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Conteúdo

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2 CONTEÚDO
Capı́tulo 1

Teoria da Relatividade

1.1 Os Postulados da relatividade


Qualquer teoria da relatividade é sobre a relação entre diferentes con-
juntos de coordenadas, (números) que especificam a posição de um
ponto no espaço e tempo, e eventos fı́sicos que podem ser medidos. No
entanto para que estes números tenham algúm sentido nós devemos
especificar um sistema de referência.
A fı́sica clássica se apoia no princı́pio de Galileu da relatividade que
establece que as transformações das velocidades são aditivas e o tempo
é invariante entre dois sistemas de coordenadas, isto é

x′ = x−vt y′ = y z′ = z t′ = t . (1)

Agora a fı́sica moderna se apoia nos postulados de Einstein da teoria


da relitividade que toma em conta as velocidades altas, isto é v ≃ c. Os
dois postulados de Einstein se baseiam nas transformações de Lorentz,
quem estableceu que os intervalos do espaço e tempo, quando medidos
num dado referencial, aparecem contraidos quando comparados com as
mesmas medidas tomadas em outro referencial pelo fator que depende
das velocidades relativas entre ambos.
Postulado da relatividade
• Todos os sistemas inerciais de referência, (isto é aqueles que se mo-
vem com velocidad constante um em relação ao outro) são equivalentes
para a observação e a formulação das leis fı́sicas.

3
4 CAPÍTULO 1. TEORIA DA RELATIVIDADE

Postulado da constância da luz


• A velocidade da luz não depende do movimento da fonte da luz e
é igual em todos os sistemas inerciais de referência.
Se o primeiro postulado representa uma generalização do princı́pio
da relatividade de Galileu sobre todos os fenômenos fı́sicos, o segundo
postulado está contido no primeiro, porquanto o processo de propagação
das ondas eletromagnêticas, de acordo com o primeiro princı́pio, deve
transcorrer igualmente em todos os sistemas inerciais de referência, no
entanto este segundo postulado que establece que a velocidade da luz
é independente da velocidade da fonte é totalmente alheio à nossa con-
cepção cotidiana. As transformações de Lorentz são.

′ ′ ′
x = γ(x − vt), y=y, z=z (2)

′ v 1
t = γ(t − x 2
) onde γ = √
c 1 − v 2 /c2

1.2 Medida de um evento

Na teoria clássica, espaço e tempo são totalmente separados mais na re-


latividade especial eles são tratados conjuntamente e são misturados nas
transformações de Lorentz. Para visualizar eventos (pontos de espaço-
tempo) nós usamos diagramas de espaço-tempo. Para definir um evento
no espaço-tempo nós definimos quadri-vetores (ct, ⃗x) = (ct, x, y, z). A
quarta coordenada é a coordenada temporal multiplicada vezes c, para
dar uma distância equivalente.
1.3. RELATIVIDADE DA SIMULTANEIDADE 5

1.3 Relatividade da simultaneidade


Dois eventos que ocorrem ao mesmo tempo em lugares separados vis-

tos por um observador em Σ , não ocorrem ao mesmo tempo ao ser
observados por outro observador em Σ.

Suponhamos que um homen que se move numa nave espacial (Σ )
há colocado um relógio em cada extremo da nave e esta interesado em
asegurar-se que os dois relógios estem sincronizados. Para sincronizar
os relógios é necessário localizar o ponto médio exato entre os dois
relógios, logo emitimos desde ali um sinal luminoso que iria em ambas
direções com a mesma velocidade e evidentemente chegará a ambos
relógios ao mesmo tempo. Esta chegada simultánea das senhas pode-se
usar para sincronizar os relógios.
Vejamos agora, se um obsevador em Σ estaria de acordo em que os
dois relógios estariam sincronizados. O homen em Σ pensa da seguinte
forma, dado que a nave se move para frente o relógio na parte dianteira
ficaria mais longe do sinal luminoso, pelo tanto a luz tem que andar
mais que a metade do caminho para alcanzá-lo, no entanto o relógio
traseiro avança para encontrar o sinal luminoso, e consequentemente a
distância será mais curta. O sinal chega então primeiramente ao relógio

traseiro, a pesar de que o homen em Σ pensava que os sinais chegavam
simultaneamente.
Então usando as fórmulas (7), temos

′ ′ ′ ′
x2 − x1 = γ[(x2 − x1 ) + v(t2 − t1 )]

′ ′ v ′ ′
t2 − t1 = γ[(t2 − t1 ) + 2
(x2 − x1 )] (3)
c

Considerando que no sistema Σ os eventos são simultáneos, isto é
′ ′
t2 = t1 logo no sistema Σ de acordo com (8) obtemos
′ ′
x2 − x1 = γ(x2 − x1 )

v ′ ′
t2 − t1 = γ 2
(x2 − x1 )
c
6 CAPÍTULO 1. TEORIA DA RELATIVIDADE

de onde
v
t2 − t1 = (x2 − x1 ) ̸= 0
c2

Desta forma os eventos simultáneos que ocorrem no sistema Σ não
são simultáneos no sistema Σ, isto é a simultaneidade de eventos es-
paciais é relativa. O tempo t2 − t1 cháma-se também tempo de de-
sincronização, ou seja eventos que estão sincronizados num sistema de
referência estão desincronizados num outro.

Exemplo Um vagão de 20 m de comprimento se desloca ao longo


do eixo x com velocidade de 200km/h = 55, 6m/seg. Na parte inicial e
final do vagão caem dois raios ao mesmo tempo vistos por um observa-
dor que está fora do vagão. Qual é a diferença de tempo entre os dois
raios desde o ponto de vista dos passageiros.
′ ′ ′
Nós temos que achar a diferença ti − tf onde ti = γ(ti − vxi /c2 ) e o

tempo inicial e tf = γ(tf − vxf /c2 ) e o tempo final.
Então,
′ ′
(ti − tf ) = γ(ti − tf ) − γv/c2 (xi − xf ),
mais para o observador que esta fora do vagão ti − tf = 0, então:
′ ′ γv 55, 6
ti − tf = − 2
L=− 20seg = −1, 24.10−14 seg
c (3.108 )2
′ ′
o sinal negativo mostra que ti é menor que tf , ou seja o acontecimento
no ponto xi ocorreu antes que o acontecimento no ponto xf .

1.4 A relatividade do tempo e do compri-


mento
Vamos aplicar os dois postulados da relatividade a um par de relógios
de luz, sua construção é simples, consiste de dois espelhos os quais se
encontram paralelamente um a outro na distância D, estes dois espelhos
podem servir como relogios de luz se suas superficı́es fossem completa-
mente refletoras e o impulso de luz corre-se entre eles em sentido direto
e oposto
1.4. A RELATIVIDADE DO TEMPO E DO COMPRIMENTO 7

Seja τ o tempo que a luz percorre a distância D, os relógios fazem


tique-taque toda vez que a luz reflete sobre o espelho, supondo ainda
que o relógio B se movimenta com velocidade v com respeito ao relógio
A. Então de acordo com o observador que está no repouso em A, a
distância que a onda de luz percorrerá no relógio B de um extremo
para outro, terá um comprimento maior que aquele que a onda de luz
percorre no relógio A. Realmente como se vé no disenho a onda de
luz deve mover-se em diagonal e de acordo com o segundo postulado
este movimento deve acontecer com a mesma velocidade que a onda
de luz em A ou seja c. Consequentemente desde o ponto de vista
do observador em A, a onda de luz em B deve gastar mais tempo
para alcançar o extremo superior, que a onda em A. Designemos este
intervalo de tempo através de T , logo o comprimento da diagonal é cT ,
então aplicando o teorema de Pitágoras temos

c2 T 2 = v 2 T 2 + c2 τ 2 → T 2 (c2 − v 2 ) = c2 τ 2 → T 2 c2 (1 − v 2 /c2 ) = c2 τ 2

τ
T =√ = γτ (4)
1 − v 2 /c2

onde γ = √ 1
e τ é chamado de tempo própio ou seja é o intervalo
1−v 2 /c2
de tempo medido no referencial no qual os eventos ocorrem no mesmo
local.

Um exemplo de dilatação do tempo com o movimento é dado pe-


los mésons µ, que são partı́culas que se desintegram espontaneamente
depois de um tempo medio de vida de 2, 2.10−6 seg. Estas partı́culas
chegam a terra nos raios cósmicos, mais também podem ser produzi-
dos artificialmente no laboratório, se nós calcularmos a distância que
ela percorre, supondo que estas partı́culas se movimentan com v = c,
temos que
m
d = 3.108 .2, 2.10−6 seg ∝ 660m
seg
Bom os muons se formam na parte superior da atmosfera a uns 10 kilo-
metros de altura, mais são detetados aqui na terra, como que isto pode
8 CAPÍTULO 1. TEORIA DA RELATIVIDADE

acontecer, a resposta é que os muons se movem com velocidade perto


da luz. Enquanto que desde o ponto de vista deles (tempo própio), eles
só vivem 2, 2.10−6 seg, desde nosso ponto de vista eles vivem mais, o su-
ficiente para que eles possam chegar a terra. Supondo que a velocidade
deles seja 0, 999 da luz, teremos

2, 2.10−6 2, 2.10−6
T = γτ = √ = = 69, 57.10−6 seg
1 − 0.999 0.03162

então

m
d = 3.108 .69, 57.10−6 seg = 20, 807km
seg

Agora vejamos a contração do comprimento. Supondo que se tenha


um objeto num sistema de referência Σ, liguemos com este objeto um

sistema de referência móvel Σ e suponhamos ainda que neste sistema
o objeto tenha um comprimento igual à l0 . No sistema Σ os momentos
de registro da posição das extremidades do objeto coincidem t2 = t1 ,
então devido a relatividade da simultaneidade dos eventos, no sistema

Σ estes instantes não coincidem, como consequência disto o resultado
da medição vai ser diferente que no sistema Σ. Desde o ponto de vista do
observador do sistema Σ o comprimento do objeto é igual à l = x2 − x1 ,
′ ′
com a condição t2 = t1 , então de l0 = x2 − x1 temos de (6)

′ ′

x2 − x1 = γ[(x2 − x1 ) − v(t2 − t1 )] → l0 = γl → l = l0 1 − v 2 /c2

Desta forma o objeto em movimento se contrae na direção do seu


movimento
Exemplo.- Uma linha métrica móve-se com velocidade que corres-
ponde a 60% da velocidade da luz. Qual será o comprimento que mede
esta linha um observador que esta no repouso.
√ √
l = l0 1 − v 2 /c2 = 100cm 1 − 6/10 ≃ 63cm
1.5. CONSEQUÊNCIAS DAS TRANSFORMAÇÕES DE LORENTZ9

1.5 Consequências das Transformações de


Lorentz
1.5.1 O Limite de Pequenas Velocidades
No caso de pequenas velocidades (v ≪ c) as transformações de Lorentz
devem se converter nas transformações de Galileu, isto é fazendo uso
da expansão de Taylor

2
x
′ ′′ x
F (x) = F (0) + F +F + ....
1! 2!

para a função F (x) = (1 − x)−1/2 , temos

1 1 v2
γ=√ ≃1+ 2
1 − v 2 /c2 2c

obtemos

′ 1 v2
x = (x − vt)(1 + 2 ) = x − vt + 0(v 2 /c2 )
2c

e consequentemente
′ ′ ′ ′ v
x = x − vt, y =y z =z t =t−x
c2

vemos que estas se diferenciam das transformações de Galileu no tempo,


no entanto para problemas fı́sicos reais as coordenadas espaciais pode-
mos considerar limitadas, por isso excluindo os pontos do infinito te-
remos vx ≪ c2 t, isto é nós obtemos as transformações de Galileu, e é
neste sentido que as tranformações de Lorentz satisfazem o princı́pio
de correspondência, passando no limite de pequenas velocidades para
as equações de Galileu.
A realização do princı́pio de correspondência, é uma condição fun-
damental que qualquer nova teoria deve satisfazer, isto é passando para
a teoria velha em limites apropiados.
10 CAPÍTULO 1. TEORIA DA RELATIVIDADE

1.5.2 O Limite v > c


Neste limite v > c e consequentemente γ = (1 − v 2 /c2 )−1/2 é uma

grandeza imaginária e conjuntamente com ela as novas coordenadas x

e t também chegam a ser imaginárias, de outro lado qualquer medida
do espaço tempo se expressa em números reais por isso estas mesmas
coordenadas e o tempo perdem sentido fı́sico, por consiguente o sistema
de coordenadas que se move com maior velocidade que o da luz no
vácuo, no possue por enquanto significado fı́sico.
É até mesmo impossı́vel o uso de um referencial que se move com
uma velocidade igual ao da luz, pois neste caso γ = 10 ou seja o deno-
minador nas fórmulas seriam zero.

1.5.3 A Limitação da Velocidade de Propagação


do Sinal
As fórmulas (2) nos permitem fazer a siguente conclusão, a velocidade
de qualquer sinal, isto é a perturbação que leva informação, não pode
ser maior que a velocidade da luz. Supondo um sinal que se envia de
um ponto x1 no momento t1 , se recebe num ponto x2 no momento t2 ,
pode-se ver que o momento da emissão do sinal antecede a recepção,
isto é t1 < t2 e a velocidade do sinal é igual
x2 − x1
vs =
t2 − t1

Ao mesmo tempo no sistema Σ que se move com velocidade v,
temos
′ ′ v vs v
t2 − t1 = γ[(t2 − t1 ) − 2 (x2 − x1 )] = γ[(t2 − t1 ) − 2 (t2 − t1 )]
c c

′ ′ vs v
t2 − t1 = γ(t2 − t1 )[1 − ] (5)
c2
visto que para todos os sistemas reais de coordenadas de referência
v < c, então quando vs < c nós teremos que vvs < c2 , por isso de
′ ′
(5) t1 < t2 , isto significa que a sucessão dos momentos da emissão e
recepção do sinal se conserva invariável em todos os sistemas inerciais
1.6. TRANSFORMAÇÃO DAS VELOCIDADES 11

de referência. No entanto se vs > c, então pode-se encontrar um sistema


de referência que satisfaça a condição
c v
< <1
vs c
′ ′
para os quais vvs > c2 , por isso t2 < t1 , mas isto não está de acordo
com o princı́pio de causalidade, de acordo com este princı́pio qualquer
informação primeiramente se envia (causa) e depoóis se recebe (efeito),
logo de acordo com este princı́pio, nós nos vemos obrigados a reconhecer
que a velocidade de transmissão de informação não pode ser maior que
a velocidade da luz.

1.6 Transformação das Velocidades


′ ′ ′ ′
Resolvendo as equações de Lorentz em função de x , y , z e t , obtemos
′ ′
x = γ(x + vt )

y=y

z=z
′ ′
t = γ(t + vx /c2 )

O resultado é interesante, já que nos diz como se vé um sistema


de coordenadas em repouso desde o ponto de vista de outro que está
se movendo, visto que os movimentos são relativos e de velocidade
uniforme, o homen que está se movendo pode falar que realmente a
outra pessoa que se move, enquanto ele está no repouso.
km
Supondo, que um objeto esteja se-movendo a 200.000 seg dentro de
km
uma nave espacial que a sua vez esteja se movendo a 200.000 seg , com
que velocidade move-se o objeto dentro da nave espacial desde o ponto
de vista de um observador que está fora?. Bom, nos gostaria falar
km
400.000 seg , que é maior que a velocidade da luz, mais esto é impossı́vel,
já que nós sabemos que nenhum objeto póde-se mover com velocidade
maior que a da luz.
Considerando agora, que o objeto dentro da nave se mova na direção

x , então a velocidade dele será vx′ e considerando que a nave tenha a
velocidade u com respeito a terra, então a posição e o tempo desde o
12 CAPÍTULO 1. TEORIA DA RELATIVIDADE

ponto de vista de um observador ubicado fora da nave são as relações


′ ′
escritas acima, onde x = vx′ t é a coordenada do objeto, logo
′ ′
x = γ(v
( ′x t + ut )′

)
t = γ t + u(vx′ t )/c2

De aqui encontramos a velocidade resultante


′ ′ ′
x γ(vx′ t + ut ) u + vx
vx = = ′ ′ 2
=
t γ(t + uvx t /c
′ 1 + uvx′ /c2
Então vemos que a soma das velocidades, não é simplesmente a soma al-
gebraica de duas velocidades, mais está corrigido por um termo 1+uv1 ′ /c2 .
x
Então resolvendo o problema anterior teremos vx′ = 32 c e u = 23 c, de
onde
2/3c + 2/3c 4/3c 12
vx = 2 2
= = c
1 + 4c /9c 13/9 13
pelo tanto em relatividade 2/3 mais 2/3 não é 4/3 mais sim 12/13
Supondo agora que o homen estive-se observando a luz dentro da
nave espacial, ou seja vx′ = c, teremos para o homen que está na terra
u+c
v= =c
1 + uc/c2

1.7 Efeito Doppler


Em 1842 o fı́sico austrı́aco Christian Doppler conseguiu establecer uma
relação entre a frequência percebida de um som e o movimento do ob-
jeto que o emite. Ele havia notado que a frequência do apito de uma
locomotiva era maior quando um trem estava se aproximando de um ob-
servador do que cuando estava se afastando. A luz, que também é um
fenômeno ondulatório, exibe igualmente um efeito Doppler. Quando
um objeto que está emitindo luz se afasta rapidamente de um observa-
dor, os comprimentos de onda se tornam mais longos e são desviados
para a extremidade vermelha do espectro. Quando um objeto está se
movendo na direção de um observador, os comprimentos de onda se
tornam mais curtos e o desvio é para o azul.
1.7. EFEITO DOPPLER 13

Na figura seguinte mostra-se a fonte de luz B, o qual é registrado pelo


detector A. Supondo que A e B se afastem com a velocidade relativa v
e ainda que com A e B se liguem relógios iguais, os quais no instante
quando um passa ao lado do outro mostrem tempos iguais a zero.

Supondo que no tempo TB (pelas horas de B) a fonte B emita um


impulso de luz. Então calcularemos o tempo TA quando este impulso

chega ao detector A. De acordo com o observador em S o relogio em
A vai mais rápido que o B. De acordo com A suas horas mostram

tA = γTB

enquanto os relógios que se movem mostram o tempo TB , no entanto a


nós nos interesa saber o tempo quando a luz da fonte B chega em A.

No sistema ligado ao A, o tempo de propagação da luz é igual a x /c.
Então o instante quando o impulso de luz aparece em A (pelas horas
de A) é:

TA = tA + tempo de propagacão = TA = tA + x /c

substituindo tA por γTB e considerando que a distância percorrida



pela fonte B no tempo tA é x = vtA = v(γTB ), desta forma
γTB
TA = γTB + v = γ(1 + β)TB
c
onde β = v/c
O intervalo de tempo entre dois impulsos de luz consecutivos em A
se dá pela expressão
τA = γ(1 + β)τB
14 CAPÍTULO 1. TEORIA DA RELATIVIDADE

onde τB é o intervalo entre dois impulsos medidos na fonte B.


A frequência (número de impulsos por segundo) está ligada ao pe-
riodo τ pela relação ν = τ1 , então

1 1 νB 1−β
= γ(1 + β) → = νA → νA = νB
νA νB γ(1 + β) 1+β
Sendo νA o número de ondas que o detector registra por segundo e
νB número de ondas irradiadas por segundo pela fonte.
Da fórmula nós vemos que νA < νB , a frequência que se registra
diminue é dizer quando a fonte se afasta se observa o deslocamento
para vermelho, se a fonte se acerca ao detector então o sinal do β muda
e neste caso

νA = νB (1 + β)/(1 − β) − − − − − f onte − se − acerca

. Exercicio Nas linhas espectrais irradiadas pelos quasares, se ob-


serva o deslocamento para o vermelho que corresponde a três vezes a
diminuição da frequência. Com que velocidade o quaser se afasta.


1 1 1−β
νA = νB → = √ → 1 + β = 9(1 − β) → v = 0, 8c
3 3 1+β

1.8 Invariantes Relativı́sticos


O conjunto das quatro coordenadas de um evento (ct, x, y, z) pode
ser considerado como as componentes de um raio vetor em quatro di-
mensões no espaço quadri-dimensional. Suas componentes vamos de-
signar por xi , onde o ı́ndice i toma os valores 0, 1, 2, 3, sendo que

x0 = ct, x1 = x, x2 = y x3 = z

O quadrado do comprimento do 4− raio vetor é um invariante (ao


igual que a velocidade da luz, a massa de repouso e etc.) e é represen-
tado pela expressão

c2 t2 − x2 − y 2 − z 2
1.8. INVARIANTES RELATIVÍSTICOS 15

Ele não varia sobre quaisquer rotação do sistema de coordenadas,


as quais, em particular, são as tranformações de Lorentz. Em geral
denomina-se quadrivetor Ai ao conjunto de quatro grandezas A0 , A1 , A2 , A3 ,
que se comportam nas transformações do sistema de coordenadas qua-
drimensional como as componentes do 4− raio vetor xi
O quadrado do 4 vetor se escreve na forma

3
Ai Ai = A0 A0 + A1 A1 + A2 A2 + A3 A3
i=0

onde as grandezas Ai chaman-se contravariantes enquanto que Ai são


as componentes covariantes do 4− vetor, ambas grandezas significam
que ambas partes de uma equação variam da mesma forma preservando
a validade da equação diferentemente dos invariantes que significa que
nada mudam, e os quais satisfazem

A0 = A0 , A1 = −A1 , A2 = −A2 , A3 = −A3

O produto escalar de dois vetores diferentes forma-se de um modo


análogo ao quadrado de um 4 vetor

3
Ai Bi = A0 B0 + A1 B1 + A2 B2 + A3 B3
i=0

É evidente que se pode representá-los tanto na forma Ai Bi como na


forma Ai B i , com isso o resultado não se altera. De um modo geral, em
qualquer par de ı́ndices mudos pode-se permutar o ı́ndice superior e o
ı́ndice inferior.
Exemplos de productos escalares, seja pµ = ( Ec , p⃗) = (p0 , p1 , p2 , p3 )
e xµ = (ct, ⃗r), calculemos os produtos escalares, considerando c = 1,
pµ xµ e pµ pµ

pµ xµ = Et − Px .x − py .y − pz .z = Et − p⃗.⃗x

pµ pµ ≡ p2 = E 2 − p⃗2

Para uma partı́cula libre nós temos pµ pµ = p2 = m2 , neste caso


dizemos que a partı́cula está na camada de massa.
16 CAPÍTULO 1. TEORIA DA RELATIVIDADE

1.9 Dinâmica Relativı́stica


As relações fundamentais da teoria da relatividade para partı́culas que
se movem libremente são

E 2 − p⃗2 c2 = m2 c4

(6)
⃗v E
p⃗ =
c2
onde E é a energia, p⃗ é o momento, m é a massa, e ⃗v é a velocidade
da partı́cula (sistema de partı́culas ou corpo). Devemos enfatizar que a
massa e a velocidade da partı́cula (corpo) são as mesmas quantidades
que nós tratamos na fı́sica Newtoniana. Tal como as componentes das
coordenadas t e ⃗r no espaço quadri-dimensional, a energia E e o mo-
mento p⃗ são os componentes de um vetor no espaço quadri-dimensional.
Eles mudam na transição de um sistema inercial a outro de acordo com
as transformações de Lorentz. A massa no entanto não muda, é um
invariante de Lorentz.
A difereença mais importante desta teoria com a mecânica não re-
lativı́stica é que a energia de um corpo massivo não desaparece mesmo
quando o corpo está em repouso, isto é para ⃗v = 0 e p⃗ = 0. De acordo
com (6) a energia de repouso é proporcional a sua massa

E0 = mc2

Uma notável propriedade da equação (6) é que elas descrevem o


movimento das partı́culas no intervalo completo das velocidades ou seja
0 ≤ v ≤ c. Em particular para v = c temos que

pc = E

Substituindo esta relação na primeira das equações de (6), nós vemos


que a partı́cula se movendo com esta velocidade tem massa igual a zero
e vice versa. Para uma partı́cula sem massa não existe um sistema
de coordenadas que esteja no repouso, Para partı́culas com massa a
energia e o momento podem ser expressas convenientemente em termos
1.9. DINÂMICA RELATIVÍSTICA 17

das massas e suas velocidades, para isto nós substituimos a equação


segunda de (6) na primeira
( )
v2E 2 v2
E − 2 = E2 1 − 2
2
= m2 c 4
c c

e tomando a raiz quadrada obtemos


( )−1/2
v2
E = mc 2
1− 2 = mc2 γ (7)
c

e substituindo esta ultima equação na segunda equação de (6), te-


mos que
( )−1/2
v2
p⃗ = m⃗v 1 − 2 = m⃗v γ , (8)
c
−1/2
onde γ = (1 − β 2 ) , com β = vc .
É obvio que de (7) e (8), que o corpo com massa (m ̸= 0) não pode
movimentar-se com velocidade igual a da luz, visto que neste caso a
energia e o momento serão infinitos.
Nós definimos a energia cinética como a diferença entre a energia
total e a energia de repouso, isto é

Ekin = E − E0 = mc2 (γ − 1) . (9)

No limite v/c ≪ 1, nós obtemos as equações de Newton

p⃗ = m⃗v

p⃗2 m⃗v 2
Ekin = =
2m 2
A última equação se obtém usando

1 1 v2
γ=√ ≃1+ 2
1 − v 2 /c2 2c
18 CAPÍTULO 1. TEORIA DA RELATIVIDADE

então
( )
1 v2 mv 2
Ekin = E − E0 = mc (γ − 1) = mc
2 2
1+ 2 −1 =
2c 2
logo
p⃗2 m⃗v 2
Ekin = =
2m 2
Exercicios
• Qual é a energia que contém 1 g. de areia?. Compare com as 7000
calorias que se recebem quando se esquenta 1 g. de carbono (1cal =
4, 18 Joules)

E = (10−3 Kg)(3.108 m/s)2 = 9.1013 Joules


Agora a energia quando se esquenta 1 g. de carbono é igual
(7000cal)(4, 18Joules/cal) = 2, 9.104 Joules
Desta forma a energia de repouso da areia é ∝ 3.109 vezes maior que a
energia a quı́mica.

• A energia cinética da partı́cula é igual a sua energia de repouso,


qual é a velocidade da partı́cula
1
K = mc2 [(1−v 2 /c2 )−1/2 −1] = mc2 → (1−v 2 /c2 )−1/2 = 2 → 1−v 2 /c2 =
4

v/c = 3/4 → v = 0, 866c
• No acelerador TEVATRON, os prótons chegam a uma energia de
900 vezes da energia do repouso. Qual é a velocidade dos prótons?

E = 900mc2 = mc2 (1 − v 2 /c2 )−1/2 → 1 − v 2 /c2 = 1/9002



v 1 √
= 1− ≃ 0.999998765 → v = 0, 9999993827c
c 810000
1.10. EXERCICIOS 19

1.10 Exercicios
• 1) Os pions se movimentam com velocidade v = 0.99c
a) Em quantas vezes aumenta a meia-vida dos pions que é medido
no sistema de laboratório. Meia vida dos pions τ = 1, 8x10−8 seg
b) Qual é a distância que eles percorrem durante este tempo
• 2) Um vagão de 20 m de comprimento se desloca ao longo do eixo
km
x com velocidade de 3600 seg . Na parte inicial e final caem dois raios ao
mesmo tempo vistos por um observador que está fora do vagão. Qual
é a diferença de tempo entre os dois raios desde o ponto de vista dos
passageiros.
′2 2
• 3) Mostre que c2 t2 − ⃗r2 = c2 t − r⃗′ .
• 4) A produção de energia elétrica no Brasil é de 9.1018 joules, qual
é a massa que corresponde a esta energia.
• 5) A massa do próton no repouso é mp ∝ 1 GeV. Nos raios
cósmicos se pode encontrar prótons até com energia de 107 GeV. Consi-
deremos que o próton com tal energia atravessa a galaxia pelo diâmetro.
Este diâmetro é igual à 105 anos luz. Quanto tempo leva o próton nesta
viagem desde o ponto de vista dele?
• 6) Mostre que a energia de repouso do elétron é me c2 ∝ 0, 51 Mev.
20 CAPÍTULO 1. TEORIA DA RELATIVIDADE
Capı́tulo 2

Fı́sica Quântica

2.1 O Efeito Fotoelétrico


Em 1905 Einstein de forma contundente provó a teoria de Planck, de
acordo com a hipótese dele, a luz é constituida por quanta (fótons) de
energia hν que se propagam no espaço como um chumaço de projéties
com a velocidade da luz.
Arrojada, como a primeira vista parece ser esta hipótese, há não
obstante uma série completa de experiências que não podem se explicar
pela teoria ondulatória e sim usando a hipótese do fóton como partı́cula.
Citemos algumas experiências como prova da hipótese de Einstein.
A transformação mais direta da luz em energia mecânica ocorre no
efeito fotoelétrico (Hertz (1887), Hallwacks, Elster,..), se sobre uma
superfı́cie metálica (metais alcalinos) e num vácuo de grau elevado, in-
cide luz de pequeno comprimento de onda (ultravioleta). Se observa
em primeiro lugar que a superfı́cie se carrega positivamente o que signi-
fica que perdeu electricidade negativa ou seja elétrons foram ejectados
do metal, logo de aqui podemos medir a corrente total que sai da su-
perfı́cie metálica e por outro lado determinar a velocidade dos elétrons
mediante um campo retardador. Experiências demonstraram que a
velocidade dos elétrons emergentes não depende da intensidade da luz
(número de fótons incidentes), porém o número desses elétrons aumenta
quando a luz é mais energética. Ainda demonstrou-se que a velocidade
dos fotoelétrons só depende da frequência ν da luz e se encontrou a

21
22 CAPÍTULO 2. FÍSICA QUÂNTICA

seguinte relação para a energia dos elétrons

E = hν − A

onde A é uma constante caracterı́stica do metal.


Sobre o ponto de vista da hipótese de Einstein, cada fótons de luz
que incide no metal e colide com um dos respectivos elétrons, comunica
toda sua energia ao elétron e desta forma o retira do metal, contudo
o elétron antes de sair perde uma parte desta energia igual ao trablho
A, requerido para abandonar o metal, ou seja para vencer a energia
de ligaçã do elétron mais afastado do núcleo no metal, Se a frequência
da luz for menor que a requerida então nenhum eletron irá escapar,
quando a frequência é aumentada então os eletrons serão ejetados com
energias cada vez maiores, ver figura

Si se parte da hipótese de que a luz incidente representa um campo


eletromagnêtico, pode-se deduzir o tempo que deve decorrer até que
uma partı́cula do metal possa tomar deste campo, por absorção a quan-
tidade de energia requerida para a libertação de um elétron, estes tem-
pos são da ordem de grandeza de alguns minutos, mas a experiência
provou que a emissão de fotoelétrons se desencadeia logo após o começo
da irradiação, logo a hipótese está errada
2.1. O EFEITO FOTOELÉTRICO 23

Exercı́cios
• Calcule a energia dos fótons visiveis (400 à 700 nm)

400nm < λ < 700nm


A energia do fóton com λ = 400 nm é
hc (4, 14.10−15 eV.s)(3.108 m/s) 12, 42.10−7 eV
E= = = = 3, 1eV
λ 400.10−9 m 4.10−7
A energia do fóton com λ = 700 nm é
hc 12, 42.10−7 eV
E= = = 1, 8eV
λ 7.10−7 m
Logo o rango de enrgia dos fótons visı́veis é de 1, 8 à 3, 1 eV

• Se incide sobre uma superfı́cie de chumbo com radiação eletro-


magnética. Qual é o comprimento de onda máximo da radiação que
causa a ejeção dos elétrons da superfı́cie do chumbo. Achumbo = 4, 3 eV

A condição é
hc hc
>A→λ<
λ A
Logo o comprimento de onda máximo é
hc 1242eV.nm
λ= = = 290nm
A 4, 3eV
• Se incide com radiação ultravioleta com um comprimento de onda
de 100 nm sobre um cátodo de aluminio. Quanto deve ser a voltagem
necessária para parar os elétrons?. AAl = 4, 3 eV

A relação da voltagem necessária para parar os elétrons e a energia


cinética máxima dos elétrons ejetados é
hc
max
qV = EK = hν − A → −A
λ
Mas hc/λ é a energia do fóton e no caso de q = e, logo
( ) ( )
max
EK 1 hc 1 1242eV.nm
V = = −A = − 4, 3eV = 8, 12V
e e λ e 100nm
24 CAPÍTULO 2. FÍSICA QUÂNTICA

2.2 O Efeito Compton


Compton (1922 − 1923) estudou o espalhamento dos raios X sobre um
bloco de parafina e verificou que a radiação espalhada possuia um com-
primento de onda diferente que a radiação primária, de modo que o

ν da onda espalhada é diferente do ν da radiação incidente, este ex-
perimento entra em contradição com a predição da teoria clássica, de
acordo com a teoria clássica do espalhamneto dos raios X por elétrons,
a radiação difundida tem sempre a mesma frequência ν que a radiação
primária, porque o elétron vibra ao mesmo ritmo que o vetor elétrico
da onda incidente e, como qualquer dipolo oscilante, gera uma onda
secundária de igual frequência.
Voltando para o resultado da experiência, este pode explicar-se
adoptando-se o ponto de vista corpuscular, isto é, se nós tratásemos
o fenômeno como um processo de choque elástico entre duas partı́culas,
o elétron e o fóton γ + e → γ + e. Sendo o momento do fóton p⃗
v
p= E
c2
e visto que o fóton se move com velocidade v = c, temos
E
p=
c
e como para o fóton E = hν, temos
hν h
p= =
c λ
visto que o fóton possue momento logo ele encontrando um obstáculo
vai experimentar uma pressão sobre este obstáculo, e o qual chamare-
mos pressão de radiação.
Na figura seguinte dá para ver que quando o fóton atinge o elétron,
o fóton comunı́ca-le energia cinética a custa de sua própia energia, o
fóton espalhado terá portanto uma energia menor
O cálculo exato da perda de energia desenvolve-se como no caso do
choque entre duas esferas elásticas, a quantidade de movimento total
assim como a energia total devem ser as mesmas antes e depóis do
choque, isto é baseiam-se nos teoremas da conservação da energia e da
2.2. O EFEITO COMPTON 25

quantidade de movimento. A energia do fóton antes do choque é hν


e sua quantidade de movimento é é hν/c, as quantidades após o cho-
′ ′
que são hν e hν /c. Considerando o elétron no repouso temos que sua
energia é igual à mc2 , onde m é a massa de repouso e sua quantidade
de movimento será igual a zero. Seja v a velocidade do elétron depóis
do choque, sua energia total, sua energia cinética e quantidade de mo-
vimento serão mc2 γ, mc2 (γ − 1) e mvγ, enquanto antes do choque a
energia cinética é nula.
Por conseguinte se φ for o ângulo de desvio do fóton e ψ o do elétron,
os teoremas de conservação da energia e da quantidade de movimento
serão, ver figuras

Antes da colisão Depois da colisão

A conservação da energia dá


hν + mc2 = hν + mc2 γ

e a conservação da quantidade de movimento, consequentemente


26 CAPÍTULO 2. FÍSICA QUÂNTICA


hν hν
= cos φ + mv cosψ
c c


0= sen φ − mv sen ψ
c
Fazendo algumas transformações com a primeira fórmula de p, ob-
teremos
′ h
∆λ = λ − λ = (1 − cos φ)
mc
1−cos φ
usando 2
= sen2 φ2
′ h φ
∆λ = λ − λ = 2 sen2
mc 2
onde λ0 = mc h
= 0.0242A0 = 2, 42.10−3 nm, é o comprimento de onda
Compton.
Desta fórmula se vé que para φ = 0 nós temos ∆λ = 0, para
φ = 900 , ∆λ = 2λ0 ( √12 )2 = λ0 e para φ = 1800 nós temos ∆λ = 2λ0 .
De acordo com esta fórmula a variação do comprimento de onda
é independente do própio comprimento de onda e depende exclusiva-
mente do ângulo de espalhamento φ.
É preciso ainda salientar que o efeito Compton acontece para os
elétrons quasi livres ou seja para os átomos não pesados ou para os
elétrons periféricos dos átomos pesados, neste caso a energia de ligação
do elétron com o átomo é da ordem de elétrons-volts o que é muito
pouco em comparação com a energia dos fótons dos raios X. Para
átomos pesados os elétrons internos estão ligados fortemente com o
núcleo, neste caso não acontece o efeito Compton ou seja a frequência
do fóton espalhado é igual a frequência do fóton incidente.

Exercicios
• Calcule o comprimento de onda de Compton do elétron

h hc (4, 136.10−15 eV.s)(3.1017 nm/s)


λ0 = = =
me c me c2 0, 511.106 eV
2.3. MODELO ATÔMICO DE BOHR 27

1240eV.nm
λ0 = = 0.00242 nm
0, 511.106 eV

• O compriemnto de onda dos raios X que Compton usou em seus


experimentos foi de λ = 0.0711 nm, calcule sua energia

hc 1240 eV. nm
E = pc = = = 17440 eV
λ 0, 0711 nm

• Um raio X com um compriemto de onda de 0, 0062 nm incide


sobre um elétron no repouso. Supondo que o elétron recua com uma

energia cinética de 60 keV, calcule a energia do raio γ espalhado e
determine a direção com que é espalhado

2.3 Modelo Atômico de Bohr


Bohr em 1913 fornulou os fundamentos da mecânica quântica, ao esta-
belecer seus dois postulados, postulado sobre a existência dos estados
estacionários e o postulado das frequências

• Os átomos e os sistemas atômicos somente podem estar por muito


tiempo, em estados definidos (estados estacionários), nas quais as partı́culas
carregadas apesar delas estar se movendo, não irradiam ou absorvem
energia. Nestes estados os sistemas atômicos possuem energia que for-
mam uma série discreta: E1 , E2 , ...., En . O estado destas se caracteriza
pela sua estabilidade, qualquer mudança de energia como resultado da
absorção ou emissão da radiação eletromagnêtica ou como resultado da
colisão, pode acontecer somente quando ele pula de um estado para
outro

• Quando ele faz a transição de um estado estacionário para outro os


átomos absorvem ou emitem radiação, somente numa frequência bem
definida. A radiação que é emitida ou absorvida quando se transita
28 CAPÍTULO 2. FÍSICA QUÂNTICA

de um estado Em para outro En , é monocromâtica e sua frequência se


define pela ondição

hν = Em − En

Ambos estes potulados contradizem fortemente a eletrodinâmica


clássica, visto que pelo primeiro postulado os átomos não irradiam, ape-
sar que seus elétrons realizam movimento acelerado e no segundo pos-
tulado as frequências emitidas não tem nada a ver com as frequências
dos movimentos periôdicos dos elétrons.
Ao mesmo tempo que os postulados de Bohr exigem a existência
de uma consequência discreta de nı́veis de energia que correspondem
a órbitas quantizadas no átomo, a mecância clássica leva a uma quan-
tidade contı́nuia de órbitas. Isto significa que os fenômenos que acon-
tecem no mundo atômico se revela a discontinuidade, que é caracteri-
zada pela constante de Planck, enquanto os fenômenos do mundo ma-
croscópico se caracterizam pela sua continuidade. Nós chegamos então
a conclusão de que a mecânica clássica com suas grandezas que mudam
continuamente não se pode aplicar a os fenômenos atômicos.
Bohr ao fazer estas hipóteses já tinha conhecimento do experimento
de Rutherford e dos resultados espectroscópicos de Balmer, então ele
usando todo isto e ainda o postulado de Planck sobre os osciladores
lineares, ele formnulou seus postulados, de acordo com o postulado de
Planck, de todos os possı́veis estados do oscilador linear somente se
realizam aqueles cujas energias são iguais

En = nhν

rescrevendo na forma E/ν = nh, então vemos que é igual a um múltiplo


de h.

2.4 Postulado de De Broglie


Em 1923 de De-Broglie apresentou sua corajosa hipótese e a qual es-
tabelece que as partı́culas materiais, tais como os fótons, podem ter
um aspecto de onda. Ele derivó as regras de quantização de Bohr-
Sommerfeld como uma consequência de sua hipóteses, mais tarde Da-
2.4. POSTULADO DE DE BROGLIE 29

visson and Germer (1927) confirmaram a existência do aspecto ondu-


latório na matéria, mostrando através da difração de elétrons.
Admitindo desta forma que as partı́culas materiais possuem tanto
propriedades ondulatórias como corpusculares, de De-Broglie transpor-
tou para o caso das partı́culas materiais a regra de transição de uma
forma para outra.
Supondo que nós tenhamos uma partı́cula material (elétron) com
massa m e que se move na ausência de um campo, isto é uniformemente
com velocidade v. Na forma corpuscular nós atribuimos a partı́cula a
energia E e o momento p, na forma ondulatória nós teremos correspon-
dentemente a frequência ν e o comprimento de onda λ, se estas ambas
formas representam diferentes aspectos de um mesmo objeto, então a
relação entre estas grandezas se estabelece através das relações

E = hν = h̄ω (3)

h
p = h̄⃗k = (4)
λ
onde λ = 2π/|⃗k| e h̄ = h/2π é a constante de Planck.
No caso de fenômenos ópticos nós usamos a relação (4) para definir
o momento do fóton, a qual representa uma partı́cula de massa de
repouso nula e a qual se move com a velocidade da luz, para partı́culas
materiais esta mesma relação dá o comprimento de onda
h
λ=
p
no caso de partı́culas com massa de repouso diferente de zero e pequenas
velocidades temos p = mv, e para partı́culas relativı́sticas p = mvγ,
logo
h
λ=
mvγ
Exercicios

1) Qual é o comprimento de onda de De-Broglie de uma partı́cula


que tem um momento de 1 keV/c
30 CAPÍTULO 2. FÍSICA QUÂNTICA

h hc 1240eV.nm
λ= = = = 1, 24 nm
p pc 103 eV

2) Calcule o comprimento de onda de uma bola de futebol de 0, 8


kg e de uma velocidade de 10m/s

p = mv = (0.8 kg)(10 m/s) = 8 kg.m/s

h 6, 6.10−34 J.s
λ= = = 8, 25.10−35 m
p 8 kg.m/s
3) Estime o comprimento de onda de De-Broglie de uma bola de
futebol que tem uma velocidade de uma distância atômica por mil anos
d 10−10 m
v= = 3 7
= 3.10−21 m/s
t 10 3.10 s
então o comprimento de onda é
h 6, 6.1034 J.s
λ= = = 2, 75.10−12 m
p(= mv) 2, 4.10−21 kg.m/s

4) Sabemos que a velocidade do elétron no estado fundamental (livre


de qualquer perturbação) do átomo de hidrogênio é v = α c = c/137,
calcule o comprimento de onda.

p = mvγ = α mc

h hc hc 1240 eV.nm
λ= = = 2
= 1 = 0, 33 nm
p pc α mc ( 137 )(5.105 eV )
então temos que o comprimento de onda do elétron dentro do átomo
de hidrogênio é aproximadamente igual ao tamanho do átomo.
5) Elétrons de energia cinética K = 200 MeV são espalhados por
um alvo, cujos núcleos possuem uma distribuição de carga de raio R,
produzindo uma figura de difração onde a separação média entre os
mı́nimos é de θ ≃ 300 , avalie R.
2.5. FUNÇÃO DE ONDA 31

2.5 Função de Onda


A mecânica quântica é totalmente diferente da mecânica clássica, por
exemplo se conhecêssemos todas as forçãs que atuam sobre uma bola de
futebol poderiamos calcular precisamente seu percurso quando voasse
pelo ar. Na mecânica quântica nada de parecido é possı́vel, em qualquer
momento haverá certa probabilidade do elétron no átomo estar em certo
lugar como também certa probabilidade de estar em outro.
Na mecânica quântica os elétrons deixam de ter órbitas. Em vez de
isso formam nuvems de probabilidade de diferentes tamanhos e formas,
estas configurações são conhecidas como estados quânticos. Quando
ocorre um salto quântico, o elétron não passa de uma órbita para outra,
o que faz é uma transição entre dois estados diferentes. Como estados
diferentes estão associados a energias diferentes, os saltos quânticos
ainda produzem a emissão ou absorção de luz. A função de onda de
Shcrödinger associa com cada ponto no espaço tempo dois números, a
amplitude e a fase. De forma geral a fase da onda corresponde a posição
no ciclo com respeito a um ponto arbitrário de referência. Em outras
palavras é a medida de quão longe está da crista ou da depressão. A
fase é geralmente expressa através de um ângulo. Em contraste com a
amplitude que está relacionada com a probabilidade, a fase no pode ser
observada, somente diferenças de fase são observables, apresentemos a
seguinte formulação para a função de onda:
• Nós devemos substituir o conceito clássico de trajetoria pelo con-
ceito de estado que varia com o tempo, isto é o estado quântico de
uma partı́cula, por exemplo o elétron é caraterizado pela função de
onda ψ(r, t), que contém toda a informação possı́vel sobre a partı́cula
• ψ(r, t) é interpretado como a amplitude de probabilidade da existência
da partı́cula e

dP (r, t) = C |ψ(r, t)|2 d 3 r

é interpretado como a probabilidade infinitesimal da partı́cula estar no


tempo t e no elemento de volume d3 r, |ψ(r, t)|2 é a correspondente
densidade de probabilidade e C é a constante de normalização, que tem
como efeito fixar a amplitude, visto que a linearidade da equação de
Schrödinger permite que uma função de onda seja multiplicada por uma
32 CAPÍTULO 2. FÍSICA QUÂNTICA

constante de valor arbitrário e ainda assim continue sendo uma solução


da equação.

2.6 Dualidade Onda-Partı́cula

Agora vejamos a parte mais intrigante da dualidade onda-partı́cula. Ve-


jamos a distribuição da intensidade condicionada pelos fótons os quais
atravssam as fendas A e B. Fechando a fenda B, nós obtemos a dis-
tribuição da intensidade que corresponde a fenda A. Para registrar os
fótons separadamente, quando eles batem no anteparo, póde-se usar
o contador de Geiger. A mesma figura se obtém, somente um pouco
deslocada, se fecharmos somente a fenda A.

Agora quando ambas fendas são abertas, a distribuicão da intensi-


dade não será a soma das intensidades de ambas fendas em separado,
porém é obtida a figura da interferência de Young de dois fendas. Desta
forma chegamos a um paradoxo, a luz possue propriedades tanto de
onda como de partı́cula (efeito fotoeletrico, Compton).

Em 1927, por causa da observação de propriedades ondulatórias


dos elétrons (difração de elétrons no cristal), este paradoxo chegou a
ser mais significativo.
2.6. DUALIDADE ONDA-PARTÍCULA 33

Cada elétron isolado deverá atravessar uma das fendas, consequen-


temente a distribuição dos elétrons no anteparo deverá ser a soma das
distribuições para cada fenda em separado, porém no lugar disto nós
observamos a figura de interferência de Young para dois fendas.
Agora vejamos a figura seguinte e suponhamos que quando a fenda
A está fechada 100 elétrons por segundo atravessam a fenda B, e quando
B está fechada 100 elétrons por segundo atravessam a fenda A
Supondo que detrás do anteparo é colocado um contador de Geiger
e este registra por segundo 100 elétrons, quando é aberta qualquer uma
das fendas. Logo no ponto p1 parece que 100 + 100 é igual a zero,
isto é quando ambas fendas estão abertas ao mesmo tempo o contador
deixa de registrar os elétrons. Isto significa que no ponto p1 se tem um
mı́nimo de interferência. Se nós abrirmos a fenda A e gradualmente
abrirmos a fenda B, então nós esperamos que a medida que é feita a
abertura da fenda B, a contagem do número de elétrons por segundo
deveria aumentar pouco a pouco de 100 até 200 elétrons por segundo,
no entanto em lugar disto nós observamos que o número de elétrons
diminue de 100 até zero no ponto p1 .

De que forma a abertura da fenda B pode influir sobre os elétrons,


que antes da abertura atravessavam a fenda A?. é preciso ainda assi-
nalar que a ideia clássica de que as condições iniciais vão a determinar
34 CAPÍTULO 2. FÍSICA QUÂNTICA

completamente o subsequente movimento da partı́cula, é destruida.


Agora se nós colocasemos o contador de Geiger no ponto p2 , então a
medida que é feita a abertura, a velocidade da contagem irá aumentar
de 100 elétrons até 400 elétrons por segundo, desta forma 100 + 100 =
400.
O formalismo matemâtico com a qual se resolve este paradoxo, co-
loca em correspondência a cada partı́cula uma amplitude de probabi-
lidade E(x, y, z, t) e a qual representa uma função do espaço tempo.
A probabilidade de localizar a partı́cula em um momento arbitrário t
e em qualquer ponto (x, y, z) é proporcional à |E(x, y, z, t)|2 . O qua-
drado do módulo se usa porque em geral E é uma função complexa.
Formalmente ela possue propriedades das ondas clássicas e por isso são
chamadas de funções de onda.
Se os eventos podem ocorrer de tal forma que eles se excluam mutu-
amente, isto é quando as partı́culas possam atravessar ou a fenda A ou
a fenda B, então a amplitude de probabilidade deste evento representa
a soma das amplitudes de probabilidade de cada um deles.

E = E1 + E2
onde E1 descreve a onda que atravessa a fenda A e E2 a onda que
atravessa a fenda B. No anteparo ambas funções se cobrem e recebemos
a figura clássica de interferência de duas fendas. Este formalismo coloca
as bases da mecânica ondulatória ou mecânica quântica.
Exercicios

1) Na figura seguinte no ponto P , se encontra o contador de Geiger.


A amplitude de onda que atravessa a fenda A e chega ao ponto P, em
unidades condicionadas é igual à EA = 2 e no caso da fenda B temos
EB = 4. Se somente estiver aberta a fenda A, então no ponto P se
registra por segundo 1000 elétrons.
a) Quantos elétrons se registram por segundo se somente estiver
aberta a fenda B.

b) Se ambas as fendas estiveram abertas e acontecer que a inter-


ferência é construtiva, quantos elétrons por segundo se registrariam?

c) E no caso da interferência destrutiva?


2.7. PRINCÍPIO DE INCERTEZA 35

2.7 Princı́pio de Incerteza


Heisenberg tomo como ponto de partida o estado quântico de um sis-
tema (elétron, átomo, molécula, etc) e arguiu que para formular a
mecânica do sistema é necessário o ato da observação. Aqui por ob-
servação estamos nos referindo a interação do sistema com a luz. Na
ausência da interação o sistema estaria totalmente isolado del mundo
exterior e então seria totalmente irrelevante. Somente por alguma forma
de interação ou obervação o sistema existiria em um estado definido.
O princı́pio de incerteza de Heisenberg resulta da realização, que
qualquer ato de observação sobre o sistema quântico irá perturbar-lo,
isto é, negando o conhecimento preciso do sistema ao obervador. Isto
pode ser ilustrado pela análises da observação sobre o espalhamento
de um fóton sobre um elétron num estado atómico. O comprimento de
onda do fóton está relacionado com seu momento pela seguinte equação
h
λ= .
p
Isto significa que quanto maior é o momento do fóton menor é seu
comprimento de onda e vice-versa, ver figura seguinte

Logo, se nós quiser-mos determinar a posição do elétron tão preciso


quanto possı́vel, nós devemos usar o fóton com o maior momento o
que significa menores comprimentos de onda. No entanto usando o
fóton com momento alto, embora se ganhe uma boa estimativa sobre
a posição do elétron no instante da medida o elétron será perturbado
violentamente pelo momento alto do fóton e desta forma o momento
será muito incerto. Esto é expresso matematicamente pelo produto das
36 CAPÍTULO 2. FÍSICA QUÂNTICA

incertezas de dois parâmetros conjugados que deve ser maior ou igual


a constante de Planck, isto é

∆x ∆p ≥ h .

Colocando agora p = mv, então de ∆p = m∆v, teremos


h
∆v = (8)
m∆x
onde ∆v depende de h e m. A dizer verdade a relação de incerteza
deverá servir para qualquer massa. Supondo agora que nós tenhamos
um corpo com massa m = 1 gr e suponhamos que a incerteza ∆x não
deve superar 10−4 cm, neste caso
6, 67.10−27
∆v = = 6, 67.10−23
10−4
ou seja a incerteza da velocidade está longe de poder ser medida. Como
era de se esperar a relação de incerteza para os corpos macroscópicos
practicamente não tem nenhuma importância.
No entanto se a relação de incerteza aplicar-mos para o elétron então
o resultado será diferente. A massa do elétron é igual à 9.10−28 gr, isto
é da mesma ordem de grandeza que h. Neste caso a ordem de grandeza
de ∆v evidentemente depende da precisão da definição da posição, isto
é de ∆x. Supondo por exemplo que se queira estabelecer que um elétron
pertença a um àtomo, neste caso a precisão da posição deverá ser no
mı́nimo ∆x = 10−9 cm, visto que a dimensão do átomo é da ordem de
10−8 cm, logo teremos
6, 67.10−27
∆v = = 7, 3.109 cm/s
0, 9.10−27 .10−9
De outro lado nós sabemos que a velocidade do elétron no átomo é
da ordem de 108 cm/s. Então nós vemos que neste caso a incerteza da
velocidade do elétron é maior em quasi duas ordens de grandeza que a
velocidade própia do elétron no átomo. Isto mostra que nos sistemas
microscópicos a relação de incerteza joga um papel decisivo.
Por outro lado é conhecido se a partı́cula ficar no repouso, então
a incerteza no momento é ∆p = 0. De aqui póde-se pensar que com
2.7. PRINCÍPIO DE INCERTEZA 37

ayuda de um microscópio é possı́vel definir a posição de uma partı́cula


e ao mesmo tempo violar a relação de incerteza. O microscópio permite
definir a posição da partı́cula no melhor dos casos, com uma precisão
de comprimento de onda da luz usado por ele, logo ∆x = λ, visto que
∆p = 0 então ∆x ∆p = 0, consequentemente o princı́pio de incerteza é
violado.
Mais da teoria quântica nós sabemos que a luz é composta de fótons
com momento p = h/λ. Para observar a partı́cula, o fóton que é
pego pela lente deve espalhar-se ou absorver-se. Consequentemente
será transmitido a partı́cula um momento que é igual à h/λ. Desta
forma no momento da observação da posição da partı́cula com uma
precisão ∆x = λ a incerteza no momento é ∆p ≥ h/λ, logo temos
h
∆x ∆px ≥ λ =h.
λ

Exercicios
1) Estime a energia cinética mı́nima de uma bola de futebol confi-
nada em uma caixa de zapatos de 50 cm

∆x = 0, 5 m m = 0, 8 kg

Então a energia cinética mı́nima é


h2 (6, 6.10−34 J.s)2
< EK >min = 2
= 2
= 6, 6.10−67 J = 6, 6.10−48 eV
2m(∆x) 2(0, 8 kg)(0, 5 m)

2) Estime a energia cinética mı́nima de um elétron confinado pela


força eletromagnêtica a estar dentro do átomo

A incerteza na posição do elétron é aproximadamente igual ao raio


atômico ∆x ≃ 0, 1 nm e a massa do elétron é m = 0, 5 M eV /c2 , logo a
energia cinética meia do elétron é
h2 c 2 (1240 eV.nm)2
< EK >min = = = 1, 24 eV
2mc2 (∆x)2 2(5.105 eV )(0, 1 nm)2
38 CAPÍTULO 2. FÍSICA QUÂNTICA
Capı́tulo 3

Equação de Schrödinger para


o Átomo de Hidrogênio

3.1 Equação de Schrödinger em Três Di-


mensões
O universo atualmente está constituido de 75% de Hidrogênio e 24, 999%
de Hélio, todos os demais elementos existem apenas em quantidades re-
lativamente pequenas e o assunto de este capı́tulo é sobre o átomo de
Hidrogênio. A teoria de Schrödinger do átomo de um elétron é de
grande importância prática, porque fornece os fundamentos para o tra-
tamento quântico dos átomos de muitos electrons como também para
as moléculas e núcleos, é preciso assinalar que o átomo de um elétron
é o sistema ligado mais simples da natureza e sobre o qual trataremos
em seguida.
Consideremos um elétron que se move sobre a ação do potencial
coulombiano

KZe2
V = V (x, y, z) = − √ 2
x + y2 + z2
1
sendo que K = 4πε 0
= 8, 99.109 newton metro2 /coulomb2 é a constante
de força elétrica na lei de Coulomb, que nós colocaremos K = 1, e x, y
e z são coordenadas retangulares do elétron de carga -e.

39
40CAPÍTULO 3. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER PARA O ÁTOMO DE HIDROGE

Em relação ao núcleo fixo na origem, a raiz quadrada no denomi-


nador é a distância r que separa o elétron do núcleo. A carga nuclear é
+Ze (Z = 1 para o átomo de higrogênio, Z = 2 para o hélio, etc).
Agora escrevamos a equação de Schrödinger para este sistema tri-
dimensional, para isto escrevamos a expressão clássica para a energia
total do sistema
p2x + p2y + p2z
E= + V (x, y, z)
2m
substituindo as grandezas dinâmicas px , py , pz e E pelos operadores di-
ferencias associados ou seja
∂ ∂
px j ↔ −ih̄ , j = x, y, z, E ↔ ih̄
∂xj ∂t
obtemos
h̄2 ∂ 2 ∂2 ∂2 ∂
− ( 2 + 2 + 2 ) + V (x, y, z) = ih̄
2m ∂x ∂y ∂z ∂t
Agora operando cada termo na função de onda ψ = ψ(x, y, z, t)
obtemos a equação de Schrödinger em coordenadas cartesianas
[ ]
h̄2 ∂ 2 ψ(x, y, z) ∂ 2 ψ(x, y, z) ∂ 2 ψ(x, y, z)
− + + +V (x, y, z)ψ(x, y, z, t)
2m ∂x2 ∂y 2 ∂z 2

∂ψ(x, y, z, t)
= ih̄
∂t
ou também
h̄2 2 ∂ψ
− ∇ ψ + V ψ = ih̄
2m ∂t
onde
∂2 ∂2 ∂2
∇2 = + +
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
é chamado operador Laplaciano. Usando esta equação de onda Schrödin-
ger mostro que a função de onda do elétron pode assumir somente va-
lores discretos de energia e que esta equação que governa a esta função
deonda pode predizer o comportamento do sistema.
3.1. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER EM TRÊS DIMENSÕES 41

3.1.1 Solução da Equação de Schrödinger para o


Estado s
Procuremos agora a solução para o estado fundamental do átomo de
um elétron caracterizado pelo número quântico l = 0 ou seja o estado
s. Este estado possue simetria esférica e esto implica que a função de
onda ψ somente depende do raio r ou seja para qualquer valor de θ e φ a
função de onda é a mesma, logo ψ(r, θ, φ) → ψ(r) e consequentemente

h̄2 2
− ∇ ψ(r, θ, φ) + V (r)ψ(r, θ, φ) = Eψ(r, θ, φ)
2m

( ) ( )
1 d 2 dψ(r) 2m Ze2 2m
2
r − 2 − ψ(r) + 2 Eψ(r) = 0
r dr dr h̄ r h̄

( )
1 d 2 dψ 2m Ze2
r + (E + )ψ = 0
r2 dr dr h̄2 r

( ) ( )
2
1 dψ 2d ψ 2m Ze2
2r + r + 2 E+ ψ=0
r2 dr dr2 h̄ r
ou
d2 ψ 2 dψ 2a
+ + (λ + )ψ = 0 (1)
dr2 r dr r
onde por simplicidade tomamos K = 1, ainda substituimos λ = E 2m h̄2
e
mZe2 −εr
a = h̄2 . A solução mais simples desta equação é ψ = e , visto que
é finita para r = 0 e é zero para r → ∞. Efetivamente derivando ate
segunda ordem, temos

= −εe−εr
dr

d2 ψ
2
= ε2 e−εr
dr
42CAPÍTULO 3. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER PARA O ÁTOMO DE HIDROGE

colocando estas expressões em (1), obtemos


2 2a
ε2 e−εr − εe−εr + λe−εr + e−εr =0
r r
ou
1
(ε2 + λ) + (−2ε + 2a) = 0
r
Esta relação deve valer para quaisquer r, por isso os termos que
estão entre parentêsis devem ser iguais a zero, ou seja

ε2 = −λ ε=a

Tomando en conta os valores de λ e a, temos


mZe2 m2 Z 2 e4 2m mZ 2 e4
ε= → ε 2
= = −E → E = −
h̄2 h̄4 h̄2 2h̄2
2 4
Se nós comparamos com a fórmula de Bohr En = − mZ e
2n2 h̄2
, então
nós vemos que o resultado obtido é para o primeiro nı́vel do átomo de
Hidrogênio ou seja n = 1, logo nosso estado s será caracterizado pelos
números quânticos n = 1 e l = 0.
Colocando Z = 1, nós obtemos a energia para o átomo de hidrogênio
no estado fundamental ou se nós trocamos o sinal nós obteremos a
energia de ionização respectivamente .
me4
I = −E1 = = 13, 6eV
2h̄2
este valor coincide com o valor experimental. Agora calculemos a pro-
babilidade de encontrar um elétron em um elemento de volume dτ

P (r)dτ = |N |2 ψ 2 dτ = |N |2 e−2εr r2 senθ dθ dφ dr

A probabilidade de encontrar um elétron entre r e r+dr do núcleo


em qualquer direção, encontra-se através da integração de (2) sobre os
ângulos
∫ 2π ∫ π
P (r)dr = |N |2 r2 e−2εr dr dφ senθdθ = |N |2 4πr2 e−2εr dr
0 0
3.1. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER EM TRÊS DIMENSÕES 43

De aqui dá para ver do exponente que a constante ε tem a dimensão


de diastância−1 = a−1 , logo a probabilidade P (r) é zero quando r = 0
e vai assimptoticamte a zero quando r → ∞. Encontremos a distância
para a qual a probabilidade têm um máximo, para isto diferenciando a
última expressão em r e colocando o resultado igual a zero, obtemos

4π|N |2 (2re−2εr − 2εr2 e−2εr ) = 0

1 1 h̄2
(r − r2 ε) = 0 → r = = = (2)
ε a me2
2
onde nós denotamos a distância 1ε = r = a1 = me h̄
2 , e ele depende de

constantes universais e, m e h̄ e é chamado de raio de Bohr.


Temos que tomar em conta que o estado 1s tem simetria esférica
de tal forma que a distribuição de probabilidade deve representar uma
nuve esférica.
Densidade de Probabilidade

Calculemos agora o fator de normalização, para isto vamos norma-


lizar a um nossa função de probabilidade
∫ ∫ ∞ ∫ π ∫ 2π
1 = |N |2 ψ ∗ ψdτ = |N |2 e−2r/a1 r2 dr senθ dθ dφ
0 0 0

∫ ∞
= |N |2 4π r2 e−2r/a1 dr
0

Usando a integral
∫ ∞ n!
In = rn e−δr dr =
0 δ n+1
onde δ = 2/a1 e considerando que nossa integral é de segunda ordem,
temos que
∫ ∞ 2 2a31 a31
I2 = r2 e−2r/a1 dr = = =
0 δ3 23 4
Logo
44CAPÍTULO 3. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER PARA O ÁTOMO DE HIDROGE

1
1 = |N |2 πa31 → N = 3/2
π 1/2 a1
Desta forma nossa autofunção fica
1
ψ= 3/2
e−r/a1
π 1/2 a1
Esta função nós usaremos para calcular os valores esperados. Cal-
culemos o valor esperado da coordenada
∫ ∫ 2π ∫ π ∫ ∞
1
r= ψ ∗ rψdτ = dφ senθ dθ re−2r/a1 r2 dr
πa31 0 0 0

4 ∫ ∞ 3 −2r/a1
= r e dr
a31 0
onde
∫ ∞ 3.2 6a41 3 4
I3 = r3 e−2r/a1 dr = = = a
0 δ4 24 8 1
então o valor esperado para a coordenada é
4 3 4 3
r= a = a1
a31 8 1 2
Calculemos agora o valor esperado da energia potencial
( )
1
U = −e 2
r
onde
( ) ∫ ∞
1 1 1 4 ∫ ∞ −2r/a1
= 3 4π e−2r/a1 r2 dr = 3 e rdr
r πa1 0 r a1 0
e nosso I1
∫ ∞ 1 a2
I1 = e−2r/a1 rdr = = 21
0 ε 2
3.1. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER EM TRÊS DIMENSÕES 45
( )
1
cosequentemente nossa expressão r
fica

1 4 a2 1
( )= 3 1 =
r a1 4 a1
Logo o valor esperado da energia potencial é

e2
U =−
a1

Desta forma U é mesmo a energia potencial do elétron na distância


a1 , considerando o valor de a1 nós encontramos
2
2 me me4
U 1s = −e 2 =− 2
h̄ h̄
logo encontramos que o valor esperado da energia potencial é duas
vezes a energia total (U 1s = 2E1 ), agora o valor esperado para a energia
cinética nós obtemos de T + U = E
me4 me4 me4
T =− + = + (2, 1)
2h̄2 h̄2 2h̄2
que é igual a energia total com sinal trocado.
Exercicios
• Prove que a densidade de probabilidade ψ ∗ (x, t)ψ(x, t) é necessa-
riamente real, positiva ou nula.

Qualquer função complexa ψ(x, t) pode ser escrita como

ψ(x, t) = R(x, t) + iI(x, t)

onde R(x, t) e I(x, t) são funções reais.


O complexo conjugado de ψ(x, t) é definido como

ψ ∗ (x, t) = R(x, t) − iI(x, t)

Multiplicando as duas, obtemos

ψ ∗ ψ = (R − iI)(R + iI) = R2 − i2 I 2 = R2 + I 2
46CAPÍTULO 3. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER PARA O ÁTOMO DE HIDROGE

Portanto a densidade de probabilidade é igual a soma de dois qua-


drados de duas funções reais, de aqui ψ ∗ (x, t)ψ(x, t) deve ser real posi-
tiva ou nula.

• Se

ψ = ei(kr−wt) + ei(kr+wt)

calcule a densidade de probabilidade ψ ∗ ψ

• Verifique que a equação de Schrödinger é linear em relação a


função de onda ψ(x, t), isto é péde-se mostrar que se ψ1 (x, t) e ψ2 (x, t),
são duas soluções da equação de Schrödinger para um dado V (x, t)
particular, então

ψ(x, t) = c1 ψ1 (x, t) + c2 ψ2 (x, t)

também é uma solução para a mesma equação.

Escrevendo a equação de Schrödinger na forma seguinte

h̄2 ∂ 2 ψ ∂ψ
− 2
+ V ψ − ih̄ =0
2m ∂x ∂t
e substituindo na condição de linearidade, teremos
[ ] [ ]
h̄2 ∂ 2 ψ1 ∂ψ1 h̄2 ∂ 2 ψ2 ∂ψ2
c1 − 2
+ V ψ1 − ih̄ + c2 − 2
+ V ψ2 − ih̄ =0
2m ∂x ∂t 2m ∂x ∂t
visto que c1 e c2 são arbitrários, então cada corchete é zero e conse-
quentemente ψ1 e ψ2 são soluções desta equação para o mesmo V.
• Mostre que a probabilidade do elétron encontrar-se tanto em r = 0
como em r → ∞ é P (r) = 0

3.2 Momento Magnêtico Orbital


Introduzamos a energia de interação magnêtica, como sendo

W = −⃗µB
⃗ (1)
3.2. MOMENTO MAGNÊTICO ORBITAL 47

onde ⃗µ é o momento magnêtico de dipolo e que está relacionada com


a circulação de cargas ao redor do núcleo e B é o campo magnêtico
aplicado. O vector do momento magnêtico parametriza a estrutura
magnêtica do àtomo e o campo magnêtico externo actua identificando
esta estrutura. Nós tomamos B como constante no espaço e tempo
e observamos da equação (1) que a energia é mı́nima quando µ está
alinhada a B. Visto que o momento magnêtico do àtomo está direc-
tamente relacionado com o momento angular então nós estudaremos
a relação entre estas duas quantidades para o caso de àtomos de um
elétron.
A magnitude do momento magnêtico é igual ao produto da corrente
eletrônica eν vezes a àrea percorrida πr2 , logo

µ = πr2 eν

Classicamente o momento orbital do elétron é igual à

L = mvr = 2πr2 mν

onde v = 2πνr. Logo de estas duas relações vemos que µ e L contêm o


fator cinemâtico r2 ν e que a relação entre ambas magnitudes depende
somente de constantes fundamentais, ou seja
µ e
=
L 2m
ou na representação vetorial
e ⃗
⃗µ = − L
2m

onde nós consideramos que os vetores ⃗µ e L ⃗ tem direções opostas para


uma partı́cula negativa orbitando ao redor do núcleo, ainda é preciso
assinalar que este resultado é válido tanto para órbitas circulares como
para elı́pticas. Ver figura seguinte
A proporcionalidade entre ⃗µ e L ⃗ é uma propriedade geral de uma
distribuição de cargas rodando. O momento magnêtico e o momento
angular de um corpo arbitrârio rodando com massa M e carga Q sempre
satisfazem a relação
48CAPÍTULO 3. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER PARA O ÁTOMO DE HIDROGE

Q ⃗
⃗µ = g L
2M
onde g é chamado de fator-g orbital, que depende da distribuição que
circula e que para o elétron é igual a um
Escolhendo a componente z do momento angular e tomando Lz = h̄,
então teremos
eh̄
µB =
2m
onde µB é conhecido como o magnetón de Bohr
• Exemplo.- Calcule o valor numérico do magnetón de Bohr.

eh̄ (1, 602.10−19 C)(1, 055.10−34 J.s) m


−24 C.kg.m. s2 .s C
µB = = −31
= 9, 27.10 = 9, 27.10−24
2m 2(9, 11.10 Kg) Kg s

µB = 9, 27.10−24 A.m2

3.3 A Experiência de Stern-Gerlach e o


Spin do Elétron
De acordo com o modelo de Bohr devia existir somente uma linha es-
pectral para o átomo de hidrogênio no estado s, mais apareciam duas
linhas quase juntas então os fı́sicos Sam Goudsmit and George Uhlen-
beck propuseram que o elétron girava sobre seu própio eixo enquanto
ele orbita ao redor do núcleo (da mesma forma que a terra gira ao redor
do eixo norte-sul enaquanto ela orbita ao redor do sol).
A separação das linhas espectrais é explicado pela existência de
efeitos magnéticos dentro do átomo. O elétron orbita ao redor do núcleo
e forma uma corrente circular, que a sua vez gera um campo magnético.
O giro (spin) do elétron ao redor de seu própio eixo forma uma corrente
circular ainda menor e esta corrente gera outro campo magnético, este
momento magnético do elétron pode somar ou substrair do momento
magnético principal do átomo, dependendo da forma que o elétron gira.
3.3. A EXPERIÊNCIA DE STERN-GERLACH E O SPIN DO ELÉTRON49

Isto levará à pequenas diferenças de energia para a órbita eletrônica e


resultará na separação das linhas espectrais associadas com a órbita de
Bohr.

Agora vamos mostrar a existência do spin do elétron através do


experimento de Stern-Gerlach. Para isto vamos usar àtomos de um
elétron, cuyos estados não excitados são do tipo s ou seja l = 0. Quando
o experimento mostre que o àtomo possue um momento mecânico e
magnêtico, então nós devemos atribuir estas propriedades ao elétron de
valência

A figura mostra a trajetória do àtomo de um elétron emitido de um


forno de alta temperatura, os àtomos que estão no forno atravessam
a abertura do forno em linha reta; a fenda colimada F seleciona tais
àtomos cuyas velocidades são paralelas a direção escolhida (eixo 0y),
depóis estes àtomos são desviados pelo gradiente do campo magnêtico
criado pelo eletromagneto e concentrados sobre N da placa P.

Agora o campo magnêtico não pode ser homogêneo (constante),


caso fosse homogêneo a ação deste campo sobre um dipolo magnêtico,
(pois uma corrente circular possue um momento magnêtico, por isso,
o mesmo se comporta como um dipolo magnêtico na presença de um
campo magnêtico), atuará sobre este com um par de forças iguais e em
sentido contrário.
50CAPÍTULO 3. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER PARA O ÁTOMO DE HIDROGE

Agora quando atua um campo não homogêneo então ele atuará com
diferentes intensidades sobre os polos e fará com que um deles se desvie.
Calculemos esta força, para isto introduzamos a energia de interação
magnêtica,
W = −⃗µB ⃗
onde ⃗µ é o momento magnêtico de dipolo e B é o campo magnêtico
aplicado. Logo a força exercida sobre o àtomo é

⃗ = µx ∂Bx + µy ∂By + µz ∂Bz


F = −∇W = +∇(⃗µB)
∂x ∂y ∂z
Devido a que o àtomo pode ser representado por um pião, (o elétron
gira ao redor do núcleo e ao redor de si mesmo, logo é um pião), então
aparecem precessões na direção do campo, pois o campo está na direção
z, logo nós assumimos relacionada a esta precessão, que as proyeções de
µ com respeito aos eixos x e y tomam alternadamente valores positivos
e negativos e são na média igual a zero. A proyeção sobre o eixo z é
constante e o valor médio da força que atua sobre o dipolo é
∂Bz
F = µz
∂z
A componente z do momento magnêtico é proporcional ao momento
mecânico o qual somente admite um número limitado de valores discre-
tos. Cosequentemente a linha espectral se divide pela ação do campo
magnêtico em tantas linhas espectrais individuais quanto o valor de Lz
forneçer.
O experimento mostrou que no caso do àtomo de hidrogênio, litio,
prata e metais alcalinos apareçem duas faixas simétricas. Isto mostra
que a linha se divide em duas partes pela ação do campo magnêtico,
que tem a mesma intensidade e estão em sentidos opostos.
Para poder comprender o conteúdo deste resultado é necessário lem-
brar que o estado de energia mais baixo dos àtomos de hidrogênio, litio
e prata é o estado s.
A divisão observada está condicionada ao fato que além do momento
angular que é caracterizado através do número quântico l, o elétron
possue ainda um momento própio (intrı́nseco), é dizer o momento de
spin. O fato que para l = 0 se possam obter duas faixas e não três
3.3. A EXPERIÊNCIA DE STERN-GERLACH E O SPIN DO ELÉTRON51

ou mais prova diretamente que a proyeção do spin sobre a direção do


campo somente admite dois valores

Logo para caraterizar este momento angular nós introduzimos um


novo número quântico denominado spin s. O momento angular se cal-
cula através das leis da mecânica quântica, isto é

S = h̄ s(s + 1)

as proyeções sobre o eixo z pode tomar 2s + 1 valores diferentes em


unidades de h̄, ou seja Sz = ms h̄
Agora nós devemos explicar com ayuda desse número quântico, por-
que cada nı́vel se divide em dois subnı́veis, logo de aqui, nós nos vemos
obrigados a atribuir o valor 12 para o número quântico de spin, porque
somente neste caso o número de divisões 2s + 1 fornecerá o valor 2,
realmente

2s + 1 = 2(1/2) + 1 = 2

Logo temos que o valor do momento de spin é igual à S = h̄ 34 e a
proyeção sobre um eixo somente pode admitir dois valores + h̄2 e − h̄2 de
aqui ms = + 21 , − 12 .
No capı́tulo anterior nós vimos que entre o momento magnêtico e o
momento angular existe a relação
e
µ= Lz
2m
52CAPÍTULO 3. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER PARA O ÁTOMO DE HIDROGE

onde nós tomamos a componente z do momento angular e colocamos


Lz = 1h̄, logo obtivemos o magneton de Bohr, ou seja

eh̄
µ= = µB
2m
Supondo que a mesma relação serva para o spin, então o momento
magnêtico seria igual a metade do magneton de Bohr, visto que Sz = 12 ,
logo para sanar isto coloquemos o momento magnêtico de spin igual à
e
µs = 2 Sz
2m
e de aqui vemos que o fator orbital g, agora chamado de fator g de spin
é igual a 2 (g = 2) e consequentemente
e
µs = g Sz
2m

3.4 Teoria da Tabela Periódica


Esta teoria se baseia nos dois seguintes princı́pios
• Números Quânticos .- O estado energêtico de um elétron no
átomo é caracterizado por quatro números quânticos n, l, ml , ms .
• Princı́pio de Pauli .- Em um átomo somente pode existir um
elétron em um estado descrito pelos quatro números quânticos, isto
é, dois elétrons que estão ligados em um átomo podem no mı́nimo
diferenciar-se através de um número quântico.
O número total de elétrons que um átomo possue póde-se calcular
da seguinte forma : para um dado valor de n os elétrons podem-se
diferenciar através do número quântico l, que pode tomar n valores
0, 1, ..(n−1), agora quando se fixa o n e l no átomo podem encontrar-se
2(2l + 1) elétrons, isto é quando l = 0, o átomo pode ter dois s-elétrons,
quando l = 1, o átomo pode ter seis p elétrons e assim adiante, logo o
número total de elétrons no átomo com um mesmo n pode ser expresso
através da soma

n−1
2(2l + 1) = 2(1 + 3 + 5 + ....) = 2n2
l=0
3.4. TEORIA DA TABELA PERIÓDICA 53

Na seguinte tabela são dados os números máximos de elétrons que


cada nı́vel possue

n l= s(0) p(1) d(2) f(3) g(4) elétrons


1 2 2
2 2 +6 8
3 2 +6 +10 18
4 2 +6 +10 +14 32
5 2 +6 +10 +14 +18 50

O número total de elétrons com um mesmo número quântico princi-


pal forma uma camada, para diferentes valores de n as camadas podem
ser designadas através das letras

n 1 2 3 4 5
capa K L M N O

Nós veremos que para construir a tabela periódica real algumas


etapas serão violadas e isto devido a que nós consideramos que cada
elétron está se movendo em um potencial central e que a interação entre
eles é nula.
Primeiro vem o átomo de hidrogênio com o elétron estando no estado
1s, isto é n = 1 e l = 0, depóis o hélio com seus dois elétrons ligados no
estado 1s de acordo com o princı́pio de Pauli, logo vem o átomo de lı́tio
cujo terceiro elétron não pode encontrar-se mais no estado 1s, visto
que a camada K(n = 1) já foi completada, o próximo estado energêtico
possı́vel é o estado 2s (n = 2, l = 0), o elétron de valência do lı́tio
certamente estará ligado a este estado.
O quarto elétron do berilio estará também ligado ao estado 2s, o
quinto elétron do boro não pode ocupar o estado 2s, visto que a sub-
camada já foi prenchida (n = 2, l = 0), o quinto elétron deve ocupar
então um estado com um l mais alto ou seja n = 2, l = 1, por isso ele
ocupará o estado 2p. Os outros elétrons até o décimo (neon) ocuparão o
mesmo estado, visto que a subcamada n = 2, l = 1 possue seis lugares,
54CAPÍTULO 3. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER PARA O ÁTOMO DE HIDROGE

logo teremos para o neon a configuração 1s2 2s2 2p6 onde os exponentes
indicam os números dos elétrons, ver tabela

2p ↑
2s ↑ ↑↓ ↑↓
1s ↑ ↑↓ ↑↓ ↑↓ ↑↓
átomo H He Li Be B

Visto que o décimo elétron do neon fecha a camada L, o décimo


primeiro elétron do sódio ocupará o estado (n = 3, l = 0) e assim
continuará até o argonio (Z = 18) na qual a subcamada 3p será fechada.
O décimo nono elétron do potássio (19 K) deve ocupar o estado 3d de
acordo com o esquema ideal, mais visto que o estado 3d está mais baixo
que o estado 4s (ou seja ao estado 3d le corresponde uma maior energia
que o estado 4s), então o décimo nono elétron deve incorporar-se ao
estado 4s, visto que os elétrons vão a prencher as camadas ocupando
as de menor energia ate as de maior energia. O vigésimo elétron do
cálcio igualmente ocupará o estado 4s. Só com o escándio (21 Sc) será
retomada a ocupação normal da subcamada 3d.
Uma interrupção análoga da ocupação normal acontecerá com o
rubidio (37 Rb), seu trigésimo sétimo elétron ocupará não o estado 4d,
mais o estado 5s. O trigésimo oitavo elétron do strónio (38 Sr) ocupará
também o estado 5s, mais do elemento itrium (39 Y ) até o paládio (46 P d)
a capa 4d será ocupada.
Esta interrupção também aconteçe nas terras raras. Com o quintu-
plo oitavo elétron do cério (58 Ce) começará a prencher-se a subcamada
4f que vai até o lutério (71 Lu). E no último grupo depóis do actinio
(89 Ac) está o segundo grupo de terras raras que começa com o tório
(90 T h).

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