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MATERIAL

OFICIAL DE
ESTUDO PARA
O EXAME CFP®
NO BRASIL

Planejamento
Sucessório

Volume VI

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 1

Material oficial de
estudo para o exame
CFP® no Brasil:
planejamento sucessório

Volume VI

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2 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 3

Material oficial de estudo para o exame CFP® no Brasil:


planejamento sucessório

Volume VI

É fundamental que o Planejador Financeiro conheça e saiba analisar os impactos


jurídicos das alternativas de planejamento sucessório, fundamentando as
decisões que devem ser tomadas pelos clientes para preparar seus sucessores e a
transmissão de seus bens após sua morte.
O Planejador Financeiro deverá demonstrar a habilidade de avaliar e
calcular o custo tributário, indicar as implicações sucessórias e de direito
de família gerais, bem como os aspectos societários e regulatórios
envolvidos no planejamento.
Como os aspectos jurídicos permeiam praticamente todas as decisões
de investimento e de planejamento sucessório, é essencial avaliar a
capacidade do candidato de identificar e relacionar estas questões de
forma a buscar o máximo de eficiência e segurança jurídica.
Os componentes do planejamento sucessório também são abordados,
destacando-se os aspectos tributários, de direito de família e negociações, e de
planejamento sucessório de bens móveis e imóveis.

Autores
PLANEJAR - Associação Brasileira de Planejadores Financeiros
PRACTA - Treinamento e Educação Financeira

Sirius - Comunicação

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4 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Planejamento sucessório é o
Volume VI da coleção Material oficial
de estudo para o exame CFP® no Brasil,
composta por um total de seis volumes,
de autoria da PLANEJAR - Associação
Brasileira de Planejadores Financeiros e da
PRACTA - Treinamento e Educação Financeira.

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta obra,
no todo ou em parte, constitui violação de
direitos autorais (Lei 9.610/98)

Material oficial de estudo para


o exame CFP® no Brasil:
planejamento sucessório
possui o nº de registro
ISBN 336281
1ª edição: 2019

Projeto gráfico e capa: Sirius Comunicação


Imagem da capa: Istockphotos
Tipologia: Garamond e Frutiger
Papel miolo: Couche fosco 115gr
Papel capa: Triplex 250gr
Impressão: Vox Gráfica

Sirius Comunicação
Rua Bela Cintra, 200, cj 42
CEP 01415-000
São Paulo - SP
Brasil
Tel 011-3217.2727

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 5

Introdução
A CERTIFICAÇÃO CFP®
A Certificação CFP® (Certified Financial Planner) é uma certificação internacional de distinção
que qualifica o profissional para o exercício da atividade de planejador financeiro pessoal. No
Brasil, a entidade certificadora é a Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros,
afiliada ao FPSB Financial Planning Standards Board, entidade responsável pelo gerenciamento,
desenvolvimento e promoção da marca CFP® no mundo.
A Certificação CFP® no Brasil segue os padrões mundiais definidos pelo FPSB que visam
garantir ao público, acesso aos serviços de um profissional competente, ético e que possui
comprovada experiência prática na prestação de serviços de planejamento financeiro pessoal.

O PLANEJADOR FINANCEIRO CFP®


O planejamento financeiro pessoal completo abrange objetivos em diversas áreas, tendo
início em uma avaliação da situação atual do cliente e dos desafios para alcançar os objetivos
traçados. A orientação passa pela avaliação das despesas e receitas, do patrimônio (ativos e
passivos), do planejamento para a longevidade e aposentadoria, dos riscos pessoais e seguros,
pela melhoria na gestão tributária e de um plano para sucessão patrimonial, caso desejável.
O Planejador Financeiro avalia os objetivos, expectativas e necessidades de cada cliente
visando desenvolver, apresentar e executar estratégias de planejamento financeiro adequadas
ao perfil e necessidades do cliente.
O Planejador Financeiro deverá tratar das alternativas mais adequadas de investimentos
para alcançar os objetivos traçados, respeitando a legislação vigente para o exercício de
atividade regulada.
Para se tornar um planejador financeiro certificado, além de ser aprovado em exame
que testa seu conhecimento, o candidato deve comprovar experiência mínima de 1 ano, se
supervisionada, ou de 3 anos, se não supervisionada, no relacionamento direto com clientes
pessoas físicas. Deverá comprovar, também, formação acadêmica, e compromisso com a ética,
aderindo ao Código de Conduta Ética e Responsabilidade Profissional da PLANEJAR, adesão
que sujeita o profissional certificado aos princípios e regras ali previstos, o que dá proteção
adicional aos clientes, fortalecendo o valor da certificação para os profissionais certificados e o
reconhecimento da mesma junto aos principais reguladores brasileiros.

O MATERIAL DE ESTUDO
O Material de Estudos para o exame da Certificação CFP® é uma coleção de seis volumes
estruturado de acordo com o Programa Detalhado e desenvolvido conforme as Orientações de
Estudo, em parceria celebrada entre a Planejar e a Practa Treinamento e Educação Financeira.
• Volume I - Planejamento Financeiro
• Volume II - Gestão de Ativos e Investimentos
• Volume III - Planejamento da Aposentadoria
• Volume IV - Gestão de Riscos e Seguros

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6 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

• Volume V - Planejamento Fiscal


• Volume VI - Planejamento Sucessório

Nosso objetivo, com essa iniciativa, é permitir, a todos os candidatos, acesso a um conteúdo
padronizado e qualificado, além de economicamente viável. A PLANEJAR espera que os
profissionais se beneficiem desse recurso didático, colaborando para a conquista da aspirada
Certificação CFP®.
Estamos certos de que os profissionais que já atuam ou pretendem atuar como planejadores
financeiros encontrarão nesta obra conteúdo para apoiá-los na profissão.

AGRADECIMENTO AOS CONTEUDISTAS E REVISORES


O desenvolvimento dos seis volumes desta coleção contou com a colaboração de diversos
profissionais.

PLANEJAR PRACTA
Bruno Rodrigues Correa, CFP® Eliane Habib Tiburski, CFP®
Bruno Ferreira Souza, CFP® Evely Borges da Silveira
Eliane Tanabe, CFP® Gabriel Hernan Facal Villarreal
Fabiano Calil, CFP® Rosario G. V. Pujado, CFP®
Luciana Pantaroto, CFP®
Martin Casals Iglesias, CFP®
Marcia Belluzo Dessen, CFP®
Renato Roizenblit, CFP®
Ricardo Aguida Geraldes, CFP®
Sinara Polycarpo, CFP®

INFORMAMOS QUE AS QUESTÕES APRESENTADAS NESSE MATERIAL NÃO FAZEM PARTE DO EXAME DE CERTIFICAÇÃO
APLICADO PELA PLANEJAR, DEVENDO SERVIR APENAS COMO ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DOS CANDIDATOS.
EM HIPÓTESE ALGUMA A SUA UTILIZAÇÃO É GARANTIA DE APROVAÇÃO NO EXAME, UMA VEZ QUE APENAS SERVE
COMO COMPLEMENTO AO ESTUDO, SENDO FACULTADO AO CANDIDATO ANALISAR A VIABILIDADE DE SEU USO,
COMO TAL INFORMADO. AS QUESTÕES APRESENTADAS NESTE MATERIAL FORAM DESENVOLVIDAS PELOS AUTORES
(PRACTA) ESPECIFICAMENTE PARA FINALIDADE DE APOIO. PORTANTO, NÃO É GARANTIDA A APROVAÇÃO OU QUE
AS QUESTÕES SERÃO APRESENTADAS DA MESMA FORMA NO EXAME. A PLANEJAR RESERVA-SE O DIREITO DE
APRESENTAR QUESTÕES NO EXAME DE CERTIFICAÇÃO CFP® DE FORMA DISTINTA

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 7

ÍNDICE

1. PRINCÍPIOS DO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO........................................................................... 11


1.1 O processo do planejamento sucessório........................................................................................................ 11
1.2 Situação financeira projetada no momento da sucessão ............................................................... 11
1.2.1 Liquidez............................................................................................................................................................................... 11
1.2.2 Ativos....................................................................................................................................................................................11
1.2.3 Passivos............................................................................................................................................................................... 12
1.2.4 Implicações fiscais......................................................................................................................................................... 12
1.3 Objetivos do planejamento sucessório........................................................................................................... 12
1.3.1 Definir os beneficiários (observadas as regras do Código Civil)...................................................... 12
1.3.2 Proteção de familiares incapazes........................................................................................................................ 12
1.3.3 Filantropia..........................................................................................................................................................................12
1.3.4 Planejamento fiscal...................................................................................................................................................... 12

2. REQUISITOS LEGAIS....................................................................................................................................................13
2.1 Regimes de casamento.................................................................................................................................................13
2.1.1 Separação total de bens........................................................................................................................................... 14
2.1.1.1 Separação obrigatória de bens.................................................................................................................... 14
2.1.2 Comunhão parcial de bens..................................................................................................................................... 15
2.1.3 Comunhão universal de bens............................................................................................................................... 16
2.1.4 Participação final de aquestos.............................................................................................................................. 16
2.1.5 Pacto antenupcial.........................................................................................................................................................17
2.2 Mudança no regime de casamento....................................................................................................................17
2.3 Reflexos patrimoniais no término da sociedade conjugal.............................................................. 17
2.4 União estável.........................................................................................................................................................................18
2.4.1 União estável de fato ou formalizada.............................................................................................................. 19
2.4.2 Regimes de bens na união estável..................................................................................................................... 20
2.4.3 Mudança de regime de bens na união estável........................................................................................... 20
2.4.4 Reflexos patrimoniais no término da união estável................................................................................. 20

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8 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

2.5 Partilha de bens em conformidade com o regime de bens............................................................ 21


2.6 Limites para dispor do patrimônio em vida................................................................................................ 21
2.6.1 Doação universal...........................................................................................................................................................21
2.6.2 Doação acima da legítima....................................................................................................................................... 22
2.6.2.1 Conceito de legítima, disponível e herdeiros necessários........................................................... 22
2.6.2.2 Limitação de doação à parcela disponível............................................................................................ 22
2.6.3 Doação a descendentes ou entre cônjuges.................................................................................................. 23

3. ASPECTOS LEGAIS DA SUCESSÃO.............................................................................................................. 24


3.1 Abertura da sucessão.....................................................................................................................................................24
3.2 Divisão da herança e os regimes de bens..................................................................................................... 24
3.2.1 Meação versus herança............................................................................................................................................. 24
3.3 Ordem para suceder: cônjuge; descendentes; ascendentes; colaterais............................... 25
3.3.1 Descendentes + Cônjuge......................................................................................................................................... 25
3.3.1.1 Descendentes sem existência de cônjuge............................................................................................ 26
3.3.1.2 Descendentes com existência de cônjuge............................................................................................ 27
3.3.1.2.1 Hipótese: o cônjuge não concorre com os descendentes................................................. 27
3.3.1.2.2 Hipótese: o cônjuge concorre com os descendentes........................................................... 28
3.3.1.3 Direito de Representação................................................................................................................................ 31
3.3.2 Ascendentes + Cônjuge........................................................................................................................................... 33
3.3.2.1 Ascendentes sem existência de cônjuge............................................................................................... 33
3.3.2.2 Ascendentes com existência de cônjuge............................................................................................... 35
3.3.3 Cônjuge..............................................................................................................................................................................37
3.3.4 Colaterais até quarto grau...................................................................................................................................... 38
3.3.4.1 Colaterais: irmãos bilaterais e unilaterais.............................................................................................. 38
3.3.4.1.1 Direito de representação de filhos de irmãos............................................................................ 40
3.3.4.2 Colaterais: sobrinhos bilaterais e unilaterais....................................................................................... 40
3.3.4.3 Demais colaterais................................................................................................................................................. 42
3.3.4.4 Herança jacente e herança vacante.......................................................................................................... 42
3.4 Equiparação do companheiro ao cônjuge para fins sucessórios............................................... 42
3.5. Aceitação e renúncia da herança........................................................................................................................43
3.6. Excluídos da sucessão...................................................................................................................................................44
3.7 Dívidas e contingências tributárias na sucessão..................................................................................... 44
3.8 Inventário e partilha....................................................................................................................................................... 45

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 9

3.8.1 Inventário extrajudicial............................................................................................................................................... 45


3.8.2 Inventário judicial..........................................................................................................................................................45

4. INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO.............................................................. 47


4.1 Doação........................................................................................................................................................................................47
4.1.1 Conceito.............................................................................................................................................................................47
4.1.2 Forma................................................................................................................................................................................... 47
4.1.3 Doação com encargo, termo e condição....................................................................................................... 47
4.1.4 Cláusulas restritivas......................................................................................................................................................48
4.1.5 Colação da doação......................................................................................................................................................49
4.1.6 Compra e venda entre ascendentes e descendentes............................................................................. 50
4.1.7 Reversão e revogação................................................................................................................................................ 50
4.1.8 Usufruto..............................................................................................................................................................................50
4.1.9 Interesses de credores na doação....................................................................................................................... 51
4.2 Testamento.............................................................................................................................................................................. 51
4.2.1 Conceito.............................................................................................................................................................................51
4.2.2 Capacidade do testador........................................................................................................................................... 51
4.2.3 Formas................................................................................................................................................................................. 52
4.2.4 Testamenteiro..................................................................................................................................................................52
4.2.5 Herdeiro menor.............................................................................................................................................................. 53
4.2.6 Cláusulas restritivas......................................................................................................................................................53
4.3 Seguro de Vida....................................................................................................................................................................54
4.4 Planos de previdência.................................................................................................................................................... 54

5. ESTRUTURAS DE PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO....................................................................... 56


5.1 Holding.......................................................................................................................................................................................56
5.1.1 Holding de participações.......................................................................................................................................... 56
5.1.2 Holding imobiliária....................................................................................................................................................... 56
5.1.3 Holding patrimonial..................................................................................................................................................... 57
5.2 Fundos de Investimento..............................................................................................................................................57
5.2.1 Regras gerais e especiais.......................................................................................................................................... 57
5.2.2 Fundos fechados........................................................................................................................................................... 57
5.3 Exterior....................................................................................................................................................................................... 58
5.3.1 Bens e direitos no exterior....................................................................................................................................... 58

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10 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

5.3.2 Trust....................................................................................................................................................................................... 59
5.3.3 Fundações..........................................................................................................................................................................60

6. ASPECTOS TRIBUTÁRIOS.......................................................................................................................................61
6.1 ITCMD - Imposto de Transmissão Causa Mortis ou Doação........................................................... 62
6.1.1 Competência................................................................................................................................................................... 62
6.1.2 Fato gerador.....................................................................................................................................................................62
6.1.3 Base de cálculo...............................................................................................................................................................63
6.1.4 Alíquota..............................................................................................................................................................................63
6.1.5 Contribuinte.....................................................................................................................................................................63
6.1.6 Momento de pagar..................................................................................................................................................... 63
6.1.7 Isenções...............................................................................................................................................................................63
6.2 ITBI - Imposto sobre Transmissão inter vivos de Bens Imóveis................................................... 63
6.2.1 Competência................................................................................................................................................................... 63
6.2.2 Fato gerador.....................................................................................................................................................................63
6.2.3 Base de cálculo...............................................................................................................................................................63
6.2.4 Alíquota..............................................................................................................................................................................63
6.2.5 Contribuinte.....................................................................................................................................................................63
6.2.6 Momento de pagar..................................................................................................................................................... 64
6.2.7 Isenções...............................................................................................................................................................................64
6.3 IR - Imposto de Renda....................................................................................................................................................64
6.3.1 Competência................................................................................................................................................................... 64
6.3.2 Fato gerador.....................................................................................................................................................................64
6.3.3 Base de cálculo...............................................................................................................................................................64
6.3.4 Alíquota..............................................................................................................................................................................64
6.3.5 Contribuinte.....................................................................................................................................................................65
6.3.6 Momento de pagar..................................................................................................................................................... 65
6.3.7 Isenções...............................................................................................................................................................................65

RESUMO..........................................................................................................................................................................................70

GLOSSÁRIO..................................................................................................................................................................................82

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 11

1. PRINCÍPIOS DO
PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Para refletir
Marcio, profissional liberal, 61 anos, faleceu hoje, vítima de acidente de trânsito. Deixa esposa
e 2 filhos. O filho mais novo, Caio, de 23 anos, é portador de doença degenerativa grave. O
mais velho, Samuel, de 28 anos, acabou de concluir seu MBA no exterior e ainda não gera
renda suficiente para se sustentar. A esposa, Marisa, dedica 100% do seu tempo a cuidar do
filho doente.
Marcio construiu um patrimônio relevante em imóveis (residência, casa de praia e sítio,
avaliados em R$ 10 milhões) e investimentos financeiros (fundos de investimento e títulos
públicos, no total de R$ 8 milhões). Saudável e ativo, sempre imaginou que iria viver mais de
100 anos. Talvez por isso nunca tenha planejado sua sucessão.

O caso acima não é incomum. Márcio se preocupou a vida inteira em construir um patrimônio,
entretanto não planejou a eventualidade da sua falta. Além da dor da perda, a família terá desafios
importantes nos primeiros meses, desafios estes que um adequado planejamento teria amenizado.

1.1. O processo de planejamento sucessório


O planejamento sucessório envolve um conjunto de instrumentos que visa facilitar a sucessão
do património da pessoa aos seus sucessores, e no caso de empresas familiares, viabilizar a con-
tinuidade do negócio. A necessidade de planejamento será tanto maior, quanto mais complexa a
estrutura familiar for.

1.2. Situação financeira projetada no momento da sucessão


Na elaboração do plano sucessório é preciso fazer projeções realistas das necessidades da famí-
lia em caso da falta do provedor.

1.2.1. Liquidez
A liquidez é a necessidade mais imediata da família. No caso citado no início, o provedor não
deixou nenhuma reserva de liquidez, todo o patrimônio entra em inventário. Um produto de pre-
vidência poderia ter dado a liquidez de que a família precisa no primeiro momento.

1.2.2. Ativos
É preciso levar em consideração o que são ativos de uso (por exemplo, a residência da família)
e os ativos de não uso (por exemplo, investimentos ou imóveis alugados). O planejador financeiro

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12 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

deverá avaliar o valor de mercado dos ativos e o impacto tributário na sucessão, eventualmente
propondo alternativas que facilitem o processo sucessório.

1.2.3. Passivos
Na elaboração do plano sucessório devem ser avaliados os passivos existentes e as despesas
correntes, propondo eventuais ajustes visando à preservação do patrimônio no momento da
sucessão.

1.2.4. Implicações fiscais


O momento da sucessão possui implicações fiscais próprias com relação à carga tributária
incidente sobre a transmissão de bens e direitos do falecido em favor de seus herdeiros. O cor-
reto planejamento sucessório deve contemplar as implicações fiscais da sucessão e, sempre que
possível, utilizar-se de formas lícitas de economia tributária através do claro conhecimento da
legislação fiscal e da forma de incidência dos tributos relativos à sucessão, a saber o Imposto sobre
a Transmissão Causa Mortis e Doações – ITCMD e o Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas
– IRPF, o qual pode incidir sobre a sucessão em determinados casos e de acordo com a forma
pela qual a sucessão for formalizada.

1.3. Objetivos do planejamento sucessório


1.3.1. Definir os beneficiários (observadas as regras do Código Civil)
Na elaboração do plano sucessório, o planejador financeiro deverá propor a partilha dos bens
junto aos herdeiros necessários e eventuais beneficiários, respeitando as regras jurídicas vigentes
na legislação brasileira, e atendendo a vontade expressa de seu cliente. Abordaremos este tema
nos itens 2 e 3 deste Módulo.

1.3.2. Proteção de familiares incapazes


Voltado ao caso do início, um dos filhos da família é portador de doença degenerativa. O pla-
nejador financeiro deverá desenhar a sucessão, propondo uma dinâmica de proteção a este filho,
visando à sua qualidade de vida, sempre dentro dos limites legais.

1.3.3. Filantropia
Apesar de não ser tão comum quanto nos mercados desenvolvidos, a doação de caráter filan-
trópico precisa ser considerada na elaboração do plano sucessório, respeitando as regras jurídicas
vigentes na legislação brasileira, e atendendo a vontade expressa de seu cliente.

1.3.4. Planejamento fiscal


O planejador financeiro deve propor alternativas de antecipação da sucessão, visando à eco-
nomia fiscal, quando cabível, dentro dos limites legais. No item 4.1 Abordaremos este assunto.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 13

2. REQUISITOS LEGAIS

O planejamento sucessório é uma ferramenta de proteção familiar e patrimonial de suma im-


portância em todos os estágios da vida. É incorreto afirmar que o planejamento sucessório
deve ser tema de preocupação unicamente das pessoas em idade avançada, pois em verdade onde
houver uma família sempre há a necessidade de proteção, independentemente da idade.
É importante ter em mente, portanto, que o planejamento sucessório é composto de uma série
de medidas adotadas ao longo da vida que repercutem na sucessão. Como exemplo principal po-
demos citar a celebração do casamento ou formação da união estável, momentos nos quais surge
uma série de direitos patrimoniais e sucessórios que deverão ser respeitados ao longo da vida e no
momento da sucessão.
É de suma importância, portanto, ter especial atenção na formação e administração do patri-
mônio ao longo da vida para ser possível pensar na sucessão.

2.1. Regimes de casamento


Antes de discutir os regimes de casamento é importante conhecer o conceito de comuni-
cabilidade de bens, pois esta será uma expressão bastante utilizada ao se tratar do assunto. A
comunicabilidade de bens é a forma de se gerar bens comuns, ou seja, patrimônio de ambos os
cônjuges, independentemente de qual deles tenha adquirido o bem. Os bens comunicáveis são
aqueles que formam propriedade conjunta. Os bens incomunicáveis são aqueles que não formam
propriedade conjunta, permanecendo sempre na esfera patrimonial particular do cônjuge que o
tenha adquirido.
A consequência da comunicabilidade de bens é o surgimento da comunhão. A comunhão é o
conjunto de bens e direitos, bem como de dívidas e obrigações, que são de propriedade conjunta
de ambos os cônjuges em igualdade de proporções.

Comunhão de bens
A propriedade comum (comunhão) é sempre na mesma proporção entre os cônjuges, ou seja,
meio a meio. Em situações de formação de comunhão não importa de qual dos cônjuges
veio o aporte financeiro para a aquisição do bem. Mesmo que um dos cônjuges realize 100%
do pagamento e registre o bem em seu nome, juridicamente este bem será de propriedade
conjunta em igualdade de proporções.

Nesse cenário surgem os regimes de bens para disciplinar de que maneira os cônjuges poderão
ou não gerar propriedade comum (comunhão).
O Código Civil Brasileiro prevê 4 regimes de bens, quais sejam:

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14 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

2.1.1. Separação total de bens


Regime pelo qual os bens permanecem sob a administração de quem adquiriu ou recebeu e,
portanto, não se comunicam. Cada cônjuge tem direito apenas ao seu patrimônio pessoal, não se
formando propriedade conjunta (comunhão).
Este regime de bens pode ser livremente estipulado antes do casamento através da lavratura de
pacto antenupcial ou, ainda, pode ser obrigatório por lei em determinadas situações. Quando a
separação total de bens se dá por opção dos cônjuges denomina-se separação convencional de
bens, ou seja, a escolha pela separação de bens por convenção (acordo). Já no caso de imposição
legal a denominação será separação obrigatória de bens, a qual ocorre de acordo com determi-
nadas hipóteses previstas no Código Civil.

2.1.1.1. Separação obrigatória de bens


A separação obrigatória de bens ocorrerá no casamento que envolver pessoa maior de 70 anos,
pois a lei assim o prevê. Importante destacar não é necessário que ambos os cônjuges sejam
maiores de 70 anos, bastando que apenas um deles esteja acima desta idade para surgir a obriga-
toriedade legal.

Separação de bens
A separação obrigatória de bens constará do ato de casamento e será fixada independentemente
da vontade dos cônjuges.

Outros casos de separação obrigatória podem ser temporários em virtude de sua causa ser
igualmente temporária. Desaparecendo a causa, podem os cônjuges requerer o cancelamento da
separação obrigatória e optar livremente por algum regime de bens.

Separação temporária de bens


As situações nas quais a lei prevê a separação obrigatória, porém temporária, são as
seguintes:
a) para o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário
dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
b) para a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez
meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal;
c) para o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens
do casal;
d) para o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou
sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela,
e não estiverem saldadas as respectivas contas.

Separação total de bens

Cônjuge A Cônjuge B
Patrimônio A Patrimônio B

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 15

2.1.2. Comunhão parcial de bens


Regime pelo qual apenas os bens adquiridos onerosamente após o casamento se comunicam.
Por aquisição onerosa entende-se a aquisição que não tenha ocorrido de forma gratuita, ou seja,
a aquisição que tenha ocorrido mediante pagamento, permuta ou oferecimento de alguma con-
trapartida.

Doação, herança ou legado


Os bens recebidos a título de doação, herança ou legado (via testamento) são considerados
recebidos de forma gratuita e, portanto, não geram comunhão, mantendo-se como de
propriedade exclusiva do cônjuge que os recebeu.

Como o regime da Comunhão Parcial de Bens somente incide sobre os bens adquiridos na
constância do casamento, os bens adquiridos antes do casamento continuarão pertencendo exclu-
sivamente ao cônjuge que os tenha adquirido.

SUB-ROGAÇÃO: a lei também permite que sejam mantidos como propriedade exclusiva os
valores relativos à venda dos bens particulares e, ainda, os novos bens que venham a ser adqui-
ridos com tais valores. Porém para isto é necessário, por medida de cautela, manter um controle
isolado destes valores e bens para que seja possível a conferência de seu lastro original, ou seja,
os bens particulares. Caso não seja possível confirmar o lastro, os bens se presumirão comuns.
Uma das cautelas comuns na aquisição de bens, especialmente imóveis, é fazer constar na escritura
pública de aquisição de que a compra é feita com valores particulares ou com o produto da venda
de bens particulares.
É importante indicar que o Código Civil prevê a comunicabilidade dos frutos percebidos dos
bens particulares durante o casamento. Em outras palavras, serão de propriedade conjunta os
frutos dos bens particulares que surjam na constância do casamento. Por frutos entendem-se os
rendimentos do bem.

Exemplo
Daniel, casado com Cláudia, possui um imóvel adquirido antes do casamento. O bem será
particular dele, não ensejando propriedade comum (comunhão). Porém, em caso de locação
deste bem imóvel, o aluguel do bem (fruto) será de propriedade conjunta.

A opção pelo regime da comunhão parcial de bens não requer a lavratura de pacto an-
tenupcial, sendo o regime padrão de casamento. Em outras palavras, caso os cônjuges não
optem por outro regime de bens, a comunhão parcial de bens será automaticamente aplicada
ao casamento.

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16 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Comunhão parcial de bens


Patrimônio em comum (adquirido onerosamente
durante o casamento)

Cônjuge A Cônjuge A
Cônjuge A Cônjuge A
Bens particulares Bens particulares
50% 50%
Doações Doações
(meação) (meação)
Herança Herança

Cônjuge A - total do patrimônio Cônjuge B - total do patrimônio

2.1.3. Comunhão universal de bens


Regime pelo qual são de propriedade conjunta comum todos os bens, anteriores e posteriores
ao casamento, assim como as dívidas posteriores ao casamento e as anteriores a ele que tenham se
revertido em proveito comum. Justamente por isto a expressão é a comunhão universal, ou seja,
a formação de patrimônio comum de forma universal.

Exceção
excetuam-se da propriedade conjunta unicamente os bens recebidos por doação ou por
legado (via testamento) com imposição de cláusula de incomunicabilidade. A cláusula de
incomunicabilidade é uma imposição do doador ou do testador determinando que os bens
transmitidos não possam formar propriedade conjunta (comunhão) com o cônjuge do
destinatário dos bens. Esta é a única exceção possível à propriedade conjunta no regime da
Comunhão Universal de Bens.

A opção pelo regime da comunhão universal de bens deve obrigatoriamente ser formalizada
por pacto antenupcial.

Comunhão universal de bens

Cônjuge A Cônjuge A
50% (meação) 50% (meação)

2.1.4. Participação final nos aquestos


Regime pelo qual cada cônjuge possui, na constância do casamento, patrimônio próprio como
se fosse casado pelo regime da separação total de bens. A peculiaridade deste regime reside, no

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 17

entanto, na forma pela qual ocorre a dissolução do matrimônio pois, por ocasião da dissolução,
todos os bens adquiridos a título oneroso na constância do casamento serão divididos por igual
entre os cônjuges, como aconteceria no regime da comunhão parcial de bens.
Em outras palavras, podemos definir a participação final dos aquestos como ‘um casamento regi-
do pela regra da separação total de bens, porém dissolvido pela regra da comunhão parcial de bens’.
Em que pese se tratar de um regime pouco usual, sua característica própria pode ser de espe-
cial utilidade para casais que na constância do casamento necessitem ter maior independência e
autonomia com relação a seu patrimônio, porém não pretendam ficar desamparados em caso de
dissolução do matrimônio.
A opção pelo regime da participação final nos aquestos deve obrigatoriamente ser formalizada
por pacto antenupcial. A opção por este regime de bens é extremamente rara.

2.1.5. Pacto antenupcial


É importante destacar que a escolha por um regime de bens diferente da comunhão parcial de
bens depende obrigatoriamente da lavratura de escritura pública de pacto antenupcial. Não se ad-
mite nenhum tipo de pacto antenupcial por instrumento particular, sendo obrigatória a utilização
da escritura pública bem como o registro da escritura perante o Cartório de Registro de Imóveis
do domicílio dos cônjuges.

Vigência do pacto antenupcial


Caso após o pacto antenupcial não sobrevenha o casamento, por qualquer motivo que seja, o
pacto antenupcial perderá sua eficácia, pois a condição de ocorrência do casamento é essencial
para a validação do pacto.

2.2. Mudança no regime de casamento


O Código Civil de 2002 instituiu a possibilidade de alteração do regime de bens durante a vigência
do casamento, desde que mediante decisão judicial e justificativa dos motivos pelos quais a alteração
é necessária, sempre se preservando eventuais direitos de terceiros existentes à época da alteração.

Para refletir
O trâmite judicial para alteração de regime de bens deve incluir a apresentação de certidões
relativas a eventuais dívidas existentes em nome dos cônjuges, justamente para fins de
preservar os credores com relação à responsabilidade patrimonial do casal.

2.3. Reflexos patrimoniais no término da sociedade conjugal


O casamento se encerra pela morte de um dos cônjuges ou se dissolve através do divórcio. Em
qualquer das hipóteses será necessária a partilha dos bens do casal de maneira a realizar a correta
divisão dos bens que compuseram a comunhão bem como o reconhecimento dos bens particu-
lares de cada um dos envolvidos.
Em caso de dissolução do casamento (divórcio) caberá aos cônjuges realizarem a partilha de
forma a individualizarem seu patrimônio, o qual corresponderá à somatória dos bens particulares,
acrescida da metade dos bens comuns, a chamada meação.

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18 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Para lembrar
É importante ter clareza com relação aos conceitos envolvidos. Comunhão é a totalidade dos
bens comuns, ou seja, aqueles bens que por força do regime de bens se tornam propriedade
conjunta. A meação, por sua vez, é o direito que cada cônjuge tem à metade dos bens que
compõem a comunhão. Logo, a meação corresponde a 50% da comunhão.

Em caso de encerramento do casamento (morte do cônjuge) deverá ser instaurado o inventário


dos bens deixados pelo falecido. O inventário deverá inicialmente determinar qual a meação de
direito do cônjuge sobrevivente, individualizando o patrimônio individual de cada cônjuge e dire-
cionando o patrimônio particular do falecido para seus herdeiros.

Meação e herança
É de suma importância não confundir meação com herança. A meação é um direito matrimonial.
A herança é um direito sucessório. Assim sendo, mesmo no caso de morte de um dos cônjuges,
os bens outorgados ao sobrevivente a título de meação não possuem natureza sucessória,
tratando-se unicamente da distribuição de bens do casal em virtude do encerramento do
casamento pela morte de um dos cônjuges.

2.4. União estável


A União Estável é a convivência pública, contínua e duradoura, com o objetivo de constituir
família. Às pessoas que convivem em união estável é dado o nome de companheiros, reservando-
-se a denominação de cônjuges unicamente para as pessoas casadas
Passamos, a seguir, a fracionar o conceito de união estável de forma a permitir uma melhor
compreensão deste.

Convivência Pública: para a caracterização da união estável é necessário que os companheiros


possuam uma convivência pública, ou seja, que se apresentem à sociedade efetivamente como um
casal. Não se considera união estável o relacionamento que ocorrer de forma oculta e que apenas
envolva uma convivência privada dos envolvidos.

Para refletir
A convivência pública é um dos elementos cuja constatação ocorre com maior facilidade,
pois os casais costumam, dentro da normalidade do relacionamento, apresentar-se
à sociedade como um casal. Isto ocorre desde a simples frequência a eventos sociais e
familiares, chegando a casos de maior relevância, como por exemplo o apadrinhamento
conjunto de outros casais. Obviamente a convivência pública não enseja, sozinha, a união
estável.

Contínua: o Código Civil instituiu a necessidade de que a convivência pública dos compa-
nheiros ocorra de forma contínua. Assim sendo, relacionamentos esporádicos ou que sofram
constantes interrupções não poderão ser considerados união estável.

Duradoura: para a caracterização da união estável é necessário que a convivência pública, além

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 19

de contínua, seja duradoura. Porém, o Código Civil não estipula nenhum prazo específico para
que a convivência seja considerada duradoura, prestigiando-se mais a dinâmica da relação do que
o lapso temporal em si.

Importante
O Código Civil de 2002 optou por não fixar um prazo específico e manter o foco principal
na dinâmica do casal, ou seja, se eles de fato se comportam como uma unidade familiar.
O Código Civil anterior previa a obrigatoriedade de um relacionamento de 24 meses
para a caracterização da união estável, independentemente da forma pela qual o casal se
relacionasse.

Com intuito de constituir família: este é o principal fundamento da união estável, pois
é possível também que outros relacionamentos, tais como o simples namoro, ensejem uma
convivência pública contínua e duradoura. A união estável, porém, requer a caracterização do
intuito de constituir família, o que se entende como o estabelecimento de uma dinâmica de re-
lacionamento assemelhada ao casamento, incluindo deveres de lealdade e fidelidade, bem como
sendo possível constatar a assistência, respeito e consideração mútuos e a vida em comum no
domicílio conjugal.

Para refletir
Sobre a vida em comum no domicílio conjugal é importante destacar que a caracterização da
união estável não depende, obrigatoriamente, da coabitação (residência conjunta), havendo
inúmeros casos de reconhecimento da união estável mesmo o casal não partilhando a mesma
residência. Porém, isto é exceção, pois via de regra as relações evoluem para a construção de
uma moradia conjunta.

Importante
A união estável somente é possível entre pessoas que poderiam efetivamente se casar. Podemos
nos referir à união estável como “a união daqueles que, podendo se casar, convivem como
se casados fossem, mesmo sem ter se casado”. Assim sendo, não há união estável entre uma
pessoa casada e seu amante, por exemplo, pois a pessoa casada está impedida de assumir um
segundo casamento de forma concomitante.

2.4.1. União estável de fato ou formalizada


A união estável ocorre quando constatados os requisitos indicados no item anterior, indepen-
dentemente de sua formalização. Ainda, podem os companheiros optarem por formalizar a rela-
ção através de uma escritura pública de união estável.
Em que pese a união estável não requerer obrigatoriamente a formalização, entende-se que a
união estável não formalizada (união estável de fato) não se mostra vantajosa em termos de plane-
jamento, pois gera um cenário de incerteza com relação a alguns pontos essenciais, principalmente
com relação à data de seu início e ao regime de bens adotado. Isto porque, assim como no casa-
mento, a comunhão parcial de bens é o regime padrão e automático para a união estável, somente
podendo ser substituído por manifestação expressa dos companheiros, o que requer igualmente a
formalização expressa da relação.

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20 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Assim sendo, união estável não formalizada (união estável de fato) sempre será regida pela co-
munhão parcial de bens e, ao não se ter estipulado corretamente a data de início da união estável,
poderá haver grande discussão acerca do lapso temporal pelo qual os companheiros formarão
patrimônio conjunto (comunhão).

Importante
A formalização da união estável por escritura é altamente recomendável para que possam ser
estabelecidas corretamente as regras da relação, especialmente a data de seu início, o que
permitirá fixar uma data exata para o surgimento de eventuais direitos decorrentes da união.
Ainda, no ato de formalização através de escritura, os companheiros poderão estabelecer
livremente o regime de bens a ser adotado para fins de união estável dentro dos regimes já
previstos para o casamento.

2.4.2 Regimes de bens na união estável


Os regimes de bens aplicáveis à união estável são os mesmos aplicáveis ao casamento (itens 2.1.1,
2.1.2, 2.1.3 e 2.1.4) e, assim como no caso do casamento, o regime padrão e automático será o da comu-
nhão parcial de bens, ressalvada apenas a escolha formal de outro regime por parte dos companheiros.
Ainda, vale destacar que se aplicam à união estável as situações de separação obrigatória de bens.

2.4.3. Mudança de regime de bens na união estável


Para o casal que convive em união estável a alteração do regime de bens é um procedimento
mais simples, bastando apenas o comparecimento em cartório para lavratura de uma escritura
pública de alteração de regime de bens.

2.4.4. Reflexos patrimoniais no término da união estável


A exemplo do que ocorre com o casamento, a união estável igualmente se encerra pela morte
de um dos companheiros ou por sua dissolução em vida.
No caso de união estável não existe divórcio, mas sim dissolução de união estável. Em que pese
a nomenclatura diferente, na prática o procedimento é o mesmo, ou seja, fazer a partilha dos bens
do falecido dentro das regras matrimoniais e sucessórias.
Lembramos, ainda, que no caso de união estável não formalizada (união estável de fato) o
companheiro deverá ingressar com ação judicial de reconhecimento e dissolução de união estável.
Esta demanda visa reconhecer a existência pretérita da união estável e promover sua dissolução
mediante partilha dos bens.
Nos casos de dissolução em vida de união estável não formalizada, as partes podem consen-
sualmente reconhecer a existência da união estável ou, caso um dos envolvidos não a reconheça,
será necessária a prova judicial de sua ocorrência. Reconhecida a união estável, far-se-á a partilha.
Não reconhecida a união estável, os bens pertencerão àquele em cujo nome estiverem.
Nos casos de encerramento da união estável não formalizada pela ocorrência da morte de um
dos companheiros, caberá ao companheiro sobrevivente ajuizar a ação de reconhecimento e dis-
solução de união estável. O companheiro sobrevivente poderá encontrar resistência ao reconheci-
mento da união estável por parte dos herdeiros do falecido, os quais poderão impugnar o pedido
e buscar fazer prova contrariamente ao alegado pelo companheiro sobrevivente.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 21

Importante
Reconhecida a união estável, o companheiro sobrevivente passará a ter todos os direitos
matrimoniais e sucessórios. Não reconhecida, os bens do falecido serão distribuídos
exclusivamente entre seus herdeiros, sem inclusão do companheiro sobrevivente.

2.5. Partilha de bens em conformidade com o regime de bens


Seja qual for o caso (união estável ou casamento) ou a forma de término (dissolução, morte ou
divórcio), a partilha de bens será sempre regida pelo regime de bens adotado pelos companheiros
ou cônjuges. Vale lembrar, por oportuno, que o silêncio com relação à escolha de um regime de
bens através de pacto antenupcial (no caso de casamento) ou de escritura pública (no caso de
união estável) implica na adoção da comunhão parcial de bens (item 2.1.2). Há, ainda, os casos de
separação obrigatória nos quais a lei impõe o regime da separação total de bens para a realização
do casamento (item 2.1.1.1).
Vale lembrar que o regime de bens é que define de que forma será construído o patrimônio co-
mum, ou seja, a comunhão. Cada regime de bens tem suas especificidades. Enquanto o regime da
separação total de bens não forma comunhão alguma, o regime da comunhão universal de bens
abrange a totalidade dos bens do casal, com exceção apenas de bens recebidos com cláusula de
incomunicabilidade. Ainda, teremos o regime da comunhão parcial de bens, no qual a comunhão
corresponderá aos bens adquiridos onerosamente durante o casamento, com exceção de doações,
heranças e legados. E, por fim, teremos o regime da participação final dos aquestos, no qual a
formação da comunhão dependerá da efetiva existência de bens construídos mediante esforço
comum, os chamados bens aquestos.
Havendo comunhão, a partilha desta ocorrerá sempre em igualdade de proporções. O direito
de cada cônjuge ou companheiro à metade dos bens que compõem a comunhão é chamado de
meação, conforme já visto no item 2.3.

2.6. Limites para dispor do patrimônio em vida


2.6.1 Doação universal
A disposição de bens em vida é uma prerrogativa de qualquer pessoa. Porém, no que diz res-
peito à doação destes, a legislação prevê algumas limitações cujo conhecimento é importante para
o planejador financeiro.
Primeiramente, destacamos que por lei não é possível a realização da chamada doação univer-
sal, ou seja, a doação de todos os bens que a pessoa possua. O Código Civil prevê que “é nula a
doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador”.
Esta regra visa garantir que o doador mantenha para si ao menos recursos mínimos de subsistên-
cia, não podendo se desfazer de todo seu patrimônio e rendas.
Ainda, como veremos no tópico a seguir, há também restrições à doação em vida de bens
que representem mais da metade do patrimônio quando existirem os chamados herdeiros
necessários.

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22 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

2.6.2. Doação acima da legítima


2.6.2.1. Conceito de legítima, disponível e herdeiros necessários
Os herdeiros necessários são: a) os descendentes vivos (filhos, netos, bisnetos etc.); b) os ascen-
dentes vivos (pais, avôs, bisavôs etc.); c) o cônjuge ou o companheiro.
A legítima (ou parcela legítima) representa um direito dos herdeiros necessários ao recebimento
de, ao menos, metade dos bens. A lei prevê que “pertence aos herdeiros necessários, de pleno
direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima”.
Assim sendo, existindo herdeiros necessários, a totalidade do patrimônio da pessoa viva (100%)
poderá ser dividida em duas parcelas: a) legítima (50%) que corresponde à parcela mínima obri-
gatória de titularidade dos herdeiros; e b) disponível (50%) que corresponde à metade dos bens
com relação aos quais a pessoa viva tem plena liberalidade, seja para doar, seja para direcionar a
terceiros através de testamento.

Patrimônio pessoal 100%


PARCELA LEGÍTIMA 50% PARCELA DISPONÍVEL 50%
- Herança “obrigatória”; - Livre arbítrio do detentor dos bens;
- Herdeiros necessários; - Possibilidade de estabelecer livremente em
- Parcela patrimonial que não pode ser objeto testamento a divisão dos bens;
de testamento; - Possibilidade de inclusão de terceiros
- Parcela patrimonial que não pode ser objeto mediante testamento;
de doação em vida. - Possibilidade de doação em vida.

Caso não haja qualquer estipulação de beneficiar terceiros com relação à parcela disponível,
todos os bens serão distribuídos entre os herdeiros legais, nos termos da lei.
A proteção da parcela legítima dos herdeiros implica também numa restrição à doação de bens
em vida, conforme se verificará no item a seguir.

2.6.2.2. Limitação de doação à parcela disponível


Dada a previsão legal de proteção da legítima dos herdeiros necessários, a legislação prevê uma
limitação com relação à realização de doações que envolvam mais de 50% do patrimônio do do-
ador, sendo considerada nula pelo Código Civil a parte que ultrapassar a metade do patrimônio
do doador no ato da doação. Em outras palavras, o doador poderá estabelecer uma doação sobre
a parcela disponível de seu patrimônio, porém sempre resguardando 50% de seu patrimônio para
fazer frente a parcela legítima à qual os herdeiros necessários têm direito.
Esta limitação é aplicável somente no caso de o doador possuir herdeiros necessários vivos,
ou seja, descendentes vivos (filhos, netos, bisnetos etc.), ascendentes vivos (pais, avós, bisavós
etc.), cônjuge ou companheiro. Na ausência destas pessoas não haverá a restrição de reserva de
50% do patrimônio, porém continuará vigorando a proibição da doação universal prevista no
parágrafo anterior.
Importante destacar que esta restrição é com relação ao patrimônio do doador no ato da
doação. Ou seja, não pode o doador transferir gratuitamente mais da metade de seu patrimô-
nio no ato da doação. Porém, pode o doador fazer doações sucessivas, não incorrendo nesta

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 23

limitação, desde que as doações sucessivas ocorram de forma legítima, e não como forma de
fraudar a limitação ora tratada. Em caso de fraude, as doações sucessivas poderão ser anuladas
pelo Poder Judiciário.

2.6.3. Doação a descendentes ou entre cônjuges


Além das hipóteses já indicadas de doação universal e de proteção da parcela legítima, é im-
portante destacar que eventuais doações feitas em favor de descendentes (filhos, netos, bisnetos
etc.) ou feita entre cônjuges será considerada, por regra, um adiantamento de herança em vida
(antecipação de legítima).

Importante
Para que não seja considerada uma antecipação de herança (antecipação de legítima) o doador
deverá fazer constar expressamente da doação ou do testamento que: a) os bens doados
proveem de sua parcela disponível; e b) que a doação não representa uma antecipação de
legítima.

Mais adiante trataremos deste assunto de forma mais aprofundada (item 4.1.5), inclusive com
análise de seus efeitos para fins de sucessão.

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24 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

3. ASPECTOS LEGAIS
DA SUCESSÃO

3.1. Abertura da sucessão


A abertura da sucessão ocorre no momento do óbito, ocasião na qual o Código Civil enten-
de que se transmitirão aos herdeiros todos os direitos sobre a herança do falecido. A partilha e
transferência dos bens do falecido dependerá, contudo, da realização do procedimento formal de
inventário, de acordo com os conceitos, parâmetros e mecanismos que serão expostos a seguir.

3.2. Divisão da herança e os regimes de bens


3.2.1. Meação versus Herança
O primeiro passo para compreender melhor a forma de apuração e divisão da herança é ter
clara a definição de meação e herança e seus respectivos conceitos (vide item 2.3). Vale lembrar
que a meação é a metade do patrimônio comum (comunhão) à qual o cônjuge ou o companheiro
possui direito em função do matrimônio. Trata-se de um direito puramente matrimonial (e não
sucessório) que será exercido por ocasião do término do casamento ou da união estável. Ocorre,
porém, que o casamento (item 2.3) ou a união estável (item 2.4.4) podem ser encerrados pela
dissolução em vida (divórcio ou dissolução de união estável) ou pela morte de um dos cônjuges
ou companheiros. O recebimento da meação pode ocorrer em virtude de divórcio/dissolução ou
de término da relação em virtude da morte, sendo que o fato da ocorrência da morte não torna a
meação um direito sucessório.

Relembrando conceitos
Comunhão é a totalidade dos bens comuns, ou seja, aqueles bens que por força do regime de
bens se tornam propriedade conjunta. A meação, por sua vez, é o direito que cada cônjuge
tem à metade dos bens que compõem a comunhão. Logo, a meação corresponde a 50% da
comunhão.

Ocorrendo o falecimento de um dos cônjuges ou companheiro, o primeiro passo será promo-


ver a individualização do patrimônio de cada um dos envolvidos, apurando-se o patrimônio par-
ticular (que não compôs a meação) e o patrimônio conjunto (comunhão). Esta apuração ocorrerá
de acordo com o regime de bens utilizado pelo casal (vide itens 2.1.1, 2.1.2, 2.1.3 e 2.1.4), o qual
repercutirá na formação ou não da comunhão e, por conseguinte, a existência ou não de meação
(vide item 2.5).
O patrimônio de cada um corresponderá, portanto, à somatória dos seguintes itens:
a) bens particulares havidos em vida (sobre os quais não se formou comunhão); e

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 25

b) metade dos bens comuns, ou seja, a parcela de 50% (meação) dos bens comuns do casal (co-
munhão).
Esta apuração deverá ocorrer tanto para o sobrevivente quanto para o falecido.
Ao final deste procedimento, os bens que couberem ao falecido (bens particulares mais meação
do falecido) serão destinados à formação da herança e serão distribuídos a seus herdeiros confor-
me as proporções previstas no Código Civil.

3.3. Ordem para suceder: cônjuge; descendentes; ascendentes;


colaterais
Ordem de Vocação Hereditária é o termo técnico para definir a ordem de preferência com
relação à herança deixada pela pessoa falecida. A existência de herdeiros numa categoria mais
próxima exclui o direito de herdeiros de categoria mais distante. Importante destacar que os her-
deiros serão aqueles vivos na data de abertura da sucessão, ou seja, na data do óbito daquele que
deixou a herança.

Direito de herança
Se o herdeiro vier a falecer após a abertura da sucessão (óbito daquele que deixou herança),
então os herdeiros do herdeiro falecido estarão aptos a receber em seu lugar.

A ordem é prevista pelo Código Civil, sendo que na existência de um herdeiro de determinada
categoria, os demais serão excluídos da sucessão, a saber:
1. Descendentes + Cônjuge/Companheiro;
2. Ascendentes + Cônjuge/Companheiro;
3. Cônjuge/Companheiro;
4. Colaterais até quarto grau;
5. Município e União Federal.

Como já visto anteriormente, são considerados herdeiros necessários aqueles indicados nos
itens 1, 2 e 3 acima (item 2.6.2.1), os quais possuem direito ao recebimento de, ao menos, 50% do
patrimônio (parcela legítima).

3.3.1. Descendentes + Cônjuge/Companheiro


Todos os descendentes são considerados herdeiros necessários (filhos, netos, bisnetos
etc.) e, existindo descendentes, toda a herança será distribuída na categoria “descendentes
+ cônjuge/companheiro”, não sendo contemplados de nenhuma forma os ascendentes e os
colaterais.
O Código Civil de 2002 trouxe uma inovação ao permitir que o cônjuge/companheiro sobrevi-
vente concorra à herança junto com os descendentes. O termo ‘concorrer’ significa partilhar junto
com os descendentes a herança do falecido, para o qual a legislação estabelece algumas regras.
A seguir dividiremos a análise em situações de existência de descendentes nas quais não haja
cônjuge e nas quais haja.

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26 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

3.3.1.1. Descendentes sem existência de cônjuge/companheiro


Existindo apenas descendentes sem a existência de cônjuge/companheiro, a herança será divi-
dida entre todos os descendentes do grau mais próximo, em igualdade de proporções. A lei prevê
a igualdade entre todos os descendentes, inclusive entre aqueles de relacionamentos diferentes e
os adotivos.

Exemplo 1
Maria, viúva, faleceu deixando 4 filhos e um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Sua herança,
portanto, será dividida em 4 parcelas iguais entre seus filhos, ou seja, R$ 2.500.000,00 para
cada um.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões

Maria
Filho 1 Filho 2
R$ 2,5 milhões R$ 2,5 milhões

Filho 1 Filho 2 Filho 3 Filho 4 Filho 3 Filho 4


1/4 1/4 1/4 1/4 R$ 2,5 milhões R$ 2,5 milhões

Caso haja algum descendente falecido anteriormente à abertura da sucessão (descendente pre-
morto), e este descendente não tenha deixado outros descendentes capazes de receber a herança
em seu lugar por direito de representação (vide item 3.3.1.3.), a herança será distribuída apenas
entre os descendentes vivos.

Exemplo 2
Maria, viúva, faleceu deixando 3 filhos vivos e 1 filho premorto que não deixou descendentes.
O patrimônio deixado por Maria é de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será dividida
em 3 parcelas iguais entre seus filhos vivos, ou seja, R$ 3.333.333,33 para cada um.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões

Maria Filho 1
R$ 3.333.333,33
Filho 2
R$ 3.333.333,33
Filho 1 Filho 2 Filho 3 Filho 4
1/3 1/3 1/3 (premorto) Filho 3
R$ 3.333.333,33

Importante destacar que caso todos os filhos fossem premortos seria necessário verificar na
sequência a existência de descendentes no próximo grau, ou seja, os netos. E na ausência de netos,
buscar bisnetos e assim por diante até se esgotarem as categorias descendentes. Na ausência de
descendentes, então os herdeiros seguintes seriam os ascendentes, também em concorrência com
o cônjuge.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 27

3.3.1.2. Descendentes com existência de cônjuge/companheiro


Falecendo pessoa casada que deixe descendentes, o cônjuge/companheiro sobrevivente poderá
concorrer à herança desde que respeitadas algumas regras específicas e de acordo com o regime
de bens ao qual o casamento tenha sido submetido.
Vale lembrar que inicialmente o cônjuge/companheiro sobrevivente já receberá sua meação
(item 3.2.1), o que implica dizer que já receberá integralmente aqueles bens que, por força do
matrimônio/união estável, forem propriedade dele. Reitera-se que a meação não é um direito
sucessório, mas sim um direito puramente matrimonial.
O cônjuge/companheiro passará a ter direito sucessório quando a lei lhe permitir receber, além
da meação, parte da herança deixada pelo falecido.

Importante
Ocorrendo o falecimento de um dos cônjuges ou companheiros, o primeiro passo será
promover a individualização do patrimônio de cada um dos envolvidos, apurando-se o
patrimônio particular (que não compôs a meação) e o patrimônio conjunto (comunhão).
Esta apuração ocorrerá de acordo com o regime de bens utilizado pelo casal, o qual
repercutirá na formação ou não da comunhão e, por conseguinte, a existência ou não de
meação.
O patrimônio comum de cada um corresponderá, portanto, à somatória dos seguintes itens:
a) bens particulares havidos em vida (sobre os quais não se formou comunhão); e
b) metade dos bens comuns, ou seja, a parcela de 50% (meação) dos bens comuns do casal
(comunhão).
Esta apuração deverá ocorrer tanto para o sobrevivente quanto para o falecido.
Ao final deste procedimento, os bens que couberem ao falecido (bens particulares mais meação
do falecido) serão destinados à formação da herança e serão distribuídos a seus herdeiros
conforme as proporções previstas no Código Civil.

3.3.1.2.1. Hipóteses nas quais o cônjuge/companheiro não


concorre com os descendentes
O cônjuge/companheiro sobrevivente não poderá concorrer à herança com os descendentes
caso incorra em alguma das limitações abaixo:
i. Se ao tempo da morte estiverem separados judicialmente;
ii. Se ao tempo da morte estiverem separados de fato há mais de dois anos, salvo se tal separação
se deu sem culpa do cônjuge/companheiro sobrevivente;
iii. Casamento/União Estável com comunhão universal de bens;
iv. Casamento/União Estável com separação obrigatória de bens:
v. Casamento/União Estável com comunhão parcial de bens, quando não haja bens particulares
do autor da herança.

Numa análise das situações acima expostas, percebe-se que o primeiro critério para concorrer
à herança é justamente ostentar a condição de casado/convivente, o que não ocorre no caso de
pessoas judicialmente separadas ou separadas de fato há mais de 2 anos (itens i e ii).
Com relação aos demais itens (iii e v), o critério é puramente patrimonial e matemático, pelo

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28 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

qual podemos afirmar, simplificando o conceito, que o cônjuge/companheiro não poderá receber
herança sobre bens dos quais já tenha recebido meação.

Importante
No caso da comunhão universal de bens, o cônjuge/companheiro sobrevivente já terá recebido
meação de todos os bens, motivo pelo qual a lei o excluí da herança.
No caso de comunhão parcial de bens na qual o cônjuge falecido não possua bens particulares, o
cônjuge/companheiro sobrevivente já terá recebido meação de todos os bens existentes. Note-
se que, mesmo em se tratando de comunhão parcial, a inexistência de bens de propriedade
exclusiva do cônjuge/companheiro acaba se equivalendo à comunhão universal, pois todos os
bens que os cônjuges possuem submetem-se à comunhão.

No que diz respeito à separação obrigatória de bens (item iv), a restrição à herança é uma
penalidade imposta pela lei. Veja que estamos a falar da separação obrigatória de bens, ou seja,
a separação legal de bens, imposta por lei em determinadas situações (item 2.1.1.1). No caso da
separação convencional de bens, ou seja, separação total de bens por acordo entre os cônjuges/
companheiros, o cônjuge/companheiro sobrevivente poderá participar da herança em concor-
rência com os descendentes.

3.3.1.2.2. Hipóteses nas quais o cônjuge/companheiro concorre


com os descendentes
Não incorrendo em nenhum dos impedimentos indicados no item anterior, o cônjuge/com-
panheiro sobrevivente poder concorrer à herança juntamente com os descendentes do falecido,
nas seguintes hipóteses:
a) Separação total de bens por pacto antenupcial (separação convencional de bens), hipótese na
qual concorrerá à totalidade dos bens deixados pelo falecido;
b) Comunhão parcial de bens na qual o falecido possua bens particulares (que não se submeteram
à comunhão), situação na qual o cônjuge/companheiro sobrevivente concorrerá apenas e tão
somente com relação a estes bens.

Assim sendo, primeiramente será necessário definir exatamente sobre quais bens o cônjuge/
companheiro sobrevivente concorrerá à herança. Após ser feita esta apuração, o cônjuge/compa-
nheiro concorrerá à herança em igualdade de proporções com o número de descendentes habili-
tados como herdeiros. Há, porém, uma reserva mínima de 25% da herança em favor do cônjuge/
companheiro caso este seja ascendente de todos os descendentes do falecido com os quais con-
correr à herança. Ou seja, o cônjuge/companheiro sobrevivente que for ascendente de todos os
descendentes receberá em igualdade de proporções ou a parcela mínima de 25%, sempre o que
for maior.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 29

Exemplo 1
Maria, casada pelo regime da separação total de bens com João, faleceu deixando 1 filho e um
patrimônio de R$ 10.000.000,00. João é pai do filho de Maria. A herança deixada por Maria,
portanto, será dividida em 2 partes iguais entre João e o filho de Maria, recebendo cada um
R$ 5.000.000,00.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


João
Maria
1/2
João Filho do casal
R$ 5 milhões R$ 5 milhões
Filho do casal (herança) (herança)
1/2

Exemplo 2
Maria, casada pelo regime da separação total de bens com João, faleceu deixando 1 filho e
um patrimônio de R$ 10.000.000,00. João não é pai do filho de Maria. A herança deixada
por Maria, portanto, será dividida em 2 partes iguais entre João e o filho de Maria, recebendo
cada um R$ 5.000.000,00.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


João
Maria
1/2
João Filho de Maria
R$ 5 milhões R$ 5 milhões
Filho de Maria (herança) (herança)
1/2

Exemplo 3
Maria, casada pelo regime da separação total de bens com João, faleceu deixando 4 filhos e
um patrimônio de R$ 10.000.000,00. João é pai dos 4 filhos de Maria. Sua herança, portanto,
será dividida da seguinte forma:
a) 25% em favor do cônjuge sobrevivente – R$ 2.500.000,00;
b) 75% em 4 parcelas iguais entre seus filhos, ou seja, R$ 1.875.000,00 para cada um de
seus filhos.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


João
Maria Filho 1
1/2 João
R$ 2,5 milhões R$ 1.875.000,00
(25%) Filho 2
(herança) R$ 1.875.000,00
Filho 1 Filho 2 Filho 3 Filho 4 Filho 4 Filho 3
R$ 1.875.000,00 R$ 1.875.000,00

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30 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Exemplo 4
Maria, casada pelo regime da separação total de bens com João, faleceu deixando 4 filhos e
um patrimônio de R$ 10.000.000,00. João é pai apenas de 3 filhos de Maria. Sua herança,
portanto, será dividida em 5 parcelas iguais a serem divididas entre João e os 4 filhos de Maria,
recebendo cada um R$ 2.000.000,00.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


João
Maria João
1/5
R$ 2 milhões (herança)
Filho 1
R$ 2 milhões (herança)

Filho 1 Filho 2 Filho 3 Filho 4 Filho 2


1/5 1/5 1/5 1/5 R$ 2 milhões (herança)
Filho 3
R$ 2 milhões (herança)
Filho 4
R$ 2 milhões (herança)

Exemplo 5
Maria, casada pelo regime da comunhão parcial de bens com João, faleceu deixando 4 filhos
e um patrimônio de R$ 10.000.000,00, sendo R$ 2.000.000,00 relativos a bens particulares
de Maria e R$ 8.000.000,00 correspondentes à meação de Maria no casamento com João.
João é pai dos 4 filhos de Maria. A herança deixada por Maria, portanto, será dividida da
seguinte forma: a) sobre os R$ 2.000.000,00 João concorrerá à herança, recebendo, portanto,
R$ 500.000,00 (25%), sendo os R$ 1.500.000,00 (75%) restantes divididos em parcelas iguais
entre os 4 filhos no valor de R$ 375.000,00 para cada um. Com relação aos R$ 8.000.000,00,
João não poderá concorrer, sendo essa quantia, portanto, dividida em partes iguais pelos filhos
de Maria, recebendo cada um R$ 2.000.000,00.

MARIA = PATRIMÔNIO TOTAL


João Maria R$ 10 milhões

Filho 1
Filho 1 R$ 2 milhões
Filho 1 Filho 2 Filho 3 Filho 4 João
R$ 375 mil
R$500 mil Filho 2
(25%) R$ 2 milhões João
Filho 2
(herança) R$ 8 milhões
R$ 375 mil Filho 3 (meação)
R$ 2 milhões
Filho 4 Filho 3
R$ 375 mil R$ 375 mil Filho 4
R$ 2 milhões

BENS PARTICULARES MEAÇÃO


R$ 2 milhões R$ 8 milhões

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 31

Exemplo 6
Maria, casada pelo regime da comunhão parcial de bens com João, faleceu deixando 4 filhos
e um patrimônio de R$ 10.000.000,00, sendo R$ 2.000.000,00 relativos bens particulares
de Maria e R$ 8.000.000,00 correspondentes à meação de Maria no casamento com
João. João é pai apenas de 3 filhos de Maria. A herança deixada por Maria, portanto, será
dividida da seguinte forma: a) sobre os R$ 2.000.000,00 João concorrerá à herança em
igualdade de proporções com os 4 filhos de Maria, recebendo, portanto, R$ 400.000,00
cada um (João e filhos). Com relação aos R$ 8.000.000,00, João não poderá concorrer,
sendo essa quantia, portanto, dividida em partes iguais pelos filhos de Maria, recebendo
cada um R$ 2.000.000,00.

MARIA = PATRIMÔNIO TOTAL


João Maria R$ 10 milhões

João: R$ 400 mil Filho 1


(herança) R$ 2 milhões
Filho 1 Filho 2 Filho 3 Filho 4
Filho 1: R$ 400 mil Filho 2
R$ 2 milhões João
R$ 8 milhões
Filho 2: R$ 400 mil Filho 3 (meação)
R$ 2 milhões
Filho 3: R$ 400 mil
Filho 4
Filho 4: R$ 400 mil R$ 2 milhões

BENS PARTICULARES MEAÇÃO


R$ 2 milhões R$ 8 milhões

3.3.1.3. Direito de representação


O direito de representação é o direito que os descendentes do descendente premorto (item
3.3.1.1) têm de receber a herança de seu falecido ascendente. Exemplificando, é o direito que
os netos têm de receber a herança do avô no lugar de seu falecido pai (premorto) e concor-
rendo com os irmãos dele (irmãos do premorto, filhos do avô). Neste caso os descendentes
do premorto receberão aquilo que caberia ao premorto e o dividirão em igualdade de pro-
porções.

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32 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Exemplo 1
Maria, viúva, faleceu deixando 3 filhos vivos e 1 filho premorto que, por sua vez, deixou 2
filhos (netos de Maria). O patrimônio deixado por Maria é de R$ 10.000.000,00. Sua herança,
portanto, será dividida da seguinte forma: a) R$ 2.500.000,00 a ser dividido em igualdade
de proporções por seus netos através de direito de representação de seu filho premorto; b)
R$ 2.500.000,00 para cada um de seus filhos vivos.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


Maria
Filho 1
R$ 2.500.000,00
Filho 2
Filho 1 Filho 2 Filho 3 Filho 4 R$ 2.500.000,00
1/4 1/4 1/4 (premorto) Filho 3
R$ 2.500.000,00

Neto 1 Neto 2 Neto 1 Neto 2


1/8 1/8 R$ 1.250.000,00 R$ 1.250.000,00

É importante destacar que o direito de representação somente ocorrerá quando a herança for
destinada a descendentes de um grau mais próximo dentre os quais houver um premorto que
tenha deixado descendentes de um grau mais remoto. Não havendo descendentes de grau mais
próximo, não haverá direito de representação, mas sim se passará a dividir a herança em igualdade
de condições entre os descendentes de grau mais remoto.

Exemplo 2
Maria, viúva, faleceu deixando 3 filhos premortos, Luís, Rodolfo e Bruno. Luís deixou 2 filhos
(netos de Maria), Rodolfo deixou 1 filho (neto de Maria) e Bruno deixou 3 filhos (netos de Maria).
O patrimônio deixado por Maria é de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será dividida
em igualdade de proporções entre seus 6 netos, pelo qual cada um receberá R$ 1.666.666,66.
Neste caso não se trata de direito de representação, mas sim de recebimento na própria pessoa
dos netos, contando, portanto, o recebimento ‘por cabeça’ em igualdade de proporções.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


Maria
Neto 1
R$ 1.666.666,66
Neto 2
R$ 1.666.666,66
Luis Rodolfo Bruno
(premorto) (premorto) (premorto) Neto 3
R$ 1.666.666,66

Neto 3 Neto 4
1/6 R$ 1.666.666,66
Neto 1 Neto 2 Neto 4 Neto 5 Neto 6
1/6 1/6 1/6 1/6 1/6 Neto 5
R$ 1.666.666,66
Neto 6
R$ 1.666.666,66

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 33

Haverá ainda um outro caso de direito de representação na categoria dos colaterais que será
analisado mais adiante.

3.3.2. Ascendentes + Cônjuge


Na ausência de descendentes, a herança será direcionada aos ascendentes (pais, avós, bisavós
etc.) em concorrência com o cônjuge sobrevivente. É importante ressaltar que ao concorrer com
os ascendentes o cônjuge não possui quaisquer restrições, diferentemente do que ocorre ao con-
correr com os descendentes.
Todos os ascendentes são considerados herdeiros necessários e, na ausência de descendentes,
toda a herança será distribuída na categoria “ascendentes + cônjuge”, não sendo contemplados
de nenhuma forma os colaterais.
O Código Civil de 2002 trouxe uma inovação ao permitir que o cônjuge sobrevivente concorra
à herança junto com os ascendentes. O termo ‘concorrer’ significa partilhar junto com os ascen-
dentes a herança do falecido, de acordo com as regras previstas na legislação.
A seguir dividiremos a análise em situações de existência de ascendentes nas quais não haja
cônjuge e nas quais haja.

3.3.2.1. Ascendentes sem existência de cônjuge/companheiro


Existindo apenas ascendentes sem a existência de cônjuge/companheiro, a herança será divi-
dida entre todos os ascendentes do grau mais próximo, em igualdade de proporções. Não existe
direito de representação para ascendentes, motivo pelo qual não poderão os avós receberem qual-
quer valor relativo aos pais premortos.

Exemplo 1
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes, porém deixando pai e mãe vivos e um
patrimônio de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será dividida em 2 parcelas iguais
entre seus pais, no valor de R$ 5.000.000,00 para cada um.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


Pai Mãe
1/2 1/2
Pai Mãe
R$ 5 milhões R$ 5 milhões

Maria

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34 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Exemplo 2
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes, porém deixando pai vivo e um avô materno
vivo, bem como um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será concedida
integralmente ao pai de Maria. Não haverá herança para o avô materno vivo, pois não há
direito de representação para ascendentes e, ainda, porque a existência de herdeiros em grau
mais próximo exclui o direito dos herdeiros de grau mais distante.

Avô Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


zero
Pai
Pai R$ 10 milhões
100%

Maria

Ainda, em caso de pai e mãe premortos, os parentes de grau mais distante (avós, bisavós etc.)
dividirão a herança pela metade entre ascendentes de linha paterna e ascendentes de linha mater-
na. Em outras palavras, a herança será dividida em duas partes iguais e será distribuída entre os
ascendentes de cada linha, em igualdade de proporções.

Exemplo 3
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes, deixando também pai e mãe premortos,
porém deixando um avô materno vivo e avô e avó paternos vivos, bem como um patrimônio
de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será dividida da seguinte maneira: a)
R$ 5.000.000,00 para os ascendentes da linha materna, ou seja, para seu avô materno; b)
R$ 5.000.000,00 para os ascendentes da linha paterna, ou seja, em igualdade de proporções
para o avô e a avó paternos, recebendo cada um deles R$ 2.500.000,00.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


Avô Avó Avô
1/4 1/4 1/2 Avô paterno
R$ 2,5 milhões Avô materno
Avô paterno R$ 5 milhões
Pai Mãe R$ 2,5 milhões
(premorto) (premorta)

Maria

Havendo apenas um ascendente no grau mais próximo, a herança será integralmente concedida
a este ascendente, excluindo-se os ascendentes de grau mais remoto.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 35

Exemplo 4
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes, deixando também pai e mãe premortos,
porém deixando um avô materno vivo e um bisavô paterno vivo, bem como um patrimônio
de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será concedida integralmente ao avô materno,
porque a existência de herdeiros em grau mais próximo exclui o direito dos herdeiros de grau
mais distante.

Bisavô
zero

Avô Avó Avô


(premorto) (premorta) 100%
Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões

Pai Mãe Avô materno


(premorto) (premorta) R$ 10 milhões

Maria

3.3.2.2. Ascendentes com existência de cônjuge/companheiro


Inexistindo descendentes, existindo ascendentes e cônjuge/companheiro sobrevivente a he-
rança será sempre dividida entre eles de acordo com as regras fixadas pelo Código Civil. Para
concorrer com os ascendentes não importa o regime de bens pelo qual o casamento foi celebrado.
Quando o cônjuge/companheiro concorrer à herança com ascendentes de primeiro grau (pai
e mãe), o cônjuge/companheiro sobrevivente receberá 1/3 da herança se pai e mãe forem vivos.
Caso um dos dois seja premorto, ou seja, o falecido possua apenas pai ou mãe vivo, ao cônjuge/
companheiro caberá metade da herança.

Exemplo 1
Maria, casada no regime da comunhão parcial de bens, faleceu sem deixar descendentes,
porém deixando pai e mãe vivos e um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto,
será dividida em 3 parcelas iguais entre o cônjuge e seus pais, no valor de R$ 3.333.333,33
para cada um.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


Pai Mãe Pai
1/3 1/3 R$ 3.333.333,33
Mãe
R$ 3.333.333,33
Cônjuge
Maria Cônjuge
1/3
R$ 3.333.333,33

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36 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Exemplo 2
Maria, casada no regime da comunhão parcial de bens, faleceu sem deixar descendentes, porém
deixando pai vivo e um avô materno vivo, bem como um patrimônio de R$ 10.000.000,00.
Sua herança, portanto, será dividida em 2 parcelas iguais entre o cônjuge e seu pai. Não haverá
herança para o avô materno vivo, pois não há direito de representação para ascendentes e,
ainda, porque a existência de herdeiros em grau mais próximo exclui o direito dos herdeiros
de grau mais distante.

Avô
zero
Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões
Pai Mãe
1/2 (premorta) Pai Cônjuge
R$ 5 milhões R$ 5 milhões

Cônjuge
Maria
1/2

Sendo premortos pai e mãe, e concorrendo à herança o cônjuge/companheiro com ascenden-


tes de grau maior (avós, bisavós etc.), ao cônjuge/companheiro caberá sempre metade da herança,
sendo a outra metade dividida pelos ascendentes conforme as regras já vistas no item 3.3.2.1.

Exemplo 3
Maria, casada pelo regime da comunhão parcial de bens, faleceu sem deixar descendentes,
deixando também pai e mãe premortos, porém deixando um avô materno vivo e avô e avó
paternos vivos, bem como um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto,
será dividida da seguinte maneira: a) R$ 5.000.000,00 para o cônjuge sobrevivente; b)
R$ 2.500.000,00 para os ascendentes da linha materna, ou seja, para seu avô materno; b)
R$ 2.500.000,00 para os ascendentes da linha paterna, ou seja, em igualdade de proporções
para o avô e a avó paternos, recebendo cada um deles R$ 1.250.000,00.

Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões

Avô Avô Avô


1/8 1/8 1/4 Avô materno
R$ 2,5 milhões

Pai Mãe Avô paterno Cônjuge


(premorto) (premorta) R$1.250.000,00 R$ 5 milhões

Avó paterna
Cônjuge R$ 1.250.000,00
Maria
1/2

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 37

Exemplo 4
Maria, casada pelo regime da comunhão parcial de bens, faleceu sem deixar descendentes,
deixando também pai e mãe premortos, porém deixando um avô materno vivo e um bisavô
paterno vivo, bem como um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto,
será dividida da seguinte maneira: a) R$ 5.000.000,00 para o cônjuge sobrevivente; b)
R$ 5.000.000,00 para o avô materno, porque a existência de herdeiros em grau mais próximo
exclui o direito dos herdeiros de grau mais distante.

Bisavô Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


zero
Avô materno Cônjuge
Avô Avô R$ 5 milhões R$ 5 milhões
(premorto) 1/2

Pai Mãe
(premorto) (premorta)

Cônjuge
Maria
1/2

3.3.3. Cônjuge/Companheiro
Na ausência de descendentes e ascendentes, a herança será integralmente concedida ao cônju-
ge/companheiro sobrevivente.

Exemplo 5
Maria, casada pelo regime da comunhão parcial de bens, faleceu sem deixar descendentes
nem ascendentes, deixando um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será
concedida integralmente ao cônjuge sobrevivente.

MARIA = PATRIMÔNIO TOTAL


R$ 10 milhões

Pai Mãe João João João


(premorto) (premorta) R$ 2 milhões R$ 8 milhões R$ 8 milhões
(herança) (herança) (meação)

Cônjuge
Maria
100%
BENS PARTICULARES MEAÇÃO
R$ 2 milhões R$ 8 milhões

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38 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

3.3.4. Colaterais até quarto grau


Na ausência de descendentes, ascendentes e cônjuge sobrevivente, serão chamados a receber
a herança os herdeiros colaterais até quarto grau. Entende-se por colaterais os parentes que não
possuírem vínculo em linha reta descendente ou ascendente, mas que possuam um parente em
linha reta em comum com o falecido.

Herança aos parentes


Os irmãos são parentes colaterais, pois possuem entre si pelo menos um ascendente comum em
linha reta (pai ou mãe, ou ambos). Os tios e sobrinhos são parentes colaterais, pois, possuem
entre si pelo menos um ascendente em comum em linha reta (avô ou avó, ou ambos). O
mesmo ocorre com os primos.

Com relação aos graus de parentesco colateral, podemos dividi-los da seguinte forma:
• Colaterais de 2º grau: irmãos;
• Colaterais de 3º grau: tios e sobrinhos;
• Colaterais de 4º grau: primos, tios-avôs e sobrinhos-netos.

Pai de A Avô de A
2º grau 3º grau

Irmão
A Pai de A Tio de A
de A
4º grau

Primo
A
de A

A regra para a herança continua sendo a mesma: os herdeiros de grau mais próximo excluem
da sucessão os herdeiros de grau mais distante, porém neste caso há uma ordem de preferência
prevista no Código Civil.

3.3.4.1. Colaterais: irmãos bilaterais e unilaterais


Havendo irmãos, a integralidade da herança será concedida aos irmãos. O Código Civil, contu-
do, estabelece diferenças entre irmãos bilaterais (por parte de pai e mãe) e irmãos unilaterais (só
por parte de pai ou só por parte de mãe – o chamado ‘meio-irmão’). Os irmãos unilaterais deverão
receber metade daquilo que couber aos irmãos bilaterais.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 39

Exemplo 1
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes nem ascendentes, porém deixando um irmão
vivo, bem como um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será concedida
integralmente ao irmão, porque a existência de herdeiros em grau mais próximo (colateral de
2º grau) exclui o direito dos herdeiros de grau mais distante.

Pai Mãe Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


(premorto) (premorta)
Irmão
R$ 10 milhões

Irmão
Maria
100%

Exemplo 2
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes nem ascendentes, porém deixando dois irmãos
bilaterais vivos, bem como um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será
dividida em 2 parcelas iguais para cada irmão bilateral, recebendo cada um R$ 5.000.000,00.

Pai Mãe Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


(premorto) (premorta)
Irmão 1 Irmão 2
R$ 5 milhões R$ 5 milhões

Irmão 1 Irmão 2
Maria
1/2 1/2

Exemplo 3
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes nem ascendentes, porém deixando dois irmãos
bilaterais e um irmão unilateral vivos, bem como um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Sua
herança, portanto, será dividida da seguinte forma: a) duas parcelas iguais de R$ 4.000.000,00,
sendo uma para cada irmão bilateral; b) uma parcela de R$ 2.000.000,00 em favor do irmão
unilateral.

Pai Mãe Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


(premorto) (premorta)
Irmão 1: R$ 4 milhões

Irmão 2: R$ 4 milhões


Irmão 1 Irmão 2 Irmão 3
Maria (bilateral) (bilateral) (unilateral) Irmão 3: R$ 2 milhões
2/5 2/5 1/5

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40 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

3.3.4.1.1. Direito de representação de filhos de irmãos


O único direito de representação existente fora da categoria dos descendentes é o direito de re-
presentação de filhos de irmãos. Assim, sendo a herança direcionada aos irmãos (colaterais de 2º
grau), os filhos do irmão premorto poderão receber a herança deste por direito de representação,
da mesma forma que ocorre com os descendentes.

Exemplo
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes, nem ascendentes, deixando, porém, 1 irmão
bilateral vivo e 1 irmão bilateral premorto, que por sua vez deixou filhos (sobrinhos de Maria). O
patrimônio deixado por Maria é de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será dividida da
seguinte forma: a) R$ 5.000.000,00 em favor de seu irmão bilateral vivo; b) R$ 5.000.000,00 a
ser dividido em igualdade de proporções por seus sobrinhos através de direito de representação
do irmão premorto, na condição de filhos de irmão.

Pai Mãe Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


(premorto) (premorta)
Sobrinho 1
R$ 2,5 milhões
Irmão 1
Irmão 1 Irmão 2 R$ 5 milhões
Maria
1/2 (premorto) Sobrinho 2
R$ 2,5 milhões

Sobrinho 1 Sobrinho 2
1/4 1/4

É importante destacar que o direito de representação somente ocorrerá quando a herança for
destinada a colaterais de segundo grau dentre os quais houver um premorto que tenha deixado
filhos, não se admitindo descendentes de grau maior (netos, bisnetos etc.). Não havendo irmãos,
não haverá direito de representação, mas sim se passará a dividir a herança em igualdade de con-
dições entre os colaterais de grau mais remoto.

3.3.4.2. Colaterais: sobrinhos bilaterais e unilaterais


Na ausência de irmãos, a preferência será dos sobrinhos (3º grau). Mesmo os sobrinhos pos-
suindo o mesmo grau dos tios, o Código Civil estabelece que a existência de sobrinhos exclui da
sucessão os tios. Aos sobrinhos aplica-se a mesma regra dos irmãos com relação à bilateralidade
ou unilateralidade. Assim sendo, sobrinhos unilaterais deverão receber metade daquilo que cou-
ber aos sobrinhos bilaterais. Havendo apenas sobrinhos unilaterais, todos herdarão na mesma
proporção.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 41

Exemplo 1
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes, nem ascendentes, deixando 2 irmãos bilaterais
premortos, Rubens e Carlos. Rubens deixou 2 filhos (sobrinhos bilaterais de Maria), Carlos deixou
1 filho (sobrinho bilateral de Maria). O patrimônio deixado por Maria é de R$ 10.000.000,00.
Sua herança, portanto, será dividida em igualdade de proporções entre seus 3 sobrinhos, pelo
qual cada um receberá R$ 3.333.333,33. Neste caso não se trata de direito de representação
de filhos de irmãos, mas sim de recebimento na própria pessoa dos sobrinhos, contando,
portanto, o recebimento ‘por cabeça’ em igualdade de proporções.

Pai Mãe Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


(premorto) (premorta)
Sobrinho 1
R$ 3.333.333,33

Rubens Carlos Sobrinho 2


Maria R$ 3.333.333,33
(premorto) (premorto)

Sobrinho 3
R$ 3.333.333,33
Sobrinho 1 Sobrinho 2 Sobrinho 3
1/3 1/3 1/3

Exemplo 2
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes, nem ascendentes, deixando 1 irmão bilateral
premorto chamado Rubens e 1 irmão unilateral premorto chamado Carlos. Rubens deixou 2
filhos (sobrinhos bilaterais de Maria) e Carlos deixou 1 filho (sobrinho unilateral de Maria). O
patrimônio deixado por Maria é de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será dividida da
seguinte forma: a) duas parcelas iguais de R$ 4.000.000,00, sendo uma para cada sobrinho
bilateral; b) uma parcela de R$ 2.000.000,00 em favor do sobrinho unilateral.

Pai Mãe Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


(premorto) (premorta)
Sobrinho 1
R$ 4 milhões

Rubens Carlos Sobrinho 2


Maria R$ 4 milhões
(premorto) (premorto)

Sobrinho 3
R$ 2 milhões
Sobrinho 1 Sobrinho 2 Sobrinho 3
1/3 1/3 1/3

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42 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Exemplo 3
Maria, viúva, faleceu sem deixar descendentes, nem ascendentes, deixando 2 irmãos
unilaterais premortos, Rubens e Carlos. Rubens deixou 2 filhos (sobrinhos unilaterais de
Maria), Carlos deixou 1 filho (sobrinho unilateral de Maria). O patrimônio deixado por Maria é
de R$ 10.000.000,00. Sua herança, portanto, será dividida em igualdade de proporções entre
seus 3 sobrinhos, pelo qual cada um receberá R$ 3.333.333,33.

Pai Mãe Patrimônio de Maria = R$ 10 milhões


(premorto) (premorta)
Sobrinho 1
R$ 3.333.333,33
Rubens Carlos
Maria Sobrinho 2
(premorto) (premorto)
R$ 3.333.333,33

Sobrinho 3
Sobrinho 1 Sobrinho 2 Sobrinho 3 R$ 3.333.333,33
1/3 1/3 1/3

3.3.4.3. Demais colaterais


Não havendo descendentes, ascendentes, cônjuge, irmãos (colaterais de 2º grau) e sobrinhos
(colaterais de 3º grau), a herança será destinada em igualdade de proporções aos demais parentes
de 3º grau (tios) e, na ausência destes, aos demais parentes de 4º grau (primos, tios-avôs e sobri-
nhos-netos) sem ordem de preferência entre estes.

3.3.4.4. Herança jacente e herança vacante


A herança jacente ocorre quando não há herdeiro certo e determinado, ou quando não se
sabe da existência dele, ou ainda, quando é renunciada pelos herdeiros. É uma sucessão “sem
dono atual”.
Na ausência de todos os herdeiros previstos na legislação, ou seja, descendentes, ascendentes,
cônjuge ou companheiro e colaterais até 4º grau, a herança será declarada herança jacente e, com
isto, os bens do falecido passarão a ser de propriedade do Município em que se localizarem ou do
Distrito Federal, caso lá se localizem.
herança vacante ocorre quando a herança é devolvida à fazenda pública por se ter verificado
não haver herdeiros que se habilitassem no período de jacência.

3.4. Equiparação do companheiro ao cônjuge para fins sucessórios


O Código Civil de 2002 estabeleceu em seu texto algumas diferenças entre o casamento
e a união estável para fins de sucessão e recebimento de herança. Estas diferenças, contu-
do, geraram uma série de polêmicas no mundo jurídico, o que reverberou numa série de
questionamentos judiciais que culminaram com uma decisão definitiva do Supremo Tribunal
Federal entendendo serem inconstitucionais as diferenças estabelecidas entre união estável e
casamento.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 43

Segundo o Supremo Tribunal Federal, “a Constituição brasileira contempla diferentes formas


de família legítima, além da que resulta do casamento. Nesse rol incluem-se as famílias
formadas mediante união estável” e, ainda, “não é legítimo desigualar, para fins sucessórios,
os cônjuges e os companheiros, isto é, a família formada pelo casamento e a formada por
união estável. Tal hierarquização entre entidades familiares é incompatível com a Constituição
de 1988”.

Por se tratar de uma decisão proferida sob a chamada repercussão geral, a partir da decisão
proferida em 10/05/2017 todos os órgãos executivos e judiciários são obrigados a seguir e
aplicar.
Portanto, para efeitos do presente conteúdo, todas as regras sucessórias aplicáveis ao casamen-
to são igualmente aplicáveis à união estável. Assim sendo, para fins de planejamento sucessório,
não mais importa a forma pela qual a união foi formalizada, detendo os cônjuges e os companhei-
ros os mesmos direitos à participação na herança um do outro.

3.5. Aceitação e renúncia da herança


Pela aceitação da herança o herdeiro demonstra sua vontade de recebê-la. A aceitação da he-
rança é uma confirmação de que o herdeiro tem interesse na sucessão. Enquanto não houver um
ato de aceitação, a herança permanecerá em situação de incerteza.
A aceitação da herança pode ocorrer de forma expressa ou tácita. Ocorre de forma expressa
quando o herdeiro manifesta objetivamente sua vontade de receber a herança. Ocorrerá de forma
tácita, por outro lado, quando através de outros puder se confirmar a intenção de aceitação da
herança, como por exemplo no caso do herdeiro que assume a posse e o uso dos bens do falecido
ou aquele que se habilita no inventário.
Em contrapartida, a renúncia é o ato formal pelo qual o herdeiro manifesta seu desin-
teresse pelo recebimento da herança. A renúncia deve ocorrer obrigatoriamente de forma
expressa através de escritura pública ou termo judicial, não sendo possível se presumir a
renúncia ou se entender pela renúncia tácita da herança. Ainda, a renúncia somente pode ser
manifestada após a abertura da sucessão (morte do sucedido), sendo proibida a renúncia à
herança de pessoa ainda viva.
Nos casos de renúncia à herança, a parcela devida ao renunciante será acrescida aos outros
herdeiros de mesma categoria. Por exemplo, renunciando 1 de 3 descendentes de mesmo grau, o
valor relativo ao descendente renunciante será acrescido em igualdade de proporções aos outros
2 descendentes. Se, por outro lado, o renunciante for o único herdeiro de determinado grau ou
categoria, sua renúncia implicará na transmissão da herança para os herdeiros do próximo grau
ou, na ausência destes, da próxima categoria da ordem de vocação hereditária. Por exemplo, se o
filho único renunciar à herança do pai, esta será direcionada aos netos do falecido (grau seguinte).
Na ausência de outros descendentes além do renunciante, então a herança seria direcionada aos
ascendentes (categoria seguinte). Importante destacar que a lei proíbe a sucessão por direito de
representação do herdeiro renunciante.
Os atos de aceitação e de renúncia sempre são praticados com relação à totalidade da herança,
não sendo possível a aceitação ou renúncia parcial. Ainda, tanto o ato de aceitação quanto o ato
de renúncia são irrevogáveis, ou seja, uma vez manifestados não podem ser revistos nem modifi-
cados, sujeitando o herdeiro de forma definitiva.

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44 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

3.6. Excluídos da sucessão


São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários que: i) houverem sido autores, coautores
ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar,
seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; ii) houverem acusado caluniosamente em
juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou com-
panheiro; iii) que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança
de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.
A exclusão somente ocorrerá mediante sentença judicial que reconheça a prática de algum
desses atos por parte do herdeiro, podendo os demais herdeiros, o sucedido (em caso de mera
tentativa) ou até o Ministério Público pleitearem a declaração de indignidade. Por indignidade
entende-se a condenação do herdeiro à exclusão da herança pelo cometimento ou tentativa de
cometimento de algum dos atos indicados neste item.
O efeito da exclusão da sucessão é que o herdeiro excluído será tratado como se fosse pre-
morto. Assim sendo, em casos de exclusão, os descendentes do herdeiro excluído poderão herdar
através do direito de representação, diferentemente do que ocorre no caso de renúncia à herança.
A lei, porém, proíbe que o excluído da sucessão (indigno) detenha qualquer tipo de usufruto dos
bens do sucedido ou participe de sua administração quando forem os descendentes do indigno
que vierem a receber a herança.

3.7. Dívidas e contingências tributárias na sucessão


As dívidas e contingências fiscais do falecido não se transferem aos herdeiros. Ou seja, não é
possível ‘herdar dívida’, diferentemente do que se pensa. Porém há de se destacar uma situação
específica dentro da sucessão de pessoas com dívidas.
O Código Civil é claro ao estabelecer que “a herança responde pelo pagamento das dívidas do
falecido; mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte que
na herança lhe coube”. Em outras palavras, são os bens do devedor falecido que serão responsá-
veis pelas dívidas deste, não sendo possível aos credores do falecido atingir os bens pessoais dos
herdeiros.
O que se espera, via de regra, é que os bens do falecido sejam utilizados para pagamento aos
credores, somente se fazendo a partilha dos bens que restarem após tal pagamento. Ocorre, con-
tudo, que é comum que a partilha seja feita sem sequer se tomar conhecimento da existência de
credores, situação na qual os herdeiros responderão pelas dívidas do falecido somente na pro-
porção da parte que receberam de herança e até o limite do valor efetivamente recebido. Assim
sendo, cada herdeiro somente será responsável pelo pagamento da dívida na proporção em que
tiver sido contemplado na herança do falecido e somente poderá ser expropriado até o limite dos
bens que recebeu de herança.

Exemplo 1
Imagine um herdeiro que recebeu 25% de uma herança de R$ 1.000.000,00, ou seja,
R$ 250.000,00. O falecido possuía uma dívida no valor de R$ 2.000.000,00. Este credor
poderá exigir do herdeiro apenas a quantia de R$ 500.000,00 (25%) até o limite do valor que
o herdeiro recebeu de herança, ou seja, R$ 250.000,00. Assim sendo, o herdeiro neste caso
responderá por R$ 250.000,00 perante o credor.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 45

Exemplo 2
Imagine um herdeiro que recebeu 25% de uma herança de R$ 2.000.000,00, ou seja,
R$ 500.000,00. O falecido possuía uma dívida no valor de R$ 1.000.000,00. Este credor
poderá exigir do herdeiro apenas a quantia de R$ 250.000,00 (25%) até o limite do valor
que o herdeiro recebeu de herança. Porém como o valor que o herdeiro recebeu é superior
ao valor pelo qual pode ser cobrado pelo credor, o herdeiro responderá unicamente pelo valor
proporcional da dívida do falecido, ou seja, R$ 250.000,00.

3.8. Inventário e partilha


O inventário é o procedimento pelo qual os bens do falecido são identificados, consolidados
e partilhados entre seus herdeiros. Como resultado deste procedimento é emitido um Formal de
Partilha, que é o documento que autoriza a transmissão de propriedade dos bens aos herdeiros na
forma determinada no inventário.
Para todo inventário há de ser nomeado um inventariante que é a pessoa que representará o es-
pólio (conjunto de bens, direitos e obrigações deixados pelo falecido) e se encarregará de sua ad-
ministração até a efetivação da partilha. Sobre o inventariante recai a obrigação de dar andamento
à partilha e conduzir o inventário até seu encerramento, sendo obrigatória por lei a participação
de um advogado no procedimento, seja ele judicial ou extrajudicial.

3.8.1. Inventário extrajudicial


Visando dar mais celeridade aos trâmites sucessórios, em 2007 foi editada uma lei que autori-
zou os cartórios a lavrarem escrituras de inventário extrajudicial. A condição para que o trâmite
possa ser feito pela via extrajudicial é de que: a) o falecido não tenha deixado testamento; b) to-
dos os herdeiros estejam em acordo, tratando-se de partilha consensual; c) todas as partes sejam
maiores e capazes.
Havendo testamento, será necessária a adoção de medida judicial para abertura, registro e cum-
primento do testamento. Esta medida visa submeter o testamento ao juiz para que seja avaliada
sua validade e seja permitida eventual impugnação de terceiros interessados. Sendo considerado
válido o testamento, os herdeiros poderão realizar o trâmite de inventário judicial ou, ainda, e de
acordo com posicionamentos mais recentes, poderão solicitar uma autorização judicial ao juiz
para que o inventário seja realizado de forma extrajudicial.
Caso não haja acordo entre os herdeiros, o inventário deverá ser obrigatoriamente judicial para
permitir que o juiz venha a decidir sobre os pontos controvertidos entre as partes. Toda matéria
envolvendo litígio deverá ser sempre conduzida pela via judicial.
No que diz respeito à existência de menores de idade ou de pessoas incapazes, tem-se que a
obrigatoriedade do inventário judicial decorre da necessidade de intervenção do Ministério Pú-
blico na partilha para verificação de se os interesses do menor ou do incapaz estão sendo devida-
mente resguardados.

3.8.2. Inventário judicial


O inventário judicial pode ser obrigatório nas situações que não permitem a realização do
inventário extrajudicial ou pode ser optativo, quando os herdeiros, mesmo podendo realizar o
trâmite de maneira extrajudicial, preferem fazê-lo em juízo.

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46 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

O inventário judicial começa com o comunicado de falecimento e requerimento de abertura


de inventário e nomeação de inventariante. Uma vez nomeado, o inventariante deverá apresentar
a declaração de bens do falecido (“primeiras declarações”) juntamente com os documentos que
comprovem a propriedade dos bens, o óbito e a existência de herdeiros.
Posteriormente caberá ao inventariante apresentar a forma pela qual se pretende realizar a
partilha (“plano de partilha”). Deverá o inventariante, ainda, apresentar as devidas declarações
fiscais ao Estado e providenciar o recolhimento do Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e
Doações – ITCMD, o qual incide sobre a herança.
Após a concordância dos herdeiros acerca da partilha e da Fazenda do Estado acerca do re-
colhimento do ITCMD o juiz poderá proferir uma sentença formalizando a partilha nos moldes
sugeridos e pondo fim ao processo de inventário mediante a expedição do competente Formal
de Partilha.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 47

4. INSTRUMENTOS DE
PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

4.1. Doação
A doação é uma forma de transmissão gratuita de bens em vida, permitindo a transferência da
propriedade como forma de antecipação de planejamento sucessório.

4.1.1. Conceito
A doação é o ato pelo qual alguém, de forma gratuita e sem contrapartida, estipula a transfe-
rência de seu patrimônio em favor de outra pessoa. Trata-se de um contrato específico previsto
na legislação civil e pelo qual é possível transmitir bens imóveis, bens móveis, valores, direitos,
investimentos financeiros etc., ainda em vida.

Para refletir
A doação em vida é uma forma de antecipação da transmissão de bens aos herdeiros,
permitindo que estes tenham acesso ao patrimônio antes de quaisquer processos de inventário
e sem a necessidade de realização dos trâmites de inventário.
Outra vantagem da doação em vida é a possibilidade de trazer os herdeiros para a gestão de
determinados bens de forma antecipada, passando a ter contato e gestão direta do patrimônio
sob supervisão do futuro sucedido considerando este ainda ser vivo.

4.1.2. Forma
A doação deve ser sempre realizada por documento escrito, podendo se optar pela escritura
pública ou pelo documento particular. A doação verbal somente se admite com relação a bens
móveis de pequeno valor e se efetivamente ocorrer a entrega física destes – caso contrário, a do-
ação verbal não será considerada válida.
Seja qual for o caso, é sempre recomendável que a doação seja formalizada por escritura pública
para ter uma maior garantia de eficácia do ato e se resguardar de possíveis questionamentos de
terceiros.
Com relação à doação vale a pena revisitar os itens 2.6.1 (doação universal), 2.6.2 (reserva de
legítima) e 2.6.3 (doação em antecipação de legítima).

4.1.3. Doação com encargo, termo e condição


Quando a doação for feita em favor de pessoas maiores e capazes, é possível ao doador esta-
belecer a obrigação de realização de determinada tarefa (“encargo”). Neste caso não se trataria

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48 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

de uma doação pura e simples, mas sim de uma doação contendo uma cláusula condicional para
sua ocorrência.
Como exemplos podemos citar uma doação condicionada à prestação de auxílio a terceiros ou
realização de determinadas obras de caridade.
Ainda, a doação pode ser condicionada à ocorrência de um evento futuro e certo, como por
exemplo o atingimento de determinada idade. Nestes casos a doação ocorre a termo, ou seja,
condicionada à ocorrência de um evento futuro, porém certo e devidamente especificado.
Por fim, a doação também pode ser condicionada à ocorrência de um evento futuro, porém in-
certo, como por exemplo a colação de grau universitário. Nestes casos a doação ocorre mediante
condição, ou seja, a doação depende da ocorrência do evento futuro e incerto, sendo que em caso
de não ocorrência a doação não surtirá efeitos.

4.1.4. Cláusulas restritivas


O doador pode também prever certas restrições com relação aos bens objeto de doação. São
as chamadas cláusulas restritivas que se dividem em: a) inalienabilidade; b) impenhorabilidade; e
c) incomunicabilidade.
A cláusula de inalienabilidade consiste na proibição de alienação, a qualquer título, do bem
doado. Com isto, o recebedor da doação (donatário) fica impedido de se desfazer do bem. A
cláusula de inalienabilidade pode ser fixada de forma temporária ou vitalícia. Se temporária,
deverá o doador prever por quanto tempo vigorará. Se vitalícia, vigorará até o falecimento
do donatário.

Inalienabilidade na doação
É comum o uso de cláusula de inalienabilidade na doação de bens a pessoas que costumem
se endividar ou que possuam histórico de dilapidação de patrimônio. Na doação de pais para
filhos, a cláusula vitalícia de inalienabilidade também garante que o bem doado chegue aos
netos, pois o pai não poderá dele se desfazer.

A cláusula de impenhorabilidade, por sua vez, impede que credores do recebedor da doação
(donatário) possam atingir o bem doado em virtude de dívidas que o donatário possua e que es-
tejam em execução judicial.

Impenhorabilidade na doação
É comum o uso de cláusula de impenhorabilidade na doação de bens a pessoas que costumem
se endividar e costumem ter problemas de crédito. Com a impenhorabilidade, o donatário fica
resguardado com relação à ação de credores sobre o bem doado.

A cláusula de incomunicabilidade impede que sobre o bem doado se gere comunhão. Como
já visto, os bens comunicáveis ensejam a criação de patrimônio conjunto (comunhão – vide item
2.1). Ao estabelecer a cláusula de incomunicabilidade o doador garante que sobre o bem não re-
caiam direitos matrimoniais de cônjuges e companheiros, independentemente do regime de bens
adotado pelo casal.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 49

Incomunicabilidade na doação
Como visto no item 2.1.3, a imposição de cláusula de incomunicabilidade impede inclusive
a formação de patrimônio comum até no regime da comunhão universal de bens. Ainda,
a cláusula de incomunicabilidade é um meio de se fazer doações a uma pessoa casada
garantindo-se a manutenção integral dos bens na propriedade desta pessoa mesmo no caso
de divórcio.

4.1.5. Colação de doação


A colação é um dever imposto aos herdeiros de declararem por ocasião do inventário o valor
dos bens recebidos em vida por doação do falecido que tenham representado antecipação de
legítima (item 2.6.3).
A colação consiste no cômputo do valor de todos os bens deixados pelo falecido acrescido das
doações feitas em vida a seus herdeiros, somando-se o valor para cômputo geral e posteriormente
dividindo-se o resultado de acordo com as frações que caibam a cada um, sendo que o herdeiro
donatário terá descontado o valor já recebido.

Exemplo
Maria, viúva, faleceu deixando 4 filhos e um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Em vida, fez
uma doação de um imóvel no valor de R$ 1.000.000,00 para um de seus filhos chamado Luís.
Por ocasião de seu inventário, Luís deverá informar no inventário ter recebido esta doação
(trazer à colação). Feita a colação, o patrimônio total será de R$ 11.000.000,00, cabendo a
cada filho a parcela de R$ 2.750.000,00. Luís já terá recebido o imóvel de R$ 1.000.000,00
e receberá a complementação de R$ 1.750.000,00 via inventário. Os demais filhos receberão
diretamente no inventário a quantia de R$ 2.750.000,00.

É importante destacar que o herdeiro que estiver obrigado à colação e deixar de realizá-la per-
derá o direito sobre o patrimônio que omitiu da colação, desde que outro herdeiro comprove a
omissão.

Exemplo
Maria, viúva, faleceu deixando 4 filhos e um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Em vida, fez
uma doação de um imóvel no valor de R$ 1.000.000,00 para um de seus filhos chamado
Luís. Por ocasião de seu inventário, Luís decidiu não mencionar ter recebido tal doação. Um
dos irmãos de Luís descobriu a doação, informou o juiz e requereu a perda de direitos de
Luís sobre o bem sonegado. Assim sendo, será incorporado o valor de R$ 1.000.000,00 no
inventário, totalizando-se R$ 11.000.000,00. Porém Luís não poderá participar da herança de
R$ 1.000.000,00 que sonegou e tal valor será dividido em 3 partes iguais por seus 3 irmãos,
recebendo R$ 333.333,33 cada um. Sobre os R$ 10.000.000,00, Luís poderá participar e a
divisão será em 4 partes iguais de R$ 2.500.000,00. Como Luís já recebeu R$ 1.000.000,00
em vida, somente terá a receber a complementação de R$ 1.500.000,00 via inventário. Os
demais filhos receberão diretamente no inventário a quantia de R$ R$ 2.833.333,33, ou seja,
a somatória de R$ 2.500.000,00 com R$ 333.333,33.

Lembramos que para que não seja considerada uma antecipação de herança (antecipação de le-

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gítima) o doador deverá fazer constar expressamente da doação ou do testamento que: a) os bens
doados proveem de sua parcela disponível; e b) que a doação não representa uma antecipação de
legítima. Havendo esta disposição, o herdeiro não é obrigado a informar a doação no inventário,
estando dispensado de realizar a colação.

4.1.6. Compra e venda entre ascendentes e descendentes


A compra e venda entre ascendentes e descendentes pode ser anulada se for feita sem a anu-
ência dos demais herdeiros e de seus respectivos cônjuges, ressalvado o caso do casamento ser
regido pela separação total de bens.
Inicialmente a questão era avaliada pela ótica de eventual precificação incorreta ou que vise
beneficiar determinado herdeiro em detrimento dos demais. Atualmente, entende-se haver risco
de nulidade em toda e qualquer operação de venda entre ascendentes e descendentes caso não seja
obtida a anuência dos demais herdeiros de mesma categoria e respectivos cônjuges.

4.1.7 Reversão e revogação


Via de regra a doação é feita em caráter irrevogável e irretratável, o que implica na completa
impossibilidade de reversão da doação. Porém há situações que permitem a aplicação de alguns
institutos especiais dentro da doação.
O primeiro instituto é o da reversão, pelo qual o doador pode estipular que caso o recebedor da
doação (donatário) faleça antes do doador, os bens doados retornarão ao patrimônio do doador.
É justamente por prever este retorno que se dá o nome de cláusula de reversão.
Já nos casos de revogação da doação estaremos falando de hipóteses de descumprimento das
regras e condições previstas na doação, especialmente na doação por encargo (item 4.1.3), ou da
revogação em virtude de ingratidão do donatário, que ocorre quando o donatário pratica atos
graves contra a pessoa do doador.
A revogação por ingratidão poderá ser requerida: I - se o donatário atentou contra a vida do
doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II - se cometeu contra ele ofensa física;
III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os
alimentos de que este necessitava.
A regra geral, porém, é de que a doação não pode ser revogada unilateralmente.

4.1.8. Usufruto
O usufruto constitui-se da manutenção do direito de usar e de fruir (colher frutos) de deter-
minado bem mesmo sem possuir a condição de proprietário. Em termos de planejamento su-
cessório, a doação com usufruto é comumente utilizada para a transferência da propriedade aos
herdeiros, ainda em vida, porém com o resguardo integral do uso do bem e da percepção de seus
frutos. O usufruto pode ser estabelecido de forma temporária ou vitalícia. Nos casos de doação
para fins de antecipação de sucessão o usufruto é estipulado sempre de forma vitalícia.

Exemplo de doação de bem imóvel em favor de herdeiros


A partir da realização da doação com cláusula de usufruto, os herdeiros passarão a ser os
proprietários do imóvel. Porém, por força do usufruto, será o doador o único que poderá usar
o bem (uso) ou eventualmente alugá-lo para gerar receita (fruição).

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4.1.9. Interesses de credores na doação


A legislação brasileira busca proteger os interesses dos credores contra a alienação de bens por
parte do devedor, não sendo lícito ao devedor se desfazer de seus bens de forma gratuita, através
de doação, sem que mantenha patrimônio suficiente para fazer frente às dívidas já contraídas pe-
rante terceiros, sob pena de caracterização de fraude.

Para refletir
A fraude poderá ocorrer pela doação de bens após a ciência da existência de dívida perante
terceiros de maneira a ficar sem patrimônio suficiente para responder pela dívida, situação
na qual será denominada ‘fraude contra o credor’. Por outro lado, caso a dívida já esteja em
execução judicial, a alienação gratuita dos bens por parte do devedor será denominada ‘fraude
à execução’.

4.2. Testamento
4.2.1. Conceito
O testamento é a forma de dispor sobre a parte disponível do patrimônio, devendo ser sempre
respeitada e resguardada a parcela legítima quando constatada a existência de herdeiros neces-
sários (item 3.2). A utilização do testamento pode auxiliar em muito o planejamento sucessório,
inclusive servindo como ferramenta para distribuição de bens de acordo com o perfil de cada her-
deiro ou, ainda, de estipulação de condição mais vantajosa para determinado herdeiro. A presença
e assessoria de advogado é recomendável para a lavratura do testamento, porém não obrigatória.

Testamento é regovável
O Código Civil define o testamento como um ato personalíssimo de caráter revogável, podendo
ser mudado a qualquer tempo, e que pode envolver a totalidade dos bens do testador, ou de
parte deles, para depois de sua morte. O testador que possuir herdeiros necessários poderá
a seu exclusivo critério estipular bens em favor de terceiros, desde que tal estipulação não
ultrapasse a metade de seu patrimônio, devendo sempre ser resguardada a parcela legítima.
Havendo herdeiros necessários (item 3.2), somente a parte disponível pode ser objeto de
testamento.
Vale lembrar que no caso de inexistência de herdeiros necessários o testamento poderá
abranger a totalidade dos bens do testador, pois não haverá a necessidade de resguardo da
parcela legítima. Assim sendo, havendo apenas herdeiros colaterais até 4º grau, o testador
pode destinar a integralidade de seu patrimônio a quem bem entender, podendo deixar de
contemplar totalmente os herdeiros colaterais.

O testamento também pode ser utilizado como meio para imposição de cláusulas restritivas
de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, conforme já visto para o caso da
doação (item 4.1.4).

4.2.2. Capacidade do testador


O testamento pode ser feito a qualquer tempo e livremente pelo testador, enquanto vivo e
detentor de capacidade civil, não sendo relevante se os motivos pelos quais fez o testamento são

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justos ou não. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de
parte deles, para depois de sua morte, sendo que a legítima dos herdeiros necessários não poderá
ser incluída no testamento.

4.2.3. Formas
O Código Civil fixa as formas e classificação dos testamentos, os quais podem ser ordinários
ou especiais. Os testamentos ordinários são o testamento Público, o testamento Cerrado e o tes-
tamento Particular.
O testamento público é aquele feito por tabelião através de lavratura de escritura em cartório.
É o testamento mais utilizado e o mais eficiente, pois o ato público se reveste de uma série de for-
malidades e possui fé pública. As boas práticas de planejamento sucessório recomendam sempre
a utilização deste tipo de testamento.
O testamento particular é aquele feito por documento particular e que pode ser escrito de
próprio punho ou por processo mecânico, tendo como condição de validade a assinatura do
documento por três testemunhas. Se escrito por processo mecânico, não poderá conter rasuras
nem espaços em branco. Com a morte do testador, o testamento deverá ser publicado em juízo,
com citação dos herdeiros legítimos para se manifestarem e apresentarem eventual impugnação.
Diferente dos demais tipos de testamento, nos quais é obrigatório o uso da língua vernácula, o
testamento particular pode ser escrito em língua estrangeira, contanto que as testemunhas que o
assinarem sejam capazes de compreender o idioma.
O testamento cerrado é elaborado pelo testador, cuja validade, porém, dependerá de aprovação
por parte do tabelião na presença de duas testemunhas. Aprovado o testamento, o tabelião passará
a fechar e coser (lacrar) o documento, entregando-o ao testador e fazendo registro do ato no livro
do cartório. Falecendo o testador, o testamento deverá ser apresentado ao juiz que o abrirá e o
fará registrar, ordenando seja cumprido, desde que não encontre vício externo que o torne nulo
ou suspeito de falsidade.
Além das opções acima, são consideradas como formas ordinárias de testamento os codicilos,
os quais, por ato do testador, são destinados a fazer disposições especiais sobre o seu enterro,
sobre esmolas de pouca monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos po-
bres de certo lugar, assim como legar móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal.
Em termos de segurança jurídica, recomenda-se a utilização do testamento público pois este é
dotado de fé pública, permanece arquivado oficialmente e não corre o risco de extravio, garantin-
do-se com isto o cumprimento da vontade do testador.

4.2.4. Testamenteiro
O testador deverá nomear um testamenteiro que será a pessoa responsável pela execução das
disposições constantes no testamento. O testamenteiro (responsável pela execução do testamen-
to) não se confunde com a figura do inventariante (responsável pela execução do inventário).
O testamenteiro, ao contrário do inventariante, não possui poder de gestão sobre os bens dei-
xados pelo falecido (espólio), limitando-se a promover a abertura e registro do testamento perante
o juiz e a acompanhar o trâmite do inventário visando garantir o cumprimento das disposições
testamentárias e a eficácia do testamento em si. Na falta de testamenteiro nomeado pelo testador,
a execução testamentária compete a um dos cônjuges, e, em falta destes, ao herdeiro nomeado
pelo juiz.

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Caberá ao testamenteiro, ainda, promover a defesa da validade do testamento em caso de even-


tual impugnação por parte de terceiros.

4.2.5. Herdeiro menor


Existindo herdeiro menor, os bens recebidos em decorrência da sucessão ficarão sob a gestão
do tutor legal, normalmente os ascendentes diretos (pai e mãe).
Porém, é comum ocorrer que o tutor legal não possua as aptidões julgadas apropriadas pelo
testador para a gestão dos bens e ativos do herdeiro menor, causando receio com relação ao que
possa ocorrer em caso de falecimento. Em casos como este, é possível ao testador, através de
cláusula específica de testamento, instituir um curador legal para substituir o tutor legal na admi-
nistração do patrimônio herdado pelo menor. Utilizando esta prerrogativa da lei o testador poderá
nomear um gestor/administrador mais eficiente dentro do perfil de bens e ativos que serão objeto
da herança.
Ainda, é possível utilizar este mecanismo para nomear um tutor legal em caso de falecimento
de ambos os pais, instituindo-se uma pessoa de confiança para manter a guarda do filho menor.
Na ausência de estipulação de tutor, a tutela será concedida aos parentes consanguíneos ascen-
dentes, preferindo-se os de grau mais próximo aos de grau mais remoto, ou, na falta destes, aos
parentes colaterais até o terceiro grau, também se preferindo os de grau mais próximo aos de grau
mais remoto.

4.2.6. Cláusulas restritivas


Assim como no caso da doação (item 4.1.4), o testador também pode prever certas restrições
com relação aos bens objeto de testamento. São as chamadas cláusulas restritivas que se dividem
em: a) inalienabilidade; b) impenhorabilidade; e c) incomunicabilidade.
A cláusula de inalienabilidade consiste na proibição de alienação, a qualquer título, do bem
testado. Com isto, o herdeiro fica impedido de se desfazer do bem. A cláusula de inalienabilidade
pode ser fixada de forma temporária ou vitalícia. Se temporária, deverá o testador prever por
quanto tempo vigorará. Se vitalícia, vigorará até o falecimento do herdeiro.

Inalienabilidade no testamento
É comum o uso de cláusula de inalienabilidade na doação de bens a pessoas que costumem se
endividar ou que possuam histórico de dilapidação de patrimônio. No testamento de pais para
filhos, a cláusula vitalícia de inalienabilidade também garante que o bem chegue aos netos,
pois o pai não poderá dele se desfazer.

A cláusula de impenhorabilidade, por sua vez, impede que credores do herdeiro possam atingir
os bens da herança em virtude de dívidas que estejam em execução judicial.

Impenhorabilidade no testamento
É comum o uso de cláusula de impenhorabilidade no testamento feito em favor de pessoas
que costumem se endividar e costumem ter problemas de crédito. Com a impenhorabilidade,
o herdeiro fica resguardado com relação à ação de credores sobre os bens herdados.

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A cláusula de incomunicabilidade impede que sobre o bem herdado se gere comunhão. Como
já visto, os bens comunicáveis ensejam a criação de patrimônio conjunto (comunhão – vide item
2.1). Ao estabelecer a cláusula de incomunicabilidade o testador garante que sobre o bem não re-
caiam direitos matrimoniais de cônjuges e companheiros, independentemente do regime de bens
adotado pelo casal.

Incomunicabilidade no testamento
Como visto no item 2.1.3, a imposição de cláusula de incomunicabilidade impede inclusive a
formação de patrimônio comum até no regime da comunhão parcial de bens. Ainda, a cláusula
de incomunicabilidade é um meio de se transmitir herança a uma pessoa casada garantindo-
se a manutenção integral dos bens na propriedade desta pessoa mesmo no caso de divórcio.

O Código Civil permite, ainda, que o testamento possa ser utilizado sobre a parcela legítima
unicamente para fins de estipulação de cláusulas restritivas, desde que o testador apresente um
justo motivo para tanto. Via de regra, o motivo apresentado é a incerteza com relação a atos futu-
ros e a preocupação com eventual dilapidação de patrimônio ou insucesso de empreendimentos
do herdeiro.

4.3. Seguro de vida


Há de se ter em mente que processos de inventário podem se tornar demorados em caso de
litígios ou de bens que possuam dívidas atreladas, o que torna muito longo o ciclo entre o faleci-
mento do sucedido e o recebimento do patrimônio por parte do sucessor.

Para refletir
Os seguros de vida são ferramentas muito úteis em termos de planejamento sucessório sob
a ótica da necessidade de liquidez imediata após o falecimento e do recebimento de valores
independentemente do trâmite do inventário. Em inventários litigiosos é comum existir um
problema de liquidez para os herdeiros, pois a distribuição dos bens estará condicionada
ao encerramento do inventário. Em casos de elevado patrimônio imobilizado e com pouca
liquidez, o seguro de vida pode ser usado como uma ferramenta capaz de outorgar a liquidez
necessária para a própria manutenção do patrimônio e pagamento dos custos do inventário.
Ainda, os seguros de vida permitem a livre estipulação de beneficiários, podendo também ser
usado o seguro como forma de destinação de recursos a determinado herdeiro específico ou
a terceiros que não façam parte da sucessão hereditária.

Outro ponto de suma relevância para o planejamento sucessório é o fato de que os valores re-
cebidos a título de seguro de vida não respondem por eventuais dívidas do falecido, como ocorre
com os bens recebidos por herança (item 3.5). Assim sendo, o seguro de vida é uma ferramenta
altamente valiosa para o planejamento da sucessão de pessoas que tenham dívidas.
Ainda, sob a ótica fiscal, a opção por seguros de vida se mostra interessante em virtude da
isenção prevista para os valores recebidos a título de indenização.

4.4. Planos de previdência


Assim como os seguros de vida, os planos de previdência podem ser utilizados para fins de

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liquidez imediata e de recebimento de valores sem a necessidade de aguardar o encerramento do


inventário. Os aportes feitos em planos de previdência não se submetem ao procedimento de
inventário, podendo ser recebidos pelos beneficiários independentemente do trâmite da partilha.
A exemplo dos seguros de vida, os planos de previdência também:
• Permitem a livre nomeação de beneficiários;
• Os valores recebidos pelos beneficiários não respondem por eventuais dívidas do (a) fale-
cido (a);
• Há isenção para os valores recebidos a título de indenização.

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5. ESTRUTURAS DE
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5.1. Holding
5.1.1. Holding de participações
O termo holding tem origem no direito estrangeiro, especialmente o norte-americano. Aplicado
ao direito societário identifica uma sociedade que tem como objeto a participação em outras so-
ciedades, participando do capital destas em níveis suficientes para controlá-las. Mas a sociedade
holding também pode ter como escopo a titularidade e controle de determinado patrimônio, bens
ou direitos.
Usualmente o termo está associado a empresa controladora de um grupo de empresas que,
por meio da titularidade total ou parcial dos respectivos capitais sociais, exerce o efetivo poder de
controle do grupo, tomando decisões e determinando os rumos dos negócios de acordo com sua
vontade. Trata-se da holding de participações, também conhecida como holding pura.
Com a utilização de uma holding é possível efetivar e centralizar as decisões e a administração
das sociedades familiares bem como do respectivo patrimônio alocado. Com a criação de uma
holding de participações (ou holding pura) poderá se criar um ambiente familiar que permita a cen-
tralização do controle do grupo de empresas e que, ainda, possa ser utilizado como mecanismo
de ingresso de herdeiros na operação.
Por fim, podemos destacar também a possibilidade de utilização da holding de participações para
fins sucessórios através do ingresso de herdeiros em posições minoritárias que, porém, lhes per-
mitam dar continuidade aos negócios da família em caso de falecimento do sócio majoritário da
empresa. Para isto é necessário adotar algumas cautelas de cunho societário de forma a assegurar
a continuidade da gestão.

5.1.2. Holding imobiliária


A chamada holding imobiliária é, na prática, uma empresa destinada à alocação de ativos imobili-
ários do grupo familiar na qual será centralizada a gestão do patrimônio e unificadas as atividades
a ele relativas. Uma das vantagens mais comuns para as holdings imobiliárias é a possibilidade de
planejamento tributário para fins de redução da carga tributária incidente sobre a locação de bens
imóveis, quando comparada com a tributação que ocorre com as pessoas físicas.
A renda decorrente de aluguéis recebida diretamente por pessoas físicas é tributada de acordo
com a Tabela Progressiva Mensal, sendo posteriormente sujeita a ajuste anual por ocasião da
Declaração do IRPF. A alíquota da renda de aluguéis, portanto, pode atingir o patamar de 27,5%.
Em contrapartida, uma pessoa jurídica ao receber uma receita de locação de imóveis próprios
poderá, em caso de opção pelo regime de tributação do Lucro Presumido submeter-se a uma

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alíquota de 11,33% a 14,53%. Eventual opção pelo regime do Lucro Real deveria ser avaliada de
acordo com a relação de despesas incorridas pela holding imobiliária, pois neste a relação ‘receita/
despesas’ gera um impacto direto na carga tributária efetiva. O mais comum é que a holding imo-
biliária opte pelo regime do Lucro Presumido.
É importante destacar que a transmissão de propriedade de bens imóveis para uma holding imo-
biliária é operação tributável pelo Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis.
Sob a ótica sucessória, a holding imobiliária permite que os negócios da empresa não sejam afe-
tados diretamente pela morte de seu fundador, permitindo a continuidade dos negócios dentro da
normalidade enquanto realizado o procedimento de inventário.
No que diz respeito à partilha de bens, a utilização de uma holding imobiliária permite a unifica-
ção dos imóveis da família numa única unidade societária e possibilita que os herdeiros recebam
como herança o percentual de quotas sociais ou ações que lhes cabe por lei, permitindo uma
partilha mais simples e rápida do que uma partilha de bens imóveis.

5.1.3. Holding patrimonial


A holding patrimonial é uma estrutura semelhante a holding imobiliária, porém destinada a cen-
tralizar a gestão de uma gama maior de ativos, imobiliários ou não. As vantagens de sua utilização
equiparam-se às da holding imobiliária.

5.2. Fundos de investimentos


5.2.1. Regras gerais e especiais
A IN CVM 555 dispõe, em relação às cotas dos fundos de investimento, que as mesmas não
podem ser objeto de cessão ou transferência, exceto nos casos de:
I. Decisão judicial ou arbitral;
II. Operações de cessão fiduciária;
III. Execução de garantia;
IV. Sucessão universal;
V. Dissolução de sociedade conjugal ou união estável por via judicial ou escritura pública que
disponha sobre a partilha de bens; e
VI. Transferência de administração ou portabilidade de planos de previdência.
Consequentemente, para efeitos sucessórios, a regra geral das aplicações em fundos de investi-
mento é que as cotas entram no inventário.

5.2.2. Fundos fechados


Uma estrutura bastante comum para planejamento sucessório é a criação de um fundo fechado
exclusivo ou restrito, com CNPJ próprio, que apresenta algumas vantagens sobre aplicar direta-
mente como pessoa física:
• Não há incidência de IR sobre ganho de capital para movimentações dentro do fundo;
• Ganhos em ativos do fundo são compensados para efeito de IR por eventuais prejuízos de ou-
tros ativos do fundo;
• O fundo, por ter um único valor de cota, facilita o acompanhamento da rentabilidade e do valor
investido;

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• Os investidores podem trocar o gestor e/ou o administrador e/ou o custodiante, sem ter que
resgatar a carteira de investimentos do fundo.
Especificamente do ponto de vista sucessório, um investidor que queira definir como irá deixar
a herança no caso de sua morte, poderá doar em vida determinada quantidade de cotas para cada
herdeiro, com usufruto do investidor.

Exemplo
Suponha um fundo exclusivo fechado com 100 cotas, valendo R$ 500.000 cada. O Patrimônio
Líquido do fundo é, portanto, R$ 50 milhões. O investidor poderá doar em vida, por exemplo,
30 cotas para o herdeiro A, 30 para o herdeiro B e 40 para o herdeiro C, sempre respeitando
a legislação em vigor. O usufruto das cotas doadas é do investidor.

Considerando que a transmissão de valores na sucessão é um processo demorado, a vantagem


do fundo exclusivo é que os valores continuam rentabilizando, pois o gestor responsável está
autorizado a fazer movimentações internas, embora o fundo esteja bloqueado para resgates e
aplicações. Isto garante que os recursos não fiquem parados durante o processo.

5.3. Exterior
5.3.1. Bens e direitos no exterior
Toda pessoa física pode ter bens e direitos no exterior, bastando para tanto possuir origem lícita
dos recursos utilizados em sua aquisição, movimentação oficial de tais recursos para a operação
de aquisição e, ainda, declarar tais bens e direitos à Secretaria da Receita Federal, através da De-
claração de Imposto de Renda, e ao Banco Central do Brasil, através da Declaração de Capitais
Brasileiros no Exterior caso estes bens e direitos sejam em valor superior a US$ 100.000,00.
O investimento direto na pessoa física não costuma se mostrar benéfico do ponto de vista tri-
butário pois não permite a compensação de perdas de determinado investimento com ganhos de
outro, sendo recomendável, neste sentido, a realização do investimento através de uma estrutura
jurídica no exterior, como empresa offshore ou fundo exclusivo, por exemplo.
Ainda no que diz respeito à titularidade de bens e direitos no exterior diretamente em nome da
pessoa física, há de se atentar para os custos sucessórios de cada jurisdição onde se localizem tais
bens e direitos, pois em caso de falecimento do titular, seus herdeiros terão que se submeter aos
custos locais relacionados à sucessão.

Para refletir
Um exemplo clássico de elevados custos de sucessão são os Estados Unidos da América, sendo
comum que os custos e impostos na sucessão atinjam percentuais elevados, chegando a 40%
do valor dos bens e direitos.

Para fins de proteção com relação a custos sucessórios é igualmente recomendada a utilização
de estruturas internacionais como meio de aquisição de bens e direitos, especialmente estruturas
offshore. Ainda, é importante que a empresa offshore esteja localizada numa jurisdição que não
imponha elevados custos sucessórios.

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Estrutura offshore
Centralizando os ativos numa estrutura offshore a pessoa física passa a ser detentora de um
único tipo de ativo: as ações da empresa offshore. Assim sendo, em caso de falecimento,
somente será necessário inventariar as ações de acordo com os custos e legislação da jurisdição
onde a empresa encontra-se sediada. Os ativos, por sua vez, não se submeterão à sucessão,
pois continuarão de propriedade da empresa offshore.

5.3.2. Trust
Os trusts são uma figura comum no exterior, porém não possuem similar ou equivalente no
direito brasileiro, motivo pelo qual não é possível qualificá-los dentro das normas nacionais. Jus-
tamente por conta deste problema conceitual é que os trusts são utilizados unicamente para fins
de gestão de ativos no exterior.
Em termos conceituais, trata-se de uma instituição constituída por um instituidor (settlor) a
partir da transferência de determinado patrimônio para que o trust, através de seu administrador
nomeado (trustee), se encarregue da guarda e administração de tais bens, sempre no melhor inte-
resse do beneficiário indicado pelo fundador. A principal característica do trust é o fato de haver a
efetiva transmissão de propriedade dos bens do instituidor (settlor) ao trust.

Trust e patrimônio
TRUST: sujeitos envolvidos
Instituidor (settlor) – Cria o trust, transferindo parte ou todo o seu patrimônio para um
fiduciante (trustee).
Fiduciante (trustee) - Recebe a propriedade deste patrimônio e o administra em seu nome,
segundo as instruções fixadas pelo instituidor (settlor) e sempre em benefício e no melhor
interesse do beneficiário.
Fiduciário (beneficiary) – É o beneficiário do trust.
Pode existir, ainda, a figura do protector, indicado expressamente pelo instituidor, que terá
controle sobre o fiduciante (trustee), incluindo até poderes para destituí-lo e nomear outro.

O trust se forma com e após a manifestação expressa e formal de vontade do instituidor (settlor),
devendo nomear e identificar o fiduciante (trustee), devendo este formalizar também a sua aceita-
ção. Após a aceitação, é efetivada a transferência do patrimônio para a titularidade do fiduciante
(trustee), realizando, também, a devida identificação de todos os fiduciários (beneficiaries), planos
de sucessão e identificação da individualização da distribuição do patrimônio. Ainda, é possível
ser estabelecida uma forma de revogabilidade do trust, o que, ocorrendo, implicará no retorno dos
bens à esfera patrimonial do settlor.
O trust é comumente utilizado como forma de planejamento da sucessão no exterior, es-
tabelecendo-se as regras de administração do patrimônio em favor dos herdeiros em caso de
falecimento do settlor. Para isto, poderão ser previstas de antemão as regras de participação e
de distribuição em favor dos herdeiros, regras estas que deverão ser estritamente cumpridas
pelo trustee.
Além da finalidade sucessória os trusts podem ser utilizados para fins de proteção patrimonial e
até de planejamento tributário, a depender da jurisdição onde se localizem.

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5.3.3. Fundações
Diferentemente dos trusts, as fundações possuem uma denominação legal no Brasil. De acordo
com o Código Civil, “para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou
testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se
quiser, a maneira de administrá-la”. Em outras palavras o conceito de fundação parte da alocação
de bens associada a uma determinada finalidade previamente definida.
Porém, em território nacional, as fundações somente poderão ser constituídas para as finalida-
des de: I – assistência social; II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III – educação; IV – saúde; V – segurança alimentar e nutricional; VI – defesa, preservação e con-
servação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII – pesquisa cientí-
fica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção
e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; VIII – promoção da ética, da
cidadania, da democracia e dos direitos humanos; e IX – atividades religiosas.
Já as fundações constituídas no exterior não encontram tais limitações com relação a seu obje-
to, motivo pelo qual podem ser utilizadas para finalidade sucessória, alocando-se o patrimônio e
definindo-se a finalidade da fundação a administração de tais bens em benefício do grupo familiar,
no caso de fundações puras, ou do grupo familiar e de terceiros indicados pelo fundador, no caso
de fundações mistas.
A administração da fundação caberá ao conselho de fundação, cujos membros serão indicados
pelo fundador, e aos quais competirá direcionar a administração da fundação dentro de suas fina-
lidades previamente determinadas em documento particular e sigiloso firmado entre o fundador
e o conselho. O estatuto da fundação, por sua vez, poderá definir a forma pela qual as determina-
ções do fundador poderão ser alteradas ou revogadas.
É possível, ainda, a nomeação de um protetor para fins de supervisionar as atividades do con-
selho da fundação ou para substituir seus membros em caso de falecimento do fundador sem que
este tenha indicado seu sucessor.
No caso das fundações, estas possuem personalidade jurídica própria. Assim, uma fundação
é uma universalidade de bens e direitos, distinta da dos fundadores, beneficiários e administra-
dores, instituída por escrito, seja por escritura pública ou testamento, podendo ter um ou mais
fundadores.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 61

6. ASPECTOS TRIBUTÁRIOS

Com relação aos aspectos tributários da sucessão é necessário rememorar alguns conceitos
tributários relevantes.
Fato gerador: é o fato hipotético previsto em lei cuja ocorrência material enseja a obrigatorie-
dade do pagamento do tributo.

Exemplos
No caso do Imposto sobre a Renda – IR: auferir renda ou proventos de qualquer natureza.
No caso do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA: ser proprietário de
veículo automotor.
No caso do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU: ser proprietário de bem imóvel dentro
do perímetro urbano do município.

Base de cálculo: é o valor utilizado como base para o cálculo do valor do tributo. A base de
cálculo deve sempre estar relacionada ao fato gerador.

Exemplos
No caso do Imposto sobre a Renda – IR, a base de cálculo é o valor da renda ou dos proventos
auferidos pelo contribuinte.
No caso do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, a base de cálculo
corresponde ao valor do veículo automotor.
No caso do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, a base de cálculo corresponde ao valor
venal do imóvel.

Alíquota: é o percentual aplicável sobre a base de cálculo para fins de determinação do valor
do tributo a ser pago. Corresponde à parcela da riqueza que deverá ser revertida ao Poder Público
a título de tributo. A alíquota deve ser multiplicada pela base de cálculo para fins de apuração do
tributo devido.

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62 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Exemplos
No caso do Imposto sobre a Renda – IR, as alíquotas são progressivas, partindo de 0% (faixa
da isenção), passando pelos patamares de 7,5%, 15%, 22,5% e chegando à alíquota máxima
de 27,5%, no caso das pessoas físicas.
No caso do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, a alíquota, no
Estado de São Paulo, é de 4%. Por se tratar de tributo de competência dos Estados e do
Distrito Federal, as alíquotas variam de acordo com o local de registro do veículo.
No caso do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, a alíquota é de 1%, no Município de
São Paulo. Por se tratar de tributo de competência dos Municípios, as alíquotas variam de
acordo com o local do imóvel.

Sujeito ativo: ente público competente ao qual o tributo é destinado. Em outras palavras, o
sujeito ativo é o credor do tributo dentro da obrigação tributária.

Exemplos
No caso do Imposto sobre a Renda – IR, o sujeito ativo do tributo é a União Federal.
No caso do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, o sujeito ativo é o
Estado ou o Distrito Federal.
No caso do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, o sujeito ativo é o Município.

Sujeito passivo: é o contribuinte a quem compete pagar o tributo, em função de sua vincu-
lação com a ocorrência do fato gerador. O sujeito passivo corresponde ao devedor da obrigação
tributária.

Exemplos
No caso do Imposto sobre a Renda – IR, o sujeito passivo é a pessoa que tiver auferido renda.
No caso do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, o sujeito passivo é
o proprietário do veículo automotor.
No caso do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, o sujeito passivo é o proprietário do
imóvel urbano.


6.1. ITCMD - Imposto de Transmissão Causa Mortis ou Doação
6.1.1. Competência
A competência para instituição e cobrança do ITCMD é dos Estados e Distrito Federal.

6.1.2. Fato gerador


Os fatos geradores do ITCMD são as transmissões de bens e direitos por ocasião de falecimen-
to/causa mortis (herança e legado) ou doação.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 63

6.1.3. Base de cálculo


A base de cálculo corresponde ao valor econômico dos bens transmitidos.

6.1.4. Alíquota
A alíquota é definida por cada um dos Estados e pelo Distrito Federal dentro de sua competên-
cia tributária, sendo porém limitada a uma alíquota máxima de 8% (oito por cento).

6.1.5. Contribuinte
Os contribuintes são, em geral, as pessoas que receberem os bens por doação, herança e legado,
sendo denominados pela legislação, respectivamente, de donatário, herdeiro e legatário. Porém, cada
Estado pode determinar que o contribuinte seja qualquer uma das partes da operação.

6.1.6. Momento de pagar


O vencimento do tributo varia de acordo com a legislação estadual editada por cada Estado
da Federação e Distrito Federal. Para o caso de sucessão o pagamento do ITCMD é obrigatório
como condição de encerramento da partilha dos bens.

6.1.7. Isenções
As isenções do tributo variam de acordo com a legislação estadual editada por cada Estado da
Federação e Distrito Federal.

6.2. ITBI Imposto sobre Transmissão inter vivos de Bens Imóveis


6.2.1. Competência
A competência para instituição e cobrança do ITBI é dos Municípios.

6.2.2. Fato gerador


O fato gerador do ITBI é a transmissão onerosa e inter vivos (ou seja, não decorrente de fale-
cimento) de bens imóveis, de direitos reais sobre bens imóveis (exceto garantias e servidões) e a
cessão de direitos relativos a imóveis.

6.2.3. Base de calculo


A base de cálculo é o valor venal dos imóveis ou direitos imobiliários transmitidos.

6.2.4. Alíquota
A alíquota é definida por cada um dos Municípios dentro de sua competência tributária.

6.2.5. Contribuinte
O contribuinte são os adquirentes dos bens ou direitos sobre imóveis que estejam sendo trans-
mitidos ou os cedentes de direitos relativos a compromissos de venda e compra de bens imóveis.

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64 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

6.2.6. Momento de pagar


O vencimento do tributo varia de acordo com a legislação municipal editada por cada Municí-
pio, porém o pagamento do ITBI é requisito para a formalização da transmissão de propriedade,
motivo pelo qual deve ser pago antecipadamente.

6.2.7. Isenções
As isenções do tributo variam de acordo com a legislação municipal editada por cada Município.

6.3. IR - Imposto de Renda


6.3.1. Competência
A competência para instituição e cobrança do IR é da União Federal.

6.3.2. Fato gerador


O fato gerador, no caso das sucessões, é o acréscimo patrimonial implementado através de
ganho de capital realizado pelo espólio, uma vez que para os herdeiros a herança é isenta do IR,
conforme destacado no item 2.3.6 do Módulo V – Planejamento Fiscal.

6.3.3. Base de cálculo


A base de cálculo do IR no caso de sucessão corresponde à diferença positiva entre o valor
previamente declarado pelo sucedido em sua Declaração de IR (valor de aquisição) e o valor pelo
qual for feita a transmissão por ocasião do falecimento (valor de alienação).
Destaca-se que somente haverá ganho de capital nos casos nos quais os herdeiros optarem por
atualizar os valores para fins de sucessão, utilizando valores venais ou valores de mercado ao invés
do valor histórico constante na Declaração de IR do sucedido. Mantendo-se o valor previamente
declarado pelo sucedido, não haverá incidência de IR.
Imaginemos que o falecido possuísse um imóvel adquirido por R$ 500.000,00 há muitos anos
e estivesse declarado no IRPF por esse valor. Por ocasião de sua sucessão, os herdeiros verifi-
cam que o imóvel possui valor de mercado de R$ 1.100.000,00. Nesse cenário, caso os herdeiros
inventariem o bem por R$ 500.000,00, não haverá tributação pelo IRPF em virtude da isenção
legal. Por outro lado, caso os herdeiros optem por realizar a transmissão pelo valor de mercado,
qual seja R$ 1.100.000,00, este acréscimo de R$ 600.000,00 será considerado ganho de capital
na modalidade de lucro imobiliário, submetendo-se portanto à incidência do IRPF. Por conta da
incidência do IRPF, é importante que se avalie sempre a conveniência e viabilidade da atualização
de quaisquer valores por ocasião da sucessão.

6.3.4. Alíquota
A alíquota será de 15% sobre a parcela dos ganhos que não ultrapassar R$ 5.000.000,00; 17,5%
sobre a parcela dos ganhos que exceder R$ 5.000.000,00 e não ultrapassar R$ 10.000.000,00; 20%
sobre a parcela dos ganhos que exceder R$ 10.000.000,00 e não ultrapassar R$ 30.000.000,00; e
22,5% sobre a parcela dos ganhos que ultrapassar R$ 30.000.000,00.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 65

6.3.5. Contribuinte
O contribuinte, no caso do IR na sucessão, será o espólio.

6.3.6. Momento de pagar


O imposto devido sobre ganho de capital deve ser pago pelo inventariante até a data prevista
para a entrega da Declaração Final de Espólio.

6.3.7. Isenções
No caso de alienação de bens imóveis, é possível aplicar um percentual de redução sobre o
ganho de capital obtido pela venda. Este percentual é aplicado sobre o ganho de capital, determi-
nando qual parcela do ganho será isenta de imposto de renda, e sobre qual parcela incidirá o im-
posto de renda. Em síntese, quanto maior for o período em que o alienante deteve a propriedade
do bem, maior será o percentual de redução.
No caso de alienação de bens imóveis adquiridos até 1969, o alienante usufruirá de um percen-
tual de redução do ganho de capital de 100% (cem por cento), zerando o lucro tributável.
Para imóveis adquiridos pelo alienante entre os anos de 1970 e 1988 o percentual de redução
de ganho de capital seguirá a tabela regressiva abaixo, devendo ser pago o IRPF sobre o saldo de
ganho de capital após a aplicação do coeficiente de redução.

Ano de Aquisição ou Percentual de Ano de Aquisição ou Percentual de


Incorporação Redução incorporação Redução
1969 100% 1979 50%
1970 95% 1980 45%
1971 90% 1981 40%
1972 85% 1982 35%
1973 80% 1983 30%
1974 75% 1984 25%
1975 70% 1985 20%
1976 65% 1986 15%
1977 60% 1987 10%
1978 55% 1988 5%

A legislação prevê ainda a aplicação de outros percentuais de redução para imóveis adquiridos
a partir de 1988, através da aplicação de fórmulas matemáticas que levam em consideração o nú-
mero de meses decorridos entre a data de aquisição e a data da venda do imóvel.
O aplicativo GCAP, disponibilizado para download no site da Receita Federal, aplica os percen-
tuais de redução automaticamente.

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66 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Planejamento sucessório

1. Roberta e Camilo são casados em co- A. O apartamento que Camilo tenha ad-
munhão parcial de bens. É correto afir- quirido por herança durante o casa-
mar que: mento, comunica-se com a esposa, a
qual adquire o direito à meação.
B. O veículo que Camilo tenha adquirido
durante o casamento, em função de
doação de seu melhor amigo, comuni-
ca-se com a esposa, a qual adquire o
direito à meação.
C. Mesmo na constância do matrimônio,
não se comunicam as rendas de caráter
salarial, ou seja, tais valores não ense-
jam direito à meação.
D. Caso Camilo tenha adquirido um
apartamento antes do matrimônio, tal
patrimônio será exclusivamente seu,
não gerando direito à meação para a
esposa.

2. A respeito da comunhão universal de A. Comunicam-se todos os bens anterio-


bens, é correto afirmar que: res e posteriores ao casamento, com
exceção daqueles adquiridos por doa-
ção, herança ou legado.
B. Comunicam-se todos os bens anterio-
res e posteriores ao casamento, inclu-
sive os adquiridos por doação, heran-
ça ou legado, excetuando-se apenas
aqueles adquiridos com cláusula de
incomunicabilidade.
C. Comunicam-se todos os bens adqui-
ridos na constância do casamento,
inclusive os adquiridos por doação,
herança ou legado, excetuando-se
os bens anteriores ao casamento e
aqueles adquiridos com cláusula de
incomunicabilidade.
D. Comunicam-se todos os bens adquiri-
dos na constância do casamento, inclu-
sive os adquiridos por herança ou lega-
do, excetuando-se aqueles adquiridos
por doação.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 67

3. Renata, casada em regime de separação A. Jorge não será considerado herdeiro


total de bens com Jorge, faleceu hoje, necessário, tendo direito apenas à
sem deixar descendentes nem ascenden- meação.
tes, deixando apenas dois irmãos. Sobre B. A herança deverá ser concedida aos ir-
a sucessão legítima, é correto afirmar mãos da Renata.
que:
C. A herança deverá ser inteiramente con-
cedida a Jorge, ainda que o casamento
tenha se dado no regime de separação
total de bens.
D. Jorge terá direito apenas à meação, en-
quanto que os irmãos da Renata terão
direito à herança.

4. São herdeiros necessários, em ordem de A. Descendentes, ascendentes, cônjuge e


vocação hereditária: colaterais até 4º grau.
B. Descendentes, ascendentes, cônju-
ge, colaterais até 4º grau e Município/
União Federal.
C. Descendentes, ascendentes e cônjuge/
companheiro.
D. Cônjuge, descendentes e ascendentes.

5. Sobre a União Estável, é correto afirmar A. Para sua caracterização os companhei-


que: ros precisam residir no mesmo imóvel.
B. Para sua caracterização é necessário o
transcurso do prazo mínimo de 2 anos.
C. O regime de bens equipara-se à co-
munhão parcial de bens, salvo dispo-
sição diversa em contrato ou escritura
pública.
D. Em caso de falecimento, o companhei-
ro sobrevivente não possui direitos he-
reditários.

6. Suzete, viúva, faleceu deixando 1 filho A. R$ 20.000.000,00 para o único filho


vivo e 1 filho premorto que, por sua vivo.
vez, deixou 2 filhos (netos de Suzete). B. R$ 10.000.000,00 para o filho vivo e
Suzete também deixou um irmão e dois R$ 5.000.000 para cada um dos netos
sobrinhos. O patrimônio deixado é de através do direito de representação do
R$ 20.000.000,00. Sua herança, portanto, filho premorto.
será dividida da seguinte forma:
C. R$ 6.666.666,00 para o filho vivo e
R$ 6.666.666,00 para cada um dos ne-
tos através do direito de representação.
D. R$ 5.000.000,00 para o filho vivo,
R$ 5.000.000,00 para cada um dos ne-
tos e R$ 5.000.000,00 para o irmão.

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68 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

7. Analise as afirmações a seguir em rela- A. I e II.


ção ao testamento: B. II e III.
I. É irrevogável e deverá ser sempre re- C. I e III.
gistrado em cartório.
D. I, II e III.
II. O testador que possuir herdeiros ne-
cessários poderá a seu exclusivo crité-
rio estipular bens em favor de tercei-
ros, até a metade do seu patrimônio.
III. Caso não existam herdeiros neces-
sários, o testador poderá dispor de
100% do seu patrimônio no testa-
mento.
É correto o que se afirma apenas em

8. Analise as afirmações a seguir respeito A. I e II apenas.


do ITCMD. B. I apenas.
I. A base de cálculo corresponde ao valor C. III apenas.
econômico dos bens transmitidos aos
D. I, II e III.
herdeiros.
II. A alíquota é de 4%, válida em todo o
território nacional.
III. A competência para instituição e co-
brança é da União Federal.
É correto o que se afirma em:

9. No testamento, cláusula que impede que A. Inalienabilidade.


credores do herdeiro possam atingir os B. Incomunicabilidade.
bens da herança em virtude de dívidas
C. Impenhorabilidade.
que estejam em execução judicial.
D. Inexecutabilidade.

10. Mario faleceu hoje. Ele era solteiro, sem A. O sobrinho herdará todo o patrimônio,
descendentes nem ascendentes. Sua úni- por direito de representação da irmã
ca família era um sobrinho, filho de uma falecida.
irmã, também falecida. Mario tinha um B. O patrimônio será considerado herança
patrimônio de R$ 2.000.000,00. É correto jacente, pois não existem herdeiros ne-
afirmar que: cessários.
C. O patrimônio deveria ser transmitido
para a irmã, entretanto como ela já é
falecida e não há direito de representa-
ção de sobrinhos, o patrimônio passa a
ser do Estado.
D. O patrimônio passará a ser 50% do so-
brinho, por direito de representação da
irmã falecida, e 50% do Estado.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 69

Exercício de fixação - respostas comentadas

QUESTÃO 01 – Alternativa correta: D. No regime de comunhão parcial de bens, o patrimônio


anterior ao casamento não se comunica com a esposa. Já as rendas de caráter salarial ensejam
direito a meação.
QUESTÃO 02 – Alternativa correta: B. No regime da comunhão universal de bens todos os
bens, anteriores e posteriores ao casamento comunicam-se, ou seja, pertencem a ambos, em
igualdade de proporções. A exceção é, apenas, quanto aos bens recebidos com cláusula de
incomunicabilidade.
QUESTÃO 03 – Alternativa correta: C. O cônjuge casado no regime de separação total de bens
não tem direito à meação. Contudo, inexistindo descendentes e ascendentes, o cônjuge passa
a ter direito à herança, por força da vocação hereditária. Trata-se, no caso, de herança, e não
de meação.
QUESTÃO 04 – Alternativa correta: C. Descendentes, Ascendentes e cônjuge. Colaterais até 4º
grau e Município/União não são considerados herdeiros necessários nos termos da lei. Quanto
à alternativa “d”, mesmo se tratando das 3 categorias de herdeiros necessários, a ordem de
vocação hereditária está incorreta, pois primeiro vêm os descendentes, depois os ascendentes e
por fim o cônjuge.
QUESTÃO 05 – Alternativa correta C. Assim como no casamento, o regime padrão da união
estável é o da comunhão parcial de bens. Para caracterização da União Estável não há exigência
de prazo mínimo nem a necessidade de os companheiros residirem no mesmo imóvel. Em caso
de falecimento, os direitos do companheiro equiparam-se aos do cônjuge.
QUESTÃO 06 – Alternativa correta: B. A herança seria distribuída igualmente entre os dois
filhos, entretanto como um deles já tinha falecido (premorto), os dois filhos deste, netos da Su-
zete, recebem R$ 5.000.000,00 cada por direito de representação do falecido pai.
QUESTÃO 07 – Alternativa correta: B. A afirmação I é incorreta porque a) o testador poderá
revogar o testamento a qualquer momento e b) porque o testamento pode ser também um
instrumento particular.
QUESTÃO 08 – Alternativa correta: B. A afirmação II é incorreta, porque a alíquota varia de Es-
tado para Estado. A afirmação III é incorreta, porque a competência para instituição e cobrança
do ITCMD é dos Estados e do Distrito Federal.
QUESTÃO 09 – Alternativa correta: C. A cláusula de impenhorabilidade impede que os cre-
dores tenham acesso aos bens da herança em virtude de dívidas em execução. Já a cláusula
de inalienabilidade implica na proibição de vender o bem recebido em herança. A cláusula de
incomunicabilidade aplica-se a bens recebidos em herança ou doação por um dos cônjuges que
não geram comunhão, ou seja, não se comunicam.
QUESTÃO 10 – Alternativa correta: A. O sobrinho herda 100% do patrimônio, pois tem direito
de representação da irmã falecida. Note que, neste caso, não há herdeiros necessários, apenas
colaterais. A chamada herança jacente ocorre quando não há descendentes, ascendentes, côn-
juge ou companheiro nem colaterais até 4º grau.

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70 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

RESUMO

Princípios do Planejamento Sucessório


O planejamento sucessório envolve um conjunto de instrumentos que visa facilitar a sucessão
do patrimônio da pessoa aos seus sucessores, e no caso de empresas familiares, viabilizar a con-
tinuidade do negócio. A necessidade de planejamento será tanto maior, quanto mais complexa a
estrutura familiar for.
Na elaboração do plano sucessório é preciso fazer projeções realistas das necessidades da famí-
lia em caso de falta do provedor, sendo a liquidez a necessidade mais imediata da família.
O planejador financeiro deverá propor a partilha dos bens junto aos herdeiros necessários e
eventuais beneficiários, respeitando as regras jurídicas vigentes na legislação brasileira, e aten-
dendo a vontade expressa de seu cliente. Proteção de familiares incapazes e doações de caráter
filantrópico também deverão ser consideradas.

Requisitos Legais
Comunicabilidade
Antes de se discutir os regimes de casamento é importante conhecer o conceito de comunica-
bilidade de bens, que é a forma de se gerar bens comuns, independentemente de qual deles tenha
adquirido o bem. Os bens comunicáveis são aqueles que formam propriedade conjunta. Os bens
incomunicáveis são aqueles que não formam propriedade conjunta, permanecendo sempre na
esfera patrimonial particular do cônjuge que o tenha adquirido.

Comunhão
A consequência da comunicabilidade de bens é o surgimento da comunhão. A comunhão é o
conjunto de bens e direitos, bem como de dívidas e obrigações, que são de propriedade conjunta
de ambos os cônjuges em igualdade de proporções.
Nesse cenário surgem os regimes de bens para disciplinar de que maneira os cônjuges poderão
ou não gerar propriedade comum (comunhão).
O Código Civil Brasileiro prevê 4 regimes de bens, quais sejam:

1. Separação Total de Bens


Regime pelo qual os bens permanecem sob a administração de quem adquiriu ou recebeu e,
portanto, não se comunicam. Cada cônjuge tem direito apenas ao seu patrimônio pessoal, não se
formando propriedade conjunta (comunhão).
Este regime de bens pode ser livremente estipulado antes do casamento através da lavratura de

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 71

pacto antenupcial (separação convencional) ou, ainda, pode ser obrigatório por lei em determina-
das hipóteses previstas no Código Civil (por exemplo, pessoa maior de 70 anos).

2. Comunhão Parcial de Bens


Regime pelo qual apenas os bens adquiridos onerosamente (ou seja, de forma não gratuita)
após o casamento se comunicam. Os bens recebidos a título de doação, herança ou legado (via
testamento) são considerados recebidos de forma gratuita e, portanto, não geram comunhão.
Os bens adquiridos antes do casamento continuarão pertencendo exclusivamente ao cônjuge
que os tenha adquirido.

3. Comunhão Universal de Bens


Regime pelo qual todos os bens, anteriores e posteriores ao casamento, são de propriedade
conjunta, com exceção dos bens recebidos por doação ou por legado (via testamento) com im-
posição de cláusula de incomunicabilidade. A opção pelo regime da comunhão universal de bens
deve obrigatoriamente ser formalizada por pacto antenupcial.

4. Participação Final nos Aquestos


Regime pelo qual cada cônjuge possui, na constância do casamento, patrimônio próprio como
se fosse casado pelo regime da separação total de bens. A peculiaridade deste regime reside, no
entanto, na forma pela qual ocorre a dissolução do matrimônio pois, por ocasião da dissolução,
todos os bens adquiridos a título oneroso na constância do casamento serão divididos por igual
entre os cônjuges, como aconteceria no regime da comunhão parcial de bens.

Pacto Antenupcial
É importante destacar que a escolha por um regime de bens diferente da comunhão parcial
de bens depende obrigatoriamente da lavratura de escritura pública de pacto antenupcial. Não se
admite nenhum tipo de pacto antenupcial por instrumento particular.

Reflexos Patrimoniais no Término da Sociedade Conjugal


O casamento se encerra pela morte de um dos cônjuges ou se dissolve através do divórcio.
Em caso de dissolução do casamento (divórcio) caberá aos cônjuges realizarem a partilha de
forma a individualizarem seu patrimônio, o qual corresponderá à somatória dos bens particulares,
acrescida da metade dos bens comuns, a chamada meação.
A meação é o direito que cada cônjuge tem à metade dos bens que compõem a comunhão.
Logo, a meação corresponde a 50% da comunhão.
Em caso de encerramento do casamento (morte do cônjuge) deverá ser instaurado o inventário
dos bens deixados pelo falecido, que deverá inicialmente determinar qual a meação de direito do
cônjuge sobrevivente, individualizando o patrimônio individual de cada cônjuge e direcionando o
patrimônio particular do falecido para seus herdeiros.

Diferença entre meação e herança


A meação é um direito matrimonial. A herança é um direito sucessório. Assim sendo, mesmo
no caso de morte de um dos cônjuges, os bens outorgados ao sobrevivente a título de meação não

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72 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

possuem natureza sucessória, tratando-se unicamente da distribuição de bens do casal em virtude


do encerramento do casamento pela morte de um dos cônjuges.

União Estável
É a convivência pública, contínua e duradoura, com o objetivo de constituir família.
Convivência Pública: para a caracterização da união estável é necessário que os compa-
nheiros possuam uma convivência pública, ou seja, que se apresentem à sociedade efetivamente
como um casal.

Contínua: o Código Civil instituiu a necessidade de que a convivência pública dos companhei-
ros ocorra de forma contínua.

Duradoura: é necessário que a convivência pública, além de contínua, seja duradoura. Porém,
o Código Civil não estipula nenhum prazo específico para que a convivência seja considerada
duradoura, prestigiando-se mais a dinâmica da relação do que o lapso temporal em si.

Com intuito de constituir família: a união estável requer a caracterização do intuito de consti-
tuir família, o que se entende como o estabelecimento de uma dinâmica de relacionamento asseme-
lhada ao casamento, incluindo deveres de lealdade e fidelidade, bem como sendo possível constatar
a mútua assistência, respeito e consideração mútuos e a vida em comum no domicílio do casal.
Os regimes de bens aplicáveis à união estável são os mesmos aplicáveis ao casamento.

Partilha de Bens em Conformidade com o Regime de Bens


Seja qual for o caso (união estável ou casamento) ou a forma de término (dissolução, morte ou
divórcio), a partilha de bens será sempre regida pelo regime de bens adotado pelos companheiros
ou cônjuges.

Doação Universal
A disposição de bens em vida é uma prerrogativa de qualquer pessoa. Porém por lei não é pos-
sível a realização da chamada doação universal, ou seja, a doação de todos os bens que a pessoa
possua. Esta regra visa garantir que o doador mantenha para si ao menos recursos mínimos de
subsistência, não podendo se desfazer de todo seu patrimônio e rendas. Ainda, há também restri-
ções à doação em vida de bens que representem mais da metade do patrimônio do doador quando
houver herdeiros necessários.

Legítima
A legítima representa um direito dos herdeiros necessários ao recebimento de, ao menos, me-
tade dos bens.

Herdeiros necessários
Os herdeiros necessários são:
a) os descendentes vivos (filhos, netos, bisnetos etc.);
b) os ascendentes vivos (pais, avós, bisavós etc.);

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c) o cônjuge ou o companheiro.
Existindo herdeiros necessários, a totalidade do patrimônio da pessoa viva (100%) poderá ser
dividida em duas parcelas: a) legítima (50%) que corresponde à parcela mínima obrigatória de titu-
laridade dos herdeiros; e b) disponível (50%) que corresponde à metade dos bens com relação aos
quais a pessoa viva tem plena liberalidade, seja para doar, seja para direcionar a terceiros através
de testamento.

Aspectos Legais da Sucessão


Abertura da sucessão
Ocorre no momento do óbito. A partilha e transferência dos bens do falecido dependerá, con-
tudo, da realização do procedimento formal de inventário.

Meação versus Herança


A meação é a metade do patrimônio comum (comunhão) à qual o cônjuge ou o companheiro
possui direito em função do matrimônio. O recebimento da meação pode ocorrer em virtude de
divórcio/dissolução ou de término da relação em virtude da morte.
Ocorrendo o falecimento de um dos cônjuges ou companheiro, o primeiro passo será pro-
mover a individualização do patrimônio de cada um dos envolvidos, apurando-se o patrimônio
particular (que não compôs a meação) e o patrimônio conjunto (comunhão), de acordo com o
regime de bens utilizado pelo casal.
O patrimônio comum de cada um corresponderá, portanto, à somatória dos bens particulares
havidos em vida (sobre os quais não se formou comunhão) e metade dos bens comuns, ou seja, a
parcela de 50% (meação) dos bens comuns do casal (comunhão).
Ao final deste procedimento, os bens que couberem ao falecido (bens particulares mais meação
do falecido) serão destinados à formação da herança e serão distribuídos a seus herdeiros confor-
me as proporções previstas no Código Civil.

Ordem de Vocação Hereditária


Termo técnico para definir a ordem de preferência com relação à herança deixada pela pessoa
falecida. A existência de herdeiros numa categoria mais próxima exclui o direito de herdeiros de
categoria mais distante.
A ordem é prevista pelo Código Civil, sendo que na existência de um herdeiro de determinada
categoria, os demais serão excluídos da sucessão, a saber:
1. Descendentes + Cônjuge
2. Ascendentes + Cônjuge
3. Cônjuge
4. Colaterais até quarto grau
5. Município e União Federal

1. Descendentes + Cônjuge
Todos os descendentes são considerados herdeiros necessários (filhos, netos, bisnetos etc.) e,
existindo descendentes, toda a herança será distribuída na categoria “descendentes + cônjuge”,
não sendo contemplados de nenhuma forma os ascendentes e os colaterais.

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Direito de Representação
É o direito que os descendentes do descendente premorto (já falecido na abertura da sucessão)
têm de receber a herança de seu falecido ascendente (por exemplo, direito que os netos têm de
receber a herança do avô no lugar de seu falecido pai).

2. Ascendentes + Cônjuge
Na ausência de descendentes, a herança será direcionada aos ascendentes (pais, avós, bisavós
etc.) em concorrência com o cônjuge sobrevivente.
Todos os ascendentes são considerados herdeiros necessários e, na ausência de descendentes,
toda a herança será distribuída na categoria “ascendentes + cônjuge”, não sendo contemplados
de nenhuma forma os colaterais.

3. Cônjuge
Na ausência de descendentes e ascendentes, a herança será integralmente concedida ao cônjuge
sobrevivente. Todas as regras sucessórias aplicáveis ao cônjuge se aplicam também ao companhei-
ro na união estável, não havendo diferenciação de direitos entre ambos.

4. Colaterais até quarto grau


Na ausência de descendentes, ascendentes e cônjuge sobrevivente, serão chamados a receber
a herança os herdeiros colaterais até quarto grau. Entende-se por colaterais os parentes que não
possuírem vínculo em linha reta descendente ou ascendente, mas que possuam um parente em
linha reta em comum com o falecido.
Graus de parentesco colateral:
• Colaterais de 2º grau: irmãos;
• Colaterais de 3º grau: tios e sobrinhos;
• Colaterais de 4º grau: primos, tios-avôs e sobrinhos-netos.

Direito de Representação de Filhos de Irmãos


O único direito de representação existente fora da categoria dos descendentes é o direito de
representação de filhos de irmãos. Assim sendo, se a herança foi direcionada aos irmãos (cola-
terais de 2º grau), os filhos do irmão premorto poderão receber a herança deste por direito de
representação, da mesma forma que ocorre com os descendentes.

5. Herança Jacente e Vacante


Na ausência de todos os herdeiros previstos na legislação, ou seja, descendentes, ascendentes,
cônjuge ou companheiro e colaterais até 4º grau, a herança será declarada herança jacente e, com
isto, os bens do falecido passarão a ser de propriedade do Município em que se localizarem ou
do Distrito Federal, caso lá se localizem. A herança jacente ocorre quando não há herdeiro certo
e determinado, ou quando não se sabe da existência dele, ou ainda, quando é renunciada pelos
herdeiros. É uma sucessão “sem dono atual”. A herança vacante ocorre quando a herança é de-
volvida à fazenda pública por se ter verificado não haver herdeiros que se habilitassem no período
de jacência.

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Dívidas e contingências tributárias na sucessão


As dívidas e contingências fiscais do falecido não se transmitem aos herdeiros. Ou seja, não é
possível ‘herdar dívida’, diferentemente do que se pensa. Entretanto os bens do devedor falecido
são responsáveis pelas dívidas deste, não sendo possível aos credores do falecido atingir os bens
pessoais dos herdeiros.

Inventário e Partilha
O inventário é o procedimento pelo qual os bens do falecido são identificados, consolidados
e partilhados entre seus herdeiros. Como resultado deste procedimento é emitido um Formal de
Partilha que é o documento que autoriza a transmissão de propriedade dos bens aos herdeiros na
forma determinada no inventário.
No que diz respeito à existência de menores de idade ou de pessoas incapazes, tem-se que a
obrigatoriedade do inventário judicial, decorre da necessidade de intervenção do Ministério Pú-
blico na partilha para verificação de se os interesses do menos ou do incapaz estão sendo devida-
mente resguardados.

Instrumentos de Planejamento Sucessório


Doação
É o ato pelo qual alguém, de forma gratuita e sem contrapartida, estipula a transferência de seu
patrimônio em favor de outra pessoa. Trata-se de um contrato específico previsto na legislação
civil e pelo qual é possível transmitir bens imóveis, bens móveis, valores, direitos, investimentos
financeiros etc., ainda em vida.
A doação em vida é uma forma de antecipação da transmissão de bens aos herdeiros, permi-
tindo que estes tenham acesso ao patrimônio antes de quaisquer processos de inventário e sem a
necessidade de realização dos trâmites de inventário.
A doação pode ser com encargo, quando o doador estabelece a obrigação de realização
de determinada tarefa (exemplo doação condicionada à realização de determinadas obras de
caridade) e com cláusulas restritivas, quando o doador impõe certas restrições com relação
aos bens objeto de doação. Estas cláusulas são: a) inalienabilidade; b) impenhorabilidade; e
c) incomunicabilidade.

Inalienabilidade
Consiste na proibição de alienação, a qualquer título, do bem doado. Com isto, o recebedor da
doação (donatário) fica impedido de se desfazer do bem. É comum o uso de cláusula de inalie-
nabilidade na doação de bens a pessoas que costumem se endividar ou que possuam histórico de
dilapidação de patrimônio. Na doação de pais para filhos, a cláusula vitalícia de inalienabilidade
também garante que o bem doado chegue aos netos, pois o pai não poderá dele se desfazer.

Impenhorabilidade
Impede que credores do recebedor da doação (donatário) possam atingir o bem doado em
virtude de dívidas que o donatário possua e que estejam em execução judicial. É comum o uso de
cláusula de impenhorabilidade na doação de bens a pessoas que costumem se endividar e costu-
mem ter problemas de crédito.

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Incomunicabilidade
A cláusula de incomunicabilidade impede que sobre o bem doado se gere comunhão. Ao es-
tabelecer esta cláusula o doador garante que sobre o bem não recaiam direitos matrimoniais de
cônjuges e companheiros, independentemente do regime de bens adotado pelo casal.

Usufruto
O usufruto constitui-se da manutenção do direito de usar e de fruir (colher frutos) de deter-
minado bem mesmo sem possuir a condição de proprietário. Em termos de planejamento su-
cessório, a doação com usufruto é comumente utilizada para a transferência da propriedade aos
herdeiros, ainda em vida, porém com o resguardo integral do uso do bem e da percepção de seus
frutos. Exemplo: doação de bem imóvel em favor de herdeiros.
A partir da realização da doação com cláusula de usufruto, os herdeiros passarão a ser os pro-
prietários do imóvel. Porém, por força do usufruto, será o doador o único que poderá usar o bem
(uso) ou eventualmente alugá-lo para gerar receita (fruição).

Testamento
O testamento é a forma de dispor sobre a parte disponível do patrimônio, devendo ser sempre
respeitada e resguardada a parcela legítima quando constatada a existência de herdeiros neces-
sários. A utilização do testamento pode auxiliar em muito o planejamento sucessório, inclusive
servindo com ferramenta para distribuição de bens de acordo com o perfil de cada herdeiro ou,
ainda, de estipulação de condição mais vantajosa para determinado herdeiro. A presença e asses-
soria de advogado é obrigatória para a lavratura do testamento.
Os testamentos, podem ser ordinários ou especiais.
Os testamentos ordinários são o testamento Público, o testamento Cerrado e o testamento
Particular.

Testamento Público
É aquele feito por tabelião através de lavratura de escritura em cartório. É o testamento mais utiliza-
do e o mais eficiente, pois o ato público se reveste de uma série de formalidades e possui fé pública. As
boas práticas de planejamento sucessório recomendam sempre a utilização deste tipo de testamento.

Testamento Particular
É aquele feito por documento particular e que pode ser escrito de próprio punho ou por
processo mecânico, tendo como condição de validade a assinatura do documento por três teste-
munhas. Se escrito por processo mecânico, não poderá conter rasuras nem espaços em branco.
Com a morte do testador, o testamento deverá ser publicado em juízo, com citação dos herdeiros
legítimos para se manifestarem e apresentarem eventual impugnação.

Testamento Cerrado
É elaborado pelo testador, cuja validade, porém, dependerá de aprovação por parte do tabelião
na presença de duas testemunhas. Aprovado o testamento, o tabelião passará a fechar e coser o
documento, entregando-o ao testador e fazendo registro do ato no livro do cartório. Falecendo
o testador, o testamento deverá ser apresentado ao juiz que o abrirá e o fará registrar, ordenando
seja cumprido, desde que não encontre vício externo que o torne nulo ou suspeito de falsidade.

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Testamenteiro
É a pessoa responsável pela execução das disposições constantes no testamento. O testamen-
teiro (responsável pela execução do testamento) não se confunde com a figura do inventariante
(responsável pela execução do inventário).

Herdeiro Menor
Existindo herdeiro menor, os bens recebidos em decorrência da sucessão ficarão sob a gestão
do tutor legal, normalmente os ascendentes diretos (pai e mãe).

Seguro de Vida e Planos de Previdência


Os seguros de vida e planos de previdência são ferramentas muito úteis em termos de pla-
nejamento sucessório sob a ótica da necessidade de liquidez imediata após o falecimento e do
recebimento de valores independentemente do trâmite do inventário. Em inventários litigiosos
é comum existir um problema de liquidez para os herdeiros, pois a distribuição dos bens estará
condicionada ao encerramento do inventário. Ainda, os produtos permitem a livre estipulação
de beneficiários, podendo também ser usado o seguro como forma de destinação de recursos a
determinado herdeiro específico ou a terceiros que não façam parte da sucessão hereditária.
Os valores recebidos pelos beneficiários não respondem por eventuais dívidas do falecido.
Há isenção para os valores recebidos a título de indenização.

Estruturas de Planejamento Sucessório


Holding de Participações
Usualmente o termo está associado a empresa controladora de um grupo de empresas que,
por meio da titularidade total ou parcial dos respectivos capitais sociais, exerce o efetivo poder de
controle do grupo, tomando decisões e determinando os rumos dos negócios de acordo com sua
vontade. Trata-se da holding de participações, também conhecida como holding pura.
Com a criação de uma holding de participações (ou holding pura) poderá se criar um ambiente
familiar que permita a centralização do controle do grupo de empresas e que, ainda, possa ser
utilizado como mecanismo de ingresso de herdeiros na operação.
Por fim, podemos destacar também a possibilidade de utilização da holding de participações para
fins sucessórios através do ingresso de herdeiros em posições minoritárias que, porém, lhes per-
mitam dar continuidade aos negócios da família em caso de falecimento do sócio majoritário da
empresa. Para isto é necessário adotar algumas cautelas de cunho societário de forma a assegurar
a continuidade da gestão.

Holding Imobiliária
É, na prática, uma empresa destinada à alocação de ativos imobiliários do grupo familiar na
qual será centralizada a gestão do patrimônio e unificadas as atividades a ele relativas. Uma das
vantagens mais comuns para as holdings imobiliárias é a possibilidade de planejamento tributário
para fins de redução da carga tributária incidente sobre a locação de bens imóveis, quando com-
parada com a tributação que ocorre com as pessoas físicas.
No que diz respeito à partilha de bens, a utilização de uma holding imobiliária permite a unifica-
ção dos imóveis da família numa única unidade societária e possibilita que os herdeiros recebam

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como herança o percentual de quotas sociais ou ações que lhes cabe por lei, permitindo uma
partilha mais simples e rápida do que uma partilha de bens imóveis.

Holding Patrimonial
A holding patrimonial é uma estrutura semelhante a holding imobiliária, porém destinada a cen-
tralizar a gestão de uma gama maior de ativos, imobiliários ou não. As vantagens de sua utilização
equiparam-se às da holding imobiliária.

Sucessão em Fundos de Investimentos


As cotas dos fundos de investimento não podem ser objeto de cessão ou transferência, exceto
nos casos de:
I. Decisão judicial ou arbitral;
II. Operações de cessão fiduciária;
III. Execução de garantia;
IV. Sucessão universal;
V. Dissolução de sociedade conjugal ou união estável por via judicial ou escritura pública que
disponha sobre a partilha de bens; e
VI. Transferência de administração ou portabilidade de planos de previdência.
Consequentemente, para efeitos sucessórios, a regra geral das aplicações em fundos de investi-
mento é que as cotas entram no inventário.

Fundos Fechados
Uma estrutura bastante comum para planejamento sucessório é a criação de um fundo fechado
exclusivo ou restrito, com CNPJ próprio, que apresenta algumas vantagens sobre aplicar direta-
mente como pessoa física:
• Não há incidência de IR sobre ganho de capital para movimentações dentro do fundo.
• Ganhos em ativos do fundo são compensados para efeito de IR por eventuais prejuízos de ou-
tros ativos do fundo.
• O fundo, por ter um único valor de cota, facilita o acompanhamento da rentabilidade e do valor
investido.
• Os investidores podem trocar o gestor e/ou o administrador e/ou o custodiante, sem ter que
resgatar a carteira de investimentos do fundo.
Especificamente do ponto de vista sucessório, um investidor que queira definir como irá deixar
a herança no caso de sua morte, poderá doar em vida determinada quantidade de cotas para cada
herdeiro, com usufruto do investidor.

Bens e Direitos no Exterior


O investimento no exterior direto na pessoa física não costuma se mostrar benéfico do ponto
de vista tributário, pois não permite a compensação de perdas de determinado investimento com
ganhos de outro, sendo recomendável, neste sentido, a realização do investimento através de uma
estrutura jurídica no exterior, como empresa offshore ou fundo exclusivo, por exemplo.
Ainda no que diz respeito à titularidade de bens e direitos no exterior diretamente em nome da

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pessoa física, há de se atentar para os custos sucessórios de cada jurisdição onde se localizem tais
bens e direitos, pois em caso de falecimento do titular, seus herdeiros terão que se submeter aos
custos locais relacionados à sucessão.
Centralizando os ativos numa estrutura offshore a pessoa física passa a ser detentora de um
único tipo de ativo: as ações da empresa offshore. Assim sendo, em caso de falecimento, somente
será necessário inventariar as ações de acordo com os custos e legislação da jurisdição onde a em-
presa encontra-se sediada. Os ativos, por sua vez, não se submeterão à sucessão pois continuarão
de propriedade da empresa offshore.

Trust
Trata-se de uma instituição constituída por um instituidor (settlor) a partir da transferência de
determinado patrimônio para que o trust, através de seu administrador nomeado (trustee), se encar-
regue da guarda e administração de tais bens sempre no melhor interesse do beneficiário indicado
pelo fundador. A principal característica do trust é o fato de haver a efetiva transmissão de pro-
priedade dos bens do instituidor (settlor) ao trust.
TRUST: Sujeitos envolvidos
Instituidor (settlor) - Cria o trust, transferindo parte ou todo o seu patrimônio para um fiduciante
(trustee).
Fiduciante (trustee) - Recebe a propriedade deste patrimônio e o administra em seu nome, se-
gundo as instruções fixadas pelo instituidor (settlor) e sempre em benefício e no melhor interesse
do beneficiário.
Fiduciário (beneficiary) - É o beneficiário do trust
Pode existir, ainda, a figura do protector, indicado expressamente pelo instituidor, que terá con-
trole sobre o fiduciante (trustee), incluindo até poderes para destitui-lo e nomear outro.
Além da finalidade sucessória os trusts podem ser utilizados para fins de proteção patrimonial e
até de planejamento tributário, a depender da jurisdição onde se localizem.

Fundações
Diferentemente dos trusts, as fundações possuem uma denominação legal no Brasil. De acordo
com o Código Civil, “para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou
testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se
quiser, a maneira de administrá-la”. Em outras palavras o conceito de fundação parte da alocação
de bens associada a uma determinada finalidade previamente definida.
No Brasil as fundações somente poderão ser constituídas para as finalidades de:
I. Assistência social;
II. Cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III. Educação;
IV. Saúde;
V. Segurança alimentar e nutricional;
VI. Defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sus-
tentável;
VII. Pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas
de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos;

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VIII. Promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; e


IX. Atividades religiosas.
Já as fundações constituídas no exterior não encontram tais limitações com relação a seu obje-
to, motivo pelo qual podem ser utilizadas para finalidade sucessória.

Aspectos Tributários na sucessão


ITCMD - Imposto de Transmissão Causa Mortis ou Doação
• A competência para instituição e cobrança do ITCMD é dos Estados e Distrito Federal;
• Os fatos geradores do ITCMD são as transmissões de bens e direitos por ocasião de falecimen-
to/causa mortis (herança e legado) ou doação;
• A base de cálculo corresponde ao valor econômico dos bens transmitidos;
• A alíquota é definida por cada um dos Estados e pelo Distrito Federal dentro de sua competên-
cia tributária, porém com limitação ao percentual máximo de 8% (oito por cento);
• Os contribuintes são, em geral, as pessoas que receberem os bens por doação, herança e
legado, sendo denominados pela legislação, respectivamente, de donatário, herdeiro e lega-
tário. Porém, cada Estado pode determinar que o contribuinte seja qualquer uma das partes
da operação.
• O vencimento do tributo varia de acordo com a legislação estadual editada por cada Estado da
Federação e Distrito Federal. Para o caso de sucessão o pagamento do ITCMD é obrigatório
como condição de encerramento da partilha dos bens;
• As isenções do tributo variam de acordo com a legislação estadual editada por cada Estado da
Federação e Distrito Federal.

ITBI - Imposto sobre Transmissão Inter Vivos de Bens Imóveis


• A competência para instituição e cobrança do ITBI é dos Municípios;
• O fato gerador é a transmissão onerosa inter vivos (ou seja, não decorrente de falecimento) de
bens imóveis, de direitos reais sobre bens imóveis (exceto garantias e servidões) e a cessão de
direitos relativos a imóveis;
• A base de cálculo é o valor venal dos imóveis ou direitos imobiliários transmitidos.
• A alíquota é definida por cada um dos Municípios dentro de sua competência tributária;
• Os contribuintes são os adquirentes dos bens ou direitos sobre imóveis que estejam sendo
transmitidos ou os cedentes de direitos relativos a compromissos de venda e compra de bens
imóveis;
• O vencimento do tributo varia de acordo com a legislação municipal editada por cada Municí-
pio, porém o pagamento do ITBI é requisito para a formalização da transmissão de proprieda-
de, motivo pelo qual deve ser pago antecipadamente;
• As isenções do tributo variam de acordo com a legislação municipal editada por cada Mu-
nicípio.

IR - Imposto de Renda
• A competência para instituição e cobrança do IR é da União Federal;
• O fato gerador, no caso das sucessões, é o acréscimo patrimonial implementado através de ga-

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 81

nho de capital realizado pelo espólio, uma vez que para os herdeiros a herança é isenta do IR;
• A base de cálculo do IR no caso de sucessão corresponde à diferença positiva entre o valor pre-
viamente declarado pelo sucedido em sua Declaração de IR (valor de aquisição) e o valor pelo
qual for feita a transmissão por ocasião do falecimento (valor de alienação);
• A alíquota será de 15% sobre a parcela dos ganhos que não ultrapassar R$ 5.000.000,00; 17,5%
sobre a parcela dos ganhos que exceder R$ 5.000.000,00 e não ultrapassar R$ 10.000.000,00; 20%
sobre a parcela dos ganhos que exceder R$ 10.000.000,00 e não ultrapassar R$ 30.000.000,00; e
22,5% sobre a parcela dos ganhos que ultrapassar R$ 30.000.000,00;
• O contribuinte, no caso do IR na sucessão, será o espólio;
• O vencimento do IR no caso de sucessão ocorre por ocasião da entrega da Declaração Final de
Espólio;
• É isento do IR o ganho de capital auferido na alienação de bens adquiridos até o ano de 1969.
Para os imóveis adquiridos entre 1970 e 1988 haverá uma redução parcial do ganho de capi-
tal conforme percentuais definidos em tabela específica da Receita Federal. A legislação prevê
ainda a aplicação de outros percentuais de redução para imóveis adquiridos a partir de 1988,
através da aplicação de fórmulas matemáticas que levam em consideração o número de meses
decorridos entre a data de aquisição e a data da venda do imóvel.

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GLOSSÁRIO

Bens aquestos - São aqueles que forem adquiridos por esforço comum de ambos os
cônjuges.
Cláusulas restritivas - Restrições que o doador pode impor com relação aos bens objeto de
doação. São elas: a) inalienabilidade; b) impenhorabilidade; e c) incomunicabilidade.
Colação - Dever imposto aos herdeiros de declararem por ocasião do inventário o valor dos
bens recebidos em vida por doação do falecido que tenham representado antecipação de legítima.
Colaterais - Parentes que não possuem vínculo em linha reta descendente ou ascendente, mas
que possuem um parente em linha reta em comum com o falecido.
Comunhão - Conjunto de bens e direitos, bem como de dívidas e obrigações, que são de pro-
priedade conjunta de ambos os cônjuges em igualdade de proporções.
Comunhão parcial de bens - Regime pelo qual apenas os bens adquiridos onerosamente após
o casamento se comunicam.
Comunhão universal de bens - Regime pelo qual todos os bens, anteriores e posteriores ao
casamento são de propriedade conjunta.
Comunicabilidade - É a forma de se gerar bens comuns, ou seja, patrimônio de ambos os
cônjuges, independentemente de qual deles tenha adquirido o bem.
Direito de representação - É o direito que os descendentes do herdeiro premorto têm de
receber a herança de seu falecido ascendente em determinadas situações.
Doação - A doação é o ato pelo qual alguém, de forma gratuita e sem contrapartida, estipula a
transferência de seu patrimônio em favor de outra pessoa.
Doação com encargo, termo e condição - Doação com Encargo: tipo de doação feita em
favor de pessoas maiores e capazes, na qual o doador estabelece a obrigação de realização de de-
terminada tarefa (“encargo”). Doação a Termo: doação condicionada à ocorrência de um evento
futuro e certo. Doação com Condição: doação condicionada à ocorrência de um evento futuro,
porém incerto.
Doador e Donatário - Doador é aquele que realiza a doação, ou seja, quem transmite pa-
trimônio a terceiros. Donatário é o destinatário da doação, ou seja, quem recebe patrimônio de
terceiros.
Espólio - Conjunto de bens, direitos e obrigações deixados pelo falecido.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 83

Herdeiros necessários - Todos os descendentes do falecido (filhos, netos, bisnetos etc.), os


ascendentes (pais, avós, bisavós, etc.) bem como o cônjuge e o companheiro.
Holding imobiliária - Empresa destinada à alocação de ativos imobiliários do grupo familiar
na qual será centralizada a gestão do patrimônio e unificadas as atividades a ele relativas.
Holding patrimonial - Estrutura semelhante a holding imobiliária, porém destinada a centra-
lizar a gestão de uma gama maior de ativos, imobiliários ou não.
Holding pura ou holding de participações - Sociedade que tem como objeto a participação
em outras sociedades, participando do capital destas em níveis suficientes para controlá-las.
Impenhorabilidade - Impede que credores do recebedor da doação (donatário) possam
atingir o bem doado em virtude de dívidas que o donatário possua e que estejam em execução
judicial.
Inalienabilidade - Proibição de alienação, a qualquer título, do bem doado.
Incomunicabilidade - Impede que sobre o bem doado se gere comunhão.
Ingratidão - Ocorre quando o donatário pratica atos graves contra a pessoa do doador, em
cujo caso a doação poderá ser revogada.
Inventário - Procedimento pelo qual os bens do falecido são identificados, consolidados e
partilhados entre seus herdeiros.
Inventariante - Pessoa que representará o espólio (conjunto de bens, direitos e obrigações
deixados pelo falecido) e se encarregará de sua administração até a efetivação da partilha. Sobre
o inventariante recai a obrigação de dar andamento à partilha e conduzir o inventário até seu en-
cerramento.
ITCMD - Imposto de Transmissão Causa Mortis ou Doação.
ITBI - Imposto sobre Transmissão Inter Vivos de Bens Imóveis.
Meação - Direito que cada cônjuge tem à metade dos bens que compõem a comunhão.
Ordem de vocação hereditária - Termo técnico para definir a ordem de preferência com
relação à herança deixada pela pessoa falecida.
Pacto antenupcial - Documento de lavratura de escritura pública obrigatória quando há esco-
lha por um regime de bens diferente da comunhão parcial de bens.
Regime de bens do casamento ou união estável - Define de que forma será construído o
patrimônio comum, ou seja, a comunhão.
Reversão - Cláusula pela qual o doador pode estipular que, caso o recebedor da doação faleça
antes do doador, os bens doados retornarão ao patrimônio do doador.
Revogação - Na hipótese de descumprimento das regras e condições previstas na doação, ou
em virtude de ingratidão do donatário, a doação poderá ser revogada.
Separação obrigatória de bens - A separação obrigatória de bens ocorrerá no casamento que
envolver pessoa maior de 70 anos ou em outras circunstâncias previstas em lei.

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Separação total de bens - Regime pelo qual os bens permanecem sob a administração de
quem adquiriu ou recebeu e, portanto, não se comunicam.
União estável - Convivência pública, contínua e duradoura, com o objetivo de constituir
família.
Usufruto - Manutenção do direito de usar e de fruir (colher frutos) de determinado bem mes-
mo sem possuir a condição de proprietário.
Testamento - Ato personalíssimo de caráter revogável que permite ao testador dispor sobre a
parte disponível do patrimônio, devendo ser respeitada e resguardada a parcela legítima no caso
de existência de herdeiros necessários.
Testamento cerrado - Elaborado pelo testador, cuja validade depende de aprovação por parte
do tabelião na presença de duas testemunhas. Aprovado o testamento, o tabelião passará a fechar
e coser (lacrar) o documento, entregando-o ao testador e fazendo registro do ato no livro do
cartório.
Testamento particular - É aquele feito por documento particular tendo como condição de
validade a assinatura do documento por três testemunhas.
Testamento público - É aquele feito por tabelião através de lavratura de escritura em cartório.
Testamenteiro - Responsável pela execução das disposições constantes no testamento.
Trust - Instituição constituída por um instituidor (settlor) a partir da transferência de determi-
nado patrimônio para que o trust, através de seu administrador nomeado (trustee), se encarregue
da guarda e administração de tais bens sempre no melhor interesse do beneficiário indicado
pelo fundador.

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ANOTAÇÕES

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