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DIREITO DA MULHER
A VIOLÊNCIA MORAL CONTRA A MULHER
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Por Anderson Albuquerque

A violência física contra a mulher é um tema bastante debatido, principalmente


porque o número de casos de agressões e de feminicídios têm crescido a cada ano.
No entanto, a Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006), considerada uma das três
melhores leis no mundo no enfrentamento à violência contra a mulher, tipifica, além
da violência física, a sexual, a psicológica, a patrimonial e a moral.

A maioria dos estudos sobre violência contra a mulher trata da violência física,
psicológica e sexual. A violência moral é a menos debatida delas, e também a
menos investigada. A Lei Maria da Penha, em seu artigo 7º, inciso V, a tipifica da
seguinte forma: ???V - A violência moral, entendida como qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injúria.???

Para falar sobre a violência moral contra a mulher é preciso voltar ao passado, a
uma cultura histórica onde a mulher era submissa a seu parceiro, não trabalhava -
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cuidava dos filhos e da casa.

Os ideais socialistas implantados nos séculos XVIII e XIX, a ascensão da mulher no


mercado de trabalho e as modificações morais e éticas da sociedade obrigaram o
sistema a adaptar as leis, ou seja, a salvaguardar os direitos das mulheres dando a
elas proteção legal.

A violência moral está intimamente ligada à violência psicológica, que pode ser
entendida como comportamentos ofensivos como humilhações, ofensas, gritos,
xingamentos, entre outros, que causam dano emocional e diminuem a autoestima
das mulheres.

Diante do mundo globalizado em que vivemos hoje, os crimes contra a honra


cometidos contra as mulheres, que geralmente ocorrem dentro do seu próprio lar,
podem alcançar novos contornos.

A internet promove uma falsa sensação de anonimato, e sua instantaneidade torna


as ofensas no mundo virtual cada vez mais frequentes e de proporções incalculáveis,
tornando difícil a comprovação e o combate a este tipo de crime.

No entanto, a Lei Maria da Penha pune os crimes de violência moral contra a mulher
cometidos em ambiente doméstico ou familiar. Sempre que o agressor praticar ação
que configure calúnia, difamação ou injúria, ou seja, sempre que ele infringir o art. 7º,
inciso V, da Lei n.º 11.340/2006, estará sujeito às seguintes penalidades descritas
nos artigos: 138, 139 e 140 do Código Penal Brasileiro:
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???Calúnia

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou


divulga.

§ 2º - ?? punível a calúnia contra os mortos.

Difamação

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Injúria

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:


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Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.???

A calúnia ocorre quando o agressor atribui à mulher uma conduta tipificada como
crime, sem que ela o tenha cometido. O agressor pode afirmar que a mulher furtou
bens como carro, moto, por exemplo. Já a difamação é configurada quando o
agressor atribui à mulher fatos que manchem sua reputação, como afirmar que ela é
adúltera, incompetente, etc.

A injúria ocorre quando o agressor fere a dignidade da mulher através de


xingamentos ou expressões pejorativas de baixo calão, como ???burra???,
???inútil???, ???porca???, ???idiota???, entre outros.

?? notório, pois, que a violência moral causa uma destruição psicológica, uma vez
que a mulher, em situação de violência doméstica, é agredida por quem se dedica e
nutre amor, o que degrada ainda mais sua autoestima, e muitas vezes faz com que
ela continue justificando a conduta do parceiro, que mantém suas atitudes
controladoras e humilhantes.
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Apesar de todo o avanço ao longo da história com relação aos direitos das mulheres,
evidenciados tanto na Lei Maria da Penha quanto no inciso X do art. 5º da
Constituição Federal de 1988, que prevê que a violência moral se refere ao dano ou
tentativa de dano contra a honra ou imagem de uma pessoa dentro de um
relacionamento familiar, muitas mulheres ainda têm medo de denunciar, seja por
vergonha, por receio do descrédito ou até mesmo porque são dependentes
financeiramente do parceiro.

As mulheres precisam, antes de mais nada, conhecer os seus direitos, saber quais
são para poder distinguir o que é crime e assim exigir o cumprimento destes direitos.
?? necessário promover a educação de toda a população neste sentido, para que a
mulher pare de ser tida como vítima, e passe a ser vista como o que realmente é -
sujeito de direitos.

Denunciar os casos de violência contra a mulher não é somente dever da mulher


que sofreu o abuso, mas de todos que presenciam atos de violência e preferem se
calar. Somente através da denúncia, do fato de tornar pública uma violência que não
deixa marcas físicas, será possível diminuir a impunidade e evitar que outras
mulheres sofram os mesmos tipos de abuso.
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