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O presente trabalho discute o uso da língua materna em sala de aula de inglês como língua
estrangeira, sob a perspectiva da alternância linguística ou code-switching por parte de um
professor, ponderando-se sobre os possíveis motivos que levaram à ativação do fenômeno.
Para tal, são apresentados dados coletados em uma aula de inglês para alunos do quarto
semestre do Curso de Licenciatura em Letras Português-Inglês de uma universidade federal
no Rio Grande do Sul. Observa-se que a utilização da língua materna se mostra como de
grande importância para os processos de ensino e de aprendizagem de línguas estrangeiras.
1. Introdução
De acordo com Mozzillo (2006), a sala de aula de língua estrangeira coaduna diversos
sistemas linguísticos, tais como: a língua materna do professor e dos alunos, a qual pode não
ser a mesma, a língua alvo, e outras línguas que por acaso os membros da sala de aula venham
a conhecer.
Ainda segundo a autora, essa coexistência de diversas línguas pode ocorrer de diversas
maneiras, dentre elas, com o uso do code-switching, ou seja, a alternância linguística entre a
Língua Materna (LM) e a Língua Estrangeira (LE).
Entretanto, durante muito tempo (TANG, 2002), a LM foi banida das salas de aula de
língua estrangeira, colocada em segundo plano, ou evitada ao máximo. Isso ainda se dá por
várias razões, entre elas a crença de que usar a língua materna ao invés da estrangeira em
determinadas situações de ensino e aprendizagem significa necessariamente baixa
competência na língua alvo. No entanto, a alternância da LE para a LM também deve ser
considerada como um fenômeno natural, como um recurso pragmático acionado por
motivações e propósitos diversos, tanto em situação artificial como natural (Tang, 2002).
Nesse sentido, o presente artigo procura mostrar que a LM possui um papel relevante
na sala de aula de LE, demonstrando como o code-switching por parte do professor tem papel
importante no melhor entendimento dos alunos sobre o conteúdo ministrado. Pretende-se,
também, ampliar a discussão sobre o uso da LM como um recurso nas aulas de Inglês como
língua estrangeira.
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Respectivamente aluna e professora do Curso de Licenciatura em Letras Português, Inglês e Respectivas
Literaturas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), integrantes do Grupo de Pesquisa do CNPq “Línguas em
contato”, liderado pela Profa. Dra. Isabella Mozzillo.
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2. Um breve panorama do uso da LM na sala de aula de LE
De acordo com a teoria de Krashen de aquisição de segunda língua (1981 apud Tang,
2002), o processo de aquisição de uma LE segue o mesmo caminho do processo de aquisição
da LM e se dá por meio de interação. Ao considerar que o importante é o processo de
comunicação em si e não a forma, Krashen se refere à influência da primeira língua como um
indicador de baixa aquisição da língua alvo, devendo portanto ser eliminada ou, ao menos,
reduzida ao mínimo na sala de aula de LE.
Por outro lado, há métodos que propõem um vínculo entre a LM e a LE. Cook (2001)
faz referência ao “New Current Method”, que prevê a alternância de códigos pelo professor
em situações de ensino e de aprendizagem de vocabulário, de explicação de um ponto
importante do conteúdo, ou quando os alunos devem ser elogiados ou repreendidos.
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mostra habilidade linguística e um modo de o locutor se distanciar ou aproximar socialmente
de seu(s) interlocutor(es).
Cipriani (2001 apud Greggio & Gil 2007) observou em seu estudo que o code-
switching é usado pelo professor para esclarecer vocabulário e encorajar os alunos a falar em
inglês. Para Bergsleithner (2002 apud Greggio & Gil 2007), o code-switching é usado por
necessidade de uma melhor explicação dos tópicos gramaticais.
Greggio & Gil (2007) apontam como principais razões de utilização do code-switching
por parte dos professores a necessidade de esclarecer vocabulário, levar ao entendimento de
regras e estruturas gramaticais, aconselhar, chamar atenção para a pronúncia correta e criar
uma atmosfera de humor.
Nesta seção são apresentados e discutidos dados coletados em uma aula de inglês para
alunos do quarto semestre do Curso de Licenciatura em Letras Português-Inglês de uma
universidade federal no Rio Grande do Sul.
P: Do you know what GDP is? It’s the same as PIB – “Produto Interno Bruto”.
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P2: In Portuguese we can say "Eu me dou bem com Fulano" or "Eu me dou com
fulano". It is pretty much the same thing in English (quando estava explicando a expressão
"Get on (well) with somebody").
Os exemplos acima demonstram que P2 optou por usar a tradução como recurso para
ensinar algumas das expressões em língua inglesa que estavam sendo estudadas. Além da
possibilidade de economizar tempo de aula a ser mais bem aproveitado com outras atividades
que não a explicação das expressões em língua inglesa, a utilização das expressões
correspondentes em português certamente favoreceu a compreensão por parte dos alunos
P: Remember that next week is “Semana Acadêmica” and I’ll see you back … well,
after “Semana Acadêmica”.
Durante vários exercícios, após explicar vocabulário ou pedir que os alunos tentassem
explicar o sentido de palavras/expressões em língua inglesa, o professor também recorreu à
tradução, com o intuito de checar a compreensão.
Apesar de não ser recomendado pela maioria dos métodos, o code-switching se torna
importante para verificar a compreensão de determinados conceitos pelos alunos, pois, mesmo
após uma explicação detalhada na língua estrangeira e em associação a determinados
contextos, os alunos muitas vezes ainda apresentam dúvidas.
P: What is to threaten?
A: A promise?
(Silêncio)
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Vale observar que, apesar da explicação em inglês associada ao contexto em que o
verbo estava inserido, seu significado parecia não ter ficado totalmente claro para a maioria
dos alunos. Por isso, ao invés de recorrer mais uma vez à explicação em inglês, que talvez
nem fosse efetiva, o professor faz uso da língua materna, dando aos alunos um ponto de
referência e prosseguindo com a atividade, sem desperdiçar tempo de aula.
A1: “Contrabandista”.
A2: “Atravessador”?
P: “Atravessador” would not be right for this word. “Contrabandista” would be the
best.
Em um final de aula, o professor, que havia falado em inglês a maior parte da aula,
continua se dirigindo aos alunos na língua estrangeira. No entanto, ao receber uma pergunta
de um aluno em português, o professor faz a alternância para a língua materna em sua
resposta.
O professor poderia ter continuado sua fala na LE, respondendo a pergunta do aluno
em inglês, mas sua opção pela resposta na LM pode ter sido para estabelecer empatia com
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aluno, deixando-o à vontade para se manifestar, para interagir com ele. Ao continuar falando
em inglês, o professor talvez inibisse o aluno, até mesmo provocando inibição em
participações de sala de aula. Ao falar em português, o professor não somente esclarece a
dúvida do aluno, mas também evita a desnecessária imposição da língua inglesa na interação,
como se repreendesse o aluno por ter recorrido à LM. Ao usar a língua materna, o professor
está também estabelecendo um laço afetivo com o aluno, mostrando-se membro da mesma
comunidade universitária e linguística, além do que os planos de ensino são elaborados e
apresentados em língua portuguesa.
5. Considerações finais
Através dos dados apresentados, acreditamos ser possível observar que o fenômeno da
alternância linguística/code-switching na sala de aula de LE integra a LM aos processos de
ensino e de aprendizagem da língua inglesa, sem que isso acarrete qualquer tipo de prejuízo.
Por se tratar de uma aula de inglês como língua estrangeira em nível intermediário, na
qual se dá a devida importância à recepção e à produção na língua alvo, vimos que o uso da
língua materna ficou restrito a momentos que consideramos benéficos ao professor e aos
alunos.
Apesar de este artigo ser baseado na observação de apenas uma turma de inglês como
língua estrangeira, o valor comunicativo da LM nas interações professor/aluno(s) e seu papel
facilitador nos processos de ensino e de aprendizagem da LE não podem ser ignorados.
Vale salientar que ao nos posicionarmos favoráveis ao uso da língua materna na aula
de língua estrangeira, também porque a alternância linguística é um fenômeno natural em
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interações bilíngues, não deixamos de valorizar a máxima exposição e produção na língua
alvo nesse contexto.
6. Referências Bibliográficas
COOK, V. Using the first language in the classroom. Canadian Modern Language Review.
Vol. 57, n. 3, March 2001.
GREGGIO, S., GIL, G. Teacher’s and learners’ use of code switching in the English as a
foreign language classroom: a qualitative study. Linguagem & Ensino, v. 10, n. 2, jul./ dez.
2010, p. 371-393.
TANG, J. Using L1 in the English classroom. English Teacher Forum, 40, p. 36-43, 2002.