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ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Salvador – BA
2011
i
Orientador:
Prof. M. Sc. João Carlos Domingos da Silva
Salvador – BA
2011
Q45e Queiroz, Iracema Santos de
Um enforque sobre adaptações das Instituições de ensino superior no Brasil para
a inclusão de alunos com deficiência visual - Estudo de Caso: Faculdade de Ciência
e Tecnologia Área 1 – curso de Engenharia de Produção Salvador – BA. / Iracema
Santos de Queiroz. Salvador: ISQUEIROZ, 2011.
74 fls. lls
CDU 376.2
ii
BANCA EXAMINADORA
“...e você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode
ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.”
William Shakespeare
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus que é o autor da vida e que permite que todos
os meus sonhos e objetivos se tornem realidade;
Aos meus pais, Queiroz e Lina, pelo amor incondicional e pela paciência. Por
terem feito o possível e o impossível para me oferecerem a oportunidade de
estudar mesmo com as minhas limitações, acreditando e respeitando as
minhas decisões e nunca deixando que as dificuldades acabassem com os
meus sonhos, serei eternamente grata;
A minha filhinha Suzy Beatriz por me dar mais um motivo para seguir em frente
e ter a certeza que vale a pena viver. E também por entender que eu não a
troquei pelo computador, obrigada minha princesinha;
Ao meu esposo José Raimundo por sentir junto comigo, todas as angústias e
felicidades, acompanhando cada passo de perto. Pelo amor, apoio e
companheirismo;
Ao meu amigo Ari que sempre esteve ao meu lado, mas contentou-se em me
deixar brilhar, sempre foi um irmão que Deus permitiu que eu escolhesse, sou
imensamente grata;
Aos meus amigos Lety, Borjão, Ítalo (in memoriam), Daí, Rosi, Josué, Paulo
Vitor, Leondes, Jorge, Dejane, Ivã, Suênia, entre outros, pelo apoio, pela
amizade, pelas caronas, pelos cuidados e por tornarem a vida acadêmica
muito mais divertida;
RESUMO
ABSTRACT
The Law of Guidelines and Bases of National Education stipulates that education is a
right for all, ensuring specialized educational services for the disabled. However it
appears that many higher education institutions are not adapted to receive the
student with a visual impairment, especially courses in sciences such as engineering.
This paper aims to identify mechanisms, tools and resources to adapt the institutions
of higher education in Engineering, aiming at meeting the needs of students with
visual impairments. The method is characterized in a descriptive bibliography of
nature, where there was data collection on various sources of written information,
including specific libraries for the blind. We worked with an approach of demand and
difficulties for the inclusion of visually impaired people in higher education in Brazil,
and then present a study of necessary adaptations to their inclusion of such students
with disabilities in Higher Education Institutions . Closes with the presentation of a
case study in the Faculty of Science and Technology Area 1, in Salvador, Bahia. The
results point to a conclusive way that universities should have a formal commitment
to meet all the needs of the student with a disability, until it completes the course.
These needs range from the adaptation of physical structures for better accessibility,
acquisition of specialized materials for the visually impaired, technical preparation
team of education professionals, to break social barriers promoted by ignorance
about the ability of people with visual impairments.
LISTA DE FIGURAS
LISTAS DE FOTOS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 11
3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA 19
7 CONCLUSÃO 65
REFERÊNCIAS 68
11
1 INTRODUÇÃO
A deficiência é um dentre muitos fatos que podem acontecer ao ser humano e daí
deve ser considerada, mesmo que suas causas e consequências possam se
modificar, como um fato natural de que se é mostrado e falado do mesmo jeito de
que se é feito com as outras potencialidades humanas. Para Bruno (1997) as
características mais importantes das pessoas que possuem deficiência são as suas
habilidades que devem ser desenvolvidas através de uma educação de qualidade.
No ensino superior o desafio da inclusão do portador de deficiência visual é maior
que nos níveis inferiores de ensino. Falta amparo legal adequado, formação e
adequação tanto da comunidade acadêmica quanto da estrutura física. Porém, o
acesso a educação é um direito de todos, sem deixar de lado os portadores de
deficiências, sejam elas quais forem, assegura a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de
1989. É, portanto, obrigação das universidades se estruturarem para receber essas
pessoas que precisam de soluções que facilitem suas necessidades especiais,
incluindo os deficientes visuais, justamente para que todos possam ter acesso ao
ensino superior de uma maneira uniforme e sem discriminação.
A inclusão social é um processo pelo qual a sociedade passa por uma adaptação
para que possa permitir a participação de pessoas portadoras de necessidades
especiais, garantindo a elas o direito ao acesso pleno a cultura, saúde, laser e
educação. A inclusão, segundo Kraemer (2008), ocorre num processo bilateral no
qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam juntas, equacionar
problemas, discutir soluções e equiparar oportunidades para todos. Incrementar a
diversidade é promover a igualdade de chances para que todos possam desenvolver
seus potenciais. Uma das formas de desenvolver os potenciais é através da
educação. A educação especial é um conjunto de serviços, processos e recursos
educacionais excepcionais organizados para apoiar, complementar e substituir os
serviços educacionais comuns.
As Universidades, segundo Cardoso; Lima; Miranda (2010), seja por tradição ou pela
importância que exercem quanto a produção e transmissão de conhecimento, são as
instituições mais chamadas pela sociedade a acompanhar as transformações da vida
humana, decorrentes das mudanças de paradigmas que se instalam em cada tempo.
Tal fato faz com que haja, não somente através de leis, obrigação por parte das
instituições de ensino superior e dos profissionais da educação superior se
adequarem e se adaptarem constantemente, não somente a suas áreas específicas,
como também a demanda da sociedade que buscam cada vez mais o conhecimento
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para todos, isto é, todas as pessoas querem desfrutar dos benefícios que o saber traz,
sejam elas portadoras de necessidades especiais ou não.
De acordo com Masi (2002), a educação do deficiente visual, como toda educação
especial, necessita de professores especializados nesta área, métodos e técnicas
específicas de trabalho, instalações e equipamentos especiais, bem como algumas
adaptações ou adições curriculares. No caso da área de engenharia, que tem
algumas disciplinas básicas, tais como, física, química, cálculo, geometria e
desenho, faz-se necessário uma adaptação dos laboratórios e também da biblioteca
para facilitar o aprendizado dos alunos com deficiência visual, porém, os estudantes
com deficiência visual não constituem um grupo homogêneo, com características
comuns de aprendizagem, sendo também, um erro considerá-los como um grupo à
parte, uma vez que suas necessidades educacionais básicas são geralmente as
mesmas que as dos alunos de visão normal.
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3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
A história conta que o cristianismo veio introduzir uma nova forma de pensar sobre
os deficientes visuais, que eram vistos como pecadores e excluídos, mas, na Idade
Média, foram os sentimentos de piedade, compaixão e caridade os responsáveis
pela criação das primeiras instituições asilares de proteção social aos deficientes
visuais, sob a tutela das igrejas.
escrever. Num primeiro momento, Braille irritou-se com a sugestão, pois achava que
a tarefa devia caber aos que enxergavam e não a ele. Reconsiderando, começou a
admitir a possibilidade de realizá-la, mesmo sendo cego. Foi então que começou a
trabalhar no código de Barbier. Após três anos, conseguiu o que queria: o sistema
dos pontos em relevo representando letras. A ponta de uma sovela, o mesmo
instrumento que lhe tirara a visão, passara a ser o seu instrumento de trabalho. O
código Barbier era um sistema de escrita para a noite e era utilizado para guardar os
segredos das mensagens militares e diplomáticas. Este sistema era baseado em
doze pontos, ao passo que o sistema desenvolvido por Braille utilizava apenas seis
pontos. O Sistema Braile, utilizando seis pontos em relevo, dispostos em duas
colunas, possibilita a formação de sessenta e três símbolos diferentes que são
empregados em textos literários nos diversos idiomas, como também nas
simbologias matemáticas e científicas, em geral, na música e, recentemente, na
informática.
Assim, segundo Bruno (1999), o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, que hoje é o
Instituto Benjamin Constant, foi o primeiro educandário para cegos na América
Latina e a única instituição federal destinada a promover a educação e a
capacitação de profissionais para a criação de institutos em outros estados
brasileiros. Desta forma, a partir do início do século XX, e sendo comum o sistema
de internato, foi criado, no modelo educacional do Instituto Benjamin Constant, as
primeiras escolas especiais: Instituto São Rafael, em Belo Horizonte (1926), Instituto
Padre Chico, em São Paulo (1928), Instituto de Cegos da Bahia, em Salvador
(1929), Instituto de Cegos do Ceará, em Fortaleza (1934), Instituto Santa Luzia, em
Porto Alegre (1941), e Instituto de Cegos Florisvaldo Vargas, em Campo Grande
(1957). Essas instituições tiveram importante papel na educação de crianças com
deficiência visual.
educação especial, criada em junho de 1994 pela Organização das Nações Unidas
para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), visam, não somente promover
reflexões, mas também, fomentar a prática da equidade social por meio da
educação superior e da diminuição das barreiras de toda a ordem aos indivíduos
caracterizados como deficientes e limitados perante as demais pessoas da
sociedade.
Segundo Cardoso; Lima; Miranda (2010) pode-se perceber que a integração nas
universidades é um tanto mais decisiva para os alunos com deficiência visual. Na
educação básica existem escolas especializadas que preparam o aluno antes de se
integrarem ao sistema, no ensino superior não existem tais instituições
especializadas. É certo que muitos alunos deficientes visuais ingressantes na
universidade, já possuem experiência com a inadequação dos sistemas e já se
preparam para possíveis resistências por parte da instituição. Contudo, o ensino
27
que a experiência de vida que ele tem pode ajudá-lo no fortalecimento do seu
processo de inclusão escolar, como existem alunos videntes e professores que
ironizam a presença do aluno com deficiência visual num curso universitário, não
acreditando na sua capacidade de desenvolver habilidades que os auxiliem a
superar os obstáculos e realizar um curso superior.
Nos últimos vinte anos, conforme Camargo et al. (2007), as pesquisas em educação
vem crescendo no Brasil, trazendo uma diversidade nas temáticas, nos enfoques,
nos contextos e nas metodologias. Na área de pesquisa em ensino de ciências
exatas, diversos estudos têm indicado a mesma tendência. Ainda que a quantidade
de trabalhos acadêmicos na área de ensino de ciências exatas voltados para a
questão das pessoas com deficiências seja muito inferior a outras áreas, tem-se
30
Deve-se considerar como fator primordial para a educação e cultura das pessoas o
acesso ao acervo cultural, sobretudo, através de livros, constata Machado; Silva;
Turatto (2002). Verifica, no entanto, que a pessoa portadora de deficiência visual
muitas vezes está impedida desse acesso se não lhe forem providenciadas as
publicações especiais impressas no sistema Braille, em arquivos de áudio ou em
arquivos eletrônicos. O livro se constitui em um dos recursos de aprendizagem,
aperfeiçoamento e distração. O acesso ao livro é relativamente fácil para as pessoas
com visão e se torna difícil para as pessoas com deficiência visual. Estas ficam, na
maioria das vezes, dependentes de instituições que disponibilizam livros acessíveis
aos portadores de deficiência visual para leitura, ou de pessoas de boa vontade que
“emprestam” seus olhos e se tornam suas “ledoras” (termo que designa aquele que
lê para a pessoa portadora de deficiência visual).
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É necessário, também, educar o deficiente para que ele possa ter acesso às
informações. O acesso à informação é importante, na medida em que esta quando
concebida como um recurso irá afetar todas as áreas do conhecimento humano,
segundo Machado; Silva; Turatto (2002). Quando bem utilizada, por quem detém o
poder decisório, poderá contribuir para provocar transformações no campo social,
político e econômico e conduzir ao processo de conquista de melhores condições de
vida a nível individual e social.
Segundo Masini e Salzano (2007), para que o deficiente visual possa organizar o
mundo ao seu redor e nele se situar precisa dispor de condições para explorá-lo. As
situações educacionais necessitariam estar organizadas de maneira que os
deficientes visuais utilizassem suas possibilidades (táteis, térmicas, olfativas,
auditivas, sinestésicas) e deveriam estar adequadas as suas experiências
perceptivas.
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A organização do espaço físico é essencial para que uma pessoa com deficiência
visual desenvolva independência e autonomia, afirma Brasil (2005). Torna-se
fundamental que as universidades analisem todos os ambientes, verificando a
existência de barreiras físicas perigosas, obstáculos aéreos, posição de lixeiras,
corrimãos em escadas, objetos pontiagudos ou perfurantes que possam causar
acidentes na sala de aula, nos estacionamentos, nos corredores ou área livre. Esses
cuidados são fundamentais para o desenvolvimento da autonomia e independência
da pessoa cega e de baixa visão, principalmente para que estejam seguras e
sintam-se incluídas na instituição.
Fonte: http://saude-joni.blogspot.com/2010/12/ah-se-moda-pega-piso-tatil-obrigatorio.html
Fonte: http://www.letraarte.com.br/braille/foto_64.htm
36
No que diz respeito ao ingresso dos portadores de deficiência visual nas instituições
de ensino superior, isto é, em se tratando do vestibular, pode haver toda uma
estrutura montada com professores cedidos de unidade especializada estadual,
como por exemplo, o Centro de Apoio Pedagógico para Portadores de Deficiência
Visual – CAP, prova em Braille, prova ampliada, prova digitalizada ou com auxílio de
ledor e transcritor. Também poderá haver professores à disposição para eventuais
esclarecimentos específicos de cada área do conhecimento que é exigida na prova
(Português, Matemática, Química, outros), comenta Yanez (2008).
Conforme Brasil (2005), a estruturação do tempo didático deve ser muito bem
pensada e planejada a partir da perspectiva da pessoa com deficiência visual, cujo
tempo para realização de atividades didáticas é completamente diferente do tempo
das demais pessoas. A estruturação das avaliações também tem que ser muito bem
planejadas, pois existem algumas limitações sofridas pelo portador de deficiência
37
visual, como por exemplo, provas com consulta ou que tenham gráficos ou figuras
para serem feitos ou interpretados.
Fonte: http://www.rumosdainclusao.blogspot.com/imagem+007.jpg
38
que seriam necessárias para incluir o aluno com deficiência visual não representam
elevado custo financeiro para a Instituição. Independente de custos, a lei deve ser
cumprida. Considerando-se que tais mudanças devem ser feitas por estarem
previstas em lei, ou seja, elas devem ser realizadas com ou sem custo para as
Instituições.
possível, fornecer ao aluno deficiente visual detalhes das atividades que serão
desenvolvidas, procurando fazer com que o mesmo estabeleça contato tátil com os
materiais a serem utilizados.
Segundo Camargo e Viveiros (2006), será de muita utilidade gravar para o aluno
deficiente visual trechos mais importantes das aulas, para que o mesmo possa
posteriormente estudar através deste material. Este material pode inclusive compor
um arquivo com aulas gravadas para esta finalidade específica. Todos os objetos ou
recursos didáticos como maquetes, materiais de laboratório ou textos, devem ser
identificados com o Braille, para que se tornem acessíveis ao deficiente visual. Faz-
se também necessário utilizar modelos em escala, utilizar modelos tridimensionais,
usar retro-projetor (ou projetor de slides), preferencialmente projetando em fundo ou
tela opaca, quando o grau de deficiência visual assim o permitir. Os materiais devem
ser pintados com cores fortes ou fosforescentes (o mesmo processo pode ser
aplicado em lâmpadas coloridas), os alunos podem tentar representar através de um
desenho as formas que percebem através do tato, preparar diversos recursos táteis
em duas dimensões, como figuras, gráficos e mapas utilizando a técnica da xilo ou
litogravura, respectivamente, utilizadas principalmente em artes plásticas para
impressão de obras de arte, utilizar canetas térmicas, que podem ser aplicados em
superfícies sensíveis ao calor, como alguns tipos de papéis termos-sensíveis,
plásticos e isopor. Pode-se ainda produzir estas figuras em alto ou baixo relevo,
através de máquinas controladas eletronicamente, através do computador e
utilizando software de CAD (computer aided design) em superfícies mais duras como
acrílico, madeira ou metal.
explorando os outros sentidos do aluno com deficiência visual, como tato e audição.
Um dos maiores desafios é ensinar óptica, afirma Camargo (2001). No ensino
tradicional, o professor traça, por exemplo, retas na lousa para representar a
trajetória dos raios de luz. Já no modelo para deficientes visuais, a dispersão e
refração da luz são simuladas por meio de um barbante que o aluno segura nas
mãos. Em eletromagnetismo, para explicar o processo de condução de eletricidade,
é usada uma tábua inclinada com pregos e esferas. A inclinação indica a potência
elétrica (quanto maior a inclinação, maior a potência), os pregos simulam a estrutura
de um material condutor, enquanto as esferas representam os elétrons. Com a
maquete, é possível diferenciar a potência elétrica da corrente elétrica.
Fonte: g1.globo.com/.../foto/0,20520600-EX,00.jpg
Figura 2 - geoplano
Figura 3 - soroban
O tangran, como mostra a figura 4, é um jogo formado por sete peças: cinco
triângulos retângulos isósceles de diferentes tamanhos, um quadrado e um
paralelogramo, que permitem montar diversas figuras. Com o uso do tangran, o
professor pode abordar aspectos da geometria, buscando identificação de figuras
geométricas, comparação, descrição, classificação, desenho de formas geométricas
planas, visualização e representação de figuras planas, exploração de
transformações geométricas, através de decomposição e composição de figuras,
noções de áreas, frações, entre outros.
Figura 4 - tangran
Fonte: http://www.clunl.edu.pt/resources
/docs/grupos/gramática/cadernos/comp
_cnc_ac.pdf
O recorte de figuras geométricas são figuras que podem ser confeccionadas pelo
professor, utilizando matéria-prima diversificada, como por exemplo, retângulos,
triângulos, quadrados, círculos, entre outras, conforme a necessidade. Essas figuras
podem ser utilizadas para cálculos de área, perímetro, diagonal, volume, entre
outros conteúdos. Esse material pode ser utilizado por todos os alunos, mas, para
que o portador de deficiência visual possa utilizá-lo de maneira independente, o
professor pode incluir marcações para as unidades de medidas e as medidas dos
segmentos ou da área da figura em Braille. Dessa forma, o aluno pode resolver os
problemas propostos sem se sentir diferente. Para se trabalhar com geometria
espacial, podem-se utilizar sólidos geométricos feitos de diferentes materiais. A
figura 6 apresenta sólidos geométricos confeccionados em palitos de churrasco,
unidos por borracha de soro.
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Fonte: http://www.uff.br/leg/publicacoes/01_15_Varetas_Canudos_Arestas_1995.pdf
Segundo Aguiar e Fernandes (2000), sendo a biblioteca um local voltado para suprir
as necessidades informacionais dos estudantes, é fundamental que ela não se omita
perante o problema da inclusão dos alunos portadores de deficiência visual nas
Instituições de Ensino Superior, procurando estruturar seus serviços e estendê-los
ao deficiente visual. Na maioria das universidades não existe adaptação tanto
estrutural quanto atitudinal, ou seja, nem o espaço físico, as instalações, o acervo
bibliográfico e nem mesmo as pessoas que trabalham na biblioteca estão
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Aguiar e Fernandes (2000) afirma que a biblioteca deve estar preparada para atuar
como instrumento para o avanço da educação especial, em um país como o Brasil,
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em que o direito à educação é assegurado em lei, quer para a dita pessoa normal,
quer para a excepcional. Este preparo inclui: fornecer material didático especializado
ou adaptado; prover a biblioteca de recursos físicos e materiais para o acesso do
aluno: sinais sonoros de trânsito, rampa, mobiliários, equipamentos e materiais
adaptados, piso antiderrapante, piso tátil, área espaçosa que permita boa
locomoção, dentre outros; prestar apoio pedagógico especializado ao aluno
deficiente visual; divulgar, implementar e orientar quanto ao uso de equipamentos e
materiais especiais; prestar orientação aos profissionais envolvidos no atendimento
ao aluno portador de deficiência visual; desenvolver pesquisas para melhor
conhecer as necessidades dos deficientes visuais; capacitar e apoiar recursos
humanos para o atendimento aos portadores de deficiência visual.
Segundo Sá e Souza (2007), a biblioteca deve ter ciência que os deficientes visuais
necessitam de materiais especiais como: computador e periféricos como sintetizador
de voz, impressora Braille, softwares educativos e utilitários para ajudar a minimizar
as barreiras entre o deficiente visual e o conhecimento impresso em tinta. Por sua
vez, os bibliotecários devem estar conscientes de que o problema maior não é
prover informação para o deficiente visual e sim criar condições acessíveis para que
ele se interesse e venha utilizar os serviços e produtos oferecidos pelas bibliotecas.
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57
A aluna buscava maneiras para poder realizar seus estudos: gravava as aulas e as
transcrevia em casa e o seu arcabouço teórico foi todo baseado nessas aulas, não
pôde buscar maior fundamentação teórica, uma vez que a Faculdade não dispunha
de livros em Braille, nem materiais auditivos para seu estudo. Ela ressalta a
defasagem da sua formação em relação aos colegas de sala de aula. Ela teve um
colega de classe que a ajudava nos estudos e também na movimentação nas
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A faculdade apresentava vários problemas para a aluna deficiente visual, tais como:
os professores não tinham preparo adequado para lidar com um aluno portador de
deficiência visual, muitas vezes sendo pegos de surpresa e não tendo idéia de como
eles iriam agir. Muitos deles esqueciam a existência da aluna na sala de aula e
usavam expressões do tipo “vocês estão vendo isto aqui” ou “o importante é isso
aqui” (e apontavam para a lousa). Alguns professores eram mais acessíveis e
buscavam contribuir emprestando livros ou perguntando como poderiam ajudar.
Geralmente quando os funcionários ou bibliotecários percebiam que a aluna tinha
deficiência visual buscavam ser mais atenciosos. Não havia nenhuma bibliografia
específica na biblioteca que fosse adaptada para o Braille ou formato de áudio, o
que limitava os estudos da aluna aos materiais que os professores disponibilizavam
ou a dependência de algum colega “emprestar seus olhos” para ler um livro. Existia
também a falta de equipamentos adequados ou adaptações no ambiente para dar
autonomia à aluna deficiente visual (sinalização, piso tátil, áudio no elevador, Braille
nas portas das salas e banheiros); as provas muitas vezes não eram adaptadas,
contendo “pegadinhas” visuais ou figuras e gráficos e a aluna tinha que levar seu
notebook pois a faculdade não tinha nenhum computador adaptado. A aluna contava
apenas com a ajuda de alguns professores, colegas e familiares.
Iracema foi a primeira deficiente visual dessa instituição de ensino superior não
adaptada para quem não enxerga. Ela é a “medida” para que sua faculdade comece
a conhecer e implantar as adaptações de que uma pessoa cega necessita. Isso
porque, além de não adaptada fisicamente, não há ninguém na Área 1 especializado
em educação inclusiva. Realidade, infelizmente, ainda comum no meio universitário.
A Instituição onde foi realizado esse estudo de caso não oferecia nada à aluna e
quando se fala em oferecer nada, se está justamente falando dos direitos legais
garantidos ao aluno portador de deficiência, garantido pela Lei de Diretrizes e Bases
nº 9394/96.
Não se pode pensar em deficiente como alguém incapaz que tem que receber
privilégios e protecionismos, afirma Sá e Souza (2007), mas os portadores de
60
deficiência visual são muitas vezes vistos como pessoas frágeis que necessitam de
ajuda para qualquer atividade que forem exercer, e acabam sendo privilegiados,
quando o que eles buscam são adaptações para adquirir autonomia. Os países
desenvolvidos estão à frente dos demais quando o assunto é inclusão, mas qualquer
país, independente do tamanho ou grau de desenvolvimento, sabe que os
portadores de deficiência devem partilhar os mesmos direitos que os demais. As
pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades
fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o direito de não ser
submetidas à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da
igualdade que são inerentes a todo ser humano.
Para garantir uma inclusão dos portadores de deficiência visual na Instituição Área
1, faz-se necessário ainda que haja várias adaptações. A inclusão de alunos com
necessidades especiais nas instituições de ensino superior, segundo Sá e Souza
(2007), implica o desenvolvimento de ações adaptativas, visando à flexibilização do
currículo, para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e
atender as necessidades individuais de todos os alunos. De acordo com o Ministério
da Educação e Cultura – MEC, essas adaptações curriculares realizam-se em três
níveis: adaptações no nível do projeto pedagógico (currículo educacional) que
devem focalizar, principalmente, a organização educacional e os serviços de apoio,
propiciando condições estruturais que possam ocorrer no nível de sala de aula e no
nível individual; adaptações relativas ao currículo da turma, que se referem,
principalmente, à programação das atividades elaboradas para sala de aula; e
adaptações individualizadas do currículo, que focalizam a atuação do professor na
avaliação e no atendimento a cada aluno. A Educação Inclusiva, entendida sob a
dimensão curricular, significa que o aluno com necessidades especiais deve fazer
parte da turma regular, aprendendo as mesmas coisas que os outros, mesmo que
de modos diferentes, cabendo ao professor fazer as necessárias adaptações.
bolsistas realizarem a correção dos textos dos alunos. O objetivo deste trabalho é a
acessibilidade aos materiais mais atualizados demandados pelos professores.
Na faculdade Área 1, as pessoas com deficiência visual tem que participar dos
mesmos espaços que os demais alunos, não podem ser segregadas. Se alguns
alunos sem deficiência estranham, o problema é com eles. Os pisos táteis ajudam,
quando não colocam obstáculos sobre eles como carros ou outro objeto que fique
sobre ele, atrapalhando o caminho da pessoa, por isso é válido colocá-los na
faculdade. Para pessoas cegas, o adequado é que tenha guias táteis no chão para
guiá-las na direção do banheiro e que a indicação de WC masculino ou feminino
esteja em Braille. No caso de pessoas com baixa visão, os indicadores de masculino
e feminino devem ser em tamanho bem visível. Os elevadores já possuem o Braille
ao lado dos botões para indicar o andar (Foto 7), mas é necessário que possuam
também áudio para indicar o andar desejado pelo aluno deficiente visual.
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7 CONCLUSÃO
Até pouco tempo atrás, não que isso ainda não aconteça, os alunos deficientes
visuais viviam no submundo do emprego. Vendiam balas nos sinais, pediam
esmolas e tinham pouco ou nenhum acesso à formação de qualidade. Hoje eles
buscam seu lugar na sociedade, como profissionais capazes de realizar,
qualitativamente, tarefas das mais diversas possíveis. Os deficientes visuais estão
buscando cursar uma universidade, pois somente assim eles poderão se sobressair
por meio de sua intelectualidade.
Não se pode pensar que as pessoas com deficiência sejam sempre bem dotadas,
nem ao menos se pode achar que sejam necessariamente incapazes. Deficientes
possuem limitações e habilidades, como quaisquer outras pessoas, e nesse
contexto não podem ficar de fora os deficientes visuais. Desta forma não se justifica
que apenas uma pequena parte dos deficientes esteja inserida nas universidades.
A inclusão educacional é necessária, e porque não dizer essencial, porém, ela deve
ter como princípio a idéia de inserir e não de cada vez mais excluir. As Instituições
de Ensino Superior, de uma maneira geral, precisam reavaliar suas
responsabilidades políticas, sociais e pedagógicas adequando seus espaços físicos,
melhorando as condições materiais de trabalho das pessoas que nelas atuam,
estimulando neles à motivação, a atualização dos conhecimentos, a capacidade
crítica e reflexiva, enfim, aprimorando suas ações para garantir a aprendizagem e a
participação de todos, em busca de atender às necessidades de qualquer aprendiz,
sem discriminações. É importante pensar o porquê de concentrar no aluno portador
de deficiência visual o compromisso e a responsabilidade por seus sucessos e
fracassos.
Todas as pessoas têm direito à educação pela atual LDB (Leis de Diretrizes e Bases
da Educação) e às que possuem necessidades especiais, amparadas pela mesma
lei têm direito a frequentar as instituições de ensino, em qualquer nível. Para que
este aluno seja incluso verdadeiramente em sala de aula é preciso que todos os
membros da instituição estejam unidos para a realização de tal missão.
Acredita-se que esse trabalho possa contribuir para trazer uma luz que venha
orientar a todos os profissionais da área de ensino, principalmente no nível superior
de engenharia, a estarem mais preparados para desenvolver as atividades
acadêmicas, tendo em sala de aula um aluno com deficiência visual. Uma luz que
pode iluminar a questão sobre a igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiência, assegurando-lhes ser parte integrante do sistema educativo, pois todos
têm o direito fundamental à educação e devem ter a oportunidade de conseguir e
manter um nível aceitável de aprendizagem.
Este trabalho não tem a pretensão de ditar normas ou apontar soluções quanto ao
atendimento prestado pelo profissional de educação ao deficiente visual. Mas,
segundo os conhecimentos levantados em bibliografias, são apresentadas propostas
visando sanar as necessidades de adaptações das Instituições de Ensino Superior
no Brasil, principalmente no curso de engenharia, para a inclusão de alunos
portadores de deficiência visual e que sirva de base para reflexão e inspiração para
novos estudos nessa área.
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REFERÊNCIAS
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deficiência visual: atividades que abordam os conceitos de aceleração da
gravidade. Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, São Paulo,
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<http://www.bancodeescola.com/educador.htm>. Acesso em: 20 set. 2011.