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Tratamento do

TEPT
Raquel Gonçalves

ESPERANÇA?
Tamanho de
efeito grande
Hedges´s g=1.08
Condicionamento Clássico

Ivan Pavlov
Condicionamento clássico
Base para compreensão dos transtornos relacionados ao medo

Condicionamentos são fortes


função evolutiva
“Better safe than sorry”
Memórias com forte teor emocional são
mais bem fixadas (McGaugh 2003)
Behaviorismo (1913)

John B. Watson Mary Cover Jones


Pequeno Albert
Estímulo
neutro

Estímulo Resposta
incondicionado incondicionada

Estímulo Resposta
condicionado condicionada
Estímulo incondicionado Resposta incondicionada
Terremoto
Terremoto MEDO
Respostas fisiológicas
Respostas comportamentais

Estímulo neutro Condicionamento Estímulo condicionado

Faculdade Resposta condicionada

Falha na
extinção Faculdade
Teoria do Processamento
Emocional
careca
cheiro de
cerveja suor

congelamento
grito
subúrbio assustada

coração
perigoso acelerado
estupro

incompetente
Teoria do Processamento Emocional sexo é ruim
Lang, 1979
Retirado de Rangé & Masci, 2001
Condicionamento Operante

Burrhus Frederic Skinner


Condicionamento Operante

O comportamento O comportamento
tende a ser eliminado tende a ser repetido
quando um elemento quando um elemento
aversivo é inserido de recompensa é
adicionado
Consequência diminui Consequência aumenta
a probabilidade de a a probabilidade de a
resposta ocorrer resposta ocorrer
novamente novamente

O comportamento é
eliminado por O comportamento é
ausência de reforço reforçado por
conseguir eliminar
um estímulo aversivo
Ausência
de perigo
Por que há falha na extinção no TEPT?

Explicações
• TEPT: dificuldade em perceber
sinais de segurança em situações
que não envolvem perigo
▪ Rede associativa estimula a
evitação do perigo
(sobrevivência)
▪ Evitação mantém o transtorno

Jovanovic et al., 2010


Norrholm et al., 2011
Evitação
disfuncional:
inimigo a ser
combatido
Flashbacks colaboram para a
evitação ou seriam fruto dela?

Flashbacks Evitação
Teoria do Processamento
Informacional
Processamento Revivescências (tentativa
Inadequado (permanece de processar e integrar a
na memória ativa) memória)

Negação e
Emoções intensas
entorpecimento
Ansiedade
emocional/ evitação

Teoria do Processamento Informacional


Foa & Kozac, 1986
O trauma seja
contextualizado

Para o
processamento
adequado do
Comportamentos trauma, é
desadaptativos e
estratégias cognitivas necessário que:
disfuncionais (como
Interpretações
ruminações) que improdutivas
dificultam a elaboração
da memória, mantém o sobre o
senso de medo
constante e evitam o
trauma sejam
acesso à memória modificadas
traumática sejam
modificados
Ehlers & Clark, 2000
Terapia Cognitiva para o TEPT
Modelo cognitivo do TEPT

Ehles & Clark 2000


Características do trauma/ sequelas Leva a
Processamento
Experiências prévias/crenças/ Influencia
cognitivo durante o
estratégias de Previne mudança
trauma
enfrentamento

T
Avaliação negativa do E
Memória do trauma
trauma e suas P
sequelas T
Gatilhos p
e
r
Medo atual s
Intrusões i
Arousal s
Emoções intensas
t
e
n
t
Estratégias para tentar controlar o medo e os sintomas
e

Ehlers & Clark, 2000


Teoria da Representação Dual

Memória

Memória
Memória Verbalmente Situacionalmente
Acessível Acessível
Memória declarativa Memória não-declarativa/
Verbalizável implícita
Contextualizada Conteúdo emocional/
Evocadas voluntariamente não-verbal
Fragmentada
Involuntária
Brewin, 1996
Memória no TEPT
Impressões sensoriais (visuais, auditivas, sensações físicas) ao invés de pensamentos

• Luz de farol de carro vindo na minha direção

Fora de contexto

• O pior é ser estuprada todos os dias

Rigidez mnemônica

• Pai se suicidou com um tiro, mas sente culpa por não ter sido rápido o suficiente para levar o
pai para uma lavagem estomacal

Afeto sem memória consciente

• Senti-se ansiosa sem saber porquê, até lembrar que havia um homem parecido com o
estuprador no restaurante

Gatilhos sem forte relação com o trauma

• Camisa vermelha
✗ Reconsolidação
das memórias

23
Consolidação

Memória de Memória de
curto prazo longo prazo
(instável) (estável)
Mudança da estrutura e função dos
Padrões neuronais de breve atividade.
neurônios. Aumenta a transmissão
sináptica.
Janela de tempo
determinante para prevenir Tratamento
TEPT

5-10 minutos
10 min-
(consolidação mínima)
4 horas (consolidação 6h
completa)

Reconsolidação
Consolidação Reativação
Primeiros Socorros Psicológicos
• Modelo dos 6 Cs Farchi et al, 2018

Cognitive Challenge and


Commitment Continuity
Communication Control

Intenção é mudar a pessoa


Ideal é que seja usada até 6 da impotência e dificuldade
horas após o evento funcional passiva para uma
traumático. É o que vai estratégia de enfrentamento
determinar o seu ativa e efetiva, em minutos,
entendimento daquele imediatamente após um
evento. trauma.
Cognitive Communication
Comunicação verbal cognitiva
• Paciente em choque (amígdala hiperativada)
• Mudança na memória situacional/emocional
para verbal
• Ativar córtex pré-frontal

• Ex. Falecimento de familiar por COVID-19


➢ Há quanto tempo você soube da notícia?
➢ Quem deu a notícia? Demonstrar
➢ O que a pessoa falou? empatia e validar
os sentimentos!
➢ O que você fez desde então?
➢ Quem está com você agora?
Challenge and Control
Desafio e controle
• Paciente em impotência - mudar a pessoa para um estado mais funcional sem
distraí-la do evento. Objetivo é promover senso de sucesso e autoeficácia.

• Exemplos:
➢ Envolver a pessoa em pequenas tarefas – ex.
➢ separar a documentação da pessoa falecida;
➢ tomar um banho e comer antes de ir para o hospital;
➢ ativar rede de apoio.
➢ Estar no comando da nossa vida ao invés de ser levado pela maré.

➢ Futuramente, aprender com a experiência. Aprender constantemente a partir da


experiência ao invés de passar a vida evitando incertezas e perigos improváveis (ao
invés de ficar na zona de conforto, engessado). Desafio.
Commitment
Comprometimento
• Paciente em solidão.
• Papel do apoio social.
• Envolvimento com pessoas, coisas e situações ao invés de estar isolado,
desconectado ou alienado.

➢ “Estou aqui com você e não vamos terminar essa ligação até você se sentir
melhor/ até o fulano chegar”.
Continuity
Continuidade
• Paciente em confusão
➢ Marcar o episódio no tempo
➢ Linha do tempo do que aconteceu e o que vai acontecer até o final do dia e no dia
seguinte
➢ Promove aumento da resiliência, redução da ansiedade e melhora da autoeficácia
percebida.
Janela de tempo
determinante para prevenir Tratamento
TEPT

5-10 minutos
10 min-
(consolidação mínima)
4 horas (consolidação 6h
completa)

Reconsolidação
Consolidação Reativação
“Muito estranho…eu sei que tenho medo de
rato, mas eu não sinto mais. Apenas um pouco
nas minhas pernas.”
Ativar memória

Elementos
Processamento Seguros
inadequado

Reprocessamento
Da reativação à reconsolidação

Ativar
memória Reconsolidaçã
Situação Emoção
emocionalmen o adaptativa
te dependente

Eich et al. 1994 Lane et al., 2015


“Uma criança não
tem as mesmas
condições de julgar o
que é certo ou errado
“Devo ser má. como um adulto. Meu
Mereço ser pai deveria
maltratada.” representar amparo,
e não ameaça. Fui
vítima. O único
responsável pelo
abuso é o meu pai.”

• Mudança na emoção (raiva assertiva) e


nas cognições auto-referenciadas
Relação
Terapêutica
✗ Falar sobre uma
situação traumática
em ambiente
seguro

37
Teoria
Polivagal
Humanos (mamíferos em
geral) possuem um sistema
pro-social que permite que
nos corregulemos
emocionalmente
Engloba o vago
mielinizado, que promove
estados comportamentais
tranquilos ao inibir
influências simpáticas no
Sistema nervoso coração e amortecer o eixo
autônomo HPA

Coração Bradicardia

Simpático Parassimpático
Mobilização Pulmões Frequência
respiratória

Traqueia
Entonação
Laringe da voz
Pulmões
Estômago Músculos Expressão
faciais das emoções

Intestino Dorsal Ventral


Pâncreas Conexão social
Imobilização/ Cólon Segurança
paralisação Vínculos afetivos
Baixo metabolismo Alto tônus

Repouso
Digestão Baixo tônus
Corregulação

Ambiente seguro – aumento da influência das


vias motoras do vago mielinizado sobre o “Porges nos ajudou a compreender o
marca-passo do coração, que diminui o ritmo quanto nossos sistemas biológicos são
cardíaco, inibe o SNS, deprime o eixo HPA, dinâmicos e nos forneceu uma explicação
reduz a inflamação por meio da modulação do por que uma face gentil e um tom de
das reações imunes. Além disso, o núcleo do voz suave pode alterar dramaticamente a
tronco encefálico que regula o vago organização inteira do organismo – ou
mielinizado tornou-se integrado com o núcleo seja, como ser notado e ser entendido
que regula os músculos da face e da cabeça. podem ajudar a tirar pessoas de estados
Esse vínculo resulta na ligação bidirecional desorganizados e de medo.” 40
entre os comportamentos de engajamento
social espontâneo e os estados corporais Bessel A. van der Kolk
(Porges, 2012). Psiquiatra holandês, especialista em
trauma e TEPT
Segurança

Perigo

Ameaça à vida
O
sentimento
de
segurança
é o próprio
tratamento
O
TRATAMENTO
NA PRÁTICA
Tratamentos Psicológicos Debrefing

Eye Movement
Desensitization and
Psicoterapia: menor taxa de Reprocessing
abandono comparado à (EMDR)
farmacoterapia (14% X
32%) (Van Etten & Taylor,
Terapia Cognitivo-
1998)
comportamental
Mais da metade dos (TCC)
pacientes que Especialmente
completaram o terapia de
tratamento com TCC ou exposição
EMDR melhoraram prolongada, terapia
(Bradley et al., 2005) – do processamento
Meta-análise
cognitivo e terapia
cognitiva
Exposição
Foco no
trauma
Tratamentos eficazes tem esse
elemento em comum
TERAPIAS COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS PARA
O TEPT
48

TERAPIA DE TERAPIA DO TERAPIA


EXPOSIÇÃO PROCESSAMENTO COGNITIVA PARA
PROLONGADA COGNITIVO O TEPT
Foa & Rothbaum (1998) Resick & Schnicke (1982) Ehlers & Clark (2000)

TERAPIA DE TERAPIA DE EXPOSIÇÃO


EXPOSIÇÃO COM REALIDADE
NARRATIVA VIRTUAL
Schauer, Neuner, & Elbert Rothbaum et al. (1999)
(2000)

International Society for


Traumatic Stress Studies
Técnicas
cognitivo-
comporta
mentais
PSICOEDUCAÇÃO
Psicoeducação
• Orientação à família
– Incertos sobre como tratar o paciente traumatizado
– Crenças de que estão ficando malucos, o que dificulta
a comunicação e fortalece o TEPT
– Acreditam que não devem falar sobre o ocorrido para
não deixar o familiar triste

– A família pode:
• Ajudar o paciente a falar sobre o ocorrido, expondo-o às
memórias evitativas
• Inserir correções cognitivas durante o relato do familiar

Raquel Gonçalves
Técnicas de Manejo da Ansiedade
Reestruturação Cognitiva

Crenças extremas Crenças extremas


e rigidamente e rigidamente
“otimistas” pessimistas
Avaliação negativa do trauma e suas sequelas

“Se
aconteceu
uma vez, vai
acontecer
novamente”

SUPERGENER
ALIZAÇÃO

“Coisas ruins
“Eu atraio
acontecem
desastres”
comigo”
Avaliação negativa do trauma e suas sequelas

Avaliação
negativa a Imobilidade
respeito dos
pensamentos tônica “Se eu não
e sentimentos reagi, é porque
no momento
do trauma estava consentindo”

Sinais de
excitação “A responsabilidade
durante um foi minha”
estupro
Avaliação negativa do trauma e suas sequelas

Avaliação Interpretação dos “Eu mudei permanentemente


negativa a para pior”
respeito dos
sintomas iniciais
pensamentos “Sou fraco”
e
sentimentos
no momento Interpretação da reação Evitar falar sobre o evento
do trauma das outras pessoas com a vítima pode levar à
intepretação de que não
ligam

Interpretação das “Minha vida está


consequências do permanentemente
destruída”
trauma em diferentes
áreas da vida
Reestruturação Cognitiva
Seta descendente
O que o
Assalto assalto
significa?

Estou em perigo
E se
Vai acontecer de novo acontecer
de novo?

Não vou suportar

O que o
significa
não
suportar?
Todo o meu sistema nervoso
está arruinado para sempre
Crenças comuns
Eu devo ser Se eu for
Sou má. Mereço assaltado de
vulnerável Sou fraco
ser novo, não
maltratada irei tolerar

Não se deve Nenhum Sou A culpa foi


confiar em lugar é medroso minha
ninguém seguro

Morte do filho em um acidente de carro


• Quantas vezes você salvou o seu filho/ preveniu acidentes?
• Você conhece alguma mãe que já tenha admitido erros com relação à
segurança do filho?
• Você era a única responsável por ele?
• Alguma vez você já havia alertado seu filho sobre este tipo de perigo?
Reestruturação Cognitiva
“Sou fraco”
Evidências que apóiam Evidências que NÃO apóiam
• Outras pessoas estavam no • Mesmo sofrendo muito, consigo
momento do assalto e não vir até aqui
ficaram doentes • Sempre fui a pessoa central na
• Eu paralisei quando ele apontou a família, que ajuda todo mundo
arma para mim • Já passei por outros assaltos e
consegui negociar com o
assaltante
• Era um funcionário de destaque
por aguentar bem a pressão
Interpretações Estratégias disfuncionais
Se eu pensar sobre o trauma, eu irei Tentar não pensar sobre o trauma; Manter a mente
... enlouquecer ocupada; controlar sentimentos; usar drogas
... desmoronar
... perder o controle e machucar alguém
... Ter um ataque cardíaco

Se eu não controlar meus sentimentos, eu Entorpecimento emocional; evitar tudo que possa causar
... Não vou conseguir trabalhar e vou perder o meu emprego sentimentos positivos ou negativos
... Vou me descontrolar e ofender as pessoas

Se eu não identificar como esse trauma poderia ter sido Ruminação


prevenido
... Algo ruim vai acontecer de novo

Se eu não encontrar uma maneira de punir o agressor, ele Ruminação


vai “ganhar” e eu não serei um homem digno

Se eu voltar ao local/ usar as mesmas roupas daquele dia Evitar o local do evento; Evitar usar as mesmas roupas
... Vai acontecer novamente

Se eu não tomar precauções extras Carregar armas; Desconfiar de todas as pessoas; Evitar locais
... Eu vou estar muito vulnerável Raquel Gonçalves
cheios; Ficar sempre próximo à saída
Raquel Gonçalves

Interpretações Estratégias disfuncionais


Se eu fizer atividades que eu costumava fazer Desistir de atividades prazerosas
... Serei punido novamente
... Lembrarei do trauma e não saberei lidar com isso

Se eu voltar a conviver com as pessoas Evitar sair de casa; Nunca olhar no rosto das pessoas
... Elas ficarão enojadas com os meus medos
... Elas me acharão fraco

Se eu dormir Ficar acordado até bem tarde


... Terei pesadelos
... Não saberei se algum intruso entrar na minha casa

Se eu passar por algum estresse Evitar qualquer coisa que possa ser estressante
... Vou ter um ataque cardíaco
... Vou ter um ataque de nervos

Se eu encontrar meus amigos Evitar encontrar antigos conhecidos


... Eles irão me fazer perguntas e me achar patético

Se eu fizer planos Evitar fazer planos para o futuro


... A próxima coisa terrível vai acontecer Raquel Gonçalves
Interpretações e Emoções
Violação de regras pessoais Violação de valores internos
Injustiça “Eu fiz algo desprezível”
“Fui tratado injustamente”

Medo Raiva Culpa Vergonha Tristeza

Perigo Responsablidade pelo evento e Perda


“Nenhum lugar é seguro” consequências “Minha vida jamais será
“Foi minha culpa” a mesma”
Exposição

• Ao vivo
• Imaginária (falada ou escrita)
• Com realidade virtual
• Inundação
• Gradual
• Com ou sem estratégias cognitivas
Repetição do relato do evento traumático

Uso da primeira pessoa

Olhos fechados

Exposição Tempo presente

Detalhes inseridos gradualmente


Imaginária Hot spots

Pode ser verbal ou escrita

Cuidado com a evitação!


Exposição Imaginária

 Habituação;
 A exposição em ambiente terapêutico propicia a
incorporação de informações seguras à memória do trauma;
 Discriminação de outros eventos potencialmente perigosos
(trauma = evento específico);
 Demonstra coragem frente à uma situação desafiadora;
 Reavaliação de cognições distorcidas geradas pelo trauma;
 Integrar a memória que está fragmentada, gerando menos
pensamentos intrusivos;
 Ativação da ansiedade é essencial.
• Aconteceu pouco antes do almoço. Eu estava assitindo aula e meu estômago estava roncando. Eu estava
cansada a queria ir para casa almoçar, mas eu sabia que precisava acabar de escrever para ir. Eu estava
escrevendo o mais rápido possível quando ouvi um barulho muito alto. Eu soube que havia algo errado. Meu
estômago apertou e eu senti medo. Todos se entreolharam apavorados. A professor foi até a janela e olhou
pela janela enquanto olhávamos para ela e aguardávamos. I felt more afraid then because I didn't know what
was going on. Minhas pernas estavam tremendo e eu estava agarrando a carteira. Todos estávamos olhando
para a professora e ela virou com medo em seu rosto. Seu olhos estavam arregalados e sua mandíbula,
apertada. Ele gritou para que esperássemos ali e correu para for a da sala. Eu estava preocupada e me
perguntando o que estava acontecendo. Pensei que deveria ser sério, porque minha professora havia
corrido. Eu queria estar em casa e me senti tremendo inteiramente por dentro. Ouvi alguém chorar e,
quando me virei, meu amigo estava passando por mim e indo até a janela. Eu também fui e alguém esbarrou
em mim e me empurrou para também poder olhar pela janela. Todos queriam ver. For a da janela eu puder
ver um pouco do gramado da escola onde brincávamos e havia muitos estudantes do lado de for a gritando e
sussurrando. Havia muitas vozes, então eu não pude distinguir o que estava acontecendo, mas eu ouvi
alguém gritar “o exército!”. Então eu vi o braço do meu amigo apontando e gritando “olhem!”. Sua voz
estava alta porque ele estava com medo. Depois eu vi uma linha de homens da minha aldeia e eles estavam
cercados por soldados. Eles estavam andando de um lado para o outro com suas armas apontando para eles.
Subtamente eu senti raiva e muito medo. Os outros garotos ainda estavam me empurrando e a cabeça de um
dlees estava na frente da minha visão, então eu não podia ver bem e senti meus braços e pernas agitados.
Empurrei a cabeça de um deles para poder ver. Um homem pisou for a da linha e eu disse: “ele foi
identificado!” e me senti enjoado porque o homem era um vizinho próximo e amigo do meu pai. Subtamente
eu pensei na possibilidade de meu pai estar na linha e me senti completamente em pânico e meus braços
ficaram frenéticos, empurrando os outros alunos para poder ver, mas não pude chegar muito perto porque
todos estavam empurrando. Subtamente eu ouvi um barulho alto de explosão e vi o homem cair sobre seus
joelhos e se virar um pouco. Alguém gritou for a da sala e outra pessoa gritou “quieto!”. Todos estavam
olhando para o homem e ele começou a convulsionar no chão. Havia mais e mais sangue saindo da sua boca
e peito. Eu fiquei enjoado e apavorado, e pensei ‘nunca estamos seguros”.
Exemplo de exposição imaginária
Quem já fez exposição imaginária no consultório?

Apenas 31% dos terapeutas recebeu treinamento formal em exposição imaginária

Qual é o seu motivo?


Motivos para não usar a técnica

Pouco treinamento Receio de exacerbar a Receio de abandono do


ansiedade do paciente tratamento

Acreditam que a Não confiam em sua


técnica tem pouca habilidade de
credibilidade administrar a técnica

van Minnen et al., 2010


Escreva, com o máximo de
detalhes que conseguir, a sua
vivência no jogo do 7x1
Exposição ao vivo
• Objetivos:
– Habituação SUDS
• Dentro da sessão
• Entre as sessões
– Teste de realidade
– Pode promover extinção
ou reconsolidação

Raquel Gonçalves
Exemplo de Hierarquia
70%
• Andar em ônibus prestando atenção no trânsito

70%
• Passar em viadutos dentro do ônibus

80%
• Contato com outros funcionários da linha de ônibus em que trabalhava

80%
• Andar em ônibus cheio

80%
• Andar de ônibus em dias chuvosos

90%
• Sentar do lado esquerdo do ônibus

90%
• Andar em ônibus com alta velocidade

100%
• Ler notícias sobre acidente de ônibus

100%
• Ouvir de som de ambulância

100%
• Fazer o trajeto do acidente na linha de ônibus em que trabalhava
As terapias com mais evidências
Cognitive Processing Therapy
Terapia do Processamento Cognitivo
• Foco mais cognitivo
• 12 sessões
• Elementos
– Psicoeducação
– Esposições escritas
– Reestruturação cognitiva relacionadas ao
significado do trauma e suas implicações
• Foco em distorções sobre segurança, confiança,
poder/controle, estima, intimidade resultantes do
trauma Resick and Schnicke (1993)
Prolonged Exposure Therapy
Terapia de Exposição Prolongada
• TEPT se mantém pela evitação de estímulos associados ao
trauma e cognições sobre si, o mundo e as reações ao
evento
• Objetivo: promover o processamento emocional através do
confrontamento sistemático e deliberado de estímulos
relacionados ao trauma
• 8-15 sessões
• Elementos
– Psicoeducação
– Treino em respiração
– Exposições ao vivo e imaginária
Foa & Rothbaum (1998)
Terapia do processamento
cognitivo Resick e Schnicke (1982)
• Desenvolvida para tratar vítimas de estupro.

• Ressalta a importância de se confrontar diretamente crenças maladaptativas a fim de


complementar o trabalho da exposição.

• Atua em duas frentes principais: na reestruturação de crenças prévias ao trauma e/ou


construídas a partir dele que sejam disfuncionais e na exposição ATRAVÉS DA ESCRITA.

• 12 sessões de 1,5 hora de duração cada.

• Elementos:

– Psicoeducação

– Identificação de pensamentos (cognições relacionadas à segurança, intimidade,


confiança, poder e autoestima) e sentimentos relacionados ao trauma e sua reestruturação

– Exposição
Terapia de Exposição Narrativa
• Utilizada para múltiplos traumas

Auxiliar a
Psicoeducação contextualização do
trauma

• Foco na
Linha do informação
tempo contextual
• Flores e pedras

Leitura da
linha do tempo
pelo terapeuta
Vamos
praticar
?
Caso Clínico
• Letícia buscou atendimento por estar com dificuldade em lidar com
pensamentos intrusivos recorrentes a respeito de um evento sofrido há
alguns anos. Estava hospedada em uma pousada na região serrana e
chovia muito. Quando acordou, viu que o rio que passava pela pousada
havia transbordado. A água subia rapidamente e ela mal teve tempo de
reagir quando a parede de vidro do salão principal quebrou com a força da
água e invadiu a pousada. Letícia diz que as lembranças são insuportáveis
e a deixam extremamente taquicárdica. Ela buscou terapia porque não
consegue se livrar desses pensamentos, que a atormentam inclusive nos
sonhos. Mudou-se para o RJ, mas segue alerta a qualquer indício de chuva
mais forte. Sente-se apavorada constantemente e acredita estar em perigo
o tempo todo. Falar sobre o trauma durante a entrevista foi tão
desconfortável que ela cogita não voltar na semana seguinte.

O que você faria? Simular


psicoeducação
Diagnóstico
Caso clínico Plano de
tratamento

• J. buscou atendimento após perceber sua vida extremamente impactada


por humilhações recorrentes no ambiente de trabalho. Seu antigo chefe o
nomeava de “seu merda” e “banana”. Essas humilhações eram realizadas
em público e seus colegas de trabalho às vezes riam da situação. J.
começou a ter pensamentos intrusivos recorrentes sobre os episódios de
humilhação, taquicardia e grande malestar quando seu despertador
tocava para avisá-lo que deveria acordar para trabalhar. Ao chegar à
empresa, apresentava dificuldade para se concentrar, irritabilidade e se
assustava com qualquer possibilidade da presença de seu chefe.
Consumido pela raiva de seu chefe e de si mesmo por não conseguir reagir
às provocações, começou a acreditar fortemente nas palavras do chefe
quando ele o chamava de “merda”. O mundo passou a ser um local hostil,
pois qualquer pessoa era uma potencial humilhadora. Passou a faltar ao
trabalho, até que se desligou totalmente. Não atende telefonemas ou
responde mensagens de seus antigos colegas de trabalho. Não consegue
buscar emprego e sua vida social ficou restrita aos familiares mais
próximos.
Caso clínico
• João buscou atendimento por estar se sentindo constantemente
anedônico. Seu desânimo é tão intenso que nem a copa do mundo, que
normalmente o deixava em estado eufórico, o animou. Pensa em se
separar, já que não sente “mais nada” pela sua esposa, por quem sentia
grande paixão. Também não consegue mais brincar com seu filho. Sente-
se cansado só de se imaginar jogando bola com ele. Sente-se distante de
todos. Acha que será demitido em breve, já que não consegue se
concentrar para fazer os relatórios do trabalho. Os almoços com os amigos
do trabalho cessaram, e agora ele prefere comer sozinho quando não pula
o almoço. O apetite apresenta-se diminuído. Não lembra a última vez que
sorriu, embora costumasse achar tudo engraçado.

Qual seria sua próxima pergunta?

Em que categoria do diagnóstico de TEPT esses sintomas se concentram?


Questões
• O comprometimento psíquico de um paciente com TEPT é proporcional ao
grau da violência sofrida?
• Outros transtornos podem ser desenvolvidos após um evento traumático.
Portanto, o que diferencia o TEPT desses outros transtornos com relação a
associação com um evento traumático?
• De acordo com o DSM V, quais são os grupos de sintomas apresentados
por pacientes com diagnóstico de TEPT? Cite ao menos dois sintomas de
cada grupo.
• Explique a importância da psicoeducação no tratamento do TEPT.
• Uma pessoa que sofreu humilhações graves no trabalho pode desenvolver
TEPT? Por que?
• Identifique e descreva os principais componentes da TCC para o TEPT.
• Descreva a terapia de exposição narrativa.
“A
esperança é
necessidade
ontológica”
Paulo Freire

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