um mero revisionismo e fuja de uma crítica acadêmica. De modo
em que o autor irá abordar bastante os aspectos relacionais da plebe e da gentry, ao longo do
capítulo, iremos observar que Thompson discorre sobre as formas de apropriações dessas
duas classes em relação à cultura. Neste aspecto, o cultural, observamos a cultura da plebe
completamente distanciada da elite. Como forma de discorrer este ponto de vista, o
historiador irá trabalhar com as características da ação popular com o fito de delinear quais
eram as atitudes que a classe trabalhadora seguia neste período.

Em primeiro lugar, existia a tradição anônima pois, em uma sociedade imersa na


servidão e no clientelismo, via-se comumente a ameaça anônima, ou então um ato terrorista
de uma só pessoa. Era muito usual estas ações vir por meio de cartas anônimas, incêndios em
casas, gados amputados, ou até tijolos atirados nas janelas e dentre outras atitudes. Em
segundo lugar, havia as ações populares do contrateatro, tal como a gentry fincava a sua
hegemonia por estudado estilo teatral, os pobres assentavam a sua vivência por um teatro de
tom ameaçador e de agitação. As ditas cartas, como supracitadas, eram utilizadas nos
contrateatros da plebe. Continham o fito de assustar os governadores, os magistrados e toda a
gentry, como forma de obrigá-los a realizarem caridades em tempos de carência. E em
terceiro lugar, ocorria as ações diretas, rápidas e rufaz, ou seja, formavam-se as multidões ou
aglomerações como forma de fugir do anonimato, pois, em casos de participações únicas
nestes tipos de ações, o trabalhador estava imerso em uma probabilidade de ser identificado e
vitimado. Nestes tipos de ações, era comum destruírem máquinas, intimidar e ameaçar os
empregadores, tomar dos seus negociantes um dinheiro para o pão, destelhar casas e dentro
outras formas de se rebelarem. Mas isso tudo era feito antes da chegada das tropas no local da
ação. Convém lembrar que estas atitudes da plebe estavam longe de ser desorganizadas, a dita
multidão era disciplinada e tinha objetivos incontestáveis, além de tudo, sabiam dialogar com
as autoridades e, empunhavam sua potência com agilidade.

Quase como a Dialética de Hegel, os governantes e a multidão necessitavam


mutuamente, pois, vigiavam-se um ao outro, equivale o teatro e o contrateatro um no
auditório do outro, e ainda controlavam a conduta política uns dos outros. Dando
continuidade aos próximos tópicos trabalhados por Thompson, já no final do capítulo
Patrícios e Plebeus, o historiador irá trabalhar o conceito de Hegemonia Cultural. E nessa
perspectiva, o autor fala que este tópico pode ser discorrido em dois pontos, um prático e
outro teórico. Na questão prática, é indubitável que a hegemonia da gentry sobre o cotidiano
político da comunidade foi laboriosamente imposta até a década de 1790. Os trabalhadores
pobres podiam definir um certo tipo de obediência a gentry, porém apenas por um valor, que
era abundante. E a reverência era constantemente desprovida de qualquer ideia ilusória: a
partir de baixo, podia ser localizado em parte como autocuidado necessário, em outra parte
como retirada prevista do que eles poderiam conseguir. Em conclusão, ao chegar no final do
capítulo, nos retiramos do recorte temporário do século XVIII, e entramos em um período em
que há uma contestação da estrutura das relações de classes e da ideologia vigente. Sob uma
primeira experiência, é concebível notar o processo histórico em parâmetros similares às
marcas da classe trabalhadora do século XIX.

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