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MARCIA BELMIRO

apresenta

Exercícios
práticos para serem conduzidos por
Professores ou
– em função da pandemia –
Pais
No artigo “Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo
coronavírus (COVID-19)”, Schmidt et al., ao citarem Ornell et al., afirmam que “na
vigência de pandemias, a saúde física das pessoas e o combate ao agente patogênico
são os focos primários de atenção de gestores e profissionais da saúde, de modo que
as implicações sobre a saúde mental tendem a ser negligenciadas ou subestimadas”.
No entanto, “as implicações psicológicas podem ser mais duradouras e prevalentes
que o próprio acometimento pela COVID-19, com ressonância em diferentes setores da
sociedade”.

Embora a pandemia do coronavírus ainda nem tenha acabado, já se pode perceber suas
consequências nas crianças, que apresentam níveis de medo e ansiedade comparáveis
aos de um trauma.

No contexto desta pandemia, já se estuda a ocorrência do fenômeno de “traumatização


vicária”, também denominado “traumatização secundária”, em que pessoas que
não sofreram diretamente um trauma passam a apresentar sintomas psicológicos
decorrentes da empatia por quem o sofreu (Li et al.). Ou seja, uma criança que não
passou por nenhuma perda de alguém querido, mas acompanhou os noticiários e a
preocupação dos pais sobre a saturação no sistema de saúde, as dificuldades financeiras
ou a preocupação com os idosos da família pode, sim, desenvolver sinais de trauma.

Visando a prevenção de possíveis sinais de trauma nas crianças e pensando em diminuir


o impacto psicológico doloroso gerado por todas as situações que a humanidade
está passando, estamos disponibilizando este material de práticas e exercícios para
uso do professor em suas salas de aula físicas, quando do retorno às escolas, e que
também pode ser aplicado nas aulas virtuais, o que vai gerar bem-estar nas crianças e
aproximação professor–aluno. Estes exercícios também podem ser aplicados pelos pais
em seus filhos dentro de casa para facilitar a expressão das crianças, o que favorece na
elaboração das dores psíquicas, medos e ansiedades. Ademais este material pode ser
de grande utilidade para os adultos, sendo interessante sua autoaplicação.

Só quando conseguimos expressar o que sentimos e o que pensamos é que iniciamos


o processo de nos libertar das dores e incômodos emocionais. Portanto, aproveite este
material na sua vida, na vida de sua família e de seus alunos.

Equipe do ICIJ – Instituto de Crescimento Infantojuvenil


CONTATO COM REDE DE
RELACIONAMENTO

Nós, humanos, somos seres gregários e, por isso, necessitamos constantemente


de proximidade, troca de afeto e de comunicação inter-relacional. É no contato
com o outro que experimentamos a empatia mútua, exercitamos nossos recursos
cognitivos e emocionais e treinamos nossos limites na manutenção do respeito e
na evitação do conflito.

Portanto, é extremamente sadio manter contato frequente, durante os intervalos no


trabalho e nas aulas por meio de telefonemas, mensagens de texto, áudio e vídeo.

Faça seu planejamento diário de contatos, aí vai um material que irá ajudar:

Hoje eu vou telefonar para:


Pessoa 1 -
Pessoa 2 -

Hoje eu vou mandar um texto/áudio de WhatsApp para:


Pessoa 1 -
Pessoa 2 -

Anotar após esses contatos:

Por que foi bom me comunicar com essas pessoas hoje?

O que eu disse a essas pessoas que achei bem legal?

O que essas pessoas me disseram que me ajudou?


BRINCADEIRAS
DE CONTATO DAS CRIANÇAS COM SEUS COLEGAS
Brincadeira 1 – na volta às aulas no formato presencial:
GRUPOS ALTERNADOS PARA CONVERSAS ORIENTADAS

– Prepare cartões com 4 cores diferentes, conforme o número de alunos da turma


Exemplo: Se tem 20 alunos na sua turma, você vai preparar 5 jogos de cartões com 4 cores
diferentes entre si.

– Faça no chão marcações adesivadas mantendo 1 metro de distância entre cada marcação,
para a formação de um círculo com 4 participantes;

– Seu objetivo será criar grupos com alunos segundo as cores que eles têm no cartão que
receberam. Eles farão diversos subgrupos e terão rápidas conversas com tempo programado
e tema pré-definido;

– Distribua os cartões de tal forma que todos os alunos recebam um cartão com uma cor.

– RECOMENDAÇÕES A SEREM DADAS PARA A TURMA:


9 Cada um de vocês tem um cartão com uma cor, repare na sua cor.
9 Quando eu der o sinal vocês vão montar grupos nesses espaços adesivados.
9 Cada grupo terá uma pessoa de cada cor de cartão, ou seja, em cada grupo haverá uma
pessoa com cartão da cor A, outra com o cartão da cor B, outra da cor C e outra da cor D.
9 Fiquem em pé e quando eu der o sinal montem os grupos. JÁ!
9 Eu vou marcar 20 segundos para que todas as pessoas que têm o cartão da cor A
contem nos seus grupos: QUAL FOI A COISA MAIS CHATA QUE ACONTECEU DURANTE O
TEMPO QUE FICARAM EM CASA? Depois vou marcar 20 segundos para as pessoas de
cartão da cor B façam o mesmo, depois as pessoas com o cartão da cor C e depois as
com cartão da cor D.
9 Montem grupos agora com pessoas diferentes daquelas do primeiro grupo, mas também
com uma pessoa de cada cor de cartão. Vou marcar 20 segundos para que cada pessoa
conte no seu novo grupo: DO QUE VOCÊ TEVE MAIS MEDO DURANTE ESSE PERÍODO?
9 Agora montem grupos de 4 pessoas com apenas duas cores diferentes. Vou marcar 20
segundos para cada um conte: UMA COISA MUITO LEGAL QUE ACONTECEU DURANTE
ESSE TEMPO.
Brincadeira 2 – na volta às aulas no formato presencial:
CÍRCULOS DE EXPRESSÃO I

– Prepare no chão marcações adesivadas, mantendo 1 metro de


distância entre cada marcação, para a formação de um círculo
com todos os alunos;

– RECOMENDAÇÕES A SEREM DADAS PARA A TURMA:


9 Vamos formar um círculo com distância de 1 metro entre as pessoas.
9 Cada um vai dizer uma coisa que pensou ou sentiu quando já tinha passado muito tempo
sem ir à casa das pessoas de quem gosta ou sem fazer passeios que costumava fazer.
9 Vou definir uma direção – inicialmente será da direita para a esquerda, mas em alguns
momentos vou alternar. Assim, é possível que você tenha que falar várias vezes, então
vá lembrando outras coisas que pensou e sentiu.
9 (Esclareça que pensar são ideias que ficam passando pela nossa cabeça e sentir são
sensações que temos e que aparecem em reações no nosso corpo. Dê exemplos: “Você
pode ter pensado ‘isso não vai acabar nunca’ e pode ter sentido ‘raiva’.”)

Brincadeira 3 – na volta às aulas no formato presencial:


CÍRCULOS DE EXPRESSÃO II

– Prepare no chão marcações adesivadas mantendo 1 metro de


distância entre cada marcação, para a formação de um círculo
com todos os alunos.

– RECOMENDAÇÕES A SEREM DADAS PARA A TURMA:


9 Vamos formar um círculo com distância de 1 metro entre as pessoas.
9 Começando por você (professor elege uma pessoa). Vire-se para a pessoa a sua direita e
diga: UMA COISA BOA QUE VOCÊ VÊ NO SEU COLEGA – PODE SER UM JEITO DELE DE SER,
UMA MANEIRA BACANA QUE TEM COM OS OUTROS COLEGAS...
9 Agora, um de cada vez, começando por você (professor elege uma pessoa). Vire-se
para a pessoa a sua esquerda e diga: MUITO OBRIGADO PORQUE VOCÊ... e cada um irá
completar a frase conforme uma experiência que tenha tido com esse colega.
Brincadeira 4 – na volta às aulas no formato presencial:
CÍRCULOS DE EXPRESSÃO III

– Prepare no chão marcações adesivadas mantendo 1 metro de


distância entre cada marcação, para a formação de um círculo
com todos os alunos sentados no chão.

– RECOMENDAÇÕES A SEREM DADAS PARA A TURMA:


9 Vamos formar um círculo sentados no chão com distância de 1 metro entre as pessoas.
9 Vamos contar nossas histórias durante o tempo de isolamento social;
9 O grupo todo vai criar essas histórias em que cada pessoa do círculo vai contando um
pouco e uma parte dos fatos, dos acontecimentos, dos incômodos, das diversões, das
alegrias, dos medos, das irritações que experimentou nesse período.
9 Primeiro vamos definir quem serão os personagens dessa história, vamos colocar no
máximo 5 personagens. (Professor ajuda o grupo a definir esses personagens.)
9 Todos falarão sobre suas experiências pessoais usando os nomes dos personagens
(exemplo de personagens: pai, irmão, avó e cadela Juju)
9 Vou apontando quem vai continuar a história.
9 Vou começar a história:

Era uma vez um reino muito distante onde aconteceu uma coisa muito séria, que
eles chamaram de pandemia do COVID19. Nesse tempo aquele povo viveu muitas
e muitas situações: algumas foram tristes, outras deram medo e tiveram até
algumas que foram engraçadas. Hoje nós vamos contar essa incrível história que
o pai, o irmão, a avó e a cadela Juju (aqui se fala o nome dos personagens que
foram definidos pelo grupo) viveram.
Então aconteceu naqueles dias que...

(Nesse ponto, o professor aponta uma pessoa aleatória no grupo que dará sequência à história que ele iniciou acima.
O professor dá 10 a 15 segundos para cada um ir dando continuidade à história – não precisa seguir a roda, podem ser
apontadas pessoas aleatórias.)

9 Quando o professor percebe que muitas histórias, pensamentos e emoções já vieram à


tona, ele diz: “Agora vamos dar fecho a essa história contando o que veio depois de tudo
isso que aconteceu nesse reino.”

(Nesse ponto, o professor estimula que umas três crianças tragam para a história o que elas imaginam de COISAS BOAS
que podem ter acontecido naquele reino após tudo que eles passaram.)
Por fim, deixamos aqui uma pequena lista com outras ideias que Marcia
Belmiro propõe para auxiliar pais e professores a trabalhar consigo e
com suas crianças e adolescentes formas de avançar emocionalmente
neste momento pós-traumático que todos vivemos...

ΠEscrever cartas estruturadas para si mesmo falando dos sentimentos e


pensamentos;
Œ Crianças escreverem sugestões do que outras pessoas podem fazer para
conseguir lidar com as dores e perdas que tiveram durante a pandemia;
Œ Crianças fazerem vídeos dizendo o que pode ajudar as pessoas a
conseguirem sorrir e se alegrar de novo;
Œ Criação de redes de apoio mútuo em grupos de WhatsApp, Telegram
etc., para falar sobre o que as pessoas quiserem, sobre os sentimentos
e pensamentos que tiveram durante a pandemia, e também sobre os
pensamentos e sentimentos que ainda carregam agora;
Œ Organizar a realização diária de uma ação para gerar proximidade com
pelo menos duas pessoas que sejam importantes para a criança;
Œ Fazer desenhos que expressem como a criança se sente;
Œ Criar músicas e dramatizações que favoreçam a expressão de ideias e
emoções vividas durante a pandemia e depois dela;
ΠAnotar as vezes que os sentimentos de raiva, medo etc. aparecem, e
conversar sobre isso com alguém que seja mais positivo/otimista;
ΠAnotar tudo o que aprendeu de novo e diferente durante esse tempo
que ficou em casa, desde dividir mais as tarefas de casa a fazer festas
virtuais.

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