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CRÍTICA A VISÃO TEOLÓGICA CONTEXTUALIZADA NA ATUALIDADE

Rafael Amoreira da Paixão

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BRAGA - PORTUGAL
2022

É natural a busca por respostas a cerca de questões intrínsecas a natureza

humana, afinal é isso que nos torna diferentes de todo o resto da criação. Somos capazes

de racionalizar, desenvolver pensamentos crítico a cerca de tudo o que existe a nosso

redor. As percepções que possuímos a respeito do meio em que estamos inseridos são o

combustível para a busca da investigação.

Não poderia ser diferente em relação a nossa Espiritualidade, possuímos um

enorme desejo de compreender melhor o objeto de nossa devoção e fé. Filósofos pré-

Socráticos como Platão, já acreditavam na existência de um mundo perfeito, composto

por ideias eternas e um mundo sensível e material onde as coisas nele existentes

estariam em constante mudança e adaptação.

Na idade média, esse pensamento ganha uma nova extensão, expandindo para

uma divisão entre seres humanos finitos e uma Divindade infinita em todos os aspectos,

em síntese, a essência e a existência. René Descarte (1596 – 1650) apresenta ao mundo

a ideia de uma mente pensante e uma parte material que se estendia através dela.

A discussão sobre o dualismo se estende ao longo dos anos e não deixaria de

alcançar o âmbito religioso, onde é apresentada sob a forma de uma relação entre o

sagrado e o profano ou entre o secular e o religioso. A existência de dois princípios

antagônicos que lutam entre si constantemente é uma das bases fundamentais do

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pensamento Teológico e pode ser encontrada em diversas doutrinas, tal qual o

maniqueísmo, sendo nela imposta a figura de uma divindade criadora da alma (bem) e

outra divindade criadora do mundo físico (mal). Santo Agostinho foi adepto a esta

proposta até sua conversão ao cristianismo tendo a partir de então a criticado.

Vemos que como defendido por Kant, a construção do conhecimento passa

necessariamente pela experiência. Alicerçado neste contexto é possível concluir que a

construção teológica passa pela inteligência crítica e a capacidade de cada pessoa

interessada em construir sua interpretação e desenvolver suas teorias a respeito do seu

objeto de estudo e interesse. Tendo por exemplo o mal como o objeto de estudo, é

natural o surgimento de interpretações e teorias que venham proporcionar resposta e

solução as situações insolvíveis relacionadas a este objeto, que venham a afligir o

sujeito teólogo.

Porém, não se pode perder de vista o caráter do objeto, sua natureza e o seu

fundamento. No caso do cristianismo, não é possível ignorar o que foi ensinado por

Jesus Cristo. Assim como no caso do Judaísmo, não há como desconsiderar as leis

enviadas por Deus a Moises. Podemos concluir que o imaginário social cria justificativa

para qualquer ideologia que for de seu interesse, mas tal fato não serve como

sustentação na mudança de padrões morais comprovados como eficientes e consagrados

pelo tempo e pela própria sociedade. Em outras palavras, querer que a fantasia por si só

descontrua o fato é pouco lógico ou talvez irracional. A consciência critica é

fundamental para a construção de uma teologia saudável. Libanio, em sua obra

apresenta exemplos que materializam a crítica a respeito do tema.

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A pessoa que nasce no Ocidente europeu se pensa a si mesma e se

julga superior. Ao sintetizar em três palavras, “penso, logo existo”,

Descartes revelou a força do pensamento europeu que sintetizou cinco

grandes correntes. Da Grécia, herdou a razão; dos judeus, a palavra; dos

romanos, o direito; do cristianismo, a encarnação da transcendência na

imanência; e dos germanos, o positivismo prático, o realismo “coisal”

(Gerken, 1973, pp. 100ss).

Libanio, J. B.. Introdução à Teologia Fundamental (Introduções) (p. 12).

Paulus Editora. Edição do Kindle.

Pode parecer que estou a defender um singularismo teológico, mas a ideia é

completamente oposta. Defendo que o divino se revela de forma plural e

individualizada, porém sua natureza é sempre a mesma, imutável e jamais se contradiz.

O Divino se revela de forma individual ao sujeito que busca a experiencia com Ele,

construindo conhecimento teológico na profundidade que for esta experiência imersiva.

Porem é inegável que sempre mantendo sua característica essencial. O cristianismo,

inicialmente, pode parecer antagônico a ideia de pluralidade, pois o mesmo se apresenta

como a única verdade. Mas ao contrario do que aparenta, sua essencia, que é o

evangelho, é totalmente voltada para o diálogo. O próprio Cristo apresenta sua doutrina

através do diálogo relacional, não fazendo distinção de pessoas, afinal, veio para Judeus

e Gentios. Em Seu discurso aos apóstolos no evangelho de João, capitulo 14, versículos

6 ao 10, Ele se apresenta como o caminho, a verdade e a vida aos que venham a crer

Nele. Em momento algum obrigou ninguém a acreditar Nele. Sua doutrina aponta ao

convencimento, não a imposição, e que o convencimento nos dias que seguiram após a

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sua ascensão será obra do Espirito Santo, como relatado no mesmo evangelho de João

no capitulo 16 no verso 13. Por que deveria ser diferente nas organizações cristãs e ou

no meio cristão? O que se observa neste meio é uma tentativa de usurpar do Espirito o

poder de convencer. Como observado e defendido por Claude Geffré, o dialogo inter-

religioso é uma prática exercida desde os primórdios da fé judaico-cristã, em seus

alicerces. Abrão reconhece o sacerdócio de Melquisedeque pagando o dízimo a ele e

Melquisedeque reconhece a Abrão o abençoando. Ambos estabelecem dialogo focado

na singularidade do Deus Altíssimo e não em suas diferenças culturais e religiosas.

Os três critérios básicos apontados por Geffré para o estabelecimento de um

dialogo inter-religioso, apesar das características universalistas do cristianismo, são

realmente de grande relevância para a teologia cristã na atualidade. É inegável que a

sociedade atual tem acesso a informação como nunca vimos anteriormente na história

da civilização. Tudo ocorre muito rapidamente, inclusive a construção de “verdades

absolutas”. Mas é neste ponto que pode estar o foco do problema de evasão da fé que o

cristianismo vem sofrendo. Esse paradoxo precisa ser ultrapassado. O respeitar outras

visões que não seja a sua, ser fiel a si mesmo e a sua própria identidade e conseguir

identificar a igualdade entre parceiros, pode ser o primeiro passo para alcançar o

sucesso nesta difícil jornada. Devemos lembrar do exemplo dado por Cristo enquanto

encarnado, onde apresenta uma interpretação da lei completamente diferente da que os

mestres e sacerdotes ensinavam e pregavam ao povo. Uma hermenêutica

contextualizada com a época e os costumes presentes em seu meio. Jesus usava as

tradições para apresentar ao ouvinte a sua verdade. Ele se inseriu em uma relação

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profunda com a humanidade, abandonando sua condição divina, se encarnando e através

das relações humanas estabelecidas e seu caminhar em justiça, retidão e caridade,

arrastava multidões a acreditar em Sua sã doutrina.

Existe uma linha muito tênue neste pensamento que margeia o interesse e o

inconsciente de alguns cristãos na atualidade. Linha esta que abre brechas para

propostas teológicas cristãs que apresentam solução para problemas sociais, políticos e

econômicos, deixando aparte a fé, o sagrado e o divino. A teologia da Libertação, ao

meu ver, é um exemplo prático disso, me lembra os Judeus da época de cristo, que

aguardavam um rei que os liderasse e os libertassem da dominação do império romano.

Não é defender uma Teologia alheia aos problemas e mudanças no mundo, mas

que ela caminhe atenta e sensível as transformações dele, servindo de instrumento

crítico da sociedade e ocupando o papel de interlocutora entre a Igreja, no sentido amplo

da palavra, e a humanidade. Atuando ativamente, oferecendo respostas e soluções

focadas no objeto e no alvo da fé, respeitando sempre sua identidade e criando

caminhos que tenham como objetivo a capitação, capacitação e a manutenção de fies,

oferecendo a estes uma doutrina clara, universal em seus princípios e mensagem e não

na sua consciência.

A proposta de Jesus é de constituir aqui na terra o seu reino espiritual, onde há

vaga para todos, mas nem todos são alcançados. Ele diz “ide e pregai o evangelho a toda

criatura” não diz “Ide e pregai o evangelho a toda criatura que eles irão aceita-lo e

segui-lo”. Para fazer parte deste reino estabelecido por Ele, com padrões morais, éticos

e comportamentais, homem e mulheres precisam acreditar que Ele existe, encontrar

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razoabilidade e racionalidade espiritual no plano elaborado pelo Divino. O dinheiro, a

politica, a esquerda ou direita, o comunismo ou capitalismo, o melhor ou pior, não

fazem parte desta proposta. Afinal de contas, em uma monarquia de amor, o Rei sempre

cuidará do seu povo com justiça, benevolência, caridade, bastando ao povo o

conhecimento e a obediência a suas regras.

A Teologia, precisa necessariamente ser vista em todos os seus níveis, seja

acadêmico, pastoral ou popular, como uma interprete e tradutora, não como uma juíza

ou ditadora, precisa estar fundamentada na fé no objeto de estudo. Não deve jamais

ignorar o seu contexto de emprego, pois é ele quem conduzirá o teólogo a melhor

hermenêutica e exegese da sã doutrina testamentária, proporcionando assim, ao que

busca, uma plena experiência com o que é divino e com o sagrado e suas dimensões.

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