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CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA

DO ENSINO DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

CARACTERIZAÇÃO DAS CIÊNCIAS


NATURAIS: ESPECIFICIDADE DO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO E DO SENSO
COMUM

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Distinguir a área de ciências naturais e seu ensino na linguagem escolar;

2. reconhecer a natureza das ciências e a investigação científica como pontos de convergência para um currículo

de ciências voltado para a construção da cidadania;

3. compreender como o conhecimento científico é construído e validado.

4. Conhecer a BNCC e a área de Ciências da Natureza

1 Uma breve introdução


A disciplina Conteúdo, Metodologia e Prática de Ensino de Ciências e Educação Ambiental, pertencente ao núcleo

de formação profissional no contexto do Curso de Pedagogia.

A disciplina pretende levar o aluno a analisar as relações entre Educação Ambiental e Ensino de Ciências, bem

como refletir sobre a importância da educação científica e da educação ambiental nas séries iniciais do Ensino

Fundamental. Apresentará as origens das ciências e suas relações com as outras formas de conhecimento,

caracterizando o conhecimento científico em uma realidade histórica e contextualizada.

2 Objetivos gerais da disciplina


• Analisar as relações entre Educação Ambiental e Ensino de Ciências;
• refletir sobre a importância da educação científica e da educação ambiental nas séries iniciais do Ensino
Fundamental.

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3 Conheça os objetivos específicos da disciplina
• Conhecer as origens das ciências, discutindo suas relações com as outras formas de conhecimento;
• Caracterizar o conhecimento científico em uma realidade histórica e contextualizada;
• Atualizar conceitos que são desenvolvidos em Ciências Naturais e na Educação Ambiental nas séries
iniciais do ensino fundamental;
• Identificar relações entre Educação Ambiental e Cidadania;
• Apresentar alternativas metodológicas para o ensino das ciências naturais e Educação Ambiental nas
séries iniciais do ensino fundamental.
A disciplina Conteúdo, Metodologia e Prática de Ensino de Ciências e Educação Ambiental tem como metas

fornecer subsídios teórico- -metodológicos e de recursos para a atuação na área de Ciências e Educação

Ambiental nas primeiras séries do Ensino Fundamental, além de propor reflexões sobre essa prática.

Para isto, procura-se discutir com as diferentes concepções sobre o ensino de ciências e a evolução da Educação

Ambiental, enfatizando-se a visão da metodologia de ensino enquanto ferramenta educacional.

4 A formação do professor
Especificamente para o ensino de ciências é importante que na formação do professor sejam discutidas questões

referentes ao histórico do ensino desta disciplina no Brasil, às diferentes concepções de conhecimento científico

e às diversas tendências no ensino de ciências e da educação ambiental. Busca-se com isto preencher lacunas na

formação básica dos discentes em relação aos conteúdos propostos para estas áreas do conhecimento.

As Ciências Naturais são compostas de um conjunto de explicações com peculiaridades próprias e de

procedimento para obter essas explicações sobre a natureza e os artefatos materiais. Seu ensino e sua

aprendizagem serão sempre balizados pelo fato de que os sujeitos já dispõem de conhecimentos prévios a

respeito do objeto de ensino.

A base de tal afirmativa é a constatação de que participam de um conjunto de relações sociais e naturais prévias

à sua escolaridade e que permanecem presentes durante o tempo da atividade escolar (DELIZOICV; ANGOTTI;

PERNAMBUCO, 2002, p. 131).

O papel do educador é situar o aluno ao mundo em que ele vive para que possa se posicionar criticamente. Nesse

sentido é importante conhecer a realidade desse aluno: os problemas e as qualidades ou iniciativas que vem

sendo feitas em prol da melhoria da qualidade ambiental.

Conheça a BNCC e veja como esse marco normativa orienta o trabalho nos componentes curriculares para a área

de Ciências da Natureza suas Tecnologias http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images

/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf

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Freire (2001) enfatiza que o meio ambiente é composto de:

Fatores abióticos (ar, água e solo);

Fatores bióticos (animais e vegetais);

Cultura humana (valores filosóficos, políticos, morais, científicos, artísticos, sociais, econômicos, religiosos etc).

A definição de meio ambiente envolve a natureza (parques, florestas, mares etc.), mas também a nossa rua, nossa

casa, nossa relação com os outros seres humanos e não humanos e conosco.

5 Ciência e conhecimento
Ciência é uma palavra que vem do latim: scientia que quer dizer “aprender ou alcançar conhecimento”. Ainda do

grego Scirem, conhecimento criticamente fundamentado. Conhecer, por sua vez, é tentar compreender o mundo,

saber como funciona, só amamos ou somos capazes de agir no mundo se o conhecermos. A ciência é muito

importante em nossa sociedade, pois permite que consigamos nos orientar, modificar e viver com um melhor

conforto e qualidade de vida.

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Ciência é a atividade que propõe a aquisição sistemática do conhecimento sobre a natureza social, biológica e

tecnológica. Vista como uma poderosa ferramenta, sua principal função é o aperfeiçoamento do conhecimento

em todas as áreas para tornar a existência humana mais significativa. A informação tratada através da ciência se

torna clara e objetiva, tornando-se mais realista.

Os conhecimentos são tão importantes ao longo da história que foram passados através de gerações,

constituindo tradições: mitos, lendas etc. Existem formas diferentes de conhecer o mundo:

É uma das mais antigas e importantes formas de tentar explicar o mundo. Tem princípios

Pela religião próprios, geralmente espirituais e atribuídos à divindades e que explicam o mundo à sua

maneira.

Investiga as essências do mundo real, não sendo apenas uma mera opinião, mas sim uma

Pela filosofia reflexão profunda fruto do pensamento filosófico. Atribui-se à Fiosofia o surgimento da

Ciência.

Pela arte É uma forma de expressão de um certo conhecimento.

Conheça a afirmação de Bizzo sobre a ciência.

Bizzo (2002) afirma que “a ciência não está amparada na verdade religiosa nem na verdade filosófica, mas em

um certo tipo de verdade que é diferente dessas outras. Não é correta a imagem de que os conhecimentos

científicos, por serem comumente frutos de experimentação e por terem uma base lógica, sejam “melhores” do

que os demais conhecimentos.Tampouco se pode pensar que o conhecimento científico possa gerar verdades

eternas e perenes.”

É importante ressaltar que o estudo de Ciências tem como fundamento o conhecimento científico proveniente da

ciência construída historicamente pela humanidade.

Os fatos cotidianos e os conhecimentos adquiridos ao longo da história podem ser entendidos pela interação das

várias áreas do conhecimento, revelando a importância da Química, da Física, da Biologia, da Astronomia,

Geociências, dentre outras, que se complementam para explicar os fenômenos naturais e as transformações e

interações que neles se apresentam.

Mas para que serve o conhecimento das ciências?

Segundo Bizzo (2002), “o domínio do conhecimento científico hoje em dia é indispensável para que se possa

realizar tarefas tão triviais como ler o jornal ou assistir televisão. Da mesma forma, decisões a respeito de

questões ambientais, por exemplo, não podem prescindir da informação científica que deve estar ao alcance de

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todos”. Um exemplo trágico e extremo foi o acidente de 1987 em Goiânia (GO), quando um aparelho de

radioterapia – um cilindro – foi levado por dois catadores que o venderam a um ferro velho e nesse o dono

distribuiu para a família.

causando mortes e contaminação de muitas pessoas. Houve irresponsabilidade do dono da radioterapia que

descartou o material sem os devidos cuidados deixando-o exposto e ao mesmo tempo falta de informação e

conhecimentos científicos necessários para viver em um mundo que reúne avanços tecnológicos notáveis. Essas

informações e conhecimentos passam cada vez mais a ter importância, e a escola não deixa de assumir a

responsabilidade de torná-las acessíveis aos cidadãos.

Cachapuz et al (2005) endossa essa colocação dizendo que a alfabetização científica converteu-se numa

necessidade para todos: todos necessitam utilizar a informação científica para realizar opções que se nos

deparam a cada dia, de sermos capazes de participar em discussões públicas sobre assuntos importantes que se

relacionam com a Ciência e a Tecnologia, e todos merecemos compartilhar a emoção e a realização pessoal que

pode produzir a compreensão do mundo natural.

6 Conhecimento cotidiano / saber popular / senso comum


Saber deriva do latim sapere – ter sabor, ter gosto para. Está associado a paladar e é ampliado para outros

sentidos como visão, audição e olfato.

Percepção do mundo: o ser humano, assim como nos outros animais, a percepção do mundo começa pelo

conhecimento sensorial captado em escalas diferenciadas: cores, odor, movimento, paladar, temperatura, som

etc. Em seguida, ele ultrapassa limites dos dados sensoriais e, no caso dos seres humanos, ele compara, analisa,

elabora ideias, isola elementos, generaliza – produzindo conceitos, definições e relações.

Como é construído este saber?

O conhecimento cotidiano (também chamado de “saber popular”, “senso comum” ou “empírico”) é construído

pelas classes populares como uma forma de conhecer a realidade em que vive, age, mora, fala, integrando o

homem ao seu meio. Ele nasce da tentativa do ser humano de resolver os problemas da vida diária.

Como se dá este conhecimento?

Em outras palavras: no conhecimento cotidiano há coincidência entre causa e intenção, nada ocorre por mero

acaso. Tudo é prática aplicável, resulta de um benefício imediato. Não resultam da aplicação de qualquer método

universalmente reconhecido. É visto como uma espécie de denominador comum daquilo que um grupo ou um

povo coletivamente acredita.

Conheça as características do senso comum:


• Não explicar o porquê das coisas;

• ser subjetivo (pode variar de pessoa para pessoa – a natureza pode ser definida como algo sagrado pelo

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• ser subjetivo (pode variar de pessoa para pessoa – a natureza pode ser definida como algo sagrado pelo
índio, como fonte de lucro para o madeireiro etc);
• tender a estabelecer relações diretas de causa e efeito (“diz com quem andas que te direi quem és”);
• não ter preocupação com análises e críticas, são impostos pela tradição aos indivíduos de uma
determinada época, local ou grupo social, sendo geralmente aceitos de modo acrítico como verdades e
comportamentos próprios da natureza humana;
• não necessitar de demonstrações;
• procurar interagir as partes conflitantes procurando compatibilizá-las;
• ser mais flexível com relação aos termos que utiliza: existem variações regionais para um mesmo
produto mandioca, como macaxeira e aipim;
• ser socializado precocemente na vida de todas as pessoas;
• correr o perigo de se cristalizar em preconceitos (= conceito ou opinião formada antecipadamente), sem
conhecimento dos fatos podendo ser favorável ou desfavorável devendo ser combatido;
• o conhecimento cotidiano convive com outras fontes de conhecimento tornando-se contraditório em
certas ocasiões. É necessário um contexto para que seja produzido.

7 Conhecimento científico
Esse surge da observação sistemática do mundo de forma criteriosa e meticulosa, sendo registrada de alguma

forma: fotos, notas, desenhos etc. A partir das informações coletadas, há necessidade de organizá-las de acordo

com uma metodologia que permita a análise e que se chegue a uma conclusão – surge então o método.

O conhecimento científico precisa ser provado. O conhecimento surge da dúvida e comprovado concretamente,

gerando leis válidas. É passível de verificação e investigação, então acaba encontrando respostas aos fenômenos

que norteiam o ser humano. Usa os métodos para encontrar respostas através de leis comprobatórias, as quais

regem a relação do sujeito com a realidade. (SOUZA, 2009)

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O saber científico é baseado em questionamentos feitos a partir da escolha do que vai se observar, de preferência

algo que julgamos relevante para o problema em questão.

Há portanto interesses e expectativas que resultam em hipóteses (= ideia prévia) que serão testadas e aprovadas

ou não. Caso positivo, o saber é consolidado/registrado. Outras características do conhecimento científico são:
• O conhecimento científico nunca é absoluto ou final, pode ser sempre modificado ou substituído;
• as conclusões podem ser verificadas por qualquer outro pesquisador que repita o experimento nas
mesmas condições;
• é quantificado: busca medidas, padrões, critérios de comparação e avaliação;
• não há uma convivência pacífica de ideias;
• busca leis gerais de funcionamento dos fenômenos;
• se opõe ao mágico, destacando-se explicações racionais, claras, simples e verdadeiras;
• está preocupado em libertar o ser humano do medo de superstições;
• tem uma terminologia que sintetiza ideias complexas conhecidas por aqueles que dominam aquele ramo
da ciência (ex: vertebrados – presença de vértebra diferente dos invertebrados como a mosca – sem
vértebra). A terminologia é um código de compactação pois tenta juntar informações agregando
significados e não se modifica com o tempo ou sofre influências regionais ou da moda. Diferente de um
código criptográfico que se caracteriza por esconder significados;
• é socializado mais tarde na vida escolar dos jovens. Reconhece-se, hoje, que o conhecimento científico
deve ser acelerado, tornando-se mais eficiente. A escola deve proporcionar aproximações crescentemente
complexas daquilo que os cientistas consideram como válido, levando em consideração as características
dos alunos, sua capacidade de raciocínio, seus conhecimentos prévios;
• procura renovar-se e modificar-se continuamente – é um conhecimento em construção, ou seja, uma
criação.
Quanto a essa última característica, é importante observar que os conhecimentos produzidos pela ciência são

verdadeiros, mas não são verdades eternas e não questionáveis. Ela é resultado do processo de busca do

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conhecimento, é um exercício constante de aproximação da realidade e como tal, é histórica e socialmente

determinada. Portanto, a ciência se mantém em constante movimento, reinventando-se, recriando e acumulando

cada vez mais conhecimento.

O conhecimento, válido em uma época, pode deixar de ser em outra. Um exemplo disso foi a retirada das tonsilas

(amígdalas) através de cirurgias na década de 60 pela ciência acreditar que eram órgãos inúteis. Pessoas sem

tonsilas tinham vida normal até que após algum tempo percebeu-se que essas apresentavam resistência

imunológica comprometida em alguns casos como faringites frequentes.

8 Conhecimento científico e conhecimento cotidiano


Manga com leite podem ser ingeridos juntos?

As pessoas acham que não, mas não é verdade. Esse saber vem do tempo da escravidão: os fazendeiros falavam

aos escravos que se bebessem leite morreriam, evitando que não ingerissem o leite que retiravam das vacas.

E a mandioca, pode ser comida crua?

Pela tradição indígena não, eles ralam, expõem ao sol e torram para retirar seu efeito danoso. A ciência confirma:

a ação venenosa da planta faz com que não seja atacada por pragas e, para consumirmos, precisamos prepará-la

adequadamente.

Há contradições entre eles? Um está certo e o outro está errado? Um é falso e o outro é verdadeiro?

9 O Posicionamento da escola frente ao conhecimento


O posicionamento da escola é proporcionar acesso a outras formas de conhecimento (como o científico, artístico

e cultural) que muitas vezes constituem explicações alternativas – quando não frontalmente opostas às crenças

da coletividade. É obrigação constitucional da escola que seus alunos tenham o direito de saber que manga e

leite não reagem quimicamente produzindo veneno mortal e que a mandioca é diferente. É tarefa da escola

estabelecer a distinção entre o conhecimento cotidiano e o conhecimento científico.

Você já aprendeu sobre as questões relacionadas ao conhecimento científico e o conhecimento cotidiano e o

posicionamento da escola frente a este conhecimento.

Para conhecer sobre esse assunto, acesse a biblioteca virtual e leia o texto conhecimento científico e

conhecimento escolar.

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O que vem na próxima aula
• Conhecerá sobre a evolução dos conceitos de Educação Ambiental e sustentabilidade;
• reconhecerá os principais eventos marcantes como "Princípios de Educação Ambiental", de 1974, o
Congresso de Belgrado, a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (1977), a
Conferência do Rio ECO92, dentre outros;
• distinguirá alguns pontos da Política Nacional de Educação Ambiental.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Nesta aula fizemos uma breve retrospectiva histórica acerca do ensino de Ciências no Brasil, abordando
as diversas tendências no Ensino de Ciências traçando um paralelo com diferentes concepções de
Conhecimento Científico.

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