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Educação, Saúde e Sexualidade

EDUCAÇÃO, SAÚDE E
SEXUALIDADE

FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD


Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
SUMÁRIO 1
Educação, Saúde e Sexualidade

GRUPO A Faculdade Multivix está presente de norte a sul


do Estado do Espírito Santo, com unidades em
MULTIVIX Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova
Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória.
Desde 1999 atua no mercado capixaba, des-
tacando-se pela oferta de cursos de gradua-
ção, técnico, pós-graduação e extensão, com
qualidade nas quatro áreas do conhecimen-
to: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sem-
pre primando pela qualidade de seu ensino
e pela formação de profissionais com cons-
ciência cidadã para o mercado de trabalho.

Atualmente, a Multivix está entre o seleto


grupo de Instituições de Ensino Superior que
possuem conceito de excelência junto ao
Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institui-
ções avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram
notas 4 e 5, que são consideradas conceitos
de excelência em ensino.

Estes resultados acadêmicos colocam


todas as unidades da Multivix entre as
melhores do Estado do Espírito Santo e
entre as 50 melhores do país.

MISSÃO

Formar profissionais com consciência cida-


dã para o mercado de trabalho, com ele-
vado padrão de qualidade, sempre mantendo a
credibilidade, segurança e modernidade, visando
à satisfação dos clientes e colaboradores.

VISÃO

Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci-


da nacionalmente como referência em qualidade
educacional.

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2 SUMÁRIO
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EDITORIAL

FACULDADE CAPIXABA DA SERRA • MULTIVIX

Diretor Executivo Revisão de Língua Portuguesa


Tadeu Antônio de Oliveira Penina Leandro Siqueira Lima

Diretora Acadêmica Revisão Técnica


Eliene Maria Gava Ferrão Penina Alexandra Oliveira
Alessandro Ventorin
Diretor Administrativo Financeiro Graziela Vieira Carneiro
Fernando Bom Costalonga
Design Editorial e Controle de Produção de Conteúdo
Diretor Geral Carina Sabadim Veloso
Helber Barcellos da Costa Maico Pagani Roncatto
Ednilson José Roncatto
Diretor da Educação a Distância Aline Ximenes Fragoso
Flávio Janones Genivaldo Félix Soares

Coordenadora Acadêmica da EaD Multivix Educação a Distância


Carina Sabadim Veloso Gestão Acadêmica - Coord. Didático Pedagógico
Gestão Acadêmica - Coord. Didático Semipresencial
Conselho Editorial Gestão de Materiais Pedagógicos e Metodologia
Eliene Maria Gava Ferrão Penina (presidente Direção EaD
do Conselho Editorial) Coordenação Acadêmica EaD
Kessya Penitente Fabiano Costalonga
Carina Sabadim Veloso
Patrícia de Oliveira Penina
Roberta Caldas Simões

BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte)

de Almeida, Roselaine Pontes.


Educação, Saúde e Sexualidade / Roselaine Pontes de Almeida. – Serra: Multivix, 2019.

Catalogação: Biblioteca Central Anisio Teixeira – Multivix Serra


2019 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.

As imagens e ilustrações utilizadas nesta apostila foram obtidas no site: http://br.freepik.com

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APRESENTAÇÃO Aluno (a) Multivix,

DA DIREÇÃO Estamos muito felizes por você agora fazer parte


do maior grupo educacional de Ensino Superior do

EXECUTIVA Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a


Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional.

A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoei-


ro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia,
São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999,
no mercado capixaba, destaca-se pela oferta de
cursos de graduação, pós-graduação e extensão
de qualidade nas quatro áreas do conhecimento:
Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, tanto na mo-
dalidade presencial quanto a distância.

Além da qualidade de ensino já comprova-


da pelo MEC, que coloca todas as unidades do
Grupo Multivix como parte do seleto grupo das
Instituições de Ensino Superior de excelência no
Brasil, contando com sete unidades do Grupo en-
tre as 100 melhores do País, a Multivix preocupa-
-se bastante com o contexto da realidade local e
com o desenvolvimento do país. E para isso, pro-
cura fazer a sua parte, investindo em projetos so-
ciais, ambientais e na promoção de oportunida-
des para os que sonham em fazer uma faculdade
de qualidade mas que precisam superar alguns
obstáculos.
Prof. Tadeu Antônio de Oliveira Penina
Diretor Executivo do Grupo Multivix Buscamos a cada dia cumprir nossa missão que é:
“Formar profissionais com consciência cidadã para o
mercado de trabalho, com elevado padrão de quali-
dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança
e modernidade, visando à satisfação dos clientes e
colaboradores.”

Entendemos que a educação de qualidade sempre


foi a melhor resposta para um país crescer. Para a
Multivix, educar é mais que ensinar. É transformar o
mundo à sua volta.

Seja bem-vindo!

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LISTA DE FIGURAS

>>FIGURA 1 - Intersetorialidade 19
>>FIGURA 2 - Responsáveis pela garantia da Educação como direito 20
>>FIGURA 3 - Ações na perspectiva da intersetorialidade 23
>>FIGURA 4 - Intersetorialidade: conceitos-chave 26
>>FIGURA 5 - Etapas do trabalho escolar envolvendo
a temática da sexualidade 29
>>FIGURA 6 - Mecanismos condicionantes da sexualidade 38
>>FIGURA 7 - Elementos que compõe a concepção sobre sexualidade 39
>>FIGURA 8 - Descrição de práticas sexuais normais
e anormais a partir da ideia do “coito natural” 40
>>FIGURA 9 - Aspectos que trazem implicações para
a construção da sexualidade 45
>>FIGURA 10 - Fase oral 53
>>FIGURA 11 - Adultização infantil 63
>>FIGURA 12 - Erotização precoce 64
>>FIGURA 13 - Abordagem da sexualidade em uma
proposta pedagógica ético-política 73
>>FIGURA 14 - Características da criança sexualmente saudável 79
>>FIGURA 15 - Conceitos-chave para o desenvolvimento
saudável da sexualidade 80
>>FIGURA 16 - A escola na proposta de EPS 90
>>FIGURA 17 - A família na proposta EPS 91
>>FIGURA 18 - A comunidade na proposta de EPS 92
>>FIGURA 19 - Ações do Programa Saúde na Escola 95
>>FIGURA 20 - Princípios do PSE 96
>>FIGURA 21 - Ações de saúde na educação 99
>>FIGURA 22 - Constituição do conceito de gênero 105
>>FIGURA 23 - Orientação sexual 107
>>FIGURA 24 - Identidade de gênero 107

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LISTA DE FIGURAS

>>FIGURA 25 - Questões que ameaçam a tentativa de


controle da permissividade sexual 112
>>FIGURA 26 - Conceitos-chave da abordagem emancipatória 115

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LISTA DE QUADROS

>>QUADRO 1 - Ações previstas na Agenda Nacional


para a Promoção do Desenvolvimento Saudável da Juventude 31
>>QUADRO 2 - Estágios Psicossexuais do Desenvolvimento 55
>>QUADRO 3 - Principais marcos da política
em saúde para adolescentes 67
>>QUADRO 4 - Concepções de sexualidade de
docentes da educação básica 74
>>QUADRO 5 - Princípios da educação sexual no contexto escolar 80

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SUMÁRIO

UNIDADE 1 1 EDUCAÇÃO, SAÚDE E SEXUALIDADE: INTERSECÇÕES POSSÍVEIS 17


1.1 EDUCAÇÃO, SAÚDE E SEXUALIDADE: INTERSECÇÕES POSSÍVEIS 17
1.1.1 CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL, EDUCAÇÃO,
SAÚDE E INTERSETORIALIDADE 18
1.2 A TEMÁTICA DA SEXUALIDADE E AS ARTICULAÇÕES
POSSÍVEIS COM OS CAMPOS DA EDUCAÇÃO E DA SAÚDE 26

BIBLIOGRAFIA COMENTADA 32

CONCLUSÃO 33

UNIDADE 2 2 A SEXUALIDADE COMO CONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL 35

INTRODUÇÃO DA UNIDADE 35
2.1 A SEXUALIDADE COMO CONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL 36
2.1.1 DIMENSÕES HISTÓRICO-SOCIAIS DA SEXUALIDADE 37
2.1.2 IMPLICAÇÕES DE ALGUNS ASPECTOS SOCIAIS,
HISTÓRICOS E CULTURAIS NA CONSTRUÇÃO DA SEXUALIDADE HUMANA 45

CONCLUSÃO 48

UNIDADE 3 3 SEXUALIDADES: NÍVEL BIOLÓGICO E PSICOSSEXUAL


E SUAS MANIFESTAÇÕES NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 50

INTRODUÇÃO 50
3.1 SEXUALIDADES: NÍVEL BIOLÓGICO E PSICOSSEXUAL E
SUAS MANIFESTAÇÕES NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 51
3.1.1 SEXUALIDADE INFANTIL: A CRIANÇA COMO SER SEXUAL 52

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SUMÁRIO

3.1.2 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SEXUAL ADOLESCENTE 59


3.1.3 PROBLEMAS DE SAÚDE MAIS PREVALENTES NA INFÂNCIA
E ADOLESCÊNCIA E SEUS CONDICIONANTES SOCIOECONÔMICOS
E DE ESTILO DE VIDA 62

BIBLIOGRAFIA COMENTADA 68

CONCLUSÃO 69

UNIDADE 4 4 SEXUALIDADE COMO CAMPO DE ESTUDOS DA EDUCAÇÃO 71

INTRODUÇÃO 71
4.1 SEXUALIDADE COMO CAMPO DE ESTUDOS DA EDUCAÇÃO 72
4.1.1 INTERSECÇÕES ENTRE SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO 72
4.1.2 DIFERENCIANDO CONCEITOS: SEXO, SEXUALIDADE
E EDUCAÇÃO SEXUAL 77
4.1.3 AS POSSIBILIDADES OFERECIDAS NO ATENDIMENTO ÀS
NECESSIDADES DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
INFANTIL E ADOLESCENTE 78

BIBLIOGRAFIA COMENTADA 83

CONCLUSÃO 84

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SUMÁRIO

UNIDADE 5 5 O CONCEITO DE ESCOLA SAUDÁVEL DENTRO DAS ESTRATÉGIAS


DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E OS PROGRAMAS TRANSVERSAIS
NO ENSINO BÁSICO 86

INTRODUÇÃO 86
5.1 O CONCEITO DE ESCOLA SAUDÁVEL DENTRO DAS
ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO DE SAÚDE 87
5.1.1 PARCERIAS, ALIANÇAS E O PACTO SOCIAL 93
5.1.2 PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE NA ESCOLA
DENTRO DA PERSPECTIVA DAS ÁREAS TRANSVERSAIS
DE ENSINO FUNDAMENTAL: PROGRAMAÇÃO, CRITÉRIOS
E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 95

BIBLIOGRAFIA COMENTADA 99

CONCLUSÃO 100

UNIDADE 6 6 ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS PARA A EDUCAÇÃO SEXUAL NA SALA


DE AULA: RELAÇÕES DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E IGUALDADE
NUMA PROPOSTA DE RESPEITO ÀS DIFERENÇAS 102

INTRODUÇÃO 103
6.1 ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS PARA A EDUCAÇÃO SEXUAL
NA ESCOLA: RELAÇÕES DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E
IGUALDADE NUMA PROPOSTA DE RESPEITO ÀS DIFERENÇAS 103
6.1.1 DEFININDO CONCEITOS: GÊNERO, ORIENTAÇÃO
E IDENTIDADE SEXUAL 104
6.1.1.1 GÊNERO 104
6.1.1.2 ORIENTAÇÃO SEXUAL 107
6.1.1.3 IDENTIDADE SEXUAL OU DE GÊNERO 107
6.1.2 EDUCAÇÃO SEXUAL: POSSIBILIDADES DIDÁTICAS 108

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SUMÁRIO

6.1.3 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO SAUDÁVEIS E NÃO PUNITIVAS


NOS CASOS DE MANIFESTAÇÃO DA SEXUALIDADE
NO AMBIENTE ESCOLAR 118

BIBLIOGRAFIA COMENTADA 121

CONCLUSÃO 121

REFERÊNCIAS 123

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ICONOGRAFIA

ATENÇÃO ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
PARA SABER

SAIBA MAIS
ONDE PESQUISAR CURIOSIDADES
LEITURA COMPLEMENTAR
DICAS

GLOSSÁRIO QUESTÕES

MÍDIAS
ÁUDIOS
INTEGRADAS

ANOTAÇÕES CITAÇÕES

EXEMPLOS DOWNLOADS

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BIODATA DA AUTORA
Roselaine Pontes de Almeida

Mestre em Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela Universidade Fede-


ral de São Paulo. Pedagoga e Psicopedagoga. Professora de cursos de Graduação e
Pós-graduação, atuando nos cursos de Licenciatura em Letras, Matemática, Especiali-
zação em Psicopedagogia e Neuropsicologia. Professora autora de Educação Infantil
no projeto Planos de Aula da Nova Escola. Atua como docente, formadora de profes-
sores e produtora de conteúdo para EaD.

JUSTIFICATIVA
O trabalho com crianças e adolescentes demanda dos profissionais conhecimen-
tos que os permitam lidar com questões relacionadas à Educação, Saúde e Sexua-
lidade. Muitos dos tópicos que compõem essas temáticas representam um desafio
para o educador, uma vez que são cercados por mitos, tabus e falta de informação.
Compreender a construção sócio-histórico-cultural destas temáticas em suas múlti-
plas dimensões auxilia o professor a refletir sobre a importância de um trabalho volta-
do à equidade e respeito às diferenças, favorecendo o entendimento de suas princi-
pais manifestações, dúvidas e conflitos, que naturalmente adentram o espaço escolar
e permeiam a relação entre professor e aluno. Tendo isso em vista, esta disciplina
foi estruturada de modo a oferecer as principais abordagens que fundamentam o
estudo e a atuação prática com as temáticas da Educação, Saúde e Sexualidade.
A proposta é oferecer um panorama sobre as diferentes dimensões da construção,
manifestação e suas implicações pessoais e sociais das questões relacionadas à saúde
e sexualidade.

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Educação, Saúde e Sexualidade

ENGAJAMENTO
A proposta desta disciplina é fazer uma articulação entre os temas que envolvem
Educação, Saúde e Sexualidade, de modo a permitir um diálogo que favoreça a refle-
xão e a construção de práticas voltadas à valorização e respeito às diferenças. Assim,
antes de iniciar este estudo, reflita sobre seu conhecimento prévio sobre essa temáti-
ca e como você imagina que ela pode ser abordada na atualidade:

• Como lidar com a curiosidade, as dúvidas e as manifestações da sexualidade


no ambiente escolar?

• De que modo Educação, Saúde e Sexualidade podem ser trabalhadas na


escola?

• Quais programas têm sido desenvolvidos nas escolas, visando à promoção de


educação, saúde e orientação sobre sexualidade? O que eles propõem?

Certamente as respostas a estas questões não esgotam as abordagens destes temas,


que são tão amplos e complexos. Nosso desejo, pelo contrário, é que elas suscitem
ainda mais curiosidade e vontade de compreender as múltiplas possibilidades em
que Educação, Saúde e Sexualidade podem ser investigadas. Embarque conosco
nessa descoberta!

APRESENTAÇÃO DA
DISCIPLINA
Seja bem-vindo à disciplina Educação, Saúde e Sexualidade! Nela, você vai conhe-
cer as diferentes dimensões em que cada um destes temas tem sido estudado e as
intersecções possíveis entre eles, além das implicações que as diferentes abordagens
trazem para o debate e construção do conhecimento nas diversas áreas. A proposta é
tratar os temas de forma ampla, abordando educação, saúde e as diferentes manifes-
tações da sexualidade na infância e adolescência, buscando articular questões bioló-
gicas e psicossexuais às possibilidades que estes conhecimentos oferecem para a
compreensão sobre o crescimento e desenvolvimento infanto-juvenil.

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Também serão estudados nesta disciplina os programas de Educação e Saúde na


escola e as abordagens contemporâneas para a educação sexual na escola, numa
perspectiva de trabalho voltada ao respeito às diferenças. Sabemos que esta temática
representa um grande desafio no contexto escolar, por isso, conhecer sua fundamen-
tação teórica e estratégias de como lidar com estes temas é fundamental à forma-
ção do professor. Deste modo, é importante que você realize as leituras e atividades
propostas, pois é a partir de seu estudo e engajamento que o conhecimento poderá
ser construído.

OBJETIVOS DA DISCIPLINA
Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de:

• Apontar os paradigmas subjacentes às várias abordagens que articulam


educação, saúde e sexualidade e seus reflexos no cotidiano escolar.

• Discutir a sexualidade como uma construção sócio-histórico-cultural, buscan-


do desconstruir preconceitos e mitos existentes.

• Articular teoria à prática de propostas que visem à prevenção ao preconceito,


à discriminação e ao respeito à diversidade.

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Educação, Saúde e Sexualidade

UNIDADE 1

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:

> Analisar e interpretar


diferentes abordagens
sobre educação, saúde
e sexualidade.

> Discutir os conceitos


de desenvolvimento
social, educação, saúde
e intersetorialidade.

> Expressar as
articulações possíveis
entre educação, saúde
e sexualidade.

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Educação, Saúde e Sexualidade

1 EDUCAÇÃO, SAÚDE
E SEXUALIDADE:
INTERSECÇÕES POSSÍVEIS
O presente conteúdo foi elaborado com o objetivo de fornecer a base teórica para a
compreensão de Educação, Saúde e Sexualidade, em suas múltiplas possibilidades
de manifestação e investigação. Nesta Unidade, você vai estudar como se constitui
cada um destes campos e o que propõem as diferentes abordagens. Depois, serão
abordadas as articulações possíveis entre os temas, apresentando as intersecções já
existentes entre essas áreas.

Para essa compreensão, você estudará o conceito de intersetorialidade, pois o obje-


tivo é explicitar como essa reunião de esforços em busca da definição de objetivos
comuns e ações articuladas pode significar o bom planejamento e atuação efetiva no
combate às demandas educacionais, de saúde e até sociais.

Diante desta premissa, Educação, Saúde e Sexualidade serão abordadas em suas


múltiplas dimensões, tendo como objetivo a construção de um conhecimento holís-
tico sobre essas temáticas, de modo a possibilitar práticas respeitosas e inclusivas no
âmbito escolar.

1.1 EDUCAÇÃO, SAÚDE E SEXUALIDADE:


INTERSECÇÕES POSSÍVEIS

Educação, Saúde e Sexualidade são temas de pesquisa e atuação de várias áreas


do conhecimento. Em algumas delas, a interdisciplinaridade inerente a eles é mais
explícita e aproxima os conceitos e saberes próprios de cada campo, favorecendo a
compreensão para que se atue sobre um dado fenômeno. Ao se considerar as trans-
formações do mundo contemporâneo e as demandas educacionais atuais, nota-se
que essas intersecções são imprescindíveis, pois tornam possível uma reunião de
dados e informações para a reflexão e tomada de decisões amplas e diversificadas.

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SUMÁRIO 17
Educação, Saúde e Sexualidade

Compreender cada uma destas áreas e como elas dialogam entre si é importan-
te para que se desenvolva um pensamento articulado em prol dos benefícios que
essa intersecção pode representar. Nesta perspectiva, serão definidos cada um destes
conceitos, e você entenderá como, juntos, constroem a possibilidade de reflexões e
ações no âmbito intersetorial.

1.1.1 CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL,


EDUCAÇÃO, SAÚDE E INTERSETORIALIDADE

Muitas vezes ao assistir o telejornal ou ao ler jornais e portais da internet, nos depara-
mos com notícias que falam sobre desenvolvimento social. Esse termo, geralmente
pouco compreendido isoladamente, muitas vezes é associado a economia, progra-
mas sociais, assistência à saúde, cidadania, dentre tantos outros, passando a ideia de
amplitude do conceito. Mas, afinal, o que é desenvolvimento social?

Desenvolvimento social diz respeito às condições e qualidade de vida de uma dada


população. Como ocorre a partir da reunião de vários fatores, expressa-se no bem-es-
tar social, um conceito que agrega democracia, liberdade, justiça, equidade, tolerân-
cia, igualdade e solidariedade. Assim, uma sociedade possui bom desenvolvimento
social quando há possibilidades reais de satisfação de suas necessidades, que vão
desde a expectativa de vida de homens, mulheres e crianças até o acesso e fruição de
bens educacionais, de saúde, moradia e empregabilidade (LAMPREIA, 1995).

Para que as necessidades da população sejam atendidas e, com isso, haja desenvol-
vimento social, é necessário que haja articulação de políticas econômicas e sociais,
numa perspectiva de enfraquecimento e abandono das ações fragmentadas e conse-
quente fortalecimento do regime de colaboração entre setores.

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Educação, Saúde e Sexualidade

FIGURA 1 - INTERSETORIALIDADE

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019.

Nesta perspectiva, a Educação tem sido vista como uma forma de potencializar o
desenvolvimento das pessoas, já que, tradicionalmente, é transmitida a crianças
desde a mais tenra idade e, cada vez mais, em instituições especializadas. No passa-
do, a educação na primeira infância (até os 6/7 anos) ocorria em casa e, muitas vezes,
depois disso, com preceptores contratados pela família; mais recentemente, a partir
desta idade, as crianças iam para a instituição escola. Na atualidade, as mudanças
sociais e nas configurações familiares, além das conquistas das mulheres pela inde-
pendência financeira e vida autônoma, fizeram surgir a necessidade de uma educa-
ção voltada às crianças pequenas, com menos de 3 anos de idade.

Vê-se, com essa nova configuração, que as crianças – aprendizes de uma dada cultura
e sociedade – recebem, cada vez mais cedo, uma educação institucionalizada, o que
torna a escola (a creche) em um local de ensino por excelência. Você já parou para
pensar no que isso pode significar?

Se, por um lado, as crianças hoje podem ter maiores possibilidades de contato com
a diversidade, com as múltiplas formas de expressão e vivência dos indivíduos de
diferentes culturas, também se pode imaginar que alguns aprendizados básicos e

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SUMÁRIO 19
Educação, Saúde e Sexualidade

o desenvolvimento de importantes habilidades, como experiências que ensinem


valores morais e éticos, o controle dos impulsos, a frustração e o respeito às ideias e
opiniões dos outros, por exemplo, podem, muitas vezes, ser insuficientemente explo-
rados e desenvolvidos.

Essa reflexão é importante para nos fazer compreender como a educação, seja ela
formal (que ocorre nos sistemas de ensino), seja a não formal (que ocorre ao longo
da vida, fora da escola), é um importante elemento que ajuda a moldar as crenças,
valores e subjetividades, que contribuem para a formação da identidade das pessoas.

Observando outro aspecto da Educação, é preciso reconhecer que, sendo ela um


direito cuja garantia deve ser assegurada pelo Estado, pela família e pela sociedade
(BRASIL, 1988), ela prevê a reunião de esforços e o compartilhamento de responsabi-
lidades. Essa premissa aparece na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) (BRASIL,
2017), que expressa que “a educação deve afirmar valores e estimular ações que
contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, social-
mente justa e, também, voltada para a preservação da natureza”. Assim, vê-se que a
Educação não é ação ou responsabilidade de um só, mas sim, que para se efetivar,
depende da união e do esforço coletivo.

FIGURA 2 - RESPONSÁVEIS PELA GARANTIA DA EDUCAÇÃO COMO DIREITO

EDUCAÇÃO
como direito

Estado

Família

Sociedade

Fonte: Elaborada pela autora.

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Educação, Saúde e Sexualidade

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento que define no


Brasil as aprendizagens essenciais a que todos os alunos têm direito durante
a Educação Básica. É ele a referência obrigatória que deve nortear a elabora-
ção dos currículos das redes de ensino (tanto públicas quanto privadas) em
escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio de todo
o país.

A BNCC está disponível no site do Ministério da Educação e Cultura, e o docu-


mento pode ser acessado e baixado na íntegra ou por nível de ensino. Vale a
pena conferir!

O caráter colaborativo do princípio de garantia da educação também é visto em


outros setores. Na área da Saúde, por exemplo, também se percebe o esforço do
trabalho conjunto, por vezes inter ou multidisciplinar, visando atuação para preven-
ção ou combate de doenças, atrasos ou transtornos do desenvolvimento. Entre os
profissionais deste campo, é comum o estudo e discussão de casos, a fim de compar-
tilhar experiências e impressões, com o objetivo de se obter uma visão mais global do
paciente e suas dificuldades, buscando a realização de diagnósticos mais completos
e precisos.

Interdisciplinar: diz respeito à relação entre disciplinas ou profissionais de


diferentes áreas, no intuito de aprofundar o conhecimento para melhor
compreensão ou atuação sobre um caso ou diagnóstico.

Multidisciplinar: diz respeito ao conjunto de várias disciplinas ou profissio-


nais de diferentes áreas, que podem atender a um mesmo paciente, mas
que não necessariamente se relacionam entre si para a discussão de um
caso ou fechamento de diagnóstico.

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SUMÁRIO 21
Educação, Saúde e Sexualidade

Educação e Saúde geralmente buscam atuar conjuntamente quando algu-


ma criança ou jovem apresenta problemas de aprendizagem. É comum as
escolas encaminharem estes alunos a profissionais especialistas (psicólogos,
fonoaudiólogos, psicopedagogos) para que se obtenha um “laudo” que traga
respostas sobre o porquê de este estudante ter dificuldades e não aprender.
Algumas experiências deste tipo envolvem a parceria entre escola e centro
de diagnóstico interdisciplinar (muitas vezes ligados às faculdades e centros
universitários), que recebem estes encaminhamentos e submetem o aluno a
uma avaliação com profissionais de várias áreas. Ao final da ampla avaliação,
que pode envolver a família e os professores, os profissionais discutem o caso
para identificar se o perfil apresentado pela criança ou jovem é compatível
com algum quadro de transtorno ou deficiência.

No que diz respeito às políticas de saúde, é fato que unir esforços com outros setores
representa maior escala e alcance de projetos.

Para citar outro exemplo, é possível pensar nos programas desenvolvidos


dentro das escolas. Seja para identificar problemas de visão com exames
oftalmológicos, combater pediculose ou para ensinar a maneira certa de
se escovar os dentes para uma boa higienização bucal, é provável que você
tenha tido alguma experiência deste tipo em seu período escolar.

O que se percebe, por estes exemplos, é que a tentativa de unir esforços para atuação
conjunta não é nenhuma novidade. Muito pelo contrário, essa busca pelo trabalho
compartilhado já existe e a ele chamamos Intersetorialidade.

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Educação, Saúde e Sexualidade

Intersetorialidade é uma iniciativa que visa ao trabalho entre setores, contrapon-


do o modelo fragmentado de atuação das políticas sociais. Diante da amplitude e
complexidade de muitos problemas enfrentados pela população, a intersetorialida-
de se coloca como ação fundamental para promover melhoria da qualidade de vida
das pessoas, superar os problemas enfrentados nos diversos âmbitos e otimizar a
busca por resultados (PHAC, 2008; SOUZA et al., 2017).

A definição de intersetorialidade engloba, ainda, parceria e trabalho conjunto (SOUZA


et al., 2017). Prevê a articulação de saberes e experiências de diferentes áreas, de
modo a atuar de forma integrada para a solução de demandas e problemas (LIMA;
VILASBÔAS, 2011; WIMMER; FIGUEIREDO, 2006).

Assim, de forma sintetizada, listamos ações que, para Junqueira (2004), explicitam a
intersetorialidade:

FIGURA 3 - AÇÕES NA PERSPECTIVA DA INTERSETORIALIDADE

reunião de objetivos comuns

compartilhamento de tomada de decisão

planejamento conjunto

mobilização de recursos

implementação de propostas intersetoriais


Fonte: Elaborada pela autora.

Dadas suas características, o trabalho intersetorial não se limita à justaposição de


projetos, mas considera a importância tanto do planejamento quanto da operaciona-
lização para que se promovam programas bem estruturados, com objetivos e gestão
compartilhadas (BUSS; CARVALHO, 2009).

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SUMÁRIO 23
Educação, Saúde e Sexualidade

Para que isso ocorra, é fundamental a definição de conceitos e objetivos comuns a


partir do levantamento das necessidades da população com a qual se deseja traba-
lhar (WIMMER; FIGUEIREDO, 2006), pois, conhecendo a realidade, demandas e expec-
tativas desse público-alvo, é possível delinear planos de ação factíveis, que favoreçam
a todos os envolvidos (SILVA; RODRIGUES, 2010).

Em 2012, uma organização do terceiro setor iniciou, no município de Campos


do Jordão, uma ação intersetorial para favorecer as crianças com problemas
de aprendizagem. Após mapear, com a secretaria de educação, os índices de
alunos com dificuldades em leitura e escrita, e identificar a ausência de um
plano de ação efetivo para auxiliar esses estudantes e diminuir a fila de espe-
ra para atendimento psicológico e fonoaudiológico no setor da saúde – que
recebia muitos encaminhamentos provenientes das escolas – foi formado
um Grupo Articulador, composto por representantes da sociedade civil (mãe
de crianças com problemas de aprendizagem e membros da associação de
moradores) e das secretarias municipal de Educação, Saúde e Desenvolvi-
mento Social. O projeto previa a formação de professores e psicopedagogas,
de uma equipe interdisciplinar na área da saúde (composto por neurologis-
ta, psicólogas e fonoaudiólogas) e a articulação da população para o forta-
lecimento da luta por políticas públicas que beneficiassem essa população.
Essa ação intersetorial foi fundamental para a aprovação da Lei Municipal
nº 62, de 18 de julho de 2013, que prevê a identificação precoce e acompa-
nhamento dos alunos com transtornos de aprendizagem na rede pública
de ensino. Além disso, trouxe benefícios para todas as áreas envolvidas no
projeto.

Na contramão dessas iniciativas, as intervenções isoladas nos setores têm mostra-


do baixa efetividade para promover mudanças esperadas, além de menor adesão
dos envolvidos. No entanto, mesmo que as ações fragmentadas sejam reconhecidas
como menos exitosas, elas ainda acontecem em um bom número de projetos. Nos
casos em que já há um trabalho intersetorial, muitas vezes há a necessidade de ações

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Educação, Saúde e Sexualidade

mais amplas e complexas, voltadas à organização, orientação e desenvolvimento de


estratégias que favoreçam à comunidade envolvida. Assim, aponta-se que práticas
intersetoriais possibilitam a construção compartilhada de projetos estratégicos

Na Educação, a intersetorialidade busca a melhoria dos processos educacionais por


meio de parcerias e colaboração entre sociedade e instituições governamentais e não
governamentais (BRASIL, 2014). Na área da saúde, é reconhecida como uma estraté-
gia de ação que se sobrepõe aos determinantes sociais, possibilitando reorganização
de todo o sistema (ANDRADE, 2006).

Mesmo sendo uma prática existente desde o Século XX, Figueiredo et al., 2010 apon-
tam muitos desafios e fragilidades na implementação de ações intersetoriais, como
as ações fragmentadas, a ausência de comprometimento igualitário entre os setores
e o predomínio de abor¬dagens setorizadas (SANTOS, 2005).

Alguns estudiosos do tema assumem que um dos desafios da intersetorialidade está


justamente em operacionalizar os projetos superando as hierarquias institucionais,
além da criação de novas relações entre os diferentes setores e segmentos envolvi-
dos. Este é um desafio que se apresenta para todos aqueles que acreditam no traba-
lho em parceria e na troca de saberes para o bem comum.

Conhecer o significado de termo e os conceitos-chave que representam essa ideia é


um primeiro movimento para se criar um pensamento ou projeto intersetorial.

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Educação, Saúde e Sexualidade

FIGURA 4 - INTERSETORIALIDADE: CONCEITOS-CHAVE

Planejamento e
Parceria
desenvolvimento de ações
conjuntas e integradas Trabalho coletivo

Intersetorialidade

Diálogo
Decisões horizontais
Envolvimento
Compartilhamento de poder
Aproximação

Fonte: Elaborada pela autora.

A partir dos projetos e ações intersetoriais é possível que áreas distintas, que talvez
não tenham a tradição ou o hábito de dialogar, podem iniciar a identificação de
pontos e objetivos comuns em algum tipo de trabalho. Deste exercício, algumas arti-
culações entre temas, projetos e ações podem surgir, fomentando o compartilha-
mento de ideias para uma atuação que pode vir a ser colaborativa e integrada.

1.2 A TEMÁTICA DA SEXUALIDADE E AS


ARTICULAÇÕES POSSÍVEIS COM OS CAMPOS DA
EDUCAÇÃO E DA SAÚDE

A temática da sexualidade há muito representa um tabu em nossa sociedade. Vista


muitas vezes como representação única do fundamento genital e sua disposição
para a reprodução, gera conflitos, desconfortos e ambiguidades. Por isso, às vezes é
evitada ou debatida de forma breve e superficial, mesmo no âmbito escolar.

Para se romper com a ideia muitas vezes equivocada que se tem sobre sexualidade,
é fundamental compreendê-la em sua perspectiva mais ampla, que engloba além
do fundamento biológico, anatômico e também genital, uma disposição psíquica,
mencionada por Freud (1905) como a essência da atividade humana.

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As múltiplas expressões da sexualidade na contemporaneidade dão conta de nos


mostrar que esse é um campo muito diverso e complexo, que não é facilmente expli-
cado ou vivido em sua tradicional definição. Este movimento tem sido influenciado
pelas múltiplas transformações constituídas pela globalização, pelas novas configu-
rações familiares e pelos novos modelos sociais e de comportamento (HOLOVKO;
CORTEZZI, 2018).

Diante deste novo e amplo cenário, as múltiplas sexualidades demandam ser repen-
sadas e dois campos, em especial, podem contribuir para essa reflexão: o da educa-
ção e o da saúde.

Na Educação, é importante se reconhecer que a sala de aula é um ambiente compos-


to por um grupo heterogêneo de pessoas que apresentam uma pluralidade extensa
de diversidades, sendo as relacionadas à sexualidade uma delas. Em sua vasta hete-
rogeneidade, os alunos irão vivenciar, interagir e manifestar suas atitudes e compor-
tamentos tendo como referência o modelo social, familiar e da autoridade. O teor e a
qualidade das informações, mensagens e modelos repassados aos jovens é de funda-
mental importância em seu processo de formação e na orientação das escolhas que
farão ao longo da vida (BRASIL, 1999). Deste ponto de vista, o professor é uma figura
de referência para o aluno e também lhe oferece ferramentas para o pensamento e
modelos de conduta.

Independentemente das convicções e crenças pessoais de professores e alunos, no


âmbito escolar é importante compreender o campo da sexualidade como múltiplo
e diverso, para que se crie e compartilhe um ambiente de aprendizagem sadio e
acolhedor, onde se pratica a empatia e o respeito.

Holovko e Cortezzi (2018, p. 21) explicitam que “a sexualidade, quando não reduzida
ao seu sentido biológico, torna-se heterogênea”, o que significa que é múltipla em
sua significação. Compreender essa ideia e trabalhar em sala de aula a partir dessa
perspectiva favorece atitudes e modos de pensar que despatologizam fenômenos
relacionados à diversidade sexual ou familiar, do mesmo modo que auxilia na identi-
ficação e denúncia de preconceitos de todo tipo.

Para além desse reconhecimento, Dziabas e Miranzi (2007) chamam a atenção para a
necessidade de o trabalho com a educação sexual ir para além da abordagem peda-
gógica de temas que abordem a sexualidade humana. Para os autores, o tema deve
ser tratado no plano escolar de forma interdisciplinar e em contextos curriculares e
extracurriculares. Para isso, propõem que se privilegie: o espaço, a turma, as diferentes

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Educação, Saúde e Sexualidade

necessidades dos alunos, o apoio às famílias e as formas de apoio individualizado e


específico a quem deles necessitar.

Para além da abordagem pedagógica comum com a qual o tema da sexua-


lidade geralmente é abordado em sala de aula, é possível trabalhá-lo de dife-
rentes formas e em várias disciplinas do currículo. Um primeiro movimento
seria não restringi-la às aulas de Ciências ou Biologia, pois, como algo natu-
ral ao processo de desenvolvimento humano, a sexualidade pode ser abor-
dada na literatura, na matemática (a partir do estudo estatístico de temas
que vão ao encontro das curiosidades e necessidades dos jovens), em histó-
ria, abordando as questões relacionadas a gênero e outros condicionantes
socioculturais), bem como a partir de projetos interdisciplinares, transversais
e inclusivos, explorando com seriedade o tema, adequando a abordagem e
o aprofundamento da discussão a cada nível etário ou escolar dos alunos.

Vale reconhecer também que, de modo geral, por conta de características próprias
do desenvolvimento, os jovens estão expostos a certas vulnerabilidades associadas à
saúde reprodutiva, identificação de sua sexualidade e construção/remodelação de
sua identidade. Nesta etapa da vida, questões como sexualidade, anticoncepção,
reprodução, aborto, maternidade e paternidade são temas que permeiam de dúvi-
das e curiosidades o pensamento e comportamento dos jovens (LUZ; BERNI, 2000).

Sem a orientação correta, a atitude dos adolescentes não poderia ser dife-
rente da que predomina à sua volta. Conversar de forma séria sobre assuntos
sexuais, em geral, tende a baixar a ansiedade dos jovens, que, naturalmente,
são muito curiosos e desejam viver suas experiências o mais rápido possível
(ROSISTOLATO, 2003, p. 133).

Não deve ser negligenciado nessa reflexão o fato de o jovem de hoje encontrar fora
da escola inúmeras informações e espaços de aprendizagem (nem sempre sérios ou
coerentes). O acesso irrestrito a todo tipo de conteúdo, ao invés de possibilitar maior
conhecimento e orientação, pode significar o contato com informações equivocadas,
que pouco ou nada auxiliam nas questões enfrentadas por que as procuram.

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Assim, um trabalho sério, desenvolvido no espaço escolar, deve ser voltado a ofere-
cer diálogo e informação de qualidade, acolhendo o jovem e suas dúvidas. Para isso,
Dziabas e Miranzi (2007) propõem:

FIGURA 5 - ETAPAS DO TRABALHO ESCOLAR ENVOLVENDO A TEMÁTICA DA SEXUALIDADE

Interação/ criação de vínculo entre educador e aluno

Diálogo contínuo

Refletir sobre quem somos e como nos relacionamos

Propiciar experiências que ofereçam modelos

Oferecer oportunidades para mudanças internas

Provocar o aprofundamento das reflexões

Incentivar o desenvolvimento da autonomia e da ação

Fonte: Adaptada de DZIABAS; MIRANZI, 2007.

O desenvolvimento deste trabalho demanda vivência do lúdico e o incentivo ao diálo-


go e à reflexão, possibilitando a aquisição de novas posturas e maneiras de lidar com
as questões. Para favorecer esse movimento, além do material teórico e ilustrativo
apropriado, pode-se utilizar recursos como música, dramatizações, poesias e filmes
(DZIABAS; MIRANZI, 2007).

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Educação, Saúde e Sexualidade

Um grupo de acadêmicos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro


(UFTM) desenvolveu um projeto de educação sexual com alunos do últi-
mo ano do Ensino Fundamental de uma escola municipal de Uberaba/MG.
As atividades foram divididas em 6 módulos que abordaram: fisiologia e
anatomia humana; iniciação, maturação e comportamento sexual; métodos
contraceptivos; DST/ AIDS; violência e exploração sexual; menopausa/andro-
pausa e disfunções sexuais.

Caso tenha interesse em saber um pouco mais sobre os tópicos trabalha-


dos no projeto de Educação Sexual desenvolvido por alunos da UFTM e os
resultados do projeto, confira o relato Educação em Saúde e Sexualidade
do Escolar, de Daniel Cavarette Dziabas e Sybelle de Souza Castro Miranzi,
disponível na internet.

No setor da saúde, há algumas décadas o Ministério da Saúde, em parceria com Esta-


dos e Municípios, vem realizando ações de educação em saúde voltadas aos adoles-
centes, buscando prevenir doenças e agravos de saúde, bem como fortalecer fatores
protetores e minimizar fatores riscos (BRASIL, 1999).

A construção de uma agenda nacional para a promoção do desenvolvimento saudá-


vel da juventude foi proposta no documento “Saúde e desenvolvimento da juventude
brasileira: construindo uma agenda nacional” (BRASIL, 1999). O quadro a seguir traz
as principais ações previstas para o desenvolvimento da saúde dos jovens:

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QUADRO 1 - AÇÕES PREVISTAS NA AGENDA NACIONAL PARA A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO


SAUDÁVEL DA JUVENTUDE

Oferta de informação sobre saúde e educação sexual para o desenvolvimento das habilidades neces-
sárias para o jovem se manter saudável>
Proteção à saúde de adolescentes grávidas e de mães adolescentes e seus filhos>
Favorecimento do aleitamento materno de mães adolescentes no trabalho e na escola.
Favorecimento da permanência e a reintegração de pais adolescentes à escola.
Expansão do acesso aos serviços de saúde humanizados e receptivos às demandas específicas da
população jovem.
Discussão na sociedade sobre o direito do adolescente ter acesso ao aconselhamento e aos insumos
contraceptivos, bem como aos relativos à prevenção das DST/AIDS.
Reflexão e consequente ação contra o abuso sexual, a prostituição de menores e a violência domés-
tica.
Ambientes saudáveis de trabalho para a juventude, reduzindo os riscos das doenças profissionais.
Participação intensa da grande mídia no esforço de promover a saúde e o desenvolvimento da juven-
tude.
Implementação efetiva do Estatuto da Criança e do Adolescente, privilegiando sua proposta educa-
tiva e considerando o enfoque de gênero.

Fonte: BRASIL, 1999.

É importante comentar que, mesmo que a proposta não seja nova, ainda há muito
por se fazer. Muitas das ações de prevenção e intervenções voltadas para a melhoria
da saúde do adolescente ainda mantêm um foco estreito e desalinhado às principais
necessidades dessa população (BRASIL, 1999). Com isso, os resultados nem sempre
são promissores, e a eficácia e eficiência dos projetos são postos à prova.

O que já é reconhecido pelo senso comum e cada vez mais tem sido confirmado por
estudos científicos é que alianças e parcerias são essenciais para a criação e desenvol-
vimento de ações que visem proteção de saúde, bem-estar e direitos da população.

Para dar conta das demandas atuais, Educação e Saúde devem auxiliar os adoles-
centes a organizar o pensamento, munindo-os de informações sérias e de qualidade,
oferecendo-lhes condições de fazer suas escolhas pessoais de forma racional e de
adotarem comportamentos conscientes e seguros (ROSISTOLATO, 2003).

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BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Veja a seguir a indicação de uma obra que complementará seu conhecimento sobre
os assuntos abordados na disciplina.

• PELICIONI, Maria Cecília Focesi; MIALHE, Fábio Luiz. Educação e promoção da


saúde: teoria e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Santos, 2019.

O livro “Educação e promoção da saúde: teoria e prática” apresenta variadas expe-


riências da atuação do setor de saúde em escolas, centros de referência e outros
locais de trabalho. O capítulo 2, especificamente, traz o conceito de abordagem de
settings para a saúde, aproximando o diálogo com a intersetorialidade, tão necessária
nos projetos desta natureza. Trabalhar com as grandes estruturas sociais ou organiza-
cionais permite o maior alcance dos projetos a determinados grupos populacionais.
Essa premissa aparece em boa parte dos relatos que o livro traz. Não deixe de conferir!

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CONCLUSÃO
Nesta Unidade você estudou os conceitos de desenvolvimento social, educação,
saúde e intersetorialidade. A partir de uma visão integrada, cada um dos conceitos
foi apresentado de forma a propiciar compreensão de seus pontos-chave, visando
favorecer a construção do conhecimento sobre como atuam esses diferentes setores.

Através de exemplos/cases, buscou-se propiciar a reflexão sobre a importância do


trabalho integrado entre diferentes áreas, visando criar possibilidades reais de elabo-
ração e desenvolvimento de projetos que ultrapassem a visão e atuação fragmenta-
das em prol de abordagens que priorizam o trabalho conjunto e a gestão comparti-
lhada.

A temática da sexualidade também foi abordada, ressaltando-se as múltiplas dimen-


sões existentes para a compreensão do tema. Chamou-se atenção da importância
de se tratar as questões relacionadas à sexualidade nos âmbitos escolar e da saúde,
de modo a oferecer aos jovens informações consistentes e programas que objeti-
vem a promoção do desenvolvimento dessa população. Em relação a essa temática,
também foram mencionadas as articulações possíveis entre sexualidade, educação e
saúde. A proposta foi oferecer uma visão geral de como essas áreas podem abordar o
tema, tratando-o de forma séria e condizente com as demandas atuais apresentadas
pelos jovens.

Profissionais que atuam com a população jovem devem conhecer as diferentes


abordagens que tratam da sexualidade. Essa é uma questão importante para que
se conheça os comportamentos e demandas atuais apresentadas pelos jovens nos
diferentes espaços de convivência, especialmente o escolar. Atuar compreendendo e
respeitando essa diversidade pode significar a efetivação de experiências que favore-
cem o acolhimento, a empatia e o respeito, possibilitando criar condições para que a
aprendizagem aconteça.

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Educação, Saúde e Sexualidade

UNIDADE 2

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:

> Identificar fatores históricos,


sociais e culturais como
constituintes do processo
de formação da sexualidade
humana.

> Articular o contexto


histórico, cultural e social
para compreender a
concepção que diferentes
sociedades têm sobre a
sexualidade.

> Examinar as implicações


de alguns aspectos sociais,
históricos e culturais na
construção da sexualidade
humana.

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2 A SEXUALIDADE COMO
CONSTRUÇÃO SÓCIO-
HISTÓRICO-CULTURAL
Nesta Unidade você estudará sobre como as questões sociais, os momentos históri-
cos e as características da cultura compõem a construção da sexualidade humana. A
proposta é pensar a sexualidade a partir de como ela é entendida e exercida em um
dado momento histórico e em diferentes sociedades e culturas. Sendo uma cons-
trução sociocultural, a identidade de cada ser humano é moldada por aquilo que é
transmitido em sua cultura e pelos valores adotados pela sociedade. Família, política,
religião, escola e as mídias, em geral, transmitem as crenças, valores e ideologias que
influenciam a forma de entender o que é permitido, aceitável, valorizado, em detri-
mento do que é perverso e inaceitável.

Essas formas de compreender o que é certo ou errado, do que é normal ou desviante


molda atitudes e comportamentos. Refletir sobre as implicações destes condicio-
nantes se faz necessário, na medida em que pode significar condutas mais éticas e
saudáveis, a partir do entendimento da sexualidade em suas múltiplas dimensões,
promovendo o respeito e a valorização da diversidade.

INTRODUÇÃO DA UNIDADE
O presente conteúdo foi elaborado com o objetivo de fornecer subsídios para se
pensar a sexualidade a partir de questões que vão além da constituição do indivíduo
em seu âmbito familiar. Pensando de forma macro, a unidade propõe analisar como
a cultura, a sociedade e o tempo histórico são importantes marcadores para enten-
der as formas de agir e pensar sobre a sexualidade. Para isso, propõe refletir sobre por
que algumas práticas são naturalizadas e difundidas em uma dada cultura, enquanto
que em outra pode ser considerada abominável.

Também chama atenção para o fato de que em cada momento histórico as visões
sobre a sexualidade podem ser diferentes, influenciando as condutas, as ideologias e

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SUMÁRIO 35
Educação, Saúde e Sexualidade

os padrões de comportamento da sociedade. Para entender essa gama de influên-


cias, a Teoria Sociointeracionista do Desenvolvimento é apresentada, trazendo a apro-
priação que os indivíduos fazem de seus signos e códigos culturais como algo essen-
cial à constituição do ser humano, transformando-o em ser social.

Por fim, algumas implicações sobre as questões sociais, culturais e históricas são
discutidas, enfatizando a importância de se pensar o contexto atual para entender
as formas de perceber e manifestar a sexualidade das crianças e dos jovens da atua-
lidade.

2.1 A SEXUALIDADE COMO CONSTRUÇÃO SÓCIO-


HISTÓRICO-CULTURAL

O que você sabe sobre sexualidade? Quais são os tabus e curiosidades que cercam
a temática da sexualidade? Quais manifestações da sexualidade você conhece e
como você as enxerga? Falar de sexualidade nem sempre é fácil. Mesmo sendo um
tema abordado nos livros, explorados pela dramaturgia e massivamente exposto pela
mídia, ainda é cercado de mitos, medos e falta de informação qualificada. Viver a
sexualidade, em suas diversas possibilidades de manifestação, é ainda mais compli-
cado, haja vista a dificuldade de se perceber a diferença entre sexo e sexualidade, e a
crença de muitos em uma única forma “correta” de exercê-la.

Esses dilemas, presentes na vida de cada um de nós, têm relação com questões
sociais, culturais e até mesmo históricas. Você já parou para pensar que muitas dessas
questões que influenciam nossa forma de pensar, entender e manifestar a sexualida-
de têm raízes históricas? Que os padrões e normas, do que é aceito e do que não é,
do que pode e do que não pode, do certo e do errado, são convenções sociais? Que
em outras culturas o entendimento sobre a sexualidade é muito diferente da forma
como a conhecemos? São essas questões que abordaremos nesta unidade. Venha
conosco nesta viagem pelo conhecimento!

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2.1.1 DIMENSÕES HISTÓRICO-SOCIAIS DA


SEXUALIDADE

A sexualidade é uma construção histórico-social. A forma como a entendemos e a


manifestamos passa necessariamente por questões históricas, e é permeada por
convenções sociais. Isso quer dizer que este é um conceito que sofre variações e
modificações em momentos e espaços históricos diferentes (COSTA et al., 2010) e,
deste ponto de vista, o que hoje é considerado comum e aceitável pode não ter sido
em outros momentos, assim como o que é condenado e mal visto em nossa socie-
dade pode ser encarado de uma forma totalmente diferente em outra sociedade ou
cultura.

Antes de Freud desenvolver a Teoria Psicossexual do Desenvolvimento (FREUD,


1905/1996), a manifestação da sexualidade desde a primeira infância era algo
inconcebível. Freud adiciona o componente psíquico à sexualidade, antes
vista apenas como fundamento biológico, anatômico e genital. Em sua teoria,
a sexualidade manifesta-se desde os primeiros meses de vida do bebê e vai
evoluindo ao longo dos anos de vida do ser humano. Para ele, sexualidade é a
essência da atividade humana.

Outro exemplo vem da Grécia antiga e diz respeito à naturalidade com que a
pederastia (relação sexual entre dois homens, um adulto e um jovem) era trata-
da. Característica dos períodos arcaico e clássico, essa prática acontecia como
um ritual de iniciação ao que hoje se conhece como adolescência. Nos dias
atuais, em nossa sociedade, essa prática seria denominada como pedofilia.

Salles e Cecarelli (2010) afirmam que a sexualidade é uma invenção da cultura


ocidental, que criou esse dispositivo para lidar com as reinvindicações pulsionais.
Esses discursos aparecem em momentos sócio-históricos específicos, na tentativa de
normatizar as práticas sexuais de acordo com os valores e padrões da época.

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SUMÁRIO 37
Educação, Saúde e Sexualidade

Em cada tempo histórico, a moral vai criando tanto o discurso sobre a regulamenta-
ção da sexualidade quanto os dispositivos que buscam regulá-la, controlá-la, buscan-
do identificar e curar as manifestações desviantes.

FIGURA 6 - MECANISMOS CONDICIONANTES DA SEXUALIDADE

Fonte: Elaborada pela autora.

Assim, o que é aceito ou não em termos de sexualidade dentro de uma cultura ou


sociedade varia de acordo com o momento histórico. A historicidade da sexualidade
foi um tema estudado por Michel Foucault (1988), que menciona que:

Sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não a uma realidade
subterrânea que se apreende com dificuldades, mas a grande rede de superfície em
que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação do discurso, a
formação do conhecimento, o reforço dos controles e das resistências encadeiam-se
uns ao outros, segundo algumas grandes estratégias do saber e dos poderes (p. 100).

Como enfatizado por Foucault (1988), o poder e o controle são estratégias usadas
quando se trata de sexualidade. Os discursos morais, biomédicos, religiosos e midiá-
ticos influenciam as ideias em torno dessa temática, ditando, muitas vezes, uma

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Educação, Saúde e Sexualidade

(suposta) normalidade e condenando comportamentos e concepções que fogem a


essa regra.

FIGURA 7 - ELEMENTOS QUE COMPÕE A CONCEPÇÃO SOBRE SEXUALIDADE

Fonte: Elaborada pela autora.

A visão médica sobre sexualidade vem da antiguidade. Manter relações sexuais prefe-
rencialmente no inverno era uma orientação de Pitágoras. Hipócrates recomendava a
retenção do sêmen para que o corpo pudesse ter mais energia. O médico pessoal do
Imperador Adriano de Éfaso instruía que o ato sexual deveria ocorrer exclusivamente
para a procriação (SALLES E CECCARELLI, 2010). A partir do século XVII a preocupa-
ção médica foi direcionada para as relações sexuais precoces e para o controle de
natalidade.

Na religião, houve um negativismo em relação ao prazer sexual, tornando o sexo,


inclusive dentro do casamento, um problema teológico. É deste período o início da
valorização do celibato. Quando se examina os textos bíblicos, especialmente os do
Gênesis, Salles e Cecarelli (2010) apontam a sexualização do pecado original. Como
consequência, o desejo gerou fragilidade e culpa, que acabaram por exaltar a virgin-
dade. Vê-se, aqui, que mais uma vez o casamento não era altamente recomendado,
já que se opunha à virgindade e poderia conduzir ao prazer sexual. Porém, mesmo

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Educação, Saúde e Sexualidade

a castidade sendo valorizada, havia a necessidade de se regulamentar o sexo para a


procriação, e foi aí que o casamento assumiu este lugar.

O casamento é inferior à virgindade, e não sendo para a procriação, não há


justificativa para o ato carnal. O melhor seria a continência absoluta. Não se
podendo alcançá-la, aprisiona-se o desejo no casamento (SALLES. CECCAREL-
LI, 2010, p. 3).

Com o passar do tempo, ainda no discurso religioso e agora apoiado pelo discur-
so médico, surge a ideia de “coito natural”, dando origem à separação das práticas
sexuais em “normais”, voltadas à procriação, e “anormais”, que se referiam às práticas
infecundas.

FIGURA 8 - DESCRIÇÃO DE PRÁTICAS SEXUAIS NORMAIS E ANORMAIS A PARTIR DA IDEIA


DO “COITO NATURAL”

Fonte: Elaborada pela autora.

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Educação, Saúde e Sexualidade

Até a década de 1990 a homossexualidade ainda era diagnosticada como


perversão ou distúrbio sexual pelo discurso médico no Brasil. Curioso pensar
que a homossexualidade era vista por muitos profissionais da medicina como
uma doença que deveria ser tratada, embora já não constasse mais nos manuais
médicos desde 17 de maio de 1990, quando a Organização Mundial de Saúde
(OMS, 1996) a descaracterizou como doença.

Já o discurso midiático, impulsionado pela globalização e pelo alcance dos meios


de comunicação de massa, apresenta a sexualidade muitas vezes sem filtro, expon-
do-a massivamente em programas de entretenimento e peças publicitárias. Se, por
um lado, a sexualidade é exposta como algo que está ali e que pode ser explorada
de forma sadia e segura, por outro, a mídia nem sempre oferece suporte de como
isso pode ser feito pela criança ou pelo jovem. Ou seja, muitas vezes as informações
de qualidade ou suporte para que a criança ou o jovem possam buscar exercer essa
sexualidade dentro do que pode ser considerado sadio para cada faixa etária não é
visto ou é pouco explorado pela grande comunicação de massa.

O que se percebe ao identificar como a sexualidade é entendida em cada sociedade


é que em cada momento histórico ela é apresentada a partir das concepções normal
versus anormal. Se pensarmos na ideia muitas vezes concebida de sexualidade restri-
ta ao ato sexual, ao coito, é possível perceber que em dado momento histórico, ou a
partir de determinada concepção religiosa, ela tinha (ou tem) um caráter ligado pura-
mente à reprodução, não dando lugar às reflexões sobre a possibilidade do prazer
sexual e do exercício do que hoje se conhece como sexo lúdico ou recreativo, que
é o sexo sem qualquer intenção procriativa, feito por prazer e divertimento. Levan-
do-se em conta a ideia do sexo como ato sexual, percebe-se que qualquer forma
de sexualidade que não seja vinculada à reprodução é considerada perversão, e o
que não responde aos critérios socialmente estabelecidos ameaçam a ordem vigen-
te (SALLES; CECCARELLI, 2010).

Da mesma forma que a concepção de sexualidade pode ser restrita ou não à procria-
ção, a heteronormatividade, outro assunto da sexualidade, também pode ser creditada

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SUMÁRIO 41
Educação, Saúde e Sexualidade

ou valorizada em um período ou uma sociedade, enquanto em outros períodos ou


sociedade os comportamentos hostis à toda forma de variação dessa perspectiva
podem legitimar o preconceito, a intolerância e a violência. Neste último cenário, não
há muito espaço para se pensar a homossexualidade, a bissexualidade, a transgeneri-
dade ou outras variações como possíveis em indivíduos “normais” e “saudáveis”.

Bissexualidade: orientação sexual definida pela capacidade de atração física,


estética e/ou emocional por pessoas de ambos os sexos ou gêneros.

Heteronormatividade: palavra derivada do grego hetero (diferente) e norma,


do latim. É um termo que define que somente relacionamentos heterossexuais
(entre pessoas de sexos opostos) são corretos e normais. Deste modo, as situa-
ções nas quais a orientação sexual não é heterossexual são excluídas, ignoradas,
perseguidas ou marginalizadas por meio de práticas sociais, políticas e crenças
ideológicas/religiosas.

Homossexualidade: orientação sexual definida pela capacidade de atração físi-


ca, estética e/ou emocional por pessoas do mesmo sexo ou gênero.

Transgeneridade: refere-se a pessoas transgênero, que têm uma identidade de


gênero diferente do seu sexo biológico.

Foucault (1988) chama atenção para o fato de na atualidade ainda haver resquí-
cios de concepções sobre sexualidade que circulavam em outros séculos. A ideia já
mencionada da redução da sexualidade à função reprodutiva, heterossexual e adulta,
por exemplo, data do século XIX. Nesta perspectiva, vê-se que todas as outras formas
de exercer a sexualidade, que fogem a essas normas, são consideradas “anormais”,
“desviantes” ou “periféricas”. Estas, por consequência, tendem a ser negadas e margi-
nalizadas.

É importante perceber que, enquanto construção social, a forma como entendemos


e vivemos a sexualidade é produzida na família, no convívio social, nas instâncias

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Educação, Saúde e Sexualidade

religiosas e também na escola. São essas instituições que transmitem as regras,


normas e condutas que são estipuladas como aceitas e não aceitas pela nossa socie-
dade (LOURO, 2000), contribuindo para a formação de nossas crenças e valores, e
atuando sobre nosso comportamento. Para o sujeito em construção, estes valores
funcionam como suportes de identificação com a cultura a qual se faz parte (SALLES;
CECCARELLI, 2010).

A teoria Sociointeracionista do Desenvolvimento, também conhecida como Sócio-


-Histórica ou Sociocultural, de Lev. S. Vygotsky (1991), nos auxilia a compreender
como esses processos de interiorização das regras, normas e convenções da cultura
se dão. Na teoria vygotskyana, acredita-se que o homem, sujeito biológico, conver-
te-se em sujeito social na medida em que interage com o meio que o cerca. Desta
perspectiva, considera-se que a formação do homem se dá primeiramente em um
nível social, no processo de internalização dos signos, como a língua e os códigos de
comunicação, conduta, normas e padrões da cultura, para somente depois se consti-
tuir no nível individual.

Assim, a formação e o desenvolvimento humano são entendidos nas dimensões


sociais, culturais e políticas, e estes aspectos são determinantes para a construção da
sexualidade, constituindo suas particularidades, noções e manifestações. Podemos
afirmar que este processo acontece desde a mais tenra idade, na primeira infância,
momento no qual o bebê já se encontra rodeado de informações e conhecimentos
que lhe serão transmitidos ao longo de toda a sua vida. Com a mudança de contex-
to, cultura e fatos históricos, essas informações e conhecimentos são remodelados,
modificando a consciência e o comportamento do ser humano (MEIRA; SANTANA,
2014).

Tendo isso em vista, pode-se pensar que, como cada ser humano carrega um saber
social e historicamente construído, tudo o que é internalizado se relaciona com as
transformações do mundo, criando novos conhecimentos e estabelecendo diferen-
tes significados e conceitos (MEIRA; SANTANA, 2014). É por conta destes fatores que
muitas vezes as ideias e comportamentos acerca da sexualidade diferem muito de
lugar para lugar e de tempos em tempos, sendo às vezes mais libertárias e, em outras,
mais tradicionais ou repressivas.

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SUMÁRIO 43
Educação, Saúde e Sexualidade

A sexualidade adolescente na década de 1990 era vista como uma força impul-
sionadora sobre a qual o jovem não tinha controle. Influenciada por concepções
e ideologias conservadoras, como demonstrado no filme Kids, de 1995 (GIROUX,
1996), o comportamento adolescente, especialmente no que se referia à sexua-
lidade, era algo fora de controle, que exigia restrição, vigilância e outras formas
de poder disciplinar. Movido pelo impulso, o jovem fazia sexo desprotegido e
se expunha às doenças e gravidez não desejada. Na atualidade, com as novas
configurações familiares e as novas formas de parentalidade, percebe-se uma
autonomia maior do jovem em relação a estes aspectos. Hoje a questão da
sexualidade é encarada de uma outra forma por algumas famílias, que permi-
tem que o(a) filho(a) durma em casa com o(a) namorado(a), que conversam
sobre contracepção, por exemplo.

Parentalidade: processo de construção da relação dos pais com os filhos.

Pelo exposto, fica evidente que tanto o acesso quanto a construção do conhecimento,
assim como os preconceitos, curiosidades e tabus acerca da sexualidade, são deter-
minados por contextos específicos ao longo da história de cada um. Na perspectiva
sócio-histórica, é a partir das interações sociais e pelas aprendizagens dos discursos e
conhecimentos (historicamente construídos) que a formação, posição e atuação no
campo da sexualidade será delineada (MEIRA; SANTANA, 2014).

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2.1.2 IMPLICAÇÕES DE ALGUNS ASPECTOS SOCIAIS,


HISTÓRICOS E CULTURAIS NA CONSTRUÇÃO DA
SEXUALIDADE HUMANA

Como você já viu, a sexualidade incorpora aspectos históricos, culturais e sociais que
constituem a forma como a entendemos e as experienciamos. Os condicionantes
históricos, as ideologias presentes na sociedade em que vivemos, a configuração e
as formas de educação recebidas na família, o exercício da religiosidade, a forma
como a escola entende e aborda a temática, a política e os recursos midiáticos, entre
outras instâncias, propagam discursos e formas de pensar a sexualidade, conferindo-
-lhe status (aceitável x não aceitável), valores (bom x mau) e normatividade (normal
x anormal).

FIGURA 9 - ASPECTOS QUE TRAZEM IMPLICAÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DA


SEXUALIDADE

Fonte: Elaborada pela autora.

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SUMÁRIO 45
Educação, Saúde e Sexualidade

Um exemplo da infiltração do religioso no imaginário das pessoas é a questão


da esterilidade, que até o século XI era um indicador de alguma forma de impu-
reza entre o casal. Nas mulheres bonitas, era um castigo de Deus, e nas feias, era
um castigo pela inveja que sentiam das bonitas (DEL PRIORE, 2001).

A posição durante o ato sexual, a passividade da mulher, a condenação pela busca


pelo prazer, a luxúria, toda essa influência histórica e religiosa recaem sobre os indi-
víduos que compõem a sociedade, sua personalidade e a construção de sua história
enquanto sujeito. Assim, a forma como absorvemos/introjetamos essas questões vai
ser determinante na forma como vemos, pensamos e agimos frente à sexualidade. A
sexualidade legítima no seio da família, com a finalidade de procriação, ainda hoje é
defendida em alguns discursos.

Pense na sua experiência pessoal e em como essas influências fizeram (e fazem) parte
de quem você é hoje. Será que se você tivesse nascido em outra época ou em outra
cultura sua forma de agir e pensar sobre a sexualidade seria diferente? É bem prová-
vel que a resposta seja sim! Essa reflexão talvez auxilie você a compreender como
muitas vezes parece difícil para os pais e familiares compreenderem os padrões e
costumes dos dias de hoje. Muita coisa mudou desde o tempo em que eles eram
mais jovens, não é mesmo? Agora, pense nas crianças de hoje, na forma como elas
aprendem, como acessam a informação e no modo como vivem suas experiências.
Como será que elas estão construindo sua sexualidade? O que será que têm absorvi-
do e introjetado?

O exercício de refletir na experiência da criança de hoje tem um motivo bem simples


e especial: são essas crianças que estarão em contato com você, futuro professor, nas
salas de aula daqui a algum tempo! O que isso quer dizer? Ora, que as questões que
se vivencia atualmente na sociedade, a forma como concebemos a sexualidade, a
maneira como nossa cultura a manifesta (ou aceita suas manifestações) serão deter-
minantes na formação destes sujeitos.

Para tentar compreender o que isso pode significar e entender suas possíveis

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implicações, basta que você pense nos discursos e ideias hoje em voga sobre sexuali-
dade. Como você tem encarado os debates atuais que envolvem essa temática?

A sexualidade ainda tem sido vista e analisada sobre perspectivas equivocadas


na atualidade. Apesar de alguns avanços, elementos de uma cultura repressiva
ainda pairam nos discursos familiares, religiosos e políticos. Essas questões são
discutidas por Dinis e Luz (2007), que abordam a necessidade de uma recon-
figuração na forma de analisar a sexualidade e de se oferecer uma educação
sexual. Por isso, caso queira se aprofundar neste tema, você pode ler o artigo
“Educação sexual na perspectiva histórico-cultural” destes autores, disponível na
internet. O artigo foi publicado em 2007 na revista Educar.

As tensões vividas no passado e no presente, muitas vezes associadas aos posicio-


namentos de líderes religiosos e políticos, absorvidos e propagados por algumas
famílias, ocasionam, de alguma forma, medo, insegurança e desinformação para as
pessoas. Se pensarmos nas crianças e jovens que, naturalmente, devido ao desenvol-
vimento, têm curiosidades e desejam saber mais sobre essa temática, faz-se impor-
tante responsabilizar-se pelo que se dissemina e pela forma como se expressa atitu-
des e comportamentos. Silenciar as dúvidas e negar a existência da diversidade não
é benéfico para a construção da sexualidade. Foucault (1988) critica esse posiciona-
mento. Colocar em debate temas, como gênero, corpo, sexualidade, é essencial para
uma abordagem que se pressupõe séria (SANTOS; SOUZA, 2015).

Quer queiramos, quer não, no mundo em que vivemos, surgem outras formas
de relação entre os sexos, novas modalidades de aliança e filiação, visíveis e
legalizadas. Homoerotismo, homoafetividade e homoparentalidade estão aí
e dirigem várias perguntas a nós e a nossos modelos. Pessoas do mesmo sexo
podem casar-se, e casais homoafetivos podem adotar crianças. O mundo se
transforma e se organiza (NETTO, 2018, p. 213).

As questões debatidas fazem parte da dimensão do ser humano, portanto, obriga-


toriamente, convivemos com elas. Como sujeitos histórico-sociais, construímos nossa
identidade na relação com o outro, e é desta maneira que aprendemos a perceber,

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SUMÁRIO 47
Educação, Saúde e Sexualidade

entender e vivenciar as múltiplas formas e dimensões da sexualidade (DINIS; LUZ,


2007).

CONCLUSÃO
Nesta unidade você estudou sobre como as questões históricas, culturais e sociais
podem influenciar a construção da sexualidade humana. Tendo como perspectiva
a sexualidade em suas múltiplas dimensões e manifestações, foram apresentados
exemplos de como uma prática ou concepção pode ser aceita e valorizada em uma
sociedade e condenada em outra.

A partir dos condicionantes históricos e culturais foi possível analisar como família,
igreja, política, escola e mídia colaboram para difundir ideias, crenças e padrões espe-
rados pela sociedade, determinando o que é “normal” e “anormal”, “próprio” e “impró-
prio”, “aceitável” ou “inaceitável”. Esses padrões moldam a forma de pensar e viver das
pessoas que fazem parte da sociedade, influenciando suas condutas e comporta-
mentos.

Tais condicionantes inevitavelmente acarretam algumas implicações para a cons-


trução da sexualidade dos indivíduos, por isso, alguns aspectos sociais, históricos e
culturais foram estudados sob essa ótica, objetivando uma abordagem plural, que
considera a diversidade como natural ao desenvolvimento humano. Deste ponto de
vista, foi possível compreender a importância de se considerar a sexualidade como
uma construção múltipla e diversa, superando concepções restritas e conservadoras.

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Educação, Saúde e Sexualidade

UNIDADE 3

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:

> Recordar que a sexualidade é


manifesta desde a primeira infância
e evolui ao longo da vida do ser
humano.

> Identificar as fases do


desenvolvimento psicossexual e as
manifestações da sexualidade na
infância e adolescência.

> Avaliar as implicações de alguns


aspectos sociais, históricos
e culturais na construção da
sexualidade humana.

> Valorizar o papel da escola para


a promoção de ações voltadas
à consciência sobre a saúde e à
construção da identidade sexual
saudável.

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Educação, Saúde e Sexualidade

3 SEXUALIDADES: NÍVEL
BIOLÓGICO E PSICOSSEXUAL
E SUAS MANIFESTAÇÕES NA
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
Nesta unidade você irá estudar sobre a sexualidade em seus níveis biológico e psicos-
sexual, entendendo-a a partir do ponto de vista do crescimento e desenvolvimento,
mas também como algo construído ao longo da história de um indivíduo. Como
uma construção histórico-social, a sexualidade é influenciada por questões sociais,
políticas, religiosas e culturais, moldando a forma de pensá-la e exercê-la durante a
vida. Essas manifestações estão presentes desde a infância, e é objetivo desta unida-
de abordar a Teoria Psicossexual do Desenvolvimento, apresentando a característi-
ca de cada fase de vida e suas manifestações, desde o período pós-nascimento até
a entrada na vida adulta. Também serão abordados os problemas de saúde mais
prevalentes na infância e adolescência, e seus condicionantes socioeconômicos e de
estilo de vida, assim como o papel da escola na promoção de ações que favoreçam a
consciência sobre os direitos relacionados à saúde e à construção de uma identidade
sexual saudável.

Contamos com você nesta viagem pelo conhecimento!

INTRODUÇÃO
O presente conteúdo foi elaborado com o objetivo de apresentar a sexualidade em
seus níveis biológico e psicossexual. A partir do estudo do crescimento orgânico e
do desenvolvimento das funções do corpo, serão também abordados outros fato-
res, como os psicológicos, que influenciam as formas de se entender e manifestar a
sexualidade ao longo da vida.

A base para a construção da noção de sexualidade a partir da infância se dará pelo


estudo da Teoria Psicossexual do Desenvolvimento, proposta por Freud, que apresenta

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Educação, Saúde e Sexualidade

diferentes fases pelas quais cada indivíduo passa no processo de construção da sua
identidade sexual.

Em seguida, serão apresentados os principais problemas de saúde na infância e


adolescência, e seus condicionantes socioeconômicos e de estilo de vida, trazendo a
importância da atenção integral à saúde, especialmente no período da adolescência,
fase em que os jovens estão mais vulneráveis a comportamentos de risco e expostos
a diferentes tipos de violência.

Por fim, será abordado o papel da escola como instituição capaz de oferecer infor-
mação de qualidade para que crianças e jovens desenvolvam sua sexualidade de
forma saudável e aprendam sobre seus direitos em relação à prevenção, promoção e
melhoria das condições de saúde.

3.1 SEXUALIDADES: NÍVEL BIOLÓGICO E


PSICOSSEXUAL E SUAS MANIFESTAÇÕES NA
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Sexualidade é um conceito amplo, que vai para além da questão do sexo, do ato
sexual, da reprodução. É uma construção sócio-histórico-cultural que constitui a iden-
tidade de cada um de nós e se manifesta durante toda a nossa vida. Para além do
corpo, que se transforma e possibilita o desempenho de diferentes funções ao longo
do desenvolvimento, apresenta componentes psíquicos, que atuam sobre nossa
forma de ver, entender e viver as relações entre homens e mulheres, a orientação do
desejo, as questões relacionadas à saúde, dentre outras tantas que fazem parte do
nosso cotidiano. A sexualidade influencia a saúde física e mental, assim como nossos
pensamentos, sentimentos, ações e interações (OMS, 1975 apud EGYPTO, 2003). A
manifestação dessas vivências, tanto na infância quanto na adolescência, tem sido
estudada há muitos anos e são essas questões que serão abordadas nessa unidade.

Vamos juntos nessa descoberta?

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SUMÁRIO 51
Educação, Saúde e Sexualidade

3.1.1 SEXUALIDADE INFANTIL: A CRIANÇA COMO SER


SEXUAL

O que você pensa sobre a ideia de a criança manifestar sexualidade desde a mais
tenra idade? Será que é mesmo possível sentir prazer na infância? A partir de que
idade isso ocorre?

Essas questões até hoje provocam espanto e indignação em muita gente! Imaginar
que o bebê ou a criança apresenta comportamento sexual é algo impensável para
grande parte das pessoas. Em 1915/16, na XX Conferência de Viena, Sigmund Freud
falou, pela primeira vez, sobre essas ideias. Em seu discurso sobre a vida sexual dos
seres humanos, ele afirmou que a sexualidade está presente desde a infância, sendo
uma energia que move o desenvolvimento.

Na época, tudo aquilo que se referia ao tema era considerado impróprio, por isso
não deveria ser debatido. Então, ao proferir suas ideias, Freud chocou a sociedade
da época, contrariando a ideia da sexualidade como instinto, que surgiria a partir da
puberdade, período em que se iniciaria a maturação biológica e o instinto sexual pelo
sexo e pela masturbação (COSTA; OLIVEIRA, 2011).

A concepção clássica de instinto tem como modelo um comportamento que


se caracteriza por sua finalidade fixa e pré-formada, com um objeto e objetivos
determinados, enquanto a noção freudiana de sexualidade defende a ideia de
que a sexualidade humana não é instintiva, pois o homem busca o prazer e
a satisfação através de diversas modalidades, baseadas em sua história indi-
vidual e ultrapassando as necessidades fisiológicas fundamentais. Assim, se a
sexualidade se inicia com anatomia (no nascimento), sua conquista depen-
de de um longo percurso durante a construção da subjetividade da criança.
(ZORNIG, 2008, p. 73).

A chamada “descoberta da sexualidade infantil” por Freud provocou muito alvoroço


nas concepções que se tinha até então sobre essa temática. O descaso para com a
sexualidade na infância era baseado na ideia de que a criança seria um ser assexuado
e de que a própria sexualidade se restringiria ao coito e à reprodução. Freud (1996)
revoluciona o pensamento a esse respeito, trazendo a ideia de que desde o nasci-
mento o indivíduo é dotado de afeto, desejos e conflitos.

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Educação, Saúde e Sexualidade

“Freud, além da alma” é um filme norte-americano de 1962 dirigido por John


Huston, com trilha sonora de Jerry Goldsmith. Conta a história da psicanálise,
reconstruindo as vivências de Sigmund Freud. A partir de 2h09m de filme é
exibida a primeira vez em que Freud apresenta a teoria da sexualidade infantil
em uma conferência em Viena. Caso tenha interesse, vale a pena conferir o que
essas ideias representaram e como impactaram a todos!

De acordo com a teoria freudiana, as manifestações da sexualidade infantil se origi-


nariam no primeiro ano de vida pela atração da criança ao seio materno – primeiro
objeto do instinto sexual, evoluindo para o autoerotismo, quando a criança “abando-
na” o seio materno (objeto externo) e o substitui por uma área do próprio corpo – o
dedo ou a mão que o bebê leva à boca. O instinto oral torna-se, então, autoerótico.
Subsequentemente, abandona o autoerotismo, substituindo o próprio corpo por um
objeto externo, ocasião em que os bebês começam a explorar o mundo com a boca,
levando brinquedos e outros objetos até essa região do corpo.

FIGURA 10 - FASE ORAL

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019.

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SUMÁRIO 53
Educação, Saúde e Sexualidade

A partir dos dois/três anos, a maturação neuromuscular possibilita o controle sobre os


esfíncteres, especialmente o esfíncter anal. É o momento do desfralde.

Dos três aos cinco anos a criança entra em uma nova fase, em que se interessará em
estimular a região genital. O pênis torna-se o órgão de principal interesse para as
crianças de ambos os sexos, e a falta de um pênis nas meninas é considerada evidên-
cia de castração. Haverá também o interesse no genitor do sexo oposto, caracterizado
pelo Complexo de Édipo.

O Complexo de Édipo é proposto por Freud (1996) para compreender a fase


fálica da Teoria Psicossexual do Desenvolvimento Humano. Fazendo alusão ao
mito de Édipo Rei, originalmente escrito por Sófocles por volta de 427 a.C., Freud
caracteriza a fase dos três aos cinco anos de vida como o momento de vivência
da escolha objetal pelo genitor do sexo oposto.

O mito de Édipo Rei é uma tragédia grega que conta a história de Laio, rei de
Tebas, que teria sido avisado por um Oráculo sobre a desgraça de seu futuro:
seria assassinado por seu próprio filho, que se casaria com sua mulher, mãe
deste. Para evitar que isso ocorresse, Laio decide abandonar a criança num lugar
distante, colocando-lhes pregos nos pés, para que morresse. Um pastor encon-
tra a criança e lhe dá o nome de Edipodos (pés-furados). A criança, mais tarde,
é adotada pelo rei de Corinto. Na vida adulta o próprio Édipo, ao consultar o
oráculo, recebe a mesma mensagem que seu pai Laio recebera anos antes, mas,
acreditando que se tratava dos pais adotivos, Édipo foge de Corinto. Em sua
fuga, Édipo se depara com um bando de negociantes e acaba matando seu
líder durante uma briga, sem saber que esse líder era Laio, seu pai. Ao chegar
a Tebas, Édipo decifra o enigma da Esfinge e livra a cidade de suas ameaças.
Assim, recebe o trono de rei e a mão da rainha Jocasta, agora viúva. Os dois se
casam e têm quatro filhos.

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Educação, Saúde e Sexualidade

Anos depois, quando uma peste chega à cidade, Édipo e Jocasta consultam o
oráculo para tentar resolver essa questão e acabam descobrindo que são mãe e
filho. Jocasta suicida-se e Édipo fura os próprios olhos como punição por não ter
reconhecido a própria mãe e ter se casado com ela (FERRARI, s.d.).

Dos cinco/seis aos doze anos de idade a fase é de relativa tranquilidade ou inativi-
dade do impulso sexual, que se estende da resolução do complexo de Édipo até a
puberdade.

A partir dos doze anos, a energia sexual reaparece, junto com o sentimento de identi-
dade individual e integração de um conjunto de papeis e funções adultas que permi-
tem novas ações adaptativas dentro das expectativas sociais e dos valores culturais.

Uma síntese das principais características de cada fase do desenvolvimento psicosse-


xual é apresentada a seguir.

QUADRO 2 - ESTÁGIOS PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO

FASE/ IDADE ZONAS ERÓGENAS MANIFESTAÇÕES OBJETIVOS


Constitui-se em dois
elementos:

Libidinal: os estados
de tensão oral
levam a procura
de gratificação
Boca oral, tipificada pela Estabelecer expressão e
tranquilidade no final gratificação confortando
Oral - 1º ano de da alimentação. as necessidades libidinais
Língua
vida orais, sem excessivo
Agressivo (sadismo conflito e ambivalência
Mucosa da boca de desejos orais sádicos.
oral): a agressão oral
pode manifestar-se
no ato de morder,
mastigar, cuspir ou
chorar. Está vinculada
aos desejos primitivos
de morder devorar e
destruir.

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SUMÁRIO 55
Educação, Saúde e Sexualidade

FASE/ IDADE ZONAS ERÓGENAS MANIFESTAÇÕES OBJETIVOS


A criança se descobre
produzindo algo e isto Crescente mudança
Aparelho de secreção da passividade para a
lhe dá prazer.
atividade (autonomia)
Anal - 1 a 3 anos
Controle dos associada à obtenção de
As fezes são vistas controle voluntário dos
esfíncteres
como um presente ao esfíncteres.
mundo.
A estimulação genital
é vista como processo
criativo.
Capacitação para o
Fantasias exercício da sexualidade
Fálica - 3 a 5 anos Genitais predominante na idade adulta.
inconscientes de
envolvimento com
Organização do caráter.
o genitor do sexo
oposto, caracterizada
pelo complexo de
Édipo.
A sexualidade está
latente, adormecida.
Integração das
A energia sexual é A representação identificações edípicas
Latência - 5/6 aos
canalizada para outras e impulsos orais, e consolidação da
12 anos
atividades anais e fálicos são identidade sexual e dos
empurrados para papeis sexuais
o inconsciente,
reprimidos.
Intensificação
dos impulsos,
especialmente os
libidinais, a partir da O sucesso nas demais
maturação fisiológica fases será determinante
dos sistemas de na sexualidade do adulto.
funcionamento
Genital - A partir genital (sexual e dos
Genitais Nova oportunidade de
dos 12 anos sistemas glandulares). resolução dos conflitos
no contexto da obtenção
Reabertura de da maturidade sexual e
conflitos de estágios identidade adulta.
anteriores devido a
uma reorganização da
personalidade

Fonte: Elaborado pela autora.

Como visto, a sexualidade está presente desde a primeira infância e irá se manifestar
de diversas formas. No contexto escolar, como você agiria ao perceber essa manifes-
tação? O que poderia ser feito?

Do ponto de vista pedagógico, a fase oral não representa um grande desafio, mesmo

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porque as crianças dessa faixa etária muitas vezes ainda estão sob os cuidados fami-
liares. Para a criança que já frequenta creche ou berçário, o ideal seria permitir a esti-
mulação da boca e da mucosa da boca a partir da exploração do corpo e de brinque-
dos apropriados para essa finalidade, como mordedores, por exemplo.

Na fase anal, o treino de toalete deve ser feito com paciência, sempre observando o
tempo e sinais que a criança dá de que está preparada para o desfralde.

A reportagem “Chegou a hora de largar a fralda”, publicada em 2008 pela revista


Nova Escola, aborda a importância da parceria entre escola e família para iden-
tificar os sinais de maturidade das crianças para o desfralde e oferece dicas de
como passar por essa fase sem traumas. Caso tenha interesse em aprofundar
sobre este tema, vale a pena conferir!

A fase fálica talvez seja uma das mais desafiadoras, pois é um período de muita
curiosidade e descoberta da criança sobre o corpo, especialmente a região genital.
É comum crianças se tocarem, se exibirem (tirando as calças na frente dos colegas,
familiares ou visitas) e terem curiosidade em saber sobre o corpo do outro. Na escola,
quando alguma dessas manifestações ocorrerem, é importante não fazer alarde ou
tratar o acontecimento como um “evento”. Como algo natural ao desenvolvimento,
não é adequado repreender a criança ou dar-lhe sermões. O que pode ser feito é
canalizar essa energia para outras atividades, por exemplo, chamando a criança para
ajudar em algo ou fazer alguma tarefa. Esta também pode ser uma boa oportunida-
de para ensinar sobre intimidade e privacidade, orientando as crianças sobre o fato
de que ninguém pode tocar no corpo delas, além dos cuidadores mais próximos,
com finalidade voltada para higiene e cuidado.

A latência, teoricamente, poderia representar um período sem grandes preocupa-


ções em relação às questões sexuais para os educadores, porém não é o que se tem
percebido na atualidade.

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A antecipação dos parâmetros da puberdade, chamada de “aceleração secu-


lar do crescimento”, é um processo que desencadeia o disparo do desenvol-
vimento sexual. O amadurecimento precoce e a elevada produção hormonal
em crianças têm ocorrido cada vez mais cedo e é um fenômeno mundial. A
cada década há uma antecipação de três ou quatro meses, de acordo com as
pesquisas. Os fatores atrelados a esse fenômeno são a alimentação (atualmen-
te come-se melhor, porém produtos contendo hormônios e outras substâncias
nocivas à saúde), a exposição a estímulos eróticos através da TV, música e outras
mídias, além da erotização precoce voltada ao consumo. Para saber mais, você
pode consultar a reportagem “Adolescência: cada vez mais cedo” publicada na
Folha de São Paulo.

A fase genital é o período em que na escola podem ser abordados mais enfatica-
mente conteúdos como proteção, autocuidado, direitos reprodutivos, que auxiliam
os jovens a entenderem e exercerem uma sexualidade madura, saudável e conscien-
te, tendo autonomia para o autocuidado e para tomar decisões sobre a iniciação
sexual segura. De acordo com os documentos oficiais do Ministério da Educação,
como é o caso dos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), esta
temática deve ser abordada de forma transversal no currículo, devendo ser trabalha-
da em toda e qualquer disciplina.

Mesmo havendo muitas publicações sobre a sexualidade infantil, tanto de Freud


quanto de outros estudiosos, ainda existe muita recusa ante a essa ideia. Costa e
Oliveira (2011) mencionam que a razão dessa negligência ou desatenção pode ser
entendida, em parte, devido ao fenômeno chamado de amnésia infantil, descrito
pelo próprio Freud (1996). Para ele, trata-se de um fenômeno psíquico caracterizado
pelo esquecimento parcial ou total das lembranças da infância, especialmente dos
primeiros seis ou oito anos de vida.

E você, o que pensa sobre essa teoria? Avalie se ela te ajuda a compreender o compor-
tamento das crianças que você conhece. Seja qual for sua opinião, é importante reco-
nhecer que entender a existência da sexualidade na infância e de que forma ela se

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manifesta é de suma importância para o trabalho com esse público.

3.1.2 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SEXUAL


ADOLESCENTE

A adolescência é um período do desenvolvimento no qual ocorrem transformações


rápidas e profundas de aspectos biopsicossociais, com mudanças físicas e funcionais,
possibilitando diferentes interações sociais e despertando novos interesses (OPAS,
2017). Essas mudanças, por estarem relacionadas às questões próprias do crescimen-
to e desenvolvimento humano, acabam trazendo questões de ordem psíquicas, que
têm a ver com a reorganização da personalidade e a necessidade de definição de
uma identidade própria, que muitas vezes se distancia do modelo apresentado pelos
pais, familiares ou mesmo pela sociedade.

Em busca da definição de sua identidade, de encontrar seu lugar no mundo


(“não sou mais criança, mas também ainda não sou adulto”), alguns adolescen-
tes confrontam os padrões e modelos de autoridade à sua volta, como pais,
familiares e professores. Esse comportamento, embora opositor, é típico de
pessoas que se encontram nessa fase da vida.

Essas mudanças físicas, psíquicas e comportamentais podem tornar os adolescen-


tes muito vulneráveis a situações de risco, especialmente a algumas relacionadas à
saúde sexual. Isso se agrava quando a descoberta e o exercício da sexualidade são
diferentes dos padrões da sociedade (OPAS, 2017).

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A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), feita em 2015 pelo IBGE


com o apoio do Ministério da Educação (IBGE, 2016) mostrou que dos 109.104
adolescentes de 13 a 17 anos entrevistados, 55% já consumiu bebida alcoóli-
ca. Na contramão das campanhas que enfatizam os prejuízos ocasionados pelo
álcool, a pesquisa mostrou que adolescentes e jovens têm começado a beber
cada vez mais cedo. Vários fatores podem explicar este fenômeno, dentre eles
o senso de onipotência e imprevisibilidade de consequência, típicas da adoles-
cência. Isso quer dizer que os jovens não costumam pensar nas consequências
ou desdobramentos possíveis de seus atos, além disso, frequentemente têm a
sensação de estarem imunes aos perigos (“não vai acontecer comigo!”).

Para além dessas questões, existe a responsabilidade adulta, que muitas vezes está
presente na vida do jovem, seja por sustentar ou contribuir financeiramente com a
família ou, ainda, por tornar-se pai ou mãe na adolescência.

A iniciação precoce da sexualidade não representa, em si, uma forma de


passagem para a vida adulta; talvez possa ser mais bem entendida como
outra forma de “experimentar” vivências do mundo adulto, sem assumi-lo
completamente. Assim, jovens casais vivendo juntos sem casamento, jovens
que criam seus filhos na casa dos pais ou mesmo jovens que moram com os
pais depois de já serem financeiramente independentes são fenômenos cada
vez mais comuns, que desorganizam a compreensão tradicional de transição
para a vida adulta, evidenciando o exercício de vários “papéis adultos” por indi-
víduos que ainda se identificam como jovens (AQUINO, 2009, p. 28).

Se, por um lado, essas novas experiências e formas de comportamento podem repre-
sentar uma preocupação para muitos, por outro, convida para o desenvolvimento
de estratégias que contribuem decisivamente para a autonomia de adolescentes e
jovens, que agora se veem diante da necessidade de tomarem suas próprias decisões,
sem a coerção dos mais velhos (BRASIL, 2013).

No que diz respeito à saúde e sexualidade, a população adolescente é considerada


um grupo vulnerável, já que os jovens nem sempre preveem consequência e acre-
ditam, muitas vezes, que estão imunes a acontecimentos e problemas que podem

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surgir em decorrência de sua exposição à violência, à prática do sexo desprotegido e


do consumo de álcool e outras drogas.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990), toda


criança e adolescente tem direito ao atendimento integral à saúde, o que os torna
sujeitos de direitos nas variadas condições sociais e individuais que envolvem a
prevenção e remediação da saúde. Isso quer dizer que o adolescente tem direito
de decidir sobre todo e qualquer assunto que afete sua vida, como o início da vida
sexual, contracepção, com quem irá partilhar a intimidade, etc. Também tem direito
à privacidade e a ser ouvido e esclarecido sobre suas dúvidas, curiosidades e ques-
tões que podem ajudá-lo a compreender melhor e tomar decisões conscientes que
envolvam seu desenvolvimento integral, sua saúde e sua sexualidade (OPAS, 2017,
p. 9). Esse é um ponto bem importante, quando se considera que é justamente na
adolescência que a (re)abertura de vários conflitos individuais, psíquicos, acontecem.
Soma-se a esse fato a instabilidade emocional, muitas vezes presente, a identidade
em construção e os dilemas próprios do vir a ser adulto.

Nesse contexto, as experiências sociais, de interação, podem ser marcantes, tanto


positiva quanto negativamente. Isso significa que ter a oportunidade de conviver em
um ambiente familiar saudável e frequentar locais de convivência (como clube, local
para prática da religião e espaços públicos de lazer, por exemplo) que permitam a
liberdade de pensamento e expressão, além da criação de laços afetivos com outras
pessoas, pode representar muita diferença na (re)construção da identidade de cada
um. Essas vivências podem, inclusive, ser destrutivas, caso o ambiente de convivên-
cia seja nocivo, pouco acolhedor ou hostil; e, como consequência de experiências de
socialização e criação de relações de afeto malsucedidas, alguns jovens podem sofrer
com depressão, ansiedade, automutilação, ideação suicida, abuso de álcool e outras
drogas, transtornos alimentares, comportamento sexual de risco, reclusão social e
delinquência (OPAS, 2017).

Havendo compreensão da importância de se priorizar a saúde do jovem, alguns sofri-


mentos e dificuldades podem ser amenizados, embora ainda sejam bastante comuns
a essa população. O ambiente escolar, por ser local de convivência e aprendizagem,
pode ser um espaço de acolhimento, que oferece ao jovem novas possibilidades de
se entender e se relacionar com as pessoas. Para isso, é importante que os professores
conheçam sobre desenvolvimento adolescente e sejam sensíveis aos dilemas típicos
dessa fase da vida.

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Em sala de aula, pode ser desenvolvido um trabalho que valorize a diversidade e


promova o respeito à individualidade de cada um, e isso pode ser feito não apenas a
partir do próprio conteúdo curricular, mas também por meio de atitudes e posturas
éticas e respeitosas, que acabam servindo como modelo para os alunos sobre como
interagir de forma saudável com colegas e professores.

3.1.3 PROBLEMAS DE SAÚDE MAIS PREVALENTES


NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA E SEUS
CONDICIONANTES SOCIOECONÔMICOS E DE ESTILO
DE VIDA

Saúde é sinônimo de qualidade de vida. Quando algo interfere na qualidade de vida


de uma pessoa, isso acarreta um problema de saúde. Por estarem em pleno processo
de crescimento e desenvolvimento, crianças e adolescentes são os que mais apre-
sentam condição vulnerável a sofrer impactos na saúde e qualidade de vida, muitas
vezes decorrente da negação de seus direitos básicos (BRASIL, 2006).

Quando se pensa nos problemas de saúde relacionados à sexualidade, na infância a


maior prevalência é a adultização e erotização precoce, além de violência/ exploração
sexual infantil.

Imaturos e dependentes, muitas vezes as crianças não entendem as violências que


sofrem, pois são persuadidas pela mídia e por adultos a adotarem atitudes e compor-
tamentos incompatíveis com sua faixa etária. Este é o caso de crianças que, expostas a
um mercado publicitário que na atualidade já comercializa até salto alto para bebês,
usam maquiagem, alisam os cabelos e vestem-se com roupas sensuais (com renda,
frente única) por influência/conivência de seus cuidadores, nem sempre percebem
estas questões como nocivas. Este fenômeno é chamado de adultização infantil.

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FIGURA 11 - ADULTIZAÇÃO INFANTIL

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019.

O uso de salto alto, de roupas de padrão adulto (transparentes, rendadas e que


mostrem grande parte do corpo), além do incentivo ao comportamento sexualizado,
como dançar de forma sensual, implica outro fenômeno, conhecido como erotiza-
ção precoce. A erotização precoce ocorre com meninos e meninas, mas nota-se que
o fenômeno é muito mais frequente com meninas, o que demonstra que o corpo da
mulher (da menina) é sexualizado desde a infância.

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FIGURA 12 - EROTIZAÇÃO PRECOCE

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019.

Mas, porque algo aparentemente tão inocente e até “bonitinho”, como ver uma crian-
ça dançando, se divertindo ou usando roupas bonitas e maquiagem, pode ser ruim?
Como isso pode prejudicar a saúde dessas crianças? É importante lembrar que as
crianças estão em pleno processo de formação de sua identidade e personalidade.
Ao entrar em contato com padrões adultos, a criança absorve o que é bonito, o que
é feito, o que é belo, que tipo de cabelo é “bom”, que padrão de beleza é valorizado.
Ao usar roupas impróprias para seu corpo e faixa etária, a criança limita suas possibili-
dades de brincadeira, preocupando-se (ou sendo orientada) a não se sujar, não correr
para não suar.

Outro problema diz respeito à vulnerabilidade à violência sexual a que crianças estão
expostas. O abuso sexual de crianças por adultos ocorre por pessoas que desejam
satisfazer suas necessidades de poder e contato corporal com o público infantil.
Como não tem capacidade de discernimento para consentir livremente, a criança
é levada a cooperar (inclusive ocultando o ato). Estes episódios marcam a vida de
qualquer um de forma muito negativa, condenando a criança à indefesa e ao desam-
paro, ocasionando problemas que podem ser físicos e emocionais/psíquicos, poden-
do evoluir para quadros muito mais graves de patologias psicológicas (WIRTZ, 1990
apud BRASIL, 2006).

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O documento “Violência faz mal à saúde”, publicado pelo Ministério da Saúde,


apresenta um histórico do estudo sobre o tema, além de ações de prevenção
à violência contra crianças e adolescentes, e sugestões de como criar redes de
proteção e enfrentamento deste problema. Caso tenha interesse em aprofun-
dar nestes assuntos, acesse este documento no site do Ministério da Saúde.

A adolescência é o período de maior exploração da identidade sexual de uma pessoa.


Em muitos casos, essas buscas e experimentações favorecem uma maior exposição
a comportamentos de risco que impactam a vida pessoal e sexual, como o abuso de
álcool e outras drogas, a prática do sexo desprotegido, com maior suscetibilidade às
doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e gravidez não desejada, além da exposi-
ção às múltiplas formas de violência. Problemas de saúde mental também incidem
sobre essa população, que apresenta elevado índice de ansiedade e depressão, além
de ideação suicida e comportamento de automutilação (OPAS, 2017).

Essas questões denotam o quão urgente e importante é pensar sobre a saúde do


adolescente, que precisa da orientação e auxílio do outro mais experiente para passar
por estes conflitos. O estilo parental adotado pelos pais, a forma de criação, as cren-
ças familiares e os condicionantes sociais, como a religiosidade, o que é aceito ou
não, especialmente no que se refere à sexualidade, muitas vezes podem favorecer o
aparecimento de problemas de saúde, sejam eles psicológicos ou não.

Quando se pensa na saúde da mulher adolescente, a gravidez não desejada aparece


como um problema a ser resolvido, já que na faixa etária de 10 a 14 anos de idade,
em sua maioria, está relacionada à ocorrência de violência sexual. Nas adolescentes
com idades mais avançadas, de 15 a 19 anos, a gravidez tende a se relacionar à falta
de orientação e informação sobre sexualidade (OPAS, 2017).

Não se deve deixar de levar em conta, nessa discussão, as restrições de acesso aos
serviços básicos de saúde que muitas pessoas são privadas, dentre as quais os adoles-
centes. Além disso, muitas vezes, dependendo de onde vivem, as adolescentes
compreendem a gravidez como a tentativa de encontrar e sustentar um lugar social,

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especialmente em contextos marcados pelas desigualdades de raça, gênero e classe


social (BRASIL, 2013).

Segundo dados do Ministério da Saúde, os investimentos voltados à ampliação


do acesso aos serviços, às informações de qualidade em linguagem acessível e
às ações de promoção e atenção à saúde têm surtido efeitos positivos. Tem-se
observado uma diminuição do número de parto de mulheres na faixa de 10 a
19 anos de idade. Em 2009 foram registrados 486.292 partos, em 2010 o núme-
ro foi de 469.742 e em 2011, 467.702 partos (BRASIL, 2013).

Outro problema que aparece como importante fator para o cuidado da saúde com
foco na sexualidade do adolescente é o sofrimento psíquico a que muitos estão sujei-
tos. A adolescência, por si só, já representa um desafio de ordem psíquica muito
intenso (OPAS, 2017), em razão das várias alterações no corpo, na libido e nas rela-
ções sociais.

Quando se pensa em adolescentes em situação de maior vulnerabilidade esse sofri-


mento pode ser ainda maior. Fazem parte deste público os adolescentes com defi-
ciência, com doenças crônicas, migrantes, que vivem em áreas remotas ou são refu-
giados, ou mesmo os que são marginalizados e estigmatizados por sua crença, etnia,
raça ou orientação sexual (OPAS, 2017).

O que se sabe, na atualidade, é que, em relação às políticas de saúde do Estado brasi-


leiro, já existem estratégias que visam proteção e promoção da saúde à população
infantil e adolescente, buscando regular os comportamentos de risco e minimizar as
vulnerabilidades associadas a eles ou às próprias condições de vida dos adolescentes
e suas famílias (OPAS, 2017). No entanto, ainda há a necessidade de melhor formação
profissional, já que se sabe que os profissionais de saúde têm importantes deficiên-
cias em sua formação inicial, especialmente no que se refere ao atendimento em
sexualidade (OPAS, 2017).

A Organização Pan-Americana da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação

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elaborou uma linha do tempo com os principais marcos na política de saúde para
adolescentes. Os principais marcos serão mencionados no quadro a seguir.

QUADRO 3 - PRINCIPAIS MARCOS DA POLÍTICA EM SAÚDE PARA ADOLESCENTES

ANO MARCO
• Criação da convenção sobre os direitos da criança
1989
• Criação do PROSAD (Programa Saúde do Adolescente)
• Sancionada a lei n.º 8.069, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente
1990
• Homossexualidade é retirada da lista de doenças mentais.
1993 • Normas de atenção à saúde integral do adolescente
• Conselho de Psicologia publica resolução para não atendimento com finalidade de cura
1999
para homossexualidade
2000 • Publicação de manual de atendimento para adolescentes grávidas
2005 • É instituído o Programa de Saúde Integral para Adolescentes e Jovens
• Promulgação da Lei Maria da Penha
2006
• Publicação da cartilha sobre direitos sexuais e direitos reprodutivos
• Criação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-juvenil
2007 • Programa Saúde na Escola
• Marco legal: saúde, um direito de adolescentes
• Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na
2010
promoção, proteção e recuperação da saúde
• STF reconhece união civil entre pessoas do mesmo sexo
• Publicação de normas técnicas de atenção humanizada ao abortamento
2011 • Divulgação de aspectos jurídicos para atendimento às vítimas de violência sexual
• Publicação de matriz pedagógica para formação das redes para atenção integral para
mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual
2012 • Prevenção e tratamento dos agravos da violência sexual em mulheres e adolescentes
• Orientações básicas de atenção integral à saúde de adolescentes nas escolas e unidades
básicas de saúde
2013
• Publicação de “O SUS e a saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e jovens no Brasil”
• Seminário Internacional Saúde, Adolescência e Juventude
• Divulgação de Metodologias para o Cuidado de Crianças, Adolescentes e suas Famílias
2014 em Situação de Violências
• Oficina “O SUS e o Estatuto da Juventude

Fonte: Adaptado de OPAS, 2017, p.18-19.

O documento da OPAS (2017) aponta que os principais desafios para o desenvolvi-


mento de programas de atenção integral à saúde do adolescente no atual cenário
sócio-político-cultural são o conservadorismo político e o fundamentalismo religioso
que têm se firmado na reprodução dos discursos de polarização e intolerância em
boa parte da população. São essas questões que se interpõem na atualidade como
algo a ser debatido e superado para que a criança e o adolescente sejam vistos e

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cuidados em sua integralidade, tendo oportunidade de crescer, desenvolverem-se e


construírem sua identidade cultural e sexual de forma sadia.

Profissionais que trabalham com este público, incluindo professores, precisam


promover o diálogo sobre sexualidade, saúde e aspectos de autocuidado, visando
favorecer a construção da identidade sexual e do desenvolvimento saudável, como
um todo. Por isso, é importante entender a sexualidade em sua abordagem múltipla,
para que preconceitos e práticas de discriminação possam ser mitigados no espa-
ço da escola. O professor, como mediador do processo de ensino, pode promover o
respeito e o acesso a informações de qualidade que auxiliem crianças e jovens a lidar
com autonomia das questões que envolvem saúde e sexualidade, estando aptos para
o autocuidado e proteção.

BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os
assuntos abordados na disciplina.

• HOLOVKO, S. C.. CORTEZZI, M. C. (Orgs.). Sexualidades e gênero: desafios da


psicanálise. 1. ed. digital. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2018.

O livro “Sexualidades e gênero: desafios da psicanálise” apresenta o olhar da psicaná-


lise sobre a construção da identidade sexual de crianças e jovens em seu processo de
desenvolvimento. O livro, como um todo, oferece subsídios para melhor compreen-
são de como as diferentes sexualidades vão se moldando ao longo da vida humana.
Vale a pena a leitura!

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CONCLUSÃO
Nesta unidade você estudou a sexualidade a partir de seus condicionantes biológicos
e psicossociais. A mudança corporal que ocorre em cada fase da vida foi apresentada
e debatida de forma conjunta às questões psíquicas que constituem a formação da
identidade de cada um de nós.

A manifestação da sexualidade foi debatida à luz das ideias de Sigmund Freud e


de sua teoria Psicossexual do Desenvolvimento, que apresenta diferentes fases em
que a energia sexual é canalizada para diferentes objetivos. Também foi estudada a
construção da identidade adolescente, tendo em vista que essa população é poten-
cialmente vulnerável a comportamentos de risco e violência, que podem ocasionar
problemas de saúde.

Os problemas de saúde de maior incidência na infância e adolescência foram apre-


sentados, e alguns condicionantes socioeconômicos e de estilo de vida do adolescen-
te e de sua família foram analisados, como fatores que influenciam ou exacerbam a
ocorrência destes problemas.

Saber que a sexualidade está presente desde a primeira infância e evolui ao longo da
vida é um importante fator para se entender comportamentos e identificar suas dife-
rentes formas de manifestação. No exercício do trabalho docente dentro do espaço
escolar, atentar-se para os riscos a que crianças e adolescentes estão sujeitos nas dife-
rentes etapas do desenvolvimento faz-se urgente e necessário, pois pode influenciar
a forma destes se perceberem, construírem e viverem a sexualidade.

Tendo subsídios para compreender melhor as diferentes sexualidades, o professor


terá condições de ensinar e intervir de maneira mais efetiva e adequada nos casos
em que a mediação com a temática da sexualidade se fizer necessária. Estejamos
atentos a essas questões!

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UNIDADE 4

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:

> Identificar as
possibilidades de
intersecção entre
educação e sexualidade.

> Diferenciar sexo,


sexualidade e educação
sexual, reconhecendo as
principais características
de cada conceito.

> Examinar como


a educação pode
criar possibilidades
de atendimento
às necessidades
relacionadas à construção
da sexualidade durante
o crescimento e
desenvolvimento infantil
e adolescente.

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Educação, Saúde e Sexualidade

4 SEXUALIDADE COMO
CAMPO DE ESTUDOS DA
EDUCAÇÃO
Nesta unidade, você estudará sobre as possibilidades de intersecção entre educação
e sexualidade. A proposta é apresentar a educação como uma área que pode favo-
recer o entendimento e a concepção que se tem sobre as questões que envolvem a
sexualidade, desde a construção da identidade sexual infantil e adolescente até as
abordagens que podem ser trabalhadas dentro do espaço escolar, visando pensar
um currículo que discuta a educação sexual e as várias possibilidades de trabalho
com os alunos.

Também é objetivo desta unidade apresentar os conceitos de sexo e sexualidade,


diferenciando-os de educação sexual, de modo a favorecer a compreensão sobre o
que significa cada um desses termos e sob que perspectivas podem ser entendidos.

Embarque nesta aprendizagem!

INTRODUÇÃO
Esta unidade trata da intersecção entre educação e sexualidade, propondo apresen-
tar como esses dois campos de atuação e estudos podem atuar de forma a contri-
buir para a construção da sexualidade de crianças e adolescentes. Por serem indiví-
duos em formação, esses públicos encontram-se em pleno processo de crescimento e
desenvolvimento de vários conceitos e habilidades, entre os quais a identidade sexual.
A educação, como área do saber que propicia o acesso ao conhecimento produzi-
do pela humanidade, pode favorecer a apropriação dos conceitos de sexo, sexuali-
dade e educação sexual, de modo que se possa conhecer e perceber a diferenciação
entre eles. Conhecendo as múltiplas facetas da sexualidade humana, talvez seja possí-
vel entendê-la e exercê-la de forma mais plena e saudável, o que significaria maio-
res chances de diminuir problemas de identidade, autoaceitação e intolerância com
o que aparenta ser diferente. Nesta perspectiva, o presente material busca oferecer

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subsídios para se pensar a educação sexual a partir de suas várias abordagens, que não
se limitam a reduzir e classificar o sexo ou a sexualidade em categorias únicas e fixas.

4.1 SEXUALIDADE COMO CAMPO DE ESTUDOS DA


EDUCAÇÃO

A quem compete o ensino sobre sexualidade? Qual o papel da família em relação a


esse tipo de orientação? E a escola, o que pode ensinar? Até aonde a escola pode ir
quando aborda esse tema? Quais são os limites? Essas questões são comuns, quando
se pensa em sexualidade e educação. Há, inclusive, alguns debates ideológicos que
colocam essa temática como algo que deve ser tratado no âmbito familiar. Estudio-
sos da área, porém, defendem que uma educação sexual é urgente e imprescindível
à formação do ser humano, em todas as etapas de seu desenvolvimento.

Há muitos anos, a escola tem sido responsável por oferecer um ensino denominado
de “educação sexual”. O que esse ensino engloba? Quais temas contempla? O que há
de novo em relação às abordagens curriculares para o trabalho com a sexualidade?
Essas questões são as norteadoras deste material.

4.1.1 INTERSECÇÕES ENTRE SEXUALIDADE E


EDUCAÇÃO

Na escola, a temática da sexualidade geralmente está vinculada ao ensino de ciên-


cias ou biologia e em geral se restringe ao conhecimento do corpo, à abordagem dos
aparelhos reprodutores masculino e feminino, puberdade, menstruação, virgindade,
iniciação sexual, prática do sexo seguro, prevenção à doenças sexualmente transmis-
síveis (DST), AIDS e gravidez não planejada (FURLANI, 2016).

Mais recentemente, com as atuais políticas voltadas à garantia dos direitos sexuais
e reprodutivos da população, a escola tem sido considerada um local privilegiado
para o reconhecimento e valorização da diversidade de expressões de sexualidade
(GESSER et al., 2015). No entanto, mesmo que os documentos oficiais recomendem
um trabalho transversal com essa temática, ele ainda fica restrito a poucas discipli-
nas. E algumas escolas parecem fomentar predominantemente o preconceito ao

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diferente, patologizando atitudes e comportamentos que fogem ao modelo da hete-


ronormatividade (LOURO, 2008; ALÓS, 2011; SEFFNER, 2013).

Condizente com o que propõe o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), (BRASIL,


1990), o Caderno de Orientação Sexual dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
(MEC, 1998) e a Política de Prevenção e Combate à Homofobia - Brasil sem homo-
fobia (MEC, 2004), uma proposta pedagógica em uma perspectiva ético-política, de
acordo com Gesser et al. (2015), consideraria oferecer possibilidades para:

FIGURA 13 - ABORDAGEM DA SEXUALIDADE EM UMA


PROPOSTA PEDAGÓGICA ÉTICO-POLÍTICA

• Desconstrução das significações de sexualidades opressoras.

• Desnaturalização das violências contra as diferentes formas


de manifestação da sexualidade.

• Ampliação da autonomia para que cada um possa exercer


sua sexualidade.

• Garantia dos direitos sexuais e reprodutivos.

• Diminuição da vulnerabilidade de quem expressa sexualidade fora do


padrão heterossexual.

Fonte: Elaborada pela autora, 2019.

Apesar de os termos “gênero” e “orientação sexual” terem sido suprimidos da


Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017), as temáticas sobre
discussão dos direitos humanos e discriminação foram contempladas no docu-
mento, o que significa que as questões que envolvem a sexualidade devem ser
trabalhadas nas redes de ensino.

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A oferta de uma educação que contemple a temática da sexualidade de forma múlti-


pla e ética ainda é um desafio no Brasil. Nas escolas, predomina uma pluralidade de
concepções que vão desde as relacionadas ao higienismo até aquelas que buscam
promover a democracia sexual, ou seja, a aceitação da diversidade e da pluralidade de
identidades sexuais em suas diferentes formas de manifestação (GESSER et al., 2015).

Higienismo: ideia baseada na “limpeza” a partir da eliminação do que é “sujo”.


Na concepção de sexualidade tratada nesta unidade, o conceito refere-se à
exclusão, minimização ou marginalização de toda forma de manifestação
sexual que não seja heteronormativa, ou seja, da sexualidade considerada peri-
férica, desviante, suja.

Para entender melhor as formas como a sexualidade tem sido compreendida a partir
da perspectiva do ensino, Gesser et al. (2015) apresentam algumas concepções de
sexualidade de docentes que atuam na educação básica.

QUADRO 4 - CONCEPÇÕES DE SEXUALIDADE DE DOCENTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Concepção preventista

Articulada a discursos morais e religiosos, a preocupação está ligada à prevenção da gravidez na


adolescência e de infecções causadas por doenças sexualmente transmissíveis (DST) e AIDS. Também
há uma grande preocupação em não “incitar precocemente” crianças e adolescentes a se interessa-
rem por questões relacionadas à sexualidade.

Nessa concepção, a gravidez na adolescência é denominada como “precoce”, assim a iniciação sexual
antes da idade adulta é também vista como precoce, já que a sexualidade é reduzida ao coito, a
doenças e à reprodução. O sexo é tido como algo que deve ser praticado por pessoas adultas, que
desejam ter filhos.

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Concepção desenvolvimentista

Compreende a sexualidade como um tema a ser tratado em determinada idade ou etapa do desen-
volvimento. Nessa concepção, a sexualidade inexiste na infância, por isso acredita-se que há uma
“idade certa” para se abordar esses assuntos. A sexualidade também é reduzida ao seu aspecto bioló-
gico, abordando o desenvolvimento dos aparelhos reprodutores, doenças e reprodução, mas não
contempla questões de gênero e outros marcadores identitários. Também se nota uma preocupação
em não “adiantar processos”, acreditando-se que as idades devem ser respeitadas, por isso não se
deve permitir que crianças ou adolescentes entrem em contato com conteúdo impróprio para sua
faixa etária, pois isso poderia despertar seu interesse para a sexualidade ou até mesmo induzi-la à
homossexualidade.
Concepção de prevenção para a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos

Preocupação em oferecer conhecimentos sobre o corpo e seu desenvolvimento, suas partes, suas
funções, gravidez e doenças, além de elementos simbólicos, como a pluralidade de conceitos e possi-
bilidades de vivência da sexualidade, buscando favorecer uma maior autonomia para que crianças e
adolescentes possam construir sua identidade sexual e decidirem sobre o autocuidado.
Concepção heteronormativa de sexualidade

Contempla discursos pautados na heteronormatividade, ou seja, demonstrando a construção da


sexualidade marcada pela norma heterossexual. Os efeitos dessa concepção são práticas da chama-
da “pedagogização dos gêneros e sexualidades”, baseadas no sexismo e na caracterização da norma-
tividade a partir dos conceitos de mulher/homem, heterossexual/homossexual e sexo/gênero.
Concepção de democracia sexual

Articulada aos valores de igualdade e liberdade, apresenta práticas que visam à aceitação e ao acolhi-
mento das diferentes sexualidades. Preocupa-se em criticar as práticas heteronormativas na escola e
em promover o respeito à diversidade sexual, buscando eliminar a patologização dos comportamen-
tos dos alunos e das diferentes configurações familiares.

Fonte: Adaptado de GESSER et al., 2015.

Sexismo: também conhecido como discriminação de gênero, refere-se à atitude


de discriminação e objetificação baseada no sexo, gênero ou orientação sexual.

Na discussão sobre as diferentes concepções de sexualidade trabalhadas na esco-


la, é importante considerar que o entendimento sobre essas questões pelos docen-
tes e por toda equipe pedagógica passa, necessariamente, por normas, valores e até
mesmo preconceitos presentes nos contextos culturais e históricos nos quais cada
um desses profissionais se constituíram como pessoas ao longo de sua formação
(GESSER et al., 2015).

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A sexualidade é uma temática que aparece nos documentos oficiais de educa-


ção como “transversal”. A partir da década de 1990 no Brasil, alguns documen-
tos oficiais passaram a dar visibilidade a questões que até então eram conside-
radas impróprias para serem abordadas com crianças e jovens. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) é um desses documentos, que traz a sexualidade
em um volume específico, denominado “Temas transversais”, ou seja, como algo
que pode e deve ser trabalhado no currículo de qualquer disciplina. Para conhe-
cer as diretrizes que o documento menciona para o desenvolvimento desse
trabalho, consulte: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação
dos temas transversais - ética. Brasília: MEC/SEF, 1997.

Por mais fundamental que seja, a implementação de um trabalho que vise ao direito
e à valorização da diversidade ainda enfrenta muitas dificuldades para ser desenvol-
vido e sustentado nas escolas. Por medo de serem desqualificados por pessoas que
apresentam um posicionamento heterossexista, muitos profissionais se veem impo-
tentes para promover ações mais amplas e gerais sobre essa temática. Por outro lado,
contemplar esse tema a partir do diálogo sobre a diferenciação sobre sexo, sexualida-
de e educação sexual parece ser um caminho possível nas mais diversas disciplinas
do currículo, afinal esses conceitos podem e devem ser transversais a todo trabalho
desenvolvido na escola.

Heterossexismo: atitude de discriminação, preconceito, negação e estigmatiza-


ção ou ódio contra toda manifestação de sexualidade que não seja heterossexual.

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4.1.2 DIFERENCIANDO CONCEITOS: SEXO,


SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO SEXUAL

Sexo

A palavra sexo é geralmente utilizada para definir os órgãos genitais masculino e


feminino, distinguindo a mulher do homem. Seu referencial é fisiológico e está
diretamente relacionada à anatomia dos corpos de meninos e meninas, homens e
mulheres.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (OMS, 1975), sexo também
pode ser compreendido como ato sexual. O sexo possui características biológicas,
que classificam os seres humanos em macho ou fêmea.

Sexualidade

Sexualidade refere-se às construções históricas, culturais e sociais produzidas sobre as


características biológicas dos indivíduos (LOURO, 2004). Para além do entendimento
da orientação do desejo (heterossexual ou homossexual), a Organização Mundial da
Saúde define que:

A sexualidade faz parte da personalidade de cada um, é uma necessidade


básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros
aspectos da vida. Sexualidade não é sinônimo de coito (relação sexual) e não
se limita à ocorrência ou não de orgasmo. Sexualidade é muito mais que isso,
é a energia que motiva a encontrar o amor, contato e intimidade e se expressa
na forma de sentir, nos movimentos das pessoas, e como estas tocam e são
tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e intera-
ções e, portanto a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano funda-
mental, a saúde sexual também deveria ser considerada um direito humano
básico (OMS, 1975).

O conceito de sexualidade, surgido no século XIX, vem para ampliar a definição de


sexo, representando a qualidade e a significação do que é sexual (FEITOSA, 2005).

Educação sexual

Já a educação sexual refere-se a um conjunto de projetos pedagógicos que tratam


da sexualidade a partir de conteúdos relacionados à matriz da sexualidade, relações

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de gênero e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (DST), AIDS (BRASIL,


1997). A expectativa é promover a construção de condutas sexuais orientadas, sadias
e protegidas (DZIABAS; MIRANZI, 2007).

Alguns estudiosos (como STEINBERG; KINCHELOE, 2001) argumentam que, por ser
plural, a educação sexual não se limita aos espaços escolares, mas ocorrem, na verda-
de, desde o convívio familiar e, mais recentemente, têm abrangido outros “ambien-
tes”, como os virtuais, passando também pelos livros, materiais didáticos, filmes, nove-
las, desenhos animados, músicas, etc.

Mesmo com toda a avalanche de informação que a criança e o jovem recebem hoje
em dia, a escola ainda continua sendo o local privilegiado para o trabalho com a
sexualidade. Mas quais as possibilidades de trabalho com essa temática e como esse
ensino pode favorecer o desenvolvimento de crianças e adolescentes em seu proces-
so de formação?

4.1.3 AS POSSIBILIDADES OFERECIDAS NO


ATENDIMENTO ÀS NECESSIDADES DE CRESCIMENTO
E DESENVOLVIMENTO INFANTIL E ADOLESCENTE

Como local privilegiado para o ensino e debate, a escola é uma instituição que pode
contribuir muito para o atendimento das necessidades de crescimento e desenvolvi-
mento das crianças e adolescentes. Em relação às questões ligadas à sexualidade, é
importante entendê-la como um componente humano, presente desde a infância,
cuja construção e manifestação poderão despertar interesse, curiosidade e muitas
dúvidas nos estudantes em formação. Da escola, então, seria esperado que pedago-
gicamente assumisse essa discussão, inserindo-a no currículo escolar.

Furlani comenta que “as escolas que não proporcionam a educação sexual a seus
alunos e alunas estão educando-as parcialmente” (FURLANI, 2003 p. 68). A educação
sexual, vista como possibilidade de ampliação de conhecimentos sobre si mesmo e
sobre o outro, pode favorecer o desenvolvimento de concepções e da construção de
uma identidade sexual sadia.

A educadora sexual Debra Haffner (2005, apud FURLANI, 2016) apresenta em seu livro
“A criança e a educação sexual” o que caracteriza uma criança como sendo sexual-
mente saudável:

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FIGURA 14 - CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA SEXUALMENTE SAUDÁVEL

Se sentem bem com seus corpos

Respeitam os membros da família e outras crianças

Entendem o conceito de privacidade

Tomam decisões adequadas à sua idade

Ficam à vontade para fazer perguntas

Se sentem preparadas para a puberdade

Fonte: Adaptada de HAFFNER, 2005, apud FURLANI, 2016, p. 65.

Pensando nessa caracterização, pode-se refletir sobre como a escola ou educadores


podem contribuir para que o desenvolvimento de crianças e jovens seja saudável. O
que há de se fazer? Por onde se pode começar?

De início, vale a pena retomar os pilares para o desenvolvimento saudável da sexua-


lidade. Essa construção, iniciada desde a primeira infância, acompanha o indivíduo
pela vida, por isso oferecer elementos que o auxiliem a compreender a multiplicida-
de desse conceito é um dos pontos centrais deste trabalho.

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FIGURA 15 - CONCEITOS-CHAVE PARA O DESENVOLVIMENTO SAUDÁVEL DA SEXUALIDADE

Sentir-se
Respeitar
bem

Tomar Estar
decisões preparada

Fonte: Adaptada de FURLANI, 2016.

Contribuindo com essa abordagem, Furlani (2016) apresenta oito princípios para
o trabalho com a educação sexual na escola. Estes princípios estão detalhados no
quadro a seguir.

QUADRO 5 - PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO SEXUAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Princípio 1 – A educação sexual deve começar na infância e, portanto, fazer parte do currículo
escolar

Entendendo a manifestação da sexualidade desde a infância como natural e os conteúdos relativos


à sexualidade como imprescindíveis à formação de crianças e jovens, propõe-se desconstruir a ideia
de que a abordagem desse tema deve acontecer apenas na adolescência.

A sexualidade está presente desde a infância, por isso pode ser abordada
com as crianças desde a educação pré-escolar. O cuidado que se deve ter
é em relação à linguagem utilizada e a não oferta de detalhes desneces-
sários durante essa conversa. Quando se entende que os temas relaciona-
dos à sexualidade não devem ser tratados com crianças, ignora-se toda
uma gama de possibilidades de se trabalhar questões de fundamental
importância para o desenvolvimento e formação da criança, como noção
de privacidade, intimidade, conhecimento do corpo e suas funções, etc.

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Princípio 2 – As manifestações da sexualidade não se justificam, apenas, pelo objetivo da “reprodução”

Desconstruir o paradigma da infância assexuada e do modelo de sexualidade vinculada apenas à


reprodução. Entendendo a sexualidade como algo múltiplo, que está presente desde a infância e que
pode ser manifesta de muitas formas, é essencial para a construção de uma identidade sexual sadia.

A reprodução é apenas uma das formas de manifestação da sexualida-


de. Crianças e adolescentes precisam de instruções e diálogo sobre outras
questões que envolvem essa temática, como a construção das diferentes
identidades sexuais, questões que envolvem relações de gênero, orien-
tação sexual e uma educação sexual mais ampla, que discuta direitos,
problematize concepções e ofereça formas de repensar os modelos hete-
ronormativos, que excluem o diferente.
Princípio 3 – A descoberta corporal é expressão da sexualidade

A criança descobre seu corpo desde bebê e ela faz isso explorando as mãos, chupando os dedos,
tocando em diferentes partes, que lhe são agradáveis e lhe transmitem prazer. Expressar-se sexual-
mente é natural e deve ser encarado como tal.

Não é raro acontecer em sala de aula situações em que a expressão da


curiosidade e do prazer que a criança sente ao tocar seu corpo. De forma
explícita e inocente, algumas crianças tratam essa questão como natural,
como de fato elas são! Por isso, professores não devem fazer alarde ou inibir
esse comportamento com recriminação ou punição. Aos educadores, cabe
orientar crianças e jovens sobre essas questões, abordando temas, como
corporalidade, diferenças pessoais, privacidade, intimidade e responsabi-
lidade pelas escolhas.
Princípio 4 – Não deve haver segregação de gênero nos conhecimentos apresentados a meni-
nos e meninas, portanto a prática pedagógica da educação sexual deve acontecer sempre em
coeducação

Coeducação significa ensino misto, de convivência mútua entre meninos e meninas. Tem por princí-
pio não restringir conteúdo em função do gênero dos alunos, buscando promover o respeito e desle-
gitimar a desigualdade, o sexismo e o machismo.

Não existe razão lógica para separar meninos e meninas em atividades


escolares, inclusive as esportivas. Algumas escolas, em vez de oferecerem
o futebol para meninos e ballet para menina, ou oferecem essas modali-
dades para todos ou optam por ofertar outras atividades, como a capoeira,
por exemplo.

A ideia de que meninos vão melhor em disciplinas de exatas e meni-


nas nas de humanas também não se justifica cientificamente. As escolas
devem promover ensino e cursos extracurriculares para todos, potenciali-
zando o desenvolvimento da criança e do jovem, independentemente de
seu gênero.

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Princípio 5 – Meninos e meninas devem/podem ter os mesmos brinquedos

Desconstruir a ideia de que meninos devem brincar com um certo tipo de brinquedo e meninas com
outro. Desconstruir a ideia de que a forma ou com o que a criança brinca determina sua orientação
sexual no futuro. Brinquedos favorecem o desenvolvimento da criança, influenciando sua criativida-
de e inteligência, por isso, separar brinquedos pela categoria (criada culturalmente) de gênero limita
as possibilidades de desenvolvimento e aprendizado das crianças.

Os brinquedos devem ser partilhados por todos. No espaço da escola ou da


creche, o educador pode fazer essa mediação criando situações de apren-
dizagem que permitam a interação entre as crianças a partir de vários brin-
quedos, sem o estigma de gênero.
Princípio 6 – A linguagem plural, usada na educação sexual, deve contemplar tanto o conheci-
mento científico quanto o conhecimento familiar/popular/ cultural

A escola deve considerar os saberes populares, assim como considera os saberes científicos, pois
ambos constituem as experiências dos indivíduos e são expressões da diversidade humana.

Os nomes dados aos órgãos sexuais e as formas de entender as múltiplas


manifestações da sexualidade devem ser considerados durante a educa-
ção sexual, pois pode-se partir desse conhecimento que o indivíduo já tem
para desconstruir padrões, preconceitos ou mesmo ampliar o repertório da
criança ou do jovem sobre essa temática.
Princípio 7 – Há muitos modos de a sexualidade e o gênero se expressarem em cada pessoa;
portanto, é possível ter alunos/as se constituindo homossexuais

Entender a homossexualidade como mais uma forma de expressão da sexualidade, buscar ressig-
nificar o preconceito e a discriminação a esse público, na tentativa de criar uma cultura de paz, de
respeito e menos violenta na escola.

O professor não deve recriminar ou tentar inibir manifestações da sexuali-


dade que sejam compatíveis com as identidades sexuais não valorizadas,
muito pelo contrário, ele pode identificar essa situação como potencial
para promover o ensino, conversar sobre a diversidade e promover situa-
ções em que se trabalhe a empatia, o respeito e a valorização da diferença.
Princípio 8 – A educação sexual pode discutir valores, como respeito, solidariedade e direitos
humanos

A escola pode questionar preconceitos, propondo uma reflexão sobre a importância de considerar “o
outro”, o “diferente” como alguém que pode agregar, contribuir. A escola deve buscar mitigar todas as
formas de exclusão e desigualdade, resgatando valores humanos e contribuindo para a valorização
da diversidade.

Professores e demais profissionais que atuam na escola podem propi-


ciar situações de interação e aprendizagem que favoreçam o exercício da
empatia, do pensar a partir do ponto de vista do outro, para que se busque
a valorização do outro como alguém que tem direitos e responsabilidades,
mas que também deve ser respeitado.

Fonte: Adaptado de FURLANI, 2016, p. 67-70.

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Esses princípios orientam um trabalho de resgate aos valores humanos e valorização


da diferença, propondo abordar a sexualidade como algo natural ao desenvolvimen-
to desde a primeira infância. Desenvolver um trabalho pedagógico pautado nessas
sugestões certamente tem o potencial de favorecer o crescimento e desenvolvimen-
to saudável de crianças e adolescentes em variados aspectos e habilidades.

As crianças e adolescentes estão em pleno processo de formação de suas identi-


dades, por isso é importante colocá-las diante de situações e propostas de ensino
que apresentem a diversidade como algo natural ao desenvolvimento humano. A
valorização das diferentes identidades auxilia na construção de uma concepção
mais plural sobre a sexualidade, favorecendo um convívio mais harmonioso, menos
preconceituoso e hostil.

Pode parecer difícil, ou mesmo utópico, implementar todos esses princípios, mas
um bom começo pode ser refletir sobre eles e a prática pedagógica. O cenário muda
quando a ação é motivada pela reflexão.

BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os
assuntos abordados na disciplina.

• FURLANI, Jimena. Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orien-


tação sexual e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferen-
ças. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

O livro “Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual e igual-
dade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças” apresenta um panora-
ma sobre a educação sexual, trazendo as concepções mais recentes para o trabalho
com o tema no âmbito educacional. O capítulo 3 aborda a educação sexual para/na
infância, trazendo com detalhes os princípios para uma educação para a sexualidade
numa abordagem de valorização da diversidade. Vale a pena conferir!

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Educação, Saúde e Sexualidade

CONCLUSÃO
Nesta unidade, você estudou as possibilidades de intersecção entre educação e
sexualidade. Como lócus privilegiado para o ensino de crianças e jovens, a escola foi
pensada como uma instituição capaz de contribuir com a formação infantil e adoles-
cente a partir do trabalho com a temática da sexualidade no cotidiano pedagógico.

No âmbito escolar, o trabalho de valorização da diversidade e alguns princípios


norteadores da atuação pedagógica na abordagem para a discussão da sexualidade
foram postos em pauta, de modo a oferecer possibilidades de reflexão e modelos de
como esses temas podem adentrar e fazer parte do currículo.

Um dos objetivos da unidade era favorecer a articulação da temática da sexualidade


na escola. Uma forma de propiciar esse diálogo foi introduzindo a diferenciação de
sexo, sexualidade e educação sexual. Para isso, cada um desses conceitos foi aborda-
do separadamente, visando a uma melhor compreensão de suas características.

Por fim, a abordagem da sexualidade através da educação foi pensada como possi-
bilidade de contribuição para o atendimento das necessidades de crianças e adoles-
centes – seres em formação – que estão em pleno processo de desenvolvimento de
sua identidade sexual, além de outras construções e habilidades.

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84 SUMÁRIO
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Educação, Saúde e Sexualidade

UNIDADE 5

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:

> Discutir o conceito de


escola saudável.

> Analisar a importância


de parcerias e alianças
para o trabalho em
saúde no contexto
escolar.

> Valorizar os programas


de educação e de
saúde na escola,
conhecendo sua
programação, critérios
e instrumentos de
avaliação.

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SUMÁRIO 85
Educação, Saúde e Sexualidade

5 O CONCEITO DE ESCOLA
SAUDÁVEL DENTRO DAS
ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO
DA SAÚDE E OS PROGRAMAS
TRANSVERSAIS NO ENSINO
BÁSICO
Nesta unidade, você estudará o conceito de escola saudável a partir da perspectiva
do trabalho em saúde no contexto escolar. O enfoque será na abordagem da sexua-
lidade em suas múltiplas dimensões e formas de manifestação. Para compreender
melhor como esse tipo de trabalho pode ser realizado, será discutido o conceito de
intersetorialidade e da importância de formação de parcerias, pactos e alianças entre
diferentes setores e áreas profissionais.

Também é objetivo desta unidade apresentar o Programa Saúde na Escola, enten-


dendo seu histórico de implementação, os temas abordados e as ações previstas
dentro das escolas. Os indicadores de monitoramento e avaliação serão explicitados,
assim como a perspectiva mais atual do trabalho em saúde no contexto educacional.

INTRODUÇÃO
Esta unidade trata das ações de saúde na educação, ou seja, das formas possíveis de
ações de prevenção, promoção e melhoria da saúde no espaço escolar. Há muitos
anos, vêm sendo implementados programas que visam garantir o direito à saúde da
população no país. Sendo as crianças e jovens uma população vulnerável, assim como
aprendizes em desenvolvimento, cujos comportamentos habilidades e concepções
estão em plena formação, estes se tornam público-alvo de ações que visem ensinar
hábitos de vida, atitudes e comportamentos que permitam a diminuição de riscos e
o aumento de fatores de proteção para uma vida mais segura e saudável. Como essa

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Educação, Saúde e Sexualidade

população está na escola, essa instituição torna-se o lócus principal para a partilha
de informações de qualidade, ações de prevenção e intervenção em saúde. Tendo
isso em vista, programas de saúde na escola serão apresentados, visando oferecer um
modelo de programação, monitoramento e avaliação de ações já realizadas e acom-
panhadas por equipes intersetoriais.

5.1 O CONCEITO DE ESCOLA SAUDÁVEL DENTRO


DAS ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO DE SAÚDE

As ações educativas em saúde no Brasil datam da Primeira República, quando, a


partir de 1889, ensinavam-se comportamentos, atitudes e hábitos considerados
saudáveis para a época. No século XX, com a concepção higienista em voga, a educa-
ção em saúde passou a utilizar a observação, o exame, o controle e a disciplina na
infância para “promover” o desenvolvimento sadio e produtivo de uma determinada
“raça” (VALADÃO, 2004).

A mudança da terminologia “educação sanitária” para “educação em saúde”, no


século XX, diz respeito a algumas mudanças nos modelos de prática educativa
na época. A educação sanitária entendia que, para que o indivíduo aprendesse
a cuidar de sua saúde, teria de ter acesso ao conteúdo a respeito, por isso valo-
rizava o repasse de informações, seguindo uma concepção mais tradicional de
educação. A educação em saúde pública, por sua vez, entende que a saúde é
resultante de vários fatores que atuam conjuntamente, por isso o indivíduo não
apenas tem acesso a informações, mas também aprende a cuidar de sua saúde
(PELICIONI, 2019).

Ao longo de todo o século XX, a universalização do ensino provoca uma mudança


nos modelos de atuação em saúde na escola, trazendo a concepção da promoção de
saúde para capacitar o indivíduo para uma vida saudável (VALADÃO, 2004).

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Educação, Saúde e Sexualidade

A educação em saúde tornou-se obrigatória no Brasil por meio da Lei n°


5.692/1971, artigo 7, que instituiu os programas de saúde nos currículos de 1º e
2º graus.

Na atualidade, a temática da saúde na escola é composta por ações e programas


apoiados por diversos organismos internacionais, como a Organização Mundial da
Saúde (OMS) e a UNESCO, pois entende-se que a atuação integrada desses setores
pode promover o acesso à informações de qualidade e conteúdo que auxilie os indi-
víduos na capacitação para a tomada decisões e controle da própria vida, garantindo
a possibilidade de usufruir de um bom estado de saúde.

A escola se configura como o espaço ideal para essas ações, uma vez que é na infân-
cia que ocorre o período de aquisição das bases de comportamento e aprendizagem,
com a adoção de hábitos de higiene; a descoberta da potencialidade do corpo e o
desenvolvimento de habilidades e destrezas que possibilitam o cuidado com a saúde
pessoal e o respeito às diferentes formas de viver e se expressar (PELICIONI, 2019).

Durante um tempo, as ações da educação em saúde na escola foram centradas


na individualidade dos alunos, buscando mudar comportamentos e atitudes sem,
muitas vezes, considerar as inúmeras influências da realidade na qual os estudantes
estavam inseridos (SILVA et al., 2010). Aos poucos, isso foi mudando, pois foi-se perce-
bendo que a promoção da saúde na escola não dependia apenas da inserção desse
conteúdo no currículo, mas sim de uma visão integral, holística, que considera as
pessoas e seus contextos familiar, comunitário e social. Dessa perspectiva, a proposta
de educação em saúde, de acordo com a Organização Panamericana de Saúde, é:

• Procura desenvolver conhecimentos, habilidades e destrezas para o auto-


cuidado da saúde e a prevenção das condutas de risco em todas as opor-
tunidades educativas.

• Fomenta uma análise crítica e reflexiva sobre valores, condutas, condições


sociais e estilos de vida, buscando fortalecer tudo aquilo que contribui
para a melhoria da saúde, da qualidade ambiental e do desenvolvimento
humano.

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• Facilita a participação de todos os integrantes da comunidade educativa


na tomada de decisões.

• Colabora para a promoção de relações socialmente igualitárias entre as


pessoas, para a construção da cidadania e democracia.

• Reforça a solidariedade, o espírito de comunidade e os direitos humanos


(OPAS, 1996, p. 22-25).

O que se percebe a partir do que foi exposto é que as ações em saúde são vistas como
resultantes de um meio ambiente biopsicossocial saudável, e não como uma ques-
tão individualizada, daí a importância da inserção, na escola, de ações que envolvam
todos que se relacionam com a instituição e com o meio que a cerca. Dessa maneira, a
escola saudável deve significar um espaço que possibilita a participação crítica, a cria-
tividade e o exercício da autonomia, para que se desenvolvam as potencialidades físi-
cas, psíquicas, cognitivas e sociais dos escolares (WHOE, 1995 apud PELICIONI, 2019),
favorecendo a formação de cidadãos críticos, que adotam um estilo de vida saudável,
afastando comportamentos de risco e sentindo-se aptos para lutar pela transforma-
ção da sociedade e melhoria das condições de vida de todos (PELICIONI, 2019).

A educação em saúde é feita a partir de ações que visam à prevenção e à promo-


ção da saúde não apenas por meio do currículo explícito, mas também contan-
do com o apoio da comunidade e da família à escola (PELICIONI, 2019).

Para um projeto de Escola Promotora de Saúde (EPS), Pelicioni e Torres (1999)


propõem desenvolver um plano que inclua:

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FIGURA 16 - A ESCOLA NA PROPOSTA DE EPS

Capacitação dos
profissionais da
escola

Desenvolvimento
Currículo flexível de sistema de
valores

para a
ESCOLA

Fonte: Adaptada de PELICIONI; TORRES, 1999.

Para a escola, é importante possibilitar um currículo diferenciado, flexível, em que os


temas ligados à saúde e sexualidade sejam ensinados transversalmente, em todas as
disciplinas. Esse currículo deve atender às demandas e necessidades específicas dos
alunos de cada escola/localidade, atentando-se para a faixa etária, interesses e curio-
sidades de cada público específico.

A capacitação dos docentes e dos demais funcionários da escola deve ocorrer perio-
dicamente, de modo a possibilitar o diálogo e a possibilidade de construção conjunta
do conceito de escola promotora de saúde. Para isso, esses profissionais precisam se
apropriar dos objetivos, conteúdos e métodos da educação e da promoção da saúde.

O desenvolvimento de um sistema de valores que seja coerente com o conceito de


EPS entre os estudantes, seus docentes e familiares é importante, pois pode contri-
buir para a criação, a execução e a manutenção de políticas públicas adequadas.

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FIGURA 17 - A FAMÍLIA NA PROPOSTA EPS

Informações
sobre as
finalidades e
objetivos da
escola
Envolvimento
Consulta aos
dos familiares no
responsáveis
processo
sobre assuntos
ensino-aprendiza
de saúde
gem dos alunos

Para a
FAMÍLIA

Fonte: Adaptada de PELICIONI; TORRES, 1999.

Estabelecer uma relação estreita e respeitosa com as famílias é fundamental para


a promoção da EPS. Para isso, é importante selecionar e preparar cuidadosamente
materiais e estratégias que aproximem os familiares da escola, possibilitando o diálo-
go e a realização de atividades conjuntas.

Uma estratégia para isso seria acolher as dúvidas, anseios e preocupações das
famílias para propor rodas de conversa ou bate-papo com profissionais da
própria escola ou das áreas de saúde e/ou assistência social, para auxiliar em
cada demanda. As famílias também podem ser convidadas a participar ativa-
mente de conselhos e associações nas escolas, de modo a contribuir no plane-
jamento das ações didático-pedagógicas.

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FIGURA 18 - A COMUNIDADE NA PROPOSTA DE EPS

Mobilização de
recursos
materiais e
humanos da
comunidade
Envolvimento de
Troca de
agentes
informações e
comunitários e
experiências com
lideranças locais na
a comunidade
proposta de EPS

Para a
COMUNIDADE

Fonte: Adaptada de PELICIONI; TORRES, 1999.

Integrar a escola com a comunidade na qual ela está inserida pode potencializar as
ações, pois envolver as pessoas que moram no entorno e os profissionais que atuam
na região, além de agentes comunitários e lideranças locais, pode promover a mobili-
zação de recursos materiais e humanos da própria comunidade, além de possibilitar
a troca de informações e experiências que enriqueçam os debates e o planejamen-
to de ações. Em parceria com escola, essas pessoas podem identificar demandas a
serem discutidas e resolvidas no bairro, pensando e planejando ações conjuntas que
visem à resolução dos problemas locais.

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Uma escola que atua junto com sua comunidade pode identificar os problemas
locais e propor ações que visem à sua melhoria. Por exemplo: se há ruas pouco
iluminadas no bairro, que dificultam o trânsito de pessoas à noite e tornam
perigoso o trajeto dos alunos (especialmente das alunas) à escola no período
noturno, uma ação conjunta poderia envolver a mobilização das pessoas para
acionar a subprefeitura ou algum órgão público para a averiguação e solução do
problema. Para isso, alguma gráfica local poderia colaborar produzindo panfle-
tos para distribuição às pessoas, alguma liderança local poderia encabeçar uma
petição pública ou audiência com alguém que atue na subprefeitura e a escola
pode ceder espaço para reuniões ou propor ações de prevenção da violência
com os estudantes. Juntos, escola e comunidade lutam e articulam ações que
beneficiarão todos.

5.1.1 PARCERIAS, ALIANÇAS E O PACTO SOCIAL

Alianças e parcerias em ações de educação em saúde visam à redução de riscos e


ao fortalecimento de fatores protetores da saúde de crianças e jovens. Em vez de
focar individualmente em questões que podem sinalizar problemas, tem-se perce-
bido que a integração entre grupos que atuam e se apoiam mutuamente são mais
eficientes, mesmo porque grande parte dos problemas, em geral, apresentam causas
comuns (BRASIL, 1999).

Todo jovem precisa de informações abrangentes sobre saúde sexual e repro-


dutiva. Tais informações, no entanto, têm mais utilidade quando associadas à
educação voltada para a construção de habilidades para a vida, para a autoes-
tima, para o senso de responsabilidade e confiança. Assim, os jovens podem
resistir às pressões para a adoção de comportamentos que possam agredir sua
saúde e seu desenvolvimento. Essas habilidades podem ser úteis na preven-
ção do consumo de drogas, no trato da ansiedade, na avaliação de situações
de risco e na negociação de situações conflituosas (BRASIL, 1999, p. 16).

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O Programa Saúde na Escola (PSE) é um exemplo de aliança construída em prol


da saúde da população escolar. Trata-se de um movimento que prevê a ação
intersetorial para promover estratégias para a promoção de saúde individual e
coletiva por meio de ações intra e intersetoriais articuladas entre os âmbitos da
saúde, educação e assistência social (BRASIL, 2014).

O PSE foi instituído em 2007 e compõe uma política de governo voltada à interseto-
rialidade, objetivando capacitar a comunidade para atuar na melhoria da qualidade
de vida e saúde (BRASIL, 2002), atendendo aos princípios e diretrizes do Sistema
Único de Saúde (SUS): integralidade, equidade, universalidade, descentralização e
participação social. O PSE propõe a articulação de saberes entre alunos, pais, comu-
nidade escolar e sociedade, como um todo, para promover e tratar a saúde e a educa-
ção de forma integral (CARVALHO, 2015).

O conceito de promoção de saúde amplia a compreensão de que saúde não é


somente a ausência de doença, mas também que pode ser vista como um esta-
do positivo, um recurso para a qualidade de vida (CARVALHO, 2015).

Por meio de ação intersetorial, o PSE propõe uma intersecção entre o saber dos
profissionais de saúde e de educação, além dos saberes provenientes das próprias
experiências de vida dos sujeitos. A intersetorialidade torna-se fundamental nessa
proposta, uma vez que a escola recebe uma variedade muito grande de perfis de
alunos, com experiências de vida e questões sociais muito diversas, o que demanda a
ação de vários profissionais e diferentes setores (CARVALHO, 2015).

O pacto social, como compromisso da sociedade em garantir e assegurar direi-


tos, reconhece o bem-estar, a saúde e a proteção social como direitos sociais. Esse

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compromisso é assegurado na medida em que pessoas da sociedade civil/profissio-


nais das mais diversas áreas se propõem a dialogar e atuar em prol da promoção e
melhoria desses indicadores sociais. O professor, como profissional da educação, é
um importante ator nesse cenário, pois, por ter contato com estudantes e suas famí-
lias, pode debater e articular ações que beneficiem as escolas, podendo ir para além
dos muros desta, atingindo também a comunidade.

5.1.2 PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE NA


ESCOLA DENTRO DA PERSPECTIVA DAS ÁREAS
TRANSVERSAIS DE ENSINO FUNDAMENTAL:
PROGRAMAÇÃO, CRITÉRIOS E INSTRUMENTOS DE
AVALIAÇÃO

Quando se pensa em programas de educação e saúde na escola, o Programa Saúde


na Escola (PSE) é o mais comentado e pesquisado, pois é o principal programa volta-
do à atenção e à saúde de estudantes de escolas públicas brasileiras. O PSE subsidia
as ações de integração e articulação entre as políticas de educação e de saúde no
contexto escolar, tendo como objetivo ampliar as ações de saúde direcionadas aos
estudantes da rede pública, articulando as redes básicas de educação e de saúde e
contribuindo para sua formação e desenvolvimento integrais (CARVALHO, 2015).

FIGURA 19 - AÇÕES DO PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA

Prevenção Prevenção Prevenção


em saúde em saúde em saúde

PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA


Fonte: Adaptada de BRASIL, 2018.

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As ações do PSE devem sempre estar inseridas no projeto político-pedagógico da


escola, considerando-se a diversidade sociocultural das redes e a autonomia dos
professores e das equipes pedagógicas. Guiados por essas diretrizes, o programa
adota três princípios:

FIGURA 20 - PRINCÍPIOS DO PSE

Integralidade Territorialidade Intersetorialidade

Fonte: Adaptada de BRASIL, 2018.

O princípio de integralidade propõe articular ações que impactem as diferentes


áreas envolvidas (educação, saúde, assistência social). A territorialidade diz respeito à
discussão, elaboração e implantação de ações que atendam às demandas locais de
cada população específica. A intersetorialidade entende que ações integrais e basea-
das no princípio da territorialidade aconteçam quando há a articulação entre dife-
rentes setores, envolvendo profissionais de várias áreas, para um alcance mais amplo
dos objetivos propostos no projeto.

Seguindo os princípios básicos do programa, cada rede deve pensar e propor suas
ações a partir do planejamento local. Isso significa que o PSE varia conforme a região
e seu público-alvo, tendo possibilidade de tratar de variados temas, que atendam às
demandas de cada contexto particular. Veja alguns exemplos a seguir.

A partir do levantamento da demanda local, em ação do Programa Saúde na


Escola, uma rede optou por trabalhar diferentes projetos em cada nível de ensi-
no. No Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos (EJA), abordou-
-se desde a saúde ocular, passando por práticas corporais que envolviam ativi-
dades físicas e de lazer até a discussão sobre prevenção ao uso de álcool, tabaco
e outras drogas (BRASIL, 2018).

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No Programa Saúde na Escola em uma instituição de ensino básico, a entrada


da profissional de saúde da assistência social se deu de forma cuidadosa com os
estudantes. Chamada pela coordenadora pedagógica para auxiliar no manejo
de comportamentos sexuais exacerbados por parte de adolescentes, ela iniciou
seu trabalho apresentando uma palestra com uma temática não ligada à sexua-
lidade, buscando uma oportunidade de conhecer e se aproximar dos alunos.
Depois de familiarizados com sua presença na escola, a profissional abordou a
sexualidade em uma palestra, seguida de roda de conversa, o que possibilitou
uma abordagem menos impositiva e de maior receptividade dos jovens em
relação à proposta (CARVALHO, 2015).

Em outra escola, de ensino fundamental II, a ação de saúde no Programa Saúde


na Escola consistiu em momentos de conversa, apresentação de vídeos e traba-
lhos pedagógicos, como dramatização e apresentação de paródias sobre temas
ligados à sexualidade, tendo a pesquisa dos alunos e a mediação dos professo-
res e profissionais de saúde como ponto central da abordagem.

A programação do PSE inclui ações pactuadas em conjunto no momento da adesão


ao programa. Estas incluem:

• práticas de cuidados à prevenção de riscos e danos à saúde;

• promoção de alimentação adequada e saudável;

• estímulo à prática de exercícios corporais e atividade física;

• diálogos sobre direito sexual e reprodutivo;

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• prevenção à gravidez não desejada, DST e Aids;

• ações no sentido de promover a convivência respeitosa com a diferença;

• prevenção das violências e dos acidentes;

• identificação de alunos com possíveis sinais de doenças;

• práticas de autocuidado e abordagem de riscos e danos do uso de álcool,


tabaco e outras drogas, buscando fortalecer vínculos e afetos que favoreçam
escolhas de vida saudáveis.

O monitoramento do PSE é realizado a partir das informações lançadas no sistema


e-SUS Atenção Básica, que considera indicadores de evasão escolar, motivos de baixa
frequência e dados sociodemográficos. Esses dados são provenientes da própria esco-
la em parceria com a assistência social. O controle de presença dos estudantes, bem
como dos dados de rendimento acadêmico, é de incumbência do professor, que os
repassa para a gestão escolar, intermediária das ações do Programa Saúde na Escola.

As informações e formulários de acompanhamento das ações desenvolvidas


no Programa Saúde na Escola podem ser consultadas em: BRASIL. Programa
Saúde na Escola: documento orientador – indicadores e padrões de avaliação.
PSE, ciclo 2017/2018. Disponível na Internet.

Em relação aos indicadores que permitem avaliar o PSE, ou seja, aos parâmetros
qualitativos e/ou quantitativos que servem para detalhar se os objetivos do programa
foram alcançados, encontram-se: (i) a cobertura do PSE nas escolas; (ii) a cobertura
das ações nas escolas; (iii) a quantidade de tipos de ações realizadas (BRASIL, 2018).

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Educação, Saúde e Sexualidade

Em resumo, é importante que essas ações de saúde na educação busquem:

FIGURA 21 - AÇÕES DE SAÚDE NA EDUCAÇÃO

Ter foco na prática pedagógica, e não na ação assistencial


Estabelecer parceria entre professores, profissionais de saúde e alunos,
para que as ações sejam relevantes para eles.
Valorizar a percepção que os alunos têm sobre seus problemas, sua identidade e sua prática social.
Apoiar a comunidade escolar para que ela mesma vença suas dificuldades.

Fonte: Adaptada de CARVALHO, 2015.

Quando associadas a práticas educativas, as ações de saúde podem ser o ponto de


partida para a aquisição de novas condutas de autocuidado e respeito à saúde. Essas
ações devem levar em conta a realidade que cerca a escola e a vida dos alunos.

Para Junqueira (2004), o público-alvo da ação de saúde deve ser considerado como
sujeito desta, e não meramente como objeto. Dessa perspectiva, ele passa a assumir
um papel participativo, colaborando na identificação das demandas e da proposição
de suas soluções. Essas ideias e propostas devem ser construídas numa discussão
intersetorial (entre alunos, professores, gestores, equipe de saúde, assistência social),
de modo a favorecer a tomada de consciência e enfrentamento dos problemas viven-
ciados (WIMMER; FIGUEIREDO, 2006).

A atuação na área de assistência social permite articular as ações na escola à reali-


dade de seus alunos, aproximando os projetos do universo familiar e comunitário,
possibilitando a efetivação dos princípios de integralidade, intersetorialidade e terri-
torialidade das ações implementadas.

BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os
assuntos abordados na disciplina.

• PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Educação e promoção da saúde: teoria e práti-


ca. 2. ed. Rio de Janeiro: Santos, 2019.

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SUMÁRIO 99
Educação, Saúde e Sexualidade

O livro “Educação e promoção da saúde: teoria e prática” aborda o desenvolvimento


de práticas educativas e promotoras de saúde em diferentes espaços. As partes três
e quatro apresentam diversas experiências e práticas de atuação da saúde na escola.
Conheça e se inspire!

CONCLUSÃO
Nesta unidade, você estudou a atuação da saúde na educação a partir do desenvol-
vimento de ações de prevenção, promoção e melhoria da saúde para estudantes.
Foi discutida a importância da formação de pactos e alianças entre diferentes áreas/
setores, para que as demandas em saúde presentes na escola possam ser atendidas
de forma coerente e integral, pois sabe-se que a multiplicidade de questões e neces-
sidades que cada população escolar, em seu contexto específico, apresenta, é muito
diversa e complexa, exigindo a articulação entre diferentes áreas e o diálogo constan-
te entre muitos profissionais.

Para compreender melhor um exemplo de como esse trabalho pode ser pensado e
efetivado, o Programa Saúde na Escola foi apresentado, abordando-se inicialmente o
histórico de desenvolvimento do programa e, depois, as ações previstas para as esco-
las, além das formas de monitoramento e critérios de avaliação.

Como a atuação do professor com crianças e jovens deve envolver o trabalho que
potencialize seu desenvolvimento, conhecer as formas de se trabalhar as questões de
saúde, de forma articulada a outros profissionais, é importante no sentido de fornecer
caminhos para a abordagem do tema de forma transversal na escola.

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100 SUMÁRIO
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Educação, Saúde e Sexualidade

UNIDADE 6

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:

> Nomear os conceitos


de gênero, orientação e
identidade sexual.

> Examinar as
possibilidades didáticas
do trabalho com a
educação sexual no
ambiente escolar.

> Reunir estratégias de


intervenção saudáveis
e não punitivas como
parte do repertório
necessário à atuação
docente.

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SUMÁRIO 101
Educação, Saúde e Sexualidade

6 ABORDAGENS
CONTEMPORÂNEAS PARA
A EDUCAÇÃO SEXUAL NA
SALA DE AULA: RELAÇÕES
DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO
SEXUAL E IGUALDADE NUMA
PROPOSTA DE RESPEITO ÀS
DIFERENÇAS
Nesta unidade, você estudará as abordagens contemporâneas para a educação sexual
no ambiente escolar. Essa temática, cujo ensino era de responsabilidade da família,
cada vez mais tem sido reconhecida como necessária nas propostas pedagógicas. Há
alguns anos, a sexualidade figura entre os temas transversais do ensino, o que signi-
fica que deve estar presente no currículo escolar, podendo ser trabalhada em várias
disciplinas. Assim, esta unidade tem o objetivo de explicitar os conceitos de gênero,
orientação sexual e identidade sexual, buscando esclarecer o que significa cada um
deles e discutir suas implicações não apenas epistemológicas (o significado da pala-
vra, em si), mas também problematizando as questões da vida prática, as concepções,
formas de entender e as relações que se estabelecem no meio social. Por fim, algu-
mas estratégias de intervenção saudáveis e não punitivas serão demonstradas, pois
cabe ao (aspirante a) professor considerar a diversidade presente nas escolas como
um potencial a ser valorizado e trabalhado, na perspectiva de não apenas respeitar,
mas também de aprender com a diferença.

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102 SUMÁRIO
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Educação, Saúde e Sexualidade

INTRODUÇÃO
Esta unidade trata das abordagens contemporâneas para a educação sexual no
ambiente escolar, contemplando as possibilidades didáticas para um trabalho de
respeito e valorização da diversidade. Nesse sentido, apresenta os conceitos de gêne-
ro, orientação e identidade sexual, buscando discutir suas implicações para as formas
de entender, conceber e se relacionar em sociedade. Serão apresentadas as abor-
dagens pedagógicas que embasam a atuação docente na temática da sexualidade,
buscando ampliar o debate sobre o que está por trás das ações e posturas frente à
sexualidade em sala de aula. Ao educador, é fundamental conhecer esses conceitos,
para que possa identificar situações de desrespeito e discriminação e atuar em prol
de uma educação que problematiza a diferença como algo natural e saudável. Algu-
mas estratégias não punitivas para a intervenção nos casos em que houver manifes-
tação da sexualidade na escola serão contempladas, buscando oferecer repertório ao
professor de como agir nessas situações.

Venha nesta viagem pelo conhecimento!

6.1 ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS PARA A


EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: RELAÇÕES DE
GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E IGUALDADE
NUMA PROPOSTA DE RESPEITO ÀS DIFERENÇAS

A educação sexual nas escolas brasileiras sempre foi tema de discussões e controvér-
sias. No passado, as escolas separavam meninos e meninas num ensino que orienta-
va cada gênero para o desempenho de um papel social específico. Depois, mesmo
quando meninos e meninas estudavam juntos numa mesma escola, ao falar sobre
sexualidade, ou reprodução humana, estes eram separados em diferentes salas de
aula, para que cada um tivesse acesso à informação pertinente ao seu gênero (além
do fato de que abordar tal temática entre todos podia constranger o professor). Com
o passar do tempo, essa separação física, de sala, já não era mais necessária. Os estu-
dos em ciências e biologia contemplavam o que era importante ensinar ao adoles-
cente (sim, porque falar sobre sexualidade na infância era algo que não fazia sentido),

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SUMÁRIO 103
Educação, Saúde e Sexualidade

por isso os livros traziam o sistema reprodutor humano, as DSTs, o HIV, a Aids e a
gravidez na adolescência como algo a ser ensinado aos jovens.

Nas décadas de 1970 e 1980 surgem os estudos de gênero, o que provoca uma
mudança no conceito de “papéis sexuais” até então naturalizados pela biologia. Esse
é um ponto importante dos estudos em sexualidade, pois muda toda uma concep-
ção sobre a temática e introduz uma nova categoria de análise nos fenômenos da
vida histórica e social, ao mesmo tempo em que traz para o debate o enfoque políti-
co (FURLANI, 2016).

6.1.1 DEFININDO CONCEITOS: GÊNERO, ORIENTAÇÃO


E IDENTIDADE SEXUAL

Muitas vezes, gênero, orientação e identidade sexual são confundidos ou tratados


como sinônimos. Os conceitos nem sempre são compreendidos, de modo que ainda
é comum, por exemplo, ouvir algumas pessoas se referirem à “opção” sexual quando
falam da orientação do desejo sexual dos homossexuais ou ao “gênero” como um
conceito negativo. Essa falta de esclarecimento se deve, entre outros motivos, ao fato
de historicamente não terem sido abordadas amplamente nos estudos escolares e
na sociedade como um todo. Para desmistificar esses conceitos, cada um deles será
explicado a seguir.

6.1.1.1 GÊNERO

É um conceito que diz respeito às relações existentes entre homens e mulheres e


tem contribuído para problematizar as diferenças tomadas como “naturais” e “biolo-
gicamente” determinadas (GUIZZO; RIPOLL, 2015).

Guacira Lopes Louro (2004) ressalta que o conceito de gênero não se resume à dife-
renciação de “papéis” e “funções” femininos e masculinos, como modos de ser, de se
comportar, de se vestir, etc., mas diz respeito às relações de poder existentes entre
homens e mulheres.

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A noção de que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher” vem dos escritos de
Simone de Beauvoir, que, em 1949, publicou em “O segundo sexo” que a cons-
tituição do ser mulher é algo ensinado para que os sujeitos se tornem dessa ou
daquela maneira.

Partindo das ideias de Simone de Beauvoir, pode-se afirmar que gênero é o produ-
to do “trabalho” da sociedade, da cultura, sobre a biologia (GUIZZO; RIPOLL, 2015).
Assim, fazer de alguém mulher ou homem requer investimentos continuados
(LOURO, 2008).

Segundo Costa et al. (2009), o conceito de gênero é constituído em quatro partes:

FIGURA 22 - CONSTITUIÇÃO DO CONCEITO DE GÊNERO

Símbolos que nos Normas que afirmam e


fornecem modelos para negam modelos de
sermos mulheres e feminilidade e
homens masculinidade

Identidades subjetivas
Papel das instituições
que revelam que nem
sociais no reforço da
todas as imposições aos
composição de masculino
homens e mulheres são
e feminino
sentidas da mesma forma
Fonte: Adaptado de COSTA et al., 2009.

Recebem-se da sociedade, da família e da mídia modelos de o que é ser mulher ou


homem em na sociedade, de o que se espera em relação à linguagem (poder falar,

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ter de calar), à vestimenta (poder ficar à vontade ou não sem camisa), ao comporta-
mento (ser dócil, passiva ou firme, propositivo).

O famoso “homem não chora” ou “mulher é o sexo frágil” são exemplos de normas
que afirmam e negam modelos de feminilidade e masculinidade, atribuindo carac-
terísticas de rigidez emocional e força corporal ao homem e docilidade e fragilidade
às mulheres. Esses padrões são reforçados pelas instituições sociais, quando se sepa-
ram meninos e meninas na escola, nas aulas de educação física ou quando o trabalho
doméstico fica relegado apenas às meninas, por exemplo.

Essas imposições sociais não são sentidas da mesma forma por meninas e meninos,
mulheres e homens, uma vez que o gênero marca uma relação desigual de poder de
homens sobre as mulheres, provocando uma desigualdade de direitos.

Os lugares de meninos e meninas nas escolas eram bem delimitados. Separa-


vam-se nas filas, nas brincadeiras, nas aulas de educação física. E era proibido
qualquer tipo de transgressão dessas fronteiras (SANTOS; SOUZA, 2015).

Acreditava-se que as meninas tinham maior aptidão para as ciências humanas,


enquanto os meninos se saíam melhor com disciplinas das ciências exatas. As
meninas eram mais calmas e os meninos eram “naturalmente” mais agitados.
As meninas eram vistas como mais emotivas, enquanto os meninos deviam se
controlar e não demonstrar sensibilidade (LOURO, 1997).

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6.1.1.2 ORIENTAÇÃO SEXUAL

É a caracterização do desejo sexual predominante de uma pessoa, indicando por


quais gêneros ela sente-se atraída física, romântica ou emocionalmente. A orientação
sexual vai para além do binômio heterossexual vs. homossexual, expandindo-se para
bissexual, assexual ou pansexual.

FIGURA 23 - ORIENTAÇÃO SEXUAL

Heterossexual Homossexual Bissexual Assexual Pansexual

Atração por Atração por Atração por Nenhuma Atração por


pessoas do pessoas do pessoas do atração sexual. todos os
gênero oposto. mesmo mesmo gênero gêneros.
gênero. e do gênero
oposto .

Fonte: Elaborada pela autora, 2019.

6.1.1.3 IDENTIDADE SEXUAL OU DE GÊNERO

Indica a percepção sobre o gênero que uma pessoa tem de si mesma. A elaboração da
identidade sexual pressupõe identificações com papéis sociais, experimentações, dife-
renciações e liberdade de opção. Apresenta expectativas de comportamento e valores
que se veiculam diretamente ao papel esperado para cada gênero (DALL´AGNOL, 2003).

FIGURA 24 - IDENTIDADE DE GÊNERO

Indivíduo que se identifica e se


Cisgênero apresenta com o seu gênero biológico.

Indivíduo que não se identifica


Transgênero com o gênero biológico.

Indivíduo cuja expressão de gênero


Não-binário não se limita às categorias "masculino"
ou "feminino".

Fonte: Elaborada pela autora, 2019.

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Educação, Saúde e Sexualidade

6.1.2 EDUCAÇÃO SEXUAL: POSSIBILIDADES


DIDÁTICAS

A educação sexual nas escolas tem uma tradição de ser, em grande parte, oferecida
nas disciplinas de ciências e biologia. Os temas vão desde puberdade e menstrua-
ção, passando pelo aparelho reprodutor masculino e feminino, virgindade, iniciação
sexual, até discussão sobre DSTs, HIV e AIDS e gravidez na adolescência.

Furlani (2016) apresenta as abordagens para a educação sexual nas escolas, desde as
tradicionais até as mais contemporâneas. São essas concepções que estão presentes
nas práticas pedagógicas cotidianas nas escolas, na atuação de professores, repercu-
tindo o modo como se tem lidado com a sexualidade no contexto escolar.

Abordagem biológico-higienista

Prioriza a discussão sobre o desenvolvimento sexual humano, dando ênfase aos


aspectos biológicos para a promoção da saúde, da reprodução, das DSTs e da gravi-
dez não desejada.

É higienista porque considera o sexo como algo sujo, por isso a “pureza” (sexual)
seria a forma mais eficaz de prevenir DSTs e gravidez não desejada.

A crítica a essa abordagem é em relação ao fato de ser considerada exclusiva, ou seja,


acredita-se que ela “dá conta” das demandas que precisam ser atendidas na adoles-
cência, o que torna o currículo reducionista e limitado. De acordo com a aborda-
gem, é nesse período de vida que ocorre a iniciação sexual, portanto é também nesse
período que a discussão sobre esses assuntos devem ser iniciadas.

Abordagem moral-tradicionalista

Atrelada a princípios da moral tradicional e religiosa, defende a completa priva-


ção sexual como forma de prevenção às DSTs, HIV, Aids e gravidez na adolescência,

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afirmando que a abstinência é o método 100% eficaz para se evitar essas situações
(ASSOCIAÇÃO NACIONAL PRÓ-VIDA E PRÓ-FAMÍLIA, 2002 apud FURLANI, 2016).

A chamada “educação da abstinência” é defendida como educação sexual para a


adolescência, na contramão da difusão de informações sobre sexo consciente e segu-
ro. Nela defende-se uma educação separada para meninos e meninas; a castidade
pré-marital, o casamento e a monogamia. Pregam a intolerância com a diversidade
e com as concepções e manifestações da sexualidade que não sejam reprodutivas
(FURLANI, 2016).

Castidade pré-marital: abstinência sexual antes do casamento.

Monogamia: ter apenas um conjugue, um parceiro sexual, enquanto se estiver


casado.

A campanha “Eu escolhi esperar” foi criada em 2011 em Vila Velha/ES com o
propósito de orientar, encorajar e fortalecer solteiros cristãos a esperarem para
viverem suas experiências sexuais apenas após o casamento. A campanha, que
tem projeção nacional e milhões de seguidores, defende que se deve viver uma
vida em pureza e santidade, baseada nas escrituras sagradas. É voltada tanto
para pessoas virgens, como para quem já teve experiências sexuais e agora opta
por se preservar até o casamento.

Fundamentando sua crítica a essa abordagem, Furlani (2016) chama a atenção para
o fato de a mesma defender que a educação sexual deve ser de responsabilidade da
família, que deve desencorajar o sexo e a reprodução. Para a autora, esse modelo priva
os jovens de informação a partir da censura e constrói enunciados que legitimam a
homofobia.

Abordagem terapêutica

Busca causas e explicações para os “problemas sexuais” ou para as manifestações

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sexuais consideradas “anormais”, apresentando ideias simplistas, genéricas e univer-


sais para o que se refere à vida sexual.

O Grupo Exodus é ligado a igrejas cristãs evangélicas e adota uma concepção


de educação sexual que rejeita a homossexualidade, assumindo-a como mal
indesejado, mas que pode ser curado. Nesse sentido, propõe-se a oferecer espe-
rança às famílias e apoio às pessoas que lutam contra os sentimentos homosse-
xuais (CARVALHO, 2004).

A abordagem terapêutica entende que o crescimento e desenvolvimento psicosse-


xual da criança deve ocorrer pela aproximação do menino com o pai e da menina
com a mãe. A criança precisa do referencial do genitor do mesmo gênero para que
este aprove e confirme sua masculinidade ou feminilidade. Assim, se o pai ou a mãe
for ausente, negligente ou violento, pode ocorrer a falta de amadurecimento psicos-
sexual necessária, podendo levar a criança a desenvolver uma orientação homosse-
xual (CARVALHO, 2004). Para essa abordagem,

(...) A carência de uma relação positiva, íntima e satisfatória com o pai resulta
num vazio emocional e em necessidades insatisfeitas que a mãe não pode
suprir porque ‘isso é coisa de homem’. Assim, ao afirmar que a mãe (mulher)
não apenas é incapaz de suprir a ausência do pai (homem) na educação da
criança, como também, muitas vezes, atrapalha e agrava o quadro por super-
proteger o filho, [a abordagem], além de homofóbica, expressa um sexismo e
uma misoginia evidentes (FURLANI, 2016, p. 19).

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Misoginia: ódio, desprezo ou preconceito contra meninas e mulheres, que pode


ser manifesto pela exclusão social, negação de direitos, hostilidade e discrimi-
nação sexual.

Abordagem religioso-radical

Apresenta apego e interpretação literal da Bíblia, colocando o discurso religioso


sobre a sexualidade como uma verdade incontestável. Furlani (2016) denuncia que
essa forma de interpretação acentua e legitima a homofobia, a segregação racial e a
opressão à mulher.

A “Carta aos bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do homem e da


mulher na Igreja e no mundo” afirma que o feminismo contribuiu para que
surgissem ideologias de igualdade entre homossexuais e heterossexuais e ques-
tionam o modelo de família biparental (com a presença de pai e mãe), apresen-
tando a sexualidade como algo múltiplo e diverso (SABINO, 2004, p. 86, apud
FURLANI, 2016, p. 21).

Nessa abordagem, a sexualidade entendida como “normal” é aquela que se manifes-


ta após o casamento, buscando a pureza da vida em família, sem uso de preservativos
e sem a prática de sexo oral e anal (LÍRIO, 2004). Aos solteiros, é pregada a castidade.

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Educação, Saúde e Sexualidade

A “Canção Nova” é um exemplo de comunidade que busca evangelizar através


dos meios de comunicação. Ela orienta seus seguidores sobre a vida em socie-
dade e busca educar os jovens para que vivam em abstinência sexual e vençam
“as tentações da carne”, como usar drogas, bebidas e praticar sexo fora do casa-
mento. O principal programa de rádio da comunidade chama-se Por Hoje Não
vou Pecar (PHN) (LÍRIO, 2004) e um slogan muito difundido entre os jovens é o
“Castidade! Deus quer, você consegue” (BARRETO, 2005).

O teórico Jeffrey Weeks (2000) vê certa semelhança entre as abordagens moral-tradi-


cionalista, terapêutica e religiosa-radical, indicando que a preocupação central destas
está no controle da permissividade sexual, ameaçado pelas seguintes questões:

FIGURA 25 - QUESTÕES QUE AMEAÇAM A TENTATIVA DE


CONTROLE DA PERMISSIVIDADE SEXUAL

Promovido pelos
Promovido movimentos gays e
pelo feminismo lésbicos em busca de uma
educação sexual liberal

Ataque à
Ameaça à família
heterossexualidade

Questionamento
Ameaça aos valores
dos papéis sexuais

Fonte: Adaptada de WEEKS, 2000, p. 76-77.

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Para Weeks (2000), ao questionar os papéis sexuais e problematizar as relações de


gênero, o feminismo ameaça a família, pois questiona as relações de poder dos
homens sobre as mulheres. Já o ataque à heterossexualidade promovido pelos movi-
mentos homossexuais ameaça os valores da sociedade ao se buscar uma educação
sexual liberal.

Abordagem dos direitos humanos

Assume o contexto educacional como um local não apenas de reprodução de pensa-


mentos e atitudes excludentes, mas também de resistência e contestação de grupos
marginalizados e discriminados por causa de sua condição social, de seu gênero, orien-
tação sexual, raça, etnia, condição física ou intelectual. Busca minimizar e combater a
discriminação, injustiça e desigualdades que esses grupos sofrem no ambiente esco-
lar através de uma educação que explicita e problematiza as representações nega-
tivas e as identidades “excluídas” desses grupos. Um bom exemplo para se entender
essa abordagem é pensar a educação de alunos refugiados. O processo educacional
é assumidamente político e compromete-se com o acolhimento a essa população e
tratamento equitativo, garantindo os mesmos direitos sexuais, reprodutivos e acesso
ao debate sobre saúde e sexualidade. Essa abordagem contribui para a construção
de uma sociedade mais humana e menos desigual (FURLANI, 2016).

Abordagem dos direitos sexuais

Entende a sexualidade como algo plural e diverso, já os direitos sexuais, como funda-
mentais e universais. Aborda a liberdade sexual como premissa base para o trabalho
com a educação sexual, abordando questões de ordem afetiva e prazerosa, além das
questões biológicas e reprodutivas, discutindo e problematizando relações de gênero,
exclusão, preconceito, controle, hegemonia e discriminação sexual (FURLANI, 2016).

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Educação, Saúde e Sexualidade

A “Declaração dos direitos sexuais” é um documento político de reivindicações e


conquistas. Reconhece a sexualidade como um direito humano fundamental e
universal e apresenta em seus artigos: o direito à liberdade, autonomia e integrida-
de sexual, à segurança do corpo, o direito à privacidade, à justiça e ao prazer sexual,
à expressão sexual e emocional, à livre parceria sexual, a fazer escolhas livres, produ-
tivas e responsáveis, à informação baseada em evidência científica e à educação e
saúde sexual. Consulte o documento na íntegra, disponível na Internet.

Abordagem emancipatória

Advinda das ideias de Paulo Freire e de sua luta por uma educação libertadora, a
abordagem emancipatória busca a formação de indivíduos autônomos, capazes de
pensar por si só, para a construção de uma sociedade mais consciente e menos desi-
gual. Por meio da prática dialógica e antiautoritária, explicita que o processo educati-
vo não é neutro, por isso, quando se propõe a ser crítico, participativo, flexível e dialó-
gico, pode libertar o indivíduo para que promova uma transformação social.

[...] Uma abordagem de educação sexual emancipatória é visualizada como


uma intervenção qualitativa, intencional, no processo educacional [...] que
busca desalojar certezas, desafiar debates e reflexões [...] contribuindo na
busca pela cidadania para todos (MELO, 2002, p. 37-38).

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FIGURA 26 - CONCEITOS-CHAVE DA ABORDAGEM EMANCIPATÓRIA

Autonomia

Emancipação

Consciência

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Assim, na abordagem emancipatória parte-se de um modelo educacional que prio-


riza a problematização das questões, valorizando a participação e diálogo dos indiví-
duos para despertar a consciência crítica que os leve à libertação (emancipação) de
sua condição (de ignorantes, oprimidos, subjugados), permitindo o desenvolvimento
da autonomia de pensamento (MELO, 2000).

Abordagem queer

A teoria queer surge da aliança entre o movimento LGBTQ e as feministas e é uma


linha de pensamento que vai contra a padronização e classificação de identidades.
É orientada pela política das diferenças e da subversão e busca transformar a socie-
dade para que não existam mais os conceitos de “normal” e “anormal” em relação à
sexualidade.

A educação sexual baseada nos pressupostos da teoria queer rejeita, então, toda
forma de normatividade, buscando questionar e romper com os modelos que apre-
sentam a existência de uma única identidade, pois, com isso, outras identidades têm
sido negadas, invisibilizadas ou têm sido vítimas de preconceito, como as travestis e
as drag queens. A abordagem queer questiona a identidade estável e fixa propondo
uma política da diferença que permita conhecer e pensar a sexualidade de forma
mais ampla.

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Educação, Saúde e Sexualidade

Nesse sentido, um currículo voltado a essas ideias se proporia a “desconfiar” dos


conhecimentos prontos, questionando o que é estável e fazendo um enfrentamento,
contestando o que está posto como verdade. A premissa seria a discussão de como
cada identidade é construída e como tem sido valorizada ou desvalorizada social-
mente, desconstruindo o pressuposto de normalidade.

Uma escola que adota a abordagem queer em sua proposta pedagógica propo-
ria intervenções críticas (reflexivas) ou até mesmo subversivas das relações de
poder entre a sexualidade heteronormativa e a relações de gênero, buscan-
do demonstrar que a normalidade é um produto cultural, histórico, político e
intencionalmente formulado e, por isso mesmo, questionável, instável e mutá-
vel (FURLANI, 2016).

Assim, “uma pedagogia e um currículo queer estariam voltados para o processo de


produção das diferenças e trabalhariam, centralmente, com a instabilidade e a preca-
riedade de todas as identidades” (LOURO, 2004, p. 48).

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LGBTQIA+: sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros (transexuais e traves-


tis), queers, intersexo, assexuais e mais. A sigla também é utilizada como o nome
do movimento pela luta dos direitos desses grupos e contra a homofobia. O L de
“lésbicas” no início é para destacar a desigualdade de gênero, também diferen-
ciando homossexuais femininas e masculinos.

Transexuais: pessoas que não se identificam com o corpo biológico. Nascem


com um sexo biológico, mas se sentem pertencentes ao gênero oposto (BRETAS,
2011).

Travestis: pessoas que se vestem e transformam seu corpo conforme o sexo


oposto, sentindo-se homem e mulher ao mesmo tempo. Podem ser heterosse-
xuais, bi ou homossexuais (BRETAS, 2011).

Drag queens: pessoas que através de roupas e atitudes exageradas criam perso-
nagens do sexo oposto para brincar com os papéis sexuais. Podem ser heteros-
sexuais, bi ou homossexuais (BRETAS, 2011).

Intersexo: pessoas que nascem com anatomia sexual que não corresponde à
definição típica de feminino ou masculino. Por exemplo: a pessoa pode nascer
com aparência exterior masculina, mas sua anatomia reprodutiva ser feminina.

Assexuado: pessoa que não sente atração sexual.

Todas essas oito abordagens apresentam as formas como a educação sexual tem sido
compreendida hoje no Brasil. Conhecer essas concepções é essencial ao professor,
pois são elas que embasam a prática pedagógica cotidiana dentro das escolas.

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6.1.3 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO SAUDÁVEIS E


NÃO PUNITIVAS NOS CASOS DE MANIFESTAÇÃO DA
SEXUALIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR

Quando a escola reconhece que a sexualidade faz parte do processo de desenvol-


vimento humano, assumir a responsabilidade por uma educação sexual torna-se
essencial à formação integral do aluno. Abordar a educação sexual de forma trans-
versal e abrangente nas práticas pedagógicas significa prover crianças e jovens de
informações de qualidade que lhes permitirão reconhecer seus direitos, entender
suas responsabilidades, identificar situações de preconceito e gozar de uma vida de
cidadania plena. Mas como fazer isso? Por onde começar?

Furlani (2016) propõe etapas didáticas de atividades para a educação sexual na


educação, a saber:

• conhecer as partes do corpo de meninos e meninas;

• entender noções de higiene pessoal;

• entender o conceito de nudez;

• entender o conceito de privacidade;

• problematizar a linguagem (nomes familiares vs. nomes científicos);

• conhecer os vários modelos de famílias;

• iniciar o entendimento acerca das “diferenças” (pessoais, familiares, linguísti-


cas) ao encontro das diferenças de gênero, sexual, racial, étnica, etc.;

• apresentar a educação de meninos e meninas a partir dos estudos de gênero;

• discutir informações sobre as futuras mudanças do corpo na puberdade.

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Desde a educação infantil se deve questionar com as crianças as normas e


padrões associados a cada um dos gêneros: que cor é de menino, que cor é
de menina, que brinquedo é de menina, que brinquedo é para menino. Como
menina deve se comportar, como menino pode se comportar. Debater essas
questões desde as etapas mais elementares de escolarização ajuda a descons-
truir ideias equivocadas de marcadores de gênero para a definição de compor-
tamentos, atitudes e papéis sociais.

Para crianças maiores, adolescentes, algumas questões podem ser problematizadas


e discutidas, dando oportunidade aos alunos de falarem livremente sobre suas dúvi-
das e curiosidades sobre temas que envolvam a sexualidade. Para isso, pode-se:

• problematizar a linguagem, nomeando as partes do corpo, as diferenças de


identidade e orientação sexual;

• mostrar a pluralidade de formas de viver e manifestar a sexualidade;

• questionar o tratamento genérico no masculino;

• problematizar as discussões sobre relações de gênero.

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Educação, Saúde e Sexualidade

Quando o educador presenciar situações de machismo entre os alunos, é


fundamental deixar de naturalizar esses episódios. Pode-se problematizar essa
questão debatendo sobre o respeito à mulher. É importante não usar diferen-
tes critérios para o comportamento de meninas e meninos, como se o interes-
se sexual fosse apenas dos garotos. As questões muito ouvidas nesses casos,
como “Você não provocou?” e “O que você fez para ele agir assim?”, devem ser
refletidas, para que se proponha uma mudança de comportamento. Os alunos
e alunas precisam aprender que assédio e atos violentos sempre são culpa do
agressor, e não da roupa ou atitude da vítima.

O trabalho com a temática da sexualidade na escola também pode ser desen-


volvido criando-se projetos, oficinas e rodas de conversas a partir das dúvidas
dos estudantes. É importante mapear o que os alunos já sabem e quais são
as principais dúvidas e curiosidades, para que se promova reflexão crítica, se
desconstrua falsas ideias e se promova um ambiente saudável e propício ao
aprendizado das questões que envolvem a sexualidade.

Conversar com crianças e jovens sobre essas temáticas é respeitar suas dúvidas,
sua necessidade de informação, reconhecendo essa curiosidade como natural. Isso
permite um crescimento mais tranquilo e seguro, responsável. Independentemente
do tipo ou da forma de manifestação, estudiosos da área são unânimes em recomen-
dar que não se deve silenciar, punir ou negativizar a sexualidade.

É importante, portanto, definir e implementar na escola espaços permanentes de


diálogo sobre a sexualidade, nos quais os alunos sintam-se acolhidos e livres para
sanar suas dúvidas e curiosidades.

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BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os
assuntos abordados na disciplina.

• FURLANI, Jimena. Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orien-


tação sexual e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferen-
ças. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

O livro “Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual e igual-
dade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças” traz nos capítulos 5 e 7
dicas de atividades para se trabalhar a educação sexual na escola desde a educação
infantil até o final do ensino fundamental. Vale a pena conferir!

CONCLUSÃO
Nesta unidade, você estudou as abordagens contemporâneas para a educação sexual
na escola, conhecendo os principais pressupostos teóricos e práticos que norteiam as
ações com a temática da sexualidade no ambiente escolar. Para isso, foram apresen-
tadas as abordagens tradicionais e inovadoras, discutindo suas implicações para o
ensino de crianças e adolescentes. Foram conceituados os termos gênero, orientação
sexual e identidade sexual, apresentando as características de cada conceito e as dife-
rentes categorizações nas quais se enquadram a percepção humana, forma de ser e
orientação do desejo. O conceito de gênero foi problematizado à luz das teorias que
o entendem como algo que vai para além da diferenciação biológica entre homem
e mulher, menino e menina. Depois, a orientação sexual foi discutida como algo não
binário (heterossexual vs. homossexual), mas como um conceito mais amplo, que
engloba a assexualidade, a bissexualidade e a panssexualidade. Para a compreen-
são dos tipos de identidade sexual existentes, foram abordadas as características que
definem os cisgêneros, transgêneros e os não binários e, por fim, foram apresentadas
algumas possibilidades didáticas para o trabalho com a temática da sexualidade na
educação infantil e fundamental.

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Educação, Saúde e Sexualidade

Conhecer esses modelos e ter contato com as diferentes possibilidades de se traba-


lhar a sexualidade no âmbito escolar é fundamental ao professor de qualquer disci-
plina, pois a sexualidade faz parte da natureza humana e, como tal, se manifestará
em crianças, jovens e adultos de diferentes idades. Entender os conceitos e saber
diferenciar estratégias pode auxiliar o professor a pensar formas mais eficazes de
abordar a sexualidade em seu cotidiano de trabalho, tendo na diferença (própria a
todo tipo de grupo) algo que pode ser explorado e problematizado, contribuindo no
desenvolvimento e na aprendizagem de todos os alunos.

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