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APRESENTAÇÃO

Um obcecado autor de ficção tenta vencer o bloqueio


criativo e acaba despertando um lado sombrio do seu
pensamento, que assume forma humana e passa a
persegui-lo com ecos do seu misterioso passado.

O que aconteceria se você fosse literalmente


perseguido pelos seus pensamentos mais sombrios? Que
forma teriam os demônios que moram na sua mente e que
segredos eles poderiam revelar?

Pandemonium (pan+demon, “todos os demônios”),


é o nome usado no poema épico Paraíso Perdido, de John
Milton, para o palácio no qual demônios se reuniam no
inferno para confabular contra a humanidade. Nele, um
dos demônios diz que a mente humana é, sozinha, capaz
de fazer do inferno o céu e do céu um inferno, pois os dois
nada são além de estados de espírito. Nossa mente é o
próprio pandemônio – essa é a premissa da série.

Nunca se falou tanto em saúde mental quanto nos


últimos anos, quando vemos um aumento exponencial nas
estatísticas de casos de depressão, ansiedade e burnout.
Em um mundo obcecado pela perfeição, pela produtividade
e pelo alto desempenho, não há espaço para o que é
humano e não nos permitimos tempo para a pausa. Assim,
chegamos ao limite, explorando ao máximo o que podemos
oferecer ao negarmos nossos defeitos. Afinal, somos
lembrados a todo momento que devemos ser positivos,
como se a negatividade fosse um pecado a ser evitado a
todo custo. Nas palavras do filósofo Byung-Chul Han, “hoje
em dia o próprio indivíduo se explora e chama isso de
“Ao matar seus demônios, cuidado para não autorrealização”.
destruir o que há de melhor em você.”
-- Friedrich Nietzsche
SINOPSE
Adam, autor de ficção científica, é um homem
talentoso, eloquente e magnético, obcecado pela ideia de
ser o escritor perfeito, o que se aproxima dele a cada obra
aclamada que publica. Mas Adam tem um segredo: ele não
se lembra da sua infância. As lacunas em sua memória são
Mas a negatividade é tão parte da natureza humana um tormento, assombrando-o com pesadelos frequentes e
quanto a positividade. Então por que motivo fazemos tantos perturbadores. Corpos entrelaçados em agonia, zumbidos
malabarismos mentais para evitar encarar nosso lado de moscas no escuro, sorrisos macabros, lama escura e
sombrio? Possuímos demônios dentro de nós. Imperfeições, pegajosa. De todos os seus pesadelos, a imagem de um
traumas, transgressões, medos e fraquezas – são eles os homem olhando-o e sorrindo, entre moscas e mariposas, é
demônios dos quais fugimos ou ignoramos a existência o mais real, fazendo-o acordar no meio da noite em pânico
porque desejamos uma perfeição inalcançável e, diga-se de diversas vezes.
passagem, supérflua.
Diante de um bloqueio criativo e pressionado por
Pandemonium é um suspense psicológico sobre o sua editora (Janaína), para que entregue o novo romance a
lado sombrio de nossas mentes criando vida e nos forçando tempo, Adam vê sua reputação em risco. Janaína, obcecada
a encarar a realidade por trás da máscara que usamos por metas e números, ameaça destruir a carreira de Adam
no dia a dia, ao vivo ou nas redes. Em formato de drama caso ele não cumpra seu lado do acordo. Ao encontrar
serializado de 10 episódios e passada no maior centro amigos de longa data (João Paulo e Andrea) para estimular
brasileiro da produtividade, São Paulo, Pandemonium sua criatividade, conhece Louise, uma esotérica hipnotista,
tem como protagonista Adam, um homem que representa famosa por causar divertidos comportamentos nas pessoas
essa obsessão pelo perfeito de maneira extrema e que sob sua influência. Relutante a princípio, mas tentado por
será confrontado pelo seu imperfeito diretamente, numa uma aposta com os amigos, Adam aceita ser hipnotizado
luta retórica, psicológica e física, expondo a humanidade em frente a todos.
quebrada que existe dentro de todos nós.
Contudo, o efeito de Louise nas suas cobaias não
Tendemos a acreditar que a saúde mental se resume é visto em Adam. Diante de várias pessoas, Adam entra
a sentir-se bem, feliz e realizado a todo momento. Mas em transe e convulsiona durante a hipnose, o que provoca
saber lidar com os aspectos mais obscuros da nossa mente, sua mente de maneira única e materializa seus pesadelos.
aceitar nossas imperfeições como parte de nós e não como Com isso, o misterioso homem de seus pesadelos, um dos
nossas inimigas que devem ser reprimidas ou vencidas é demônios na sua mente (Luciano), assume forma física e
ser mentalmente saudável, é ser livre de fato para abraçar passa a viver como um organismo independente, voltando-
quem somos, por inteiro. se contra Adam, indignado por ter sido preso em sua mente
por tantos anos. Luciano, que destaca a todo momento
uma estranha tatuagem de mariposa no pescoço, instiga
Adam a abraçar emoções reprimidas e ser livre dos padrões
impostos por uma sociedade cega pelo desejo de perfeição.
STORYLINE/ ARCO DA PRIMEIRA TEMPORADA
Ao influenciar Adam, chegando a possuí-lo em um
determinado momento, Luciano o faz encarar seu lado
mais violento, transgressor e imoral. Afundado no extremo
de sua obsessão por ser o escritor perfeito, Adam permite
o domínio de Luciano sobre sua persona. Assim, agride
Janaína, trai a confiança de João Paulo, seduz Andrea e
põe sua vida em risco ao revoltar-se contra a editora. Sem
conseguir equilibrar o homem que acreditava ser com a
sua brutal verdade interior, encontra-se cada vez mais sem
saída. Com a ajuda de Louise, tenta reprimir Luciano, mas a
cada tentativa ele se torna mais forte.

Diante da maior chance que tem de se livrar do seu


demônio, Adam tem uma grande revelação: Luciano é na
realidade um anagrama para Nicolau, o irmão mais novo
de Adam, morto acidentalmente na infância quando Adam
cuidava dele. Nicolau, que possuía no pescoço uma marca
de nascença em formato de mariposa, se tornara uma culpa
torturante, levando-o a suprimir memórias traumáticas do
acidente e quaisquer outras que reforçassem sua visão
monstruosa de si. Ao acessar novamente o trauma da
morte do irmão, Adam percebe que não conseguirá vencer
Luciano, rendendo-se a ele numa desconstrução completa
da sua imagem perfeita inicial.

Vários elementos plantados desde o episódio


piloto vão revelando seus reais significados por meio de
flashbacks que surgem após a grande revelação. Um porta
lápis que Adam possui, com a imagem de dois ursos se
abraçando e pelo qual Adam tem um apego inexplicável, era
um pertence de sua mãe, representando seus dois filhos
homens. As moscas, símbolo da mitologia persa e cristã
da forma como o Mal entra de maneira furtiva e sorrateira
na vida do homem. A mariposa, símbolo de transformação,
renovação e morte, representando ao mesmo tempo o
trauma de Adam ao perder Nicolau e seu renascimento
depois da revelação. Janus, o nome da editora de Janaína,
que é também o nome da divindade romana de duas caras,
uma voltada para cada lado, representando a dualidade e
a capacidade de olhar para o passado sem perder o olhar
também para o futuro.

Quando Adam começa a resolver conflitos usando a


força de seu lado sombrio a seu favor, as peças soltas ao
longo da temporada se encaixam e ele passa a escrever
seu novo livro, inspirado pelo seu novo eu, mais aberto
e honesto. Quando dorme e com nada sonha, sente sua
mente finalmente livre dos demônios que o atormentavam.
Seu quarto, contudo, está infestado deles. O pandemônio,
por completo, despertou. Esse é apenas o começo. “Se meus demônios me abandonarem, temo
que meus anjos desapareçam também”
-- Rainer Maria Rilke
ADAM
SOBRE
Adam é perfeito – ou pelo menos, se esforçara a
vida inteira para assim parecer. Homem branco, hétero,
aproximadamente 35 anos, de beleza estonteante e olhar
magnético. Um homem criativo, hábil, inteligente, eloquente,
divertido e extremamente generoso com as pessoas ao seu
redor. Sempre reconheceu as suas próprias qualidades e,
por esse motivo, foi por anos impune aos julgamentos do
mundo e de si mesmo. Charmoso, ouvia sempre um sim
como resposta, mesmo sem ter feito uma pergunta clara.

Adam não é o rapaz mau por trás de um rosto belo.


Ele é, de fato, um homem bom e generoso, que se esforça
para fazer o correto a todo momento. A beleza exterior
é harmoniosa com a beleza interior. Afinal, seu maior
esforço – constante e doloroso – é o de ocultar qualquer
traço negativo na sua personalidade e na sua aparência
física. Adam é obcecado por suas próprias virtudes, acima
de qualquer coisa. Essa obsessão se traduz também no
seu trabalho. Adam não se contenta em ser apenas um
bom autor de ficção e com um relativo prestígio na sua
área, como está no início da nossa história. Adam quer ser
o maior, o mais vendido, o mais admirado, o nome mais
relevante da literatura fantástica na sua geração.

Esse esforço não se mostra como ansiedade: Adam


parece sempre calmo, explicando seus próximos passos
dentro de sua arte de maneira eloquente e despreocupada.
Mas, por dentro, ele esconde um desespero por não
conseguir sair do lugar diante de um bloqueio criativo.
Visualmente, percebemos esse desespero em um quarto
trancado que tem em seu apartamento. Para os amigos,
aquele é apenas um “armário” com algumas bagunças, o
que é suficiente para que cessem as perguntas. Mas, na
realidade, o quarto esconde um pouco já do pandemônio
mental que habita em Adam: post its espalhados e
confusos, linhas do tempo sobre os personagens da sua É no encontro com sua fragilidade que Adam se
nova série literária, rascunhos incompletos, rasgados e torna verdadeiramente humano, pela primeira vez. Esse é
descartados. O quarto esconde todo o planejamento sem o motivo de seu nome: Adam (ou Adão), o primeiro homem
rumo da nova história que Adam está a escrever, mas que a encontrar seu pecado, num Éden supostamente perfeito,
diz para todos que está completamente estruturada. mas que escondia tentações. Quando encara o demoníaco,
percebe estar nu, e nada que cultivara como perfeição até
Quando Janaína descobre que Adam ainda não aquele momento importa. Assim, conecta-se com o que
tem nada para apresentar no prazo estabelecido, o reprimiu ao longo de anos: seu trauma mais profundo, a
desespero dele fica mais evidente e ele passa noites em culpa por ter “permitido” a morte de seu irmão mais novo
claro, trancado no quarto buscando uma solução. É nesse na infância. Quando consegue lidar com os seus demônios,
momento que percebe que não conseguirá sem um estímulo Adam finalmente começa a experimentar um pouco de
a mais e liga para seus amigos, encontrando-os à noite em honestidade.
um bar, onde conhecerá Louise, a hipnotista que o fará
despertar seus demônios internos. Tal qual diz Lúcifer em Paraíso Perdido, Adam entende
que “é melhor reinar no Inferno do que ser submisso no
Quando Luciano se materializa e passa a provocar Céu”. Contudo, por quanto tempo pode um homem manter
Adam diariamente, desafiando-o sobre tudo que até então seus demônios sob controle?
escondeu sob a sua máscara de perfeição, ele traz à tona
dúvidas e questionamentos comuns a todos nós. Adam
percebe seu ego frágil pela primeira vez. Como Albert
Camus em “A Queda”, vemos o personagem enxergando a
superficialidade das suas virtudes.

“Assim corria eu, sempre pleno, jamais saciado, sem


saber onde parar, até o dia, ou melhor, até a noite em que
a música parou e as luzes se apagaram. É assim o homem,
caro senhor, com duas faces: não consegue amar sem se
amar. Tenho duas faces, um Janus encantador e, por cima,
o lema da casa: não confie. Quando deixava um cego sobre
a calçada onde eu o tinha ajudado a aterrissar, saudava-o.
Evidentemente, esse cumprimento não lhe era destinado,
ele não o podia ver. A quem, pois, se dirigia? Ao público.
Fui sempre um poço de vaidade. Eu, eu, eu, eu, eis o refrão
da minha preciosa vida, e que se ouvia em tudo quanto eu
dizia. Nunca me lembrei senão de mim mesmo.”
LOUISE
SOBRE
Somos quem cremos ser, mas muitas vezes
precisamos ver para crer. Louise é uma hipnotista charlatã
que desconhece o próprio dom até seu contato com Adam
trazê-lo à tona. Mulher branca, loira de olhos claros, de 35-
40 anos e lésbica, Louise passou uma vida sem entender
quem de fato era e, por esse motivo, foi todas as mulheres
possíveis ao longo dos anos.

Mitômana, inteligente e perspicaz, ela desenvolveu


habilidades variadas e passou seus anos dividindo-se
em trabalhos autônomos, por meio de diplomas falsos e
identidades inventadas. Seus esforços mais recentes são
voltados ao misticismo, pela facilidade que percebe ter em
convencer as pessoas do seu talento. E é nesse contexto
que seu caminho cruza com o de Adam.

Convidada para uma despedida de solteira


acontecendo no mesmo ambiente no qual Adam encontra
seus amigos, Louise é alvo das piadas de Adam e João
Paulo, dois céticos, ao ser observada à distância pelos dois,
hipnotizando e lendo nas cartas o futuro das mulheres da
festa. Andrea, ao questionar o porquê de tanto ceticismo,
convence Adam a deixar-se ser hipnotizado. Louise é
chamada à mesa deles e se interessa pela descrença de
Adam, provocando-o. Quando inicia suas técnicas em Adam
e ele entra em transe, convulsionando e desmaiando na
frente de todos, Louise fica desesperada e foge, levando o
dinheiro que estava na mesa.
Louise fica em choque porque, em algum nível,
sabe que não é apenas o que diz ser. Seu demônio é
também seu fantasma: um passado confuso com uma
família disfuncional. Descendente da família alemã
de Franz Anton Mesmer, o médico que criou a teoria
pseudocientífica do mesmerismo, Louise aos poucos
percebe ter algo em si que permitiu desbloquear Adam
da forma observada e isola-se para entender mais sobre
o assunto.

Contudo, por mais que fuja, é encontrada por Adam,


furioso com o resultado da sua hipnose. Ao conversarem
honestamente, os dois iniciam um acordo de entenderem
juntos o que aconteceu. Adam a admira por expor sua
fragilidade e por conseguir ser honesta consigo mesma
dentro de toda a sua vida de mentiras. Louise busca
em Adam a resposta para os seus próprios dilemas, e o
admira por sua determinação em encontrar respostas. O
contrato entre os dois, inicialmente conflituoso, torna-se
então de ajuda mútua.
JOÃO PAULO
SOBRE
A perfeição nunca foi a prioridade de João Paulo –
sua luta reside em simplesmente ser aceito. Homem negro,
de cerca de 40 anos, professor universitário de Filosofia
Contemporânea na USP, João Paulo passou toda a sua
vida ensinando e dialogando de maneira eloquente e sábia
contra o racismo estrutural que o faz precisar se dedicar o
dobro para ser reconhecido como igual. Até hoje, acadêmico
respeitado de uma das maiores universidades do país,
precisa provar-se diariamente, de maneira exaustiva.

João é doutor em Filosofia Existencialista e ghost


writer de uma das principais plataformas filosóficas
didáticas do país. Essa sua última função é, para ele,
um complemento de renda, mas, ao mesmo tempo, uma
afronta. O termo ghost writer é, na França, usado como
“nègre littéraire”, ou “negro literário”, uma expressão racista
que representa uma pessoa que escreve para os outros
receberem o crédito. E é como João se sente diariamente.

Inteligente, perspicaz, diplomático e bem-humorado,


João é o melhor amigo de Adam desde que o conhecera na
Editora Janus, e é com ele que divide angústias, alegrias,
histórias e muitas garrafas de cerveja, quase todos os dias
na saída do trabalho.

João é uma figura fraterna mais velha de admiração


e excelência para Adam. Possui a assertividade que Adam
finge ter e a resiliência que ele sonha em alcançar. O
contrato entre os dois é de amizade e plena confiança.
Contudo, João reprime suas paixões em uma faceta de
estoicismo e ceticismo, permitindo-se ser unicamente
guiado pela razão e pela lógica. Todas as suas ações
passadas guiadas por paixões resultaram em dor.
João Paulo é, em Pandemonium, o veículo para a introdução
da filosofia nos diálogos, através do existencialismo,
doutrina filosófica que analisa o sentido da existência
humana. Com seu nome escolhido na história como uma
referência ao filósofo existencialista Jean Paul Sartre, o que
o rege é seu mais conhecido pensamento: “o inferno são os
outros”. Frequentemente, João trará à discussão os temas
de como a liberdade do outro pode nos infernizar, e como a
nossa própria liberdade é também uma condenação - afinal,
se somos livres para ser e agir, toda escolha que fazemos
é intencional, e não podemos culpar ninguém pelo nosso
infortúnio senão nós mesmos.

Ao longo da primeira temporada, sendo provocado


pelo lado sombrio de Adam, João Paulo também
acabará quebrando sua face cética e livre de paixões,
permitindo a si mesmo sentir raiva e descontentamento,
especialmente diante de situações de injustiça. O arco de
João é influenciado positivamente pelo arco de Adam, e
os dois caminharão juntos em direção à liberdade de ser
e sentir aquilo que não nos orgulha diante do espelho, até
um inevitável rompimento entre os dois e consequente
amadurecimento dessa relação.
ANDREA
SOBRE
Andrea representa a sociedade que rompe com os
preconceitos antigos e cria novos preconceitos dentro do
que convém. Sua jornada é um retrato de diversos núcleos
da sociedade que se dizem livres, mas que permanecem
presos a um padrão imposto de comportamento e estética.

Mulher, 30 anos, parda, bissexual, modelo plus size


de uma marca de biquinis e cristã progressista, Andrea tem
uma personalidade fascinante, equilibrando com maestria
a doçura e a sensualidade, a fé e o pensamento crítico, a
autonomia e a empatia. Contudo, sua fascinante dicotomia
deixa de ser funcional diante dos grupos sociais com os
quais se relaciona. No mundo da moda, mesmo levantando
a bandeira da aceitação de todos os tipos de corpo, sofre
com editores que alteram suas fotos frequentemente. Na
igreja, sente toda a hipocrisia de um grupo que prega o
amor e a aceitação, mas que renega o diferente, impondo
regras morais e comportamentais que destroem a beleza da
individualidade de cada um.

Andrea se tornou amiga de Adam na faculdade,


quando cursaram Comunicação Social juntos. A amizade
se manteve por anos, e o contrato entre os dois é de
admiração mútua, com pontadas de tensão sexual. Adam
fora apaixonado por Andrea, mas reprimiu esse desejo por
anos. Foi através de Adam que Andrea conhecera João, com
quem ficou casada por 5 anos.
O relacionamento entre João e Andrea foi
conturbado, visto principalmente que João não conseguia
aceitar a passionalidade e fé de Andrea, e ela se sentia
constantemente presa diante da racionalidade de João. Os
dois tiveram um divórcio conflituoso, no qual Adam ficou
dividido, e começa a história tentando preservar a amizade
entre os três.

O nome de Andrea, assim como o de Louise, é uma


escolha referente à brilhante filósofa e psicanalista russa
Lou Andreas Salomé, mulher de inteligência e sensibilidade
louváveis, que teve parcerias e relações intelectuais
intensas com Freud, Rainer Maria Rilke e Friedrich
Nietzsche, deixando todos esses homens apaixonados
(e obcecados) por ela. Lou Andreas é conhecida como “a
mulher por quem Nietzsche chorou”, tendo sido uma mulher
à frente do seu tempo. A sua escolha como referência para
as personagens femininas vem da intenção de colocar tanto
Louise como Andrea como mulheres de tamanha força e
potência que superam as fragilidades encontradas em todos
os personagens masculinos da série.
LUCIANO
SOBRE
Luciano é Adam. Mas é Adam sem qualquer um de
seus freios morais, um Adam livre das regras do superego.
É seu maior inimigo porque é o próprio espelho, revelado
diante de todos que tenta ludibriar. Debochado, provocativo,
impulsivo, sexual e agressivo.

Recém liberto de uma mente obcecada por


aparências, o maior medo de Luciano é voltar para o seu
cárcere, e ele fará de tudo para que Adam não o consiga
controlar. Seu objetivo é atingir Adam exatamente em
seus pontos fracos, pois sabe que assim o enfraquece e
consegue dominá-lo. Se ver seu pior lado retratado em uma
pintura fez Dorian Gray abominar-se, imagine o que ter esse
retrato vivo ao seu lado e perseguindo-o todos os dias pode
fazer com Adam. Luciano é o espelho de Adam, amaldiçoado
com a verdade. Portanto, em Pandemonium, o vilão é o
próprio herói. Como diz Nietzsche: “o inimigo mais poderoso
que você poderá encontrar será sempre você mesmo”.

Mas Luciano não é apenas isso. Criado pelo


inconsciente de Adam, Luciano representa a culpa
torturante que Adam carrega e da qual seu consciente
o protegeu ao longo dos anos. Nicolau, seu irmão mais
novo, cujo nome originou o nome de Luciano por ser um
anagrama, morrera aos 5 anos de idade, caindo da janela
de casa quando Adam deveria estar cuidando dele. A
marca de nascença que Nicolau tinha em seu pescoço, em
formato de mariposa, veio em Luciano como uma tatuagem.
O som das moscas que entraram no velório do menino e
circundaram seu corpo, deixando Adam horrorizado, são as
mesmas que vêm até Adam hoje como alucinações.
O nome Luciano significa “luz”, tal como Lúcifer.
Numa metáfora com o anjo caído, nós também temos
aspectos de nós que são “caídos” e cheios de escuridão.
Mas se Adão precisou que Lúcifer o tentasse para
se descobrir humano, também Adam precisa das EPISÓDIO PILOTO
provocações de Luciano para entender que ser falho é
ser humano e que não há vergonha alguma em estarmos
também nus, em sermos verdadeiramente quem somos.
O EPISÓDIO PILOTO ESTÁ ESTRUTURADO EM QUATRO ATOS.

ATO I

O teaser trará um resumo do que veremos ao longo de toda a temporada logo


no início, com uma simples simbologia: Adam mata uma mosca. Sendo a mosca
o principal símbolo do lado obscuro de Adam, já temos nos primeiros segundos o
recado de que o protagonista, brutalmente, não permite que esse seu lado tenha
vida. Ainda no teaser, seguimos Adam preparando-se para uma entrevista a respeito
de seu novo livro, contando como foi escrevê-lo, falando sobre a forma natural com
a qual as ideias chegam a ele. Alguns plants já são observados, como o porta-lápis
de urso, que representa a maior revelação da temporada.

O episódio piloto, no primeiro ato, fará a apresentação de Adam e de sua vida


de aparências. Já conhecemos os personagens João Paulo, Louise e Andrea e todos
os conflitos entre eles são plantados. Vemos Janaína e seu comportamento abusivo
com Adam, ligando a todo momento com cobranças. O final do primeiro ato ocorre
com a hipnose catastrófica e desaparecimento de Louise.
ATO II

O segundo ato inicia com um Adam confuso após a hipnose, tentando


decifrar o que aconteceu com ele. Suas alucinações ficam mais intensas e ele
procura assistência médica. O relacionamento conturbado entre Andrea e João
Paulo fica mais explícito no desenvolvimento, e eles decidem não continuar mais
tentando ser amigos, revelando mágoas profundas.

ATO III

O terceiro ato marca um aprofundamento emocional do conflito. Adam


começa a perceber que as consequências da hipnose não podem ser controladas
por medicações prescritas e que ele não tem nenhum controle sobre a complexa
relação de João e Andrea, assim como sobre os abusos de Janaína.

O terceiro ato é também o momento no qual vemos pela primeira vez o quarto
secreto de Adam, que esconde suas ideias obsessivas sobre seu trabalho, e a sua
progressiva entrada em um estado de loucura começa a ser observada.

ATO IV

O quarto ato, por fim, marca o início da série, trazendo respostas parciais
e novas perguntas. Descobrimos que Louise esconde algo e usa uma identidade
falsa, mas ainda não é claro o motivo. Também, a obsessão de Adam é ainda mais
aprofundada, até um clímax com suas alucinações e abuso de medicações, até
ir dormir. É nesse momento que vemos pela primeira vez Luciano, que desliga o
celular de Adam quando Janaína liga no meio da noite. Isso já representa o que
Adam gostaria de fazer, mas nunca se permitiu.

Ao final do piloto, vemos Luciano ao lado da cama de Adam, observando-o.


Luciano apresenta um sorriso macabro no rosto, assim como aparecia nos
pesadelos de Adam. Algumas moscas começam a circular o corpo de Luciano e ele
não se incomoda, suspirando satisfeito. Fim do piloto.
AS TEMPORADAS SEGUINTES
Nesse contexto, Adam tenta se aproximar de algo próximo ao que tinha,
A primeira temporada termina com a liberação completa do Pandemonium de procurando João Paulo, Andrea e Louise e trazendo-os para perto, mas percebe
Adam, mas ele ainda não está consciente disto. que todos estão em situações que o fazem se sentir culpado por ter mudado a
realidade. Assim, seus esforços nunca são os suficientes para devolver a eles o
A segunda temporada começa com Adam livre de Luciano e de seus que tinham na realidade inicial, e Adam começa a criar novos demônios em sua
pesadelos, ainda sem perceber que os demônios estão libertos e cercando-o no mente. Ao longo da temporada, um novo Pandemonium é formado e Adam termina
seu dia a dia. Quando começa a notar sinais e enfim vê sua casa infestada de exatamente como começou: precisando encarar os demônios libertos da sua mente.
demônios, Adam se desespera e procura novamente Louise. Ela, agora muito mais
evoluída devido ao seu processo de aceitação do dom do mesmerismo, tem a ideia A partir daí, as próximas temporadas focarão nos conflitos mais profundos
de tentar um novo método de hipnose no qual Adam experimentaria um mundo no de todos os personagens, de volta ao universo original, e em um Adam tentando
qual os demônios nunca tivessem sido criados. não mais destruir seus demônios, mas aprender com eles e usá-los a seu favor.
Contudo, um novo conflito aparece: até que ponto pode um homem mergulhar na
Uma ideia que mudaria a princípio apenas a existência dos demônios, acaba própria escuridão e não se afogar?
por alterar tudo que Adam conhece como real. Afinal, os demônios foram criados
por causa das experiências passadas de Adam. Se eles não existem, é porque elas
não existiram também.

Nessa realidade, Nicolau nunca morreu, é um homem adulto e a vida de


Adam é completamente diferente. Não há João Paulo, Andrea nem Louise. Adam
não é escritor e nem mora na mesma cidade.

A segunda temporada sustenta-se através da percepção da importância


do nosso lado sombrio para sermos quem somos. Além disso, traz grandes
questionamentos acerca do livre-arbítrio e do destino: somos livres para fazermos
nossas escolhas ou de alguma forma há algo que nos direciona para elas? Se tudo
ocorresse de maneira diferente, será que teríamos resultados diferentes ou outros
caminhos levariam a um mesmo destino?

A segunda temporada provocará Adam a entender que um homem sempre


será atormentado pelas suas próprias ações, sejam elas quais forem. Os demônios
sempre existirão. Se a lei do universo é a dúvida e não a certeza, por que nos
torturamos tanto procurando respostas?
A PEÇA
A peça teatral foi o primeiro formato de escrita da história de Pandemonium,
e o roteiro teatral completo é dividido em 3 atos.

Se, na série, temos diversos elementos narrativos e outros personagens para


acompanharem a jornada de autoconhecimento e aceitação de Adam diante do seu
lado sombrio, a peça foca mais na relação direta entre Adam e Luciano, e como ela,
sozinha, já carrega todo o peso dramático do desenvolvimento do personagem.

A proposta consiste em um único ambiente com os dois atores, durante uma


sessão de hipnoterapia dentro de um consultório. As intenções de Adam são as
mesmas: desbloqueio criativo e se livrar dos seus pesadelos. Contudo, a peça chega
mais diretamente ao despertar de Luciano e sua dissociação da mente de Adam,
assim como à toda a provocação que isso acarreta. O arco observado na peça é,
basicamente, o resumo da primeira temporada da série.

O cenário do consultório, no proscênio, é composto por apenas duas poltronas,


alguns quadros, um arranjo de plantas e um bebedouro, todos que possuem funções
dramáticas ao longo da narrativa. A boca de cena mais ao fundo é o local onde o
corpo de baile representa, por meio de dança, o pandemônio mental do personagem
Adam. A linguagem corporal dos dançarinos é idêntica à do personagem Luciano,
que começa como parte do pandemônio e se dissocia dele ainda no primeiro ato. Por
outro lado, Adam tem uma expressão corporal completamente diferente. Ao longo do
embate entre os dois, as duas linguagens vão se aproximando.

A estrutura da peça é dividida em três atos, nos quais podemos resumir de


acordo com a seguinte legenda por cores:
Os atos se organizam em: ATO 1 (apresentação de Adam por meio de
monólogo antes da hipnose + incidente incitante, com o aparecimento de Luciano),
ATO 2 (apresentação de Luciano + debate retórico e filosófico entre os dois + debate
se tornando físico entre os dois, até o clímax com a grande revelação sobre Nicolau)
e, por fim, ATO 3 (quebra da persona de Adam + fusão com a de Luciano + aceitação
de Adam como parte do Pandemonium, não mais lutando contra ele).

É importante ressaltar que a peça não poupa questionamentos filosóficos,


mesmo em um curto período de tempo, pois é através deles que o arco do
personagem se constrói. Pensamentos de grandes nomes como Albert Camus, Carl
Gustav Jung, Friedrich Nietzsche e principalmente Jean Paul Sartre regem as cenas
e os argumentos usados pelos dois personagens. Existencialismo e estoicismo se
encontram nos questionamentos dos personagens e o desfecho se baseia no Amor
Fati de Nietzsche: não apenas suportar o destino, mas aprender a amá-lo.

Também há uma influência ainda mais evidente na peça do poema de John Milton,
uma vez que temos a representação física da “construção do Pandemonium”, o
palácio onde se reúnem os demônios no inferno. A máxima de Lúcifer na obra é o
final do conflito de Adam na peça: É melhor reinar no Inferno no que ser submisso no
céu. Segue o beat board da peça completa.

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