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refletido-pela-lente-do-celular

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 278, 14 de Agosto | 2015

Arte | 8º e 9º ano | Sala de aula

Um rio refletido pela


lente do celular
A teoria aliada à tecnologia portátil inicia a moçada na
prática da fotografia
Paula Peres
NOVA ESCOLA
Maggi Krause

NOVA ESCOLA.

Antes de sair pela cidade, o professor conduziu com os alunos uma reflexão
sobre problemas ambientais da cidade de São João da Ponta, como a
extração de caranguejo fora de época, as queimadas para a agricultura e a
presença de lixo no mangue e no rio. O docente passou o vídeo A Carta do
Ano de 2070, sobre um futuro sem sustentabilidade. "É interessante notar
que o educador aborda temáticas transversais do currículo - a ecologia, a
sustentabilidade e a preservação do meio ambiente - e trabalha com a
fotografia", aponta Umbelina Barreto, professora do Instituto de Artes da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Em seguida, Tavares da Silva pediu que a turma pensasse na cidade e


registrasse lugares que gostaria de ver preservados. A garotada foi dividida
em grupos de cinco e saiu a campo. "Curiosamente, sem que eu tivesse
falado nada, todos escolheram retratar o Rio Mocajuba e seu entorno", conta
o educador. Cada estudante deveria fazer pelo menos uma imagem. Quem
não tivesse celular poderia usar o do colega. Adriano Cordovil Duarte, 15
anos, fotografou um ninho de pássaros na beira da água. "O rio é um local
que gostaria de ver preservado e achei que a imagem mostrava essa vida.
Os segredos escondidos na paisagem foram o foco do registro que fernando
produziu
Crédito: Janduari Simões e Arquivo pessoal/José Luiz Tavares da Silva

Prática e análise da produção


Diferentes olhares surgiram: alguns registraram a relação da comunidade
com o local, outros regiões com poluição ou a natureza ao redor. O professor
acompanhou algumas saídas a campo. "Percebi que, quando estavam
sozinhos, os grupos ficavam presos em registrar o momento. Ao acompanhá-
los, houve mais intervenções e uma preocupação maior com a produção",
lembra. De acordo com Souza e Silva, o professor deve tomar cuidado para
não impor padrões. "Os estudantes precisam ser livres para experimentar e a
presença do docente é interessante para expandir as possibilidades, mas não
pode delimitá-las", defende ele.

Depois de receber as fotografias dos alunos, Tavares da Silva usou o próprio


notebook, levado à sala de aula, para mostrar à turma o que foi produzido. O
professor provocava o debate com perguntas: "Qual foi sua intenção com
esse registro? Que mensagem você gostaria de passar?". Em grupo, os alunos
observarm se, de fato, os objetivos do autor foram alcançados e
compartilharam o que sentiram. Alex Nascimento Almeida, 16 anos, conta
que registrou crianças pulando no rio. "A luz estava boa, a posição das
pessoas também e peguei o salto no ar. A foto ficou espontânea, pois elas
estavam se divertindo e isso é transmitido pelo movimento." O colega
Fernando Rodrigues Silva, 15 anos, teve o cuidado de preparar uma cena com
personagens. "Quis mostrar com a foto que há na paisagem coisas que a
gente não vê."

Estudantes e professor analisaram enquadramento, intensidade da luz e


foco. "Pedi que apontassem o foco da imagem e o que ele representava para
o conjunto. Conversamos sobre fotografias em que o branco estava
'estourado' - termo utilizado para dizer que uma área clara emite tanta luz
que atrapalha a visão de outras formas - e nos questionamos como aqueles
registros poderiam ser melhorados", explica.

O processo de sair a campo para fazer os registros, voltar para a sala de aula
e debater sobre o que foi produzido levou cerca de 15 dias. Nesse período, os
jovens tiveram a oportunidade de refazer os registros, caso quisessem. Para
finalizar o trabalho, Tavares da Silva organizou uma mostra. Cada grupo foi
convidado a escolher apenas uma foto, o que levou a sala a uma discussão
para chegar a um consenso. "A escolha de uma imagem tem sempre uma
relação subjetiva. É importante definir os parâmetros de classificação para
essa tomada de decisão. Isso pode ser trabalhado com o próprio grupo", diz
Umbelina.

Entusiasmado com os resultados do trabalho, o professor resolveu continuar


explorando as possibilidades das câmeras de celulares da turma,
estimulando a produção de curtas-metragens. Já que a fotografia é a base do
cinema, não foi difícil ampliar as informações sobre enquadramento e
luminosidade e aplicá-las às imagens em movimento. Dessa vez, os grupos
foram em busca de lendas típicas contadas pelos mais velhos da comunidade,
depois escreveram roteiros e saíram a campo para gravar, utilizando com
propriedade e desenvoltura os recursos do celular.
O ninho de pássaros chamou a atençao de Adriano, que retratou a riqueza do
ambiente

Crédito: Janduari Simões e Arquivo pessoal/José Luiz Tavares da Silva

Resumo

1 Conhecer a fotografia Converse com a turma sobre as diferentes funções


desse tipo de registro e os aspectos técnicos que envolvem a produção de
fotos. Fale também sobre as câmeras, enfatizando o uso de celulares.

2 Refletir sobre problemas Proponha uma discussão sobre temas


relevantes à cidade em que vivem e o papel da fotografia no registro dessas
questões.

3 Sair a campo e produzir Divida a turma em grupos e convide todos a


retratar com o celular lugares que gostariam de ver preservados. Acompanhe
os alunos nessa tarefa.

4 Analisar as fotografias Peça que os grupos apresentem seus registros e


avalie com a moçada a intenção de cada foto, as questões técnicas e a
mensagem que ela passa. Se quiser, organize uma mostra.

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