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EDUCAÇÃO, SAÚDE E
SEXUALIDADE
MISSÃO
VISÃO
EDITORIAL
Seja bem-vindo!
LISTA DE FIGURAS
>>FIGURA 1 - Intersetorialidade 19
>>FIGURA 2 - Responsáveis pela garantia da Educação como direito 20
>>FIGURA 3 - Ações na perspectiva da intersetorialidade 23
>>FIGURA 4 - Intersetorialidade: conceitos-chave 26
>>FIGURA 5 - Etapas do trabalho escolar envolvendo
a temática da sexualidade 29
>>FIGURA 6 - Mecanismos condicionantes da sexualidade 38
>>FIGURA 7 - Elementos que compõe a concepção sobre sexualidade 39
>>FIGURA 8 - Descrição de práticas sexuais normais
e anormais a partir da ideia do “coito natural” 40
>>FIGURA 9 - Aspectos que trazem implicações para
a construção da sexualidade 45
>>FIGURA 10 - Fase oral 53
>>FIGURA 11 - Adultização infantil 63
>>FIGURA 12 - Erotização precoce 64
>>FIGURA 13 - Abordagem da sexualidade em uma
proposta pedagógica ético-política 73
>>FIGURA 14 - Características da criança sexualmente saudável 79
>>FIGURA 15 - Conceitos-chave para o desenvolvimento
saudável da sexualidade 80
>>FIGURA 16 - A escola na proposta de EPS 90
>>FIGURA 17 - A família na proposta EPS 91
>>FIGURA 18 - A comunidade na proposta de EPS 92
>>FIGURA 19 - Ações do Programa Saúde na Escola 95
>>FIGURA 20 - Princípios do PSE 96
>>FIGURA 21 - Ações de saúde na educação 99
>>FIGURA 22 - Constituição do conceito de gênero 105
>>FIGURA 23 - Orientação sexual 107
>>FIGURA 24 - Identidade de gênero 107
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
BIBLIOGRAFIA COMENTADA 32
CONCLUSÃO 33
INTRODUÇÃO DA UNIDADE 35
2.1 A SEXUALIDADE COMO CONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL 36
2.1.1 DIMENSÕES HISTÓRICO-SOCIAIS DA SEXUALIDADE 37
2.1.2 IMPLICAÇÕES DE ALGUNS ASPECTOS SOCIAIS,
HISTÓRICOS E CULTURAIS NA CONSTRUÇÃO DA SEXUALIDADE HUMANA 45
CONCLUSÃO 48
INTRODUÇÃO 50
3.1 SEXUALIDADES: NÍVEL BIOLÓGICO E PSICOSSEXUAL E
SUAS MANIFESTAÇÕES NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 51
3.1.1 SEXUALIDADE INFANTIL: A CRIANÇA COMO SER SEXUAL 52
SUMÁRIO
BIBLIOGRAFIA COMENTADA 68
CONCLUSÃO 69
INTRODUÇÃO 71
4.1 SEXUALIDADE COMO CAMPO DE ESTUDOS DA EDUCAÇÃO 72
4.1.1 INTERSECÇÕES ENTRE SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO 72
4.1.2 DIFERENCIANDO CONCEITOS: SEXO, SEXUALIDADE
E EDUCAÇÃO SEXUAL 77
4.1.3 AS POSSIBILIDADES OFERECIDAS NO ATENDIMENTO ÀS
NECESSIDADES DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
INFANTIL E ADOLESCENTE 78
BIBLIOGRAFIA COMENTADA 83
CONCLUSÃO 84
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 86
5.1 O CONCEITO DE ESCOLA SAUDÁVEL DENTRO DAS
ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO DE SAÚDE 87
5.1.1 PARCERIAS, ALIANÇAS E O PACTO SOCIAL 93
5.1.2 PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE NA ESCOLA
DENTRO DA PERSPECTIVA DAS ÁREAS TRANSVERSAIS
DE ENSINO FUNDAMENTAL: PROGRAMAÇÃO, CRITÉRIOS
E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 95
BIBLIOGRAFIA COMENTADA 99
CONCLUSÃO 100
INTRODUÇÃO 103
6.1 ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS PARA A EDUCAÇÃO SEXUAL
NA ESCOLA: RELAÇÕES DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E
IGUALDADE NUMA PROPOSTA DE RESPEITO ÀS DIFERENÇAS 103
6.1.1 DEFININDO CONCEITOS: GÊNERO, ORIENTAÇÃO
E IDENTIDADE SEXUAL 104
6.1.1.1 GÊNERO 104
6.1.1.2 ORIENTAÇÃO SEXUAL 107
6.1.1.3 IDENTIDADE SEXUAL OU DE GÊNERO 107
6.1.2 EDUCAÇÃO SEXUAL: POSSIBILIDADES DIDÁTICAS 108
SUMÁRIO
CONCLUSÃO 121
REFERÊNCIAS 123
ICONOGRAFIA
ATENÇÃO ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
PARA SABER
SAIBA MAIS
ONDE PESQUISAR CURIOSIDADES
LEITURA COMPLEMENTAR
DICAS
GLOSSÁRIO QUESTÕES
MÍDIAS
ÁUDIOS
INTEGRADAS
ANOTAÇÕES CITAÇÕES
EXEMPLOS DOWNLOADS
BIODATA DA AUTORA
Roselaine Pontes de Almeida
JUSTIFICATIVA
O trabalho com crianças e adolescentes demanda dos profissionais conhecimen-
tos que os permitam lidar com questões relacionadas à Educação, Saúde e Sexua-
lidade. Muitos dos tópicos que compõem essas temáticas representam um desafio
para o educador, uma vez que são cercados por mitos, tabus e falta de informação.
Compreender a construção sócio-histórico-cultural destas temáticas em suas múlti-
plas dimensões auxilia o professor a refletir sobre a importância de um trabalho volta-
do à equidade e respeito às diferenças, favorecendo o entendimento de suas princi-
pais manifestações, dúvidas e conflitos, que naturalmente adentram o espaço escolar
e permeiam a relação entre professor e aluno. Tendo isso em vista, esta disciplina
foi estruturada de modo a oferecer as principais abordagens que fundamentam o
estudo e a atuação prática com as temáticas da Educação, Saúde e Sexualidade.
A proposta é oferecer um panorama sobre as diferentes dimensões da construção,
manifestação e suas implicações pessoais e sociais das questões relacionadas à saúde
e sexualidade.
ENGAJAMENTO
A proposta desta disciplina é fazer uma articulação entre os temas que envolvem
Educação, Saúde e Sexualidade, de modo a permitir um diálogo que favoreça a refle-
xão e a construção de práticas voltadas à valorização e respeito às diferenças. Assim,
antes de iniciar este estudo, reflita sobre seu conhecimento prévio sobre essa temáti-
ca e como você imagina que ela pode ser abordada na atualidade:
APRESENTAÇÃO DA
DISCIPLINA
Seja bem-vindo à disciplina Educação, Saúde e Sexualidade! Nela, você vai conhe-
cer as diferentes dimensões em que cada um destes temas tem sido estudado e as
intersecções possíveis entre eles, além das implicações que as diferentes abordagens
trazem para o debate e construção do conhecimento nas diversas áreas. A proposta é
tratar os temas de forma ampla, abordando educação, saúde e as diferentes manifes-
tações da sexualidade na infância e adolescência, buscando articular questões bioló-
gicas e psicossexuais às possibilidades que estes conhecimentos oferecem para a
compreensão sobre o crescimento e desenvolvimento infanto-juvenil.
OBJETIVOS DA DISCIPLINA
Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de:
UNIDADE 1
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
> Expressar as
articulações possíveis
entre educação, saúde
e sexualidade.
1 EDUCAÇÃO, SAÚDE
E SEXUALIDADE:
INTERSECÇÕES POSSÍVEIS
O presente conteúdo foi elaborado com o objetivo de fornecer a base teórica para a
compreensão de Educação, Saúde e Sexualidade, em suas múltiplas possibilidades
de manifestação e investigação. Nesta Unidade, você vai estudar como se constitui
cada um destes campos e o que propõem as diferentes abordagens. Depois, serão
abordadas as articulações possíveis entre os temas, apresentando as intersecções já
existentes entre essas áreas.
Compreender cada uma destas áreas e como elas dialogam entre si é importan-
te para que se desenvolva um pensamento articulado em prol dos benefícios que
essa intersecção pode representar. Nesta perspectiva, serão definidos cada um destes
conceitos, e você entenderá como, juntos, constroem a possibilidade de reflexões e
ações no âmbito intersetorial.
Muitas vezes ao assistir o telejornal ou ao ler jornais e portais da internet, nos depara-
mos com notícias que falam sobre desenvolvimento social. Esse termo, geralmente
pouco compreendido isoladamente, muitas vezes é associado a economia, progra-
mas sociais, assistência à saúde, cidadania, dentre tantos outros, passando a ideia de
amplitude do conceito. Mas, afinal, o que é desenvolvimento social?
Para que as necessidades da população sejam atendidas e, com isso, haja desenvol-
vimento social, é necessário que haja articulação de políticas econômicas e sociais,
numa perspectiva de enfraquecimento e abandono das ações fragmentadas e conse-
quente fortalecimento do regime de colaboração entre setores.
FIGURA 1 - INTERSETORIALIDADE
Nesta perspectiva, a Educação tem sido vista como uma forma de potencializar o
desenvolvimento das pessoas, já que, tradicionalmente, é transmitida a crianças
desde a mais tenra idade e, cada vez mais, em instituições especializadas. No passa-
do, a educação na primeira infância (até os 6/7 anos) ocorria em casa e, muitas vezes,
depois disso, com preceptores contratados pela família; mais recentemente, a partir
desta idade, as crianças iam para a instituição escola. Na atualidade, as mudanças
sociais e nas configurações familiares, além das conquistas das mulheres pela inde-
pendência financeira e vida autônoma, fizeram surgir a necessidade de uma educa-
ção voltada às crianças pequenas, com menos de 3 anos de idade.
Vê-se, com essa nova configuração, que as crianças – aprendizes de uma dada cultura
e sociedade – recebem, cada vez mais cedo, uma educação institucionalizada, o que
torna a escola (a creche) em um local de ensino por excelência. Você já parou para
pensar no que isso pode significar?
Se, por um lado, as crianças hoje podem ter maiores possibilidades de contato com
a diversidade, com as múltiplas formas de expressão e vivência dos indivíduos de
diferentes culturas, também se pode imaginar que alguns aprendizados básicos e
Essa reflexão é importante para nos fazer compreender como a educação, seja ela
formal (que ocorre nos sistemas de ensino), seja a não formal (que ocorre ao longo
da vida, fora da escola), é um importante elemento que ajuda a moldar as crenças,
valores e subjetividades, que contribuem para a formação da identidade das pessoas.
EDUCAÇÃO
como direito
Estado
Família
Sociedade
No que diz respeito às políticas de saúde, é fato que unir esforços com outros setores
representa maior escala e alcance de projetos.
O que se percebe, por estes exemplos, é que a tentativa de unir esforços para atuação
conjunta não é nenhuma novidade. Muito pelo contrário, essa busca pelo trabalho
compartilhado já existe e a ele chamamos Intersetorialidade.
Assim, de forma sintetizada, listamos ações que, para Junqueira (2004), explicitam a
intersetorialidade:
planejamento conjunto
mobilização de recursos
Mesmo sendo uma prática existente desde o Século XX, Figueiredo et al., 2010 apon-
tam muitos desafios e fragilidades na implementação de ações intersetoriais, como
as ações fragmentadas, a ausência de comprometimento igualitário entre os setores
e o predomínio de abor¬dagens setorizadas (SANTOS, 2005).
Planejamento e
Parceria
desenvolvimento de ações
conjuntas e integradas Trabalho coletivo
Intersetorialidade
Diálogo
Decisões horizontais
Envolvimento
Compartilhamento de poder
Aproximação
A partir dos projetos e ações intersetoriais é possível que áreas distintas, que talvez
não tenham a tradição ou o hábito de dialogar, podem iniciar a identificação de
pontos e objetivos comuns em algum tipo de trabalho. Deste exercício, algumas arti-
culações entre temas, projetos e ações podem surgir, fomentando o compartilha-
mento de ideias para uma atuação que pode vir a ser colaborativa e integrada.
Para se romper com a ideia muitas vezes equivocada que se tem sobre sexualidade,
é fundamental compreendê-la em sua perspectiva mais ampla, que engloba além
do fundamento biológico, anatômico e também genital, uma disposição psíquica,
mencionada por Freud (1905) como a essência da atividade humana.
Diante deste novo e amplo cenário, as múltiplas sexualidades demandam ser repen-
sadas e dois campos, em especial, podem contribuir para essa reflexão: o da educa-
ção e o da saúde.
Holovko e Cortezzi (2018, p. 21) explicitam que “a sexualidade, quando não reduzida
ao seu sentido biológico, torna-se heterogênea”, o que significa que é múltipla em
sua significação. Compreender essa ideia e trabalhar em sala de aula a partir dessa
perspectiva favorece atitudes e modos de pensar que despatologizam fenômenos
relacionados à diversidade sexual ou familiar, do mesmo modo que auxilia na identi-
ficação e denúncia de preconceitos de todo tipo.
Para além desse reconhecimento, Dziabas e Miranzi (2007) chamam a atenção para a
necessidade de o trabalho com a educação sexual ir para além da abordagem peda-
gógica de temas que abordem a sexualidade humana. Para os autores, o tema deve
ser tratado no plano escolar de forma interdisciplinar e em contextos curriculares e
extracurriculares. Para isso, propõem que se privilegie: o espaço, a turma, as diferentes
Vale reconhecer também que, de modo geral, por conta de características próprias
do desenvolvimento, os jovens estão expostos a certas vulnerabilidades associadas à
saúde reprodutiva, identificação de sua sexualidade e construção/remodelação de
sua identidade. Nesta etapa da vida, questões como sexualidade, anticoncepção,
reprodução, aborto, maternidade e paternidade são temas que permeiam de dúvi-
das e curiosidades o pensamento e comportamento dos jovens (LUZ; BERNI, 2000).
Sem a orientação correta, a atitude dos adolescentes não poderia ser dife-
rente da que predomina à sua volta. Conversar de forma séria sobre assuntos
sexuais, em geral, tende a baixar a ansiedade dos jovens, que, naturalmente,
são muito curiosos e desejam viver suas experiências o mais rápido possível
(ROSISTOLATO, 2003, p. 133).
Não deve ser negligenciado nessa reflexão o fato de o jovem de hoje encontrar fora
da escola inúmeras informações e espaços de aprendizagem (nem sempre sérios ou
coerentes). O acesso irrestrito a todo tipo de conteúdo, ao invés de possibilitar maior
conhecimento e orientação, pode significar o contato com informações equivocadas,
que pouco ou nada auxiliam nas questões enfrentadas por que as procuram.
Assim, um trabalho sério, desenvolvido no espaço escolar, deve ser voltado a ofere-
cer diálogo e informação de qualidade, acolhendo o jovem e suas dúvidas. Para isso,
Dziabas e Miranzi (2007) propõem:
Diálogo contínuo
Oferta de informação sobre saúde e educação sexual para o desenvolvimento das habilidades neces-
sárias para o jovem se manter saudável>
Proteção à saúde de adolescentes grávidas e de mães adolescentes e seus filhos>
Favorecimento do aleitamento materno de mães adolescentes no trabalho e na escola.
Favorecimento da permanência e a reintegração de pais adolescentes à escola.
Expansão do acesso aos serviços de saúde humanizados e receptivos às demandas específicas da
população jovem.
Discussão na sociedade sobre o direito do adolescente ter acesso ao aconselhamento e aos insumos
contraceptivos, bem como aos relativos à prevenção das DST/AIDS.
Reflexão e consequente ação contra o abuso sexual, a prostituição de menores e a violência domés-
tica.
Ambientes saudáveis de trabalho para a juventude, reduzindo os riscos das doenças profissionais.
Participação intensa da grande mídia no esforço de promover a saúde e o desenvolvimento da juven-
tude.
Implementação efetiva do Estatuto da Criança e do Adolescente, privilegiando sua proposta educa-
tiva e considerando o enfoque de gênero.
É importante comentar que, mesmo que a proposta não seja nova, ainda há muito
por se fazer. Muitas das ações de prevenção e intervenções voltadas para a melhoria
da saúde do adolescente ainda mantêm um foco estreito e desalinhado às principais
necessidades dessa população (BRASIL, 1999). Com isso, os resultados nem sempre
são promissores, e a eficácia e eficiência dos projetos são postos à prova.
O que já é reconhecido pelo senso comum e cada vez mais tem sido confirmado por
estudos científicos é que alianças e parcerias são essenciais para a criação e desenvol-
vimento de ações que visem proteção de saúde, bem-estar e direitos da população.
Para dar conta das demandas atuais, Educação e Saúde devem auxiliar os adoles-
centes a organizar o pensamento, munindo-os de informações sérias e de qualidade,
oferecendo-lhes condições de fazer suas escolhas pessoais de forma racional e de
adotarem comportamentos conscientes e seguros (ROSISTOLATO, 2003).
BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Veja a seguir a indicação de uma obra que complementará seu conhecimento sobre
os assuntos abordados na disciplina.
CONCLUSÃO
Nesta Unidade você estudou os conceitos de desenvolvimento social, educação,
saúde e intersetorialidade. A partir de uma visão integrada, cada um dos conceitos
foi apresentado de forma a propiciar compreensão de seus pontos-chave, visando
favorecer a construção do conhecimento sobre como atuam esses diferentes setores.
UNIDADE 2
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
2 A SEXUALIDADE COMO
CONSTRUÇÃO SÓCIO-
HISTÓRICO-CULTURAL
Nesta Unidade você estudará sobre como as questões sociais, os momentos históri-
cos e as características da cultura compõem a construção da sexualidade humana. A
proposta é pensar a sexualidade a partir de como ela é entendida e exercida em um
dado momento histórico e em diferentes sociedades e culturas. Sendo uma cons-
trução sociocultural, a identidade de cada ser humano é moldada por aquilo que é
transmitido em sua cultura e pelos valores adotados pela sociedade. Família, política,
religião, escola e as mídias, em geral, transmitem as crenças, valores e ideologias que
influenciam a forma de entender o que é permitido, aceitável, valorizado, em detri-
mento do que é perverso e inaceitável.
INTRODUÇÃO DA UNIDADE
O presente conteúdo foi elaborado com o objetivo de fornecer subsídios para se
pensar a sexualidade a partir de questões que vão além da constituição do indivíduo
em seu âmbito familiar. Pensando de forma macro, a unidade propõe analisar como
a cultura, a sociedade e o tempo histórico são importantes marcadores para enten-
der as formas de agir e pensar sobre a sexualidade. Para isso, propõe refletir sobre por
que algumas práticas são naturalizadas e difundidas em uma dada cultura, enquanto
que em outra pode ser considerada abominável.
Também chama atenção para o fato de que em cada momento histórico as visões
sobre a sexualidade podem ser diferentes, influenciando as condutas, as ideologias e
Por fim, algumas implicações sobre as questões sociais, culturais e históricas são
discutidas, enfatizando a importância de se pensar o contexto atual para entender
as formas de perceber e manifestar a sexualidade das crianças e dos jovens da atua-
lidade.
O que você sabe sobre sexualidade? Quais são os tabus e curiosidades que cercam
a temática da sexualidade? Quais manifestações da sexualidade você conhece e
como você as enxerga? Falar de sexualidade nem sempre é fácil. Mesmo sendo um
tema abordado nos livros, explorados pela dramaturgia e massivamente exposto pela
mídia, ainda é cercado de mitos, medos e falta de informação qualificada. Viver a
sexualidade, em suas diversas possibilidades de manifestação, é ainda mais compli-
cado, haja vista a dificuldade de se perceber a diferença entre sexo e sexualidade, e a
crença de muitos em uma única forma “correta” de exercê-la.
Esses dilemas, presentes na vida de cada um de nós, têm relação com questões
sociais, culturais e até mesmo históricas. Você já parou para pensar que muitas dessas
questões que influenciam nossa forma de pensar, entender e manifestar a sexualida-
de têm raízes históricas? Que os padrões e normas, do que é aceito e do que não é,
do que pode e do que não pode, do certo e do errado, são convenções sociais? Que
em outras culturas o entendimento sobre a sexualidade é muito diferente da forma
como a conhecemos? São essas questões que abordaremos nesta unidade. Venha
conosco nesta viagem pelo conhecimento!
Outro exemplo vem da Grécia antiga e diz respeito à naturalidade com que a
pederastia (relação sexual entre dois homens, um adulto e um jovem) era trata-
da. Característica dos períodos arcaico e clássico, essa prática acontecia como
um ritual de iniciação ao que hoje se conhece como adolescência. Nos dias
atuais, em nossa sociedade, essa prática seria denominada como pedofilia.
Em cada tempo histórico, a moral vai criando tanto o discurso sobre a regulamenta-
ção da sexualidade quanto os dispositivos que buscam regulá-la, controlá-la, buscan-
do identificar e curar as manifestações desviantes.
Sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não a uma realidade
subterrânea que se apreende com dificuldades, mas a grande rede de superfície em
que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação do discurso, a
formação do conhecimento, o reforço dos controles e das resistências encadeiam-se
uns ao outros, segundo algumas grandes estratégias do saber e dos poderes (p. 100).
Como enfatizado por Foucault (1988), o poder e o controle são estratégias usadas
quando se trata de sexualidade. Os discursos morais, biomédicos, religiosos e midiá-
ticos influenciam as ideias em torno dessa temática, ditando, muitas vezes, uma
A visão médica sobre sexualidade vem da antiguidade. Manter relações sexuais prefe-
rencialmente no inverno era uma orientação de Pitágoras. Hipócrates recomendava a
retenção do sêmen para que o corpo pudesse ter mais energia. O médico pessoal do
Imperador Adriano de Éfaso instruía que o ato sexual deveria ocorrer exclusivamente
para a procriação (SALLES E CECCARELLI, 2010). A partir do século XVII a preocupa-
ção médica foi direcionada para as relações sexuais precoces e para o controle de
natalidade.
Com o passar do tempo, ainda no discurso religioso e agora apoiado pelo discur-
so médico, surge a ideia de “coito natural”, dando origem à separação das práticas
sexuais em “normais”, voltadas à procriação, e “anormais”, que se referiam às práticas
infecundas.
Da mesma forma que a concepção de sexualidade pode ser restrita ou não à procria-
ção, a heteronormatividade, outro assunto da sexualidade, também pode ser creditada
Foucault (1988) chama atenção para o fato de na atualidade ainda haver resquí-
cios de concepções sobre sexualidade que circulavam em outros séculos. A ideia já
mencionada da redução da sexualidade à função reprodutiva, heterossexual e adulta,
por exemplo, data do século XIX. Nesta perspectiva, vê-se que todas as outras formas
de exercer a sexualidade, que fogem a essas normas, são consideradas “anormais”,
“desviantes” ou “periféricas”. Estas, por consequência, tendem a ser negadas e margi-
nalizadas.
Tendo isso em vista, pode-se pensar que, como cada ser humano carrega um saber
social e historicamente construído, tudo o que é internalizado se relaciona com as
transformações do mundo, criando novos conhecimentos e estabelecendo diferen-
tes significados e conceitos (MEIRA; SANTANA, 2014). É por conta destes fatores que
muitas vezes as ideias e comportamentos acerca da sexualidade diferem muito de
lugar para lugar e de tempos em tempos, sendo às vezes mais libertárias e, em outras,
mais tradicionais ou repressivas.
A sexualidade adolescente na década de 1990 era vista como uma força impul-
sionadora sobre a qual o jovem não tinha controle. Influenciada por concepções
e ideologias conservadoras, como demonstrado no filme Kids, de 1995 (GIROUX,
1996), o comportamento adolescente, especialmente no que se referia à sexua-
lidade, era algo fora de controle, que exigia restrição, vigilância e outras formas
de poder disciplinar. Movido pelo impulso, o jovem fazia sexo desprotegido e
se expunha às doenças e gravidez não desejada. Na atualidade, com as novas
configurações familiares e as novas formas de parentalidade, percebe-se uma
autonomia maior do jovem em relação a estes aspectos. Hoje a questão da
sexualidade é encarada de uma outra forma por algumas famílias, que permi-
tem que o(a) filho(a) durma em casa com o(a) namorado(a), que conversam
sobre contracepção, por exemplo.
Pelo exposto, fica evidente que tanto o acesso quanto a construção do conhecimento,
assim como os preconceitos, curiosidades e tabus acerca da sexualidade, são deter-
minados por contextos específicos ao longo da história de cada um. Na perspectiva
sócio-histórica, é a partir das interações sociais e pelas aprendizagens dos discursos e
conhecimentos (historicamente construídos) que a formação, posição e atuação no
campo da sexualidade será delineada (MEIRA; SANTANA, 2014).
Como você já viu, a sexualidade incorpora aspectos históricos, culturais e sociais que
constituem a forma como a entendemos e as experienciamos. Os condicionantes
históricos, as ideologias presentes na sociedade em que vivemos, a configuração e
as formas de educação recebidas na família, o exercício da religiosidade, a forma
como a escola entende e aborda a temática, a política e os recursos midiáticos, entre
outras instâncias, propagam discursos e formas de pensar a sexualidade, conferindo-
-lhe status (aceitável x não aceitável), valores (bom x mau) e normatividade (normal
x anormal).
Pense na sua experiência pessoal e em como essas influências fizeram (e fazem) parte
de quem você é hoje. Será que se você tivesse nascido em outra época ou em outra
cultura sua forma de agir e pensar sobre a sexualidade seria diferente? É bem prová-
vel que a resposta seja sim! Essa reflexão talvez auxilie você a compreender como
muitas vezes parece difícil para os pais e familiares compreenderem os padrões e
costumes dos dias de hoje. Muita coisa mudou desde o tempo em que eles eram
mais jovens, não é mesmo? Agora, pense nas crianças de hoje, na forma como elas
aprendem, como acessam a informação e no modo como vivem suas experiências.
Como será que elas estão construindo sua sexualidade? O que será que têm absorvi-
do e introjetado?
Para tentar compreender o que isso pode significar e entender suas possíveis
implicações, basta que você pense nos discursos e ideias hoje em voga sobre sexuali-
dade. Como você tem encarado os debates atuais que envolvem essa temática?
Quer queiramos, quer não, no mundo em que vivemos, surgem outras formas
de relação entre os sexos, novas modalidades de aliança e filiação, visíveis e
legalizadas. Homoerotismo, homoafetividade e homoparentalidade estão aí
e dirigem várias perguntas a nós e a nossos modelos. Pessoas do mesmo sexo
podem casar-se, e casais homoafetivos podem adotar crianças. O mundo se
transforma e se organiza (NETTO, 2018, p. 213).
CONCLUSÃO
Nesta unidade você estudou sobre como as questões históricas, culturais e sociais
podem influenciar a construção da sexualidade humana. Tendo como perspectiva
a sexualidade em suas múltiplas dimensões e manifestações, foram apresentados
exemplos de como uma prática ou concepção pode ser aceita e valorizada em uma
sociedade e condenada em outra.
A partir dos condicionantes históricos e culturais foi possível analisar como família,
igreja, política, escola e mídia colaboram para difundir ideias, crenças e padrões espe-
rados pela sociedade, determinando o que é “normal” e “anormal”, “próprio” e “impró-
prio”, “aceitável” ou “inaceitável”. Esses padrões moldam a forma de pensar e viver das
pessoas que fazem parte da sociedade, influenciando suas condutas e comporta-
mentos.
UNIDADE 3
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
3 SEXUALIDADES: NÍVEL
BIOLÓGICO E PSICOSSEXUAL
E SUAS MANIFESTAÇÕES NA
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
Nesta unidade você irá estudar sobre a sexualidade em seus níveis biológico e psicos-
sexual, entendendo-a a partir do ponto de vista do crescimento e desenvolvimento,
mas também como algo construído ao longo da história de um indivíduo. Como
uma construção histórico-social, a sexualidade é influenciada por questões sociais,
políticas, religiosas e culturais, moldando a forma de pensá-la e exercê-la durante a
vida. Essas manifestações estão presentes desde a infância, e é objetivo desta unida-
de abordar a Teoria Psicossexual do Desenvolvimento, apresentando a característi-
ca de cada fase de vida e suas manifestações, desde o período pós-nascimento até
a entrada na vida adulta. Também serão abordados os problemas de saúde mais
prevalentes na infância e adolescência, e seus condicionantes socioeconômicos e de
estilo de vida, assim como o papel da escola na promoção de ações que favoreçam a
consciência sobre os direitos relacionados à saúde e à construção de uma identidade
sexual saudável.
INTRODUÇÃO
O presente conteúdo foi elaborado com o objetivo de apresentar a sexualidade em
seus níveis biológico e psicossexual. A partir do estudo do crescimento orgânico e
do desenvolvimento das funções do corpo, serão também abordados outros fato-
res, como os psicológicos, que influenciam as formas de se entender e manifestar a
sexualidade ao longo da vida.
diferentes fases pelas quais cada indivíduo passa no processo de construção da sua
identidade sexual.
Por fim, será abordado o papel da escola como instituição capaz de oferecer infor-
mação de qualidade para que crianças e jovens desenvolvam sua sexualidade de
forma saudável e aprendam sobre seus direitos em relação à prevenção, promoção e
melhoria das condições de saúde.
Sexualidade é um conceito amplo, que vai para além da questão do sexo, do ato
sexual, da reprodução. É uma construção sócio-histórico-cultural que constitui a iden-
tidade de cada um de nós e se manifesta durante toda a nossa vida. Para além do
corpo, que se transforma e possibilita o desempenho de diferentes funções ao longo
do desenvolvimento, apresenta componentes psíquicos, que atuam sobre nossa
forma de ver, entender e viver as relações entre homens e mulheres, a orientação do
desejo, as questões relacionadas à saúde, dentre outras tantas que fazem parte do
nosso cotidiano. A sexualidade influencia a saúde física e mental, assim como nossos
pensamentos, sentimentos, ações e interações (OMS, 1975 apud EGYPTO, 2003). A
manifestação dessas vivências, tanto na infância quanto na adolescência, tem sido
estudada há muitos anos e são essas questões que serão abordadas nessa unidade.
O que você pensa sobre a ideia de a criança manifestar sexualidade desde a mais
tenra idade? Será que é mesmo possível sentir prazer na infância? A partir de que
idade isso ocorre?
Essas questões até hoje provocam espanto e indignação em muita gente! Imaginar
que o bebê ou a criança apresenta comportamento sexual é algo impensável para
grande parte das pessoas. Em 1915/16, na XX Conferência de Viena, Sigmund Freud
falou, pela primeira vez, sobre essas ideias. Em seu discurso sobre a vida sexual dos
seres humanos, ele afirmou que a sexualidade está presente desde a infância, sendo
uma energia que move o desenvolvimento.
Na época, tudo aquilo que se referia ao tema era considerado impróprio, por isso
não deveria ser debatido. Então, ao proferir suas ideias, Freud chocou a sociedade
da época, contrariando a ideia da sexualidade como instinto, que surgiria a partir da
puberdade, período em que se iniciaria a maturação biológica e o instinto sexual pelo
sexo e pela masturbação (COSTA; OLIVEIRA, 2011).
Dos três aos cinco anos a criança entra em uma nova fase, em que se interessará em
estimular a região genital. O pênis torna-se o órgão de principal interesse para as
crianças de ambos os sexos, e a falta de um pênis nas meninas é considerada evidên-
cia de castração. Haverá também o interesse no genitor do sexo oposto, caracterizado
pelo Complexo de Édipo.
O mito de Édipo Rei é uma tragédia grega que conta a história de Laio, rei de
Tebas, que teria sido avisado por um Oráculo sobre a desgraça de seu futuro:
seria assassinado por seu próprio filho, que se casaria com sua mulher, mãe
deste. Para evitar que isso ocorresse, Laio decide abandonar a criança num lugar
distante, colocando-lhes pregos nos pés, para que morresse. Um pastor encon-
tra a criança e lhe dá o nome de Edipodos (pés-furados). A criança, mais tarde,
é adotada pelo rei de Corinto. Na vida adulta o próprio Édipo, ao consultar o
oráculo, recebe a mesma mensagem que seu pai Laio recebera anos antes, mas,
acreditando que se tratava dos pais adotivos, Édipo foge de Corinto. Em sua
fuga, Édipo se depara com um bando de negociantes e acaba matando seu
líder durante uma briga, sem saber que esse líder era Laio, seu pai. Ao chegar
a Tebas, Édipo decifra o enigma da Esfinge e livra a cidade de suas ameaças.
Assim, recebe o trono de rei e a mão da rainha Jocasta, agora viúva. Os dois se
casam e têm quatro filhos.
Anos depois, quando uma peste chega à cidade, Édipo e Jocasta consultam o
oráculo para tentar resolver essa questão e acabam descobrindo que são mãe e
filho. Jocasta suicida-se e Édipo fura os próprios olhos como punição por não ter
reconhecido a própria mãe e ter se casado com ela (FERRARI, s.d.).
Dos cinco/seis aos doze anos de idade a fase é de relativa tranquilidade ou inativi-
dade do impulso sexual, que se estende da resolução do complexo de Édipo até a
puberdade.
A partir dos doze anos, a energia sexual reaparece, junto com o sentimento de identi-
dade individual e integração de um conjunto de papeis e funções adultas que permi-
tem novas ações adaptativas dentro das expectativas sociais e dos valores culturais.
Libidinal: os estados
de tensão oral
levam a procura
de gratificação
Boca oral, tipificada pela Estabelecer expressão e
tranquilidade no final gratificação confortando
Oral - 1º ano de da alimentação. as necessidades libidinais
Língua
vida orais, sem excessivo
Agressivo (sadismo conflito e ambivalência
Mucosa da boca de desejos orais sádicos.
oral): a agressão oral
pode manifestar-se
no ato de morder,
mastigar, cuspir ou
chorar. Está vinculada
aos desejos primitivos
de morder devorar e
destruir.
Como visto, a sexualidade está presente desde a primeira infância e irá se manifestar
de diversas formas. No contexto escolar, como você agiria ao perceber essa manifes-
tação? O que poderia ser feito?
Do ponto de vista pedagógico, a fase oral não representa um grande desafio, mesmo
porque as crianças dessa faixa etária muitas vezes ainda estão sob os cuidados fami-
liares. Para a criança que já frequenta creche ou berçário, o ideal seria permitir a esti-
mulação da boca e da mucosa da boca a partir da exploração do corpo e de brinque-
dos apropriados para essa finalidade, como mordedores, por exemplo.
Na fase anal, o treino de toalete deve ser feito com paciência, sempre observando o
tempo e sinais que a criança dá de que está preparada para o desfralde.
A fase fálica talvez seja uma das mais desafiadoras, pois é um período de muita
curiosidade e descoberta da criança sobre o corpo, especialmente a região genital.
É comum crianças se tocarem, se exibirem (tirando as calças na frente dos colegas,
familiares ou visitas) e terem curiosidade em saber sobre o corpo do outro. Na escola,
quando alguma dessas manifestações ocorrerem, é importante não fazer alarde ou
tratar o acontecimento como um “evento”. Como algo natural ao desenvolvimento,
não é adequado repreender a criança ou dar-lhe sermões. O que pode ser feito é
canalizar essa energia para outras atividades, por exemplo, chamando a criança para
ajudar em algo ou fazer alguma tarefa. Esta também pode ser uma boa oportunida-
de para ensinar sobre intimidade e privacidade, orientando as crianças sobre o fato
de que ninguém pode tocar no corpo delas, além dos cuidadores mais próximos,
com finalidade voltada para higiene e cuidado.
A fase genital é o período em que na escola podem ser abordados mais enfatica-
mente conteúdos como proteção, autocuidado, direitos reprodutivos, que auxiliam
os jovens a entenderem e exercerem uma sexualidade madura, saudável e conscien-
te, tendo autonomia para o autocuidado e para tomar decisões sobre a iniciação
sexual segura. De acordo com os documentos oficiais do Ministério da Educação,
como é o caso dos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), esta
temática deve ser abordada de forma transversal no currículo, devendo ser trabalha-
da em toda e qualquer disciplina.
E você, o que pensa sobre essa teoria? Avalie se ela te ajuda a compreender o compor-
tamento das crianças que você conhece. Seja qual for sua opinião, é importante reco-
nhecer que entender a existência da sexualidade na infância e de que forma ela se
Para além dessas questões, existe a responsabilidade adulta, que muitas vezes está
presente na vida do jovem, seja por sustentar ou contribuir financeiramente com a
família ou, ainda, por tornar-se pai ou mãe na adolescência.
Se, por um lado, essas novas experiências e formas de comportamento podem repre-
sentar uma preocupação para muitos, por outro, convida para o desenvolvimento
de estratégias que contribuem decisivamente para a autonomia de adolescentes e
jovens, que agora se veem diante da necessidade de tomarem suas próprias decisões,
sem a coerção dos mais velhos (BRASIL, 2013).
Mas, porque algo aparentemente tão inocente e até “bonitinho”, como ver uma crian-
ça dançando, se divertindo ou usando roupas bonitas e maquiagem, pode ser ruim?
Como isso pode prejudicar a saúde dessas crianças? É importante lembrar que as
crianças estão em pleno processo de formação de sua identidade e personalidade.
Ao entrar em contato com padrões adultos, a criança absorve o que é bonito, o que
é feito, o que é belo, que tipo de cabelo é “bom”, que padrão de beleza é valorizado.
Ao usar roupas impróprias para seu corpo e faixa etária, a criança limita suas possibili-
dades de brincadeira, preocupando-se (ou sendo orientada) a não se sujar, não correr
para não suar.
Outro problema diz respeito à vulnerabilidade à violência sexual a que crianças estão
expostas. O abuso sexual de crianças por adultos ocorre por pessoas que desejam
satisfazer suas necessidades de poder e contato corporal com o público infantil.
Como não tem capacidade de discernimento para consentir livremente, a criança
é levada a cooperar (inclusive ocultando o ato). Estes episódios marcam a vida de
qualquer um de forma muito negativa, condenando a criança à indefesa e ao desam-
paro, ocasionando problemas que podem ser físicos e emocionais/psíquicos, poden-
do evoluir para quadros muito mais graves de patologias psicológicas (WIRTZ, 1990
apud BRASIL, 2006).
Não se deve deixar de levar em conta, nessa discussão, as restrições de acesso aos
serviços básicos de saúde que muitas pessoas são privadas, dentre as quais os adoles-
centes. Além disso, muitas vezes, dependendo de onde vivem, as adolescentes
compreendem a gravidez como a tentativa de encontrar e sustentar um lugar social,
Outro problema que aparece como importante fator para o cuidado da saúde com
foco na sexualidade do adolescente é o sofrimento psíquico a que muitos estão sujei-
tos. A adolescência, por si só, já representa um desafio de ordem psíquica muito
intenso (OPAS, 2017), em razão das várias alterações no corpo, na libido e nas rela-
ções sociais.
elaborou uma linha do tempo com os principais marcos na política de saúde para
adolescentes. Os principais marcos serão mencionados no quadro a seguir.
ANO MARCO
• Criação da convenção sobre os direitos da criança
1989
• Criação do PROSAD (Programa Saúde do Adolescente)
• Sancionada a lei n.º 8.069, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente
1990
• Homossexualidade é retirada da lista de doenças mentais.
1993 • Normas de atenção à saúde integral do adolescente
• Conselho de Psicologia publica resolução para não atendimento com finalidade de cura
1999
para homossexualidade
2000 • Publicação de manual de atendimento para adolescentes grávidas
2005 • É instituído o Programa de Saúde Integral para Adolescentes e Jovens
• Promulgação da Lei Maria da Penha
2006
• Publicação da cartilha sobre direitos sexuais e direitos reprodutivos
• Criação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-juvenil
2007 • Programa Saúde na Escola
• Marco legal: saúde, um direito de adolescentes
• Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na
2010
promoção, proteção e recuperação da saúde
• STF reconhece união civil entre pessoas do mesmo sexo
• Publicação de normas técnicas de atenção humanizada ao abortamento
2011 • Divulgação de aspectos jurídicos para atendimento às vítimas de violência sexual
• Publicação de matriz pedagógica para formação das redes para atenção integral para
mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual
2012 • Prevenção e tratamento dos agravos da violência sexual em mulheres e adolescentes
• Orientações básicas de atenção integral à saúde de adolescentes nas escolas e unidades
básicas de saúde
2013
• Publicação de “O SUS e a saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e jovens no Brasil”
• Seminário Internacional Saúde, Adolescência e Juventude
• Divulgação de Metodologias para o Cuidado de Crianças, Adolescentes e suas Famílias
2014 em Situação de Violências
• Oficina “O SUS e o Estatuto da Juventude
BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os
assuntos abordados na disciplina.
CONCLUSÃO
Nesta unidade você estudou a sexualidade a partir de seus condicionantes biológicos
e psicossociais. A mudança corporal que ocorre em cada fase da vida foi apresentada
e debatida de forma conjunta às questões psíquicas que constituem a formação da
identidade de cada um de nós.
Saber que a sexualidade está presente desde a primeira infância e evolui ao longo da
vida é um importante fator para se entender comportamentos e identificar suas dife-
rentes formas de manifestação. No exercício do trabalho docente dentro do espaço
escolar, atentar-se para os riscos a que crianças e adolescentes estão sujeitos nas dife-
rentes etapas do desenvolvimento faz-se urgente e necessário, pois pode influenciar
a forma destes se perceberem, construírem e viverem a sexualidade.
UNIDADE 4
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
> Identificar as
possibilidades de
intersecção entre
educação e sexualidade.
4 SEXUALIDADE COMO
CAMPO DE ESTUDOS DA
EDUCAÇÃO
Nesta unidade, você estudará sobre as possibilidades de intersecção entre educação
e sexualidade. A proposta é apresentar a educação como uma área que pode favo-
recer o entendimento e a concepção que se tem sobre as questões que envolvem a
sexualidade, desde a construção da identidade sexual infantil e adolescente até as
abordagens que podem ser trabalhadas dentro do espaço escolar, visando pensar
um currículo que discuta a educação sexual e as várias possibilidades de trabalho
com os alunos.
INTRODUÇÃO
Esta unidade trata da intersecção entre educação e sexualidade, propondo apresen-
tar como esses dois campos de atuação e estudos podem atuar de forma a contri-
buir para a construção da sexualidade de crianças e adolescentes. Por serem indiví-
duos em formação, esses públicos encontram-se em pleno processo de crescimento e
desenvolvimento de vários conceitos e habilidades, entre os quais a identidade sexual.
A educação, como área do saber que propicia o acesso ao conhecimento produzi-
do pela humanidade, pode favorecer a apropriação dos conceitos de sexo, sexuali-
dade e educação sexual, de modo que se possa conhecer e perceber a diferenciação
entre eles. Conhecendo as múltiplas facetas da sexualidade humana, talvez seja possí-
vel entendê-la e exercê-la de forma mais plena e saudável, o que significaria maio-
res chances de diminuir problemas de identidade, autoaceitação e intolerância com
o que aparenta ser diferente. Nesta perspectiva, o presente material busca oferecer
subsídios para se pensar a educação sexual a partir de suas várias abordagens, que não
se limitam a reduzir e classificar o sexo ou a sexualidade em categorias únicas e fixas.
Há muitos anos, a escola tem sido responsável por oferecer um ensino denominado
de “educação sexual”. O que esse ensino engloba? Quais temas contempla? O que há
de novo em relação às abordagens curriculares para o trabalho com a sexualidade?
Essas questões são as norteadoras deste material.
Mais recentemente, com as atuais políticas voltadas à garantia dos direitos sexuais
e reprodutivos da população, a escola tem sido considerada um local privilegiado
para o reconhecimento e valorização da diversidade de expressões de sexualidade
(GESSER et al., 2015). No entanto, mesmo que os documentos oficiais recomendem
um trabalho transversal com essa temática, ele ainda fica restrito a poucas discipli-
nas. E algumas escolas parecem fomentar predominantemente o preconceito ao
Para entender melhor as formas como a sexualidade tem sido compreendida a partir
da perspectiva do ensino, Gesser et al. (2015) apresentam algumas concepções de
sexualidade de docentes que atuam na educação básica.
Concepção preventista
Nessa concepção, a gravidez na adolescência é denominada como “precoce”, assim a iniciação sexual
antes da idade adulta é também vista como precoce, já que a sexualidade é reduzida ao coito, a
doenças e à reprodução. O sexo é tido como algo que deve ser praticado por pessoas adultas, que
desejam ter filhos.
Concepção desenvolvimentista
Compreende a sexualidade como um tema a ser tratado em determinada idade ou etapa do desen-
volvimento. Nessa concepção, a sexualidade inexiste na infância, por isso acredita-se que há uma
“idade certa” para se abordar esses assuntos. A sexualidade também é reduzida ao seu aspecto bioló-
gico, abordando o desenvolvimento dos aparelhos reprodutores, doenças e reprodução, mas não
contempla questões de gênero e outros marcadores identitários. Também se nota uma preocupação
em não “adiantar processos”, acreditando-se que as idades devem ser respeitadas, por isso não se
deve permitir que crianças ou adolescentes entrem em contato com conteúdo impróprio para sua
faixa etária, pois isso poderia despertar seu interesse para a sexualidade ou até mesmo induzi-la à
homossexualidade.
Concepção de prevenção para a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos
Preocupação em oferecer conhecimentos sobre o corpo e seu desenvolvimento, suas partes, suas
funções, gravidez e doenças, além de elementos simbólicos, como a pluralidade de conceitos e possi-
bilidades de vivência da sexualidade, buscando favorecer uma maior autonomia para que crianças e
adolescentes possam construir sua identidade sexual e decidirem sobre o autocuidado.
Concepção heteronormativa de sexualidade
Articulada aos valores de igualdade e liberdade, apresenta práticas que visam à aceitação e ao acolhi-
mento das diferentes sexualidades. Preocupa-se em criticar as práticas heteronormativas na escola e
em promover o respeito à diversidade sexual, buscando eliminar a patologização dos comportamen-
tos dos alunos e das diferentes configurações familiares.
Por mais fundamental que seja, a implementação de um trabalho que vise ao direito
e à valorização da diversidade ainda enfrenta muitas dificuldades para ser desenvol-
vido e sustentado nas escolas. Por medo de serem desqualificados por pessoas que
apresentam um posicionamento heterossexista, muitos profissionais se veem impo-
tentes para promover ações mais amplas e gerais sobre essa temática. Por outro lado,
contemplar esse tema a partir do diálogo sobre a diferenciação sobre sexo, sexualida-
de e educação sexual parece ser um caminho possível nas mais diversas disciplinas
do currículo, afinal esses conceitos podem e devem ser transversais a todo trabalho
desenvolvido na escola.
Sexo
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (OMS, 1975), sexo também
pode ser compreendido como ato sexual. O sexo possui características biológicas,
que classificam os seres humanos em macho ou fêmea.
Sexualidade
Educação sexual
Alguns estudiosos (como STEINBERG; KINCHELOE, 2001) argumentam que, por ser
plural, a educação sexual não se limita aos espaços escolares, mas ocorrem, na verda-
de, desde o convívio familiar e, mais recentemente, têm abrangido outros “ambien-
tes”, como os virtuais, passando também pelos livros, materiais didáticos, filmes, nove-
las, desenhos animados, músicas, etc.
Mesmo com toda a avalanche de informação que a criança e o jovem recebem hoje
em dia, a escola ainda continua sendo o local privilegiado para o trabalho com a
sexualidade. Mas quais as possibilidades de trabalho com essa temática e como esse
ensino pode favorecer o desenvolvimento de crianças e adolescentes em seu proces-
so de formação?
Como local privilegiado para o ensino e debate, a escola é uma instituição que pode
contribuir muito para o atendimento das necessidades de crescimento e desenvolvi-
mento das crianças e adolescentes. Em relação às questões ligadas à sexualidade, é
importante entendê-la como um componente humano, presente desde a infância,
cuja construção e manifestação poderão despertar interesse, curiosidade e muitas
dúvidas nos estudantes em formação. Da escola, então, seria esperado que pedago-
gicamente assumisse essa discussão, inserindo-a no currículo escolar.
Furlani comenta que “as escolas que não proporcionam a educação sexual a seus
alunos e alunas estão educando-as parcialmente” (FURLANI, 2003 p. 68). A educação
sexual, vista como possibilidade de ampliação de conhecimentos sobre si mesmo e
sobre o outro, pode favorecer o desenvolvimento de concepções e da construção de
uma identidade sexual sadia.
A educadora sexual Debra Haffner (2005, apud FURLANI, 2016) apresenta em seu livro
“A criança e a educação sexual” o que caracteriza uma criança como sendo sexual-
mente saudável:
Sentir-se
Respeitar
bem
Tomar Estar
decisões preparada
Contribuindo com essa abordagem, Furlani (2016) apresenta oito princípios para
o trabalho com a educação sexual na escola. Estes princípios estão detalhados no
quadro a seguir.
Princípio 1 – A educação sexual deve começar na infância e, portanto, fazer parte do currículo
escolar
A sexualidade está presente desde a infância, por isso pode ser abordada
com as crianças desde a educação pré-escolar. O cuidado que se deve ter
é em relação à linguagem utilizada e a não oferta de detalhes desneces-
sários durante essa conversa. Quando se entende que os temas relaciona-
dos à sexualidade não devem ser tratados com crianças, ignora-se toda
uma gama de possibilidades de se trabalhar questões de fundamental
importância para o desenvolvimento e formação da criança, como noção
de privacidade, intimidade, conhecimento do corpo e suas funções, etc.
A criança descobre seu corpo desde bebê e ela faz isso explorando as mãos, chupando os dedos,
tocando em diferentes partes, que lhe são agradáveis e lhe transmitem prazer. Expressar-se sexual-
mente é natural e deve ser encarado como tal.
Coeducação significa ensino misto, de convivência mútua entre meninos e meninas. Tem por princí-
pio não restringir conteúdo em função do gênero dos alunos, buscando promover o respeito e desle-
gitimar a desigualdade, o sexismo e o machismo.
Desconstruir a ideia de que meninos devem brincar com um certo tipo de brinquedo e meninas com
outro. Desconstruir a ideia de que a forma ou com o que a criança brinca determina sua orientação
sexual no futuro. Brinquedos favorecem o desenvolvimento da criança, influenciando sua criativida-
de e inteligência, por isso, separar brinquedos pela categoria (criada culturalmente) de gênero limita
as possibilidades de desenvolvimento e aprendizado das crianças.
A escola deve considerar os saberes populares, assim como considera os saberes científicos, pois
ambos constituem as experiências dos indivíduos e são expressões da diversidade humana.
Entender a homossexualidade como mais uma forma de expressão da sexualidade, buscar ressig-
nificar o preconceito e a discriminação a esse público, na tentativa de criar uma cultura de paz, de
respeito e menos violenta na escola.
A escola pode questionar preconceitos, propondo uma reflexão sobre a importância de considerar “o
outro”, o “diferente” como alguém que pode agregar, contribuir. A escola deve buscar mitigar todas as
formas de exclusão e desigualdade, resgatando valores humanos e contribuindo para a valorização
da diversidade.
Pode parecer difícil, ou mesmo utópico, implementar todos esses princípios, mas
um bom começo pode ser refletir sobre eles e a prática pedagógica. O cenário muda
quando a ação é motivada pela reflexão.
BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os
assuntos abordados na disciplina.
O livro “Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual e igual-
dade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças” apresenta um panora-
ma sobre a educação sexual, trazendo as concepções mais recentes para o trabalho
com o tema no âmbito educacional. O capítulo 3 aborda a educação sexual para/na
infância, trazendo com detalhes os princípios para uma educação para a sexualidade
numa abordagem de valorização da diversidade. Vale a pena conferir!
CONCLUSÃO
Nesta unidade, você estudou as possibilidades de intersecção entre educação e
sexualidade. Como lócus privilegiado para o ensino de crianças e jovens, a escola foi
pensada como uma instituição capaz de contribuir com a formação infantil e adoles-
cente a partir do trabalho com a temática da sexualidade no cotidiano pedagógico.
Por fim, a abordagem da sexualidade através da educação foi pensada como possi-
bilidade de contribuição para o atendimento das necessidades de crianças e adoles-
centes – seres em formação – que estão em pleno processo de desenvolvimento de
sua identidade sexual, além de outras construções e habilidades.
UNIDADE 5
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
5 O CONCEITO DE ESCOLA
SAUDÁVEL DENTRO DAS
ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO
DA SAÚDE E OS PROGRAMAS
TRANSVERSAIS NO ENSINO
BÁSICO
Nesta unidade, você estudará o conceito de escola saudável a partir da perspectiva
do trabalho em saúde no contexto escolar. O enfoque será na abordagem da sexua-
lidade em suas múltiplas dimensões e formas de manifestação. Para compreender
melhor como esse tipo de trabalho pode ser realizado, será discutido o conceito de
intersetorialidade e da importância de formação de parcerias, pactos e alianças entre
diferentes setores e áreas profissionais.
INTRODUÇÃO
Esta unidade trata das ações de saúde na educação, ou seja, das formas possíveis de
ações de prevenção, promoção e melhoria da saúde no espaço escolar. Há muitos
anos, vêm sendo implementados programas que visam garantir o direito à saúde da
população no país. Sendo as crianças e jovens uma população vulnerável, assim como
aprendizes em desenvolvimento, cujos comportamentos habilidades e concepções
estão em plena formação, estes se tornam público-alvo de ações que visem ensinar
hábitos de vida, atitudes e comportamentos que permitam a diminuição de riscos e
o aumento de fatores de proteção para uma vida mais segura e saudável. Como essa
população está na escola, essa instituição torna-se o lócus principal para a partilha
de informações de qualidade, ações de prevenção e intervenção em saúde. Tendo
isso em vista, programas de saúde na escola serão apresentados, visando oferecer um
modelo de programação, monitoramento e avaliação de ações já realizadas e acom-
panhadas por equipes intersetoriais.
A escola se configura como o espaço ideal para essas ações, uma vez que é na infân-
cia que ocorre o período de aquisição das bases de comportamento e aprendizagem,
com a adoção de hábitos de higiene; a descoberta da potencialidade do corpo e o
desenvolvimento de habilidades e destrezas que possibilitam o cuidado com a saúde
pessoal e o respeito às diferentes formas de viver e se expressar (PELICIONI, 2019).
O que se percebe a partir do que foi exposto é que as ações em saúde são vistas como
resultantes de um meio ambiente biopsicossocial saudável, e não como uma ques-
tão individualizada, daí a importância da inserção, na escola, de ações que envolvam
todos que se relacionam com a instituição e com o meio que a cerca. Dessa maneira, a
escola saudável deve significar um espaço que possibilita a participação crítica, a cria-
tividade e o exercício da autonomia, para que se desenvolvam as potencialidades físi-
cas, psíquicas, cognitivas e sociais dos escolares (WHOE, 1995 apud PELICIONI, 2019),
favorecendo a formação de cidadãos críticos, que adotam um estilo de vida saudável,
afastando comportamentos de risco e sentindo-se aptos para lutar pela transforma-
ção da sociedade e melhoria das condições de vida de todos (PELICIONI, 2019).
Capacitação dos
profissionais da
escola
Desenvolvimento
Currículo flexível de sistema de
valores
para a
ESCOLA
A capacitação dos docentes e dos demais funcionários da escola deve ocorrer perio-
dicamente, de modo a possibilitar o diálogo e a possibilidade de construção conjunta
do conceito de escola promotora de saúde. Para isso, esses profissionais precisam se
apropriar dos objetivos, conteúdos e métodos da educação e da promoção da saúde.
Informações
sobre as
finalidades e
objetivos da
escola
Envolvimento
Consulta aos
dos familiares no
responsáveis
processo
sobre assuntos
ensino-aprendiza
de saúde
gem dos alunos
Para a
FAMÍLIA
Uma estratégia para isso seria acolher as dúvidas, anseios e preocupações das
famílias para propor rodas de conversa ou bate-papo com profissionais da
própria escola ou das áreas de saúde e/ou assistência social, para auxiliar em
cada demanda. As famílias também podem ser convidadas a participar ativa-
mente de conselhos e associações nas escolas, de modo a contribuir no plane-
jamento das ações didático-pedagógicas.
Mobilização de
recursos
materiais e
humanos da
comunidade
Envolvimento de
Troca de
agentes
informações e
comunitários e
experiências com
lideranças locais na
a comunidade
proposta de EPS
Para a
COMUNIDADE
Integrar a escola com a comunidade na qual ela está inserida pode potencializar as
ações, pois envolver as pessoas que moram no entorno e os profissionais que atuam
na região, além de agentes comunitários e lideranças locais, pode promover a mobili-
zação de recursos materiais e humanos da própria comunidade, além de possibilitar
a troca de informações e experiências que enriqueçam os debates e o planejamen-
to de ações. Em parceria com escola, essas pessoas podem identificar demandas a
serem discutidas e resolvidas no bairro, pensando e planejando ações conjuntas que
visem à resolução dos problemas locais.
Uma escola que atua junto com sua comunidade pode identificar os problemas
locais e propor ações que visem à sua melhoria. Por exemplo: se há ruas pouco
iluminadas no bairro, que dificultam o trânsito de pessoas à noite e tornam
perigoso o trajeto dos alunos (especialmente das alunas) à escola no período
noturno, uma ação conjunta poderia envolver a mobilização das pessoas para
acionar a subprefeitura ou algum órgão público para a averiguação e solução do
problema. Para isso, alguma gráfica local poderia colaborar produzindo panfle-
tos para distribuição às pessoas, alguma liderança local poderia encabeçar uma
petição pública ou audiência com alguém que atue na subprefeitura e a escola
pode ceder espaço para reuniões ou propor ações de prevenção da violência
com os estudantes. Juntos, escola e comunidade lutam e articulam ações que
beneficiarão todos.
O PSE foi instituído em 2007 e compõe uma política de governo voltada à interseto-
rialidade, objetivando capacitar a comunidade para atuar na melhoria da qualidade
de vida e saúde (BRASIL, 2002), atendendo aos princípios e diretrizes do Sistema
Único de Saúde (SUS): integralidade, equidade, universalidade, descentralização e
participação social. O PSE propõe a articulação de saberes entre alunos, pais, comu-
nidade escolar e sociedade, como um todo, para promover e tratar a saúde e a educa-
ção de forma integral (CARVALHO, 2015).
Por meio de ação intersetorial, o PSE propõe uma intersecção entre o saber dos
profissionais de saúde e de educação, além dos saberes provenientes das próprias
experiências de vida dos sujeitos. A intersetorialidade torna-se fundamental nessa
proposta, uma vez que a escola recebe uma variedade muito grande de perfis de
alunos, com experiências de vida e questões sociais muito diversas, o que demanda a
ação de vários profissionais e diferentes setores (CARVALHO, 2015).
Seguindo os princípios básicos do programa, cada rede deve pensar e propor suas
ações a partir do planejamento local. Isso significa que o PSE varia conforme a região
e seu público-alvo, tendo possibilidade de tratar de variados temas, que atendam às
demandas de cada contexto particular. Veja alguns exemplos a seguir.
Em relação aos indicadores que permitem avaliar o PSE, ou seja, aos parâmetros
qualitativos e/ou quantitativos que servem para detalhar se os objetivos do programa
foram alcançados, encontram-se: (i) a cobertura do PSE nas escolas; (ii) a cobertura
das ações nas escolas; (iii) a quantidade de tipos de ações realizadas (BRASIL, 2018).
Para Junqueira (2004), o público-alvo da ação de saúde deve ser considerado como
sujeito desta, e não meramente como objeto. Dessa perspectiva, ele passa a assumir
um papel participativo, colaborando na identificação das demandas e da proposição
de suas soluções. Essas ideias e propostas devem ser construídas numa discussão
intersetorial (entre alunos, professores, gestores, equipe de saúde, assistência social),
de modo a favorecer a tomada de consciência e enfrentamento dos problemas viven-
ciados (WIMMER; FIGUEIREDO, 2006).
BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os
assuntos abordados na disciplina.
CONCLUSÃO
Nesta unidade, você estudou a atuação da saúde na educação a partir do desenvol-
vimento de ações de prevenção, promoção e melhoria da saúde para estudantes.
Foi discutida a importância da formação de pactos e alianças entre diferentes áreas/
setores, para que as demandas em saúde presentes na escola possam ser atendidas
de forma coerente e integral, pois sabe-se que a multiplicidade de questões e neces-
sidades que cada população escolar, em seu contexto específico, apresenta, é muito
diversa e complexa, exigindo a articulação entre diferentes áreas e o diálogo constan-
te entre muitos profissionais.
Para compreender melhor um exemplo de como esse trabalho pode ser pensado e
efetivado, o Programa Saúde na Escola foi apresentado, abordando-se inicialmente o
histórico de desenvolvimento do programa e, depois, as ações previstas para as esco-
las, além das formas de monitoramento e critérios de avaliação.
Como a atuação do professor com crianças e jovens deve envolver o trabalho que
potencialize seu desenvolvimento, conhecer as formas de se trabalhar as questões de
saúde, de forma articulada a outros profissionais, é importante no sentido de fornecer
caminhos para a abordagem do tema de forma transversal na escola.
UNIDADE 6
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
> Examinar as
possibilidades didáticas
do trabalho com a
educação sexual no
ambiente escolar.
6 ABORDAGENS
CONTEMPORÂNEAS PARA
A EDUCAÇÃO SEXUAL NA
SALA DE AULA: RELAÇÕES
DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO
SEXUAL E IGUALDADE NUMA
PROPOSTA DE RESPEITO ÀS
DIFERENÇAS
Nesta unidade, você estudará as abordagens contemporâneas para a educação sexual
no ambiente escolar. Essa temática, cujo ensino era de responsabilidade da família,
cada vez mais tem sido reconhecida como necessária nas propostas pedagógicas. Há
alguns anos, a sexualidade figura entre os temas transversais do ensino, o que signi-
fica que deve estar presente no currículo escolar, podendo ser trabalhada em várias
disciplinas. Assim, esta unidade tem o objetivo de explicitar os conceitos de gênero,
orientação sexual e identidade sexual, buscando esclarecer o que significa cada um
deles e discutir suas implicações não apenas epistemológicas (o significado da pala-
vra, em si), mas também problematizando as questões da vida prática, as concepções,
formas de entender e as relações que se estabelecem no meio social. Por fim, algu-
mas estratégias de intervenção saudáveis e não punitivas serão demonstradas, pois
cabe ao (aspirante a) professor considerar a diversidade presente nas escolas como
um potencial a ser valorizado e trabalhado, na perspectiva de não apenas respeitar,
mas também de aprender com a diferença.
INTRODUÇÃO
Esta unidade trata das abordagens contemporâneas para a educação sexual no
ambiente escolar, contemplando as possibilidades didáticas para um trabalho de
respeito e valorização da diversidade. Nesse sentido, apresenta os conceitos de gêne-
ro, orientação e identidade sexual, buscando discutir suas implicações para as formas
de entender, conceber e se relacionar em sociedade. Serão apresentadas as abor-
dagens pedagógicas que embasam a atuação docente na temática da sexualidade,
buscando ampliar o debate sobre o que está por trás das ações e posturas frente à
sexualidade em sala de aula. Ao educador, é fundamental conhecer esses conceitos,
para que possa identificar situações de desrespeito e discriminação e atuar em prol
de uma educação que problematiza a diferença como algo natural e saudável. Algu-
mas estratégias não punitivas para a intervenção nos casos em que houver manifes-
tação da sexualidade na escola serão contempladas, buscando oferecer repertório ao
professor de como agir nessas situações.
A educação sexual nas escolas brasileiras sempre foi tema de discussões e controvér-
sias. No passado, as escolas separavam meninos e meninas num ensino que orienta-
va cada gênero para o desempenho de um papel social específico. Depois, mesmo
quando meninos e meninas estudavam juntos numa mesma escola, ao falar sobre
sexualidade, ou reprodução humana, estes eram separados em diferentes salas de
aula, para que cada um tivesse acesso à informação pertinente ao seu gênero (além
do fato de que abordar tal temática entre todos podia constranger o professor). Com
o passar do tempo, essa separação física, de sala, já não era mais necessária. Os estu-
dos em ciências e biologia contemplavam o que era importante ensinar ao adoles-
cente (sim, porque falar sobre sexualidade na infância era algo que não fazia sentido),
por isso os livros traziam o sistema reprodutor humano, as DSTs, o HIV, a Aids e a
gravidez na adolescência como algo a ser ensinado aos jovens.
Nas décadas de 1970 e 1980 surgem os estudos de gênero, o que provoca uma
mudança no conceito de “papéis sexuais” até então naturalizados pela biologia. Esse
é um ponto importante dos estudos em sexualidade, pois muda toda uma concep-
ção sobre a temática e introduz uma nova categoria de análise nos fenômenos da
vida histórica e social, ao mesmo tempo em que traz para o debate o enfoque políti-
co (FURLANI, 2016).
6.1.1.1 GÊNERO
Guacira Lopes Louro (2004) ressalta que o conceito de gênero não se resume à dife-
renciação de “papéis” e “funções” femininos e masculinos, como modos de ser, de se
comportar, de se vestir, etc., mas diz respeito às relações de poder existentes entre
homens e mulheres.
A noção de que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher” vem dos escritos de
Simone de Beauvoir, que, em 1949, publicou em “O segundo sexo” que a cons-
tituição do ser mulher é algo ensinado para que os sujeitos se tornem dessa ou
daquela maneira.
Partindo das ideias de Simone de Beauvoir, pode-se afirmar que gênero é o produ-
to do “trabalho” da sociedade, da cultura, sobre a biologia (GUIZZO; RIPOLL, 2015).
Assim, fazer de alguém mulher ou homem requer investimentos continuados
(LOURO, 2008).
Identidades subjetivas
Papel das instituições
que revelam que nem
sociais no reforço da
todas as imposições aos
composição de masculino
homens e mulheres são
e feminino
sentidas da mesma forma
Fonte: Adaptado de COSTA et al., 2009.
ter de calar), à vestimenta (poder ficar à vontade ou não sem camisa), ao comporta-
mento (ser dócil, passiva ou firme, propositivo).
O famoso “homem não chora” ou “mulher é o sexo frágil” são exemplos de normas
que afirmam e negam modelos de feminilidade e masculinidade, atribuindo carac-
terísticas de rigidez emocional e força corporal ao homem e docilidade e fragilidade
às mulheres. Esses padrões são reforçados pelas instituições sociais, quando se sepa-
ram meninos e meninas na escola, nas aulas de educação física ou quando o trabalho
doméstico fica relegado apenas às meninas, por exemplo.
Essas imposições sociais não são sentidas da mesma forma por meninas e meninos,
mulheres e homens, uma vez que o gênero marca uma relação desigual de poder de
homens sobre as mulheres, provocando uma desigualdade de direitos.
Indica a percepção sobre o gênero que uma pessoa tem de si mesma. A elaboração da
identidade sexual pressupõe identificações com papéis sociais, experimentações, dife-
renciações e liberdade de opção. Apresenta expectativas de comportamento e valores
que se veiculam diretamente ao papel esperado para cada gênero (DALL´AGNOL, 2003).
A educação sexual nas escolas tem uma tradição de ser, em grande parte, oferecida
nas disciplinas de ciências e biologia. Os temas vão desde puberdade e menstrua-
ção, passando pelo aparelho reprodutor masculino e feminino, virgindade, iniciação
sexual, até discussão sobre DSTs, HIV e AIDS e gravidez na adolescência.
Furlani (2016) apresenta as abordagens para a educação sexual nas escolas, desde as
tradicionais até as mais contemporâneas. São essas concepções que estão presentes
nas práticas pedagógicas cotidianas nas escolas, na atuação de professores, repercu-
tindo o modo como se tem lidado com a sexualidade no contexto escolar.
Abordagem biológico-higienista
É higienista porque considera o sexo como algo sujo, por isso a “pureza” (sexual)
seria a forma mais eficaz de prevenir DSTs e gravidez não desejada.
Abordagem moral-tradicionalista
afirmando que a abstinência é o método 100% eficaz para se evitar essas situações
(ASSOCIAÇÃO NACIONAL PRÓ-VIDA E PRÓ-FAMÍLIA, 2002 apud FURLANI, 2016).
A campanha “Eu escolhi esperar” foi criada em 2011 em Vila Velha/ES com o
propósito de orientar, encorajar e fortalecer solteiros cristãos a esperarem para
viverem suas experiências sexuais apenas após o casamento. A campanha, que
tem projeção nacional e milhões de seguidores, defende que se deve viver uma
vida em pureza e santidade, baseada nas escrituras sagradas. É voltada tanto
para pessoas virgens, como para quem já teve experiências sexuais e agora opta
por se preservar até o casamento.
Fundamentando sua crítica a essa abordagem, Furlani (2016) chama a atenção para
o fato de a mesma defender que a educação sexual deve ser de responsabilidade da
família, que deve desencorajar o sexo e a reprodução. Para a autora, esse modelo priva
os jovens de informação a partir da censura e constrói enunciados que legitimam a
homofobia.
Abordagem terapêutica
(...) A carência de uma relação positiva, íntima e satisfatória com o pai resulta
num vazio emocional e em necessidades insatisfeitas que a mãe não pode
suprir porque ‘isso é coisa de homem’. Assim, ao afirmar que a mãe (mulher)
não apenas é incapaz de suprir a ausência do pai (homem) na educação da
criança, como também, muitas vezes, atrapalha e agrava o quadro por super-
proteger o filho, [a abordagem], além de homofóbica, expressa um sexismo e
uma misoginia evidentes (FURLANI, 2016, p. 19).
Abordagem religioso-radical
Promovido pelos
Promovido movimentos gays e
pelo feminismo lésbicos em busca de uma
educação sexual liberal
Ataque à
Ameaça à família
heterossexualidade
Questionamento
Ameaça aos valores
dos papéis sexuais
Entende a sexualidade como algo plural e diverso, já os direitos sexuais, como funda-
mentais e universais. Aborda a liberdade sexual como premissa base para o trabalho
com a educação sexual, abordando questões de ordem afetiva e prazerosa, além das
questões biológicas e reprodutivas, discutindo e problematizando relações de gênero,
exclusão, preconceito, controle, hegemonia e discriminação sexual (FURLANI, 2016).
Abordagem emancipatória
Advinda das ideias de Paulo Freire e de sua luta por uma educação libertadora, a
abordagem emancipatória busca a formação de indivíduos autônomos, capazes de
pensar por si só, para a construção de uma sociedade mais consciente e menos desi-
gual. Por meio da prática dialógica e antiautoritária, explicita que o processo educati-
vo não é neutro, por isso, quando se propõe a ser crítico, participativo, flexível e dialó-
gico, pode libertar o indivíduo para que promova uma transformação social.
Autonomia
Emancipação
Consciência
Abordagem queer
A educação sexual baseada nos pressupostos da teoria queer rejeita, então, toda
forma de normatividade, buscando questionar e romper com os modelos que apre-
sentam a existência de uma única identidade, pois, com isso, outras identidades têm
sido negadas, invisibilizadas ou têm sido vítimas de preconceito, como as travestis e
as drag queens. A abordagem queer questiona a identidade estável e fixa propondo
uma política da diferença que permita conhecer e pensar a sexualidade de forma
mais ampla.
Uma escola que adota a abordagem queer em sua proposta pedagógica propo-
ria intervenções críticas (reflexivas) ou até mesmo subversivas das relações de
poder entre a sexualidade heteronormativa e a relações de gênero, buscan-
do demonstrar que a normalidade é um produto cultural, histórico, político e
intencionalmente formulado e, por isso mesmo, questionável, instável e mutá-
vel (FURLANI, 2016).
Drag queens: pessoas que através de roupas e atitudes exageradas criam perso-
nagens do sexo oposto para brincar com os papéis sexuais. Podem ser heteros-
sexuais, bi ou homossexuais (BRETAS, 2011).
Intersexo: pessoas que nascem com anatomia sexual que não corresponde à
definição típica de feminino ou masculino. Por exemplo: a pessoa pode nascer
com aparência exterior masculina, mas sua anatomia reprodutiva ser feminina.
Todas essas oito abordagens apresentam as formas como a educação sexual tem sido
compreendida hoje no Brasil. Conhecer essas concepções é essencial ao professor,
pois são elas que embasam a prática pedagógica cotidiana dentro das escolas.
Conversar com crianças e jovens sobre essas temáticas é respeitar suas dúvidas,
sua necessidade de informação, reconhecendo essa curiosidade como natural. Isso
permite um crescimento mais tranquilo e seguro, responsável. Independentemente
do tipo ou da forma de manifestação, estudiosos da área são unânimes em recomen-
dar que não se deve silenciar, punir ou negativizar a sexualidade.
BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os
assuntos abordados na disciplina.
O livro “Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual e igual-
dade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças” traz nos capítulos 5 e 7
dicas de atividades para se trabalhar a educação sexual na escola desde a educação
infantil até o final do ensino fundamental. Vale a pena conferir!
CONCLUSÃO
Nesta unidade, você estudou as abordagens contemporâneas para a educação sexual
na escola, conhecendo os principais pressupostos teóricos e práticos que norteiam as
ações com a temática da sexualidade no ambiente escolar. Para isso, foram apresen-
tadas as abordagens tradicionais e inovadoras, discutindo suas implicações para o
ensino de crianças e adolescentes. Foram conceituados os termos gênero, orientação
sexual e identidade sexual, apresentando as características de cada conceito e as dife-
rentes categorizações nas quais se enquadram a percepção humana, forma de ser e
orientação do desejo. O conceito de gênero foi problematizado à luz das teorias que
o entendem como algo que vai para além da diferenciação biológica entre homem
e mulher, menino e menina. Depois, a orientação sexual foi discutida como algo não
binário (heterossexual vs. homossexual), mas como um conceito mais amplo, que
engloba a assexualidade, a bissexualidade e a panssexualidade. Para a compreen-
são dos tipos de identidade sexual existentes, foram abordadas as características que
definem os cisgêneros, transgêneros e os não binários e, por fim, foram apresentadas
algumas possibilidades didáticas para o trabalho com a temática da sexualidade na
educação infantil e fundamental.
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EAD.MU LTIVIX.EDU.BR
FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD
132 SUMÁRIO
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017