Você está na página 1de 6

A EVOLUÇÃO DAS PESQUISAS DA CONSCIÊNCIA E MATRIX

Autores: Adriano Celeste, Ana Beatriz, Caio, Carolina Rua, Débora, Fábio, Giovanna
Curso: Psicologia 2022.2
Centro Universitário Celso Lisboa

RESUMO

O presente ensaio acadêmico tem por objetivo responder o seguinte questionamento: é


possível saber se estamos, ou não, em uma Matrix? Para tal, consideramos o filme Matrix
(1999) e os artigos Chalmers e Searle nos estudos da consciência: algum avanço? (2009) e
Pragmatismo e cognição: self, mente, mundo e verdade na teoria pragmática do conhecimento
(2010). Verificamos que enquanto para Chalmers a consciência é algo fundamental em
qualquer ser vivente sendo um fenômeno emergente das propriedades físicas, mas não
redutível a elas, para Searle a consciência é um problema biológico, sendo tratada como uma
propriedade casualmente emergente do cérebro. Já para os pragmatistas a consciência está
agregada ao corpo, sentimentos, percepções e impulsos formando o Self. Segundo Bouyer, G.
C. (2010) o Self é produto de um fluxo, de uma sequência transitória de estados que se
alternam e que, de modo dinâmico, operam no mundo concreto. Nesse sentido, concluímos
que ainda não há um consenso em relação a consciência, ainda que haja evidências de que
estamos vivendo condicionados a uma matrix não há comprovação de que isso seja uma
verdade, até porque as experiências do sujeito perante o mundo podem criar realidades
distintas de indivíduo para indivíduo principalmente se estes não estiverem sujeitos às
mesmas leis.

Palavras-Chave: matrix, matriz, consciência, self, pragmatismo, David Chalmers; Jonh Searle

1. INTRODUÇÃO

O filme Matrix (1999) é o primeiro filme de uma sequência de quatro a contar a


história de Neo e o despertar de sua consciência para o entendimento de Matrix, uma
realidade simulada por máquinas sencientes, isto é, máquinas com a capacidade de ter
sentimentos e sensações de forma consciente percebendo o que lhes acontece e o que as
rodeia (uma evolução da inteligência artificial).
Neo vive uma vida dupla, de dia é Thomas A. Anderson um programador de uma
companhia de software e de noite é Neo, um hacker que invade sistemas de computador e
rouba informações.
Neo possui uma inquietante dúvida: o que é Matrix? E por isso passa anos buscando
contato com outro conhecido hacker, Morpheus.
Depois de um encontro não meramente casual com outra hacker, Trinnity, Neo é
capturado por agentes que o implantam um software de monitoramento. Já em contato com
Morpheus, Trinnity o incentiva a procurar a verdade sobre a Matrix.
Em seu encontro com Morpheus (1999) ele esclarece:

“Matrix está em toda parte, está a nossa volta, você a vê quando olha pela janela ou
quando liga a televisão, você a sente quando vai a igreja, quando vai trabalhar e
quando paga seus impostos. Você é um escravo Neo, você nasceu em cativeiro e
está preso em sua própria mente.”

Em seguida, Morpheus pergunta a Neo se ele acredita em destino, Neo responde que
não, porque não gosta da ideia de não poder controlar sua própria vida.
Morpheus então apresenta duas pílulas a Neo: uma azul para voltar para a realidade
atual e uma vermelha para que Neo enfim saiba o que é Matrix.
Assim como Neo escolhe a pílula vermelha este ensaio acadêmico propõe uma
reflexão sobre os recentes achados em relação a consciência afim de responder à questão: é
possível saber se estamos, ou não, em uma Matrix?
Na ausência do nosso Morpheus, nos pautamos nas pesquisas de David Chalmers,
Jonh Searl e de autores pragmatistas conforme referências sugeridas.
Essa é uma discussão importante já que é justamente a consciência que nos difere das
máquinas que possuem inteligência artificial e para alguns desses autores também nos difere
de outros seres viventes.
Para Minsky (1986):

“É difícil ver o que há de tão especial nos humanos até que criemos máquinas
inteligentes. Muitas coisas só os humanos podem fazer porque temos cérebros
melhores e mais recursos. As pessoas refletem e imaginam coisas. Com isso o
grande desafio das Inteligências Artificiais seria a capacidade de realizar coisas do
senso comum.”

No próximo tópico apresentaremos as ideias dos autores anteriormente citados sobre a


consciência de forma aprofundada, nossas análises acerca de cada teoria e conclusões sobre a
temática.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 CHALMERS E O PROBLEMA DIFÍCIL DA CONSCIÊNCIA

Para o filósofo David Chalmers (2014) a consciência é um aspecto fundamental da


nossa existência tal qual massa ou o espaço-tempo e não há nada que saibamos de forma mais
direta, mas, ao mesmo tempo é o fenômeno mais misterioso do universo.
Conforme conceitua Borgoni (2011):

“Chalmers rejeita o materialismo defendendo que a consciência,


entendida como experiência consciente, é uma propriedade não-física
do mundo, que supervem naturalmente - mas não logicamente - às
propriedades físicas, nomeando sua abordagem de dualismo
naturalista.”

O dualismo naturalista de Chalmers traz à tona o caráter objetivo e subjetivo da


consciência e é este que torna o problema de difícil resolução. Enquanto o caráter objetivo da
consciência explica suas funções, uma lacuna emerge em relação ao caráter subjetivo da
consciência (a natureza da experiência), já que os métodos de investigação utilizados
atualmente são reducionistas e incapazes de ir além das funções.
Para Chalmers (1997) apud Canal e Moraes (2010) a natureza da experiência não se
restringe a processos físicos ela assume um caráter essencialmente informacional. Sendo
assim, Chalmers tem o objetivo de expandir as teorias físicas da consciência através de
princípios da teoria da informação.
Se pudéssemos correlacionar Chalmers ao filme Matrix (1999) ele seria a pílula
vermelha que refuta a ideia de uma consciência reduzida ao aparato biológico. A consciência
não está atrelada apenas as funções, mas há um componente subjetivo da consciência
relacionado a natureza da experiência que virá à tona através de um novo olhar, através de um
novo método de investigação não reducionista e pautado na teoria da informação.
No nosso entendimento, ainda que cause problemas a pílula vermelha abre novas
frentes de entendimento e consciência, uma nova forma de pensar o mundo e precisa ser
levada em consideração para ampliar o conhecimento sobre a consciência.

2.2 SEARLE E A CONSCIÊNCIA COMO UM PROBLEMA BIOLÓGICO


Diferente de Chalmers, Searle (1997) apud Canal e Moraes (2010) considera a
consciência uma característica biológica ordinária do mundo. Por isso é que uma de suas
principais tentativas é fornecer elementos conceituais que tratem a consciência como um
objeto de pesquisa da ciência empírica tanto quanto qualquer outro fenômeno biológico.
Dentro dessa visão, Searle aproxima a consciência da ciência e afasta os conceitos de
que a consciência seja algo etéreo, misterioso e/ou metafísico. Para Searle (2000:46) apud
Canal e Moraes (2010) não existe a possibilidade de uma realidade mental em um mundo
inteiramente constituído de partículas físicas.
Para os filósofos analíticos como Searle os problemas metafísicos são na verdade
problemas de má compreensão da linguagem.
Searle se posiciona de forma crítica ao Behaviorismo e ao Funcionalismo de que a
mente está para o cérebro assim como software está para o hardware.
Em relação aos conceitos de Inteligência Artificial Fraca e Forte, são definidos
respectivamente da seguinte forma: (a) A IA Fraca se restringe a tese que os computadores
podem nos ajudar no entendimento do ser humano ao emular a nossa cognição, porém,
estaríamos diante de uma representação algorítmica bastante útil, mas que seria tão somente
uma simulação. (b) A IA forte aponta que os programas seriam capazes realmente de
reproduzir uma atividade psicológica no sentido de ocorrer uma realização da vida mental.
E aí isso Searle (1980) apud Filho (2021) refuta:

“Distingo entre inteligência artificial forte e no sentido fraco. De acordo com a IA


no sentido forte, computadores adequadamente programados literalmente tem
estados cognitivos, e, assim sendo, programas são teorias psicológicas […]”

“Argumento que a IA no sentindo forte deve ser falsa, uma vez que um agente
humano poderia instanciar um programa e, mesmo assim, não ter estados mentais.
Examinarei esta afirmação e explorarei algumas consequências do fato de que o
cérebro de seres humanos e de animais são a base causal da existência de fenômenos
mentais.”
Pautados nessas informações, se Searle fosse relacionado ao filme Matrix, seria a
pílula azul, pois ancora sua teoria no fenômeno biológico e da linguagem.

2.3 UMA VISÃO PRAGMÁTICA DA CONSCIÊNCIA

Segundo Bouyer (2010):


O pragmatismo adota uma atitude antidualista e anti-idealista ao conferir primazia à
experiência e à ação sobre o ser e o pensamento. Nas ciências da cognição
contemporâneas, destacam-se as ideias do pragmatismo em teorias e artefatos que
priorizam a ação e a experiência no mundo do cotidiano (p.ex. inteligência artificial,
neurociência, psicologia cognitiva).

Para os pragmatistas estamos sempre buscando uma base sólida e estável para o Self,
mundo, mente e a verdade. O Self puro e transcendental tal qual a visão kantiana não tem
lugar no Pragmatismo, sendo este um agregado que inclui formas físicas (corpo), sentimentos,
sensações, percepções e impulsos.
Para os Pragmatistas o pensamento se modifica conforme o momento histórico, ele
não é estático. O mundo não é predeterminado e unívoco para todos os seres, ele é fruto da
experiência do ser, resultado do ser no mundo e de seu existir concreto como agente atuante
sobre o real. (Bouyer,2010).
Buscamos um sentido para o self no apego, onde não há self algum. O apego instiga-
nos a proteger um falso self que identificamos com nossa identidade. Medo e raiva surgem
então deste processo, o que nos conduz a acreditarmos que nosso interior os produz, enquanto
na verdade eles emergem de situações especificas em que nos mantemos apegados e sem
consciência da nossa própria experiência. (Bouyer,2010).
Esse conceito nos faz lembrar da passagem de Matrix em que Morpheus diz a Neo:
você deve se esquecer de 3 coisas: temor, dúvida e descrença. Solte sua mente.
O ato de “soltar a mente” reforça a ideia pragmática de que o Self não é algo fixo. O
temor e a dúvida são desencadeados pelo medo que culminam na descrença da experiência.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das considerações realizadas sobre a temática conclui-se que ainda não há um
consenso em relação ao conceito de consciência, ainda que algumas teorias apontem para a
cocriação de realidades distintas a partir da experiência como no pragmatismo e que podemos
perceber o quão é factível se um grupo de indivíduos se une em prol de um objetivo comum e
está sujeito a leis sociais, culturais e/ou religiosas similares. Se adequarmos o conceito em
meio ao senso comum encontraremos as bolhas sociais, que tal qual o mito da caverna pode
aprisionar o sujeito em uma realidade fixa.
Em relação a IA atualmente temos a evolução das realidades virtuais embora hajam
evidências de que estamos vivendo condicionados em uma “Matrix”, hoje esse
condicionamento está mais bem estruturado em âmbito social, cultural e religioso do que
propriamente na evolução da senciência das máquinas. Assim esperamos...

REFERÊNCIAS

Você também pode gostar