Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NOÇÕES DE DIREITO
MULTIVIX
do Estado do Espírito Santo, com unidades em
Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova
Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória.
Desde 1999 atua no mercado capixaba,
destacando-se pela oferta de cursos de
graduação, técnico, pós-graduação e
extensão, com qualidade nas quatro áreas
do conhecimento: Agrárias, Exatas,
Humanas e Saúde, sempre primando pela
qualidade de seu ensino e pela formação
de profissionais com consciência cidadã
para o mercado de trabalho.
R EE II T O R
R
Estes resultados acadêmicos colocam
todas as unidades da Multivix entre as
melhores do Estado do Espírito Santo e
entre as 50 melhores do país.
MISSÃO
VISÃO
EDITORIAL
EXECUTIVA
maior grupo educacional de Ensino Superior do
Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a
Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional.
Seja bem-vindo!
GERAL DA
qual estudaremos, para aprofundar seus conheci-
mentos, as Noções Básicas do Direito, as diversas
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
SUMÁRIO
SUMÁRIO
3.3.1.2 REQUISIÇÃO 84
3.3.1.3 OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA 84
3.3.1.4 LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS 85
3.3.1.5 TOMBAMENTO 85
3.3.1.6 DESAPROPRIAÇÃO 86
3.4 ATOS ADMINISTRATIVOS 88
3.4.1 ELEMENTOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS 88
3.4.1.1 COMPETÊNCIA 88
3.4.1.2 FINALIDADE 90
3.4.1.3 FORMA 91
3.4.1.4 MOTIVO 93
3.4.1.5 OBJETO 94
3.4.2 ATO ADMINISTRATIVO VINCULADO E ATO ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO 95
3.4.3 ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO 96
3.4.4 ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS 97
3.4.4.1 ATOS NORMATIVOS 97
3.4.4.2 ATOS ORDINATÓRIOS 97
3.4.4.3 ATOS NEGOCIAIS 97
3.4.4.4 ATOS ENUNCIATIVOS 97
3.4.4.5 ATOS PUNITIVOS 98
3.4.5 EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO 98
3.4.5.1 EXTINÇÃO PELO CUMPRIMENTO INTEGRAL DE SEUS EFEITOS 98
3.4.5.2 EXTINÇÃO PELO DESAPARECIMENTO DO SUJEITO OU DO OBJETO 99
3.4.5.3 EXTINÇÃO POR RENÚNCIA 99
3.4.5.4 EXTINÇÃO POR RETIRADA DO ATO 99
3.5 CONTRATO ADMINISTRATIVO 100
3.5.1 CONCEITO 100
3.5.2 CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS 101
3.5.3 SUJEITOS DO CONTRATO 102
3.5.4 ESPÉCIES DE CONTRATOS ADMINISTRATIVOS 102
3.5.4.1 CONTRATO DE OBRA PÚBLICA 102
3.5.4.2 CONTRATO DE FORNECIMENTO 103
3.5.4.3 CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 104
3.5.4.4 CONTRATO DE CONCESSÃO 105
3.5.4.5 PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO 106
3.5.4.6 CONTRATO DE GERENCIAMENTO 107
SUMÁRIO
SUMÁRIO
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS 165
ICONOGRAFIA
ATENÇÃO ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
PARA SABER
SAIBA MAIS
ONDE PESQUISAR CURIOSIDADES
LEITURA COMPLEMENTAR
DICAS
GLOSSÁRIO QUESTÕES
MÍDIAS
ÁUDIOS
INTEGRADAS
ANOTAÇÕES CITAÇÕES
EXEMPLOS DOWNLOADS
UNIDADE 1
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos:
1 NOÇÕES DE DIREITO
Definir algo é demonstrar o seu real sentido, o seu significado. E definir o Direito é
uma tarefa exaustiva, visto que o termo compreende diversos enfoques e vários signi-
ficados. Paulo Nader (2002) explica que a definição de um objeto pode ser realizada
sob dois aspectos: nominal e real ou lógica. O primeiro busca demonstrar o signifi-
cado do objeto em razão de seu nome e se divide em etimológica e semântica. Já o
segundo determina a essência do objeto. Assim, temos as seguintes definições:
destas com o traço que lhe é exclusivo. Assim, utilizando o termo “Direito”, pode-se
dizer que ele pertence ao gênero (núcleo comum) dos instrumentos de controle so-
cial: Direito, Moral, Religião, Regras de Trato Social; e sua diferença específica deve ser
a característica que o separa dos demais instrumentos de controle social.
A partir da definição real ou lógica, pode-se dizer que Direito é “um conjunto de nor-
mas de conduta social, imposto coercitivamente pelo Estado, para a realização da
segurança, segundo os critérios de justiça” (NADER, 2002, p. 74). (grifo)
Paulo Nader (2002, p. 74) explica que as normas servem para definir o comporta-
mento dos destinatários do Direito, fixando
Após serem criadas pelo Estado, as normas jurídicas passam a ser imperativas, isto é,
a conduta imposta pela norma é de observância obrigatória. Esse é o comportamen-
to humano esperado: o respeito espontâneo aos preceitos impostos pela norma jurí-
dica. Entretanto, a adesão espontânea não é comum a todos os homens. É por essa
razão que se diz ser o Direito dotado de coercibilidade, ou seja, existe “uma reserva
de força” na norma jurídica capaz de intimidar seus destinatários para que a cumpra.
(GARCIA, 2015; NADER, 2002). Essa coercibilidade se dá através da previsão e impo-
sição da sanção, que é aplicada pelo Estado ao homem que descumpre o preceito
imposto pela norma jurídica. Assim, a sanção nada mais é do que a consequência
jurídica pelo descumprimento de determinada norma (GARCIA, 2015).
Com isso, conclui-se que as normas jurídicas são instrumentos para o bem-estar da
sociedade. A razão de ser do Direito é a realização da justiça e é preciso, para isso, “(...)
organização, ordem jurídica bem definida e a garantia de respeito ao patrimônio jurí-
dico dos cidadãos; em síntese, pressupõe a segurança jurídica.” (NADER, 2002, p. 75).
Não é escrito, não é criado pela sociedade, nem é formulado pelo Estado.
Como o adjetivo natural indica, é um Direito espontâneo, que se origina
da própria natureza social do homem e que é revelado pela conjugação
da experiência e razão.
ANOTAÇÕES
CITE AS ACEPÇÕES DA PALAVRA DIREITO.
Por outro lado, Direito Positivo é aquele criado pelo Estado, é o ordenamento jurí-
dico de determinada época e local. As várias formas de expressão jurídica que são
admitidas pelo ordenamento jurídico de um Estado configuram o chamado Direito
Positivo. Nesse sentido, Paulo Nader (2002, p.77) leciona que “as normas costumeiras,
que se manifestam pela oralidade, constituem também Direito Positivo”. Isso signi-
fica que, para a existência do Direito Positivo, não se faz necessário que as normas
sejam escritas.
Escritas
(leis, decretos, regulamentos
etc) e não escritas costumes).
Direito Positivo:
Conjunto de
Direito Objetivo: normas vigentes
NORMAS
Conjunto de todas na sociedade.
as normas vigentes
em uma sociedade Direito Subjetivo e Deveres.
(direitos e deveres).
Direito atural:
Deriva da natureza de algo, de sua essência.
Normas não escritas, mas são os costumes.
A Moral possui campo mais amplo que o Direito, pois abrange deveres, além daque-
les para com os membros da sociedade, para com a própria pessoa e até mesmo
com Deus (GARCIA, 2015). A Moral identifica-se com a noção de bem. Paulo Nader
(2002, p. 34) considera como bem:
DIREITO MORAL
MORAL
DIREITO
Assim, pode-se afirmar que a Moral é mais ampla do que o Direito, sendo este
subordinado àquele.
MORAL DIREITO
c) Teoria dos círculos independentes: para Hans Kelsen, grande cientista do Direito,
“a norma é o único elemento essencial ao Direito, cuja validade não depende de con-
teúdos morais”. Por isso, o Direito e a Moral seriam campos independentes (NADER,
2002, p. 41)
MORAL DIREITO
d) Teoria do “mínimo ético”: trata-se da ideia de que o “(...) Direito representa o mí-
nimo de preceitos moais necessários ao bem-estar da coletividade”. Tal teoria foi de-
senvolvida por Georg Jellinek e indica que no Direito iremos encontrar um mínimo de
conteúdo moral, justamente para a existência de uma paz social (NADER, 2002, p. 41)
ANOTAÇÕES
PONTUE A DIFERENÇA ENTRE MORAL E ÉTICA.
SUGESTÃO DE VÍDEO
O QUE É ÉTICA MARIO CORTELLA
Clique para assistir ao vídeo
José Afonso da Silva (apud NADER, 2002, p. 78) define ordem jurídica como “reunião
de normas vinculadas entre si por uma fundamentação unitária”. A ordem jurídica
ou ordenamento jurídico é uma característica do Direito Positivo, aquele criado pelo
Estado, que é a de conjugar normas que se relacionam entre si e formam um univer-
so harmônico e coerente de preceitos. Paulo Nader (2002, p. 78) explica que a ordem
jurídica é um corpo normativo e que “(...) quando ocorre a incidência de uma norma
sobre um fato social, ali se encontra presente não apenas a norma considerada, mas
a ordem jurídica, pois as normas, apreciadas isoladamente, não possuem vida”.
Cabe, por fim, destacar que norma jurídica não é sinônima de lei. Como visto, nor-
ma jurídica é o instrumento de definição da conduta exigida pelo Estado. Já a lei é
apenas uma das formas de expressão da norma jurídica, que pode ocorrer, também,
através dos costumes1 e da jurisprudência2.
b) Generalidade: para Paulo Nader (2002, p. 85) a norma jurídica “(...) é preceito de
ordem geral, que obriga a todos que se acha em igual situação jurídica”.
1 Práticas geradas espontaneamente pelas forças sociais, através do uso reiterado, uniforme e que geram a certeza de obrigatoriedade
(NADER, 2002).
2 Conjunto de decisões uniformes, prolatadas por órgãos do Poder Judiciário, sobre uma determinada questão jurídica (NADER, 2002).
Em resumo, temos:
Para que uma norma jurídica seja obrigatória, necessário se faz o preenchimento dos
seus requisitos de validade. Conforme lição de Miguel Reale (apud GARCIA, 2015), a
validade da norma jurídica deve ser analisada sob três aspectos:
a) Validade formal: para que uma norma ingresse na ordem jurídica e produza
seus efeitos, é indispensável que possua vigência, isto é, “a norma social preenche
os requisitos técnico-formais e imperativamente se impõe aos destinatários” (NA-
DER, 2002, p. 90). Portanto, diz-se que uma norma jurídica possui validade formal
quando ela preencheu todos os requisitos essenciais a sua elaboração (GARCIA,
2015).
E quais são esses requisitos para elaboração de uma norma jurídica? Para que uma
norma jurídica seja válida é necessário o preenchimento de três requisitos:
PODER
LEGITIMIDADE DO
COMPETENTE
PROCEDIMENTO
COMPETÊNCIA
MATERIAL
A norma jurídica precisa surgir de um órgão ou poder competente, que possua com-
petência material para produzi-la. Segundo Gustavo Filipe Barbosa Garcia (2015, p.
131), isso significa dizer que, para elaborar a norma jurídica, o órgão “(...) deve ter sido
constituído para esse fim, sendo competente e legítimo para produzi-la em relação
à matéria sobre a qual ela versa”. Além disso, deve ser observado o devido processo
de elaboração da norma jurídica.
Convém ressaltar que, quando se fala em vigência como validade formal da norma
jurídica, não nos referimos ao período de tempo em que a norma produz efeitos,
pois esta é a eficácia no tempo da norma (GARCIA, 2015).
b) Validade social: as normas jurídicas são criadas com a finalidade de alcançar cer-
tos resultados sociais, visto que o Direito regula o convívio em sociedade. Assim, a va-
lidade social da norma jurídica está na sua eficácia, ou seja, na sua real produção dos
efeitos ou consequências sociais planejadas (NADER, 2002). Para uma norma jurídica
ser considera eficaz, é necessário que seus destinatários cumpram os mandamentos
impostos por ela (GARCIA, 2015).
c) Validade ética: a norma jurídica, para se tornar obrigatória, precisa ter um funda-
mento axiológico, isto é, o seu “valor fim”, a sua “razão de ser”. Pode-se dizer que o
fundamento ético maior da norma jurídica é a realização da justiça. Entretanto, as
normas jurídicas buscam a realização de outros valores, tais como a liberdade, a or-
as normas de Direito (...) tem como objetivo ‘implantar uma ordem justa na
vida social’. A justiça, portanto, é o fundamento, a razão de ser da norma
jurídica. Isso significa que a norma jurídica é ‘o meio necessário para alcan-
çar a finalidade de justiça almejada pela sociedade’ (GARCIA, 2015, p. 132).
Com isso, podemos dizer que fazem parte do Direito Público os seguintes ramos
do Direito, entre outros:
Direito
Constitucional
Direito
Direito Processual
Administrativo
Direito
Direito Penal
Financeiro
Direito Direito
Internacional Internacional
Privado Público
e) Direito Internacional Privado: são normas que “(...) têm por objetivo solucionar os
conflitos de lei entre ordenamentos jurídicos diversos, no plano internacional, indi-
cando a lei competente a ser aplicada” (ANDRADE apud NADER, 2002, p. 345).
f) Direito Penal: ramo do Direito que define os crimes e estabelece as suas penalida-
des, bem como regulamenta a aplicação das medidas de segurança (NADER, 2002).
Por sua vez, o Direito Privado “disciplina as relações entre particulares, aqui incluídos
os entes privados e também relações com o Estado, quando este não participa da
relação jurídica na posição de poder soberano ou de império” (GARCIA, 2015, p. 140).
Direito Civil
Direito Direito
Empresarial do Trabalho
Portanto, essa diferenciação entre Direito Público e Direito Privado é importante para
conhecer as regras a serem aplicadas às relações jurídicas.
UNIDADE 2
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos:
2 DIREITO CONSTITUCIONAL
E DIREITOS HUMANOS
Diz-se que uma constituição é rígida quando, para a alteração de suas normas, exige-
-se um processo legislativo especial para modificação do seu texto, diferente daque-
le para criação ou modificação das leis de um determinado ordenamento jurídico
(PAULO; ALEXANDRINO, 2016). Dessa rigidez da constituição decorre o que chamam
de supremacia das normas constitucionais. “A rigidez situa todas as normas constan-
tes do texto da Constituição formal em uma posição de superioridade em relação
às demais leis, posicionando a Constituição no ápice do ordenamento jurídico do
Estado” (PAULO; ALEXANDRINO, 2016, p. 19). Com isso, uma norma do ordenamento
jurídico “(...) só será válida se produzida de acordo com o seu fundamento de valida-
de”, que é justamente a Constituição (NOVELINO, 2014, p. 227).
ORDENAMENTO
JURÍDICO
CONSTITUIÇÃO
Leis. Decretos.
Re
la
Jurisprudência
çã
o
de
su
pe
Resoluções etc.
ad
e
É por essa razão que é possível questionar a constitucionalidade das normas do or-
denamento jurídico através do chamado controle de constitucionalidade, que nada
mais é do que a fiscalização de compatibilidade entre as condutas dos poderes pú-
blicos e as normas constitucionais (NOVELINO, 2014).
Desde a Independência, o Brasil passou por oito constituições, que serão brevemen-
te analisadas nesse tópico.
3
É a Constituição imposta, unilateralmente, pelo agente revolucionário, que não recebeu do povo a legitimidade para em nome dele
atuar (LENZA, 2013).
A função Legislativa era exercida pela Assembleia Geral, composta pela Câ-
mara dos Deputados (órgão eletivo e temporário) e pelo Senado (vitalício,
onde os Senadores eram escolhidos pelo Imperador). A função Executiva era
exercida pelo Imperador, por intermédio de seus Ministros de Estado. Já a
função Judicial era independe e exercida pelos juízes, que aplicavam a lei,
e os jurados, que se pronunciavam sobre os fatos. Por fim, a função Modera-
dora era exercida pelo Imperador, servindo para assegurar a estabilidade do
trono, garantindo-lhe o poder de nomear os Senadores e convocar a Assem-
bleia Geral extraordinariamente, sancionar ou vetar proposições do Legisla-
tivo; nomear e demitir os Ministros de Estado do Executivo; e suspender os
Magistrados do Judiciário;
• Continha importante rol de Direitos Civis e Políticos, pela influência das revolu-
ções liberais do século XVIII.
4
É a Constituição fruto de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita diretamente pelo povo (LENZA, 2013).
• Distrito Federal, com sede na cidade do Rio de Janeiro, passa a ser a Capital do
Brasil;
A chamada República Velha teve o seu fim com a Revolução de 1930, instituindo o
Governo Provisório que levou Getúlio Vargas ao poder. Além da crise econômica de
1929, diversos movimentos sociais por melhorias nas condições de trabalho influen-
ciaram a promulgação de uma nova Constituição, a de 1934, reduzindo os ideais
do liberalismo econômico e da democracia liberal da Constituição anterior (1891)
(LENZA, 2013).
a qual pôs fim à era dos coronéis (...), costuma ser apontada pela dou-
trina como a primeira a preocupar-se em enumerar direitos fundamen-
tais sociais (...). É apontada como marco na transição de um regime de
democracia liberal, de cunho individualista, para a chamada democracia
social, preocupada em assegurar, não apenas uma igualdade formal, mas
também a igualdade material entre os indivíduos (condições de existência
compatíveis com a dignidade da pessoa humana) (PAULO; ALEXANDRI-
NO, 2016, p. 28).
Assim, a Carta Magna5 de 1937 foi fruto de um golpe de Estado. Influenciada pelo
fascismo, possuía forte caráter autoritário, concentrando poderes nas mãos do Presi-
dente da República (PAULO; ALEXANDRINO, 2016).
5 Constituição
Após a Segunda Guerra Mundial e o fim do Estado Novo, ocorre uma redemocra-
tização do Brasil, instalando uma Assembleia Nacional Constituinte que, em 18 de
setembro de 1946, promulgou a Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Cons-
tituição democrática, foi inspirada nos modelos constitucionais de 1891 e de 1934
(PAULO; ALEXANDRINO, 2016).
Democrática e liberal, a Carta de 1988 foi a que conferiu maior legitimidade popular,
sendo denominada de Constituição cidadã, visto que criou um verdadeiro Estado
Democrático-Social de Direito, com a previsão de diversas obrigações do Estado para
Além disso, estabelece ser o Brasil um Estado de Direito, ou seja, limita o poder esta-
tal e consagra direitos fundamentais aos indivíduos. Conforme visto anteriormente,
desde 15 de novembro de 1889 que o Brasil se constitui, como Forma de Governo,
em República7. Forma de Governo nada mais é do que a forma como se institui o po-
der na sociedade e como ocorre a relação entre governantes e governados, ou seja,
quem exerce o poder e como este se exerce (PAULO; ALEXANDRINO, 2016).
Marcelo Novelino (2014, p. 353) explica que a república possui como característica
7
Res publica – “Coisa do povo”.
8
Remonta ao vocábulo latino foendus, que significa aliança, pacto (NOVELINO, 2014).
origina a partir de um pacto celebrado entre Estados que cedem sua so-
berania para o ente central e passam a ter autonomia nos termos esta-
belecidos pela constituição. Nessa aliança que toma a forma de um só
Estado é instituído um governos central ao lado de outros regionais, dota-
dos de autonomia necessária à preservação das diferenças culturais locais,
mas unidos em prol de ideais comuns. Há, portanto, a incidência de mais
de uma esfera de poder sobre a mesma população e dentro de um mes-
mo território (NOVELINO, 2014, p. 354).
Por fim, o Brasil, em seu Regime Político, constitui-se em Estado Democrático de Di-
reito. O conceito de Estado de Direito, em sua origem, “(...) estava ligado tão somente
à ideia de limitação do poder e sujeição do governo a leis gerais e abstratas.” Já a
ideia de Estado Democrático, que é posterior, está relacionada “(...) à necessidade de
que seja assegurada a participação popular no exercício do poder, que deve, ade-
mais, ter por fim a obtenção de uma igualdade material entre os indivíduos” (PAULO;
ALEXANDRINO, 2016, p. 89).
I II III IV V
os valores
a
sociais do o
a a dignidade
trabalho pluralismo
soberania cidadania da pessoa
e da livre político
humana
iniciativa
Por fim, o pluralismo político estabelece que a sociedade brasileira deve conside-
rar e garantir a inclusão das diversas manifestações de pensamentos e dos diver-
sos grupos presentes no Brasil. Assim, o pluralismo político pode ser compreendido
como: pluralismo econômico (concorrência de empresas entre si, setor público x
setor privado, economia de mercado), pluralismo político-partidário (vários partidos
ou movimentos de cunho político que disputam entre si o poder na sociedade) e o
pluralismo ideológico (várias orientações de pensamento, vários programas políticos,
opiniões públicas distintas etc.) (PAULO; ALEXANDRINO, 2016; NOVELINO, 2014).
A Carta de 1988, em seu art. 2º, estabelece que “são Poderes da União, independen-
tes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”, consagrando o
chamado princípio da separação dos poderes. Atribui-se, então, a órgãos indepen-
dentes entre si, a tarefa de exercer funções estatais. Portanto, caberá ao Poder Exe-
cutivo o exercício das funções de Governo e Administração; ao Poder Legislativo, a
Cabe mencionar, por fim, que a independência entre os Poderes tem o objetivo de
evitar abusos e arbítrios por qualquer um deles (sistema de freios e contrapesos),
enquanto que a harmonia se identifica com o respeito às prerrogativas e faculdades
indicadas a cada um deles (NOVELINO, 2014).
Art. 4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações interna-
cionais pelos seguintes princípios:
I – independência funcional;
II – prevalência dos direitos humanos;
III – autodeterminação dos povos;
IV – não intervenção;
V – igualdade entre os Estados;
VI – defesa da paz;
VII – solução pacífica dos conflitos;
VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X – concessão de asilo político.
O princípio da não intervenção (art. 4º, IV) está relacionado ao da autodeterminação dos
povos (art. 4º, III), estabelecendo que deve haver respeito a soberania de cada Estado,
assegurando a não interferência nos assuntos internos (PAULO; ALEXANDRINO, 2016).
A prevalência dos direitos humanos (art. 4º, II) visa assegurar que, nos casos de violação
desses direitos por um Estado, o Brasil poderá apoiar a interferência de outros Estados
naquele para acabar com a violação da dignidade humana. Ainda sobre os direitos
humanos, a Constituição de 1988 estabeleceu o repúdio ao terrorismo e ao racismo
(art. 4º, VIII) e a concessão de asilo político (art. 4º, X) aquele que está sendo perseguido,
em outro Estado, por questões políticas ou de opinião (PAULO; ALEXANDRINO, 2016).
São princípios que se completam a solução pacífica dos conflitos (art. 4º VII) e a de-
fesa da paz (art. 4º, VI). Por fim, o parágrafo único do artigo 4º estabelece um objetivo
a ser perseguido pelo Brasil com relação aos países da América Latina: a integração
econômica, política, social e cultural entre esses povos, formando uma comunidade
latino-americana de nações.
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer nature-
za, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
10 O tema “Gerações de Direitos” será tratado em tópico próprio no Capítulo “Direitos Humanos”.
É importante mencionar que, apesar do art. 5º dispor que os Direitos Individuais es-
tão garantidos aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Brasil, entende-se que
estão “(...) assegurados os direitos e garantias individuais, quando cabíveis, a todas as
pessoas que estejam em território brasileiro e não apenas aos brasileiros e estrangei-
ros residentes no país”. Isso porque os Direitos Individuais estão diretamente relacio-
nados à dignidade da pessoa humana, abrangendo qualquer pessoa, sem qualquer
discriminação (NOVELINO, 2014, p. 445).
A vida humana é o direito mais importante dentre todos os outros, visto que estar vivo
é necessário para que se possa usufruir dos demais direitos e garantias previstas cons-
titucionalmente (MASSON, 2015). O direito à vida abrange o direito de não ser morto,
ou seja, de continuar vivo, bem como o direito de ter uma vida digna (LENZA, 2013).
Com isso, todo e qualquer ser humano possui o direito de permanecer vivo, isto é, a
não intervenção em sua existência física pelo Estado ou por outros particulares. Por
esse motivo, proíbe-se a pena de morte no Brasil, salvo em caso de guerra declarada
(art. 5º, XLVII, a, da CF) (NOVELINO, 2014). Por fim, o direito a uma vida digna garante
ao ser humano as suas necessidades vitais básicas, além de proibir qualquer forma
de tratamento indigno (art. 5º, III – “ninguém será submetido a tortura nem a trata-
mento desumano ou degradante”), como, por exemplo, a tortura, as penas perpétua,
de trabalho forçado ou cruéis etc. (LENZA, 2013).
Liberdade de Liberdade de
Liberdade de Ação pensamento e consciência, de crença
manifestação e de culto
fônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei es-
tabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”) do art. 5º;
f) Liberdade de informação: prevista nos incisos XIV (“é assegurado a todos o acesso
à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profis-
sional”) e XXXIII (“todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescin-
dível à segurança da sociedade e do Estado”) do art. 5º;
i) Liberdade de associação: prevista nos incisos XVII (“é plena a liberdade de associa-
ção para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar”), XVIII (“a criação de associações
e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a
interferência estatal em seu funcionamento”), XIX (“as associações só poderão ser
compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial,
exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado”), XX (“ninguém poderá ser com-
pelido a associar-se ou a permanecer associado”) e XXI (“as entidades associativas,
quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados
judicial ou extrajudicialmente”) do art. 5º.
O caput do art. 5º da Constituição de 1988 estabelece que “todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
(...) exige que todas as pessoas sejam tratadas com igual respeito e con-
sideração. A igualdade é o instrumento pelo qual a obrigação de respei-
tar as demais pessoas deve ser distribuída de modo universal (NOVELINO,
2014, p. 475).
“(...) temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e
temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracte-
riza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de
uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”.
Vale frisar que há, conforme previsão expressa no inciso I do art. 5º da Constituição Fe-
deral, igualdade entre homens e mulheres (“I – homens e mulheres são iguais em direi-
tos e obrigações, nos termos desta Constituição”). A Constituição também prevê outros
direitos, no rol do art. 5º, que garantem a igualdade entre os indivíduos. São eles:
Direito à intimidade,
Inviolabilidade do domicílio
vida privada, honra e imagem
• “XXVI – a pequena propriedade rural, assim defina em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorren-
tes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento”;
• “XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalha-
da pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decor-
rentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o
seu desenvolvimento”;
11 São aqueles que têm existência corpórea, ou seja, podem ser tocados.
12 São aqueles que têm existência abstrata e não podem ser tocados.
d) Usucapião (arts. 183 e 191): forma de aquisição da propriedade pelo uso prolon-
gado do bem.
Os direitos sociais exigem dos poderes públicos prestações positivas, um fazer. Se-
gundo Marcelo Novelino (2014, p. 619-620)
Nesse mesmo contexto, José Afonso da Silva (apud MASSON, 2015, p. 281) conceitua
os direitos sociais como
A Constituição de 1988 trata dos Direitos Sociais em seus arts. 6º a 11. Abordaremos,
de forma breve, algumas considerações sobre eles:
b) Direito à saúde: direito de todos e dever do Estado, deve ser garantido através de
políticas sociais e econômicas com a finalidade de reduzir o risco de doenças e ou-
tros agravantes, bem como conferir acesso universal e em condições de igualdade às
ações e serviços para sua proteção, promoção e recuperação (LENZA, 2013);
e) Direito à moradia: devem ser garantidos, por todos os entes federativos, progra-
mas de construção de moradias e/ou melhorias das condições de habitação e de
saneamento básico (NOVELINO, 2014);
f) Direito ao lazer: o Poder Público deverá garantir o lazer como forma de promoção
social (art. 217, §3º, da CF);
h) Direito à previdência social: garante renda não inferior ao salário mínimo ao traba-
lhador e a sua família nas seguintes situações, previstas no art. 201 da Carta Magna:
1) cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; 2) proteção à
maternidade, especialmente à gestante; 3) proteção ao trabalhador em situação de
desemprego involuntário; 4) salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes
dos segurados de baixa renda; 5) pensão por morte do segurado, homem ou mulher,
ao cônjuge ou companheiro e dependentes.
k) Direito ao trabalho: o Estado deverá buscar uma política econômica não recessiva,
para propiciar a busca pelo emprego. Vários foram os direitos relativos aos trabalha-
dores previstos na Constituição. Assim, podemos ver na próxima página:
Direito de
Direito de Direito de
associação Direito Direito de
substituição representação
profissional ou de greve participação
processual classista
sindical
porte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aqui-
sitivo, sendo vedada sai vinculação para qualquer fim”), V (“piso salarial proporcional
à extensão e à complexidade do trabalho”), VI (“irredutibilidade do salário, salvo o dis-
posto em convenção ou acordo coletivo”), VII (“garantia de salário, nunca inferior ao
mínimo, para os que percebem remuneração variável”), VIII (“décimo terceiro salário
com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria”), IX (“remuneração
do trabalho noturno superior à do diurno”), X (“proteção do salário na forma da lei,
constituindo crime sua retenção dolosa”), XVI (“remuneração do serviço extraordiná-
rio superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal”), XXIII (“adicional de
remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei”),
XXIX (“ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo
prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de
dois anos após a extinção do contrato de trabalho”), XXX (“proibição de diferença de
salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade,
cor ou estado civil”) e XXXI (“proibição de qualquer discriminação no tocante a salário
e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência”);
Já os direitos sociais coletivos dos trabalhadores estão previstos nos arts. 8º a 11.
São eles:
Participação
Liberdade de Direito de
Direito de em colegiados
associação representação
greve (art. 9º); de órgãos
profissional e classista
públicos
sindical (art. 8º); (art. 11).
(art. 10)
A organização e estrutura do Estado devem ser estudadas sob três aspectos: a) For-
ma de Governo (República ou Monarquia); b) Sistema de Governo (presidencialismo
ou parlamentarismo); e, c) Forma de Estado (unitário ou federado). Conforme visto
anteriormente, a Constituição de 1988 estabeleceu a forma republicana de governo,
com o sistema presidencialismo de governo, sob a forma federativa de Estado. A Re-
pública Federativa do Brasil é organizada, político-administrativamente, sob a forma
de um Estado Federado.
• Soberania do Estado federal e não dos núcleos políticos (estes são autônomos).
A partir da leitura desse artigo, podemos perceber diferentes centros de poder polí-
tico. A União é o poder político central, os Estados formam o poder político regional
e os Municípios constituem o poder político local. Como o Distrito Federal não pode
se dividir em municípios, conforme vedação no art. 32, §1º, da Constituição, ele acu-
mula tanto o poder regional quanto o poder local (PAULO; ALEXANDRINO, 2016).
Por isso, não podemos confundir a União, unidade federativa, formada pela reunião
de entes através do pacto federativo, com a União que forma, junto com os Estados-
-membros, Distrito Federal e Municípios, a República Federativa do Brasil (LENZA,
2013). Temos que tomar muito cuidado, pois a União possui “dupla personalidade”,
já que, internamente, é uma pessoa jurídica de direito público interno, como par-
te integrante da República Federativa do Brasil, além de, externamente, ser pessoa
jurídica de direito público externo, representando a República Federativa do Brasil
como um Estado Federal (PAULO; ALEXANDRINO, 2016; LENZA, 2013).
Assim, cabe esclarecer que a União tem papel na política interna e internacional, po-
rém ela nunca será soberana, pois esse atributo é exclusivo da República Federativa
do Brasil (MASSON, 2015). Vale mencionar que a Capital Federal, Brasília, é definida
pela Constituição em seu art. 18, §1º.
2.1.8.2 ESTADOS-MEMBROS
2.1.8.3 MUNICÍPIOS
Assim como os demais entes da Federação, o Distrito Federal possui autonomia para:
Nesse tópico, serão abordados alguns aspectos sobre os Direitos Humanos, isto é, um
conjunto de direitos que pertencem ao indivíduo pelo simples fato de pertencer ao
gênero humano.
Diante do exposto, podemos concluir que as três gerações de direitos buscam a prote-
ção dos ideais surgidos com a Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
A conquista dos Direitos Humanos se deu após uma longa história de lutas e con-
quistas. São vários os documentos históricos que demonstram o processo de reco-
nhecimento dos Direitos Humano. Vejamos os principais.
Isso porque o Rei desagradou diversos nobres, pelo fato de ter estabelecido diversas
prerrogativas para si mesmo, como, por exemplo, o direito de nomeação, com o qual
o rei poderia nomear bispos, abades e funcionários da igreja, bem como o direito
de veto, que o autorizava a excluir pessoas de determinadas funções ou, até mesmo,
impedir sua posse (CASTILHO, 2015).
Quando um determinado religioso foi nomeado, inclusive pelo próprio papa, para
a função de arcebispo, o Rei João Sem Terra exerceu o seu direito ao veto, gerando
uma grande revolta na igreja, colocando a Inglaterra em situação de interdição até
que a indicação do papa fosse aceita (CASTILHO, 2015).
Além da Magna Carta, podemos citar outros documentos históricos que represen-
tam um avanço do reconhecimento dos Direitos Humanos: Petition of Rights de
1628 (Petição de Direitos), Habeas Corpus Act de 1679 (Lei do Habeas Corpus), Bill of
Rights inglesa de 1689 (Declaração de Direitos inglesa) (CASTILHO, 2015).
Com ela, a Igreja perdeu sua atuação direta com o Estado e este passou a obrigação
de fornecer direitos básicos para a população, como, por exemplo, saúde, educação,
segurança etc. (CASTILHO, 2015).
Com as várias guerras entre nações, o mundo passou por diversos conflitos sociais,
comerciais e étnicos, mudando, inclusive, a sua divisão geográfica, pois países sur-
giram e outros desapareceram. Foi principalmente após a Segunda Guerra Mun-
dial que um novo pensamento surgiu: a prevenção de crimes contra a humanidade
(CASTILHO, 2015).
A criação da Organização das Nações Unidas (ONU) se deu em 1945 e marcou uma
divisão no direito, principalmente em relação aos direitos humanos. Três foram os
precursores da formação da ONU (CASTILHO, 2015):
• A Liga das Nações Unidas (também chamada de Sociedade das Nações), criada
através do Tratado de Versalhes, após a Primeira Guerra Mundial (1919), com
vistas a garantir a preservação da paz mundial.
Foi com esses percursores que uma nova era de direitos se iniciou, pois
Com isso, o ser humano passou a ser sujeito de direito internacional e não mais
apenas um objeto. Assim, em 24 de outubro de 1945, através da Carta das Nações
Unidas, a ONU passou a, oficialmente, existir, com o principal objetivo de manter a
paz mundial e a segurança coletiva, estabelecendo regras que devem ser observa-
das pelas nações diante dos indivíduos que estão sujeitos ao seu poder e diante as
demais nações, além de criar e manter mecanismos para garantir a eficácia de tais
regras (CASTILHO, 2015).
É uma declaração que surgiu para consolidar os valores relacionados aos direitos
humanos, abordando sobre direitos políticos, sociais, civil, econômicos e culturais
(CASTILHO, 2015). Foi aprovada através da Assembleia Geral das Nações Unidas em
10 de dezembro de 1948.
UNIDADE 3
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos:
3 DIREITO ADMINISTRATIVO
E LEGISLAÇÃO ESPECIAL DA
ADMINISTRAÇÃO
Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2001, p. 47) define o Direito Administrativo como
o ramo do direito público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas
jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a ativida-
de jurídica não contenciosa que exercer e os bens de que se utiliza para a
consecução de seus fins, de natureza pública.
Para Hely Lopes Meirelles (2002, p. 37), o conceito de Direito Administrativo “(...) sinte-
tiza-se no conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agen-
tes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os
fins desejados pelo Estado”.
Por fim, pode-se mencionar, ainda, o conceito apresentado por José dos Santos Carva-
lho Filho (2009, p. 8), estabelecendo ser o Direito Administrativo “o conjunto de normas
e princípios que, visando sempre ao interesse público, regem as relações jurídicas en-
tre as pessoas e órgãos do Estado e entre este e as coletividades a que devem servir”.
Segundo Matheus Carvalho (2016, p. 54), princípios são “(...) normas gerais coerciti-
vas que orientam a atuação do indivíduo, definindo valores a serem observados nas
condutas por ele praticadas”. Por isso, os princípios do Direito Administrativo visam
definir a organização e a forma de atuação do órgão estatal, consagrando o sentido
geral dessa forma de atuar.
Este princípio estabelece que o interesse coletivo deve prevalecer sobre o interesse
individual. Assim, a Administração Pública, ao se relacionar com particulares, deve-
Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2001) ensina que esse princípio deve ser observado
pelo legislador, no momento da elaboração de leis, bem como pela Administração
Pública, no momento da aplicação delas. Assim, podemos citar como exemplos prá-
ticos do princípio da supremacia do interesse público a desapropriação por neces-
sidade ou utilidade pública ou interesse social, a requisição de bens ou serviços nos
casos de iminente perigo público, convocação de particulares para atuar em serviços
públicos (ALEXANDRE; DEUS, 2015; MAZZA, 2013).
Portanto, os agentes públicos não podem usufruir, da maneira como desejar, dos
interesses que lhes são postos. Estão obrigados a agir conforme a lei determina (MA-
ZZA, 2013). Os próximos cinco princípios que veremos estão previstos no caput do
art. 37 da Constituição Federal, que assim estabelece:
Como já visto, a República Federativa do Brasil adotou, como regime político, o Es-
tado Democrático de Direito. E o princípio da legalidade surge exatamente dessa
forma de regime político, servindo como forma de vincular a atuação da Administra-
ção Pública, esteja ela atuando em qualquer das funções (legislativa, jurisdicional ou
executiva). (ALEXANDRE; DEUS, 2015).
Portanto, o princípio da legalidade é uma garantia para proteção dos direitos indi-
viduais, visto que a lei, elaborada pelo povo através de seus representantes, limita a
atuação do Poder Público (ALEXANDRE; DEUS, 2015). É a vontade do povo que vin-
cula o exercício da função administrativa. Por isso, na atividade administrativa, deve
ser observada, obrigatoriamente, a vontade da lei, e não a da Administração ou dos
agentes públicos (MAZZA, 2013).
Assim, a Administração Pública só pode agir quando “(...) autorizada por lei, dentro
dos limites que a lei estabelecer e seguindo o procedimento que a lei exigir” (ALE-
XANDRE; DEUS, 2015, p.187). O princípio da legalidade pode ser desdobrado em
dois sentidos:
a) Sentido negativo, ou seja, “(...) os atos administrativos não podem contrariar a lei”;
b) Sentido positivo, isto é, “(...) os atos administrativos só podem ser praticados me-
diante autorização legal (...)” (MAZZA, 2013, p. 86-87).
Por fim, conforme lição de Celso Antônio Bandeira de Mello (2009), a Constituição de
1988 estabelece três situações que excepcionam o princípio da legalidade, através
de outorga de poderes jurídicos que não existem durante a situação de normalida-
de. São elas:
Com isso, a atuação de determinação agente público deve ser atribuída ao próprio
Estado, demonstrando um agir impessoal. Portanto, as atividades administrativas
devem ser atribuídas ao Poder Público (pessoa jurídica) e não ao agente público
(pessoa física). É por esse princípio, também, que não é possível a promoção pesso-
al de agentes ou autoridades públicas. O legislador se preocupou em impedir que
Alexandre Mazza (2013, p. 94) explica que “a presença de nomes, símbolos ou ima-
gens de agentes ou autoridade nas propagandas governamentais compromete a
noção de res publica e a impessoalidade da gestão da coisa pública”. E continua com
os seguintes exemplos de ofensa à impessoalidade:
A moral comum busca diferenciar o bem e o mal, o certo e o errado pelo senso
comum da sociedade. Já a moral administrativa é aquela que disciplina princípios
éticos que são extraídos da disciplina interna da administração. Por isso, o princípio
da moralidade envolve o respeito aos valores morais, aos bons costumes, ao princípio
da justiça, ao princípio da equidade, as regras da boa administração, a honestidade,
a lealdade, a ética e a boa-fé (CARVALHO, 2016; ALEXANDRE; DEUS, 2015).
Esse princípio deve ser observado não só pelos agentes públicos, mas também pelos
particulares ao se relacionarem com a Administração Pública. Ricardo Alexandre e
João de Deus (2015) citam os seguintes exemplos de atos que violam a moralidade
administrativa:
a) Nepotismo;
Citam, ainda, exemplos de atos praticados por particulares que também violam a
moralidade administrativa:
Alexandre Mazza (2013, p. 107-108) explica que não podemos deixar de relacionar o
princípio da eficiência com a atividade administrativa da iniciativa privada. Entretan-
to, o Estado não é uma empresa e seu objetivo não é gerar lucro. Portanto,
Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2001) analisa o princípio da eficiência sob dois aspectos:
Portanto, a eficiência deverá ser sempre buscada pela Administração Pública, para
que o interesse público seja praticado com maior intensidade e com o menor custo
possível.
O poder de polícia “(...) representa uma atividade estatal restritiva dos interesses pri-
vados, limitando a liberdade e a propriedade individual em favor do interesse pú-
blico” (MAZZA, 2013, p. 290). Conforme ensinam Ricardo Alexandre e João de Deus
(2015), o poder de polícia é uma faculdade garantida ao Poder Público para estabe-
lecer restrições e condicionantes ao exercício de direitos e garantias individuais em
detrimento dos interesses da coletividade.
O Código Tributário Nacional, em seu art. 78, define poder de polícia nos seguintes
termos:
• Não gera indenização: o poder de polícia, por atingir a coletividade e não causar
danos específicos, não resulta direito à indenização;
Por ser uma restrição, a servidão pode gerar indenização ao proprietário, desde que
seja demonstrado prejuízo significativo decorrente da limitação que lhe foi imposta.
Entretanto, a regra é não haver direito à indenização (MAZZA, 2013).
3.3.1.2 REQUISIÇÃO
São exemplos de requisição: veículo para perseguição a criminoso, terreno para so-
correr vítima de acidente, escada para combater incêndio, barco para salvamento
etc. (MAZZA, 2013). A requisição pode ser civil ou militar. A civil tem por finalidade
evitar danos à vida, à saúde e aos bens da coletividade. A militar visa resguardar a se-
gurança interna e a manutenção da soberania nacional (ALEXANDRE; DEUS, 2015).
3.3.1.5 TOMBAMENTO
3.3.1.6 DESAPROPRIAÇÃO
c) Desapropriação rural para fins de reforma agrária (Lei 8.629/1993 e Lei Comple-
mentar 76/1993): ocorre em caso de interesse social e incide sobre imóveis rurais
que não cumpram sua função social;
e) Desapropriação indireta: é aquela que ocorre sem que seja observado o procedi-
mento legal, ou seja, “(...) quando o Poder Público se apropria de bem particular, sem
observar a fase declaratória e sem que haja indenização prévia”;
Qualquer bem que seja dotado de valor patrimonial pode ser objeto de desapro-
priação, seja móvel ou imóvel, corpóreo ou incorpóreo, bem como o espaço aéreo,
o subsolo, as ações, cotas ou direitos relativos ao capital de pessoas jurídicas. Entre-
tanto, alguns bens são insuscetíveis de desapropriação, seja por proibição legal ou
constitucional (por exemplo, a pequena e média propriedade rural, desde que seu
proprietário não possua outra, não pode ser objeto de desapropriação para fins de
reforma agrária, conforme art. 185, I, da CF), seja pela inviabilidade em razão da na-
tureza do bem (por exemplo, a moeda corrente no país, os direitos de personalidade,
as margens dos rios navegáveis) (ALEXANDRE; DEUS, 2015).
Com relação à indenização, esta deve ser prévia, justa e em dinheiro. Prévia significa
que somente após o pagamento da indenização ocorrerá a transferência da proprie-
dade do bem para o expropriante. Justa é a indenização que irá recompor integral-
mente o patrimônio do expropriado, para que este não sofra prejuízo.
3.4.1.1 COMPETÊNCIA
Por fim, é importante mencionar que o ato administrativo pode ser viciado por sofrer
algum vício na competência do agente que o pratica. Os principais vícios de compe-
tência são (ALEXANDRE; DEUS, 2015):
A função de fato
(ocorre quando aquele
O excesso de poder A usurpação de função que pratica o ato está
(o agente público atua com (exercer atribuições irregularmente atuando
excesso de competência, próprias de um agente no cargo, emprego ou
agindo além do que poderia público, sem que tenha função pública,
adotar na situação concreta); essa qualidade); ou quando há
impedimento jurídico
para a prática do ato).
3.4.1.2 FINALIDADE
A finalidade nada mais é do que o objetivo, de interesse público, almejado com o ato
administrativo (MAZZA, 2013). Matheus Carvalho (2016, p. 246) explica que a finali-
dade é o objetivo do ato,
Caso essas finalidades não sejam observadas pela Administração Pública ao praticar
Ricardo Alexandre e João de Deus (2015, p. 388), explicam que poderá ocorrer o des-
vio de finalidade em duas situações:
3.4.1.3 FORMA
Por fim, cabe mencionar que a forma é um elemento vinculado, no qual o agente
público não tem margem de escolha na atuação, salvo nos casos em que a lei esta-
belece várias formas possíveis de prática do ato (CARVALHO, 2016).
3.4.1.4 MOTIVO
A doutrina explica que o ato administrativo conterá vício de motivo em três situações:
a) inexistência do motivo; b) falsidade do motivo; c) inadequação do motivo. Assim,
b) o ato administrativo não possui motivação, ou seja, o agente público não explicou
a razão do seu exercício, gerando um vício do elemento forma.
3.4.1.5 OBJETO
O último dos elementos dos atos administrativos é o objeto, que nada mais é do
que o próprio conteúdo do ato, a ordem que ele determina ou, até mesmo, o resul-
tado que se pretende alcançar (MAZZA, 2013). Matheus Carvalho (2016, p. 258-259)
conceitua objeto como “(...) a disposição da conduta estatal, ou seja, aquilo que fica
decidido pela prática do ato”. É, portanto, o efeito gerado pelo ato administrativo em
virtude de sua prática. Assim, como exemplo,
O ato administrativo tem por objeto criar, modificar ou comprovar situações jurídicas
com relação às pessoas, coisas ou atividades sujeitas à Administração Pública (MAZ-
ZA, 2013). Por fim, é importante esclarecer que, por ser uma espécie de ato jurídico,
o ato administrativo para ser válido precisa ter objeto lícito (em conformidade com
lei), possível (situação viável de ocorrer no mundo dos fatos) e determinado ou deter-
minável (CARVALHO, 2016).
(...) é aquele em que o agente público que o pratica não possui liberdade
de ação, visto que a lei já estabeleceu antecipadamente os requisitos e
condições para sua realização.
Quando essa possibilidade existir, o juízo de mérito incidirá sobre os elementos mo-
tivo e objeto do ato (ALEXANDRE; DEUS, 2015).
d) Tipicidade: exige que todo ato administrativa tenha previsão em lei (CARVALHO, 2016).
Os atos punitivos são aqueles em que Poder Público determina a aplicação de de-
terminada sanção quando ocorre a prática de infrações administrativas por servido-
res públicos ou particulares. Por exemplo: multas, interdições de estabelecimentos
(CARVALHO, 2016).
O ato administrativo irá se extinguir quando a pessoa ou o bem, para os quais o ato
foi criado, desaparecer. Por exemplo: a promoção de um servidor é extinta no caso
de falecimento do mesmo; a licença para reforma de um prédio é extinta com o seu
desabamento etc. (MAZZA, 2013).
O ato administrativo será extinto quando o seu beneficiário abrir mão da situação pre-
vista pelo ato. Por exemplo: exoneração de cargo a pedido do ocupante (MAZZA, 2013).
O ato administrativo será extinto quando um ato secundário for praticado para afas-
tar a aplicação do anterior. Pode ocorrer de cinco formas (MAZZA, 2013):
c) Cassação: o ato administrativo deverá ser extinto quando o seu beneficiário não
mais preencher o requisito necessário para continuar com o benefício;
3.5.1 CONCEITO
• Finalidade pública;
A Lei nº 8.666/1993, em seu art. 6º, incisos XIV e XV, define os sujeitos dos contratos
administrativos. São eles:
Contratado:
Contratante:
é “a pessoa física ou
“é o órgão ou entidade
jurídica signatária
signatária do instrumento
de contrato com a
contratual”;
Administração Pública”.
É importante destacar que o conceito de obra é taxativo, ou seja, não abrange outras
situações além daquelas mencionadas acima. Portanto, a demolição de um prédio
público, por exemplo, não será contratada através do contrato de obra público, pois
Equipamento
administrativo:
Equipamento urbano:
aparelhos para o serviço
ruas, praças, estádios;
da Administração Pública
em geral;
Empreendimentos de
Edifício público:
utilidade pública:
repartições, cadeias etc.
ferrovias, rodovias;
Por fim, é importante esclarecer que o contrato de obra pública pode ser realizado
sob dois regimes de execução: a) regime de empreitada, no qual toda a execução
da obra fica por conta e risco do contratado, através de remuneração ajustada pre-
viamente; b) regime de tarefa, no qual a obra é de pequeno porte e o pagamento é
periódico, após a fiscalização do órgão contratante (MAZZA, 2013).
14
É o bem móvel que pode se mover por sua própria força, como, por exemplo, os animais (TARTUCE, 2016).
Matheus Carvalho (2016, p. 549) ensina que contrato de prestação de serviço objetiva a
a) Serviços comuns: que são aqueles realizados por qualquer pessoa e que sem-
pre necessitam de licitação para sua contratação, como, por exemplo, o serviço
de limpeza;
Matheus Carvalho (2016, p. 551) conceitua, com base no art. 40 da Lei nº 8.987/1995,
a permissão de serviço público
Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello (2009, p. 759), as hipóteses mais frequen-
tes de utilização da permissão são:
(...) a)o permissionário não necessitasse alocar grandes capitais para o de-
sempenho do serviço, b) poderia mobilizar, para diversa destinação e sem
maiores transtornos, o equipamento utilizado, ou, ainda, c) quando o servi-
ço não envolvesse implantação física de aparelhamento que adere ao solo,
ou, finalmente, d) quando os riscos da precariedade a serem assumidos
pelo permissionário fossem compensáveis seja pela extrema rentabilida-
de do serviço, seja pelo curtíssimo prazo em que se realizaria a satisfação
econômica almejada.
A parceria público-privada (PPP) foi criada através da Lei nº 11.079/2004 com a fina-
lidade de “incentivar o investimento privado no setor público, por meio da repartição
objetiva dos riscos entre o Estado (parceiro público) e o investidor particular (parceiro
privado)” (MAZZA, 2013, p. 447).
3.5.5 EXTINÇÃO
3.6 LICITAÇÃO
Marçal Justen Filho (apud CARVALHO, 2016, p. 419-420) conceitua licitação como
Todas as entidades e órgãos públicos que fazem parte dos três Poderes da União, dos
Estados, dos Municípios e do Distrito Federal devem licitar. É o que se extrai do art.
1º, parágrafo único, da Lei nº 8.666/1993.
Tipos de licitação são os critérios que serão considerados no julgamento das propos-
tas apresentadas pelos licitantes (MAZZA, 2013). É o art. 45 da Lei nº 8.666/1993 que
prevê os quatro tipos de licitação:
MENOR PREÇO: a Administração Pública deverá selecionar a proposta mais vantajosa, que
não necessariamente será a de menor valor monetário. É utilizada para compras, quando o
produto pretendido não tiver nenhuma característica especial (CARVALHO, 2016).
O art. 22 da Lei nº 8.666/1993 prevê cinco modalidades de licitação, que são: a con-
corrência, a tomada de preço, o convite, o concurso, o leilão. Com o advento da Lei nº
10.520/2002, nova modalidade licitatória surgiu: o pregão. Portanto, iremos analisar
as seis15 modalidades licitatórias.
OBRAS E SERVIÇOS DE
OUTROS OBJETOS
ENGENHARIA
15
Na verdade, atualmente, existem sete modalidades licitatórias, pois a Lei nº 9.472/1997 prevê a consulta como modalidade exclu-
siva da Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL (MAZZA, 2013).
3.6.4.1 CONCORRÊNCIA
Além das faixas de valores acima mencionadas, a concorrência será obrigatória nos
seguintes casos: a) compras e alienações de imóveis; b) concessões de direito real de
uso; c) licitações internacionais; d) contratos de empreitada integral; e) concessões
de serviço público; f) registro de preços (MAZZA, 2013). Por fim, o intervalo mínimo
entre a publicação do edital e a entrega dos envelopes com as propostas, na con-
corrência, é de 45 (quarenta e cinco) dias corridos, para os tipos de licitação melhor
técnica ou técnica e preço, ou de 30 (trinta) dias corridos, para o tipo menor preço
(CARVALHO, 2016).
O conceito de tomada de preços está previsto no art. 22, §2º, da Lei nº 8.666/1993
como “a modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou
que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia
anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação”.
Como já vimos, a tomada de preços é utilizada para faixa de valor intermediário: até
R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais) para obras e serviços de enge-
nharia e até R$650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais) para outros objetos.
3.6.4.3 CONVITE
No convite, não há edital, visto que o instrumento utilizado para a convocação dos
interessados é chamado de carta-convite (MAZZA, 2013).Por fim, o intervalo mínimo
entre a expedição da carta-convite e a entrega dos envelopes com as propostas é de
05 (cinco) dias úteis (MAZZA, 2013).
3.6.4.4 CONCURSO
Essa modalidade de licitação tem como objetivo escolher trabalhos técnicos, cientí-
ficos ou artísticos, através de instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores,
de acordo com os critérios previstos no edital (CARVALHO, 2016).
3.6.4.5 LEILÃO
16 São os bens que não têm mais serventia pública (CARVALHO, 2016).
17 São os bens adquiridos em razão de procedência ilícita (CARVALHO, 2016).
18 São os bens gravados com a garantia de direito real denominada “penhor” (CARVALHO, 2016).
3.6.4.6 PREGÃO
Por fim, a modalidade licitatória pregão será sempre do tipo menor preço (CARVA-
LHO, 2016).
Previsto no art. 15 da Lei nº 8.666/1993, o registro de preços é “(...) utilizado para com-
pras, obras ou serviços rotineiros, no qual, ao invés de fazer várias licitações, o Poder
Público realiza uma concorrência e a proposta vencedora fica registrada (...)”. Assim,
quando houver necessidade de contratação, a proposta já está no sistema e a Ad-
ministração Pública poderá contratar tantas vezes forem necessárias (MAZZA, 2013,
p. 382). Para a realização do registro de preços, algumas condições são necessárias:
Utilização de
Deve existir sistema de
concorrência pública,
controle e atualização
exceto se for possível o
de preços;
pregão;
Como o rol do art. 25 é exemplificativo, poderemos ter outros casos em que a licita-
ção será inexigível, sempre nos casos de inviabilidade de licitação.
UNIDADE 4
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos:
Ela é composta por dezenove artigos que tratam sobre os seguintes temas: a) vigên-
cia das leis (arts. 1º e 2º); b) aplicação da norma jurídica no tempo (arts. 3º a 6º); c)
aplicação da norma jurídica no espaço (arts. 7º a 19).
A lei, fonte primária do ordenamento jurídico, é um ato emanado pelo Poder Legisla-
tivo que visa estabelecer regras de comportamento social. Pode-se afirmar que a lei
também possui um ciclo de vida, visto que ela nasce, com o início de sua vigência,
aplica-se e permanece em vigor até o momento de sua revogação, quando cessa sua
vigência (GONÇALVES, 2016).
Nesse sentido, Elpídio Donizetti e Felipe Quintella (2016) explicam que o processo
de criação da lei se constitui em um processo legislativo com as seguintes etapas: 1)
a elaboração de projeto que será analisado pela casa legislativa (Câmara dos Depu-
tados e Senado Federal, Assembleia Legislativa ou Câmara de Vereadores), e, após,
submetido à apreciação do Chefe do Poder Executivo (Presidente da República, Go-
vernador de Estado ou Prefeito Municipal), que poderá aprová-lo, através do ato cha-
mado sanção, ou reprová-lo, através do veto; 2) a promulgação, quando o Chefe do
Executivo sanciona (aprova) a lei; 3) a publicação, para o conhecimento de todos.
Vigência, segundo Carlos Roberto Gonçalves (2016, p. 59), “designa a existência espe-
cífica da norma em determinada época, podendo ser invocada para produzir, con-
cretamente, efeitos, ou seja, para que tenha eficácia”. O art. 1º da LINDB estabelece
que “salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e
cinco dias depois de oficialmente publicada”.
Portanto, não se destinando a vigência temporária19, “(...) a lei terá vigor até que ou-
tra a modifique ou revogue”, conforme previsão expressa no art. 2º da LINDB. Assim,
vigência da lei será cessada com a sua modificação ou revogação por uma nova lei.
Trata-se do chamado princípio da continuidade das leis. Elpídio Donizetti e Felipe
Quintella (2016, p. 73) explicam que a revogação da lei ocorre quando desaparece do
ordenamento jurídico, perdendo, então, a sua obrigatoriedade. Além disso, a revo-
gação pode ocorrer de duas formas (§1º do art. 2º da LINDN): a) revogação expressa,
quando uma lei posterior estabelecer a uma anterior deixará de existir; b) revogação
tácita, quando uma nova lei trata de toda matéria prevista na lei anterior, sendo com
esta incompatível ou alterando, de forma total, o que dispunha. Além disso, a revo-
gação pode ocorrer de forma total (chamada de ab-rogação) ou parcial (chamada de
derrogação) (TARTUCE, 2014).
A lei é posta no ordenamento jurídico com o objetivo de produzir seus efeitos para o
futuro, e não ao passado. Porém, pode ocorrer de uma determinada lei atingir com
19 Pode ocorrer da própria lei estabelecer o seu período de duração, ou seja, o período de vigência da lei. É a chamada lei temporária.
seus efeitos a fatos passados. Portanto, temos como regra a chamada irretroatividade
da lei, e exceção, a retroatividade. Por isso, buscando uma segurança jurídica, a Lei de
Introdução às Normas de Direito Brasileiro, em seu art. 6º, e a Constituição Federal,
em seu art. 5º, XXXVI, concedem uma segurança jurídica aos sujeitos com relação à
possibilidade de retroatividade da lei (TARTUCE, 2014).
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
Art. 5º. (...)
XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada.
O ato jurídico perfeito é o ato que está completo, acabado, conforme conceito esta-
belecido pela própria Lei de Introdução, em seu art. 6º, §1º, que diz que “Reputa-se
ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se
efetuou”.
Elpídio Donizetti e Felipe Quintella (2016, p. 76-77) ilustram a hipótese de ato jurídi-
co perfeito com o seguinte exemplo:
Por sua vez, direito adquirido é o “direito material ou imaterial incorporado no patri-
mônio de uma pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado” (TARTUCE, 2014,
p. 26). Já o conceito legal de direito adquirido está disposto no art. 6º, §2º da LINDB,
que assim dispõe: “Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou
alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo
pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem”.
Por fim, coisa julgada nada mais é do que uma decisão judicial proferida e que não
cabe mais recurso (TARTUCE, 2014). Assim, “chama-se coisa julgada ou caso julgado
a decisão judicial de que já não caiba recurso” (art. 6º, §3º, da LINDB). Ilustremos coi-
sa julgada com o exemplo abaixo, proposto por Elpídio Donizetti e Felipe Quintella
(2016, p. 76):
Isso ocorre porque, se um fato deixar de ser considerado criminoso pela sociedade,
não há mais que punir alguém que o tenha praticado. Porém, se a nova norma penal
prejudicar o réu, ela não poderá retroagir, visto que não há como condenar alguém
pela prática de crime surgido após a prática do fato (DONIZETTI; QUINTELLA, 2016,
p. 76-77).
O Código Civil, conforme explica Carlos Roberto Gonçalves (2016), trata das relações
jurídicas privadas, que ocorrem entre pessoas, sejam elas naturais ou jurídicas. Pri-
meiramente, em sua Parte Geral, o Código Civil de 2002 (CC/2002) vem disciplinar
sobre a pessoa natural como sujeito de direito, entre os seus arts. 1º a 39.
Segundo o mesmo autor (2002), há uma segunda capacidade, que é aquela para o
exercício dos direitos, a chamada capacidade de fato, que não é pertencente a todas
as pessoas, conforme veremos adiante. Quando a pessoa possuir capacidade de di-
reito e capacidade de fato, falamos que ela possui capacidade civil plena (TARTUCE,
2014). E quando começam e terminam esses deveres de ordem civil? É o que vere-
mos nos tópicos abaixo.
Todo aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa, ou seja, adqui-
re personalidade. Esta é, portanto, qualidade ou atributo do ser humano.
Pode ser definida como aptidão genérica para adquirir direitos e contrair
obrigações ou deveres na ordem civil. É pressuposto para a inserção e atu-
ação da pessoa na ordem jurídica.
O nascimento com vida ocorre quando a criança, separada do ventre materno, res-
pira. Com relação ao nascituro, existem três teorias que pretendem explicar a sua
situação jurídica. Na lição de Carlos Roberto Gonçalves (2016, p. 103),
Das três teorias, prevalece, atualmente, a concepcionista (TARTUCE, 2014). Como ve-
remos mais adiante, às pessoas jurídicas também é reconhecida personalidade.
4.1.2.1.2 INCAPACIDADES
O Código Civil de 2002, em seus artigos 3º e 4º, estabelece que existem dois tipos de
incapacidade civil: a absoluta e a relativa, que irão variar conforme o grau de imatu-
ridade, deficiência física ou mental da pessoa. Vamos analisar as principais situações
de incapacidade civil.
de seus direitos, sob pena do ato praticado sem representação ser considerado nulo,
conforme art. 166, I, do CC/2002.
Carlos Roberto Gonçalves (2016) ensina que o relativamente incapaz pode praticar
os atos da vida civil, porém deve estar assistido por um representante legal, sob pena
de anulação (art. 171, I, do CC/2002).
É de se observar que, para alguns atos da vida civil, não será necessária a assistência
do representante legal, como, por exemplo, ser testemunha (art. 228, I, do CC/2002),
aceitar mandato (art. 666 do CC/2002), fazer testamento (art. 1.860, parágrafo único,
do CC/2002), exercer empregos públicos para os quais não for exigida a maioridade
(art. 5º, parágrafo único, III, do CC/2002), casar (art. 1.517 do CC/2002), ser eleitor, ce-
lebrar contrato de trabalho, entre outros.
c) Os que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vonta-
de: são aquelas pessoas que não podem exprimir sua vontade por conta de alguma
patologia temporária, como, por exemplo, embriaguez não habitual, hipnose, uso
eventual e excessivo de entorpecentes, arteriosclerose etc.
Com relação aos índios, o parágrafo único do art. 4º do CC/2002 estabeleceu que “a
capacidade dos índios será regulada por legislação especial”. Atualmente, a situação
jurídica dos índios é regulada pela Lei nº 6.001/1973 (Estatuto do Índio) e estabele-
ce que estão sujeitos à tutela da União até se adaptarem à civilização. Tal Estatuto
diz ser nulo os negócios jurídicos celebrados entre um índio e uma pessoa estranha
à comunidade indígena, sem a participação da Funai20, enquadrando-o, portanto,
na condição de absolutamente incapaz. Porém, estabelece, ainda, que poderá ser
considerado válido o ato se o índio revelar consciência e conhecimento sobre o ato
praticado e, ao mesmo tempo, não o prejudicar (GONÇALVES, 2016).
É importante, por fim, mencionar que a incapacidade pode cessar pela maioridade
ou pela emancipação:
EMANCIPAÇÃO:
MAIORIDADE:
é a aquisição de capacidade civil antes da idade definida
ocorre com os 18 anos
em lei. Portanto, é uma antecipação da capacidade de
completos, o que faz tornar
fato e ocorrerá por concessão dos pais (voluntária),
a pessoa apta a exercer os
sentença judicial (judicial) ou nos casos que a lei atribuir
atos da vida civil.
tal efeito (legal). Está prevista no art. 5º do CC/2002:
É aquela, conforme aponta o art. 6º do CC/2002, que extingue a pessoa natural. A pro-
va da morte real se faz através do atestado de óbito ou por ação declaratória de morte
presumida, sem decretação de ausência (art. 7º do CC/2002) (GONÇALVES, 2016).
A morte real ocorre com a constatação da morte cerebral, ou seja, que o cérebro pare
de funcionar, conforme consta no art. 3º da Lei nº 9.434/1997, que trata da morte
para fins de remoção de órgãos para transplante (TARTUCE, 2013). Portanto, com a
morte real, temos a extinção da capacidade, perdendo, o morto, o status de sujeito
de direitos e obrigações. Entretanto, alguns direitos da personalidade do morto per-
manecem para a proteção dos familiares, como a honra, a imagem (GONÇALVES,
2016; TARTUCE, 2014).
A presunção de morte relativa a comoriência é relativa, podendo ser afastada por lau-
do médico ou outra prova que precise o momento da morte real (GONÇALVES, 2016).
Outra forma de estabelecer o fim da personalidade ocorre nos casos em que se acre-
dita que a pessoa morreu, porém não se tem certeza. É o caso da morte presumida,
que pode ocorrer em duas situações: com declaração de ausência (parte final do art.
6º do CC/2002) e sem declaração de ausência (art. 7º do CC/2002). As hipóteses de
morte presumida sem declaração de ausência estão previstas no art. 7º do Código
Civil de 2002:
4.1.2.6.1 DOMICÍLIO
Carlos Roberto Gonçalves (2016, p. 174) explica que o tema domicílio é de relevân-
cia para o direito, pois é necessário que as pessoas que se relacionam juridicamente
tenham um local onde possam ser encontradas para responder por suas obrigações.
“Todos os sujeitos de direito devem ter, pois, um lugar certo, no espaço, de onde ir-
radiem sua atividade jurídica. Esse ponto de referência é o seu domicílio (do latim
domus, casa ou morada)”.
Pode ocorrer de a pessoa natural possuir vários locais de residência. Assim, o art. 71
do CC/2002 já se encarregou de prever a situação, estabelecendo que “se, porém,
a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-
-se-á domicílio seu qualquer delas”. E mais, o legislador ampliou a possibilidade de
locais a serem considerados como domicílio, estabelecendo que é possível incluir o
domicílio profissional. É o que dispõe o art. 72 do Código Civil de 2002, nos termos
descritos na página seguinte:
Na ocasião de não ter residência habitual, “ter-se-á por domicílio da pessoa natural
(...) o lugar onde for encontrada” (art. 73 do CC/2002). Trata-se do caso de nômades,
ciganos, peregrinos, andarilhos, circenses etc. Ressalta-se que é possível a mudança
de domicílio, que ocorrerá “(...) transferindo a residência, com a intenção manifesta
de o mudar”, conforme disposto no art. 74 do CC/2002. Essa intenção deve ser com-
provada através de declarações feita pela pessoa às autoridades locais, informando,
assim, a sua intenção de mudar de domicílio. Por fim, é mister esclarecer que, segun-
do Flavio Tartuce (2014), a doutrina classifica o domicílio em:
tinta da dos indivíduos que a compõe (GONÇALVES, 2016). Assim como as pessoas
naturais, as pessoas jurídicas possuem diversos direitos, como, por exemplo, alguns
direitos de personalidade, direito das coisas, direitos obrigacionais etc.
a) Vontade humana: são necessárias duas ou mais pessoas com vontades convergentes
e ligadas por uma intenção comum. Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 224),
essa vontade se materializa no ato constitutivo da pessoa jurídica, que deve ser escrito.
d) Liceidade de seu objetivo: o objetivo da pessoa jurídica deve ser determinado e pos-
sível. Nas sociedades, o objetivo é o lucro; nas fundações, a finalidade é religiosa, moral,
cultural ou assistencial; nas associações, de fins não econômicos, os fins são de natureza
educacional, cultural, esportiva, religiosa, recreativa, filantrópica, moral e outros.
Como visto, a existência legal de uma pessoa jurídica só iniciará com o registro do
seu ato constitutivo no órgão competente, conforme disposto no art. 45 do CC/2002:
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito priva-
do com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida,
quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, aver-
bando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
4.1.2.7.3 DOMICÍLIO
Assim como a pessoa natural, a pessoa jurídica também possui domicílio, que é
denominado de sede jurídica, onde responderá por seus direitos e obrigações assu-
midas (TARTUCE, 2014). O domicílio da pessoa jurídica é estabelecido pelo art. 75 do
Código Civil:
Com relação à pessoa jurídica de direito privado, o domicílio se dará ondem funcio-
na a diretoria e administração, ou, ainda, no domicílio especial eleito no estatuto ou
ato constitutivo. E possível, também, a pluralidade de domicílios da pessoa jurídica,
desde que tenha diversos estabelecimentos, como agências ou escritórios de repre-
sentação (art. 75, §1º, do CC/2002).
Porém, em virtude dessa autonomia patrimonial, acaba por possibilitar que socieda-
des empresárias sejam utilizadas para a prática de fraudes e abuso de direito contra
credores (GONÇALVES, 2016).
Com objetivo de coibir esses abusos e fraudes, surgiu a chamada teoria da desconsi-
deração da personalidade jurídica, ou seja, tal teoria permite que
Essa teoria é adotada pelo Direito Civil brasileiro no art. 50 do CC/2002, que assim
prevê:
Desvio de finalidade ocorre quando a atividade que é realizada pela pessoa jurídica
não é aquela prevista em seu ato constitutivo ou estatuto, e sim com o benefício dos
sócios, administradores ou associados. A confusão patrimonial ocorre quando não
se consegue diferenciar com clareza o que é patrimônio da pessoa jurídica e o que
patrimônio da pessoa natural dos sócios, associados ou administradores (DONIZETTI;
QUINTELLA, 2016).
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) foi instituído pela Lei nº 8.078/1990 com
a finalidade de proteger vulneráveis na transação de produtos e serviços, ou melhor,
em uma relação de consumo. Neste tópico, iremos abordar os principais aspectos do
direito consumerista.
4.2.1.1 CONSUMIDOR
O próprio CDC resolveu elaborar o conceito de consumidor, no bojo do art. 2º, pre-
vendo que “consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produ-
to ou serviço como destinatário final”.
Assim, será consumidor aquela pessoa, física ou jurídica, que obtém, onerosa ou gra-
tuitamente, ou utiliza um produto ou serviço como destinatário final, ou seja, é o
último da cadeia de consumo, não utilizando o produto ou serviço para o lucro,
repasse ou transmissão onerosa (TARTUCE; NEVES, 2016). Ocorre, ainda, que o CDC
ampliou o conceito de consumidor, ao estabelecer que “equipara-se a consumidor a
coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações
de consumo” (art. 2º, parágrafo único). É o que ocorre, por exemplo, quando o con-
domínio contrata serviços.
4.2.1.2 FORNECEDOR
Toda pessoa, seja física ou jurídica (pública ou privada, nacional ou estrangeira), e até
os entes despersonalizados podem ser fornecedores, desde que atue em alguma
atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comércio de produtos ou na prestação de serviços. Riz-
zatto Nunes (2015, p. 133) bem explica a noção de atividade, dizendo que pode ser
típica ou eventual. Atividade típica seria aquela desenvolvida, por exemplo, por um
“(...) comerciante estabelecido regularmente exerce a atividade típica descrita em
21 Aqueles desprovidos de personalidade, como, por exemplo, a massa falida, o espólio etc.
seu estatuto”. Entretanto, pode ocorrer desse comerciante exercer uma atividade
atípica, “(...) quando, por exemplo, age, de fato, em situação diversa da prevista, o que
pode dar-se de maneira rotineira ou eventual”.
A pessoa física, que também pode ser fornecedora, exercerá atividade atípica ou
eventual ao praticar atos de comércio ou industriais. Como é o caso de uma pessoa
que, para complementar a renda, revende bijuterias, colocando-a como fornecedora
nos termos da lei, mesmo que essa atividade ocorra em uma época específica, como
no período de festas natalinas.
4.2.1.3 PRODUTO
Produto é “(...) qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”, conforme re-
dação do §1º, art. 3º do CDC.
Bem móvel é aquele que pode ser transportado, por força própria ou de terceiros, sem
que ocorra a destruição, modificação ou deterioração; bem imóvel é aquele que não
pode ser removido ou transportado sem que ocorra a sua deterioração ou destruição.
Bem material é aquele que pode ser tocado, pois tem existência corpórea; já bem
imaterial é aquele que não pode ser tocado, pois somente tem existência abstrata
(por exemplo, o direito de autor, a hipoteca, o penhor, a marca etc.) (TARTUCE, 2014).
É interesse destacar que o CDC, em seu art. 26, I e II, fala em produtos duráveis e não
duráveis. Os primeiros são aqueles que não extinguem com o uso. Na verdade ele
leva um longo tempo para sofrer desgaste. Já os produtos não duráveis são aqueles
que se extinguem com o uso (NUNES, 2015).
4.2.1.4 SERVIÇO
Os direitos básicos do consumidor estão previstos no art. 6º do CDC, que assim dispõe:
b) Igualdade nas contratações: o CDC, em seu art. 6º, II, assegura o princípio da igual-
dade previsto constitucionalmente (art. 5º, caput, da CF/88). Portanto, o fornecedor
de produtos ou serviços não pode dispensar tratamento diferenciado aos consumi-
dores entre si, devendo prestar as mesmas condições a todos eles. Excepcionalmen-
te, o fornecedor poderá conceder privilégios àqueles que necessitam de proteção
especial, como, por exemplo, gestantes, pessoas com deficiência física, idosos etc.
d) Proteção contra publicidade enganosa ou abusiva (art. 6º, IV, do CDC): qualquer
“informação a respeito das características, qualidade, funcionamento, preço etc. são
elementos essenciais dos produtos e serviços. Os contratos têm de ser apresentados
previamente ao consumidor de forma clara”.
h) Acesso à justiça: Rizzato Nunes (2015, p. 191), citando o disposto no inciso VII do
art. 6º, diz que explica que o acesso à justiça e aos órgãos administrativos dos con-
sumidores para defesa de seus direitos é ampla, “(...) o que implica abono e isenção
de taxas e custas, nomeação de procuradores para defendê-los, atendimento prefe-
rencial etc.”.
Por isso, o produtor acaba tendo que correr o risco na fabricação de produtos ou ser-
viços a certo custo que não prejudique o benefício. Além disso, produções em série
A indenização deve ser na medida das consequências sofridas pelo dano oriundo do
acidente de consumo. Tal dano pode ser material, moral, estético ou à imagem. O dano
material compreende os chamados danos emergentes, ou seja, a perda patrimonial
efetivamente sofrida pelo consumidor, e os lucros cessantes, que compreendem tudo
o que o consumidor deixou de ganhar como renda em razão do dano. Assim,
Já o dano moral vai afetar “(...) a paz interior da pessoa lesada; atinge seu sentimento,
o decoro, o ego, a honra, enfim, tudo aquilo que não tem valor econômico mas causa
dor e sofrimento.” O cálculo do valor da indenização pelo dano moral sofrido deve
ser por critérios objetivos, tais como a natureza da ofensa sofrida, a repercussão da
ofensa no meio social, situação econômica do consumidor, necessidade de punição
ao fornecedor, presença de dolo, entre outros (NUNES, 2015, p. 225). Além disso,
vale ressaltar, que o acidente de consumo pode gerar danos ao consumidor e outras
pessoas que por ventura se envolvam no mesmo (consumidores por equiparação),
diretamente, bem como terceiros que tenham relação com os que sofreram o dano
direto, como, por exemplo, seus familiares (NUNES, 2015).
UNIDADE 5
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos:
5 DIREITO DO TRABALHO
Renato Saraiva e Rafael Tonassi Souto (2016, p. 27) conceituam princípios como
Segundo a doutrina, os princípios têm por principais funções: a) informar, isto é, ser-
vem como referência a ser observada pelo legislador no momento da elaboração da
norma; b) interpretar, pois auxiliam na intepretação do alcance da norma; c) norma-
tizar, pois podem ser aplicados aos casos concretos na falta de uma norma especí-
fica a ser utilizada no caso concreto (RESENDE, 2016). Veremos abaixo os principais
Estabelece que, o operador do direito deverá optar, dentre duas ou mais interpre-
tações possíveis de um preceito que trata de regras trabalhistas, pela que seja mais
favorável ao trabalhador (SARAIVA; SOUTO, 2016). Portanto, quando houver dúvida a
respeito da interpretação da norma, o intérprete deverá escolher aquela que benefi-
ciar o hipossuficiente.
Tal princípio estabelece que a verdade real deve prevalecer sobre a verdade formal.
Assim, para o direito do trabalho os fatos reais prevalecem sobre as formas, ou seja,
o importante é o que realmente aconteceu e não o que está escrito na norma (SA-
RAIVA; SOUTO, 2016; CASSAR, 2014). Destina-se, portanto, a proteger o trabalhador,
visto que “(...) seu empregador poderia, com relativa facilidade, obriga-lo a assinar
documentos contrários aos fatos e aos seus interesses”. Por exemplo, trabalhador que
sempre trabalhou duas horas extras por dia, porém os cartões de ponto não as re-
gistram, apesar de assinados pelo empregado. Caso este consiga comprovar o fato, a
verdade real (prática das horas extras) prevalecerá sobre a verdade formal (os pontos
registrados) (CASSAR, 2014).
Consagrado no art. 7º, VI, da CF/88 e no art. 468 da CLT, “a intangibilidade significa
a proteção dos salários contra descontos não previstos em lei”. Tal princípio objetiva,
portanto, proteger o salário do trabalhador (CASSAR, 2014, p. 190). Isso acontece
porque o salário tem natureza alimentar, visto que, visa prover os alimentos do traba-
lhador e de sua família (SARAIVA; SOUTO, 2016). Além disso, não é possível a redução
do salário, salvo disposição que autorize tal redução prevista em convenção coletiva
ou acordo coletivo (CASSAR, 2014).
Presume-se que a relação de emprego seja duradoura, com exceção dos contratos
por prazo determinado. Nesse sentido, “a regra geral quanto ao prazo do contrato
de emprego é que este é indeterminado e a exceção é o contrato a termo”. É em
razão disso que o contrato por prazo determinado deve ser expresso (CASSAR, 2014,
p. 191).
Previsto no art. 468 da CLT, este princípio somente autoriza a modificação das condi-
ções e cláusulas contratuais em caso de concordância do empregado, e desde que
não cause, direta ou indiretamente prejuízo ao mesmo (SARAIVA; SOUTO, 2016).
Relação de
Relação de trabalho Relação de Associado de
trabalho – Trabalho
institucional trabalho – Estágio Coperativa.
Voluntário;
d) Relação de trabalho eventual: é aquele com caráter temporário e que não está
relacionado com a atividade-fim da empresa, não existindo continuidade na presta-
ção de serviços;
de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos,
recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade (art. 1º da Lei 9.608/1998);
a) Trabalho por pessoa física: somente a pessoa natural (pessoa física) pode ser em-
pregada. A pessoa jurídica não será, em nenhuma hipótese, empregada;
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos:
6 DIREITO INTERNACIONAL E
DIREITO AMBIENTAL
b) Ato constitutivo;
• Banco Mundial;
(...) ramo do direito público composto por princípios e regras que regulam
as condutas humanas que afetem, potencial ou efetivamente, direta ou
indiretamente, o meio ambiente, quer o natural, o cultural ou o artificial.
O Meio Ambiente Natural cuida dos recursos naturais, ou seja, das interações com
a atmosfera, águas, solo, subsolo, elementos da biosfera, a fauna e a flora. O Meio
Ambiente Artificial, aquele construído pela ação humana, é tratado pelo Direito Ur-
banístico e não pelo Direito Ambiental. Já o Meio Ambiente Cultural, que objetiva
manter a memória e a identidade cultural do povo, tem previsão expressa no art. 226
da CF/88, estabelecendo que
Os Recursos ambientais, conforme art. 3º, V, da Lei nº 6.938/81, são “(...) a atmosfera,
as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o
subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora”.
Para o Direito brasileiro, portanto, são elementos do meio ambiente, além daqueles
tradicionais, como o ar, a água e o solo, também a biosfera. O Direito Ambiental se
preocupa com todos esses bens, sejam eles naturais ou não. Abarca não só o meio
ambiental natural, a saber, as condições físicas da terra, da água e do ar, mas tam-
bém o meio ambiente humano/artificial (bens culturais e históricos), isto é, as condi-
ções produzidas pelo homem e que afetam sua existência no Planeta.
A degradação da qualidade ambiental, conforme art. 3º, II, da Lei nº 6.938/81 é “(...) a
alteração adversa das características do meio ambiente”. Não é toda e qualquer alte-
ração do ambiente, pois pode haver alteração de forma positiva, como, por exemplo,
o reflorestamento. Degradação é a alteração nociva ao meio ambiente.
Por fim, poluidor é “(...) a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, res-
ponsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambien-
tal” (art. 3º, IV, da Lei n 6.938/81).
Marcelo Abelha Rodrigues (2016) nos ensina que o objeto de proteção do Direito
Ambiental está disposto no art. 225, caput, da Constituição Federal de 1998: “todos
têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida (...)”. Portanto, é o equilíbrio ecológico
o bem jurídico a ser tutelado/protegido pelo Direito Ambiental.
Como nos demais ramos do direito, aqui também não existe uma uniformidade de
princípios apresentados pelos doutrinadores. Por isso, iremos abordar os principais
torna-se cada vez mais premente que se estabeleça uma verdadeira po-
lítica mundial/global de proteção e preservação do meio ambiente. Tais
políticas devem acompanhar o caráter da “natureza” e estabelecer regras
menos preocupadas com a soberania nacional e mais vinculadas a uma
cooperação internacional.
Previsto na parte final do caput do art. 225 da CF/88, o princípio da equidade estabe-
lece que “as presentes gerações devem preservar o meio ambiente e adotar políticas
para a presente e as futuras gerações, não podendo utilizar os recursos ambientais
de maneira irracional (...)”. (AMADO, 2014, p. 72).
REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, Ricardo; DEUS, João de. Direito administrativo esquematizado. Rio de
Janeiro: Forense, 2015.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. Rio de Janei-
ro: Atlas, 2017.
CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 10. ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. (Coleção si-
nopses jurídicas; v. 30).
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso didático de direito civil. 5. ed. rev. e
atual. São Paulo: Atlas, 2016.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 1 v.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 17. ed. rev. atual. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2013.
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. 3. ed. rev., ampl. e atual. Bahia:
Juspodivm, 2015.
MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 27. ed. São Paulo: Malheiros,
2002.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 26. ed. São Pau-
lo: Malheiros, 2009.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 36. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
NOVELINO, Marcelo. Manual de direito constitucional. 9. ed. rev. e atual. Rio de Ja-
neiro: Forense, 2014.
______. Curso de direito do consumidor. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2015.
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de direito administrativo. 3. ed. rev., atual.
e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio
de Janeiro, Forense, 2016.
SARAIVA, Renato; SOUTO, Rafael Tonassi. Direito do trabalho. 18. ed. rev. atual e
ampl. Salvador: Juspodivm, 2016.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 4. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2014.
E A D. M U L T I V I X . E DU. B R
FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
SUMÁRIO 167