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FILME O QUARTO DE JACK: analise entre o filme e a teoria do apego

Por Vitória Poltronieri

Sinopse

“O Quarto de Jack” nos relata a história de uma jovem sequestrada e mantida


em cativeiro por sete anos e regularmente estuprada pelo seu abusador. Ela
fica grávida e dá à luz ao menino Jack. Os personagens são: Jack, que nasceu
no cativeiro, em um espaço que mede onze pés por onze, que divide com sua
mãe Joy; o velho Nick, o sequestrador, o elemento assustador, sendo dez anos
mais velho que a sequestrada, que já beira o fim de seus 20 anos. Apesar do
confinamento, Jack é educado por sua mãe através da leitura fornecida pelo
velho Nick (sequestrador). Eles possuem um fogão, comida, uma geladeira e
podem até mesmo assistir televisão. A mãe sempre explicou ao menino Jack
que o mundo dentro da televisão é imaginário. A realidade é única e
exclusivamente aquilo que lhe é palpável.

Relação do filme e teoria:

Escolhi esse filme pois ele possui diversos fatores que relacionam a
teoria com o passar do filme com a história de Joy, mostra a relação dela com
o filho Jack e como esse apego seguro com um mundo cheio de afeto e de
fantasia juntos, algo que sua mãe fornece a ele a fim de máscara a verdadeira
realidade cheia de abuso e tristeza. O Jack se mostrou uma forma de amor e
intimidade para a Joy, algo que desse uma perspectiva de vida a maternidade,
trouxe para ela uma reestruturação entre exploração e intimidade que
minimizou os impactos emocionais do encarceramento.

Afigura da mãe como um apego seguro uma proteção estabelecendo


uma relação de parceria mútua, carinho e cuidado, observados em cenas como
a que Joy amamenta o filho, acalentando-o em seu colo, confirmando uma
relação íntima e protetora entre eles, ou quando Jack a pede para cantar até
que ele durma, e ela o faz carinhosamente. Apesar do cárcere, a grande
preocupação da mãe é manter o filho feliz e seguro, e quanto a isso, a
mesma não mede esforços.

Evidenciados por uma catástrofe incapaz de se compreender, é Jack


quem conquista forças e consegue unificar o que restou de sua pequena
família. Justamente quem teria a maior empecilho em relacionar -se com a
liberdade foi quem obteve o maior proveito dela. Os papéis dos personagens
se revertem ao final do segundo ato, pois é Jack quem passa a cuidar de sua
mãe, a ajudando a manter a sanidade pois a mesma não consegue lidar com o
mundo.

Existem cenas em que a clausura e a frequência dos abusos sofridos,


desestabilizam Joy, e ela deixa de ser compreensiva as necessidades de Jack,
assumindo com ele posturas agressivas que o assusta. Isso abala a segurança
do vínculo entre ambos, e comportamentos de apego e de cuidado são
acionados por eles, afim de reaver a segurança perdida. Ao ver o filho
assustado e choroso (comportamento de apego), Joy aciona seu
comportamento de cuidado novamente, se desculpa mostrando
arrependimento genuíno e o abraça. Jack, por sua vez, é receptivo ao seu
carinho e aceita o pedido de desculpas, sentindo-se seguro novamente.

É explicito que Joy faz de tudo para que Jack tenha um apego seguro
que segundo Bowlby ele é um vínculo afetivo ou ligação entre um indivíduo e
seu cuidador principal, que responde suas necessidades com assertividade,
tornando esse indivíduo seguro e emocionalmente estruturado. Vimos que em
meio ao caos que joy vivia ela tentava sempre fazer de tudo para manter o seu
filho seguro, mesmo as vezes passando por algo ruim. Porém, havia nela um
esforço para continuar disponível para o filho. Por isso, a medida em que
percebe que a situação ficará insustentável para eles, Joy se motiva a construir
um novo plano de fuga, desta vez, tendo Jack como aliado.

Nas relações de apego seguro os cuidadores estão sensíveis aos


estados internos da criança, entendendo a real necessidade por trás de cada
comportamento. Esse tipo de relação torna a criança mais integrada, coerente
e segura, afinal a resposta recebida foi compatível com a necessidade
apresentada. A resposta do cuidador é assertiva e seu comportamento
previsível e consistente. No filme De acordo com a teoria do Apego, nossa
necessidade de segurança nos acompanha a todo momento e em todas as
fases da vida, estando relacionada ao que nos é conhecido e familiar. Ainda
que um contexto seja negativo ou até mesmo abusivo como o de Jack e sua
mãe, é onde ele se sente seguro. Portanto a descoberta de um mundo novo,
desconhecido, diferente e imprevisível, significa para ele uma grande ameaça.

Jack saí do quarto, como plano que sua mãe faz em que ele confia,
através seu território conhecido até então, diversos comportamentos de apego
são acionados enquanto permanece na viatura da polícia, tais como choro,
medo, desemparo e o chamar pela mãe. Joy quando libertada, aciona de
imediato um comportamento de cuidado, procurando desesperadamente pelo
filho. Ao vê-lo, abraça-o e se acalma para acalmá-lo. Jack então, demonstra o
quão perturbador tem sido a experiência de transição, e pede para que eles
sejam levados para cama, na verdade, a cama que para ele era segura e
aconchegante até então: a do quarto.

O modelo operativo interno de Jack o leva a confiar em si próprio, o que


o habilita a sentir-se capaz de lidar com os desafios que a nova vida lhe
apresenta. O leva ter uma visão positiva do mundo e confiar nas pessoas, o
que aos poucos vai permitindo com que ele amplie sua rede interpessoal, que
até então, era restrita apenas a sua mãe. Jack consegue reconhecer no amigo
da família, em sua avó e no terapeuta, pessoas confiáveis e que podem lhe
ajudar. Esta transição se torna possível devido ao seu estilo de apego seguro
que o permite ampliar repertórios.

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