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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I

CURSO DE PSICOLOGIA

DIEGO CONCEIÇÃO MIRANDA

O QUARTO DE JACK SOB A PERSPECTIVA DOS PROCESSOS


PSICOLÓGICOS BÁSICOS (PERCEPÇÃO, MEMÓRIA E ATENÇÃO).

SALVADOR
2017
No Filme “O Quarto de Jack” de 2015, do diretor Lenny Abrahamson,
resumidamente, retrata a vida e de um garoto que nasceu dentro de um
cativeiro no qual ele chama de quarto. Junto com sua mãe, ele passa anos
vivendo dentro de uma cabana, privado quase que totalmente do mundo
exterior.

Contudo, sua mãe, por ter passado a maior parte de sua vida no lado de fora,
consegue criar o menino corretamente, ajudando com que ele desenvolva
perfeitamente todos os processos psicológicos. Dentre eles, memória, atenção
e percepção. Com exceção das sensibilidades sensoriais que o menino adquire
por conta da vida em cativeiro, ele cresce como uma criança normal.

PERCEPÇÃO

O Filme inicia com uma narração do garoto Jack acerca de sua concepção da
própria existência, com uma teoria de seu nascimento e da existência do
quarto, que possivelmente, sua mãe lhe contara quando houve os primeiros
questionamentos sobre a sua origem. O que sua mãe lhe contara – como
acontece com muitas mães que subestimam a inteligência dos filhos – é
bastante fantasioso e místico, pois, seguindo esta linha, é mais fácil de explicar
qualquer coisa.

Logo, é notório que sua percepção de mundo se torna bastante limitado ao


quarto e os objetos que o compõem. Percebe-se que no filme, Jack mantem
uma relação de afeto com vários elementos do quarto, tudo faz parte das suas
brincadeiras, todos os elementos são utilizados na sua imaginação. Isso de
certa forma lhe ajudou muito para que pudesse estimular sua imaginação.

Sua percepção tem como um importante fator estimulante o aparelho de


televisão, de onde ele obtém o maior numero de informações, de objetos e
seres, que o permitem fazer associações com ambiente na qual ele se
encontra, por exemplo, para saber se o que se passa na TV existe, Jack o
imagina dentro do quarto, se couber, é porque ele existe. Porem, de contrário,
ele não existe. Deste modo, o garoto exercita bastante sua percepção espacial.
Quando Jack sai do quarto, este é bombardeado com uma série de
informações sensoriais, principalmente visuais, já que no quarto pouca
estimulação lhe é feita, pois o quarto não é capacitado com janelas (apenas um
teto solar), iluminado por luzes artificiais incluindo a da televisão. Ao sair de um
quarto com pouquíssimas cores e formatos, Jack se encanta ao se desenrolar
do tapete e perceber o quão grande são as arvores e o mundo ao seu redor.

Por ter poucos sons no quarto, sua percepção auditiva também foi pouco
estimulada no quarto, fazendo com que, do lado de fora, o menino se
assustasse com latidos do cachorro, o bater da porta da viatura policial e até
mesmo com o tocar de um telefone no leito do hospital.

MEMÓRIA E ATENÇÃO

Percebe-se também no filme, que lhe faltam elementos no quarto para que se
estimulem seu desenvolvimento, por consequência disto, sua mãe lhe propõe
uma série de atividades físicas para que a criança possa ser estimulada, tanto
cognitivamente, quanto fisicamente. Porem, esta rotina lhe estimula pouco a
memória, já que todos os seus dias parecem ser extremamente iguais. Em
contra ponto disto, sua mãe cria a comemoração de datas especiais, como o
dia de seu aniversário, para que ao menos alguma vez, ele realize algumas
atividades diferentes para sair da rotina.

A rotina é tão recorrente, que qualquer elemento novo no quarto, lhe estimula a
atenção. Na cena do rato que invade o quarto, por exemplo, logo atrai
totalmente a atenção de Jack, lhe trazendo mais estímulos visuais e fazendo
sua atenção focar no componente novo. Em resumo, no quarto, Jack observa
as coisas ao seu redor com uma maior riqueza de detalhes, por conta da falta
de interferência na sua atenção, facilitando assim o foco no mínimo dos
objetos.

Ao longo do filme, a televisão se mostra bastante importante para a concepção,


reunião de informações e construção de conhecimento do garoto, é sua única
forma de contato – mesmo que para ele não exista – com o mundo exterior.
O aparelho televisivo estimula sua memória o fazendo lembrar-se de objetos
que passam nos programas televisivos, logo no inicio, ele faz associações de
personagens mitológicos da televisão, com a realidade dele. Comparando seu
cabelo ao de “sansão”, por exemplo, e ao fazer junto com sua mãe um bolo de
aniversário, que ele não o aceita por não ser totalmente semelhante ao da
televisão, já que em sua memória, ele teria visto apenas pela TV.

Antes de contar o plano de fuga para Jack, sua mãe experimenta desconstruir
as informações fantasiosas que ajudou o filho construir, lhe dando informações
novas e verídicas. Para que assim, Jack pudesse aumentar sua percepção de
mundo e concordasse em participar do plano. Por ser obrigado a revogar das
antigas memorias, o menino se irrita, porem, foca sua atenção nas informações
da mãe e a ajuda na saída do quarto.

Também, pode-se perceber com a saída, que Jack sofreu bastante


psicologicamente com a mudança de ambiente, ele percebe que aquele mundo
não está mais em seus braços, não faz mais parte das suas brincadeiras, do
seu mundo imaginário. Ele agora é obrigado a lidar com o ambiente real, o que
se torna mais chato e menos divertido, isso causa bastante interferência na
atenção de Jack, por conta do excesso de informações que o mundo exterior
exerce sobre ele, que volta e meia se pega mais distraído e desfocado.

Logo no inicio do filme, o diretor toma certo cuidado para dar-nos a impressão
de que o quarto não é tão pequeno assim. Filmando cenas bem focalizadas, da
até a entender que o quarto tem cômodos divididos e espaço entre eles. Tudo
isso para que possamos ter a mesma percepção que Jack tinha do quarto. Ao
perceber que o mundo externo não é mais o universo imaginário do quarto, o
garoto se vê obrigado a amadurecer, fazendo com que um desejo de retorno
ao quarto fosse nutrido. E ele volta para alimentar as velhas memórias junto
com sua mãe. Neste momento o diretor exibe o quarto como um todo e com
isso podemos perceber (junto com Jack) o quanto aquele espaço era pequeno
demais. E ele finalmente se despede daquele mundo cuja ele não cabe mais.

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