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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID)

NÚCLEO FILOSOFIA/SOCIOLOGIA

RELATÓRIO
OFICINA XXXXXXXX

Erick Andrei Barbosa

Gabriela Soares da Rosa

Rafael Gonçalves da Silveira


SUMÁRIO

1. Introdução

2. Objetivos

3. Metodologia

4. Desenvolvimento

5. Análise dos resultados

6. Conclusão

ANEXOS (se houver)

* Colocar cada item em uma nova página

** Na parte “ANEXOS” podem ser colocados os matérias


utilizados/produzidos; links, etc.
1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho consiste em um relato da experiência de ensino do grupo de


filosofia do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), que atua no
Colégio Municipal Pelotense. Através da atividade do projeto, nosso grupo buscou
apresentar uma discussão sobre a democracia para alunos do 2º ano do ensino médio
da referida escola, por meio do referencial teórico de Habermas e a escola de Frankfurt,
e através do uso do RPG como ferramenta para fixar conteúdos e possibilitar uma
reflexão crítica.
Através da experiência foi possível apresentar de forma clara e coesa para com os
alunos as teoria de Habermas através, inicialmente, de um primeiro contato via
postagem do material, seguido de uma explanação sobre os principais tópicos das
teorias a serem discutidas durante o RPG, após o momento de explanações os alunos
foram instruídos a assistir o RPG pelo youtube, em momento final os alunos
responderam um pequeno questionário via google docs.
Em seguida, após alguns dias como período para os alunos responderem o
questionário, houve a análise e interpretação dos dados obtidos a fim de saber quanto
do conteúdo os discentes haviam aprendido e receber um feedback geral sobre o
método proposto para a aula.
A atividade foi elaborada através do pensamento do autor da escola de Frankfurt,
Horkheimer, cujo mesmo faz uma crítica à razão, concebendo-a como uma razão
instrumental, pois ocorre uma separação da razão objetiva do mundo e a subjetividade.
Neste discernimento fomenta sua crítica ao iluminismo e toda tradição que defende a
supremacia da razão e um otimismo no poder da racionalidade. A razão, descolada da
realidade, passa a ser instrumento para a dominação. Desta perspectiva decorre todo
um pessimismo quanto a possibilidade de melhorar a sociedade através da democracia.
Porém Habermas entra nessa discussão concebendo outro tipo de racionalidade,
retomando seu uso por meio da linguagem como condição para o diálogo e
consequentemente, ampliar e melhorar a democracia.
A linguagem passa a ser essencial para a manifestação da racionalidade e a
possibilidade de um agir comunicativo, o que estabelece novas perspectivas para a
democracia. Habermas defende uma “razão comunicativa”, que é oposta à "razão
instrumental”, e indica uma oposição entre o “agir comunicativo” e o “agir instrumental”.
Para o autor somos seres de ação e comunicação, que utilizamos a linguagem para nos
comunicarmos uns com os outros. A linguagem está presente em toda comunicação
humana, sendo a base para a “razão comunicativa”. Habermas vai aplicar esses
conceitos para compreender a nossa democracia. Considera que para obter legitimidade
política deve-se ter a participação racional de todos os indivíduos interessados ou
afetados pelas situações políticas. Deste “agir comunicativo”, Habermas sugere uma
outra forma de democracia: a “democracia deliberativa”. Nesta “democracia
deliberativa”, que parte da ideia de deliberação, as pessoas interagem através da
linguagem, se organizam em sociedade e buscam o consenso. Da noção de democracia
deliberativa surge o conceito de “Esfera Pública”, que representa os diversos espaços
de discussão dentro de uma democracia. Partindo desta discussão, buscamos retomar
esses conceitos para os alunos de modo a possibilitar um questionamento sobre nossa
realidade. Para isso, o uso do RPG como metodologia foi essencial.
2. OBJETIVOS

Durante a pesquisa para a elaboração do presente trabalho deduziu-se que era de


extrema importância apontar objetivos gerais e específicos, para assim possibilitar uma
construção certeira e menos dificultosa do trabalho.
Parafraseando Tonet (2005, p.222), a atividade educativa tem como finalidade:

Proporcionar ao indivíduo a apropriação de conhecimentos, habilidades,


valores, comportamentos, etc., que se constituem em patrimônio acumulado e
decantado ao longo da História da humanidade. Neste sentido, contribui para
que o indivíduo se construa como membro do gênero humano e se torne apto a
reagir diante do novo de um modo que seja favorável à reprodução do ser
social na forma em que ele se apresenta num determinado momento histórico.

Seguindo estas ideias de Tonet, nosso propósito geral foi que o aluno pudesse
compreender-se em sua realidade política como um sujeito histórico ativo, desenvolvendo
uma visão crítica em relação ao mundo que o rodeia, sua realidade social e sua condição
enquanto indivíduo/cidadão, agente transformador e construtor do processo
histórico/cultural.
O objetivo buscado foi o de mediar de forma acessível o pensamento do autor
Jürgen Habermas da Escola de Frankfurt, bem como uma reflexão acerca do contexto
democrático contemporâneo, através de um jogo de RPG. Para atingir este fim, foram
definidos objetivos específicos, sendo eles, a elaboração de um RPG simples e divertido
para os alunos, deixar claro alguns conceitos do autor através dos vídeos e dos textos
explicativos, como esfera pública, agir comunicativo, democracia deliberativa, a produção
de um vídeo guia do RPG para que os alunos detenham mais imersão para com o mesmo e
a elaboração de perguntas de fixação e reflexão para avaliar, ainda que subjetivamente, o
nível de aprendizado dos alunos.
Para tornar estes objetivos realidade tais tarefas foram divididas, entre os autores do
presente trabalho de forma que todos executassem a tarefa com maior familiaridade a ele,
além de todos comprometerem-se em aprender os principais tópicos da teoria de Jürgen
Habermas e auxiliar nas tarefas mais trabalhosas. Assim, após meses de elaboração, todos
os objetivos foram atingidos.
3. METODOLOGIA

O trabalho foi realizado de forma online, desde o planejamento até a execução das
atividades com os alunos. Inicialmente foi discutido qual seria o tema do trabalho entre
os bolsistas integrantes da atividade e com sugestões dos professores orientadores,
Marcus, Pedro e Ubiratã. O assunto geral escolhido foi política, especificamente sobre a
democracia a partir da visão e conceitos de Habermas da Escola de Frankfurt. Para abrir
os trabalhos, o grupo fez pesquisas para compreensão e aprofundamento dos
conteúdos, ressalta-se o estudo do contexto histórico contemporâneo após Segunda
Guerra Mundial, o pensamento geral da Escola de Frankfurt com os principais conceitos
da Teoria Crítica e a proposta de Habermas com a Democracia Deliberativa. No decorrer
dos estudos e reuniões entre os membros do projeto, surgiu a ideia de produzir-se um
jogo de RPG como metodologia para aplicação da atividade com os alunos do segundo
ano do Ensino Médio da Escola Pelotense.

Tendo previamente apropriado os conhecimentos entre os participantes do grupo e


feito o mapa conceitual com os principais tópicos escolhidos que seriam explicados e
exemplificados na atividade, foi iniciado a redação de um texto introdutório aos
conteúdos, que foi disponibilizado no início da atividade. Além do texto, também foi
produzido uma breve vídeo aula expositiva sobre o tema, com duração de 15 minutos.
Essas etapas são primordiais, uma vez que não se dão através de mera cópia e sim de
uma transposição didática do domínio científico, produto da racionalidade humana, para
o conteúdo a ser transmitido aos alunos secundaristas. Os conhecimentos científicos
foram adaptados ao ambiente educativo escolar, através da escolha dos assuntos e da
linguagem acessível, baseando-se na possível compreensão dos alunos acerca do
mundo e sociedade que os cerca, bem como a formação de senso crítico para atuação
na mesma, respeitando-os como sujeitos históricos ativos.

Após discussões sobre qual atividade poderia ser proposta, os participantes


entraram em consenso para criação de um jogo de RPG como principal atividade
metodológica. Iniciou-se então, a redação de um texto, uma narrativa em forma de um
jogo de RPG. Neste, a ideia é retratar os assuntos das áreas da filosofia e sociologia,
como a questão de razão instrumental, esfera pública, democracia deliberativa, agir
comunicativo, a fim dos alunos poderem vivenciá-los de forma lúdica e relacioná-los no
mundo político cotidiano.
Segundo Cardozo (2018) o RPG é uma narração representativa e interativa que
exercita a oralidade e a imaginação. O RPG ou “Role Playing Game”, é um jogo de
interpretação ou faz de conta, onde “os jogadores criam uma aventura de maneira
coletiva. Um jogador faz o papel de Mestre do Jogo, ele narra a aventura vivida pelos
personagens que são interpretados pelos demais jogadores.” (TOLEDO, 2014).
A história foi elaborada através de uma mistura de ficção e realidade e se passa
numa escola imersa em uma forte situação de opressão. Conta com personagens de
diferentes raças, onde os seres humanos, elfos e curupiras são dominados e
humilhados pelos ogros. No decorrer do jogo acontecem circunstâncias de evidente
superioridade dos ogros a nível escolar e social, por meio de gestos, falas e valorização
de suas habilidades físicas, enquanto os outros se organizam e dialogam para refletir
sobre essas condições na escola.
De acordo com Compiani (1991, p.22) o uso do trabalho de campo, interação
entre teoria e prática, gera afetividade, motivação na aprendizagem e que
[...] trabalhos de campo orientados aumentam a habilidade de
compreensão, aplicação, análise e síntese dos alunos, porque ocorre uma
maior interação entre afetividade, motivação e aspectos cognitivos dos
estudantes para a aprendizagem.

O objetivo de adotar o RPG como metodologia é capacitar uma melhor absorção


dos conceitos previamente explicados, sendo que as situações da narrativa do jogo se
entrelaçam com os conceitos da Escola de Frankfurt, como a democracia, deliberação,
consenso e razão instrumental, através da superioridade dos ogros em relação às
demais raças e a necessidade de debate pautado no respeito. A condição de
inferioridade e humilhação dos elfos, humanos e curupiras tem o intuito de gerar
comoção, senso de justiça e empatia aos jogadores.
No retorno com a segunda atividade foi realizado mais uma vídeo aula expositiva e
um texto explicativo, focados explicitamente nos pontos que não haviam ficado bem
esclarecidos em relação aos conceitos do conteúdo. Apesar da ideia central do trabalho
ter ficado clara na primeira atividade, sentiu-se a necessidade de aprofundar e explicar
novamente as diferenças dos conceitos de Habermas com a democracia deliberativa e
da Escola de Frankfurt com a razão instrumental de acordo com o retorno dos alunos.
Em ambas as atividades houveram questões de fixação e reflexão, de múltipla escolha e
também dissertativas, através de formulários do Google para avaliar o entendimento dos
alunos e o êxito da proposta metodológica.
4. DESENVOLVIMENTO

Nosso objetivo na atividade proposta no PIBID, aplicada à disciplina de


filosofia do colégio Municipal Pelotense era refletir sobre a democracia e pensar
novas possibilidades para a crise atual, frente ao pessimismo contra o poder da
razão e dos processos democráticos. Assim, partimos do referencial teórico de
Jürgen Habermas para pensar novas possibilidades e instigar os alunos a refletir
sobre esses temas. Pensar uma possibilidade do bom uso da razão, tão
negligenciado no atual contexto, bem como potencializar a democracia por meio da
participação de todos, inclui também buscar analisar o papel da razão na história da
filosofia. Para compreender a proposta de Habermas é necessário compreender a
escola de Frankfurt da qual ele fez parte bem como o modo como ele se opôs à
concepção de razão destes intelectuais.

A escola de Frankfurt teve início a partir da reunião de intelectuais no Instituto


de Pesquisas Sociais (Institut für Sozialforschung), da Universidade de Frankfurt.
Este instituto tem importância seminal para essa geração de intelectuais que vão
discutir as bases da razão iluminista e colocar sob suspeita os pressupostos da
democracia liberal:

O Instituto seria o ponto de convergência de um grupo de pensadores


nascidos na virada do século XIX para o XX, basilarmente formado por
Theodor W. Adorno (1903-1969), Max Horkheimer (1895-1973), Erich Fromm
(1900-1980) e Herbert Marcuse (1898-1979). Além deles, outros intelectuais
viram suas obras serem ligadas posteriormente à Escola de Frankfurt,
como Walter Benjamin (1892-1940) e Siegfried Kracauer (1889-1966).
(MOGENDORFF, 2012, p. 152).

Destes intelectuais destacamos as obras de Theodor Adorno e Max


Horkheimer. Embora Adorno e Horkheimer tenham se tornado famosos pela obra
Crítica da razão dialética, já em sua obra Eclipse da razão, Horkheimer fazia criticas
a razão instrumental. Ele via com certo pessimismo a possibilidade de revolucionar
a sociedade como um todo, considerando a realidade da sociedade tender para a
barbárie, conforme os exemplos reais do nazismo, segunda guerra mundial, e o
stalinismo.
Desde a década de 1930 Horkheimer procura desenvolver uma “lógica
dialética” a partir do materialismo de Marx. Nesse contexto o autor considera o
caráter idealista das filosofias da consciência, do racionalismo cartesiano e do
empirismo inglês, indicando que tais teorias “estão em grande parte opostas ao
materialismo” (HORKHEIMER, 2006a, p. 100). Conforme Silva,é somente a partir de
1937 com o ensaio “Teoria Tradicional e Teoria Crítica” que Horkheimer vai usar
“pela primeira vez o termo ‘Teoria Crítica’ para refererir-se à sua própria teoria”
(SILVA, 2015, p. 20). Ainda que somente forte influência marxista, o filósofo alemão
já opera em seus primeiros escritos uma crítica à racionalidade moderna, sobretudo
ao que entende por idealismo, bem como as pretensões de verdade da ciência.
Horkeimer utiliza a crítica marxista para apontar a ciência como uma perspectiva de
classe, que estaria sempre limitada por aspectos ideológicos. Contudo, cabe
destacar que ele não deixa de reconhecer os limites do economicismo materialista
de Marx e tenta fazer um uso provisório dos seus conceitos.

Em O fim da razão o autor identifica o modo como a “razão” seria um


princípio que orientaria as ações dos indivíduos na história da civilização. Além
disso, o conceito de razão seria central para a filosofia, uma vez que dele deriavam
as noções de liberdade, justiça e verdade. Porém, na história da filosofia já seria
possível observar a tentativa de esvaziar a razão do seu conteúdo, sobretudo em
movimentos do ceticismo filosófico. Esse aspecto do esvaziamento da razão na
filosofia teria consequências práticas, fazendo como que ela fosse tomada com fins
meramente instrumental. É através de uma ideia de eficiência que relaciona meios
e fins que se consumaria a transformação da razão em “instrumental”. Conforme
Horkheimer:

O ser humano pode satisfazer suas necessidades naturais somente


por meio de instâncias sociais. A utilidade é uma categoria social
e a razão segue-a em todas as fases da sociedade de classes;
por meio da razão o indivíduo se afirma nessa sociedade ou se
adapta a ela, de forma a seguir seu caminho. Ela induz o indivíduo a
subordinar-se à sociedade sempre que ele não seja forte o suficiente
para transformá-la em seu próprio interesse. (HORKHEIMER, 1941,
p. 366).

Para o autor, esse vínculo “tão estreito entre razão e eficiência”, que
podemos observar na citação acima, “na verdade sempre existiu” (HORKHEIMER,
1941, p. 366). Nesse sentido, as estruturas sociais serviriam para os indivíduos
satisfazerem suas necessidades e isso ocorreria sempre mediado pela razão. Deste
modo, a instrumentalização da razão está relacionada diretamente a perspectiva da
utilidade e da eficiência.

A partir de Eclipse da razão que o autor estabelece uma diferenciação entre


razão subjetiva e objetiva. Por razão subjetiva o filósofo compreende uma
“faculdade de classificação, inferência e dedução, não importando qual o conteúdo
específico dessas ações” (HORKHEIMER, 2002, p. 13). Nesse sentido, aqui a razão
instrumentalização passa a servir o indivíduo não apenas para determinar fins
visando a eficiência, mas direciona a ação individual para a realização dos seus
objetivos, em benefício do próprio indivíduo. Por outro lado, a razão objetiva
comporta as características que tornaram a filosofia possível, estabelecendo uma
conexão com a totalidade. Tal razão é objetiva pois afirma a si mesma “não só como
força da mente individual, mas também do mundo objetivo: nas relações entre os
seres humanos e entre classes sociais, nas instituições sociais, e na natureza e
suas manifestações” (HORKHEIMER, 2002, p. 13). Ainda, para o autor tal conceito
de razão “jamais exclui a razão subjetiva” (idem), mas a considera como uma parte
limitada de uma racionalidade que é universal. De certo modo, a razão objetiva,
com um aspecto totalizante, buscaria os fins, seja a ideia de bem supremo tal como
na filosofia de Platão na Grécia, ou Deus em boa parte da filosofia medieval e em
determinadas religiões. Ou seja, a razão objetiva procura uma base ética e ao
mesmo tempo política por organizar uma sociedade. A razão subjetiva, com
particularidade da razão objetiva, busca organizar as ações para alcançar os fins
propostos pela primeira.

No processo histórico a razão objetiva vai perdendo espaço, ou seja, cada


vez mais seria difícil defender uma objetividade da razão e da estrutural social e
humana. Aos poucos a razão subjetiva passa a ter independência, pois ao perder
seu conteúdo objetivo, a razão passa a ser formalizada, sendo sua objetividade
considerada como ilusória. O aspecto totalizante que antes estava presente na
razão objetiva agora é visível na religião, e a razão subjetiva passa ser apenas uma
categoria, que não substitui a religião, mas de acordo com um relativismo vigente,
ocupa espaço ao lado de outras religiões e filosofias. Porém, quando os iluministas
“atacaram a religião em nome da razão” o que ocorreu foi que “afinal o que eles
mataram não foi a Igreja, mas a metafísica e o próprio conceito de razão objetiva, a
fonte de poder de todos os seus esforços” (HORKHEIMER, 2002, p. 26). A crítica do
autor vai na direção do positivismo e ao pragmatismo, no sentido de que ambas as
teorias utilizam o aspecto formalista da razão, sem conteúdo objetivo mas
instrumental. Para Horkheimer “ a razão tornou-se algo inteiramente aproveitado no
processo social. Seu valor operacional, seu papel no domínio dos homens e da
natureza tornou-se o único critério para avalia-la.” (HORKHEIMER, 2002, p. 29). De
todo modo, os fins para a conservação dos indivíduos e seu desenvolvimento estão
ligados a razão objetiva, que determina tais fins. Desconectada da razão objetiva, a
razão subjetiva não consegue determinar exatamente tais fins, e na sua
instrumentalização prática pode mesmo tornar-se irracional. A razão subjetiva e
instrumentalizada torna-se assim um objeto “manipulável”, ou seja, é por isso que
no “avanço do iluminismo tende a reverter, até certo ponto, para a superstição e a
paranoia” (HORKHEIMER, 2002, p. 38). Trata-se do processo de esvaziamento da
razão de modo a torná-la uma mitologia, tal como o autor coloca junto com Adorno
em Dialética do Esclarecimento.

Por fim, junto com Adorno ele indica que “a dominação na esfera do conceito
eleva-se fundamentada na dominação do real” ( ADORDNO & HORKHEIMER,
2006, p. 25). Ou seja, a partir de uma perspectiva instrumental o homem ressignifica
sua relação com a natureza, partindo do conceito ao real. Deste arcabouço
conceitual, os autores compreendem com certo pessimismo a realidade social,
claramente pelos acontecimentos daquele período. A razão instrumental se
expressaria na construção de armas, bombas atômicas, experimentos com seres
humanos, enfim, opressão dos indivíduos pelos próprios indivíduos, sem um limite
ou uma conexão objetiva que antes fundamentava uma razão universal.

É neste contexto, de descrédito das instituições, que na análise dos autores


da Escola de Frankfurt, sobretudo Horkheimer, servem para expressar ação de uma
razão instrumental, que Habermas por sua vez vai se colocar em oposição. Como
Habermas temos a possibilidade de superação da visão pessimista sobre a
modernidade e pensar novamente as instituições a partir do sujeito humano. A
razão assume outra significação, não ficando na análise instrumental, ou com
caráter de ações instrumentais. Habermas pensa a razão a partir da linguagem.
Assim, a partir desta razão comunicativa, o autor procura indicar uma nova forma de
racionalidade que permite aos indivíduos agirem em sociedade e obter o consenso.
A razão tem uma valoração extremamente positiva para pensar a sociedade, bem
como os rumos da democracia.

Retomando elementos da obra de Kant sobre o esclarecimento, Habermas


também conclui que o projeto da modernidade ainda não está encerrado, nem
fracassado como indicaram Adorno e Horkheimer. Porém, em vez de centrar o
projeto de um esclarecimento no homem, agora seria necessário pensar através da
linguagem, ou seja, de um agir comunicativo. Trata-se do abandono de uma
“filosofia da consciência” (HABERMAS, 2012, p. 671) e deste modo, sair da
perspectiva do sujeito para entrar na perspectiva da sociedade. Não se trata mais
de pensar um sujeito como que isolado, mas pensar numa relação de sujeitos, que
agem através do agir comunicativo, buscando estabelecer novas relações.

O aspecto racional privilegiado por Habermas está além do saber teórico


acumulado, mas tem que ver com o saber que é partilhado, uma vez que ele indica
que “racional tem menos a ver com capacidade cognitiva, mas se relaciona com
quem também sabe usar da linguagem” (HABERMAS, 2012, p. 31). Ao propor outro
tipo de racionalidade, Habermas não exclui ou ignora a razão instrumental. Ele
apenas coloca em evidência a razão comunicativa como forma predominante, pois
complementando o projeto kantiano do esclarecimento, não basta apenas pensar e
ter autonomia, é necessário comunicar-se, transmitir o que aprendeu. O filósofo
ainda amplia a distinção, concebendo dois tipos de ação, um agir instrumental
decorrente de um uso instrumental da razão, e um agir comunicativo, mais amplo,
que decorre da razão comunicativa, ou seja, da mediação da linguagem.

De forma geral, Habermas lança sua obra “Teoria da ação comunicativa”


sustentada em 4 eixos:

1) Ele buscou fundamentar um conceito de racionalidade comunicativa como


princípio norteador de sua teoria;

2) Estabeleceu uma dicotomia entre uma forma de “agir instrumental” r um “agir


comunicativo”;
3) Buscou elaborar uma nova teoria da sociedade com base no “agir
comunicativo”;

4) Fez uma contraposição entre “mundo da vida” e “sistema”;

Na teoria da ação comunicativa, Habermas parte da premissa de que somos


seres de ação e comunicação, que utilizamos a linguagem para nos comunicarmos
uns com os outros. Deste modo, ele estabelece uma “Razão comunicativa” que tem
por base a “linguagem”. A linguagem se constitui como meio através do qual as
relações sociais se dão no “mundo da vida”. Ou seja, a linguagem está
inevitavelmente presente em toda comunicação humana.

Habermas vai aplicar esse modelo da “Teoria da ação comunicativa” na


análise da política contemporânea, ajudando na compreensão da nossa
democracia. Diante do problema da legitimidade da política e de uma crise dos
processos democráticos, o autor indica que isso passa por um processo
deliberativo, ou seja, que o problema está relacionado ao uso da linguagem para
poder ocorrer a deliberação. Para obter legitimidade política deve-se ter a
participação racional de todos os indivíduos interessados ou afetados pelas
situações políticas. Como vivemos em sociedade, todos somos afetados por
decisões políticas.

Deste “Agir comunicativo”, Habermas sugere um modelo de ação


comunicativa que vai ser aplicado à política, surgindo uma forma nova de
compreender a democracia: trata-se da “democracia deliberativa”. Nesta
“democracia deliberativa”, que parte da ideia de deliberação, as pessoas interagem
através da linguagem, se organizam em sociedade e buscam chegar ao
entendimento, ao consenso. Porém é importante que a busca por consenso não
ocorra por coerção. Da noção de democracia deliberativa surge o conceito de
“Esfera Pública”. O autor considera que dentro da democracia temos diversos
espaços de discussão e debates de ideias. Esses espaços são considerados como
exemplos da “Esfera Pública”, que é um “espaço de interação entre indivíduos” onde
eles apresentam suas demandas, suas propostas e debatem soluções e novas
questões. Na esfera pública deve predominar o discurso e a argumentação,
ressaltando-se novamente a importância da linguagem para as práticas sociais,
como a prática democrática. Temos vários exemplos de esfera pública, como o
congresso nacional, o senado, câmara dos vereadores, o ambiente escolar, as
diversas reuniões que buscam debater questões coletivas.

Com o advento da internet a noção de esfera pública é ampliada, pois as


redes sociais permitem que um grande número de pessoas possam participar do
debate sobre questões relevantes para nossas vidas, decisões políticas no
congresso, julgamentos, leis, etc. Ao mesmo tempo, temos alguns problemas, como
a propagação de discursos falso, as chamadas “Fake News”, etc.

Buscando dar conta desses problemas, bem como as críticas sobre a falta de
consenso na esfera pública, Habermas propõe uma “Ética do Discurso”,
considerando que no estado democrático deve-se ter por base o respeito e a
solidariedade entre as pessoas. Propõe um modelo em que ninguém pode ser
excluído da prática argumentativa, e todos devem ter as mesmas possibilidades de
contribuir para ampliar o debate público e manter a dinâmica da democracia
deliberativa. Deve-se estabelecer condições de franqueza, de veracidade entre os
participantes da esfera pública, bem como não pode haver nenhuma prática
coercitiva. Vale destacar também que ao pensar as condições de possibilidade da
ação comunicativa, Habermas estabelece quatro pretensões básicas: 1) Verdade; 2)
Retitude; 3)Veracidade; 4) Inteligibilidade. Destas pretensões decorre um princípio
do discurso que é assim expresso: “Nada pode ser reivindicado como válido a não
ser aquilo que passa ser fundamentado racionalmente mediante argumentos.” Ou
seja, para que haja “ação comunicativa” é necessário cumprir as quatro pretensões
indicadas, e para ocorrer de fato o consenso, o “princípio do discurso” deve também
ser cumprido.

Diante deste referencial principal, passamos a discutir alguns comentadores,


anotar os conceitos principais e pensar estratégias para transmitir essas reflexões
aos alunos. O uso do RPG surgiu como o objetivo de tornar a aula mais dinâmica e
os conceitos vivos, dentro de uma proposta em que o aluno se sinta parte da aula e
ativo na construção do conhecimento. Analisamos também alguns artigos sobre o
uso do RPG bem como atividades pedagógicas. Essas leituras nos permitiram
planejar a atividade bem como sustentar a discussão sobre a democracia. Deste
material teórico também escrevemos o trabalho para ser apresentado no CEG 2021
da UFPel, juntamente com a reflexão sobre as respostas dos alunos na primeira
atividade.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

O maior objetivo da atividade foi incentivar o pensamento crítico e permitir que os


alunos compreendessem os conceitos expostos na aula e no texto explicativo dentro de
suas próprias realidades sociais. A experiência do RPG foi pensada para que os
estudantes vivenciassem o que foi explicado num formato diferente, de uma narrativa,
que desperta emoções, empatia, senso de justiça.
O questionário no fim do formulário foi uma ferramenta para estimular a reflexão
crítica dos educandos acerca de todo trabalho e um instrumento de avaliação, no
sentido de perceber se os alunos compreenderam os conceitos relacionados ao tema e
a problemática sobre democracia.
Sobre os resultados conforme as respostas dos alunos na primeira atividade,
podemos verificar que alguns detalhes específicos sobre o conteúdo não ficaram claros,
mas a ideia central e a problematização do tema foi compreendida com êxito, além da
interpretação política da situação relatada no RPG com a realidade. Alguns acabaram
por se confundir nas respostas, não sabiam ao certo a diferença do pensamento da
primeira geração da Escola de Frankfurt para as ideias de democracia de Habermas e
não ficou muito claro o conceito de esfera pública.
Ainda assim, ficou evidente em algumas respostas dissertativas que muitos
educandos relacionaram os conceitos apresentados com o jogo. Algumas questões
levantadas foram, nas palavras dos alunos, sobre a rejeição e exclusão de alguns
saberes, como as artes, e a hipervalorização de outros, como matemática, português, as
injustiças existentes na democracia real e no RPG, bem como a importância do diálogo e
respeito. Uma minoria de alunos não conseguiu aproveitar o RPG devido sua longa
duração e falta de acesso à internet, mas no total os estudantes fizeram boas relações
entre o jogo, o conteúdo, e o contexto político vivido, apesar dos erros com o conteúdo
teórico.
Na segunda atividade de retorno aos alunos, o grupo se organizou para dar um
enfoque maior naqueles conteúdos que não haviam ficado explícitos nas respostas do
primeiro formulário. Foi feito um vídeo e um texto para explicar novamente os conceitos de
forma mais compreensível e incisiva. Nas questões de reflexão e avaliação dos resultados,
as perguntas estavam organizadas de acordo com a complexidade, de forma gradual.
Foram inseridas questões que exigiram mais conhecimento do tema pelos alunos, e
também maior reflexão acerca da atualidade e seus locais de fala enquanto cidadãos,
visando incentivar o pensamento crítico sobre suas condições sociais.
Examinou-se que os estudantes conseguiram acompanhar o avanço da
complexidade das questões e que nosso objetivo geral, de incentivo à reflexão crítica, foi
atingido com êxito pela maior parte dos alunos. As diferenciações conceituais, que
anteriormente não haviam sido esclarecidas, ficaram melhor compreendidas na segunda
atividade e muitos dissertaram e refletiram sobre os conceitos e suas aplicações sociais.
Por fim, pode-se considerar que os objetivos foram alcançados, apesar de ainda ser
necessário pensar em um melhor formato para aplicação do jogo.

7. CONCLUSÕES

Conclui-se que o referido trabalho inovou na forma de se ministrar uma aula de


forma coesa e bem sucedida, pois usou como instrumento uma didática nova, inserida
em um momento especial da educação com o ensino remoto emergencial, porém o
mesmo ainda poderia ser aprimorado para abranger mais alunos. Notou-se que uma
porcentagem baixa dos alunos não respondeu corretamente algumas perguntas
relacionadas ao tema após o efetuamento da atividade, outros demonstraram pouca
disposição para dedicar-se à atividade em vista que era longa,tendo em vista estes
aspectos foi dada continuidade para a atividade, através de um segundo contato com os
mesmos alunos, porém desta vez corrigindo os apontados problemas, assim tornando
possível que após o segundo momento os alunos absorverem melhor os conteúdos que
haviam sido notoriamente mal compreendidos.
Após análise dos resultados se tornou claro que esta é uma forma efetiva e
divertida de se trabalhar temas complexos para com os alunos, tendo em vista
agravantes como o cenário da pandemia que torna o momento de aprendizagem muito
massante, pois o sistema de educação claramente não estava pronto para suportar esta
súbita migração para plataformas digitais, sendo o RPG uma forma de escapar da
monotonia do ensino, levando em consideração tais aspectos, os autores concordam
que este trabalho ainda deve ser expandido e (ou) reaplicado em outras ocasiões.
Gostaria de salientar que o presente trabalho foi de grande valia para os
elaboradores, pois através do PIBID foi possível que os elaboradores tivessem um
primeiro contato com a experiência de como é ministrar uma aula, possibilitando assim
reconhecimento e valorização do profissional da educação.
Todavia apesar dos referidos problemas, de forma geral houve grande
aproveitamento e aprovação da atividade, a inovação foi clara e proveitosa tanto do
ponto de vista dos discentes quanto para os docentes.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: fragmentos


filosóficos. Trad. G. A. de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

CARDOZO, J.A.; CARDOZO, G.C.; JACQUES, L.A.B.; KELLERMANN, J.M.;


BOMFÁ, C.R.Z. Oficinas de RPG pedagógico: atividades de ensino do PET Ciências
Sociais Aplicadas (PET CiSA): Educação Inovadora e Transformadora. In:
COMPARTILHANDO SABERES, 2., Santa Maria, 2018. Santa Maria: Pró-reitoria de
Graduação, 2018.

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Marcelo Augusto Rocha, Fátima Aparecida da Silva Dias, Wilian Biserra Chagas,
Wallace Ferreira Junqueira. Uma proposta para o ensino de geografia inspirada em
jogos RPG

9. ANEXOS

Primeira postagem: https://forms.gle/8uZkSAtM3uDL4pQq8

Retorno e segundo contato com os alunos: https://forms.gle/xQA7E265B6PJ7qUr6


PDF do RPG:
https://drive.google.com/file/d/1gstohbzPJTZVSdbGKZ9zf5FN4kOP56lF/view?usp=sharing

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