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Democracia Livros e Praças:

relatos e anotações

Lucas Martins
F866d Freitas Junior, Lucas Martins de

Democracia Livros e Praças: relatos e Anotações./ Lucas Martins de Freitas


Junior. – Belo Horizonte, 2023.
50f. il.:
Ebook – Livro Digital

ISBN:

1. Democracia 2. Estudos 3. Formas de governo 4. Dinâmica 5. Formas de Estado


I. Título. II. Autor.

CDU: 321
2
Elaborado pelo Bibliotecário Lucas Martins de Freitas Junior – CRB 6/3621
SUMÁRIO
Introdução 04
Capítulo 1 - Primeiro Encontro 08
Capítulo 2 - Segundo Encontro 13
Capítulo 3 - Terceiro Encontro 16
Capítulo 4 - Quarto Encontro 19
Capítulo 5 - Quinto Encontro 22
Capítulo 6 - Sexto Encontro 25
Capítulo 7 - Sétimo Encontro 28
Capítulo 8 - Oitavo Encontro 31
Capítulo 9 - Oitavo Encontro 34
Capítulo 10 - Décimo Encontro 37
Capítulo 11 - Atenas e Londres 40

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Introdução

Este é um livro com relatos e anotações da dinâmica: Democracia: Livros e praças, realizada nas praças de Belo
Horizonte de fevereiro a novembro de 2019, organizado por Gabriel Azevedo e Augusto de Franco que contou
com mais de 500 participantes.

Gabriel e Augusto selecionaram 10 obras relacionadas à democracia. A dinâmica tinha a seguinte forma: no início
de cada mês era sugerido uma leitura, Gabriel postava um vídeo com explicações e resumo da obra e no último
domingo de cada mês ocorria o encontro em uma praça, antes de cada encontro também ocorria uma reunião
virtual para tirar dúvidas. Importante lembrar que um homem e uma mulher, viajaram com o Gabriel para Atenas
e Londres, os critérios da viagem foram definidos na própria dinâmica, além dos escolhidos, montamos um grupo
para acompanhar os ganhadores nestas duas cidades. O roteiro original era Atenas e Washington, mas foi
incluído no meio da dinâmica Londres, cidades importantes para a história da democracia, mas não conseguimos
realizar a viagem para Washington por conta da agenda e principalmente por causa da pandemia ocasionada pelo
novo coronavírus. Outra observação, no começo das inscrições a viagem não estava programada, entrando
somente depois.

As discussões, as anotações deram vida aos capítulos deste livro e te convido a conhecer ou relembrar estes
momentos. A parte intelectual do livro foi feita por Gabriel Azevedo, Augusto de Franco e os participantes, e o
meu trabalho foi somente de reunir todo este material e publicar em um só local.

A obra foi dividida em duas partes, a primeira sobre a dinâmica, os livros, as praças e a segunda foi sobre a
viagem para Atenas e Londres. Por último, anexei de forma cronológica os posts do Instagram do Gabriel
Azevedo para entender toda a história da dinâmica e também anexei as regras da organização de cada dinâmica.

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ORIENTAÇÕES DA DINÂMICA PRIMEIRA DINÂMICA

1. Não espere ser governado por ninguém. Você e os demais serão os principais
organizadores dessa dinâmica

2. Todos os participantes presentes devem se dividir em grupos de 10 pessoas. Não


há critério. Se houver 500 participantes, serão 50 grupos. Se houve mais, mais
grupos. Se houver menos, menos grupos. Se a quantidade de presentes não for um
número múltiplo de dez haverá um grupo com menos integrantes. Caso reste
apenas uma pessoa sem grupo, poderá existir um grupo com onze participantes.

3. Cada grupo de dez pessoas tem algumas missões

4. A primeira é criar um grupo de WhatsApp onde apenas os dez participantes


desse grupo serão incluídos.

5. A segunda é eleger um integrante que representará os demais participantes do


grupo inicial em outro grupo, formando apenas pelos representantes eleitos, O
Método de escolha pode ser definido com liberdade.

6. A terceira missão é cumprir todas as metas do encontro até o fim da atividade


que se dará às 12h30.

7. Do momento em que a caixa se abri até o término da atividade cada grupo de


dez deverá ficar atento ao som de um apito que dividirá o tempo em cinco
momentos.

8. No primeiro momento, ao som do primeiro apito, a caixa será aberta, a cada


participante retirará uma virtude contida na caixa e retornará para seu grupo. Cada
participante do grupo deverá se apresentar com seu nome na etiqueta
devidamente colocado em local visível na roupa, além de uma virtude que terá
retirado para si, dentre todas as virtudes existentes dentro da caixa. Além de
compartilhar as razões pelas quais vocês estão nessa dinâmica, esse é o momento
para escolher o representante do grupo.

9. No segundo momento, ao som do segundo apito, cada grupo deverá debater o


conteúdo do livro. Pode-se concordar com ele. Pode discordar dele. O importante
é tentar expressar para as pessoas o que foi assimilado.
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ORIENTAÇÕES DA DINÂMICA PRIMEIRA DINÂMICA – SEGUNDA PARTE

10. No terceiro momento, ao som do terceiro apito, cada grupo deverá definir quais critérios objetivos
devem ser considerados para que, ao final de dez encontros como esse, uma dupla, formada por uma
pessoa do gênero feminino e uma pessoa do gênero masculino, possa viajar para Atenas, na Grécia e
Washington, nos Estados Unidos da América, em janeiro de 2020. Estas pessoas devem ficam
encarregadas no ano seguintes de expandir o que se iniciou hoje. O que se iniciou hoje? Cada grupo pode
definir.

11. No quarto momento, ao som do terceiro apito, cada grupo deverá definir de que forma todos os
participantes desse evento poderão utilizar suas mídias sociais para compartilhar o que foi assimilado
com o livro e com o encontro desse domingo. O conteúdo deverá ser postado de forma que seja possível
acessá-lo através de um link, que direciona para a postagem na rede social escolhida(Twitter, Instagram,
Facebook, Youtube ou qualquer outra a sua escolha). Na próxima semana, todos integrantes receberão
um email para que esse link seja informado registrado (importante que a postagem possa ser acessada
posteriormente).

12. No quinto momento, ao som do quinto apito, os representantes de cada grupo devem se separar dos
seus grupos iniciais e se reunir num local separado. Os grupos originais com nove integrantes debaterão
nesse momento qual consideram o maior problema de Belo Horizonte. Os representantes reunidos,
além de fazer um grupo de WhatsApp com todos os eleitos, cujo nome será "pritaneu", deverão definir
quais são os critérios de escolha das duas pessoas que participarão da viagem e estabelecer essas
normas, que serão cumpridas pela dinâmica. Assim que os grupos originais definirem qual o maior
problema de Belo Horizonte, eles devem enviar uma única palavra apara defini-lo ao seu representante
no grupo de WhatsApp. E, assim que todos os representantes definirem os critérios de escolha dos
viajantes, a regra deve ser redigita e enviada de volta nos grupos de WhatsApp originais. Ao fim desse
momento, se todos participantes forem, teremos cerca de 50 grupos de WhatsApp com 10 integrantes e
um grupo de WhatsApp com 50 representantes desses grupos originais.

13. Os representantes reunidos deverão, por fim, escolher uma pessoa entre todas as que representam
seus grupos para guardar a caixa lacrada que foi encontrada dentro da caixa que se abriu com o quebra-
cabeças. Essa pessoa será o ponto de contato entre essa dinâmica e a próxima, que ocorrerá domingo,
31 de março de 2019, noutra praça da nossa cidade. A caixa deverá permanecer lacrada até lá. Se seu
conteúdo for aberto, toda a dinâmica se encerra e não haverá um terceiro encontro quando se verificar o
não cumprimento dessa condição no segundo encontro.

14. Nesse momento, assim como os atenienses, vocês todos formarão uma pólis. Há uma rede
descentralizada conectada pelo aplicativo WhatsApp criada entre os praticantes da dinâmica.

Os próximos passos serão enviados por e-mail. Obrigado pela participação de vocês. 6
Augusto de Franco e Gabriel Azevedo.
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Capítulo 1

Primeiro encontro –
O julgamento de Sócrates -
Praça do Papa
Primeiro encontro - O julgamento de Sócrates - Praça do Papa

O ponto de partida da dinâmica é a democracia da Grécia


e também a praça do Papa. Para entender e começar a
falar de democracia é necessário entender a sua origem,
por isso acredito que a justificativa da escolha do Gabriel e
Augusto de Franco pelo livro “O julgamento de Sócrates”.
Um dos motivos da escolha da praça se deve por ser um
dos pontos mais elevados da cidade, assim como os Primeira Dinâmica – Praça do Papa, 2019
gregos que utilizavam a Acrópole, que em grego significa
exatamente o ponto mais alto da cidade.
Mais de 200 séculos depois, um grupo de pessoas se
reuniu igual aos gregos para discutir sobre a democracia,
política e problemas da cidade. Mas em relação à temática
do livro, avançamos para a dinâmica com a seguinte
pergunta: Por qual razão a democracia ateniense julgou o
seu principal filósofo? A resposta para essa pergunta está
na parte sobre a dinâmica, mas antes, comento
brevemente sobre o autor e também da praça para que o
entendimento e a ideia da dinâmica fique completa.

Primeira Dinâmica – Praça do Papa,2019

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O Autor
Livro
Isidor Feinstein Stone ou simplesmente I.F Stone foi
um jornalista norte-americano defensor da liberdade O livro "O Julgamento de Sócrates" de I.F. Stone é
de pensamento e expressão. Nasceu em 1907 e uma análise do julgamento e condenação do filósofo
morreu em 1989, aos 81 anos. Iniciou a carreira de grego Sócrates em 399 a.C. Stone examina em
jornalista ainda novo, quando deixou os estudos de detalhes os eventos que levaram à acusação de
filosofia para ser repórter, durante a sua carreira Sócrates, os argumentos apresentados pelas partes
trabalhou para diversos veículos de Nova York mas envolvidas no julgamento. O livro de Stone é uma obra
devido às limitações editoriais e as pressões exercidas importante para compreender o julgamento de
por grupos políticos e econômicos fizeram que Stone Sócrates e a natureza da justiça na Grécia antiga.
abandonasse a mídia tradicional e criasse o seu
próprio jornal, o periódico alternativo I.F. Stone's
Weekly, lançado em 1953 e publicado até 1971. Os
principais temas do jornal foram: Defesa da liberdade
de expressão, direitos humanos, denúncias contra o
macartismo, política belicista dos sucessivos governos
norte-americanos e a guerra do Vietnã.

O livro demonstra a paixão de Stone pela Cultura


grega, para escrever sobre o período, escolheu pelo
fato mais polêmico, o Julgamento de Sócrates.

Além do Julgamento de Sócrates Stone escreveu entre


outras obras Underground to Palestine (1946), Hidden
History of the Korean War (1952), The Hunted Fifties
(1964) e The Killings at Kent State (1971).
I.F. Stone, 1972- Enciclopédia Britanica
10
Dinâmica

Não espere ser governado por ninguém. Você e os demais serão os principais organizadores dessa dinâmica, assim começou
as orientações de todas as dinâmicas. Chegou a hora de encontrar com todos os inscritos para discutir a democracia, neste
momento o grande tema foi Sócrates, o seu pensamento em relação à democracia e também o seu julgamento. Cada
participante teve que levar uma peça que foi recebida via correios, os integrantes não sabiam, mas a peça era de um quebra
cabeça que formava uma imagem em uma caixa. Então todos os participantes presentes foram divididos em grupos de 10
pessoas, em seguida foi criado um grupo de WhatsApp com os 10 membros, escolhemos um representante de cada grupo,
foi criado também um grupo para estes representantes chamado de Pritaneu, que era a sede dos prítanes, ou seja, dos
membros do governo das cidades-estado da Grécia Antiga.

A dinâmica foi dividida em 5 momentos, no primeiro momento cada participante retirou uma virtude da caixa que foi
colocada pela organização no centro da praça, ao retornar para o seu grupo cada um teve que se apresentar e falar da virtude
escolhida, em seguida cada grupo definiu o seu representante. Em um segundo momento debatemos o conteúdo do livro.
No terceiro momento, definimos os critérios objetivos da viagem da dupla para Atenas e Washington. No quarto momento
os grupos definiram como poderão utilizar as mídias sociais para compartilhar o que foi assimilado com o livro e com o
encontro. No quinto e último momento os representantes se reuniram com o objetivo de definir quais são os critérios e
normas que a dupla deverá ser cumpridas durante a dinâmica, enquanto isso os outros 9 membros discutiram qual é o maior
problema de Belo Horizonte e enviar no grupo de whatsApp para que seu representante possa ver e compartilhar com os
outros escolhidos, no final depois da definição do critério da viagem a regra foi redigida e enviada para grupo do WhatsApp.

Por último os representantes escolheram um entre eles para ficar com uma caixa lacrada que foi encontrada dentro da caixa
que se abriu com o quebra-cabeças, essa pessoa teve que permanecer com ela lacrada até a próxima dinâmica, caso fosse
aberta a dinâmica se encerraria.

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Como tivemos ausentes não foi possível ver a imagem
formada, Gabriel perguntou para o grupo e um
integrante soube responder, era a imagem de Péricles
430 a.C na “ oração fúnebre” em homenagem aos
soldados mortos na guerra do Peloponeso, que deram
a vida por Atenas, no discurso Péricles encerra
elogiando a Democracia Ateniense.

Gabriel também lembrou que com o enfraquecimento


de Atenas pelo constante conflito com Esparta o que
ocasionou o domínio macedônio pelo Alexandre o
Grande e o fim da democracia grega.

Em resumo, a dinâmica se centralizou em responder A era de Péricles, de Philipp Von Foltz (1853)
essas questões, Qual a mensagem principal do livro,
De que maneira cada um de vocês poderá divulgar a
mensagem do autor para outras pessoas usando a
internet? Qual é o principal problema da nossa cidade-
estado, Belo Horizonte? Por qual razão você considera
este o principal problema da cidade? Quais os critérios
definirão a escolha da dupla formada para viajar para
Atenas?

Batalha de Salamina, Wilhelm von Kaulbach, 1868


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Capítulo 2

Segundo encontro -
Tratado teológico político -
Praça Raul Soares.
Segundo encontro - Tratado teológico político - Praça Raul Soares

No dia 31 de março de 2019, os participantes da dinâmica


“democracia: livros e praças” reuniram na Praça Raul Soares, em Belo
Horizonte. Em março, lemos o “Tratado Teológico-Político” de Baruch
de Espinoza. A ideia de democracia, depois de desaparecer por mais
de dois milênios na escuridão das trevas, ressurgiu no século XVII. Esse
reaparecimento ocorreu na teoria e na prática. Teoricamente, o
pensamento democrático ressurgiu com o manifesto do filósofo
holandês judeu Baruch de Espinosa. Praticamente, o pensamento
democrático ressurgiu com a revolução inglesa contra o Rei Carlos I e
sua cobrança de impostos que originou o “Bill of Rights”. Os
participantes foram divididos em grupos de acordo com sua religião
(ou pela ausência de uma religião) tendo cada um representante.
Debateramos o livro, pensaram soluções para a mobilidade da cidade,
definiram mais um destino para a viagem que acontecerá em janeiro Segunda dinâmica, Praça Raul Soares
do ano que vem, além de criar uma contribuição pra essa ida a
Londres, abriram a caixa-preta que escondeu um conceito pelo último
mês. Democracia se aprende melhor praticando. Mesmo com a fonte
musical não funcionando, ouvimos Sebastian Bach em uma caixa de
som, ele nasceu no século XVII no Sacro Império Romano Germânico,
fossem executadas dando um tom barroco ao evento.

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O Autor Livro

O segundo livro da dinâmica “democracia: livros e Spinoza argumenta que a religião deve ser vista como
praças” foi escrito na Holanda em 1670. Baruch de uma questão de fé individual, e não como uma instituição
Espinosa nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos, mas política que deve governar as pessoas. Ele também afirma
sua família era portuguesa e fugiu da inquisição que a razão é a única fonte de verdade e que as escrituras
religiosa em Lisboa. religiosas devem ser interpretadas de acordo com as leis
da natureza.
Critico da superstição e da ideia da intervenção divina, Com isso, o autor separu o Estado e religião, sendo que o
reinterpretou a religião para completa fúria dos judeus Estado não pode interferir na religião e nem a religião no
que o expulsaram da sinagoga com o “cherem”. Para Estado. O tratado foi escrito em uma época de
ele, a divindade era a natureza. Não havia vida além instabilidade política e conflitos religiosos.
da vida, não havia punições divinas e os textos
religiosos não passavam de escrituras humanas. Não
era um ateu. Pelo contrário, era um grande defensor
de Deus. Inspirado pelos estóicos gregos, queria
sobretudo compreender o mundo ao invés de crer
num pensamento supersticioso. Para ele,
compreender Deus era compreender a realidade.

Spinoza Excomungado, Samuel Hirszenberg, 1907

Baruch Spinoza, 1632 -1677 15


Capítulo 3

Terceiro encontro - A
democracia na América -
Praça da Assembleia .
Terceiro encontro - A democracia na América - Praça da Assembleia .

Em abril de 2019, os participantes devem ler os dois volumes de


“Democracia na América”, de Alexis de Tocqueville, I - leis e
costumes; II - sentimentos e opiniões. Afinal, depois que a
democracia foi retomada no século XVII, depois de um intervalo de
mais de dois mil anos, ela encontraria um terreno fértil para florescer
em treze colônias britânicas do outro lado do Oceano Atlântico a
partir do século XVIII. Por qual razão? Foi o que esse francês acabou
conferindo numa viagem em 1831 pelos Estados Unidos da América.
Enviado pelo governo da França para pesquisar o sistema prisional
americano, o pensador político passou nove meses observando a Terceira Dinâmica, Praça da Assembleia
vida, a sociedade e o sistema político único no mundo.

O francês viajou pelos Estados e publicou o que viu em 1935. Ele


notou que havia um “governo civil”, termo que Jane Jacobs chamou
mais tarde de “capital social” em 1961. As pessoas faziam as coisas
por si mesmas sem depender do governo. A interação criada nas
comunas fazia a política brotar das praças, das ruas, dos comércios e
das igrejas. Essa lógica municipal ergueu-se no plano estadual. Após
a revolução americana, as 13 divisões se uniram num modelo
federativo que criou um poder central. Todavia, a lógica de uma
política que surgia do plano local seguia essencial.

Os participantes da dinâmica foram divididos em dez grupos: além


dos que não moram em Belo Horizonte, nove times se organizaram
de acordo com suas residências em grupos de WhatsApp do
Barreiro, de Venda Nova, da Centro-Sul, da Norte, da Oeste, da
Leste, da Noroeste, da Nordeste e da Pampulha.

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O Autor Livro

Alexis de Tocqueville (1805-1859) foi um pensador Democracia na América" é uma obra publicada em dois
político e social francês, além de escritor e historiador. volumes, em 1835 e 1840. Nessa obra, Tocqueville explora
Ele ficou conhecido justamente pela obra A as origens e a natureza da democracia nos Estados
Democracia na América. Nascido em uma família Unidos, bem como suas implicações sociais, políticas e
aristocrática na França, ele era um crítico da culturais. Dentre os pontos foram destacados: conceito de
monarquia e defensor da liberdade individual. Em governo social e associativismo. Analisa as instituições
1831, ele foi enviado para os Estados Unidos com o políticas americanas, como o sistema de governo, o
objetivo de estudar o sistema penal americano. federalismo e a separação dos poderes e destaca como
Durante sua viagem, Tocqueville também se elas funcionam para garantir a liberdade e a igualdade dos
interessou pela política americana e pela natureza da cidadãos.
democracia.

A Constituição da República Federativa das Regiões Unidas de


Belo Horizonte, assinada pelos delegados de cada regional e
promulgada em 28 de abril de 2019. Ato simbólico realizado
Alexis de Tocqueville, de Théodore Chassériau (1850) durante a dinâmica
18
Capítulo 4

Quarto encontro - Sobre a


liberdade - Praça da
liberdade
Quarto encontro - Sobre a liberdade - Praça da liberdade

Em maio, os participantes leram “Sobre a liberdade”, de John Stuart Mill.


Afinal, depois de fazer uma trajetória de Atenas a Washington (passando
por Amsterdã) ao longo de mais de vinte séculos nas leituras anteriores,
vale entender um dos principais pensadores da Era Vitoriana. Num
momento pelo qual o mundo passou por varias transformações, esse
inglês defendia a democratização da economia e dos costumes. Defendia
a soberania do indivíduo sobre si mesmo. Combatia a “tirania da
maioria”, conceito criado pelo autor anterior, Alexis de Tocqueville,
afirmando que a moralidade e a etiqueta eram ferramentas de controle
totalitário da sociedade. E continuam sendo. Foi um defensor da
liberdade acima de tudo, aspecto fundamental na essência da
democracia.

John Stuart Mill viveu boa porção da Era Vitoriana. O reinado da Rainha
Vitória, do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, além de Imperatriz da
Índia, durou de 1837 a 1901. “O império onde o sol não se punha” tinha
colônias nos cinco continentes. Mesmo com a independência americana
no século anterior, os britânicos conservavam colônias no mundo inteiro Quarta Dinâmica, Praça da liberdade
e prosperaram muito com as riquezas de todas elas. Além de
praticamente não vivenciar guerras na “Pax Britannica”, houve o ápice da
revolução industrial. Foi um período de grandes inventores e pensadores,
que expandiu a educação pela classe média. Ao mesmo tempo que havia
profunda inovação, havia também um profundo conservadorismo nos
costumes morais, sociais e sexuais. Em 1832, uma profunda reforma
eleitoral buscou ampliar o voto a cidades que de expandiam com a
migração das pessoas das áreas rurais para as áreas urbanas.
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O Autor Livro

John Stuart Mill, inglês nasceu em 1806 e morreu No seu livro, “sobre a liberdade”, ele nos presenteia com um
em 1873. Nos seus 66 anos de vida, os muitos raciocínio fundamental. Era crucial no período vitoriano e
pensamentos formulados por ele firmaram as segue crucial hoje. Qual o maior risco? Que vocês abram mão
principais colunas do liberalismo social ou do social de pensar! E pior: que se sintam constrangidos em exercer a
liberalismo. Influenciou outros social liberais como liberdade de expressão. A opinião é muito importante para
John Rawls, Karl Popper e Ronald Dworkin. levar a civilização adiante. Sejam elas boas ou ruins, falsas ou
Defendia profundamente as liberdades individuais e verdadeiras, mais que agitar os pontos contrários, servem de
quando se elegeu para a Câmara dos Comuns em reflexão para quem observa. O contrário disso é a
1865, apresentou uma petição pra que as mulheres esterilização do ambiente livre para criar. Assim se
pudessem votar. Elas só iriam adquirir esse direito transforma povo em gado. E gado não pensa. E gado não
na Inglaterra em 1918. A democracia surgiu em 509 questiona
a.C. e desapareceu em 322 a.C. sem que as
mulheres participassem. Stuart Mill fala da liberdade civil e individual, da liberdade vs
autoridade, a liberdade aqui significa a proteção contra a
tirania, finalidade de colocar limite ao governo, limite a
tirania da maioria, social, magistrado. Sendo assim o
indivíduo é soberano a utilidade interesse do homem em ser
progressivo. Todos deverão ter liberdade de consciência,
pensamento e de expressão.

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John Stuart Mill


Capítulo 5

Quinto encontro -
Democracia cooperativa -
Praça Alberto Dalva Simão
Quinto encontro - Democracia cooperativa - Praça Alberto Dalva Simão

Em junho, os participantes devem ler “Democracia Cooperativa: escritos


políticos de John Dewey”, de Augusto de Franco e Thamy Pogrebinschi.
Afinal, depois de uma longa incursão por milênios desde a criação
democrática em 509 a.C., chegou a hora de adentrar no século XX.

A democracia no seu sentido forte é um modo de vida. Só se atinge a


democracia através da democracia. Ela é meio e fim. A democracia
cooperativa se estabeleça com o ato de operar junto.

Na quinta dinâmica Gabriel escreveu sobre a praça: E onde fica essa


praça? E quem a projetou? Acho que é uma das preciosidades de Belo Desenho da Praça Alberto Dalva Simão
Horizonte que tem sido ignoradas... Essa praça foi projetada com o
nome de Santa Rosa. Hoje, homenageia Alberto Dalva Simão,
empresário cuja residência na Pampulha também foi criada por Oscar
Niemeyer. Burle Marx a concebeu e sua construção se deu em 1973. No
seu centro há uma pérgula, um caramanchão em concreto, que
originalmente previa trepadeiras que criavam um terraço coberto. Além
disso, o paisagista previu um espelho d’água com um paredão em
concreto desenhado com fontes. O mirante para a lagoa foi cercado de
um mostruário de plantas do cerrado e da mata atlântica com
jacarandás, quaresmeiras, braúnas e licuris. Muitas árvores resistiram,
mas não há vestígios das orquídeas e gabirobas que cresciam entre as
pedras ornamentais atualmente. Muitas praças brasileiras são
consideradas públicas. Todavia, são apenas espaços estatais. Sem a
utilização do público, esses locais perdem sua função. Tornam-se apenas
um exercício de manutenção complexo e sem finalidade.

Divulgação da aula sobre os livros


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O Autor Livro

O organizador do livro, Augusto de Franco é escritor, Primeiro ponto, a democracia só se alcança com a prática
palestrante e consultor. É o criador e um dos netweavers da democrática, um dos pontos principais do livro, não tem como
Escola-de-Redes – uma rede de pessoas dedicadas à alcançar a democracia por meio da autocracia, Democracia é o
investigação sobre redes sociais e à criação e transferência fim e o meio.
de tecnologias de netweaving – e um dos promotores do
projeto Casas da Democracia. É autor de várias dezenas de Segundo ponto, toda democracia se estabelece como um modo
livros e textos sobre desenvolvimento local, capital social, de vida, ser democrático no dia-a-dia, modelo de ensino mais
democracia e redes sociais. democrático e mais participativo, modelo que inclui mais os
alunos na educação.
John Dewey (1859-1951), o chamado “filósofo da América”,
acabou ficando mais conhecido no Brasil como filósofo da Todo local se prepara para democracia, por meio da democracia
educação. Até agora seus escritos políticos – sobretudo os com forte presença democrática no local, para atingir em âmbito
publicados entre 1927-1939- são praticamente nacional fazer o local, e não deixar somente no discurso, colocar
desconhecido. John Dewey de corrente do pragmatismo, em prática com isso deve-se desconstruir a autocracia, na vida
participou da escola de Chicago e criticava qualquer forma cotidiana.
de totalitarismo.
A formação democrática da vontade política não se restringe,
não adianta esperar que o estado seja democrático, mas se nos
não somos democráticos no dia a dia exige o engajamento de
todo mundo, coabitar ambientes que existem lógica horizontal
onde todo mundo faz parte, ela não é só estado ela carregava no
modus operandi do estado, democracia no sentido forte da coisa
todo mundo participa, analogia com a mesa do bar, interação
democrática onde todo mundo regula o que vai acontecer,
modelo de Atenas modus operandi criativo, descentralização
onde todo mundo consegue participar de maneira colaborativa,
tornar a praça pública é uma forma de democratizar a vida
urbana, ninguém pode ser livre sozinho, a liberdade é sentir livre
é algo que acontece convivendo com outras pessoas
Aula com Augusto de Franco 24
Capítulo 6

Sexto encontro - O que é


política? - Praça Professor
Godoy Betônico
Sexto encontro - O que é política? - Praça Professor Godoy Betônico

Em julho, os participantes leram “O que é política?”, de Hannah Arendt.


Passamos do meio do caminho dessa jornada e chegamos no século XX,
quando a autocracia teve uma grande escalada. Os totalitarismos
mostraram que podem se originar a qualquer momento. E a autora se
fez fundamental para compreender a democracia.
"A pólis não era Atenas e sim os atenienses.” (disse Hannah Arendt em
1958 em “A Condição Humana”). Isso é básico para entender a
democracia. A cidade não é Belo Horizonte e sim os belo-horizontinos.
A cidade-jardim, suas ruas, suas árvores, seu rio coberto, sua praça, suas Sexta dinâmica, Praça professor Godoy Betônico
casas, sua escola... Esse mesmo espaço com essa mesma forma pode
ser ou não democrático em qualquer outro lugar do mundo. O que
conta é a forma de interação das pessoas umas com as outras
Gabriel disse em suas redes sociais: Aristóteles que me perdoe a
ousadia, mas prefiro não dizer que o homem é um animal político. A
política não é uma substância que nasce com a gente. Ela surge da
nossa interação. Deixado só sem a sociedade ao nascer, homem
nenhum se torna político. Hannah Arendt diz que o sentido da política é
a liberdade. A democracia é um modelo de interação social que
depende muito do papel que cada cidadão atribui a si nessa construção.
Hoje, nos reunimos na Praça Godoy Betônico, no bairro Cidade Jardim,
ao lado do Museu Histórico Abílio Barreto. Mais uma dia de
“democracia: livros e praças.” E as ações desse domingo visam a
construção democrática da nossa “pólis”.

26
A Autora Livro

Hannah Arendt (1906-1975) foi uma filósofa e teórica Hannah Arendt começa com uma análise do período
política alemã, de origem judaica, conhecida por suas grego. Em Atenas a pessoa tinha desenvolvido um modo
contribuições em diversas áreas do pensamento, democrático deixava a polis para ir para guerra a partir desse
incluindo a teoria política, filosofia da história, filosofia momento eles abandonaram o modelo democrático de
da cultura e ética. sobrevivência para viver em um modelo de hierarquia. O
Arendt nasceu em Hannover, na Alemanha, e estudou espaço da família também repetia o modelo de obediência,
filosofia e teologia na Universidade de Marburg e na polo familiar e o polo da guerra, único momento que não tinha
Universidade de Heidelberg. Em 1933, ela foi presa obediência era na Ágora, a expressão idiota surge quando a
pela Gestapo devido às suas atividades antinazistas e pessoa voltava da guerra e não queria a vida política, se recusa
acabou sendo forçada a deixar o país. Ela se refugiou a participar politicamente, saída da polis era sair da
em Paris e depois em Nova York, onde passou a democracia. Hannah Arendt também explica o mundo físico,
trabalhar como professora e jornalista. natural e social, onde o mundo social dá um mundo
Arendt foi uma defensora da democracia e da inventado, nesse mundo social se dá a política. A Democracia
liberdade individual, além de crítica dos sistemas se dá em um ambiente sem doutrina, sem guerra e sem
totalitários e autoritários. Ela também era uma senhor. Busca da perfeição, busca de alguém superior, isso é
pensadora original e provocadora, que desafiou muitas um passo da aristocracia.
das suposições e pressupostos dominantes em sua
época. Seu legado continua sendo influente na
filosofia política e na teoria social contemporânea.

27
Nome do ebook
Capítulo 7

Sétimo encontro - A
invenção democrática -
Praça do Cristo do Barreiro
Sétimo encontro - A invenção democrática - Praça do Cristo do
Barreiro

Em agosto, os participantes leram “A invenção democrática - os limites


do totalitarismo”, de Claude Lefort. Nesse sétimo livro, chegamos no
período da Guerra Fria, quando a análise de eventos daquela época,
sobretudo detalhes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
configura compreensão de totalitários.

Os participantes organizaram tudo por conta própria. Houve uma radical


democratização no encontro anterior. Muitos políticos gostam de se Praça do Cristo - Barreiro
comportar como pai ou pastor. Tratam as pessoas como filhos ou
rebanho. Um horror. O regime democrático surge exatamente quando a
sociedade ateniense concebe a ideia de que não precisa obedecer
ninguém. O livro desse mês escrito por Claude Lefort é uma análise
profunda do século vinte com ênfase na União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas. A Guerra Fria gerou uma onda de autocratização que espalhou
ditaduras pelo mundo nos cinco continentes: África, América, Ásia,
Europa e Oceania ficaram repletas de governos totalitários por conta de
um mundo polarizado. Os ditadores brotaram à direita e à esquerda.
Alguns regimes resistem. O caso mais simbólico é a Coreia do Norte, a
autocracia fechada. Com o desmonte soviético e consolidação do poder
americano, as ditaduras aliadas da Casa Branca começaram a ruir pela
simples ausência de necessidade de manutenção das mesmas. E com a
queda do Muro de Berlim, os soviéticos não conseguiram manter sua
influência também. A década de noventa marca o surgimento de um
mundo globalizado e sem polos onde a democracia encontrou grandes
chances de prosperar. Foi um período curto de cerca de 12 anos até os
atentados de 11 de setembro de 2001. 29
O Autor Livro

Claude Lefort foi um filósofo, teórico político e Claude Lefort traz uma análise sobre a natureza da democracia e
ativista francês que viveu no século XX. Ele sua evolução histórica. Lefort argumenta que a democracia não é
estudou o poder e o conhecimento e um sistema político estável, mas sim uma forma de vida em
argumentou que o poder é uma relação social constante mudança que envolve a participação ativa dos
em constante disputa. Na década de 1970 e cidadãos.
1980, ele se concentrou na questão da Lefort destaca a importância da democracia para a proteção dos
democracia, destacando a importância dos direitos individuais e para a criação de uma sociedade livre e
direitos individuais, do Estado de direito e da pluralista. Ele argumenta que a democracia não é apenas uma
sociedade civil vibrante. forma de governo, mas um processo contínuo de negociação e
diálogo entre os cidadãos.
O livro também discute a relação entre democracia e
totalitarismo, destacando como o totalitarismo busca suprimir a
diversidade e a pluralidade em nome da unidade e da
homogeneidade.
No geral, "A invenção democrática" é uma obra importante que
ajuda a compreender a complexidade da democracia e seu papel
na sociedade. É um livro que pode ser lido por qualquer pessoa
interessada em política e história.

Claude Lefort

30
Capítulo 8

Oitavo encontro - Sobre a


democracia - Praça João
Alves
Oitavo encontro - Sobre a democracia - Praça João Alves

Em setembro, os participantes leram “Sobre a democracia”, de


Robert Alan Dahl. Nesse oitavo livro, chegamos a um verdadeiro
manual democrático. É leitura crucial para entender a poliarquia
e os princípios que sustam um regime não autocrático.

Eleição foi um modelo implementado, modo não guerreiro de


espaço público, valoriza a forma eletiva, governamental na
Grécia era por sorteio, qualquer um poderia cumprir o papel.
Com isso hoje temos democracia liberal, eleitoral e autocracias
Oitava Dinâmica, Praça João Alves, Venda Nova
eleitorais e fechada. A democracia não é uma condição natural, a
grande Vantagem da democracia é não ter guerra entre os países
democráticos. Evita guerra é um modulo não guerreiro de
resolver as coisas. Democracia e igualdade, não é igualdade
social e sim igualdade política, igualdade de participação.

32
O Autor Livro

Robert Alan Dahl é um cientista político americano que O livro "Sobre a Democracia" de Robert Dahl, é uma obra clássica
fez importantes contribuições para a teoria que apresenta uma análise aprofundada e crítica sobre a
democrática. Em sua obra, Dahl enfatizou a natureza da democracia.
importância da participação cidadã e da igualdade
política na democracia. Dahl argumenta que a democracia é um sistema político que se
Uma de suas contribuições mais conhecidas foi a baseia em cinco critérios fundamentais: a participação efetiva, a
definição de democracia como um sistema político no igualdade de voto, a compreensão informada, o controle da
qual os governantes são eleitos pelos governados. Ele agenda e a inclusão de adultos. Ele discute como esses critérios
argumentou que a democracia é essencial para se aplicam em diferentes contextos políticos e examina os
proteger os direitos individuais e para garantir que desafios que a democracia enfrenta em todo o mundo.
todas as pessoas tenham voz nas decisões políticas que
afetam suas vidas.
O autor também aborda as críticas comuns à democracia, como
Além disso, Dahl também desenvolveu a teoria da a corrupção, a desigualdade econômica e a tirania da maioria. Ele
poliarquia, que se refere a um tipo específico de explora as formas pelas quais a democracia pode ser aprimorada
democracia caracterizado pela participação igualitária e oferece sugestões para torná-la mais eficaz e justa.
dos cidadãos e pela possibilidade de troca pacífica do
poder. Livro muito importante para entender a natureza da democracia
e suas implicações para a política e a sociedade.

Robert Alan Dahl. 33


Capítulo 9

Nono encontro - Amar e


brincar - Praça Duque de
Caxias
Nono encontro - Amar e brincar - Praça Duque de Caxias

Em outubro, os participantes leram “Amar e Brincar -


fundamentos esquecidos do humano”, de Gerda Verden-Zoller e
Humberto Maturana. Nesse nono livro, chegamos a uma
desintoxicação de uma longa jornada. Os autores examinam com
detalhes as bases da condição humana que permeiam o afetivo e
o lúdico. Mostram como a cultura do patriarcado europeu (do
qual nós americanos, latinos ou não, somos herdeiros) levou-nos
a uma situação de autoritarismo, dominação, competição
Vídeo de Divulgação do Gabriel Azevedo
predatória, desrespeito à diversidade biológica e cultural, além de
profunda ignorância sobre o que são direitos humanos. Além de
reflexão, é um estalo ao notar que crianças são educadas de
forma que tem dificuldade de superar a alienação, a obediência
deslumbrada, a retórica vazia, sem auto-respeito que é
fundamento de respeito aos outros e respeito ao mundo. E quem
é educado assim tem profunda dificuldade de chegar de outra
forma na vida adulta. E adultos desse tipo geralmente não
configuram democratas. Gostam de obedecer. E a base da
democracia é não agir com obediência. A experiência é o maior
dos desafios.

35
O Autor Livro

Humberto Maturana graduou-se em Medicina Em essência, o livro aborda três grandes temas: a origem da
pela Universidade do Chile e em seguida estudou cultura patriarcal europeia, as relações entre mãe e filho e os
na Inglaterra e nos EUA, sendo Ph.D. em fundamentos da democracia a partir da noção de biologia do
Biologia (Harvard, 1958). Como biólogo, seu amor. Maturana e Verden-Zöller veem a democracia como uma
interesse se orienta para a compreensão do ser forma de convivência que só pode existir entre adultos que
vivo e do funcionamento do sistema nervoso, e tenham vivido na infância relações de total aceitação materna.
também para a extensão dessa compreensão ao Os autores examinam em detalhes os fundamentos da condição
âmbito social humano. É professor da humana que permeiam o afetivo e o lúdico. Mostram como a
Universidade do Chile. cultura do patriarcado europeu nos levou à atual situação de
autoritarismo, dominação, competição predatória, de
Gerda Verden-Zöller, psicóloga, membro do desrespeito à diversidade biológica e cultural e de profunda
Centro Bávaro de Pesquisa Educacional do ignorância do que são os direitos humanos.
Instituto Estatal para a Educação na Primeira Os autores são criadores da teoria Autopoiese que consiste na
Infância e fundadora do Instituto de Pesquisa de capacidade dos sistemas vivos de se auto-organizarem e se
Ecopsicologia da Primeira Infância de Passau, na manterem, é um termo matrístico que é totalmente diferente do
Bavária. matriarcal, no matrístico homem e mulheres vivem em uma
sociedade não hierárquica, a cultura matrística é diferente da
patriarcal européia, pois no patriarcado constitui uma rede
fechada de conversações, razões e emoções que valorizam a
luta, o poder, força e obediência, a matrística é totalmente
diferente, pois vivem em harmonia e não são divididos.

Humberto Maturana 36
Capítulo 10

Décimo encontro -
Democracia como um valor
universal - Praça Floriano
Peixoto
Décimo encontro - Democracia como um valor universal - Praça
Floriano Peixoto

Dessa vez não tivemos um livro e sim um artigo é “A democracia como


valor universal”, de Amartya Sen. Até esse mês, foram dez livros, foram
dez aulas e dez transmissões online e também realizará dez encontros
em praças de Belo Horizonte.

O artigo tem como origem uma palestrada dada pelo economista


indiano Amartya Sen, dada em conferência em Nova Déli, em fevereiro
de 1999, sobre a “Construção de um Movimento Mundial pela
Democracia”.
Última Dinâmica, Praça Floriano Peixoto
Gabriel Azevedo escreveu em sua rede social: Uma jornada está
chegando ao fim para outra começar. A dinâmica “democracia: livros e
praças” ocorre hoje na Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia,
em Belo Horizonte. Os participantes leram o artigo “a democracia como
valor universal”, de Amartya Sen. Foram dez meses e dez livros. Hoje,
duas pessoas, uma do gênero feminino e uma do gênero masculino,
serão sorteadas para uma viagem comigo e @augustodefranco por três
cidades que constituem uma rota democrática: Atenas (onde a
democracia surgiu), Londres (onde a democracia ressurgiu) e
Washington (onde a democracia floresceu). Os depoimentos dos
participantes são muito legais, sobre os efeitos dessa alfabetização
democrática em suas vidas. Não há democracia sem democratas.
Precisamos aumentá-los em Belo Horizonte, em Minas Gerais, no Brasil
e no mundo.
Vídeo Aula Gabriel Azevedo
38
O Autor Livro

Amartya Sen é um economista e filósofo indiano,


nascido em 1933, que se tornou conhecido por Amartya Sen foi questionado sobre a coisa mais importante que
suas contribuições para o desenvolvimento de aconteceu no século XX e ele escolheu a ascensão da
teorias econômicas e sociais voltadas para a democracia. Não se deve estar pronto para a democracia e sim
justiça e a igualdade. pronto por meio da democracia, como caminho. Democracia é
um valor universal pois em todos os lugares no mundo teve
Sen defende que a economia deve ser vista pessoas que aceitaram ela.
como uma ciência social que se preocupa com a
qualidade de vida das pessoas, e não apenas com Além disso o autor traz a teoria do bem estar social que busca
o crescimento econômico. Ele argumenta que a avaliar o bem-estar social em uma determinada sociedade. O
pobreza e a desigualdade são os maiores bem-estar social não pode ser medido apenas pelo crescimento
obstáculos para o desenvolvimento humano e econômico, mas deve incluir outros fatores que afetam a
que o objetivo da economia deve ser promover a qualidade de vida da população, como educação, saúde,
liberdade individual e a igualdade de segurança, meio ambiente e igualdade social.
oportunidades.

39
Amartya Sen
Capítulo 11

Viagem para Atenas e


Londres
Atenas
Participantes da dinâmica desembargaram em Dentre os lugares visitados, destacamos a Acrópole, Ágora e
Atenas, cidade extremamente importante para a Pnyx. A Acrópole é uma colina com vários monumentos
democracia, pois é amplamente considerada o berço antigos, incluindo o Partenon, o Erecteion e o Templo de
da democracia moderna. A cidade-estado grega de Atena. A Ágora era uma praça onde os cidadãos se reuniam
Atenas foi um dos primeiros lugares onde a para discutir questões políticas, sociais e culturais. E a Pnyx
democracia direta foi implementada na prática, no era uma colina onde eram realizadas as assembleias
século V a.C. Nesse sistema, todos os cidadãos populares , incluindo o julgamento de Socratés.
(homens livres e maiores de idade) podiam participar
diretamente das decisões políticas, em vez de delegar
essa autoridade a representantes eleitos.

Uma representação da antiga Atenas com seus


pontos mais importantes para a democracia.
1) Acrópole; 2) Ágora; 7) Pnyx.
Participantes da Dinâmica na Ágora
41
Londres

Os democratas da dinâmica desembarcaram em Londres, Depois de Oliver Cromwell, foi a vez do seu filho assumir
uma das cidades mais influentes no mundo e tratando da o poder até ser removido pelos ingleses que desejaram a
história da Democracia não é diferente. Em Londres houve o volta de um monarca. Não satisfeitos, exumaram Oliver
ressurgimento da democracia que ficou desaparecida por Cromwell, decapitaram o cadáver e expuseram os restos
mais de 2000 mil anos. mortais até sua decomposição. Depois veio a Revolução
Para contar o seu ressurgimento começamos com a figura Gloriosa e com isso a coroa passaria a ser limitada pelo
de Oliver Cromwell que liderou os parlamentares contra o “Bill of Rights” de 1689. A peça com forte influência de
rei. Com a decapitação do monarca, ele virou um ditador, ou John Locke, pensador liberal, é um marco da democracia
na expressão conferida, Lorde Protetor após a Guerra Civil ao retirar poder do monarca e distribui-lo para
Inglesa e a execução do rei Charles I em 1649. Começaria em parlamentares.
Londres o ressurgimento da democracia, porém demorou Em Londres, visitamos o Museu Britânico, Abadia de
mais de cem anos para estabelecer o processo. Westminter, Torre de Londres o Parlamento Britnânico e
o Gabinete de Guerra de winston churchill.

Participantes na Abadia de Westminter em Londres Democratas em Londres


42
Postagem de Gabriel Azevedo de 16 de janeiro de 2020 que resume a história da
Democracia e da nossa viagem pela sua história

É só com a escuridão que posso definir o período que se passou de 322 a.C. até 1689 d.C. num intervalo de
2.011 anos. Mais de dois milênios! Repetindo: mais de dois milênios. Do desaparecimento da democracia
até o seu ressurgimento vinte séculos se passaram. As pessoas acham que o que vivemos dura pra sempre.
Depende mais de nós do que podemos imaginar. Atenas insistiu na guerra contra os Espartanos no século
V a.C. até ser derrotada. Golpes. Retrocessos. Até que a invasão dos macedônios liderados por Felipe II
acabou com o regime democrático de vez em 322 a.C. abrindo alas para seu filho Alexandre, que era
grande, mas não era democrata. Depois foi a vez dos romanos. A República Romana nunca conheceu a
democracia. Era pura aristocracia e depois virou um Império. E ele ruiu. Seus dois principais fragmentos
foram capturados pela religião. Aliás, o mundo clássico foi destruído por religiosos fanáticos em nome de
uma pureza que gerou mortes sem fim. A civilização adentrou numa Idade das Trevas. Não havia
conhecimento. Havia ignorância. Havia medo. Todas as sociedades eram autocratas. E assim por muitos
séculos... No século XVII, um jovem judeu resolveu escrever a palavra “democracia” no seu tratado
teológico-político defendendo a ideia que o regime em que as pessoas fossem livres para pensar e livres
para expressar seu pensamento era o mais natural. Contrariou sua religião. Morreu excluído num
continente que estava em guerra por conta das religiosidades que queriam mais terra. Mais terra. Mais
terra. Em nome de Deus, é claro. Com apoio dos papas, é claro. Por conta desses custos bélicos, um rei
achou que deveria aumentar os impostos. Os parlamentares negaram. E ele dissolveu o parlamento.
Começaria em Londres o ressurgimento da democracia. Mais uma vez o palco era uma cidade. Mais uma
vez o motivo era distribuir o poder. Mais a vez democratizar significaria não autocratizar. Foi preciso quase
cem anos para estabelecer o processo. É como se deu isso que passaremos a ver em Londres. Repetindo: a
democracia não é algo que sempre existiu nem algo que existirá para sempre. Depende de todos nós. Pelo
menos daqueles que não querem ser escravos e nem súditos de ninguém.
43
Relatos Finais
Democracia Livros e Praças foi certamente uma das coisas mais
importante que participei em toda a minha vida, a dinâmica
possibilitou conhecer novas pessoas, conhecer novos lugares
em Belo Horizonte e no mundo e claro muito conhecimento
pelas 10 obras lidas e também pelos encontros virtuais e pelas
vídeos aulas. Desde o começo da dinâmica reuni e procurei
guardar o máximo de informação possível para que depois
pudesse deixar registrado de certa forma, infelizmente muita
coisa se perde nesse meio digital, mas mesmo assim pude
reunir e sintetizar neste e-book uma parte dessa dinâmica que Além do aprofundamento na
foi verdadeira aula em céu aberto nos domingos nas praças de história da construção da
Belo Horizonte. Tinha em mente em fazer um grande livro com
muitos relatos e mais diversas anotações, mas devido ao tempo democracia, a dinâmica possibilitou
e diversas coisas que aconteceu nesse tempo não foi possível, que os participantes ocupassem seu
mas torço para um dia poder concluir uma verdadeira obra
sobre a democracia nas praças de BH. Acredito que o maior lugar de fala no desenrolar do
conhecimento adquirido na dinâmica é praticar a democracia processo.
em todo e qualquer lugar, a democracia não como o final, mais Gabriel Azevedo

sim como o processo, vale lembrar que os índices da


democracia estão abaixando cada vez mais, cabe a nos brigar e
defendê-la, antes de entrar na dinâmica achava que conhecia
democracia, mas foi em 2019 que conheci o seu conceito, a sua
história e viver democraticamente. Então o objetivo desse e-
book é deixar registrado um pouco do que aconteceu com os
democratas que transformou em 2019 Belo Horizonte a capital
mundial da democracia.

44
Saiba Mais

Instruções da Postagem no
Dinâmica Instagram

Gabriel Azevedo em ordem Cronológica

45
Lucas Martins
Bibliotecário, acadêmico de direito, democrata, estudante de Democracia,
morador de Belo Horizonte, apaixonado por inovações e participante do
Democracia Livros e praças.

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