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No âmbito do Direito Romano vigorava um principio de tipicidade constitutiva, nos termos do

qual a constituição das obrigações ex contractu dependia sempre da verificação de


determinadas situações típicas, sem as quais o contrato não se constituía.

Essas situações reconduziam-se a quatro categorias: re, verbis, litteris,consensu, que


representavam processos de formação dos contratos.

A formação dos contratos Re consistia na situação de se exigir a tradição da coisa para que o
contrato se constituísse. Nesse âmbito incluíam-se contratos como o pignus, comodatum,
mutuum e depositum.

A formação do contrato Verbis caracterizava-se por se exigir a pronúncia de certas palavras


rituais, necessárias a constituição do contrato. O exemplo típico era a stipulatio.

A formação do contrato litteris caracterizava-se por se exigir a outorga de um documento


escrito, para a constituição do contrato. O exemplo típico era a expensilatio.

Finalmente, a formação do contrato Consensu dispensava formalismos exteriores, exigindo


apenas um simples acordo (nudo consensu) das partes. Nesta situação, estariam contratos
como a emptio et venditio, a societas e o mandatum.

Conforme se pode verificar, a excepção da última categoria, a constituição do contrato


depende, no Direito Romano, da adopção de formalismos complexos, os quais não se
reconduziam a simples formas de expressão da vontade negocial, mas antes se apresentavam
como o próprio

fundamento jurídico do contrato.

Por influência da doutrina canonista, que defendeu o carácter vinculativo de qualquer


compromisso independentemente da sua forma, a evolução posterior foi, porém, no sentido
de se dispensar progressivamente esses formalismos, assentando-se na ideia de que, salvo em
casos excepcionais, o simples consenso das partes deve ser operativo em relação a
constituição do contrato.

Esse princípio- o denominado princípio do consensualíssimo — encontra-se consagrado no


artigo 219 do Código Civil que refere que “a validade da declaração negocial não depende da
observância de forma especial, salvo quando a lei o exigir”.
Desta norma resulta que o princípio geral é o da desnecessidade de qualquer forma especial
para a celebração do contrato, admitindo-se que as declarações das partes podem ser
exteriorizadas

por qualquer meio. São por esse motivo excepcionais todas as disposições que exigem, sob
pena de nulidade, a adopção de uma forma especial para a declaração negocial (artigo 220), o
que tem como consequência a proibição da sua aplicação analógica (artigo 11).

A exigência, em certos casos, de uma forma especial para a validade da declaração negocial
leva a que se deva distinguir entre contratos formais e não formais.

São formais os contratos em que a declaração negocial só pode ser exteriorizada por uma
determinada forma prevista na lei, designadamente um documento autêntico (a escritura
pública) ou particular, podendo este último ser autenticado ou não.

São não formais aqueles contratos em que a declaração negocial pode ser exteriorizada por
qualquer meio, incluindo a oralidade.

Como exemplo de contratos em que é exigida escritura pública ou documento particular


autenticado, temos os contratos de alienação de imoveis (os artigos 875 para a compra e
venda e 947, número para a doação) e o mútuo, quando superior a 25.000 euros (artigo 1143).

A categoria dos contratos formais tem vindo a ser apresentada como contraria a evolução
jurídica, em virtude da tendência para o consensualíssimo, o que tem justificado medidas
legislativas de desformalização dos negócios, permitindo a adopção de forma menos solene,
como resulta

do Decreto Lei 116 barra 2008, de 4 de julho, que alterou a redação das disposições do Código
Civil acima referidas. No entanto, tem-se assistido concomitantemente a um retorno ao
formalismo contratual, designadamente no âmbito dos negócios jurídicos de consumo, o que
pode de certa forma questionar essa tendência evolutiva.

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