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UNIVERSIDADE PAULISTA

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

CAMPUS MARQUÊS

CAIO CÉSAR DA SILVA BRITO – N305657

GABRIEL DE MACEDO FERREIRA ALMEIDA – D79BEJ9

KIMBERLY DA CONCEIÇÃO ROMANIN – N362FC0

MARCOS ANTONIO DO NASCIMENTO – D81CGH4

NATHANY DE PAULA MARTINS – D843GC2

ANÁLISE DO FILME: CASO 39

São Paulo

2020
CAIO CÉSAR DA SILVA BRITO – N305657

GABRIEL DE MACEDO FERREIRA ALMEIDA – D79BEJ9

KIMBERLY DA CONCEIÇÃO ROMANIN – N362FC0

MARCOS ANTONIO DO NASCIMENTO – D81CGH4

NATHANY DE PAULA MARTINS – D843GC2

ANÁLISE DO FILME: CASO 39

São Paulo

2020
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SUMÁRIO

ANÁLISE DO FILME: CASO 39 ................................................................................. 4

Fantasia e Projeção: O amor e o objeto. .............................................................. 4

Projeção e Fantasia: Medo e desejo..................................................................... 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 8

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 10
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ANÁLISE DO FILME: CASO 39

O presente texto propõe uma análise do filme Caso 39 (2009) que conta a
história de uma assistente social Emily (Renée Zellweger) que encontra uma criança
que quase foi morta pelos pais Lily (Jordelle Ferland), com isso acaba cuidando dela
até que possa encontrar uma nova família, contudo as relações com a criança acabam
criando situações terríveis, onde todos que entram em contato com ela acabam
sofrendo acidentes. O filme é um terror psicológico e apresenta o elemento clássico
da “criança demoníaca” onde, a partir de uma suposta inocência, acaba produzindo
efeitos malévolos naqueles que se aproximam desta. Esse modelo clássico dos filmes
de terror é o centro de toda a película, sendo particularmente regular na sua execução
sem nenhum tipo de reviravolta. A chave de interpretação do filme serão os conceitos
da Psicanalista Melanie Klein de Fantasia e Projeção. Para uma melhor compreensão
utilizamos duas cenas especificas do filme que podem ser explicadas pela teoria
kleiniana.

Fantasia e Projeção: O amor e o objeto.

A primeira infância foi o local de principal atuação das teorias de Melanie Klein,
a complexidade e multiplicidade de emoções que a criança tem durante seus primeiros
dias até sua fase adolescente, com suas riquezas e suas angústias, a infância é
carregada de momentos que definirão muito do que podemos ser como adultos. Um
dos conceitos a ser utilizado é o conceito de fantasia, que pode ser definido como a
atividade mental que a criança utiliza para representar seus sentimentos ou
necessidade, a fantasia é pressuposto dos sentimentos posteriores, como medo,
amor, desejos, todos esses acontecem primeiro na fantasia, que domina a mente no
momento (KLEIN, 1991, p. 285) A fantasia vai existir durante todo o desenvolvimento
da criança, elas são inconsciente, diferentes dos devaneios, e são essenciais para a
vida mental. O segundo conceito a ser utilizado é o conceito de Projeção, que é
acompanhado do conceito de Introjeção, é a capacidade da criança de atribuir a outros
sentimentos diversos, principalmente amor e ódio.

A cena escolhida para essa primeira interpretação consiste no momento em


que Emily (Renée Zellweger) começa a desconfiar de Lily (Jodelle Ferland). Na cena
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(00:49,33-00:50,46) Emily desconfia que Lily tem algo a ver com a situação mental
dos pais dela e do acidente envolvendo outra criança do mesmo abrigo. Vemos que a
criança apresenta sua fantasia, pois ela projeta o amor que havia perdidos dos pais
em Emily e ao perceber que começava a perder a confiança da "mãe adotiva" elaborou
um plano para eliminar as pessoas que haviam deixado com fama de mentirosa, por
ser um thriller de horror o que seria uma elemento inconsciente de agressividade
diante do seio mau acaba se apresentando de forma consciente com o “demônio” que
a criança possui internamente e que se externa nessa condição como um
potencializador dos medos de seus alvos. Em outra cena (00:45,30-00:49,30) onde o
Psicólogo Douglas (Bradley Cooper) que tinha uma relação íntima com Emily, tenta
conversar com Lily, acaba sendo ameaçado não diretamente pela garota, que, nas
cenas seguintes, projeta a morte dele. Em ambas as cenas vemos a fantasia da
criança sendo aplicada de forma não inconsciente, mas, como todo filme de terror,
sendo projetada na realidade, a criança incapaz de lidar com o amor e o ódio que
sente pela mãe adotiva tenta controla-la de forma a possui-la de forma total, em um
misto de agressividade e controle diante dos invasores que tentam despossui-la de
seu objeto de amor. Lily se vê em um conflito de amor e ódio quando percebe o medo
e desconfiança de Emily, gerando Fantasias de perda.

É importante perceber como o elemento que seria inconsciente e produziria


as condições do sujeito da criança, isso é, como o ego desta lidaria com essas
questões a partir das pressões entre o super eu e do id são manifestas de forma literal.
Lily que é a “criança demônio” representa essa agressividade sem controle,
dominadora, opressiva, de puro terror. E os adultos são atingidos de forma a trazer à
tona seus medos inconscientes de forma alucinógena, isso é, como uma forma de
psicose. É interessante notar que não se procura as raízes do medo, na sua condição
do conflito infantil, seja nos marimbondos do psicólogo Douglas ou no medo da mãe
de Emily, ambas essas questões não são tratadas na sua origem, no trauma
inconsciente, mas se apresentam a partir da projeção da criança neles que aciona o
inconsciente destes. Como Klein (1991, p. 198) coloca:

Além do alívio que a projeção proporciona por possibilitar que os


estímulos pulsionais internos sejam tratados como se fossem
externos, o deslocamento da ansiedade relativa aos perigos internos
para o mundo externo proporciona vantagens extras.
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Para Lily a projeção externalizada dessa pulsão interna, permite que ela
controle seu objeto de amor (Emily) e permite que os competidores pelo amor da mãe
(Douglas) sejam, literalmente, eliminados.

Projeção e Fantasia: Medo e desejo.

A segunda cena que será utilizada para exemplificar é a cena final (01:29,33
– 01:45,10). A cena inicia com a projeção de Lily em Emily que reage de forma a
regredir a um medo infantilizado. Onde acaba se trancando no seu quarto reagindo a
expressão de agressividade da criança. Após tentar matar a criança com fogo,
queimando sua própria casa, Emily se vê obrigada a levar a criança para um outro
lugar, pois ela sobrevive ao ataque. No meio do caminho Emily que sofre o “ataque”
projetado de Lily acaba superando seu medo infantil da mãe, invertendo os papéis e
trazendo a criança não mais presa ao seu prazer agressivo, mas diante da realidade,
o que culmina em uma resolução catártica onde Emily joga o carro no rio e afoga Lily
e seu “demônio”, sublimando o seu medo pela mãe e expandindo seu ego frente aos
ataques do inconsciente representado pela “criança demônio”.

A cena final pode ser representada como o embate inconsciente de Emily


frente ao medo da mãe. Anteriormente apresentada como uma pessoa difícil e
autoritária, um super eu. Esse medo produz em Emily a sua insegurança e sua
necessidade de ajudar crianças, como uma forma de compensar ou projetar seu
desejo por segurança e afeto, já que não pode ter quando criança se coloca como
uma substituta materna para outras crianças. No momento em que se sente
ameaçada de forma clara pela criança vemos a regressão ao medo infantil,
procurando abrigo de uma forma fantasiosa, se prendendo dentro do próprio quarto,
correndo para debaixo da cama, como uma criança com medo faria, fugindo de seu
bicho papão. A forma de escape é aceitar a agressividade mostrada pela criança e
diante da aceitação desse elemento agressivo, castrador dar vazão ao desejo de
morte da mãe que Emily possuía, agora focado na criança, que representa esse super
eu, esse elemento castrador do prazer. Klein (1991, p. 200) apresenta essa relação
entre o mundo da fantasia, da ordem do desejo, e a realidade como uma negociação
não muito tranquila na mente da criança:
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Além de tudo isso, a criança tem que enfrentar a diferença entre as


exigências do seu superego e as exigências dos seus objetos reais,
com o resultado de que está constantemente oscilando entre os
objetos introjetados e os reais — entre o seu mundo de fantasia e o
seu mundo de realidade.

Emily deseja o amor da mãe, e recebe a autoridade, quer o afeto da criança


e recebe a agressividade, nesse momento revive seu trauma e refaz a história,
contudo, não mais como elemento passivo, mas dando vazão ao seu desejo
representado pelo fogo colocado em sua casa. Emily reconstrói sua história destruindo
aquilo que seria o seu porto seguro, sua casa. Superar as exigências de um super eu
constantemente exigente, autoritário, produz um desejo de proporções grandiosas,
queimar a própria casa e consequentemente a criança representante do seu medo
infantil da mãe. Podemos também interpretar o fogo como o desejo sexual frustrado
de Emily voltado para a agressividade perante o impedimento de satisfaze-lo devido
a morte de Douglas, por causa da criança, ou dessa mãe “rediviva”. No entanto como
todo desejo ele pode também ser frustrado, e necessita ser trabalhado para que possa
ser ouvido novamente, e então sustentado.

O que acontece é que a criança sobrevive, e Emily novamente se vê diante


da frustração. Seu desejo é frustrado. A sua fantasia não consegue lidar com a
realidade e é extirpada da realidade. Agora novamente frente ao seu super eu,
representado pela criança, acaba sendo colocada frente a frente com seu medo mais
infantil, primário, o medo de sua mãe. No carro vemos a luta do ego de Emily diante
de seu medo e os mecanismos que ela utiliza para se livrar dessa fantasia infantil
carregada de culpa diante da condição de uma mãe incapaz de dar afeto e não qual
Emily não se sente merecedora. A cena se molda dentro de um carro, onde Emily
constantemente se vê trocando de posições como a criança com medo e a mãe
acelerando o carro. A fantasia revive seu medo, seu trauma diante do medo da mãe
e do desejo de matá-la, o carro representando o controle da própria vida, dirigida pela
mãe, onde ela está no banco de trás como expectadora da realidade mediada pela
mãe. Emily revive momentos traumáticos de sua infância, conforme podemos
entender:

Sentir falta da pessoa amada ou por quem se anseia, vivenciar uma


perda de amor ou de um objeto como sendo um perigo, ficar assustado
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por estar sozinho no escuro ou com uma pessoa desconhecida —


todas essas coisas são, vim a descobrir, formas modificadas de
situações de ansiedade arcaicas, isto é, do medo que a criança
pequena tem de objetos perigosos internalizados e externos. (KLEIN,
1991, p. 198)

A cena se desenrola como um processo de reorganização do ego de Emily,


esse, profundamente assaltado pelos desejos do inconsciente e pelas demandas do
super eu materno, produziu mecanismos de defesa que impediam o desejo dela e
impediam o controle da própria vida, nesse momento ela supera as fantasias infantis
de agressão da mãe, trazendo a realidade da sua condição de adulta frente aos medos
infantis. Superando o medo da mãe ela inverte a posição com Lily, quem está com
medo agora é a criança, que reassume seu papel de elo frágil, e Emily controlando o
carro, ou sua vida, ruma em direção ao rio/oceano onde precipita o carro. O oceano
como figura representativa do inconsciente traz o sabido novamente para o não saber,
não mais como repressão, mas como voluntário frente as novas habilidades do ego
que permitiu adicionar esses elementos no sujeito de Emily. A tentativa do “demônio”
de ainda segura-la de forma a afundar com ele podem ser entendidas como a
resistência ainda latente frente ao medo, que é superada com o impulso dela para a
superfície, aquilo que era inconsciente é trazido a tona para ser reelaborado,
retornando o controle da sua vida e a aceitação de si mesmo e de seus desejos: “O
ego, portanto, em concordância com o superego estabelece um novo objetivo. Ele tem
que abdicar dos objetos originais do seu amor.” (KLEIN, 1991, p. 200)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A psicanálise historicamente pode ser utilizada de forma a compreender os


elementos culturais, suas manifestações e desvelamento destes pela mente humana.
Desde seu fundador, Freud, com textos sobre Leonardo da Vinci, ou sobre esculturas
como o Moisés de Michelangelo, ou como Moisés e o monoteísmo, Totem e tabu e
outros, permitem reinterpretar a arte de forma a mostrar as características e
representações da mente humana, seus desejos e seu inconsciente. Nesse utilizamos
das teorias Kleinianas de Fantasia e Projeção para desvendar modos de
representação que aparecem no filme Caso 39 (2009). Diante de processos como a
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fantasia do controle da mãe como objeto e a projeção de desejos agressivos e


violentos apresentados pela “criança demônio” Lily ou pelas fantasias de morte da
mãe e desejos sexuais frustrados de Emily, o filme apresenta de forma simbólica
processos que nascem na infância e que são carregados durante a vida e como eles
podem ser reorganizados frente as exigências da realidade. A ficção permite que
possamos nos identificar com elementos muitas vezes desconhecidos da nossa
psiquê.
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BIBLIOGRAFIA

KLEIN, Melanie. Inveja e Gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Rio de


Janeiro: Imago Editora, 1991.

CASO 39. Direção Christian Alvart. Estados Unidos & Canadá. 2009. 109
minutos.

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