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Políticas Públicas na

Educação Básica

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Bem vindo(a)!

Caro(a) aluno(a),

Seja bem-vindo(a) à disciplina de Políticas Públicas da Educação Básica.

O objetivo geral desta disciplina é contribuir para sua formação acadêmica, por
meio do debate e conhecimento das políticas públicas de educação existentes e em
vigor no país.

É de suma importância que você seja capaz de tirar as vendas que cobrem seus
olhos quando o assunto é política. Ela é tão fundamental para nossa sociedade que
até parece uma brincadeira (de muito mal gosto) que as pessoas acreditem que não
seja necessário compreendê-la.

No nosso caso, vamos nos debruçar sobre as políticas públicas de educação, de


maneira geral, e, especi camente, sobre a educação básica. Para isso, devemos estar
abertos a novos saberes e conhecimentos.

Como estamos em constante construção, espero contribuir para o seu


aperfeiçoamento como cidadão(ã) e também como professor(a) ou futuro(a)
pro ssional da educação. Assim sendo, o que pretendo revelar a você é que a
política faz parte do nosso cotidiano e, por isso, precisa ser interpelada e
questionada a todo mundo.

Dessa maneira, seu material didático está dividido da seguinte forma:

Na Unidade I vamos conversar um pouco sobre conceitos e concepção do que é


política. Perpassando pela história losó ca e social de toda a construção conceitual.
Veremos ainda que a política demanda uma teoria especí ca e seu estudo é
realizado por uma ciência, chamada de Ciência Política. Esse recorte teórico nos
auxiliará a re etir sobre as noções de poder e dominação.

Dando sequência às nossas discussões adentraremos na Unidade II, que continuará


re etindo sobre a questão tão política, porém, agora, de maneira mais especí ca,
apresentando o conceito de políticas públicas de educação e os seus
desdobramentos na legislação nacional. Re etiremos, mesmo que de maneira
sucinta, sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, assim como das
especi cações sobre educação existentes na Constituição Federal de 1988. Porém,
até chegarmos a essas resoluções mais recentes, vamos fazer um breve apanhado
histórico sobre as leis e decretos de políticas públicas em nosso país, a partir da
década de 1930.

Já na Unidade III iremos debater sobre as questões de nanciamentos da educação


brasileira e o peso das organizações e agências internacionais sobre esse processo.
Por m, na Unidade IV vamos re etir sobre as políticas públicas de educação
relacionadas à formação e à valorização docente da educação básica. Para nos
aproximarmos ainda mais das discussões realizadas recentemente vamos tomar por
base o Plano Nacional de Educação (PNE) e a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC).

Diante dessa primeira exposição, espero que você possa compreender que estudar
política é uma necessidade e que compreendê-la faz parte da formação não só de
um(a) professor(a) crítico(a) e engajado(a), mas de um(a) cidadão(ã) que conhece e
defende a “coisa pública”.

Sumário
Essa disciplina é composta por 4 unidades, antes de prosseguir é necessário que
você leia a apresentação e assista ao vídeo de boas vindas. Ao termino da quarta da
unidade, assista ao vídeo de considerações nais.

Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3 Unidade 4


Política: Políticas Financiamento Pro ssionais da
concepções e Públicas: da educação educação
princípios aspectos legais brasileira básica
da educação
básica no Brasil
Unidade 1
Política: Concepções e
Princípios

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Introdução
Você já deve ter ouvido e até mesmo falado nas rodas de amigos ou familiares que:
“Política é algo que não se discute”. Será que essa a rmativa é mesmo verdadeira?

Nessa unidade vamos re etir sobre a importância de entender o que é política, sua
relação com o Estado, poder e dominação. A partir do olhar advindo da área
responsável por seus inúmeros estudos, chamada de Ciências Políticas.

O importante nessa nossa caminhada por essa temática é estarmos abertos para
novas descobertas, transformação de pensamento e, principalmente, a inquietação
para questionar.

Tudo isso é imprescindível para que você possa compreender a política baseada em
análises críticas, teóricas e cientí cas e não se manter apenas no achismo.

Quando estamos re etindo sobre questões políticas, nos voltamos para o


entendimento da sociedade, suas necessidades e dilemas. Só assim, é possível lutar
para que haja modi cações para a realidade de muitos grupos sociais.

Por isso a política deve ser debatida SIM! Não baseada apenas no gosto de cada um
por partido ou candidato, mas baseado em todo o processo político, propostas e
ações que possam modi car a realidade.

Convido você a entender política por uma outra ótica. Pelo olhar do cidadão, que,
consciente do seu lugar, pode sugerir e opinar em sua própria sociedade.

Bons estudos!
A nal, o que é Política?

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Você já parou para pensar na importância de se compreender o que é política? Já se
perguntou por que ela é tão necessária para a nossa sociedade? Já quis ser um
político? Ou, mediante a realidade, tem um certo desânimo em falar qualquer coisa
que se relacione à política?

São questões que muitas vezes estão no nosso dia a dia, porém não somos capazes
de aprofundar nossas inquietações e passamos a viver em uma realidade que não
entendemos, mas também não sabemos como modi car.

Estudar Política é necessário, pois nos ajuda a entender que somos parte de uma
sociedade, re etidos e re exos da vivência social que possuímos, começando em um
primeiro processo de socialização que ocorre, inicialmente, na família e depois nos
encaminha para o segundo processo que será efetivado nas instituições sociais,
como: Estado, Igreja e Escola.

Todos esses espaços sociais tendem a nos revelar características particulares, repleto
de regras e de ações que serão direcionadas como direitos e deveres. Por essa razão,
é que a política é fundamental para a dinâmica social.

Segundo Ribeiro (2010), o termo política tem como princípio o exercício de


diferentes formas de poder e suas inúmeras consequências. Entretanto, esse poder
muitas vezes não é tão visível, mas está ali inserido pelas ações e atitudes dos
indivíduos.

Até as discussões realizadas por Michael Foucault (2014) sobre a ideia de microfísicas
do poder, considerava-se que ao falarmos de poder estávamos nos referindo apenas
à questão política, porém veremos mais adiante, que o poder é exercido de maneira
variada pelos indivíduos sobre o outro.

A complexidade do poder é que nos faz compreender a ação da política. Pois, a


política está interligada com o poder, este tem por objetivo modi car o
comportamento das pessoas por meio de atos políticos, baseado em decisões e nos
interesses próprios de um grupo ou sujeito social.
Assim, ao pensarmos em política,
percebemos o quando ela é imposta
pelos interesses pessoais ou sociais,
que são transformados em objetivos,
que se tornam decisões importantes
para todos.

Será que você já compreendeu que


toda e qualquer disputa política é
permeada por variados interesses?
Talvez, quando nos damos conta
disso, somos capazes de entender o
que move os políticos e suas ações.
Todas as vezes que vemos uma
campanha eleitoral ou o discurso de
um político, precisamos entender
como ele poderá nos ajudar em
nossos interesses pessoais, se ele
não for capaz de suprir nossas
vontades pessoais ou de grupos, não
será digno de votos.

@Vladdeep em Envato

Não se engane, a política é um jogo de interesse em que os envolvidos precisam


saber jogar para se tornarem aptos a não serem iludidos por quem diz fazer o que as
pessoas desejam, mas acaba não fazendo nada.

Por exemplo, te convido a pensar em quais pessoas você votou nas últimas eleições.
Quais delas podem satisfazer seus interesses? Quando você foi à urna, você pensou
que estava votando em alguém que poderia entender suas necessidades? Se a sua
resposta foi negativa para essas questões, talvez, e infelizmente, você não consiga
entender como alinhar seus interesses com o do seu candidato pode ser, de fato, o
que leva à uma mudança social.

Para quem faz parte da educação, outro exemplo: é necessário estar atento(a) aos
planos de educação ou projeto que os candidatos apresentam, só assim é possível
modi car algo. Quando votamos apenas por “gostamos” do candidato, muitas vezes
esquecemos o que ele poderá fazer por nós.

Por isso muitas vezes nos sentimos enganados. A partir do momento em que temos
consciência da realidade e do que necessitamos, é que nos tornamos seres
pensantes socialmente e podemos atuar como cidadãos conscientes. Assim, o ato
político de votar transforma-se numa ação determinante para manter ou modi car
a sociedade.
Além disso, Ribeiro (2010) acredita que política está muito relacionado a quem
manda, por que manda e como manda, pois mandar não é nada mais, nada menos
do que decidir e isso requer apoio, anuência e, muitas vezes, submissão do outro. O
que não é um processo nada fácil ou simples de ser feito.

A Política, então, pode ser vista como a arte da razão, ou a arte da negociação, ou
apenas a arte de governar. Assim, quem a pratica deve ter um “dom” especial para
governar, uma espécie de vocação para compreender o outro e alinhar todos os
interesses daquele que a rege com aqueles que possibilitam a tomada de poder.

Nesse sentido, veremos mais adiante que ela é uma ciência, pois quando decidimos
entender os processos que a desenvolvem e a constroem, vamos entendê-la de
maneira sistematizada, losó ca e social.

Mas, antes disso, devemos a rmar que política também é uma forma de pro ssão.
Os cargos políticos hoje são almejados por conta de sua rentabilidade. Em nosso
país, podemos dizer que eles se tornaram “cabides de empregos”, o que nos revela
que deixaram de ter um valor de fato, para transformar a realidade em nome de um
bem comum a todos. Passaram a ser apenas uma pro ssão que se dedica a
in uenciar a coletividade em razão de seus interesses próprios e não da
comunidade.

É importante frisar que mesmo repetindo sempre que detesta política, a todo
momento a fazemos de alguma forma. Em constantes tomadas de decisões do dia a
dia estamos fazendo política, porque tudo se resume a conquistar os nossos
interesses em detrimento da aceitação e submissão do outro.

Assim, quando você diz que odeia


política, na verdade, você não se
transforma em um ser “apolítico”,
mas sim indiferente em relação a
sua realidade e sociedade .
Ignorando tantas coisas que
precisam ser realizadas para que a
sua própria realidade venha a ser
modi cada. A forma como as
decisões são tomadas nos apresenta
o que elas carregam, ou seja, qual o
maior interesse ali envolvido, assim,
a apatia ou uma “atitude blasé”, não
nos parece a melhor saída para as
questões políticas (RIBEIRO, 2010).

@drobotdean em Freepik
O fazer político nos permite viver em sociedade, determinando as regras e como as
ações devem ser direcionadas. O ser político deve ser aquele que compreende a
ideia de coletivo, sociedade, da vivência nas cidades ou pólis – como eram chamadas
na Grécia Antiga –, podendo viver em comunidade sem extrapolar o espaço do
outro.

Ideais como fraternidade, liberdade e igualdade, utilizados durante a revolução


francesa, nos mostram o quanto é importante lutar por uma sociedade mais
igualitária, capaz de respeitar a diversidade e a convivência entre todos.

Porém, é claro que diante de sociedades desiguais, essas ações parecem utópicas e
só acentuam ainda mais a diferença entre aqueles que mandam e os que
obedecem. Por isso o fazer político não pode se distanciar da realidade, pois,
querendo ou não, ele entra em todas as nossas relações, determinando a forma
como agimos no mundo.

O processo político deve estar atento a todas as formas de variáveis sociais, senão
corremos o risco de realizar apenas o interesse de algumas pessoas. Por exemplo,
quando pensamos em educação, alguns sujeitos sociais acreditam que ela pode ser
entendida por meio do mérito, nada mais, nada menos. Quando pensamos nas
aprovações em exames de vestibulares, podemos observar quão discrepante é a
realidade do aluno que teve melhores condições de estudos em relação àquele
vindo de uma periferia. Há quem diga que não existem diferenças cognitivas, e
realmente muitas vezes não há mesmo, porém a realidade em que vivem faz toda a
diferença. Te explico o porquê: não é apenas a vontade de estudar que conta para o
sucesso de alguém, mas também entender a sua realidade, como as oportunidades
de estudos podem ser ofertadas e, principalmente, qual a sua condição nanceira.

Por isso, após a divulgação de resultados de processos seletivos, vemos que o lho
da empregada, do pedreiro, da dona de casa festeja a sua aprovação como se algo
impossível de acontecer. É porque ele conseguiu alcançar uma meta que, muitas
vezes, era descartada por conta da sua questão social. Esse esforço todo não pode
ser visto como mérito, mas como uma exceção, que, infelizmente, não é para todos.

Mas como isso tudo tem a ver com o processo político? Ora, se o governo não é
capaz de dar condições educacionais que não diferenciem as pessoas, ele é culpado
pelo fato de que a universidade pública é ocupada por alunos oriundos de escolas
particulares, enquanto as faculdades privadas, estão repletas de pessoas vindas das
classes mais baixas.

Você pode estar pensando, mas no nal todo mundo está na sala de aula... E eu
posso te a rmar, mediante a um processo injusto e inexistente de decisões
coerentes para uma educação para todos, a forma como esses alunos adentram a
universidade é completamente diferente. Volto a repetir, não é uma questão de
cognição, mas de como o próprio Estado, por meio de seus processos políticos, tem
prometido uma educação laica, gratuita e de qualidade para todos.
Será que esse exemplo cou confuso? Talvez você esteja se perguntando o que a
política pode fazer pelas pessoas, se ela é marcada por tanta corrupção e ações
desonestas. Pois bem, quando entendemos que somos nós que fazemos política,
ca mais claro pensar que, ao escolher um candidato, estou escolhendo também a
forma como ele pode interferir na maneira em que vejo, compreendo e entendo o
mundo e isso pode ser manipulado, conforme ele perceba o meu processo de
conscientização da realidade.

a Política não se ocupa de todos os processos de formulação e tomada


de decisões, mas somente daqueles que afetem, de alguma forma, a
coletividade. A maior parte desses processos, como se pode imaginar, é
extremamente complicada. [...] A Política não é, pois, apenas uma coisa
que envolve discursos políticos, promessas, eleições e, como se diz
frequentemente, “muita sujeira”. Não é uma coisa distinta de nós. É a
condução de nossa própria existência coletiva, com re exos imediatos
sobre nossa existência individual, nossa prosperidade ou pobreza,
nossa educação ou falta de educação, nossa felicidade ou infelicidade
(RIBEIRO, 2010, p. 25-26).

Dessa maneira, odiar política e não querer compreendê-la pode ser um ato que não
tende a prejudicar o outro, mas a você mesmo e o fato de viver em coletividade. A
Política precisa ser debatida e re etida a todo momento para que as tomadas de
decisões possam ser realizadas de maneira coerente e consciente.
Ciências Políticas

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Segundo Bonavides (2000, p. 42): “A Ciência Política, em sentido lato, tem por objeto
o estudo dos acontecimentos, das instituições e das idéias políticas, tanto em
sentido teórico (doutrina) como em sentido prático (arte), referido ao passado, ao
presente e às possibilidades futuras”.  É uma ciência que tem como propósito pensar
os processos políticos e de como podem afetar a sociedade.

A Ciências Políticas tem como objetivo conhecer e re etir sobre as instituições, dos
fatos e de tudo que tem a ver com as práticas políticas que competem questões
losó cas, jurídicas e sociais.

No caso da Filoso a, os estudos realizados dão ênfases a investigar a origem,


essências, justi cação e os ns do Estado, que possibilitem compreender a gestão e
atuação do Poder. Esse que vai permear toda a discussão em relação a formação do
Estado.      

Já diante de um olhar sociológico, a ideia de Ciências Política é a que permeia toda


essa unidade. Para a Sociologia, a compreensão da política se dá através do Estado
baseado no fenômeno político, tendo em Max Weber seu maior expoente que
introduz discussões que vão desde a racionalização do poder, aparato burocrático
administrativo, compreende o tipo de autoridades que estão presente no quadro de
poder, questiona a administração pública e como in uencia os interesses
transformados em atos legislativos.

Weber, ao pensar no Estado, divide a sua percepção por meio do aparato


administrativo e da violência legítima. Segundo ele, todo ser administrativo perpassa
por uma burocratização e racionalização de suas ações, enquanto a violência
legítima se revela pelas ações policiais inquestionáveis a favor do Estado. Como isso
seria possível?

Podemos citar alguns exemplos de quando a ação violenta policial se tornou uma
violência legitimada pelo Estado.

Exemplo 1: a ação dos policiais, em 2016, diante de um protesto de professores no


Estado do Paraná. Diante de uma manifestação contrária aos desmandos do Estado
sobre a previdência de seus servidores, muitos professores se reuniram na cidade de
Curitiba para protestar; autorizados pelo Estado, policiais atacaram os professores
com balas de borrachas, gás lacrimogêneo, agressões com cassetetes e até armas
de fogo. Professores caram feridos e a ação foi considerada abusiva e desastrosa.
Porém, até 2020, ninguém foi preso pela ação. Em alguns casos, policiais foram
inocentados em nome do Estado.

Exemplo 2: cidade do Rio de Janeiro, 2019, em uma ação desastrosa a polícia militar
atira 82 vezes em um carro branco que conduzia uma família para uma festa, em
um domingo à tarde. Até o momento ninguém foi preso ou acusado da morte do
motorista e morador da região que não tinha nenhum problema com a polícia.
É dessa maneira que a violência do Estado é tida como legítima. Em todos os casos
esses policiais estavam a serviço dele e, em seu dever, pode valer tudo, mesmo vidas
inocentes.

As Ciências Políticas, entendidas pela ótica sociológica, foram referenciadas por


diferentes autores, cada um acrescentou um pouco mais de riqueza a essa
discussão. Autores que compreenderam o quanto a própria história das mudanças
políticas revela que tipo de análise pode ser feita.

Cada tempo, época, período e contexto tende a demandar uma atenção singular
sobre as questões relacionadas aos processos políticos. Nesses estudos revela-se a
ideia de um estado cada vez mais dividido por classes sociais e que acentuam as
injustiças, segregações sociais e espaciais. Além disso, a análise sobre os partidos
políticos e seus interesses vão evidenciar a importância de cada voto almejado nas
eleições.

Os estudos ainda irão chamar atenção para os movimentos sociais e sua e cácia
dentro do Estado. Movimentos que vão promover mudanças ou conservar a visão do
Estado para inúmeras questões sociais.

Chegamos aos estudos ligados às mudanças sociais, que apontam à busca de uma
sociedade mais igualitária e utópica. Perpassam pela própria história da constituição
do Estado, que pode ser absolutista, liberal, nacional, neoliberal, de bem-estar social,
democrático, totalitário ou ditatorial.

O propósito do estudo das Ciências Políticas é mostrar as facetas do Estado e como


a sua construção pode ser compreendida mediante aos processos escolhidos.

Ao entender os processos do Estado, podemos compreender como os seus


interesses estão ali expostos. Por exemplo, a questão da arte ou da cultura no Brasil
passa, na atualidade, por um desgastante reconhecimento de sua importância. Mas,
a nal, para que serve a arte?

Em alguns momentos da história, a arte foi usada como um recurso revolucionário,


conscientizador, em outros como manipulador e a favor de um Estado muitas vezes
autoritário. Pois bem, compreendendo as políticas de Estado é possível entender
quais os interesses de seus governantes.
As Ciências Políticas também
podem ser entendidas pelo viés
jurídico. É a compreensão do Direito
Constitucional, a própria formação
das normas e regras do Estado,
nascendo, assim, uma Teoria Geral
do Estado.

Para Montenegro (1959, p. 208), “O


papel da ciência política, portanto,
será o de fornecer elementos de
conhecimento do mundo real em
ação ampla que supera o simples
atavismo ou mera militância” .

@twenty20photos em Envato

Assim, a Ciências Política existe por meio da descrição, interpretação, crítica aos
fenômenos que correspondem às práticas do Estado. Tudo muito especí co.
Estudar política por essa perspectiva é entendê-la como um campo único.

Um cientista político será muito diferente de um cientista natural, ele tem por
“missão” a crítica e re exão de um objeto mutável o tempo todo. Suas
interpretações sobre as questões do Estado são pontuais ao momento observado.
Assim, não é uma ciência capaz de determinar o futuro, mas pode sim pensá-lo. Por
essa razão, em diferentes períodos históricos foi questionada sua necessidade e/ou
autoridade.

Entretanto, o fato de ter como objeto os processos políticos baseados na ideia do


poder e interesse do Estado, permite com que a política seja vista como um objeto a
ser investigado, que demanda seu próprio método. Importante na Ciência política
não é rea rmar perspectivas históricas, psicológicas de seus envolvidos, mas sim
re etir sobre o Estado como um todo, em seus processos que tendem a afetar o
coletivo.

Assim, ao tentarem aproximar sua discussão de uma Sociologia Política, pode-se


perceber que essa seria apenas uma rami cação dos próprios originários da
Ciências Política, assim os objetivos de ambas as abordagens são bem semelhantes
sobre a ênfase do que interessa ao debate dessa ciência:
a) o poder político, o comportamento político (indivíduos e grupos), as
manifestações de autoridade (carismática, tradicional e legal, segundo
Max Weber), a legalidade e legitimidade do poder político;

b) os fatores materiais do poder político: o território e a população;

c) as origens sociais do Estado e sua penosa evolução, consagrando


institutos que se desdobram historicamente, da escravidão à liberdade,
do Estado de conquista ao Estado de cidadania livre (Oppenheimer);

d) a política cientí ca, volvida basicamente para a racionalização do


poder (a função política, econômica e social das burocracias no Estado
moderno), a tecnocracia;

e) os grupos de pressão de todo o gênero, lícitos e ilícitos, que atuam à


sombra dos parlamentos e dos ministérios, e in uem nos atos
legislativos e medidas do poder executivo;

f) a luta de classes e seus efeitos políticos, as tensões sociais, os


antagonismos políticos de toda espécie;

g) a crise dos sistemas de governo, os regimes políticos, as ideologias, as


utopias, a liberdade e a autoridade e

h) o inconformismo social, as reformas, as revoluções e os golpes de


Estado (BONAVIDES, 2000, p. 61).

Mediante esses tópicos, podemos entender que tudo que envolve o processo de
formação, expansão e consolidação do Estado faz parte do entendimento da política
e de sua ação mediante as decisões tomadas com o propósito do benefício do
coletivo.
Poder e estado

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
No que compete aos estudos da Ciências Políticas, sem dúvida que o conceito de
Poder é um dos mais pesquisados e de maior interesse, tanto para cientistas
políticos como sociólogos. Em sua de nição mais corrente, ele pode ser de nido
como um fator externo, que pode ser exercido por uma pessoa ou um grupo de
pessoas, ainda de caráter institucional, pessoal e também simbólico.

Anteriormente, comentei que o poder pode estar em diferentes estantes, como é o


caso das relações entre pais e lhos, professores e alunos, che as e funcionários,
nesse sentido seu signi cado se “encaixa” na perspectiva Foucaultiana de
microfísica do poder.

Você deve estar pensando: “então existe poder em todos os lugares e relações?”.
Basicamente, sim. Tudo que fazemos está permeado por alguma relação de poder, a
ideia de quem manda e quem obedece permanece forte, mesmo que “invisível”.

Sociologicamente falando, o poder existe em todas as relações sociais, se


manifestando tanto na esfera pública quanto privada.

Em relação aos estudos da Ciências Políticas, o poder é visto como aquele que
constitui todo tipo de governo e que necessita ser controlado para que não possa se
tornar autoritário. Um bom governo precisa estar ciente de sua relação entre
diferentes grupos de interesses e preservar a autonomia de cada um deles, que
impeça que alguns indivíduos sejam prejudicados. Assim, busca-se promover o bem
comum, em que o poder seria baseado em uma justiça equilibrada.

O fato é que quando nos atrevemos a falar sobre poder, não podemos deixar de citar
o pai da Filoso a Política moderna, Nicolau Maquiavel, que escreveu uma obra
clássica, chamada O Príncipe, que pode ser entendido como uma espécie de
manual que busca instruir o príncipe não apenas a conquistar o poder, mas
também de promover sua manutenção, compreendendo os meios necessários para
se atingir aquilo que é necessário para si.

Além de ser uma obra que pode ser entendida como um manual para o governante,
o livro também serve para ser interpretado pelo povo contra os possíveis abusos de
poder daqueles que os governam.

A abordagem proposta por Maquiavel estava baseada na noção de VIRTÚ, não numa
virtude de origem moral, mas sim de poderes e funções que envolviam o domínio
políticos. Poderia ser entendido também como o sucesso de um Estado que deveria
ser admirado e imitado pelos demais governantes. Nesse sentido, tudo que fosse
necessário para a manutenção desse bem-estar deveria ser realizado em nome do
Estado, os meios utilizados deveriam justi car as ações desse monarca.

Em uma das partes mais signi cativas de O Príncipe, Maquiavel “aconselha” que
esse precisa ter uma relação de equilíbrio com o seu povo. Precisa ser tanto amado
quanto temido, e se não conseguir autocontrole, é preferível que seu povo tenha
medo de suas ações, pois, segundo Maquiavel, ser temido é muito mais garantido
do que amado, pois o amor pode ser traiçoeiro. Por isso, quando necessário, a
violência deveria ser aplicada para demonstrar o poderio do governante.

Além da virtú, que seria a capacidade de se conduzir um governo, para Maquiavel, o


príncipe também deveria ter FORTUNA, para saber lidar com as mais variáveis
circunstâncias que desa am a estabilidade do político, uma relação estreita e muito
pontual com o acaso, o azar e a sorte.

Dessa maneira, aquele que possui a virtú consegue controlar os imprevistos da


fortuna e isso o faz ser um governante completo e atento para todas as suas funções
dentro do seu reinado que, quanto mais vitorioso e próspero, se expande para novas
conquistas.

Ao longo da história, após os escritos iniciais de Maquiavel, a questão de pensar o


poder por meio da política foi se tornando relevante para outros autores, que vão dar
origem à formação do Estado Moderno, que cada vez mais irá se distanciar da gura
de um rei ou monarca absoluto e ver surgir novas formas de organização.

Destacam-se, a partir dos séculos XVI - XVII, os chamados contratualistas,


representados por Thomas Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau e Charles-
Louis Montesquieu, cada um deles irá pensar a ideia de Estado e política em suas
particularidades. Vejamos, de maneira sucinta, pontos importantes de suas teorias:

Thomas Hobbes - (1588-1679): para esse autor, os homens são guiados pelo
sentimento egoísta que se revela em seu estado de natureza, assim a rma
que: “O homem é o lobo do próprio homem”. Para solucionar uma possível
constância de estado de guerra, ele sugere que para viverem em harmonia, os
homens deveriam renunciar ao seu estado de natureza, para sua
autopreservação. Deveriam preservar o estado de paz, mantido por um Estado
poderoso, acima de tudo e de todos.
John Locke - (1632-1704): conhecido como o “pai” do liberalismo político,
acredita que o Estado deve ser pensado preservando o conjunto de
individualidade de cada um, assim como a propriedade privada. Por isso,
defende um governo com limites, visto como um agente mediador e
regulador.
Jean-Jacques Rousseau - (1712-1778): sua teoria se baseia na ideia de um
contrato social, em que a rma que o ser humano seria um “bom selvagem”,
entretanto, a sociedade política seria responsável por corrompê-lo. Por isso,
deveria ser construída uma sociedade por meio de contrato, ou seja, o
consenso entre as partes envolvidas, uma associação justa.
Charles-Louis Montesquieu - (1689-1755): pensando em uma sociedade civil
organizada, era necessário re etir sobre a distribuição dos poderes. Se já não
existe mais um monarca que toma conta de tudo, se fez fundamental o
surgimento, proposto, por esse pensador de uma teoria dos três poderes. Essa
separação fez surgir o Estado moderno liberal, pensado por meio dos poderes
básicos: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Existentes até hoje, cada um
deve ser preservado em sua particularidade e autonomia. Porém, como
percebemos essa divisão, infelizmente, não tem garantido que seja exercido
com bom funcionamento e sem corrupção.

En m, quando pensamos no poder precisamos também analisar como, em


contextos diferentes, ele vai se a rmando de maneiras diversas. A constituição dos
primeiros pensadores sobre o conceito e sua ação prática nos permite ver o quanto
a ideia de poder ainda é existente em nosso cotidiano, por isso precisamos entender
cada vez mais sua ação no que compete às políticas públicas.
Poder x Dominação

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Para nalizar a nossa unidade, vamos nos aprofundar um pouquinho mais nessa
ideia de poder, mas com outra forma de olhar e perceber como ele se estabelece em
sociedade.

Vimos, anteriormente, como Max Weber foi importante para pensar a ideia de
Estado e sociedade, já em meados do século XX, nos apresentando uma forma
particular de entender a sociedade. Bom, nesse momento vamos recorrer
novamente ao autor para ver como ele diferenciou os conceitos de poder e
dominação.

A primeira coisa que devemos relembrar dos estudos já realizados sobre Weber, é
que esse autor defendia que o indivíduo era responsável por moldar a sociedade.
Para ele, somos nós, com nossas ações sociais, que determinamos a sociedade. Por
essa razão, seu conceito de Ação Social nos revela que somos movidos por sentidos
e signi cados individuais para nossas atitudes e todas elas podem ser explicadas de
maneira subjetiva.

Para ele, a ação social pode ser pensada a partir de quatro tipos:

Ação social racional em relação à ns - Tudo que realizamos tem como


objetivo um m, por exemplo, ao estudar você busca um diploma, não é
mesmo? Pois bem, é por causa da certi cação que você passa por todos os
desa os de fazer uma graduação.
Ação social racional em relação à valores - Para Weber, ser honesto e gentil,
por exemplo, são ações que racionalizamos a partir dos valores sociais que
estão embutidos em nossos princípios morais, familiares ou de crenças.
Ação Afetiva - Os nossos sentimentos não são racionais, por isso, amor e raiva
são vistos como ações afetivas marcadas pelo impulso subjetivo de cada um.
Ação tradicional - São ações que mantemos por costumes ou hábitos, apenas
repetindo o que os outros fazem, sem questionamento. Por exemplo, o ato de
pedir a benção para familiares, muitas pessoas ainda o fazem, porém será que
conseguem compreender seu real signi cado?

Weber ainda nos ajuda a pensar que essas ações, quando compartilhadas por outras
pessoas, podem se tornar relações sociais que nos permitem viver em coletividade.

Ao pensar na coletividade, Weber se deparou com o Estado, formado por diferentes


indivíduos e interesses. A comunidade é formada por uma divisão de poderes que
forma um conjunto de esferas autônomas, com suas próprias regras, sistemas de
valores, crenças etc. Assim, o autor re etiu sobre: classes, estamentos e partidos,
para pensar a distribuição de poder.

Classes: não será vista ainda como uma divisão social. Para o autor, a classe
signi ca a aquisição de bens e serviços que são próprios de um mesmo grupo.
Podemos pensar como uma classe de aula, por exemplo, nela as pessoas
estarão “unidas” por um interesse comum, ser aprovado no ano letivo, terão
suas regras particulares. Nesse sentido, classe é fazer parte desse grupo de
pessoas.
Estamentos: pode ser pensado como um status, ou seja, o espaço social que
ocupamos a partir do que possuímos e como essas aquisições nos oferecem
um lugar na sociedade.
Partidos: esses são responsáveis apenas pela busca ou posse do poder
institucional, por meio das eleições e do voto.

Ao pensar a sociedade de caráter racionalizado e burocrático, Weber nos permitiu


compreendê-la em sua organização. Assim, seus estudos no campo político zeram
com que o entendimento sobre o Estado, em seus diferentes níveis, pudesse ser
visto desde a área administrativa até as questões de território. Entendeu que o poder
se estabelece na esfera pública, através da racionalidade burocrática e também por
meio da forma como o líder domina o seu povo.

Nesse momento, o autor nos convida a entender que poder e dominação são coisas
completamente diferentes, embora sejam muito parecidos em seus propósitos. O
que o autor identi ca como poder, a imposição de sua própria vontade sobre o
outro, a ideia genuína de quem manda e quem deve obedecer, a opressão em
relação ao outro.

Já a dominação é uma imposição de poder que pode ser “disfarçada” pela maneira
como ela se revela ao outro. Dominar é a capacidade de fazer com que uma vontade
pessoal, subjetiva, se transforme e se compartilhe como vontade individual de
outras pessoas. Dessa maneira, a dominação irá exercer um poder que muitas vezes
passa despercebido por quem apenas a re ete como sendo sua própria vontade.
Ficou confuso? Vamos então aos tipos de dominação legítimas, propostas pela
análise de Weber:

Dominação Carismática: o líder carismático é aquele aclamado pelo povo por


seu “dom” ou “dádiva”, que o diferencia dos demais sujeitos da sociedade. Ele
possui um convencimento retórico. São atribuídos a ele poderes “especiais”, é
visto como um herói ou heroína por ter algo que o diferencia dos demais seres
humanos. Esse tipo de líder pode ser identi cado em diferentes esferas sociais.
Pode ser o atleta, a atriz, o político, a cantora, o padre, o pastor, o professor. São
pessoas que, pelo seu carisma, podem convencer os outros sem muito esforço.
Dominação Racional-Legal: essa é legitimada pela questão legal, ou seja, as
regras e leis impostas que promovem uma racionalização nos processos
governamentais. São as normas que devemos seguir sem muitos
questionamentos.
Dominação Tradicional: assim como na ação tradicional, aqui o processo de
persuasão ocorre mediante os costumes, valores e hábitos de nidos de
maneira hierárquica que estabelece a relação do líder e de seus subordinados.
Por m, a dominação tem como ação promover que o poder possa ser exercido por
meio de questões ideológicas que tendem a esconder a realidade ou até mesmo
incentivar a não existência de um pensamento mais crítico. Quando dominados,
deixamos de questionar o que nos parece ser a nossa própria vontade, mas que, na  
    verdade, tem sido manipulada para o melhor aproveitamento e realização
daqueles que estão no poder.

Por isso a importância de compreender os processos do campo político para


identi carmos se estamos contribuindo para uma dominação que tende a nos
incapacitar para o entendimento da realidade.

SAIBA MAIS
Você sabia que a obra O Príncipe foi escrita em 1513, enquanto
Maquiavel se encontrava exilado? Entretanto, seu livro só foi publicado
em 1532, cinco anos após a sua morte. O livro, que é um manual sobre a
arte de governar, foi inspirado no estilo político de César Bórgia, que foi
um dos mais ambiciosos comandantes italianos, e que Maquiavel
trabalhou junto por cinco meses quando foi embaixador.

Fonte: a autora.
REFLITA
O Analfabeto Político - Bertold Brecht

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem
participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o
preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito


dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância
política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os
bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das
empresas nacionais e multinacionais”.

Ao ler o poema, você consegue re etir se é um analfabeto político?

Fonte: Portal Raízes (2016, on-line).


Conclusão - Unidade 1

Antes de entrarmos de cabeça na temática das políticas públicas de educação,


optamos por uma breve re exão sobre como se desenvolveram os conceitos de:
política, ciências políticas, poder, Estado e dominação.

Partimos do pressuposto de que era de relevante importância fazer esse primeiro


caminhar para que as próximas descobertas zessem ainda mais sentido para o
nosso estudo.

Sobre o conceito de política podemos perceber que estamos cotidianamente


inseridos nessa ação. Fazemos política o tempo todo, pois estamos sempre em
contato com o outro, negociando alguma coisa. Sendo ela uma arte da razão, nos
permite direcionar a forma como vemos a vida e entendemos a nossa relação com o
outro.

Por isso entender política é tão importante, porque ela nos faz perceber de que
maneira as tomadas de decisões são realizadas, baseadas em que tipo de interesse.
A nal, a política é também um processo individual que se desenvolve numa proposta
de coletividade.

Nesse sentido, entender os processos políticos deve ser feito por meio de métodos e
teorias que priorizem uma compreensão fora da ideia de “achismos” ou gostos
pessoais. Hoje estamos vivendo uma polarização política que tem nos impedido de
fazer, de fato, uma re exão crítica sobre os processos e a formação do Estado, isso
porque as pessoas não usam as ferramentas ou realizam as leituras indicadas por
aqueles que transformaram o campo político em uma ciência, chamada de: Ciências
Políticas.

Como ressaltamos, pensar a política brasileira ou mundial não é algo que podemos
fazer apenas “gostando ou não” de um determinado partido político, mas sim sendo
capazes de entender a dimensão dos processos políticos.
Esses processos estão sempre repletos de formas de poder, que não pode ser
de nido como um conceito único e imutável. O Poder existe em todos os lugares e,
para os pensadores da Sociologia, qualquer relação social é mantida por uma relação
de poder. Como a rma Foucault (2014), o poder se multiplica em suas microfísicas, ou
seja, nas relações humanas em que haja a propensão de alguém mandar enquanto o
outro obedece.

Por m, vimos que o poder pode ser entendido em uma outra “roupagem”, através da
dominação, essa não é apenas exercida pela vontade particular, mas sugerida como
uma vontade de todos.

Leitura Complementar
Quando falamos de política, podemos compreendê-la em suas diferentes
representações. Uma das formas mais recentes de entendê-la pode ser através de um
fenômeno político chamado de Ativismo digital.
Livro

Filme
Unidade 2
Políticas Públicas: aspectos
legais da educação básica
no Brasil

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Introdução
Ao continuar as nossas descobertas sobre o “mundo” das Ciências Políticas e da
Política de maneira geral, vamos nos aprofundar cada vez mais nas chamadas
políticas públicas relacionadas à educação brasileira.

Para isso, iniciaremos a nossa discussão aprendendo sobre o conceito de políticas


públicas, para compreendermos qual a diferença e importância delas em relação às
demais políticas realizadas pelo governo.

Depois vamos re etir sobre as diferenças entre políticas públicas e políticas públicas
de educação, com o objetivo de percebermos que cada esfera social demanda uma
necessidade, um olhar mais aguçado sobre a realidade que a rodeia.

Sabemos que a educação sempre foi um projeto político, mas que muito ainda falta
a ser feito para que ela possa, de fato, ser entendida como uma prioridade de
qualquer governo. Por isso, é muito importante re etir sobre como esse projeto
político tem sido desenvolvido em nosso país.

Para isso, vamos fazer um breve histórico sobre as políticas públicas de educação no
Brasil e seu desenvolvimento até a chegada da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) de 1996.

Assim, ao pensarmos historicamente sobre esse tipo de política, poderemos


perceber de que maneira ela é imprescindível para o desenvolvimento do país e de
toda a população. A nal, não é de hoje que concluímos que a educação deve ser
uma prioridade governamental, mas que precisa ser pensada na realidade existente
para que, de fato, possa ser para TODOS.

Bons estudos!
Políticas Públicas: o que
são?

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
O exercício que zemos anteriormente foi pensar sobre a Política. Vimos que ela
pode ser entendida como arte da razão ou a arte de governar. Sendo assim, quando
falamos de Política pública estamos utilizando de uma expressão que tem por
objetivo determinar uma situação especí ca da política.

Por isso, se quisermos conhecer sua de nição, se faz necessário entendermos a


etimologia das palavras que compõem essa expressão. Assim, quando falamos de
Política remetemos a palavra em sua origem grega, politikó, que revela a condição
de participação da pessoa que, sendo livre nas decisões, pode tomar as decisões
necessárias em relação aos rumos da cidade, a pólis. Vale ressaltar que, no período
grego, a liberdade não era uma coisa para todos, muito menos a condição de
cidadão, esse era um privilégio apenas de homens atenienses e de posses.

No que compete à palavra pública, sua origem revela-se latina, e tem como
signi cado “povo” e “do povo”. Dessa maneira, a expressão política pública, do ponto
de vista etimológico das palavras que a compõem, refere-se à participação do povo
nas decisões da cidade e do território.

Entretanto, sabemos que esse tipo de participação assumiu feições distintas, no


tempo e no lugar, cada contexto histórico tem sua particularidade e, assim, ela tem
se apresentado de forma direta ou indireta (por representação). Mas o que devemos
ter sempre em mente é que, para que ela possa ser concretizada, é imprescindível a
presença de um estado.

Um mundo cada vez mais globalizado fez surgir uma sociedade cada vez mais
antenada com as suas necessidades. Diante disso, o conhecimento e re exão sobre
as questões das políticas públicas tem se modi cado a cada nova década, pois
estamos vivendo em governos de caráter democrático que proporcionam, ou pelo
menos deveriam proporcionar, uma maior participação do povo nas questões
governamentais.

A parceria entre o povo e o Estado é o que permite que o governo possa ter
estabilidade para governar, por isso é necessário que as políticas públicas sejam
pensadas e exercidas para o bem de todos.

Assim como outros conceitos de nem as políticas públicas em uma única expressão
é muito complicado, por essa razão optamos por poder reproduzir duas maneiras
que se complementam ao pensarmos sobre elas. Para Souza (2003, p. 13), a de nição
estaria relacionada ao
Campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o
governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e,
quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações e
ou entender por que o como as ações tomaram certo rumo em lugar
de outro (variável dependente). Em outras palavras, o processo de
formulação de política pública é aquele através do qual os governos
traduzem seus propósitos em programas e ações, que produzirão
resultados ou as mudanças desejadas no mundo real.

Já para Azevedo (2003, p. 38),


“política pública é tudo o que um
governo faz e deixa de fazer, com
todos os impactos de suas ações e
de suas omissões” .

Mediante a esse fragmento, é


possível compreendermos que as
políticas públicas são as ações
governamentais pensadas e
realizadas para o bem comum.
Assim, se não somos capazes de
entender sobre política e suas
rami cações, podemos acabar
sendo dominados por governos
autoritários e corruptos, sem
nenhuma realização efetivada de
transformação ou mudança na
sociedade.

@larm em Unsplash

Então, ao pensarmos em políticas públicas, podemos a rmar que elas seriam a


expressão máxima dos governos, que necessitam do povo para entender suas
particularidades e colocar em prática aquilo que precisa ser modi cado. Por isso, é
essencial que haja uma organização social capaz de permitir uma relação clara entre
governo e povo, em que esse possa compreender seu espaço nas decisões políticas
e o governo entender o que seu povo deseja. Voltamos a pensar que a política é feita
de interesses, mas precisamos saber de quem.

Mas será que existem apenas um tipo de políticas públicas? Para Azevedo (2003),
elas podem ser entendidas em três categorias: as redistributivas, as distributivas e as
regulatórias. Vejamos as especi cidades de cada uma:
Redistributivas: são aquelas relacionadas que permitem a redistribuição de
renda por meio de nanciamentos de serviços e equipamentos. Elas podem
ser compreendidas por meio dos programas como: FIES, bolsa família, renda
mínima para água e luz, Minha Casa - Minha Vida e tantos outros programas
que contribuem para diminuição das desigualdades sociais. Elas deveriam ser
nanciadas por aqueles que possuem renda maior que a grande parte da
população, entretanto acaba sendo incorporada aos gastos de projetos da
união e, assim, há um maior gasto na conta do Estado. Muitos acabam
achando que esses programas sociais, quando não usufruídos por ele, são
onerosos demais para a sociedade, se colocam contra a essas bolsas como se
elas fossem desnecessárias.
Distribuitivas: são as ações cotidianas de qualquer governo, representadas
pela oferta de equipamentos e serviços públicos, de forma pontual ou setorial,
e que são determinadas pela necessidade social ou a pressão dos grupos de
interesse. Nesse sentido, obras em escolas ou creches, manutenção da limpeza
da cidade com podas de árvores, rios e córregos, o desenvolvimento de
programas de conscientização ambiental são alguns dos exemplos das
políticas públicas distributivas.
Regulatórias: Essas são responsáveis pela elaboração das leis que irão autorizar
os governos a fazerem ou não determinada política pública redistributiva ou
distributiva. Assim, se elas necessitam da ação do poder executivo para serem
realizadas, a política pública regulatória é fundamental na ação do poder
legislativo. Por isso, é importante que estejamos atentos a esse tipo de política
pública, pois ela revela o quanto o governo vê “necessidade” ou não em sua
execução. Nada mais é que aquelas possíveis leis, que lutamos e achamos
fundamentais para o andamento da sociedade e que permanecem anos sem
nenhuma resolução. Ao entendermos a necessidade da ação política,
começamos a perceber o quanto ainda os interesses governamentais ou de
grupos majoritários podem prejudicar a execução de uma determinada
política pública.

Podemos concluir então, que as políticas públicas devem ser entendidas pela
relação direta entre sociedade e governo. Este, sendo capaz de ouvir as
necessidades de seu povo, tende a promover maneiras para que as desigualdades
sociais e a justiça social possam ser encaradas como um ato prioritário para a
manutenção de sua governabilidade.

Por isso, como ressalta Oliveira (2010, p. 9),

O que distingue política pública da política, de um modo geral, é que


esta também é praticada pela sociedade civil, e não apenas pelo
governo. Isso quer dizer que política pública é condição exclusiva do
governo, no que se refere a toda a sua extensão (formulação,
deliberação, implementação e monitoramento).
Assim, um governo que busca ser mais igualitário tem, nas políticas públicas, um
caminho para a realização de projetos que atendam as mais variadas inquietações
relacionadas às múltiplas questões sociais existentes, sendo incapaz de fechar os
olhos para elas.
Políticas Públicas de
educação

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Espero que você tenha compreendido a importância das políticas públicas, em
especial, que tenha cado bem claro que elas são tudo aquilo que o governo pode
ou não fazer em prol das necessidades de sua população. Novamente gostaria de
ressaltar a importância que existe na relação entre governo e sociedade. Porque é
ouvindo a sociedade/seu povo que o governante consegue se manter no poder ou
dar continuidade a sua governabilidade.

Por essa razão, mesmo que não seja o foco desse material, é necessário dizer o quão
fundamentais são os Movimentos Sociais. Esses, de caráter dinâmico, mutável,
diverso, têm protagonizados o início de inúmeros diálogos entre governo e povo.

Dessa maneira, não podemos enxergar essas manifestações como ações de


reprovações, porque é a partir delas que o governo pode vislumbrar a sociedade e
também dialogar com ela. Muitas das políticas públicas existentes hoje no Brasil são
frutos desses movimentos sociais, pois foram executadas após mais reivindicações
necessárias para o funcionamento da sociedade.

Quando uma política pública é


aprovada, ela carrega em si, e deve
carregar sempre, resquícios das
ideias de muitas pessoas, envolvidas
diretamente com a injustiça e
desigualdade social. Você já reparou
que para algo mudar em nosso
cotidiano, às vezes, é preciso muito
barulho? Pois bem, o barulho
causado pelos movimentos sociais
tem como propósito, justamente,
acordar o mundo para coisas
importantes que estão sendo
esquecidas, principalmente, por
aqueles que estão no poder.

@anniespratt em Unsplash

Assim, se você deseja entender uma lei posta em sociedade ou a sua modi cação,
ca a dica de procurar antes por sua história, conhecer os grupos sociais envolvidos
e compreender de que maneira a luta empreendida levou a um novo
direcionamento de ações para a transformação social.

As políticas públicas podem mudar seu bairro, sua cidade, seu país e servirem de
exemplos para o mundo, como uma espécie de modelo para o que seja preciso para
que haja uma modi cação geral/global da sociedade.
Para qualquer esfera social existe um tipo de política pública, de caráter econômico,
para a segurança pública, de saúde etc. Nos interessa, nesse momento, aprender
um pouco mais sobre as chamadas políticas públicas de educação. Mas, a nal, o
que seriam elas?

Segundo Oliveira (2010, p. 04), “Se


‘políticas públicas’ é tudo aquilo
que um governo faz ou deixa de
fazer, políticas públicas
educacionais é tudo aquilo que um
governo faz ou deixa de fazer em
educação” .

Entretanto, nos lembra o autor que


“educação é um conceito muito
amplo”, porém ao pensarmos em
políticas públicas de educação
estamos direcionando e afunilando a
maneira como pensar as questões
educacionais.

@mclee em Unsplash

Podemos compreender que as políticas públicas de educação terão como interesses


as questões escolares e também acadêmicas, esse será o foco central dessas
políticas. Pensar a escola, as universidades e faculdades, re etir sobre como elas se
desenvolvem e o que é necessário para esse desenvolvimento será a perspectiva
encarada pelas políticas públicas de educação.

A ação governamental sobre elas deve estar sempre ao alcance do nosso


entendimento, para que possamos cumprir o que a Constituição Federal Cidadã de
1988 prioriza em seu artigo 205: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
quali cação para o trabalho”. (BRASIL, 1988, Art. 205).

Diante disso é que o “fazer educacional” deve ser visto como essencial para
sociedade. Escolas, universidades e faculdades devem ser pensadas em toda sua
complexidade, que perpassam as questões de ensino-aprendizagem a professores,
família, comunidade e ações do estado. Essas poderão ser realizadas por meio das
obras estruturais, contratação de pro ssionais, valorização da formação de
professores, o desenvolvimento das matrizes curriculares, re exões sobre a gestão
escolar, além de muitas discussões sobre a avaliação e da qualidade do ensino.
Tudo isso deve estar presente nas discussões de políticas públicas de educação, pois
a formação escolar não incide apenas no fazer em sala de aula, mas em todos os
fatores e aspectos que permitem que o ato desse fazer, que deve ser pensado em
suas inúmeras particularidades.

Entende-se por políticas públicas educacionais aquelas que regulam e


orientam os sistemas de ensino, instituindo a educação escolar. Essa
educação orientada (escolar) moderna, massi cada, remonta à
segunda metade do século XIX. Ela se desenvolveu acompanhando o
desenvolvimento do próprio capitalismo, e chegou na era da
globalização resguardando um caráter mais reprodutivo, haja vista a
redução de recursos investidos nesse sistema que tendencialmente
acontece nos países que implantam os ajustes neoliberais (OLIVEIRA,
2010, p. 09).

A crítica que o autor faz está muito relacionada ao fato de que as políticas públicas
educacionais revelam o quanto os governos desejam ou não o seu desenvolvimento.
Historicamente falando, o desenvolvimento das sociedades modernas, a partir do
século XX, baseadas cada vez mais na crescente expansão da globalização e de
novas formas de governos adeptos pelo Neoliberalismo, tem revelado o quanto essa
“ loso a política” tende a fazer da educação, assim como de outras esferas sociais,
meios de privatizações estatais, ou seja, retirar do Estado sua maior
responsabilidade.

Assim, se não cabe ao Estado, a exclusividade das decisões sobre saúde, segurança
ou educação, como tudo será feito? Essa questão é muito importante a ser pensada,
pois como alguns blocos mundiais se destacam, mais in uências eles conseguem
exercer em países economicamente menores e que vão aderir a programas de
educação, por exemplo, em que nada bene ciariam a nossa realidade, pois esses
são projetados para sociedades diferentes. Falaremos disso mais adiante quando
iremos pensar sobre avaliações e qualidade de ensino, porém é preciso já
começarmos a re etir de que maneira, os nossos problemas educacionais são
diferentes, de uma suposta homogeneização mundial sobre educação.
Políticas Públicas de
educação no Brasil (I)

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Como vimos até agora, a ideia de política pública está baseada na máxima de que o
Estado deve estar em ação. No caso, da educação, essas políticas seriam reveladas a
partir da ideia de um Estado em ação em relação às questões educacionais. Elas
estão relacionadas com tudo aquilo que incide sobre educação, ou seja, em âmbito
escolar, desde a sua estrutura até a formação dos professores, planos de carreiras
etc.

Para entendermos o desenvolvimento histórico das políticas públicas de educação


no Brasil, se faz necessário compreendermos a nossa própria história. Não podemos
jamais esquecer os meandros que formaram a nossa trajetória histórica e como tudo
isso incide na formação de uma nação tardiamente.

Quando recorremos ao nosso passado histórico, devemos nos lembrar que somos
um país que durante 388 anos foi palco apenas para colônia portuguesa, um
governo de exportação e exploração, marcado pela dizimação dos indígenas e a
escravidão maciça de escravos advindos da África.

Durante todo esse período, falar sobre educação no Brasil é compreendê-la por
meio das obras Jesuíticas, comandadas pela igreja católica, com o objetivo de
catequizar e educar a todos por meio do evangelho. Em nada essa primeira
educação no Brasil tem a ver com algum tipo de política pública de Estado, era
apenas a demonstração do poder baseado na colonização portuguesa.

Depois disso, alguns outros formatos de educação vão surgir, mas serão destinadas
apenas àqueles que podem “pagar”, ou seja, a educação era um privilégio para a
classe mais rica brasileira, que, além de não se importar com o desenvolvimento de
educação para toda população, possuía recursos para enviar seus lhos para estudar
fora do país.

Com a abolição da escravatura em 1888, e a Proclamação da República em 1889,


uma nova con guração surge no país. Sendo uma república, passamos agora a não
mais sermos governados por um rei ou monarca, mas temos a constituição de uma
forma de governo, que, em sua origem, tem como objetivo a formação de um
Estado que tem no povo seu governador/representante soberano.

Dentro dessa nova lógica é que os estudos, pesquisas sobre a questão das políticas
públicas no Brasil, datando do nal do século XIX e início do século XX, mostram
uma preocupação com a área da educação ou com políticas voltadas para uma
educação que deveria ser almejada e alcançada por qualquer cidadão brasileiro.

Nomes importantes fazem parte desse movimento em prol da educação brasileira,


um deles é Anísio Teixeira, que irá buscar com outras pessoas, pensar a inserção de
políticas educacionais que possam acabar com a falta de educação no país. A
própria aura instalada por Getúlio Vargas, com um projeto de Nacionalismo no país,
permite vislumbrar a educação como essencial para o desenvolvimento, como um
todo, do Brasil.
Como dito anteriormente, é muito importante que a gente possa atrelar todas as
mudanças ocorridas à ação de movimentos sociais que, em cada período e contexto
histórico, dão o tom necessário às ações políticas. Não seria diferente na década de
1930, podemos destacar o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova que,
encabeçados por guras como Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, vão
descortinar as necessidades da educação brasileira.

Um documento que priorizava a administração escolar como importante e as


medidas que deveriam ser tomadas a longo prazo para o desenvolvimento de uma
educação nacional. Ele exaltava o exercício dos direitos dos cidadãos brasileiros no
que compete à educação, pautada numa educação pública, única, laica, gratuita e
obrigatória.

É possível a rmar que foi a partir de 1930 que as políticas públicas de educação
brasileira passaram a ser encaradas como um projeto de governo, implementada
pela Reforma Francisco Campo várias decisões foram tomadas pelo governo.
Destacam-se alguns decretos, segundo Santos (2011):

Decreto 19.850, de 11 de abril de 1931, que criou o Conselho


Nacional de Educação;
Decreto 19.851, de 11 de abril de 1931, que dispôs sobre a
organização do ensino superior no Brasil e adotou o regime
universitário.
Decreto 19.852, de 11 de abril de 1931, que dispôs sobre a
organização da Universidade do Rio de
Decreto 19.890, de 18 de abril de 1931, que dispôs sobre a
organização do ensino secundário.
Decreto 19.941, de 30 de abril de 1931, que instituiu o ensino
religioso como matéria facultativa nas escolas públicas do país.
Decreto 20.158, de 30 de junho de 1931, que organizou o ensino
comercial e regulamentou a pro ssão de contador.
Decreto 21.241, de 14 de abril de 1932, que consolidou as
disposições sobre a organização do ensino secundário.

A situação política no Brasil, nesse período, é marcada em 1937, pela instalação de


Vargas no poder e o fechamento do Congresso Nacional. Criou-se, nesse período, as
chamadas “Leis Orgânicas de Ensino”, que tiveram um peso importante na
ampliação e exibilização da reforma anterior. Entre os decretos propostos (SANTOS,
2011):
Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942, Lei Orgânica do Ensino
Industrial.
Decreto-lei 4.073, de 30 de janeiro de 1942, que cria o Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
Decreto-lei 4.244, de 9 de abril de 1942, Lei Orgânica do Ensino
Secundário.
Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, Lei Orgânica do
Ensino Comercial.
Decretos-leis 8.529 e 8.530, de 2 de dezembro de 1946, Lei
Orgânica do Ensino Primário e Normal, respectivamente.
Decreto-lei 8.621 e 8.622, de 10 de janeiro de 1946, cria o Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC).
Decreto-lei 9.613, de 20 de agosto de 1946, Lei Orgânica do Ensino
Agrícola.

Diante desse contexto histórico, de um país submerso a um governo autoritário e


que permaneceria no poder até 1945, com o apoio de formas conservadoras, as
questões educacionais começaram a ser permeadas sobre a ideia de que seriam
elas as grandes “salvadoras” dos problemas nacionais. Uma a rmação que,
infelizmente, permanece até hoje sem nenhuma mudança que a faça ser realidade.

No período que compete à década de 1940 até 1961, as discussões sobre a educação
no Brasil ganharam força na oposição entre aqueles que viam na educação um
lugar de conservação da tradição e dos “bons costumes” do país versus os
movimentos sociais que se dedicavam a uma educação libertadora e emancipadora,
baseados na educação popular e outros projetos que emergiram da necessidade
pujante de uma educação para todos no país.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961 foi instaurada mediante a muitos


protestos, mesmo tendo saído do papel, ela não cumpria a ideia proposta de pensar
uma educação para todos. Pelo contrário, ela fortaleceu o ensino privado e limitou a
expansão do ensino público (SANTOS, 2011). Em 1962, foi proposto o primeiro Plano
Nacional de Educação, para ser cumprido em oito anos.

Entretanto, é importante mais uma vez retornarmos à história do Brasil, para


lembramos que, em 1964, as questões políticas no país tomaram um novo rumo,
instalou-se no poder a Ditadura Militar, que permaneceria até 1985.

Nesse período, é importante dizer que as agências internacionais como: Fundo


Monetário Internacional (FMI), Organização das Nações Unidas (ONU) e Banco
Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) passaram a interferir
muito nas resoluções de vários setores brasileiros e isso não seria diferente em
relação à educação.      

As recomendações dessas agências deveriam ser absorvidas pelo regime militar,


que priorizou, neste momento, uma política desenvolvimentista para a
reorganização do Estado. Alguns dispositivos foram criados para educação (SANTOS,
2011):

Lei 4.464, de 9 de novembro de 1964, que regulamentou a


participação estudantil.
Lei 4.440, de 27 de outubro de 1964, que institucionalizou o salário-
educação.
Decreto 57.634, de 14 de janeiro de 1966, que suspendeu as
atividades da UNE.
Lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, que xou as normas de
organização e funcionamento do ensino superior.
Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971, que xou as diretrizes e bases
para o ensino de 1º e 2º graus.

Além dessas Leis, devemos citar a de número: 5.692/71, que provocou


transformações profundas que foram modi cadas a pouco tempo no país, são elas:
ampliação da obrigatoriedade escolar para 8 anos; instituição da obrigatoriedade da
faixa etária de 7 aos 14 anos; pro ssionalização automática no segundo grau;
extinção do exame de admissão no ginásio.

Porém, como o regime começou a dar sinais de sua falência, ainda no nal da
década de 1970, é possível constatar que as mudanças não proporcionaram um
maior investimento na educação. A política baseada no chamado “milagre
econômico” não foi capaz também de promover uma educação melhor para o país.
Essa constatação virou uma das maiores bandeiras dos Movimentos Sociais da
década de 1980.

Algumas entidades cientí cas foram abertas e elas levantaram a bandeira de luta
priorizando alguns pontos decisivos para uma mudança educacional: melhoria da
qualidade na educação, valorização e quali cação dos pro ssionais da educação,
democratização da gestão, nanciamento, ampliação da escolaridade obrigatória
(SANTOS, 2011).

Novamente, vários campos sociais se uniram e, assim como ocorrido em 1932, com o
Manifesto dos Pioneiros, após a retirada do poder dos militares em 1985, a sociedade
civil percebeu sua importância para lutar pela educação. De novo, os caminhos
históricos do Brasil vão nos ajudar a pensar sobre essas políticas, a partir da
Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de
1996.
Política de educação no
Brasil (II)

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Seguimos nosso resgate histórico e chegamos a 1988, na efervescência após a
derrocada da ditadura militar. Vivemos o momento necessário para uma nova
constituição, estamos inseridos num processo de redemocratização que promete
devolver ao povo seu lugar de direito, em uma sociedade democrática. Sendo assim,
a Constituição de 1988, chamada de Constituição Cidadã, emergirá como o
documento indispensável para a reconstrução da história do país, em todos os seus
aspectos e esferas sociais.

Segundo o MEC, ao olharmos a constituição, a partir do Capítulo III: Da Educação, Da


Cultura e Do Desporto, podemos vislumbrar o que o documento nos permite pensar
sobre a educação. Já citamos o artigo 205 até o artigo 214, somos convidados a
re etir sobre a educação em diferentes estâncias, como um projeto escolar, em suas
funções em relação à gestão escolar, as tarefas reservadas à universidade e, por m,
a questão dos investimentos, marcados pela presença ou não da iniciativa privada.

A Constituição Federal Cidadã, sem dúvida, é um documento muito importante


para pensarmos o país como um todo, no caso da educação, reacendeu a esperança
de mudanças necessárias para que, nalmente, saísse do papel a ideia de uma
educação para todos.

Assim, a década de 1990 foi marcada pela emergência de movimentos pró


educação, que se alinhavam aos desejos e lutas já travadas por muitos
pesquisadores na década anterior. Nesse sentido, a construção de uma Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi disputada por dois grupos diferentes.
Não podemos dizer que eram grupos opostos, mas cada um deles tinha uma
maneira distinta de pleitear as reformas educacionais.

Depois de muitas disputas, a LDB, aprovada em 1996, foi a defendida pelo então
Senador, Darcy Ribeiro (PDT/RJ), que não atendeu inúmeras reivindicações
propostas pelos grupos sociais na década de 1980:

Várias bandeiras que foram levantadas durante o movimento acabam


distorcidas ou completamente descaracterizadas de sua ideia original,
como por exemplo: capacitação de professores foi traduzida em
pro ssionalização; participação da sociedade civil assumiu a forma de
articulação com empresários e ONGs; descentralização signi cou
desobrigação do Estado; autonomia ganhou contorno de liberdade
para captação de recurso; melhoria da qualidade da educação
traduziu-se em adequação ao mercado, sendo que o aluno
transformou-se em consumidor (SANTOS, 2011, p. 08).

A partir da Lei nº 9394/96 (LDB) de niu-se a abrangência da educação brasileira da


seguinte maneira:
Educação infantil constituída pela creche para crianças de zero a
três anos e pré-escolas para crianças de quatro a seis anos;
Ensino fundamental constituído por oito anos;
Ensino médio constituído por três séries.

Novamente, não podemos esquecer a própria história política do país, o período da


década de 1990 foi marcado pela primeira eleição para presidência, pós ditadura,
sendo eleito o Presidente Fernando Collor de Mello, que, em 1992, sofreu um
impeachment por inúmeras denúncias de corrupção. Assumiu em seu lugar, o vice,
Itamar Franco. Em 1994, com novas eleições, assumiu o Presidente Fernando
Henrique Cardoso, esse promoveu o delinear de um novo governo, ancorado nas
questões econômicas, tendo o Plano Real como sua maior contribuição à sociedade
brasileira. Em relação à educação, o governo estava cada vez mais alinhado aos
Organismos Internacionais – como vimos anteriormente, FMI, ONU, BIRD –, essas
agências vão dar a tônica de como será pensada a educação brasileira.

Temos que ressaltar que a proposta do governo FHC seguia as orientações dessas
agências, que projetavam a necessidade de um governo que priorizasse a
diminuição dos gastos públicos, a privatização das empresas estatais e os serviços
prestados pelo Estado e que fosse capaz de encontrar novas fontes de renda. Talvez
agora você compreenda o que Santos (2011) nos propõe re etir na citação, de que as
ideias iniciais sobre a educação tomaram uma nova dimensão, isso ocorre
justamente por a política nacional está baseada nesses organismos/agências de
fomentos internacionais, cuja orientação era deixar de lado a proposta de uma
Estado de bem-estar social, em que o governo seria responsável pelas questões
básicas sociais para um governo caracterizado pelo Estado Mínimo.

Isso signi cava dar uma autonomia cada vez maior aos Estados e Municípios a
gerência de seus recursos:
É com este foco que a LDB de 1996, Lei nº 9.394/96, sinalizou claramente
para mudanças nas responsabilidades dos entes federados quanto à
manutenção e ao desenvolvimento do ensino em seus diferentes níveis.
O teor da citada lei induz fortemente à descentralização da educação,
direcionando os seus gastos por intermédio da criação do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e da
Valorização do Magistério – FUNDEF (Oliveira, 2008). A atenção do
FUNDEF voltada, exclusivamente, para o Ensino Fundamental, somada
à de nição de Parâmetros Curriculares Nacionais e à instituição do
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) parecem
mostrar quais os direcionamentos do governo em relação à política
educacional na época. Ou seja, direcionam-se os gastos para o Ensino
Fundamental como estratégia de preparação de mão-de-obra para o
mercado de trabalho; ao mesmo tempo, instituíram-se os Parâmetros
Curriculares e o Sistema Nacional de avaliação, de maneira que um
certo tipo de controle fosse mantido pelo governo (SANTOS, 2011, p.10).

O governo passa, por meio das avaliações, a gerenciar o “rendimento” escolar, ou


seja, as provas serão feitas como uma forma de medir a aplicabilidade de recursos e
seus resultados. Falar em qualidade da educação passa a estar diretamente
relacionado com os seus resultados, mas o que isso tende a revelar?

Com a chegada, em 2003, do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, novamente haverá
modi cação na educação nacional. Em um primeiro momento essas modi cações
não puderam ocorrer, pois muitas ações ainda estavam atreladas aos acordos
realizados entre o governo FHC e as agências nacionais.

Ao longo desse governo, muitas coisas foram se modi cando, no caso da educação,
foram propostas ações de médio e longo prazo, encabeçadas, a princípio, pelo
Ministro da Educação Tarso Genro e, posteriormente, Fernando Haddad. Para Santos
(2011) destacam-se nesse governo as seguintes propostas:

O Programa Universidade para Todos (PROUNI), lançado em 2004, consiste na


concessão de bolsas de estudo para alunos de graduação em universidades
privadas.
O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (REUNI), lançado em 2007, objetiva a ampliação de
vagas nas Universidades e a redução das taxas de evasão nos cursos
presenciais de graduação.
A instituição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
e de Valorização do Magistério (FUNDEB), em vigor desde janeiro de 2007,
encaminha recursos para toda a Educação Básica, substituindo o FUNDEF, que
vigorou de 1997 até 2006.
O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado em 2007,  sob o qual
se alinham os demais programas e ações do governo para toda a educação
(educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação superior e
pós-graduação).

Podemos constatar que foi um período de intensas mudanças na educação


nacional, o governo Lula priorizou a retomada de um Estado de Bem-Estar Social,
em que assumia novamente a responsabilidade de desenvolvimento das questões
estatais, baseadas nas necessidades sociais. Destaca-se ainda nesse momento o
chamado Plano de Desenvolvimento da Educação – 2007 (PDE), que veremos mais
detalhadamente na próxima unidade.

SAIBA MAIS
Você sabia que na avaliação educacional realizada pelo PISA com 79
países, em 2018, os números do desempenho brasileiro são
preocupantes?

Divulgados no quarto trimestre de 2019, os resultados não são muito


animadores para o Brasil: entre 58º e 60º lugar em leitura, entre 66º e
68º em ciências e entre 72º e 74º em matemática. A variação existe por
conta da margem de erro adotada pela pesquisa.

A nota de escolas particulares de elite do Brasil colocaria o país na 5ª


posição do ranking mundial de leitura do PISA. Já o resultado isolado
de escolas públicas estaria 60 posições abaixo, na 65º entre 79 países.

A nota geral do Brasil está entre as mais baixas do mundo nas três áreas
avaliadas – leitura, matemática e ciências. Quase metade dos
estudantes não chega nem ao nível básico em nenhuma delas,
destoando do desempenho dos alunos de escolas particulares do Brasil.

Fonte: Lyceum (2019).


REFLITA

Fonte: © Amâncio.

Como as políticas públicas de educação podem modi car a


realidade da educação pública no Brasil?
Conclusão - Unidade 2

Re etir sobre Políticas e ainda mais sobre Políticas Públicas de Educação é um


desa o que mexe com a gente, não é mesmo? Na verdade, a compreensão dos
processos políticos deveria ser proferida como matérias, disciplinas obrigatórias para
o entendimento da nossa sociedade.

Quanto mais vamos nos aventurando a entender a realidade que nos cerca, mas
ações políticas percebemos que são necessárias. Se política é a arte da razão e de
governar, faz-se necessário compreendermos como são tomadas as decisões e os
interesses que a cercam. Isso só é possível se somos capazes de olhar para ela e não
mais desviarmos os nossos olhos.

Nesse sentido é que toda a unidade foi pensada, com o propósito de nos adentrarmos
cada vez mais fundo na compreensão em relação ao conceito de políticas públicas e
como ele se rami ca, até se tomar uma política pública de educação.

Como vimos, as políticas públicas podem ser pensadas como a ação do Estado, de
responsabilidade dele e que possibilita as transformações necessárias à sociedade.    
  Sua atuação passa a ser baseada no ouvir a sociedade civil e regulamentar o que
precisa ser modi cado. Ela pode ter o caráter redistributivo, distributivo e regulatório,
possibilitando a diminuição das desigualdades e injustiças sociais.

As políticas públicas de educação são políticas voltadas para o âmbito escolar e


acadêmico, resoluções que competem não apenas o ensino-aprendizagem, como
também toda a estrutura física e legal que envolve o processo educativo.

Podemos compreender, mesmo que de maneira sucinta, a trajetória das políticas


públicas de educação no Brasil e perceber que elas não podem caminhar, senão
atreladas às próprias conjunturas políticas, essas sendo dinâmicas, estão em eternas
mudanças.
Assim, daremos continuidade a compreensão dessas políticas na atualidade e como
elas vêm modi cando as atuações governamentais sobre a educação brasileira, o que
será que nos aguarda?

Leitura Complementar

Artigo: Políticas Públicas Educacionais: Apontamentos sobre o direito


social da qualidade na educação. Autores: Cleide Simone Ferreira;
Everton Neves dos Santos.

“As Políticas Públicas Educacionais enquanto direcionadoras na


construção de uma escola que oferece uma formação cidadã”, foi o tema
debatido neste artigo. O objetivo foi analisar a importância das Políticas
Públicas Educacionais, para quali car a educação pública no Brasil,
ampliando a qualidade do ensino fundamental. Para o alcance do
objetivo traçado foi desenvolvida uma pesquisa bibliográ ca com análise
qualitativa, a qual permitiu a construção de considerações nais, sem
contudo, ousar o fechamento do assunto, que envolve-se num contexto
de complexidade, necessitando o aporte do Direito. O estudo considerou
na essência que a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e
do Adolescente promulgado em 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação 9.394/1998, foram a base da construção do conceito de
qualidade na educação enquanto direito social”

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Unidade 3
Financiamento da
educação brasileira

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Introdução
Todas as vezes que conversamos sobre educação, é imprescindível pensarmos sobre
como custeá-la e também de onde virão esses recursos.

Por essa razão, essa unidade tem como prioridade a compreensão do que é
nanciamento para educação brasileira, qual sua importância e como ele tem sido
pensado na atualidade.

Assim, vamos propor um resgate histórico dos marcos regulatórios que


determinaram e continuam a determinar qual o papel da União, Distrito Federal,
Estados e Município no que compete o custeio da educação brasileira.

É de suma importância analisar atentamente essa questão, pois se falarmos de


qualidade e e cácia da educação, as políticas públicas devem ser pensadas também
mediante a ideia de valorização dos pro ssionais da educação, assim como de tudo
que cerca estruturalmente ensino e aprendizagem.

Analisar a educação nacional é poder enxergá-la cercada de diferentes fatores que,


conjugados, se tornam determinantes para o desenvolvimento de uma educação de
qualidade e gratuita, que possa chegar a todos. O nanciamento da educação revela
não somente números, mas também a necessidade da equidade social para que o
acesso não seja prejudicado por falta de recurso ou ainda pior, por falta de repasse
de recursos.

O fato é que os repasses para educação são tão importantes que muitos casos de
corrupção, nos últimos anos, são resultados justamente da má administração desses
recursos e quem tem a sofrer ainda mais é a população brasileira, que vê da janela
de casa obras paradas, crianças nas ruas e, sem consciência, acreditam que não
podem fazer nada.

Por isso, desejo que sejamos capazes de compreender conceitualmente o que


signi ca o nanciamento para educação e aplicar esse conhecimento na defesa de
uma escola cada vez mais de qualidade e respeito que faz o uso dos recursos
públicos de maneira consciente e necessária.

Bons estudos!
Financiamento da
educação brasileira: o que
é?

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Quando debatemos sobre a educação brasileira, devemos pensar em todos os
aspectos que podem conduzi-la para sua melhor e cácia. O sistema educacional
brasileiro é complexo e isso se re ete na capacidade de compreensão de todas as
necessidades dele.

Muitas vezes as pessoas, ao criticar a estrutura da educação no Brasil, se esquecem


que ela não perpassa apenas pelo chão da escola e a atuação dos professores, mas
que está se construindo de inúmeros detalhes, e um deles é a questão do
nanciamento. A nal, de quem deve ser a responsabilidade nanceira da
educação? Como esses recursos são destinados? Qual a maneira de pensar sua
aplicabilidade?

Assim, quando falamos de nanciamento da educação nacional estamos nos


referindo ao uso e scalização da aplicação dos recursos nanceiros responsáveis
pelo desenvolvimento e manutenção da educação infantil, o ensino fundamental e
ensino médio.

No caso brasileiro, esse nanciamento destinado à educação pública do Brasil,


ocorre por meio de recursos advindos das três esferas de governo – Federal, Estadual
e Municipal. É distribuída da seguinte maneira: educação infantil, tanto a oferta
dessa modalidade quanto o nanciamento são de responsabilidade municipal. Já ao
que compete ao ensino médio, este é de responsabilidade estadual e do Distrito
Federal. Por m, o ensino fundamental, a oferta e os nanciamentos são divididos
em dois: municípios, estados e o Distrito Federal são responsáveis diretos, quanto à
União cabe apenas o papel redistributivo e supletivo do nanciamento.

Assim, como toda a história da educação no Brasil está atrelada à própria história do
desenvolvimento da sociedade brasileira, quando pensamos em nanciamento
também devemos pensar nas mudanças sócio-históricas como instrumentos de
transformação na educação nacional.

Os avanços datados dos últimos 30 anos nos auxiliam a perceber que sem um
nanciamento ancorado na distribuição de rendas da União, Estado, Municípios e o
Distrito Federal, a educação no país ainda precisa de recursos adequados para seu
funcionamento.

São tão importantes esses recursos que, nos últimos anos, infelizmente, tivemos que
acompanhar inúmeros casos de corrupção em relação aos desvios de verbas,
justamente, da e para educação. Desvios esses que revelavam e ainda revelam
grandes esquemas de lavagem de dinheiro, que prejudicam o andamento das
instituições de ensino.

Foram muitas denúncias de desvios de verbas em relação à construção de prédios


escolares, merendas e materiais didáticos. Os repasses de verbas são importantes
porque muitas vezes pequenos municípios não conseguem manter as instituições
de ensino sem esses recursos.
Por isso, a junção de União, Estados, Municípios e Distrito Federal pode dizer a quem
esses recursos deverão ser destinados e de que maneira eles serão melhor
aplicados, ou seja, além do nanciamento é muito importante que haja um controle
de como será utilizado e se auxilia a cumprir as metas da educação a serem
alcançadas.

A falta de recursos implica na ausência de estruturas de ensino adequadas,


alimentação para alunos e servidores, valorização e formação dos pro ssionais na
educação. Temos muitos exemplos de alunos e professores exercendo suas funções
em lugares inimagináveis, sem água, luz, carteiras ou merendas.

Essa realidade tão perversa ainda existe em nosso país, pois os recursos destinados,
muitas vezes, nem chegam até esses lugares. Como sabemos, a corrupção que
move o Brasil se dá através dos recursos públicos. Mas por que isso continua
acontecendo?

Infelizmente, a falta de uma educação política revela o quanto, na maioria das vezes,
esses cidadãos prejudicados, não conseguem ter a capacidade de entender que
precisam lutar por seus direitos. Continuaremos a rmando que o entendimento
político permite que as ações prometidas sejam cumpridas. Por isso que, ao
entendermos o que cabe às instâncias governamentais, compreendemos também o
quanto de direito e deveres compete a nós, mas em especial, nesse caso, ao Estado.

Sendo o nanciamento marcado também pela história de nosso país, veremos a


seguir como essa história tem se desenrolado, principalmente após a Constituição
de 1988.
Aspectos históricos do
nanciamento da educação
no Brasil

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Segundo Macedo e Dias (2011), é recente a história de nanciamento das instituições
de educação básica no Brasil. Mesmo que pensar a educação, como um todo, no
país seja algo de caráter histórico, novamente, é inegável a a rmação que, há pouco
mais de 30 anos, isso vem se modi cando e sendo efetivado no país.

O fato é que as mudanças de caráter urbano, as novas atribuições às famílias e a


chegada de cada vez mais mulheres ao mercado de trabalho vão revelando um
novo panorama de necessidades sociais. Além disso, o mundo também está se
transformando, nesse sentido, a Declaração Universal dos Direitos da Criança, de
1959, e a Convenção Mundial dos Direitos da Criança, de 1989, vão determinar que o
acesso à educação seja uma prioridade para o desenvolvimento infantil.

Novamente, é muito importante ressaltar a importância da nova Constituição


Federal, de 1988, como um marco regulatório de tudo que estamos desenvolvendo
nos últimos anos. Impulsionados por ela, os movimentos sociais emergiram na
década de 1990, cobrando do Estado que fossem cumpridos os direitos
fundamentais para a educação infantil.

Tudo vai culminar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9394/96)
que determinou à educação infantil um novo reconhecimento, assim ela passou a
ser vista como a primeira etapa da educação básica.

O fato é que essa mudança nada mais é do que o resultado da obrigatoriedade da


educação posta na Constituição como indispensável para a formação de todos e
essa especi cação para educação básica nos mostra o quanto é importante de nir
ações particulares a cada nível de ensino no Brasil.

A educação infantil veio de encontro com as necessidades sociais, a entrada cada


vez maior de mulheres no mercado de trabalho possibilitou políticas públicas de
educação, que fossem capazes de suprir as demandas apontadas por muitos
movimentos sociais.

Não sei se você sabe, mas as creches, por exemplo, é uma realidade muito recente.
Por isso, ainda hoje, temos problemas com a quantidade de vagas e tudo mais.
Muitas mulheres foram às ruas, na década de 1990, exigir do Estado a construção de
espaços para educação infantil, pois isso daria a possibilidade de sua inserção no
mercado de trabalho.

Vamos ressaltar que a educação infantil é um direito da criança e precisa ser


efetivada.

Talvez, você deva estar se perguntando, mas a nal o que, de fato, a Constituição e a
LDB zeram pelo nanciamento da educação?

No caso da Constituição de 1998, o percentual a ser aplicado na educação passou de


13 para 18% a ser retirado dos impostos: “A decisão de aumentar o percentual de
aplicação mínima signi cava uma medida política para que se cumprisse aquilo que
estava anunciado na própria Carta no tocante à construção de uma educação
pública de qualidade” (MACEDO; DIAS, 2011, p. 169).

Além disso, a Constituição determinava que era necessária a elaboração,


democraticamente, de um plano nacional de educação, já especi cando a junção
da União, Estado, Municípios e Distrito Federal para uma melhor articulação em
todas as etapas de ensino.

Não somente a Constituição a rmou


as questões de nanciamento, isso
cará ainda mais determinado com
a LDB/96 (lei n. 9394/96) que
manteve os percentuais já postos
como necessários, ressaltando, em
seu artigo 69, os valores a serem
utilizados: Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino (MDE),
que deveriam ser de nidos na CF,
assim como nas leis orgânicas de
Estados e Municípios (MACEDO;
DIAS, 2011).

Sem dúvida, a LDB/96 foi um


marco para a regulamentação
proposta pela CF/88. No que tange
o nanciamento educacional , ela
pode expandir ainda mais os
propósitos dos recursos e as metas a
serem atingidas pela sua
aplicabilidade.

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Nesse sentido, a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino


Fundamental e da Valorização do Magistério (Fundef), lei n. 9.424/96 e pelo decreto
n. 2.264/97, permitiu uma nova resolução e implementação de recursos para
educação nacional:

A nova lei alterou o artigo 60 da ADCT2, subvinculando 15% (60% dos


25%) da receita oriunda de impostos e transferências: ICMS, IPI
Exportação, FPE, FPM e Compensação Financeira da lei complementar
n. 87/96 (Lei Kandir), pelos estados e municípios, prioritariamente para
o ensino fundamental e proporcional às respectivas matrículas neste
nível de ensino (MACEDO; DIAS, 2011, p. 169).
Um fato muito importante que você precisa compreender é que essas mudanças
não são apenas de âmbito nacional, na verdade os interesses políticos da época,
aliados a interesses internacionais, de órgãos e agências, também são responsáveis
por essas transformações. Então, não acredito que elas foram pensadas apenas em
favor da questão pública, mas são re exos de toda uma política internacional que via
em países da América Latina, espaços para aplicabilidade de suas propostas
políticas. Muitas delas fora da nossa realidade.

Assim, o FUNDEF surge como uma proposta de nanciamento que vem para
revolucionar o que tínhamos até então, mas sua concretização vai esbarrar em
necessidades muito particulares da realidade de Estado e Municípios e é nisso que
as políticas públicas de educação precisam estar atentas.

Em relação à qualidade dos serviços prestados à população de 0 a 5


anos de idade, até 2007 os sistemas municipais não tinham recursos
vinculados para manterem adequadamente e ampliarem a educação
infantil. Sendo assim, com algumas exceções, não houve uma melhoria
no atendimento, sobretudo no tocante às creches, mas apenas uma
mudança de sistema/órgão. Neste caso, as creches continuam
funcionando de forma precária no Brasil, sobretudo nas regiões mais
pobres do país, onde a grande maioria dos municípios sobrevive do
repasse de verbas federais, como o Fundo de Participação dos
Municípios (MACEDO; DIAS, 2011, p.175).

Diante dessa realidade, em 2007, percebendo a necessidade de uma mudança de


ação, o governo federal criou o Fundeb, que ampliou sua ação ao incluir as creches,
mas também precisou repensar a formação e a valorização de professores para a
educação infantil. Mas, qual a diferença do Fundef para o Fundeb?
Fundeb - Fundo de
manutenção e
desenvolvimento da
educação básica e
valorização dos
pro ssionais da educação

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Segundo o portal do MEC (BRASIL, 2017, on-line), é possível entender o Fundeb da
seguinte maneira:

[...] é um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual (um


fundo por estado e Distrito Federal, num total de vinte e sete fundos),
formado, na quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos
e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios, vinculados à
educação por força do disposto no art. 212 da Constituição Federal.

Além disso, o Fundeb possibilita uma complementação com recursos federais aos
Estados que não alcançarem, por aluno, o valor mínimo instituído nacionalmente.
Vale ressaltar ainda que, independentemente da origem, todo recurso deve ser
redistribuído      sempre para educação básica.

Outro dado importante, no portal do MEC (BRASIL, 2017, on-line), é que:

O aporte de recursos do governo federal ao Fundeb, de R$ 2 bilhões em


2007, aumentou para R$ municípios (FPM, FPE, ICMS, IPIEXP), no
Fundeb ele aumentou para 20% e incluiu outros impostos forma ilícitos
nos repasses como: ITCMD, IPVA, IRmun, IRest, ITR).

Com uma participação maior de recursos vindo da União, esperava-se que houvesse
uma maior redução das desigualdades regionais. Assim, se antes a União estava
comprometida com apenas 2% de repasse de recursos, após a instalação do Fundeb
essa margem foi elevada para 10%, o que permitiu gerar as condições necessárias
para a instalação, por exemplo, do piso salarial nacional para os professores e todos
aqueles envolvidos na educação.

Antecipando o que veremos na próxima unidade, essa elevação de recursos


destinados à valorização do pro ssional da educação contribuiria para uma nova
maneira de se tratar esse tipo de pro ssional. Pensando em plano de carreira e
oportunizando uma formação contínua e continuada, isso também incidiria na
qualidade da educação brasileira.

O fato é que o Fundeb, ao substituir o Fundef, deu uma nova face aos recursos
destinados à educação e como eles seriam pensados de maneira mais especí ca, as
particularidades regionais de um país tão imenso quanto o nosso.

Você já deve ter entendido que ao se fazer uma política pública, seja ela de que
caráter for, é muito importante que haja o conhecimento real das necessidades, se
isso não ocorre, as distorções são realizadas da maneira mais cruel possível, tirando
daqueles que precisam o auxílio necessário para o seu desenvolvimento.
Nesse sentido, será que você já parou para pensar o impacto de se atrelar, por
exemplo, o bolsa família à educação? A reparação histórica por meio das cotas
raciais para as universidades? Os programas governamentais como SISU, PROUNI,
FIES? Pois bem, te convido a investigar mais de perto essas políticas públicas,
programas e ações para perceber que em suas particularidades, elas são
extremamente importantes para o desenvolvimento do país.

Lima (2015), ressalta que, embora uma novidade e ação expressiva, a maneira como
o Fundeb foi criado não agradou a todos, principalmente porque, mesmo que ele
tivesse o propósito a uma maneira sistêmica de pensar a educação, o que competia
à educação infantil de 0 a 3 anos, as creches e todo o auxílio necessário para essa
faixa etária cou de fora desse documento.

Entende-se que essa faixa etária cabe aos municípios a responsabilidade, porém,
dentro da demanda crescente dos últimos anos, é perceptível que muitas cidades
não deram conta de absorver o contingente existente. Talvez você more ou até
mesmo conheça lugares em que há las gigantescas de espera para a matrícula em
creche ou Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), não é mesmo? Pois bem, se
faz necessário repensar, nesse momento, a abrangência, mais uma vez, do Fundeb.
Fundeb - Fundo de
manutenção e
desenvolvimento da
educação básica e
valorização dos
pro ssionais da educação -
atualidade

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Quando pensamos no Fundeb, mesmo que de maneira sucinta, a re exão vai se
estendendo por vários campos. Podemos pensar em arrecadação, repasse,
responsabilidades governamentais, valorização dos pro ssionais da educação,
mudanças do cenário nacional da educação.

Esse tipo de política pública permite pensar não somente o nanciamento, mas
todos os caminhos que levam até ele e como está sendo pensado e percorrido.

Parece imperdoável ver a mudança do Fundef para o Fundeb e mesmo assim não
termos recursos necessários, por exemplo, para incluir a educação de crianças de 0 a
3 anos.

Bom, mas isso está com os dias contados para mudar. Devemos ressaltar que o
Fundeb, dessa maneira como vemos, precisou ser repensado, substituído ou
melhorado até dezembro de 2020. Esse é o prazo vigente desde seu início em 2007.

Desde 2015 está em tramitação no Congresso Nacional a PEC 015/15, que tem por
objetivo tornar o Fundeb permanente, os que defendem sua continuidade de
maneira xa, acreditam que a continuidade e o aprimoramento dessa política de
educação venham a colaborar para o fortalecimento e uma maior equidade
educacional.  

A importância da manutenção e expansão do Fundeb é tamanha que muitos


órgãos da sociedade civil têm se unido em nome desse debate. Isso porque, ao se
aproximar a data de sua expiração, espera-se que o governo federal possa dialogar
com todos os setores da sociedade para uma melhor resolução.

Nesse sentido, destacamos o movimento Todos pela Educação, descrito como uma
“organização da sociedade civil, sem ns lucrativos, plural e suprapartidária”. Tem
como objetivo, através da educação básica de qualidade e equidade, transformar o
país. Por isso, acredita que o diálogo para o avanço das políticas públicas
educacionais exige urgência.

Para o Todos pela Educação, o debate e a aprovação da PEC 015/15 são muito
importantes e devem ter como base quatro pontos:

Mais seguro: que seja permanente na Constituição Federal;


Mais justo e mais redistributivo: bene ciando quem tem menos recursos;
Mais e ciente: com a correção de todas as distorções no atual modelo;
Maior: com aumento da complementação da União.

Ao re etir sobre a PEC 015/15, as principais modi cações propostas estão ancoradas
nas noções de “proibição de retrocesso” na política pública e de “planejamento
social” na Constituição, propõe ainda a inclusão de outras fontes de recursos, como
também o aumento do repasse da União para os estados.
Caso essa PEC seja aprovada, as mudanças que ocorreram aproximaram ainda mais
a sociedade civil de todo o processo de seu planejamento, cabendo também a ela,
re etir, discutir, scalizar e avaliar as ações do Fundeb à luz da realidade e dos
resultados obtidos.

Rea rmando a importância dessa emenda constitucional, torna-se uma política


pública permanente e de caráter de Estado, não podendo ser negada por nenhum
governo, xada de maneira legal, se assegura que ela não venha a ser substituída no
futuro por “caprichos governamentais”, assim cará garantido o direito social à
educação.

Por m, ao aumento progressivo dos percentuais de recursos a serem destinados à


educação, assim como a inclusão de outras fontes de recursos deverão garantir a
e cácia cada vez maior do fundo para a transformação da educação básica de
qualidade e de equidade social.

Podemos perceber que o processo de diálogo em 2020 deve ser acelerado, a nal
para muitos especialistas, pesquisadores e participantes da sociedade civil seria um
retrocesso não concretizar a permanência do Fundeb, depois de mais de uma
década de seu surgimento.

Talvez você esteja se perguntando, mas, a nal, o que de fato o Fundeb nancia?

Bom, segundo o jornal Nexo (VICK, 2019), o recurso advindo do Fundeb, deve ser
utilizado para o nanciamento de todos os níveis da educação básica, de diferentes
etapas e modalidades. Além disso, pelo menos 60% de toda a arrecadação deve ser
aplicada a salários de professores ativos da rede pública.

Pode ser usado no pagamento de outros pro ssionais da educação, no transporte


escolar, material didático, reformas ou construções de novas escolas. Entretanto,
esse fundo não deve ser utilizado no pagamento da alimentação escolar, muito
menos para pro ssionais da educação que não estejam exercendo suas funções
dentro das escolas ou para remunerar pro ssionais da área de educação que não
estejam trabalhando em escolas. O fato é que todas as proibições estão claras e
descritas no artigo 71 da LDB.

Vale lembrar que, por estar vinculado à arrecadação tributária, cada ano o valor do
Fundeb pode variar, assim quando a nossa economia não “vai bem”, os recursos são
menores, caso aumente, os recursos também serão maiores.

Por isso é que a cada ano o governo estabelece ou repensa o valor de cada aluno de
escola pública, tudo está baseado não apenas na educação em si, mas atrelado
também a questões econômicas do país.

Dessa forma, a nossa missão, como futuros e pro ssionais da educação, é estarmos
atentos a todas as propostas e mudanças que vão se desenrolar em 2020 e que
poderão atingir positiva e negativamente o trabalho docente e todas as suas
implicações no que compete à escola no Brasil. A nal, já dizia Gilberto Gil e Caetano
Veloso, na canção Divino Maravilhoso: “É preciso estar atento e forte”. Somos
cidadãos e tudo deve perpassar por nossas percepções, interesses e perspectivas no
que compete às ações dos Estados, Municípios e da União.

SAIBA MAIS
Em 2020 pode ser o último ano do Fundeb, para que isso não ocorra, a
sociedade civil tem se mobilizado, um desses movimentos sociais é
marcado pelo “Todos Pela Educação”. Em seu portal on-line, você
poderá acessar e conhecer como pensam e quem são esses cidadãos
preocupados com o futuro da educação nacional. Qual seria a proposta
deles em relação ao nanciamento da educação?

Para saber um pouco mais, você pode acessar o link:

ACESSAR

REFLITA
O valor mínimo nacional por aluno/ano dos anos iniciais do ensino
fundamental urbano foi estimado para 2019 em R$ 3.238,52,
correspondendo a um aumento de 6,2% em relação ao estimado para
2018, que foi de R$ 3.048,73. Por que ainda possuímos falta de escolas e
de uma educação de qualidade para todos?

Fonte: a autora.
Conclusão - Unidade 3

Quando re etimos sobre a educação, são tantos pontos a serem debatidos,


discutidos, avaliados e pensados, que acabamos nos envolvendo sempre um pouco
mais em todas as suas nuances. Talvez por isso seja tão desa ador quando nos
propomos a entendê-la para além da sala de aula e dos muros escolares. Não que
esses dois lugares não sejam importantes e carentes de todas as re exões possíveis,
mas ir além é poder perceber até como eles próprios são construídos.

O que foi proposto para essa unidade era nos atentarmos para o nanciamento da
educação brasileira, como ele ocorre e está sendo pensado. Já estamos cientes que
todo tipo de resolução que compete à educação vem acompanhado dos tramites
legais, como também as questões históricas e governamentais. Assim, não podemos
ser ingênuos em acreditar que todas as decisões não possam ser baseadas nos
interesses de cada época, que podem ser marcados, por exemplo, pela inserção dos
órgãos e das agências internacionais, in uenciando, dessa maneira, em como as
ações serão conduzidas.

Vimos também como a mudança do Fundef para o Fundeb teve um impacto muito
grande em nossa educação nos últimos anos. Mesmo sendo passivo de críticas, o
Fundeb é defendido por especialistas e pela sociedade civil como uma política
pública importante para o funcionamento da educação nacional com o objetivo de
torná-la ainda mais de qualidade, sendo capaz de promover uma equidade social.

Por isso, o Fundeb deve ser pensado por meio das especi cidades regionais, onde
houver mais necessidades de recursos cabe à União fazer um repasse maior de
verbas, proporcionando, assim que haja, uma equiparação de valores necessários para
cada caso.

Entendendo a importância do Fundeb, compreendemos também que 2020 é um ano


decisivo para o seu funcionamento, como também para o seu aperfeiçoamento. O
movimento Todos Pela Educação nos mostrou como a sociedade civil organizada
prioriza o debate sobre o Fundeb e espera ser ouvida pelo governo. Nesse momento,
o que todos desejam é que a PEC 015/15 possa ser aprovada, com isso, uma emenda
constitucional será criada, o que proporcionará tornar o Fundeb um fundo
permanente de recursos para educação brasileira, independentemente de qualquer
governo. Tornando-se uma política de Estado.

Leitura Complementar

MACHADO, Denise Lenise. Financiamento da educação- Fundeb: Uma


análise sobre os investimentos na educação.

ACESSAR

Livro
Filme
Unidade 4
Pro ssionais da educação
básica

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Introdução
Para nalizar as nossas discussões, vamos conversar sobre a importância da
formação e da valorização dos pro ssionais da educação. Por meio da análise de
importantes documentos de políticas públicas educacionais que remetem a essa
questão, ainda tão debatida atualmente.

Será que todos os professores deveriam ter um teto salarial? Ter rendimentos que
pudessem permitir que eles trabalhassem apenas em uma instituição? Como
deveria ser pensado o plano de carreira para essa categoria?

Bom, sempre que falamos em qualidade de educação, temos a tendência de pensar


apenas no desenvolvimento dos alunos. Você já deve ter escutado muitas vezes que
as notas baixas e uma educação tão precária deve ser culpa do professor, não é
mesmo?

Pois bem, a culpa não pode ser atribuída apenas ao professor, mas ela precisa ser
debatida em prol de que todos os envolvidos possam se responsabilizar pela
formação tanto de alunos, como também de professores.

Por essa razão, vamos debater um pouco sobre qual a importância da formação
contínua e continuada do professor e também de sua valorização como um
pro ssional necessário para todo o desenvolvimento da educação.

Não é de hoje que ouvimos e vemos relatos na televisão, redes sociais e em outros
veículos de comunicação que chamam a atenção para a precarização do trabalho
do professor. Muitas vezes esse pro ssional exerce sua função sem uma formação
adequada e recebendo honorários que não permitem que possa investir em seu
saber. Algumas situações nos mostram como o professor utiliza até mesmo de sua
renda pessoal para manter os alunos em sala de aula, seja comprando materiais
escolares, alimentos e água potável.

A precariedade da educação no Brasil ainda pode ser sentida em muitos Estados e


Municípios. Em consequência disso, vários pro ssionais da educação, para exercer a
sua função, precisam ir além da sala de aula. Chamados muitas vezes de heróis ou
heroínas, o que eles querem de verdade é apenas exercer a sua função, tendo, no
Estado, a segurança necessária para exercê-la, em nome de alunos e alunas que,
sem educação, não podem vislumbrar nenhum tipo de futuro social, a não ser o da
vivência de uma sociedade sem futuro.

Continuamos defendendo que o futuro para um país próspero, perpassa, antes de


tudo, pela educação de qualidade, responsável e valorizada.

Bons Estudos!!
Professor ou professora:
quem é você?

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Ser professor é um ato de coragem? Por que será que muitas vezes quando
dissemos que somos ou estamos nos formando para sermos professores, alguém
sempre diz que é uma pro ssão que exige coragem?

Todas as vezes que ouço isso, quase me imagino como uma super-heroína dos
desenhos em quadrinhos ou uma bombeira em meio a situações de risco, de vida
ou morte.

Penso que chamar a gente de herói é uma forma que a sociedade encontrou de nos
dizer que é uma pro ssão que aquele ou aquela que a escolheu precisa estar
disponível a qualquer tipo de situação. Mas será que é isso mesmo?

Não podemos admitir que a nossa situação é só essa e pronto. Uma pro ssional
muitas vezes mal remunerada e valorizada. “É uma pro ssão ‘bonita’, mas eu jamais
seria professor”, não é isso que ouvimos muitas vezes em roda de conversas de
amigos ou almoços familiares?

É, nossa pro ssão passa por uma desvalorização que esbarra em questões
nanceiras, assim como em fatores sociais e culturais, ainda muito enraizados.

Um dos educadores brasileiros mais importantes da história da educação do Brasil,


Paulo Freire, diz em sua obra Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à
prática educativa (2017, p. 47), que “Ensinar não é transferir conhecimento”. O que
ele queria dizer com isso?

Bom, para esse exemplar educador, o ato de ensinar deveria ser a abertura de um
mundo no qual os alunos pudessem criar e produzir seu próprio conhecimento,
tendo o auxílio necessário para o desenvolvimento de sua criatividade e também
criticidade.

Paulo Freire nos inspira a pensar em que tipo de educador ou educadora decidimos
ser ao adentrarmos em sala de aula. Como devemos pensar a nossa atuação e ação
e até mesmo como sermos críticos em relação às práticas pedagógicas que
desenvolvemos em sala de aula.

São tantas obras importantes que esse educador nos deixou que ca difícil pensar
somente em uma. Assim, nossas discussões neste tópico estão pautadas tanto na
obra já citada, Pedagogia da Autonomia (2017), quanto no livro Pedagogia do
Oprimido (2018).

É muito importante que a gente reconheça a necessidade do nosso papel como


educador e como ele é indispensável para o desenvolvimento da sociedade. Para
isso, Freire defendia que a educação não deveria ser do tipo “Bancária”, mas sim
“Libertadora”.

Ao discorrer sobre uma Educação Bancária, em Pedagogia do Oprimido (2018), o


educador debate sobre a maneira como a educação brasileira estava pautada em
meados das décadas de 1950-1960. Ele nos mostra que o ato de o professor se
considerar apenas o detentor do saber, de não dialogar com os alunos e nem de
conhecer sua realidade, permitia um tipo de educação que apenas depositava
conhecimento na cabeça dos alunos, estes deveriam apenas memorizar o conteúdo
programático, sem questionamentos ou dúvidas.

A Educação Bancária era realizada apenas entre aquele que sabia e o que não sabia,
que era o pensador e o que o pensado, o que conhecia tudo e o que não conhecia
nada. Assim, o professor era o “ser supremo”.

Para romper com esse tipo de educação tida, até então, como tradicional, Paulo
Freire propôs uma Educação Libertadora, baseada na Pedagogia do Oprimido.

[...] aquela que tem de ser forjada com ele e não para ele, enquanto
homens ou povos, na luta incessante de recuperação da humanidade.
Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto de re exão
dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta
por uma libertação, em que essa pedagogia se fará e refará (FREIRE,
2018, p. 43).

Esse tipo de educação nos apresenta uma nova maneira de estabelecer relação
entre o professor e os alunos, ela se baseia na participação tanto do educador como
do educando em todo o processo de formação. Responsabilizando, assim, a todos
para o desenvolvimento de um tipo de ensino-aprendizagem que tem como meio a
interação com a realidade de cada indivíduo, a valorização de múltiplos saberes, a
indagação e a curiosidade como ferramentas do conhecimento.

Sendo proposta dessa maneira, é muito importante a gente pensar que tipo de
professor Paulo Freire acredita ser necessário para o exercício de uma educação que
liberte a mente e incentive a nossa capacidade criativa, questionadora e crítica.

O que o educador defende é uma educação que possa ter sentido e signi cado, ao
ponto que mostre ao aluno como ele faz parte de todo o processo educacional e,
mais do que isso, que tudo aquilo que ele já sabe também passa a ser valorizado
como um conhecimento necessário para sua formação.

Assim, o educador que se propõe a promover um ensino-aprendizagem libertador,


entende que precisa estar sempre à disposição do seu aluno, estabelecendo com ele
uma relação de amorosidade, bom senso, responsabilidade, liberdade e ética.
Paulo Freire (2017) nos ajuda a
re etir sobre o papel do professor e
quais devem ser as bases para a
construção de sua ação em sala de
aula. É muito importante, para o
educador que possa gerar con ança
e segurança ao aluno, assim, este
pode compartilhar seus saberes e
suas angústias em relação ao
mundo e a sua própria realidade.
Essa relação só poderá ser possível
se o professor estiver aberto ao
diálogo e também a se mostrar ao
aluno. Freire não defende uma
“amizade” sem respeito ou
responsabilidades entre professor e
aluno, mas a rma a necessidade de
o aluno também conhecer o
professor, sua maneira de pensar e
agir .

@jcomp em freepik

Falando em ação, é muito importante que o professor se paute na ética e no bom


senso, dizer e fazer devem estar correlacionados. O professor que dá exemplo de
conduta é aquele que, em sua fala, realiza aquilo que faz e vice-versa. Por isso, o
professor precisa estar atento e ser sempre sincero.

Além disso, o professor deve conhecer a sua sala de aula, para ensinar precisa ouvir,
silenciar e saber falar quando necessário. Freire (2017) nos ensina que todo professor
deixa marcas em seus alunos, algumas podem ser positivas e outras negativas. Com
certeza você se lembra de algum professor, não é mesmo? Pois bem, ao nos
tornarmos professores precisamos saber que tipo de marcas queremos deixar.

Outra coisa muito importante para esse educador é que a sala de aula deve ser um
lugar de liberdade e também de autoridade. Liberdade, para ele, não signi ca
indisciplina e autoridade, muito menos autoritarismo, por isso é necessário um
equilíbrio nas relações, a verdade e a conscientização dos indivíduos.

Ainda como professores libertários, críticos, democráticos e conscientes, devemos


promover uma aula que impeça a manifestação de atos discriminatórios e
preconceituosos. Faz-se necessário que o professor entenda que ele se move como
gente e que fala, atua para gente, assim ele precisa gostar de ser e de estar com
gente, senão transformará sua sala de aula em um lugar que possa ser habitado
apenas por um tipo especí co de pessoas.
Paulo Freire nos ensina que, para ser professor, é preciso rigorosidade metódica,
pesquisar, estudar e ir além do que já se sabe. É entender a máxima do lósofo
Sócrates que diz: “Só sei que nada sei”, por isso nunca deixar de aprender.

Por m, ao pensar na relação entre professor e aluno, Paulo Freire nos ensina que é
necessário querermos bem ao próximo, saber ouvir, estarmos dispostos ao diálogo,
entender as situações, debater, gerar con ito, repensar atitudes e ações.

Diante de tudo isso, o professor também precisa ter consciência que faz parte de
uma categoria pro ssional que está em permanente luta, seus alunos precisam
saber por que ele luta para que sejam capazes de compreender a complexidade de
ser um professor, em um país que nos valoriza, tanto nanceiramente como
simbolicamente, tão pouco. O herói ou a heroína nacional necessita de condições
dignas de trabalho para viver em sociedade.

Será que os governantes têm pensado nisso???


Políticas da formação e
valorização do professor -
um breve histórico

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Segundo o documento o cial do MEC (BRASIL, 2019), atualizado em 18 de setembro
de 2019, sobre as políticas públicas de formação e valorização do professor, é possível
a rmar que nos últimos 30 anos muitas resoluções, decretos e normativas foram
realizadas em prol dessa temática.

Sendo el ao documento, o que você irá ler a partir desse momento está descrito, na
íntegra, no Relatório entregue pelo MEC e disponível em sua página, na internet,
para consulta pública. Por se tratar de dados históricos, considero pertinente que ele
possa ser reproduzido aqui em sua totalidade. Assim, torna-se possível re etir como
o próprio MEC entende e reconhece a importância da trajetória histórica dessas
políticas. Vamos conhecê-la, então?

Como vimos, anteriormente, a Constituição Federal de 1988 foi um marco decisório


para o desenvolvimento das políticas públicas de educação no país. Destacamos o
Art. 205, que de niu a educação como um direito de todos, um dever do Estado e da
família, essencial para formação para cidadania e o mercado de trabalho.

Destacam-se na década de 1990:

Lei nº 9.131, de 24 de novembro de 1995, alterando dispositivos da


Lei nº 4.024/1961, que criou o Conselho Nacional de Educação -
Educação básica e Superior;
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de niu novas Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, com fundamento no Inciso XXIV do
22 da Constituição Federal, enfatizando, no § 2º do seu art. 1º, que
“a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à
prática social”, bem como ressaltando, em seu Art. 67, que “os
Sistemas de Ensino promoverão a 114 valorização dos Pro ssionais
da Educação [...]”;
Resolução CNE/CEB nº 3/1998 das Diretrizes Curriculares Nacionais
Para O Ensino Médio.

A década de 2000 e a mudança governamental acentuaram ainda mais as


mudanças. Foram criados nesse período:
O primeiro Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº
10.172, de 9 de janeiro de 117 2001, objetivou a concretização dos
preceitos constitucionais sobre o Direito à Educação, “em sintonia
com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos”, nos
termos do §1º do Art. 87 da 119 LDB, contemplando dispositivos
sobre a inclusão de capítulos especí cos sobre o magistério da
educação básica e sobre a educação a distância e novas
tecnologias, incidindo diretamente na formação de professores.
Fóruns das Licenciaturas se constituíram como importantes
espaços de debates nas universidades para discutir políticas de
expansão e projetos pedagógicos articulados para as licenciaturas.
A Rede Nacional de Formação Continuada foi criada em 2004,
pelo MEC, visando a criação de uma maior organicidade entre os
programas e os gestores responsáveis pelas políticas de formação
continuada.
Programas de apoio à formação docente foram instituídos,
merecendo destaque o Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (PIBID), o Plano Nacional de Formação de
Professores da Educação Básica (PARFOR), e o Programa de
Consolidação das licenciaturas (Prodocência), além do apoio dado
a cursos de segunda licenciatura e cursos experimentais
destinados à formação de professores direcionados à educação do
campo e indígena.
A Comissão Bicameral foi criada no âmbito do CNE para tratar das
normas e diretrizes para a formação de pro ssionais do magistério
da educação básica. Entre 2012 e 2014, em particular, importantes
debates e apresentações de estudos foram realizados, reunindo
importantes subsídios no âmbito das políticas e experiências
internacionais para a formação de professores, que culminaram
com a Resolução CNE/CP N o 137 02/2015.
Conae(s) 2010 e 2014 apresentaram importantes contribuições:
vale aqui registrar os documentos produzidos nas Conferências
Nacionais de Educação de 2010 e 2014 sobre formação inicial e
continuada de professores rea rmando a necessidade de vinculá-
la ao conjunto de esforços no campo pleno da valorização do
magistério. DCNs para o curso de Pedagogia representa novo
marco normativo: trazendo inovações importantes para a
formação de professores. Merece ser ressaltada, ainda, a
amplitude da perspectiva formativa proposta por essas Diretrizes
Curriculares ao prever que, para o curso de Pedagogia, aplicam-se
à formação inicial para o exercício da docência na Educação
Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de
Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação
Pro ssional na área de serviços e apoio escolar, bem como em
outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos
pedagógicos.
Rede Federal de Educação Pro ssional, Cientí ca e Tecnológica e
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia: conforme
está posto na Resolução CNE/CP N o 150 02/15, a partir 4 de 2008,
intensi ca-se a ampliação das ações formadoras com a instituição
da Rede Federal de 152 Educação Pro ssional, Cientí ca e
Tecnológica e a criação dos Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia (Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008),
indicando que a expansão de cursos dessas Instituições
Educacionais deveria reservar 20% (vinte por cento) das vagas para
cursos de licenciaturas, especialmente em cursos da área de
ciências de modo a enfrentar a falta de 156 professores nessas
áreas da Educação Básica.
Lei do FUNDEB e Lei do Piso Salarial: deram organicidade às
políticas de valorização dos pro ssionais do magistério, mediante
a Lei nº 11.494/2007, que instituiu o Fundo de Manutenção 159 e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Pro ssionais da Educação – Fundeb, bem como a Lei nº
11.738/2008, que instituiu o Piso Salarial Nacional dos Pro ssionais
do Magistério da Educação Básica.
Decreto nº 6.755/2009: instituiu a Política Nacional da Formação de
Pro ssionais do Magistério da Educação Básica e disciplinou a
atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Capes no fomento a programas orientados para a
formação inicial e continuada de Professores da Educação Básica.

A partir de 2010, a participação do Estado para as políticas pública de educação


continuou a ser tratada como uma prioridade. Vamos entender o que mais foi
instituído:
Portaria MEC nº 1.087/2011: institui o Comitê Gestor da Política
Nacional de Formação Inicial e Continuada de Pro ssionais da
Educação Básica, responsável pela formulação, coordenação e
avaliação das ações e programas do MEC, Capes e FNDE, no
âmbito da Política Nacional de Formação de Pro ssionais da
Educação Básica.
Portaria MEC nº 1.328/2011: conforme está posto na Resolução
CNE/CP No 02/15, esta Portaria formaliza a “Rede Nacional da
Formação Continuada dos Pro ssionais do Magistério da
Educação Básica Pública”, de modo a apoiar as ações destinadas à
formação continuada de pro ssionais do magistério da educação
básica e em atendimento às demandas da formação continuada,
tal qual formuladas nos planos estratégicos de que tratam os
artigos 4º, 5º, e 6º do Decreto nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009.
Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024: que dedica quatro
(15, 16, 17 e 18) das suas 20 metas à valorização dos pro ssionais do
magistério e à formação inicial e continuada de docentes. Porém,
mais do que isso, este PNE, inaugura um novo tempo para as
políticas educacionais brasileiras, dando diretrizes claras para tais
políticas mediante dez Incisos do Artigo 2°, e que merecem aqui
ser explicitados: I - erradicação do analfabetismo; II -
universalização do atendimento escolar; III - superação das
desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da
cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; IV
- melhoria da qualidade da educação; V - formação para o trabalho
e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que
se fundamenta a sociedade; VI - promoção do princípio da gestão
democrática da educação pública; VII - promoção humanística,
cientí ca, cultural e tecnológica do País; VIII - estabelecimento de
meta de aplicação de recursos públicos em educação como
proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que assegure
atendimento às necessidades de expansão, com padrão de
qualidade e equidade; IX - valorização dos(as) pro ssionais da
educação; X - promoção dos princípios do respeito aos direitos
humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental.
Fóruns Estaduais e Distrital Permanentes de Apoio à Formação
dos Pro ssionais da Educação Básica: dentre outras
responsabilidades destaca-se aquela relativa à formulação e
pactuação de planos estratégicos que contemplam diagnóstico
da formação inicial e continuada de professores.
Decreto nº 8.752 de 09 de maio de 2016 que dispõe sobre a Política
Nacional de Formação dos Pro ssionais da Educação Básica.
É muito importante destacar que entre todos esses documentos, decretos e leis
destacados de cada período histórico, dos últimos 30 anos, que dois estão em
destaque para a continuidade da década de 2020. São eles o Plano Nacional de
Educação, vigência - 2014-2024 e a Base Nacional Comum Curricular - 2018. Vamos
ver como esses dois documentos lidam com a questão da formação docente?
PNE e a formação /
valorização docente

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Pensar uma política pública de valorização e formação docente é compreender que
a partir do momento em que os pro ssionais da educação – pedagogos, educadores
e professores – tiverem acesso às ferramentas para quali cação e formação contínua
e continuada, poderão promover uma educação emancipadora. Compreendendo a
educação básica e a escola pública como cenário ideal para atuação desses
pro ssionais de maneira mais crítica e e caz, baseado na presença da União, Estado
e Municípios, por meio de subsídios necessários para a ascensão teórica e nanceira
desses pro ssionais. Nesse sentido,

O Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei nº 13.005, de 25


de junho de 2014, constitui um marco fundamental para as políticas
públicas brasileiras. Suas 20 metas conferiram ao País um horizonte
para o qual os esforços dos entes federativos e da sociedade civil devem
convergir com a nalidade de consolidar um sistema educacional
capaz de concretizar o direito à educação em sua integralidade,
dissolvendo as barreiras para o acesso e a permanência, reduzindo as
desigualdades, promovendo os direitos humanos e garantindo a
formação para o trabalho e para o exercício autônomo da cidadania
(BRASIL, 2015, p. 11).

Visando atender as mais diversas demandas educacionais, o PNE em vigência


precisa ser sempre re etido e compreendido se suas metas estão ou não cumpridas.
Percebemos que os novos cenários políticos, a partir de 2016, com o impeachment
da Presidenta Dilma Rousseff, têm trazido à tona novas resoluções e até mesmo o
congelamento das ações relacionadas à educação nacional e isso tem prejudicado o
andamento do PNE.

Atualmente, muitas medidas propostas pelo PNE estão paralisadas, assim como
inúmeras demandas do MEC, que, em 2019, passou por mudanças de Ministros e
corpo administrativo duas vezes. É inegável que existe um cenário muito
preocupante para a educação brasileira. Os olhos do Estado voltaram-se para as
discussões em nível do Ensino Superior, o programa Future-se foi o contemplado do
ano de 2019, enquanto as questões da educação básica e da escola pública caram à
margem.      

Mesmo assim, é muito importante ressaltar, que o PNE está em vigor até o ano de
2024. Mais uma vez, devemos a rmar que ele não é uma política que deve ser vista
apenas como de governo, mas sim de Estado, por isso, deve ser continuada e
realizada, independente do partido que está no poder.
O PNE tem como pressuposto que os avanços no campo educacional
devem redundar no fortalecimento das instituições (escolas,
universidades, institutos de ensino pro ssionalizante, secretarias de
educação, entre outras) e de instâncias de participação e controle
social. Isso se materializa em suas estratégias, que demandam ações
provenientes de estados, municípios e da União, atuando de forma
conjunta para a consolidação do Sistema Nacional de Educação
(BRASIL, 2015, p. 16).

Em relação às questões voltadas aos pro ssionais da educação, o documento traz


nas metas 15, 16, 17 e 18 os “caminhos” necessários para a valorização. Convido você a
conhecer essas metas e re etir sobre elas, pensando em todo o contexto histórico e
educacional que estamos vivendo e se elas estão ou não sendo cumpridas. Vamos
lá?

Novamente, optamos por transcrever o que o PNE traz em sua íntegra para que
nada seja entendido senão pela forma como o documento foi redigido e se
encontrou em vigência.

META 15: Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o


Distrito Federal e os Municípios, no prazo de 1 ano de vigência deste PNE,
política nacional de formação dos pro ssionais da educação que tratam os
incisos I, II e III do caput do art. 6 da Lei Nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996,
assegurando que todos os professores e as professoras da educação básica
possuam formação especí ca de nível superior, obtida em curso de
licenciatura na área de conhecimento em que atuam.

Essa meta nos ajuda a re etir sobre a necessidade de que possam atuar em
sala de aula, aqueles professores que possuam uma formação adequada para o
exercício de sua função. No documento do PNE, estão detalhadas as áreas que
hoje necessitam cada vez mais de pro ssionais, as regiões do país que mais
possuem ou não pro ssionais quali cados. Nesse sentido, somos um país que
ainda possui, em sala de aula e escolas, pro ssionais com pouca formação
superior e esse é dos elementos que precisam ser modi cados.

META 16: Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da


educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos
(as) os (as) pro ssionais da educação básica formação continuada em sua área
de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos
sistemas de ensino.

É muito importante que o professor tenha o direito e incentivos para continuar


a estudar. Sabemos que estar em sala de aula não é uma tarefa fácil e nem
muito menos estática. Oportunizar que os pro ssionais da educação possam
aprender e conhecer cada vez mais é uma necessidade para que os saberes
sejam a todo momento renovados.

META 17: Valorizar os (as) pro ssionais do magistério das redes públicas de
educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos (as)
demais pro ssionais com escolaridade equivalente, até o nal do sexto ano de
vigência deste PNE.

A valorização dos pro ssionais do magistério sempre esteve em pauta nas mais
diferentes propostas de políticas públicas de educação, isso porque é de
entendimento de todos os baixos salários recebidos por professores em
diferentes Estados e Municípios brasileiros. Assim como é necessária a criação
de um plano de carreira que possibilite uma renda mais justa para aqueles que
tiveram uma formação maior. No caso, se as metas 15 e 16 forem cumpridas, o
salário poderá ser equiparado para todos. Do contrário, ainda existem
pro ssionais mais quali cados que outros. O piso salarial, instituído pela Lei no
11.738, de 16 de julho de 2008, deve entrar em vigor em 2020, o que você tem
acompanhado sobre esse assunto?

META 18: Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira


para os (as) pro ssionais da educação básica e superior pública de todos os
sistemas de ensino e, para o plano de carreira dos (as) pro ssionais da
educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional
pro ssional, de nido por Lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da
Constituição Federal.

A meta 18 acentua ainda mais a importância tanto da educação continuada


como do piso salarial, a combinação dessas duas ações permitirá que os
pro ssionais da educação possam ter uma valorização mais digna.

Nesse sentido, e para nalizar esse tópico, espero que você tenha conseguido
perceber que uma meta não pode funcionar sem o cumprimento da outra e isso é
muito signi cativo, já que se faz necessário que as resoluções sobre a valorização de
professores sejam combinadas e realizadas de maneira conjunta, União, Distrito
Federal, Estados e Municípios precisam pensar juntos a questão de como nanciar
essa valorização e como subsidiar as ações necessárias para uma formação cada vez
mais quali cada de pedagogos, educadores e professores da rede básica de ensino
do país.
BNCC e a formação de
professores

AUTORIA
Renata Oliveira dos Santos
Chegamos ao nal de nossa disciplina e também de discussões pertinentes sobre as
políticas públicas de educação e sua trajetória histórica, social e cultural no Brasil.
Para encerrarmos nossos estudos vamos conhecer um pouco mais sobre a Base
Nacional Comum Curricular, conhecida como BNCC. Aliás, você já ouviu falar da
BNCC?

Há quem acredite que a BNCC é uma criação recente, mais especi camente, do
governo Michel Temer, porém quando nos debruçamos sobre os documentos de
educação, constatamos que ela está presente há muito tempo no horizonte das
mudanças educacionais no país. Ela já estava prevista tanto na Constituição, de 1988,
quanto na LDB, de 1996. Mas, a nal, o que é a BNCC?

Bom, a Base Nacional Comum Curricular é um documento que determina os


conhecimentos fundamentais que todos os alunos da Educação Básica têm o direito
de aprender. Como está prevista em lei, ela deve ser obrigatoriamente analisada
para elaboração e implementação de currículos das redes de ensino públicas e
privadas, urbanas e rurais.

Para o MEC, ao delimitar com clareza o que os alunos têm o direito de aprender, a
BNCC poderá auxiliar na melhoria da qualidade do ensino em todo o Brasil. Pois,
servirá de referência comum para todos os sistemas de ensino, contribuindo para a
promoção da equidade educacional.

Entretanto, embora a BNCC tenha instaurado uma forma geral para a construção
dos conteúdos em todo país, ela também propõe que o direito ao aprendizado fosse
contextualizado. Por isso é importante aliar os conhecimentos propostos com a
realidade e especi cidade vivenciada em cada região do país.

Segundo o MEC,

A BNCC deve, não apenas fundamentar a concepção, formulação,


implementação, avaliação e revisão dos currículos e das propostas
pedagógicas das instituições escolares, como também deve contribuir
para a coordenação nacional do devido alinhamento das políticas e
ações educacionais, especialmente a política para formação inicial e
continuada de professores. Assim, é imperativo inserir o tema da
formação pro ssional para a docência no contexto de mudança que a
implementação da BNCC desencadeia na Educação Básica (BRASIL,
2019, p. 01).

Torna-se relevante dizer que o documento tem também como pretensão


estabelecer Diretrizes Curriculares Nacionais e uma Base Nacional Comum para a
Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica permeado pelas
demandas educacionais contemporâneas e das sugestões constantes na BNCC.
Ao pensar sobre essas necessidades, a BNCC espera que os professores
desenvolvam um conjunto de competências pro ssionais, que possamos quali car,
mediante os desa os propostos pela Agenda 2030 da Organização das Nações
Unidas (ONU), um compromisso rmado pelo nosso país (BRASIL, 2019).

A formação de professores deve ser entendida, diretamente relacionada com as


necessidades de ensino e aprendizagem. O relatório de 2019, sobre essa questão,
a rma que todas as ações estão baseadas nas seguintes leis e decretos existentes na
legislação brasileira:
A Lei N o 37 9.394/1996 (LDB) prevê a adequação curricular dos
cursos, programas ou ações da formação inicial e continuada de
professores ao estabelecido na BNCC, quando, no § 8º do seu
Artigo 62 dispõe que “os currículos dos cursos da formação de
docentes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular”.
II) A Lei Nº 13.005/2014, que instituiu o Plano Nacional de Educação
(PNE) prevê a revisão e melhoria dos currículos do ensino superior
para formação de professores da educação básica (meta 13,
estratégia 13.4): promover a melhoria da qualidade dos cursos de
pedagogia e licenciaturas, por meio da aplicação de instrumento
próprio de avaliação aprovado pela Comissão Nacional de
Avaliação da Educação Superior - CONAES, integrando-os às
demandas e necessidades das redes de educação básica, de modo
a permitir aos graduandos a aquisição das quali cações
necessárias a conduzir o processo pedagógico de seus futuros
alunos(as), combinando formação geral e especí ca com a prática
didática, além da educação para as relações étnico-raciais, a
diversidade e as necessidades das pessoas com de ciência.
Na Meta 15 do PNE, estratégia 15.6, prevê: promover a reforma
curricular dos cursos de licenciatura e estimular a renovação
pedagógica, de forma a assegurar o foco no aprendizado do (a)
aluno (a), dividindo a carga horária em formação geral, formação
na área do saber e didática especí ca e incorporando as modernas
tecnologias de informação e comunicação, em articulação com a
base nacional comum dos currículos da educação básica.
A Lei 13.415/2017, ao incluir novo parágrafo no Art. 62 da LDB (§8º),
estabelece em seu Artigo 11, o prazo de 2 (dois) anos, contados da
data de homologação da BNCC, para que referida adequação
curricular da formação docente seja implementada.
O §1º do Artigo 5º, das Resoluções CNE/CP Nº 02/2017 e Nº 4/2018,
estabelece que: A BNCC deve fundamentar a concepção,
formulação, implementação, avaliação e revisão dos currículos e
consequentemente das propostas pedagógicas das instituições
escolares, contribuindo desse modo para a articulação e
coordenação de políticas e ações educacionais desenvolvidas em
âmbito federal, estadual distrital e municipal, especialmente em
relação à formação de professores, à avaliação da aprendizagem, à
de nição de recursos didáticos e aos critérios de nidores de
infraestrutura adequada para o pleno desenvolvimento da oferta
de educação de qualidade.
Documento “Proposta para Base Nacional Comum da Formação
de Professores da Educação Básica”, produzido pelo Ministério da
Educação, em 2018, e enviado ao Conselho Nacional de Educação
para que este analisasse e emitir parecer e formulasse resolução
regulamentando uma Base Nacional Comum da Formação
Docente. Este documento foi encaminhado   ao MEC, por
solicitação em 2019, e agora reenviado a este CNE.

Como consequência, este egrégio CNE entendeu que a


regulação da formação docente, com base na Portaria e
Resolução CNE/CP No 02/2015, precisava ser revista e
atualizada de acordo com as recentes mudanças. Além
disso, entendeu, com a devida anuência do Ministério da
Educação, que deveria, também, tratar da elaboração de
referenciais que devem constituir a formação de
professores para a implantação da BNCC em todas as
etapas e modalidades da Educação Básica (BRASIL, 2019,
p. 02).

É importante ressaltar que essas atribuições ao documento foram deliberadas a


partir de 2016. Pois, até o governo Dilma Rousseff, a BNCC foi pensada em um
conjunto de ações que davam sequência às proposições pelo PNE.

Segundo Aguiar; Dourado (2019, p. 2):

Sob o governo do presidente Michel Temer, as políticas educacionais


em curso são interrompidas e/ou tomam nova con guração...
Mudanças também fez o novo governo no processo de construção da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Com efeito, sob o comando
do MEC pelo titular José Mendonça Filho, a BNCC vai ser redirecionada,
com a ruptura da concepção de educação básica, que tinha sido uma
conquista da sociedade brasileira. Rompe-se, assim, com a
organicidade da educação básica, e o MEC constituiu um Comitê
Gestor, coordenado pela Secretaria Executiva, que vai apresentar ao
Conselho Nacional de Educação (CNE) a 3ª versão da BNCC relativa à
educação infantil e ensino médio, consagrando, então, a divisão.

Além desse redirecionamento todo, o Governo Federal instaurou, ainda em 2016,


como Medida Provisória e depois como Lei permanente, a efetivação da reforma do
Ensino Médio, o que desconsiderava o que já vinha sendo feito pelas gestões
anteriores, sendo encaminhado ao Conselho Nacional de Educação (CNE), a BNCC
do ensino médio, rea rmando a divisão da educação básica.

Sob o último relatório para a formação de professores, 2019, chama a atenção a


política de formação de professores. Ela deverá ser executada mediante
compreensão de que só é possível uma formação se União, Distrito Federal, Estados
e Municípios se relacionem em conjunto. É preciso pensar em qualidade para essa
formação, responsabilidade e continuidade, somente assim será possível garantir
uma formação adequada ao professor.

Essa deverá ser baseada nas competências que deverão ser necessárias para o
professor: conhecimento pessoal, prática pro ssional, engajamento pro ssional. A
BNCC deixa bem claro como essas questões deverão ser apreendidas dando o
direcionamento para como deverão ser estabelecidos os planos para a formação de
professores da educação básica.

A carga horária dos cursos de formação inicial de professores para a


Educação Básica, em nível superior, é constituída de 3.200 horas (três
mil e duzentas), tendo por referência o projeto curricular do curso, com
duração de, no mínimo, 08 (oito) semestres ou 04 (quatro) anos, sendo
dedicadas ao desenvolvimento das competências pro ssionais nas três
dimensões: conhecimento, prática e engajamento, assim divididas:
  800 horas (oitocentas horas) de base comum de aprendizagem dos
conteúdos cientí cos, educacionais e pedagógicos que fundamentam
a educação, e suas articulações com os sistemas, escolas e práticas
educacionais – Grupo I;  1600 horas (mil e seiscentas horas) dedicadas à
aprendizagem dos conteúdos especí cos das áreas e componentes da
BNCC, e do domínio pedagógico desses conteúdos – Grupo II;   800
horas (oitocentas horas) de prática pedagógica sendo 400h em
situação real de trabalho em ambiente de ensino e aprendizagem
(monitoria/atividades de iniciação à docência/estágio/residência
pedagógica/prática clínica), em projeto de nido pela IES e constantes
do seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e 400h
distribuídas ao longo do curso entre os conteúdos dos itens anteriores –
Grupo III” (BRASIL, 2019, p. 28).

Além dessas diretrizes, a BNCC ainda discute a formação docente para educação
básica também na chamada Segunda licenciatura, uma outra maneira de o
professor adquirir, em um curto prazo, o aprendizado e a certi cação para estar apto
a lecionar outras disciplinas, diferentes de sua primeira graduação. Formação
também para gestão escolar e uma formação continuada por meio de cursos
oferecidos pelo Estado.

O fato é que ser professor é estar em constante formação, por isso é muito
importante estarmos atentos aos passos e às resoluções governamentais, pois elas
implicam diretamente em nosso cotidiano.
SAIBA MAIS
Você já parou para pensar na Saúde do Professor?

Segundo uma pesquisa realizada on-line, com cerca de 5.000


professores, pela Revista Nova escola, em Agosto de 2018, 66% dos
participantes já tiveram que se afastar da sala aula. Mais de 87%
atribuíram esse afastamento às condições das salas de aula. Entre os
problemas que aparecem com maior frequência estão a ansiedade,
que afeta 68% dos educadores; estresse e dores de cabeça (63%);
insônia (39%); dores nos membros (38%) e alergias (38%). Além disso,
28% deles a rmaram que sofrem ou já sofreram de depressão.

Fonte: Teixeira (2018).

REFLITA
A frase a seguir revela um pensamento de um importante educador
contemporâneo brasileiro: Mário Sérgio Cortella.

“O conhecimento serve para encantar pessoas, não para humilhá-las.”

De que maneira a educação, o saber e o conhecimento devem servir


para a formação da sociedade por meio da relação entre as pessoas?

Fonte: a autora.
Conclusão - Unidade 4

Espero que você tenha compreendido que falar sobre formação e valorização do
professor não é uma discussão nada fácil. Por isso, alguns governos têm tentado
produzir documentos que rea rmem resoluções que já deveriam ter sido
contempladas a muito tempo em nosso cotidiano pro ssional.

É muito importante que você se interesse pelas “coisas públicas”, ou seja, pelas
políticas que as cercam para entender o que está sendo realizado. Será que você
sabia que a ideia de uma Base Nacional Comum Curricular já estava prevista tanto na
Constituição como na LDB? Será que você já tinha re etido sobre algumas Metas do
Plano Nacional de Educação? E se já tivesse feito tudo isso, parou para pensar por que
ainda não estamos caminhando para uma educação de qualidade?

Pois bem, são questionamentos e indagações que precisam fazer parte do nosso
cotidiano, senão corremos o risco de sempre imaginarmos que a “culpa” pelo mal
desempenho de nossos alunos está baseada apenas em nós, professores. Porém, será
que o Estado também não tem a sua parcela de culpa ao não realizar as demandas
necessárias para a formação docente para a educação básica?

Gostaria muito que, ao nal de toda nossa disciplina, você pudesse chegar à
conclusão de que política não é algo “chato” ou “desinteressante”, que as políticas
públicas de educação precisam ser entendidas de perto, para que o seu futuro possa
ser permeado pela qualidade e por oportunidades educacionais que impulsionem
uma educação brasileira e caz, coerente e conscientizadora.

Ao nalizar nossos estudos, anseio que sua curiosidade tenha sido aguçada e desejo
que tenha cado muito claro que ser professor demanda curiosidade, rigorosidade
metódica, competência pro ssional e engajamento, para que as lutas necessárias
sejam apreendidas da maneira que devem ser, visando sempre o melhor para o bem
comum.
Leitura Complementar
Você já deve ter percebido que é uma tarefa árdua e decisiva a formação incessante
do professor, não é mesmo? Pois bem, te convido a aprofundar ainda mais seu
conhecimento, precisamos de elementos que nos ajudem a promover a formação e a
valorização do pro ssional da educação por diferentes meios.

Leia: ANDRÉ, Marli. Práticas inovadoras para a formação de professores. São Paulo:
Editora Papirus, 2016.

Livro

Filme
Considerações Finais

Caro(a) aluno(a), que viagem incrível ao mundo do conhecimento e,


especi camente, da política vivenciamos não é mesmo? Muitas descobertas, novas
bagagens de saber na mente, outros destinos e, ao mesmo tempo, tudo isso sem
sairmos da nossa realidade, do cotidiano.

Devemos pensar sobre política dessa maneira, aquilo que está em nosso dia a dia,
que precisa ser re etido constantemente, pois nos afeta tanto indireta, quanto
diretamente.

Já pensou quantos interesses podem envolver uma ação política, aliás depois de
todo conhecimento adquirido, você já consegue pensar quais são os seus próprios
interesses em relação à política? Será mesmo que ela não deve ser discutida? É
possível viver em uma sociedade sem pensar como deverá ser melhor o seu
desenvolvimento?

Ao longo de toda nossa aventura nessa disciplina de Políticas Públicas da Educação


Básica, pudemos pensar sobre questões históricas, sociais, econômicas e culturais
que norteiam as decisões relativas à educação nacional.

Pudemos nos inteirar de questões importantes para a e cácia e o funcionamento


de uma educação que cumpra seu papel constitucional de ser para todos.
Descobrimos o quanto a educação está relacionada aos mandos e desmando de
governos, quando, necessariamente, ela deveria ser uma política de Estado, em que
as resoluções tomadas a longo prazo deveriam ser continuadas, independente da
ideologia partidária.

Infelizmente, descobrimos que muitas coisas estão confusas e paralisadas no que


compete às políticas públicas de educação, no momento atual de nosso país. Por
isso precisamos fazer um resgate histórico de todas as medidas tomadas em anos e
governos anteriores, para podermos cobrar o que ainda não foi solucionado.
Você deve ter percebido o quanto as questões da educação são dilemas complexos
que fazem parte da história de nosso país e também re etido que é preciso uma
junção entre União, Distrito Federal, Estados e Municípios para que ela se realize de
maneira concreta e responsável. Além disso, é de suma importância os
nanciamentos, assim como a participação da sociedade civil em todas as suas
resoluções e ações.

Por m, nos detemos a pensar sobre a formação e valorização dos pro ssionais da
educação. Sabemos que estamos muito distantes de salários e oportunidades de
estudos que sejam compatíveis às nossas necessidades. Por essa razão, acredito que
se você entendeu a importância da política, se tornou, então, um(a) cidadão(ã) mais
consciente e engajado(a) para transformar a nossa realidade e sociedade.

Muito obrigada pela companhia e nos vemos em uma nova viagem pelo
conhecimento!

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