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CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA

DO ENSINO DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO AMBIENTE


ESCOLAR

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Traçar um panorama sobre o histórico da Educação Ambiental, a evolução das legislações e os principais

eventos que levaram à criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA);

2. contextualizar a Educação Ambiental na qualidade de política pública;

3. demonstrar os principais fatos que levaram à inclusão da Educação Ambiental de modo organizado e oficial no

sistema escolar brasileiro;

4. reconhecer algumas possibilidades e necessidades do Ensino de Ciências e da Educação Ambiental.

1 A educação ambiental na qualidade de política pública


No início dos anos 80, com a promulgação da Lei 6.938/81, institucionalizou-se, de fato, no Brasil, a Política

Nacional de Meio Ambiente (PNMA). Essa foi a primeira lei a assegurar um tratamento abrangente, sistemático e

instrumentalizado para a proteção do Meio Ambiente em todo o território nacional.

Entre outras coisas, a PNMA introduziu um conceito mais preciso de meio ambiente, definiu poluição, impôs a

responsabilidade objetiva para o poluidor, reorientou a gestão ambiental, criou o Sistema Nacional de Meio

Ambiente (SISNAMA), instituiu instrumentos de gestão eficazes e incluiu a Educação Ambiental, no artigo 2°.

Conheça agora o que diz artigo 2°, inciso X, sobre a Educação Ambiental

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade

ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos

interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana [...] Assegurando a educação

ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para

participação ativa na defesa do meio ambiente.

O avanço da conscientização e preocupação ambiental fez com que a Educação Ambiental fosse inserida na

Constituição Federal de 1988, cujo artigo 225, parágrafo 1°, inciso VI, determina:

A constituição determina a obrigatoriedade de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente.

Entretanto, somente em 1991, a portaria 678/91 do MEC, determinou, finalmente, que a educação escolar

deveria contemplá-la permeando todo o currículo dos diferentes níveis e modalidades de ensino.

De igual maneira, também foi enfatizada a necessidade de investir na capacitação de professores.

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Nesse mesmo ano, com a Portaria 2421/91, instituiu-se em caráter permanente um Grupo de Trabalho de

Educação Ambiental com o objetivo de definir com as Secretarias Estaduais de Educação as metas e estratégias

para a implantação da Educação Ambiental no país e elaborar a proposta de atuação do MEC na área da educação

formal e não formal para a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento.

Quatro anos após a promulgação da Constituição de 1988, aconteceu no Rio de Janeiro o mais importante evento

sobre desenvolvimento sustentável, a II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, a Rio-Eco 92.

Ao longo desse evento, foi pactuada a Agenda 21, que se constitui em um programa recomendado aos governos,

agências de desenvolvimento, órgãos das Nações Unidas, organizações não governamentais e sociedade civil de

um modo geral, para ser colocado em prática ao longo do século 21.

Esse documento, de caráter abrangente, na medida em que engloba uma série de decisões resultantes de

conferências específicas e temáticas sobre Educação Ambiental, foi um dos principais documentos resultantes

dessa conferência.

2 A Agenda 21
Convém destacar que a Agenda 21 vai além de um projeto ou programa a ser implantado e é uma ferramenta de

reconstrução de hábitos e atitudes, reformulação de conceitos que prime por uma sociedade mais solidária com

o ambiente local e global, mas carece ainda do problema da desinformação, precisando ser mais divulgada.

Na década de 90, o Ministério da Educação, o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) desenvolvem diversas ações para consolidar a Educação

Ambiental no Brasil. Paralelamente, as ONGs desempenharam um importante papel no processo de

aprofundamento e expansão das ações de Educação Ambiental que se completam e, muitas vezes,

impulsionaram iniciativas governamentais. (MEDINA, 2008).

Ainda no contexto da institucionalização da educação ambiental no país, pode-se citar o estímulo à implantação

de sistemas de gestão ambiental por setores produtivos, em consonância com leis e normas, como as da série ISO

14000.

No MEC, são aprovados os novos “Parâmetros Curriculares” que incluem a Educação Ambiental como tema

transversal em todas as disciplinas. Desenvolve-se, também, um programa de capitação de multiplicadores em

Educação Ambiental em todo o país.

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3 O PRONEA
Em cumprimento às recomendações da Agenda 21 e aos preceitos constitucionais, é aprovado no Brasil o

Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), em 1994.

Suas ações destinam-se a assegurar, no âmbito educativo, a interação e a integração equilibradas das múltiplas

dimensões da sustentabilidade ambiental- ecológica, social, ética, cultural, econômica, espacial e política – ao

desenvolvimento do país, buscando o envolvimento e a participação social na proteção, recuperação e melhoria

das condições ambientais e de qualidade de vida.

Para saber mais sobre o PRONEA e seus princípios, acesse a biblioteca virtual e leia o texto: O Programa

Nacional de Educação Ambiental (PRONEA).

4 Os PCNs e os temas transversais


Para inserir a Educação Ambiental como um tema transversal no Ensino Fundamental foi necessário a

ocorrência de um movimento de institucionalização e formulação de políticas por parte do Ministério da

Educação. Então, no ano de 1999 ocorreu a criação da Coordenação de Educação Ambiental na Secretaria de

Ensino Fundamental.

Em 1999, é promulgada a Lei nº 9.795/99, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental,

regulamentada pelo Decreto 4.281/2002.

O decreto reafirma os principais pontos da Lei 9795/99, que definiu a educação ambiental como "uma prática

educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal", não como

disciplina específica no currículo de ensino, mas presente em todas as matérias.

O decreto estende a obrigatoriedade da Educação Ambiental para uma variedade de instituições: instituições

educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de

Meio Ambiente (Sisnama) e outros órgãos públicos (desde federais até municipais), envolvendo entidades não

governamentais, de classe, meios de comunicação.

Esta lei foi um marco que propiciou a legitimação da Educação Ambiental como política pública nos sistemas de

ensino, sendo o Brasil o único país da América Latina a ter uma política nacional específica para Educação

Ambiental que, consequentemente, impulsionou a estruturação e o fortalecimento da Coordenação Geral de

Educação Ambiental. Ela consolida os princípios da Educação Ambiental discutidos nos fóruns internacionais e

nacionais anteriores, tornando-os legais e objetos de políticas públicas, fornecendo à sociedade um instrumento

de cobrança para a promoção da Educação Ambiental.

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A partir dos pressupostos da Lei 9.795/99, entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais

o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências

voltadas para a conservação do Meio Ambiente, bem de uso comum, essencial à sadia qualidade de vida e sua

sustentabilidade.

Em seguida, o Plano Nacional de Educação (PNE 2001-2010) aprovado pelo Congresso Nacional (Lei nº 10.172

/2001), além de cumprir uma determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em seu art.

87, fixou diretrizes, objetivos e metas para o período de 10 anos, buscando garantir coerência nas prioridades

educacionais para este período.

No que se refere aos objetivos e metas para o Ensino Fundamental e Ensino Médio, o PNE propõe que “a

Educação Ambiental, tratada como tema transversal, será desenvolvida como uma prática educativa integrada,

contínua e permanente em conformidade com a Lei nº 9.795/99”.

Pretendia-se que as novas estruturas curriculares devessem estar sempre em consonância com as diretrizes

emanadas do Conselho Nacional de Educação (CNE) e dos conselhos de educação dos estados e municípios que

constituem a base das políticas de institucionalização da Educação Ambiental nos sistemas de ensino. Todo o

envolvimento relacionado às questões ambientais levou também a Secretaria da Educação Fundamental a

elaborar, em 1999, um programa de Desenvolvimento Profissional Continuado, lançado em 2001, em

comemoração ao Dia Internacional do Meio Ambiente (05/06), com o objetivo de atender às demandas das

Secretarias da Educação que necessitavam de orientações para a implementação dos PCNs.

No entanto, foi apenas com a legitimação da Educação Ambiental como política pública nos sistemas de ensino,

com a Lei nº 9.795 (de 1999) que dispôs sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, que se percebeu uma

inclusão da Educação Ambiental de modo organizado e oficial no sistema escolar brasileiro.

Após traçar esse panorama sobre o histórico da Educação Ambiental e as legislações decorrentes desse processo,

buscar-se compreender as práticas que possibilitaram a incorporação desse conceito no âmbito das escolas.

5 A educação ambiental e o contexto escolar


Como já percebemos, a educação ambiental, o contexto brasileiro e sua inserção no currículo escolar, se

constituiu sob os reflexos de um contexto histórico, político e sociocultural.

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Esses condicionantes influenciaram, sem dúvida alguma, os rumos da educação ambiental no país, bem como

nortearam os discursos e as ações, fundamentadas em diferentes tendências e concepções pedagógicas.

A Educação Ambiental, de acordo com Dias (1994), se caracteriza por incorporar as dimensões sociais, políticas,

econômicas, culturais, ecológicas e éticas, o que significa que, ao tratar de qualquer problema ambiental, deve-se

considerar todas as dimensões.

Destaca Dias que “a maior parte dos problemas ambientais tem suas raízes na miséria, que por sua vez é gerada

por políticas e problemas econômicos concentradores de riqueza e responsáveis pelo desemprego e degradação

ambiental”.

Segundo a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada em Tbilisi, é fundamental que o

processo educativo proporcione uma percepção integrada da natureza, além da construção de valores sociais e a

aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades práticas destinados a participação responsável na prevenção

e solução dos problemas ambientais (IBAMA, 1998).

Enquanto processo contínuo e permanente, a Educação Ambiental deve...


• Atingir todas as fases do ensino formal e não formal; deve examinar as questões ambientais do ponto de
vista local, regional, nacional e internacional, analisando suas causas, consequências e complexidade.
• Deve também, desenvolver o senso crítico e as habilidades humanas necessárias para resolver tais
problemas e utilizar métodos e estratégias adequadas para aquisição de conhecimentos e comunicação,
valorizando as experiências pessoais e enfatizando atividades práticas delas decorrentes (DIAS,1994).
• A educação ambiental tem ainda como meta democratizar o conhecimento, a fim de que a sociedade
incorpore novos valores, reivindicando um novo modelo de desenvolvimento, o desenvolvimento
sustentável. Entende-se por desenvolvimento sustentável aquele que atenda às necessidades do presente
sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas necessidades.

• A educação ambiental tem como objetivo, portanto, formar a consciência dos cidadãos e transformar-se

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• A educação ambiental tem como objetivo, portanto, formar a consciência dos cidadãos e transformar-se
em filosofia de vida, de modo a levar a adoção de comportamentos ambientalmente adequados,
investindo nos recursos e processos ecológicos do meio ambiente. A educação ambiental deve,
necessariamente, transformar-se em ação.
De acordo com Sato (2003), há diferentes formas de incluir a temática ambiental nos currículos escolares, como

atividades artísticas, experiências práticas, atividades fora da sala de aula, produção de materiais locais, projetos

ou qualquer outra atividade que conduza os alunos a serem reconhecidos como agentes ativos no processo que

norteia a política ambientalista.

Cabe aos professores, por intermédio de prática interdisciplinar, proporem novas metodologias que favoreçam a

implementação da Educação Ambiental, sempre considerando o ambiente imediato, relacionado a exemplos de

problemas atualizados.

Nesse processo, a Educação Ambiental vem adquirindo uma grande importância no mundo, sendo hoje

pertinente que os currículos escolares busquem desenvolver práticas pedagógicas ambientalizadas. Assuntos

como ética, estética, respeito e cidadania planetária devem estar presentes diariamente na rotina da sala de aula.

Como perspectiva educativa, a Educação Ambiental deve permear o currículo de todas as disciplinas, uma vez

que permite a análise de temas que enfocam as relações entre a humanidade, o meio natural e as relações sociais,

sem deixar de lado suas especificidades.

É necessário ter claro que a Educação Ambiental não deve estar presente no currículo escolar como uma

disciplina, pois ela não se destina a isso, mas sim como um tema que permeia todas as relações e atividades

escolares, buscando desenvolver-se de maneira interdisciplinar, conforme preconiza o Plano Nacional de

Educação Ambiental - Lei 9795/99.

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6 Considerações finais
Além da inserção da Educação Ambiental na proposta pedagógica da escola, é fundamental que os educadores

estejam preparados para incorporar o trabalho de Educação Ambiental à sua práxis, tendo em vista que as

questões ambientais fazem parte da vida de todos e devem ser articuladas as diversas áreas do conhecimento.

Conforme o art. 2º da Lei 9.795 de 27/04/1999, a educação ambiental é um componente essencial e permanente

da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do

processo educativo, em caráter formal e não formal. A Lei 9.795 de 27/04/199 ainda prevê que nas atividades

vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental deve existir a preparação de profissionais orientados para

as atividades de gestão ambiental.

Após a aprovação da Lei 9.795 de 27/04/199, foi aprovado o Decreto nº 4.281, de 25/06/2002, estabelecendo a

Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), que veio reforçar a Educação Ambiental nos artigos 2º e 3º da

Lei 9.795/99 como um componente essencial e permanente da educação. (BRASIL, 1999).

A Educação Ambiental, conforme as diretrizes do MEC devem ser trabalhadas através de três modalidades

básicas:

1)projetos;

2) disciplinas especiais;

3) inserção da temática ambiental nas disciplinas.

Dentro dessas modalidades de trabalho, o desafio é desenvolver um trabalho de permanente conexão da

conscientização ambiental aos conteúdos do currículo. Para isso, o professor deve ter o desejo de realizar essa

transformação social.

Leis e orientações para trabalhar a Educação Ambiental não faltam, mesmo assim, essa conscientização se

apresenta muitas vezes de forma superficial. As escolas devem divulgar as iniciativas desenvolvidas nesse

sentido, com intuito de disseminar esse trabalho, tornando a Educação Ambiental como parte do contexto social

e não só escolar.

A interdisciplinaridade é definida por Norgaard (1998) através de uma metáfora muito interessante. Nela, ele

simboliza a orquestra para explicar a importância da interdisciplinaridade.

Se todos os pesquisadores envolvidos numa pesquisa possuíssem os mesmos entendimentos sobre um

determinado conhecimento, estaríamos tocando um só instrumento e alcançando as mesmas notas musicais.

Mas, possuir conhecimentos complementares ou divergentes seria comparável a uma orquestra, onde tocar

juntos requer uma partitura mais elaborada e uma competência mais considerável.

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Ainda que numa orquestra os músicos não possam escolher as partituras que tocam juntos ou eleger o regente, o

som da improvisação orquestral pode representar uma revolução, onde a dissonância pode ser compreendida

como parte da transição da modernidade, e onde os conhecimentos se complementam para a interpretação

conjunta de uma realidade.

Desse modo, a escola, ao propor o desenvolvimento do currículo escolar voltado para a questão ambiental, deve

proporcionar a participação de todos no processo de sua construção e execução, tendo os alunos como sujeitos

do processo. Os conteúdos precisam ser revistos para que convirjam entre as disciplinas de forma

interdisciplinar, além de terem sua importância dentro da Educação Ambiental. (VIEIRA, 2008)

A Educação Ambiental precisa ser entendida como uma importante aliada do currículo escolar na busca de um

conhecimento integrado, que supere a fragmentação, tendo em vista o conhecimento, a emancipação, uma vez

que, segundo Sato, a EA “sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos, biológicos, sociais e

culturais dos seres humanos” (SATO, 2002, p. 24). Sendo assim, apresenta-se como uma peça importante no

currículo escolar.

O que vem na próxima aula


• Analisaremos os Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais;
• traçaremos considerações sobre o uso dos PCN’s como instrumento de planejamento e ação docente
para as séries iniciais.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Traçou um panorama sobre o histórico da Educação Ambiental, a evolução das legislações e os
principais eventos que levaram à criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA).

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