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Ectoparasitoses dos Ruminantes:

1- Pequenos ruminantes:

Os principais ectoparasitas em caprinos e ovinos são os ácaros causadores da sarna, os piolhos, moscas e os
carrapatos. Os ectoparasitas levam a diminuição do apetite e consequentemente ocasionam diminuição dos
índices produtivos. Além disto, denigrem a qualidade do couro utilizado na indústria da mesma forma que
agressões físicas como arranhões por arame farpado, espinhos ou falha no processo de retirada da pele
levam a elevadas perdas econômicas. Desta forma, o devido conhecimento das ectoparasitoses auxilia o
produtor na prevenção destes prejuízos.

A miíase é um termo utilizado como sinônimo de parasitose ocasionada por larvas de moscas das mais
diferentes espécies, porém neste radar, vamos dar uma atenção especial ao tipo mais comum de miíase em
caprinos e ovinos, que é a miíase ocasionada pelas larvas da Cochilyomyia hominivorax. Este tipo de miíase é
também chamado de bicheira e larva da lã entre outras designações. A Cochilyomyia hominivorax é
conhecida popularmente como mosca varejeira, esta espécie de mosca põe vários ovos no mesmo local,
diferentemente da Dermatobia hominis, causadora do berne que possui como característica a postura de
apenas um ovo.

Desta forma na miíase há o desenvolvimento de várias larvas se alimentando de forma altamente agressiva
de tecidos dos animais, levando a elevadas perdas econômicas, tendo em vista que os animais acometidos
possuem inapetência devido à contaminação bacteriana secundária, não sendo raro levá-lo a óbito com o
transcorrer do quadro. Animais jovens estão mais susceptíveis ao óbito devido à debilidade geral, além do
mais, quando esta contaminação se dá ao nível do umbigo de recém nascidos, pode-se progredir para uma
infecção ascendente por bactérias como a Actinomyces pyogenes, Escherichia coli, Staphylococcus sp,
Streptococus sp e Enterococcus sp que levam a artrite, gangrena difusa, abscessos paravertebrais, abscessos
hepáticos, peritonite e septicemia caso não sejam tratadas a tempo com antibióticos de largo espectro.

O controle ligado à realidade de campo das miíases ocasionadas pela C. Hominivorax consiste de: controle
preventivo, onde se faz necessária a administração de drogas com objetivo de evitar a colocação dos ovos.
Logicamente quanto menos houver lesões melhor será para o rebanho, de forma que diminuam as perdas
econômicas ocasionadas por injúrias no couro entre outras complicações.

Há uma prática comum na pecuária que é a aplicação de ivermectina no momento do nascimento, evitando
assim a instalação da miíase ao nível do umbigo do recém-nascido; Outro tipo de controle é o controle
curativo, este é o que podemos dizer que "fecha a porta depois que o ladrão entra", neste caso se faz
necessária a utilização de produtos geralmente a base de organofosforado que matam a larva, havendo a
necessidade de retirada destas larvas mortas, assim como o excesso de tecido necrosado. Desta forma a
inspeção periódica do rebanho caprino e ovino deve ser realizada com atenção e de forma intensa devido à
suscetibilidade destes animais a infecções secundárias a miíase.

Quanto aos piolhos, são os ectoparasitas com maior frequência nos rebanhos brasileiros, sendo um tema já
citado em nosso radar com propriedade pelo Dr. André Maciel Crespilho no artigo: Pediculose ou "piolheira"
de ovinos e caprinos. A principal estratégia de controle é a manutenção de uma população reduzida de
piolhos tanto nas instalações quanto no rebanho, através da utilização de vassoura de fogo nos apriscos e
pulverizações com organofosforados ou piretróides, além da administração de antiparasitário do grupo das
avermectinas.

A sarna é uma ectoparasitose proveniente de ácaros das mais diferentes espécies. A sarna psoróptica é a
mais frequente nos ovinos lanados e é ocasionada pelo Psoroptes ovis, que vive e se reproduz na pele dos
animais, alimentando-se do estrato córneo e restos celulares. Os animais parasitados sofrem lesões na pele,
que acarretam depleção na qualidade do couro e geram sinais como prurido, inquietação, movimentos de
coçar com as patas, mordedura das partes afetadas, emagrecimento progressivo e queda de pelo e lã. O tipo
de sarna mais comum em cabras é a causada pelo P. Cuniculi.

No controle destes ectoparasitas deve-se tomar cuidado com os animais já acometidos; desta forma deve-se
afastá-los do rebanho e só retornar após a cura total. A utilização de vassoura de fogo nas instalações é de
grande valia. O tratamento dos animais acometidos deve ser composto por aplicação de ivermectinas por via
parenteral associada a banhos com organofosforados (diazon) e piretróides (deltametrina e cipermetrina)
em todos os animais do rebanho.

Já os carrapatos são os ectoparasitas menos comum nos ovinos e quase ausentes nos caprinos, não
possuindo tamanha importância como na bovinocultura. Geralmente o carrapato que parasita ovinos é o
Boophilus microplus, muito frequente nos bovinos. Estes carrapatos parasitam os ovinos quando há
pastagens superinfestadas, condição que ocorre em propriedades de clima úmido e quando há criação junto
a bovinos, principalmente quando há algum grau de sangue taurino. Os carrapatos parasitam os ovinos nas
regiões do corpo em que a pele é mais fina, ou seja, face interna da coxa, úbere, escroto, pavilhão auricular e
ao redor dos batoques. O tratamento e o controle destes ectoparasitas devem seguir o mesmo protocolo
das sarnas.

As perdas econômicas das ectoparasitoses na caprinovinocultura são muito relevantes. O couro é o produto
que mais sofre injúrias, sendo a maioria de caráter irreparável, prejudicando a comercialização deste
produto. As perdas de peso nos animais parasitados podem levar ao aumento do tempo de abate e as
complicações originadas a partir das ectoparasitoses podem afetar características produtivas de grande
relevância para o setor.

2- Grandes Ruminantes:

-Dermatofitose enzoόtica bovina (Tricofitose):

Nomes comuns: tinha, ring worm (ingl.)

Importância: Zoonose (zooantroponose), lesões na pele prejudicando o tingimento do couro mesmo após a
cura, queda de produção. 1 a. descrição desta enfermidade por Hesíodo (700 a.C.), primeiro relato de uma
transmissão de um bovino para o homem por um veterinário (Ernst 1820).

Etiologia: Mais de 99 % dos casos provocados pelo agente Trichophyton verrucosum – isolamento tb. em
búfalos, cabras, ovelhas, cães & gatos, jumentos, cavalos, suínos, dromedários, canários e galinhas; 1 % -
Microsporum canis, T. mentagrophytes, M. gypseum.

Patogenia: Material infeccioso (geralmente esporos) chegam à pele do animal e podem germinar. Começa
um ciclo em 4 fases:

1- Fase de incubação: Durante a incubação (7 a 35 dias) o fungo penetra o estrato córneo da pele e nas
porções mais próximas dos folículos pilosos (normalmente entre o 7 e o 17 dias pós infecção);

2- Fase de Maturação: Durante esta fase o fungo se espalha pelas bainhas da raiz do folículo piloso e à partir
do 28 dia penetra o córtex de pelos em crescimento ativo. Podem ser observados em cortes histológicos
artrosporos endo- e ectotheix. Cultura neste estágio geralmente testa positivo;

3- Fase do clímax da inflamação: Observa-se exsudato serosos e celulares em grande quantidade através de
capilares sanguíneos dilatados. Afluxo em massa de leucócitos polimorfonucleares infiltrando a epiderme
hiperqueratótica, microabcessos, crostas e áreas alopécicas (35-43 dias após a infecção). Cultura geralmente
positiva também)
4- Fase da regeneração: Aproximadamente 63 dias pós infecção ocorre a queda das crostas e formação de
escamas, derme penetrada por células mononucleares e eosinófilas. Após 120 dias inicia-se o crescimento
de pelos novos e após 150 dias reestabelece-se o aspecto anterior à infecção. Cultura geralmente negativa.

Transmissão: Mais comum bovino transmitindo pra bovino, porém possível por fômites, piolhos, moscas.
Importante em qualquer enfermidade infecciosa é a pressão de infecção: na tricofitose bovina são
necessários 1000 esporos para provocar uma lesão em um animalzinho sadio.

Animais que passaram por uma infecção ficam imunes para o resto da vida, esta observação levou ao
desenvolvimento de vacinas. A imunidade celular é a principal responsável por uma função protetora contra
a tricofitose.

-Papilomas:

Nome comum: figueira, verruga;

Etiologia: Bovine papillomavirus (BPV), indutor de papilomas (BPV-6) ou fibropapillomas (BPV-1 e -5);

Sintomas: lesões mais comuns parecem com um grão de arroz (BPV-5), pouco elevados na pele do teto.
Casos mais complicados com projeções epiteliais acentudados, atrapalhando a ordenha (por ex.). Aspecto
fungiforme e filiforme. Havendo outros fatores de lesão à pele ou mucosas, os papilomas poderão evoluir
para tumores malignos (carcinomas);

Papilomatose:

A papilomatose bovina é causada por um vírus, não envelopado, fita dupla, que acomete principalmente os
bovinos leiteiros, é uma doença infectocontagiosa conhecida também como uma enfermidade de
característica tumoral benigna, causando lesões na pele e mucosas. Popularmente, é conhecida como
figueira ou verruga e está presente sobretudo nas pequenas propriedades.

A doença está difundida, porém os números de casos são muito mais elevados do que os descritos na
literatura. A morbidade apresenta-se de forma variada e a letalidade é baixa. A transmissão ocorre por
contato direto com a pele do animal saudável com animal enfermo, ou através do contato com cercas,
troncos, agulhas e na ordenha.

O crescimento desses papilomas (verrugas) ocorre mais em animais jovens, localizando-se na pele e com
predileção por determinados locais do corpo. Na bovinocultura, os papilomas causam prejuízos econômicos
não causando a morte dos animais, mas sim uma depreciação dos mesmos. Portanto, o objetivo do trabalho
é realizar uma revisão bibliográfica sobre a papilomatose bovina.

Tratamentos autógenos:

Vacina 1:

Por causa da multiplicidade da variância antigênica prefere-se o uso de vacinas autógenas ao invés das
comerciais.

Ex. de Receita: 30g de papilomas limpos, bater no liquidificador junto com formalina a 0,3%, completar tudo
com solução salina até 300 ml. Filtrar por gaze, adicionar 5ml de penicilina (Agrovet). Misturar bem.
Administrar 2,5ml id e 2,5ml sc por 3 vezes com intervalos de 1 semana.

Vacina 2:

1- Retirar e desprezar a parte queratinizada dos papilomas (parte externa);


2- Pesar 20g de papilomas e lava-los com solução fisiológica (NaCl a 0,9%);

3- Adicionar 80ml de solução fisiológica e triturar os papillomas em liquidificador;

4- Passar a mistura en uma peneira de malha fina;

5- Adicionar 0,5 ml de formol (solução comercial de 38 ou 40% de formaldeído) para cada 100ml do
preparado já filtrado (20g de papiloma + 80 ml de sol. fisiológica);

6- Adicionar 5 milhões de unidades internacionais de penicilina procaína ou potássica;

7- Manter a mistura durante 24h a 37 graus celsius (estufa ou banho maria);

8- Separar em frascos estéreis, com rolha de borracha (tipo penicilina) contendo cada amostra 5ml da
vacina;

9- Conservar a vacina em geladeira (4 graus celsius).

Esquema de vacinação: Aplicar em cada animal (bezerro ou adulto) 5ml da vacina por via sc, repetindo 4
aplicações com intervalo de 5 dias. Utilizando-se somente o tratamento com a autovacina na forma filiforme
da papilomatose os resultados são melhores. Na forma fungiforme recomenda-se associar o arrancamento.

-Dermatofilose:

Outros nomes: Estreptotricose, “Lumpy wool disease”, Nocardiose;

Ocorrência: Mundial, maiores prejuízos econômicos em países tropicais nas espécies bovina, bubalina e
ovina. Espécies preferenciais: bovinos, ovinos, equinos, caprinos, também descrito em diferentes mamíferos
silvestres, répteis e ocasionalmente o homem (raro).

No Brasil mais comum nas regiões de gado de corte úmidas e quentes (estados acima do paralelo 24, centro-
oeste (pantanal), norte de São Paulo, norte do país).

Etiologia: Dermatophilus congolensis, bactéria gram+, pleomórfica, aparece como hifas filamentosa e coccos
com formato de esporos (zoosporos), também reconhecidos como “pilhas de moedas”.

Coloração: Giemsa diluído 1:10 por 30 min.

Referências bibliográficas:

CARRAZZONI P.G. Estudo clínico, laboratorial e biomolecular de rebanho leiteiro para produção de
bioterápico de papillomavirus bovino, Tese (Doutorado em Ciência Veterinária) – Universidade Federal Rural
de Pernambuco - Recife, 2015.

BRITO, D.R.B.; SANTOS, A.C.G.; GUERRA, R.M.S.N.C. Ectoparasitos em rebanhos de caprinos e ovinos na
microrregião do Alto Mearim e Grajaú, Estado do Maranhão. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária,
v.14, n.2, p.59-63, 2005.

LEITE, E.R. O Agronegócio das Peles Caprina e Ovina. In:___. Reuniões Técnicas sobre Couros e Pele. 21.ed.
Campo Grande: Documento 127 Embrapa Gado de Corte, 2002.

BLOOD, D.C; RADOSTITS, O.M. Clínica Veterinária. 7 ed. Rio de Janeiro - Brasil: Guanabara Koogan, 1991.

RIET-CORREA, F; SCHILD, A.L; MÉNDEZ, M.D.C. Doenças de Ruminantes e Equinos. Pelotas - Brasil: Ed.
Universitária/UFPel, 1998.

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