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SOCIOLOGIA
MISSÃO
VISÃO
EDITORIAL
Seja bem-vindo!
LISTA DE FIGURAS
>>FIGURA 1 - Sociedade 13
>>FIGURA 2 - Karl Marx 16
>>FIGURA 3 - Max Weber 18
>>FIGURA 4 - Foto do busto de Émile Durkheim 20
>>FIGURA 5 - Práticas sociais 22
>>FIGURA 6 - Conceito de trabalho (esforço físico e intelectual) 29
>>FIGURA 7 - Carpinteiro fazendo uma cadeira 30
>>FIGURA 8 - Divisão social do trabalho 33
>>FIGURA 9 - Trabalho parcelado 35
>>FIGURA 10 - Socialização entre colegas 38
>>FIGURA 11 - Socialização na escola 39
>>FIGURA 12 - Sistema de ensino 40
>>FIGURA 13 - Antônio Gramsci 46
>>FIGURA 14 - Intelectual 47
>>FIGURA 15 - Conceito de movimentos populares 50
>>FIGURA 16 - Educação como transformação social 53
>>FIGURA 17 - Processo de conhecimento 55
SUMÁRIO
CONCLUSÃO 25
INTRODUÇÃO DA UNIDADE 27
2.1 DEFINIÇÃO SOBRE TRABALHO 27
2.1.1 A RELAÇÃO EDUCAÇÃO E TRABALHO 31
2.1.1.1 A DIVISÃO DO TRABALHO E SOCIEDADE CONFORME DURKHEIM 37
CONCLUSÃO 41
CONCLUSÃO 58
SUMÁRIO
CONCLUSÃO 73
CONCLUSÃO 87
CONCLUSÃO 102
REFERÊNCIAS 103
ICONOGRAFIA
ATENÇÃO ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
PARA SABER
SAIBA MAIS
ONDE PESQUISAR CURIOSIDADES
LEITURA COMPLEMENTAR
DICAS
GLOSSÁRIO QUESTÕES
MÍDIAS
ÁUDIOS
INTEGRADAS
ANOTAÇÕES CITAÇÕES
EXEMPLOS DOWNLOADS
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Caro aluno, seja bem-vindo!!
Você iniciará a disciplina Sociologia, que se objetiva a proporcionar uma reflexão sobre
o referencial teórico-sociológico da educação, bem como a compreensão da educa-
ção como processo social de integração, contradição e transformação da sociedade.
Para que você tenha um bom desenvolvimento nesta disciplina, é importante parti-
cipar de todas as atividades propostas, como fóruns de discussões e leitura dos ma-
teriais complementares.
Objetivos da disciplina
Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de:
UNIDADE 1
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
1 SOCIEDADE, SOCIOLOGIA
DA EDUCAÇÃO E OS SEUS
CLÁSSICOS
Esta unidade possibilitará a você uma reflexão sobre a concepção de sociedade, pers-
pectivas dos clássicos da sociologia e definição da sociologia da educação, de modo
que você faça uma distinção dos conceitos e ainda apresente argumentos que justi-
fiquem suas opiniões a respeito deles.
Espera-se que esta unidade lhe propicie conhecimentos para analisar a educação
como processo social de integração, contradição e transformação da sociedade. A ex-
pectativa é que, a partir destes estudos, você possa construir a sua prática de pedagogo.
Esta unidade está organizada em três tópicos: breves reflexões sobre o conceito de
sociedade; os clássicos da sociologia; conhecendo a sociologia da educação.
A realidade de muitos brasileiros – que pode ser a sua ou a de pessoas que você
conhece – envolve atividades escolares e trabalhos muito exaustivos. Há quem
precise trabalhar em dois ou mais empregos para sobreviver na sociedade atual.
Mesmo quem está desempregado e/ou divide o trabalho doméstico com os pa-
rentes, certamente cuida da casa, de um ente querido, vai à feira, participa de
atividade da associação de bairro (ou outra), faz trabalho voluntário... E, para isso,
cada pessoa usa a sua capacidade física e intelectual – em graus diferenciados e de
acordo com as exigências
Você provavelmente não fabricou as roupas que usa, não cultivou os alimentos que
consome, não construiu a casa em que mora. Se você se encaixa nesse perfil, significa
é um trabalhador intelectual, isto é, um trabalhador que usa mais os componentes
intelectuais que os físicos na realização do seu trabalho.
Esta sociedade de mercado convive com uma imensa variedade de pessoas que nela
estão inseridas das mais diversas formas. Nesta sociedade, também há uma imensa
variedade de produtos que circulam nas mais diversas direções. Em síntese, vive-se
numa sociedade capitalista com alto grau de divisão do trabalho. E, querendo ou
não, achando bom ou ruim, vivendo bem ou mal, todos fazem parte dela – e tentar
ficar fora é praticamente impossível.
FIGURA 1 - SOCIEDADE
Aqui, será discutida a sociedade como objeto de análise de uma ciência social cha-
mada sociologia. De acordo com Ferreira (1996), a sociologia é uma ciência que teve
origem na segunda metade do século XIX tentando explicar aquela nova sociedade
que havia se constituído na Europa: a sociedade industrial ou capitalista ou, ainda, a
sociedade de mercado.
Tal sociedade capitalista que se formou na Europa e nos Estados Unidos ao longo
dos séculos XVIII e XIX foi expandindo seu modo de organização em todo o globo no
século XX. Pode-se dizer que se trata do início da globalização. Atualmente, na maior
parte do mundo predomina a organização capitalista do trabalho, ainda que essa
organização apresente diferenças fundamentais – pense, por exemplo, nas diferenças
entre o Japão, os Estados Unidos e o Brasil. Mesmo apenas o Brasil ficar como referên-
cia, se observará que há diferenças fundamentais entre a forma como o capitalismo
se manifesta em São Paulo e na região Nordeste.
Veja um exemplo:
No caso em questão, há três autores clássicos: Karl Marx, Max Weber e Émile Dur-
kheim. Eles elaboraram análises sociológicas fundamentais para o entendimento de
como se constitui a vida em sociedade. Produziram suas análises no fim do século
XIX e início do século XX, no momento em que se consolidava a sociedade capitalista.
O pensador Karl Marx, alemão, nasceu em 1818 e morreu em 1883. As biografias rea-
lizadas sobre Marx no mundo inteiro enfatizam que ele se tornou um revolucionário
socialista com críticas fortes ao sistema capitalista, fundamentado na doutrina do
comunismo.
Marx enfatizava que o modo de produção capitalista era superior a todos os outros
até então conhecidos, especialmente por sua eficiência em produzir mercadorias.
Para Rodrigues (2002), as forças produtivas do capitalismo tendiam a superar todos
os outros modos de produção, expandindo-se para o mundo todo. Quanto mais elas
se expandiam, mais o capitalismo transformava tudo em mercadoria, convertendo o
mundo num grande mercado.
Chama-se de mercado aquele lugar ao qual se vai para fazer feira. É um espaço con-
creto, visível, em que as pessoas trocam seus produtos por outros, vendem produtos
para comprar outros, vendem para acumular dinheiro ou apenas compram algum
produto. Esse tipo de mercado existe desde a antiguidade. Inicialmente, as pessoas
trocavam produto por produto. Imagine você, como professor, recebendo um boi de
um fazendeiro ou um tijolo do pedreiro em troca do seu trabalho de ensinar aos filhos
dele! Com o tempo, desenvolveram-se mecanismos para facilitar as trocas. Surgiu o
dinheiro. Isso quer dizer que o dinheiro passou a ser o equivalente geral de trocas.
Mas existe um outro tipo mercado – mais amplo, genérico, invisível. É o mercado ca-
pitalista. Apesar de se sustentar em trocas concretas, esse é um mercado de difícil
apreensão, porque não se limita a um lugar específico e vai se tornando, com o tem-
po, cada vez mais complexo. Hoje você vai a uma loja e compra roupa de seda impor-
tada da China, ganha um CD de música norte-americana, compra um carro montado
no Brasil com peças fabricadas na Alemanha utilizando de tecnologia japonesa.
Uma empresa capta dinheiro no mercado vendendo suas ações na Bolsa de Valores;
os trabalhadores protestam porque o salário está baixo; o governo aumenta os juros
para conter o consumo... Segue um exemplo atual: os lucros das empresas estran-
geiras que possuem filiais no Brasil e em outros países são remetidos para a matriz;
o investidor (ou especulador) transfere seus dólares para outros países; o empresário
desloca a sua empresa para um lugar em que o valor dos salários é menor.
Para Piletti (1999), esse tipo de mercado começou a ganhar forma a partir da Idade
Moderna – do século XVI ao XVIII. Essa foi a época das grandes navegações, dos gran-
des descobrimentos e das chamadas revoluções burguesas, entre elas a Indepen-
dência Norte-Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789-1798). Além disso, não
se pode esquecer da Revolução Industrial, que, a partir de meados do século XVIII,
transformou definitivamente o modo de vida do ser humano.
O pensador Max Weber, também alemão, nasceu em 1864 e morreu em 1920. Ele foi
reconhecido e conhecido devido à “teoria dos Tipos Ideais”, método que coloca a in-
tenção do pesquisador, cientista social, perante as situações da realidade. Os livros de
destaques de Weber são “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, “O espírito
do capitalismo e a economia e sociedade”.
De acordo com Lenhard (1985), a ação social é um dos conceitos básicos com os
quais Weber constrói sua ideia de sociedade.
Uma ação social quando aquele que age o faz em função de um sentido previa-
mente atribuído à sua relação com outro ou outros. O sentido dessa ação é esta-
belecido em função do significado que ela tem para o agente. A realidade social
é teia de significados construída pelos indivíduos em ação. Max Weber elaborou
uma sociologia da ação social, demonstrando que a sociedade resulta das múl-
tiplas interações de indivíduos num determinado meio (LENHARD, 1985, p. 62).
Para Weber, a classe trabalhadora pode ter pensamentos e ações parecidos em prol de
um objetivo comum, um exemplo é a fundação de sindicatos. Entretanto, nem todos
os trabalhadores têm a obrigação de se filiarem, e os que sindicalizam também po-
dem não engajar nos processos de reivindicações pelos objetivos da categoria, porque
são eles próprios que atribuem sentido às suas ações. Esses agentes atribuem sentidos
diferentes às suas ações porque as coisas têm significados diferentes para eles.
Dessa forma, para Weber não tem como afirmar que todas as pessoas se envolverão
na busca de uma mudança social, visto que cada uma tem interesses particulares.
Por exemplo, um grupo de trabalhadores de determinada categoria participa de reu-
niões, manifestações e ações no período da manhã e tarde; quando terminam essas
atividades, cada trabalhador escolhe o que fará, uns vão para casa, outros, para bares,
outros, para faculdades ou escolas (para se qualificarem), devido à liberdade de esco-
lha que os seres humanos possuem.
O segundo tipo de ação social é a ação racional vinculada aos valores, por ela fazer
parte do campo da razão, pressupõe também uma organização e planejamento. En-
tretanto, ela ocorre em função do que está em destaque na sociedade no momento,
permitindo uma rotatividade de objetivos.
Émile Durkheim defende a perspectiva que a sociedade é formada por fatos sociais
que interagem entre si. Isso quer dizer que os fenômenos existentes em uma socie-
dade possuem independência, mas ao mesmo tempo convivem no mesmo espaço
social. Por exemplo: o trabalho, a educação e a religião são fatos sociais existentes em
uma sociedade, porém cada um tem a sua existência própria e exerce uma função
de influência externa na vida das pessoas.
Conforme Rodrigues (2002), para Durkheim, desde o nascimento de uma pessoa, nos
seus primeiros dias de vida, ela já se encontra inserida em um espaço rodeado de
costumes, normas e culturas que são perpassados por meio da educação. Nesse sen-
tido, Durkhem enfatiza que a sociedade influencia no modo de vida do ser humano,
proporcionando uma coerção e coesão social.
Quando a divisão do trabalho cresce, ocorre o aumento das diferenças sociais, conse-
quências das sociedades contemporâneas que exigem o respeito e a cooperação nas
ações desempenhadas.
A sociedade é o lugar de inserção social dos indivíduos. Esse lugar pode ser analisado
sob a perspectiva das classes sociais, como fez Marx; da ação social, como o fez Weber,
ou da solidariedade social, como o fez Durkheim. Já a educação, para Kruppa (2000),
é uma prática social. Ela existe em todas as sociedades como forma de socialização
dos indivíduos, isto é, como meio de tornar os indivíduos membros da sociedade.
O objetivo principal dessa disciplina era realizar uma análise objetiva dos sistemas
de ensino, de sua história e de suas funções, de seus conteúdos e de seus ideais, para
conseguir o resultado de mobilizar os professores, dando-lhes a “fé”. Baudelot cita o
que Durkheim escreveu há mais de 100 anos.
Observe que Durkheim identificava uma crise na educação francesa do seu tempo e
pretendia estimular nos professores um novo entusiasmo em relação ao trabalho pe-
dagógico. Ele acreditava que, assim, poderiam ser superadas relações sociais em crise
e que uma educação bem orientada pela nova ciência social que educava poderia
promover a reconstrução da sociedade.
Também um outro objetivo da sociologia da educação era, por meio da análise cientí-
fica, fundamentar os professores de conhecimento sobre os sistemas de ensino, de for-
ma que eles pudessem contribuir para transformá-lo como conhecimento de causa.
Saiba mais
Para que você possa entender melhor esse tema, faça a leitura do docu-
mento “A sociologia funcionalista nos estudos organizacionais: foco em Dur-
kheim”, elaborado por Augusto Cabral. Esse documento está disponível no
portal Scielo.
CONCLUSÃO
Nesta unidade, você refletiu sobre os conceitos de sociedade, as perspectivas dos
clássicos da sociologia, como Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim, bem como
sobre a sociologia da educação, apresentando o seu enfoque e origem.
Foi possível constatar que a relação entre educação e sociedade é intrínseca, uma vez
que a educação é fator de desenvolvimento social, de reprodução da herança cultural
da humanidade ou dos meios de dominação vigentes na sociedade de classes.
UNIDADE 2
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
2 TRABALHO E EDUCAÇÃO:
ASPECTOS SOCIOLÓGICOS
Nesta unidade será discutida a relação trabalho e educação sob a perspectiva so-
ciológica, por meio de uma breve contextualização do conceito de trabalho e tam-
bém de uma reflexão sobre a interação entre educação e trabalho, bem como a
divisão do trabalho e sociedade de acordo Durkheim. Desse modo, fundamenta-
dos em autores de referência como Roberto Martins Ferreira (1996), Nelson Piletti
(1999) e Alberto Tosi Rodrigues (2002), traremos uma reflexão e compreensão so-
bre a temática.
INTRODUÇÃO DA UNIDADE
Esta unidade permitirá uma reflexão sobre a educação e trabalho de modo a propi-
ciar uma análise crítica sobre essa temática. Inicialmente, será apresentado o con-
ceito de trabalho; posteriormente, uma discussão da relação educação e trabalho
na perspectiva sociológica e, por último, a definição da divisão trabalho e sociedade
conforme Durkheim.
Esperamos, também, que esses estudos lhe propiciem uma fundamentação para
que você compreenda esta análise crítica e reflexiva do contexto educacional. Esta
unidade está organizada em três tópicos: Definição sobre trabalho; A relação educa-
ção e trabalho; A divisão do trabalho e sociedade conforme Durkheim.
No âmbito da vida social, nota-se que a partir do momento em que o trabalho passa
Sob essa análise, de acordo com Marx, o trabalho configura uma ação reflexiva e com
uma finalidade; ainda possibilita ao homem exercitar a sua criatividade e inteligên-
cia, pois, diferentemente dos outros seres, sua ação é pensada. Assim, para o autor
supracitado, o trabalho vai além de uma transformação da natureza existente, mas
também implica um processo que provoca uma transformação no próprio sujeito,
uma vez que propicia o desenvolvimento das suas capacidades intelectuais.
Desse modo, conforme Piletti (1999), o movimento intelectual que possibilita ao ho-
mem idealizar em sua mente o produto de seu trabalho e depois objetivá-lo de for-
ma concreta na realidade é concebido por Marx como a especificidade do trabalho
humano. Assim, o indivíduo atua sobre a natureza posta, concreta, modificando-a
segundo as suas necessidades em um processo que requer, além do desgaste físico
de seus membros, um esforço que também é intelectual.
Então, o trabalho é a uma ação pensada que não acontece ao acaso, é uma atividade
destinada a atingir um objetivo; uma ação que previamente é idealizada pelo sujeito,
que objetiva a sua vontade (o seu desejo) no campo real.
Entende-se, portanto, que sem a natureza o homem não pode existir, pois ela é a sua
fonte de sobrevivência e nela o homem encontra o fornecimento de matéria-prima,
ou seja, todo produto que já tenha sofrido uma transformação pelo trabalho vem da
natureza. Um exemplo é a madeira retirada da árvore para fazer móveis.
Não obstante, essa relação com a natureza é historicamente diferenciada tanto pela
forma como se dá a realização do trabalho quanto pelos instrumentos empregados
na mediação entre a natureza, pois, na medida em que a sociedade se desenvolve,
todas as formas que os homens estabelecem para relacionar uns com os outros, e os
Vale ressaltar que o trabalho não só transforma a natureza em produtos que lhes
são úteis ou em instrumentos de trabalho, mas também é um processo histórico de
constituição do ser social.
Isso porque todo objeto, quando é objetivado na realidade concreta, como bem lem-
bra SCHAEFER (2016), passa a ter uma história própria e, por sua vez, passa a fazer
parte da história dos indivíduos, pois influencia tanto o sujeito que o criou quanto os
indivíduos que vivem no meio onde foi realizado.
O que se pretende dizer é que as sociedades evoluem a partir dos meios que são
construídos pelos homens por meio do trabalho, ou seja, o trabalho torna-se a base
de construção da sociedade. Assim, à medida que são criadas coisas novas, mais a
sociedade se desenvolve e mais o conhecimento é ampliado.
Sob essa análise, o trabalho – sendo um elemento que contribui para a apreensão do
saber e, por conseguinte, a aquisição desse conhecimento – permite a evolução da
humanidade e ocupará centralmente a vida dos homens, pois sem ele simplesmente
não existem e nem poderão se reproduzir socialmente.
É importante ressaltar que a Escola adquiriu e mantém uma centralidade como ins-
tituição educadora nas sociedades modernas. Nesse sentido, o educador e antro-
pólogo Carlos Rodrigues Brandão (1996) afirma que há diversos tipos de educação
– tantas quantas forem as sociedades existentes. Nesse sentido, seria bom conceituar
educação no plural, como educações, já que “a escola não é o único lugar onde ela
acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua prática e o professor
profissional não é o seu único praticante” (BRANDÃO, 1996, p. 9).
Observa-se que o ato de educar difere com o espaço, período e cultura em que é
inserido. Isso mostra que a educação está presente em diversas localidades, entre-
tanto a forma como ela é conduzida é diferente, conforme o contexto sociocultural
existente. Porém, não se pode confundir diferença com desigualdade; reconhecer as
diferenças é perceber que existem diferentes sociedades e diferentes culturas.
Além de ser o meio através do qual as culturas podem ser reproduzidas de geração
em geração, educação também é um meio em que podem ocorrer trocas entre di-
ferentes sociedades. Segundo Brandão (1996), a força da educação é esta: permitir
a ampliação do repertório cultural de uma sociedade, recriando valores e normas,
ideias e saberes, hábitos e crenças etc.
Mas ainda segundo Brandão (1996), é necessário reconhecer que existem relações
de desigualdade social que permitem a alguns povos e/ou classes sociais exercerem
a dominação sobre outros, utilizando a educação como o instrumento fundamen-
tal de dominação. Para o autor, a educação do colonizador não serve para ser a do
colonizado.
Existem, ainda, situações de desigualdades que não permitem à pessoa e/ou ao grupo
Você não pode confundir divisão social do trabalho com divisão técnica do trabalho.
A divisão social do trabalho aponta que em toda sociedade o trabalho está dividido
– ainda que de forma rudimentar. Nesse sentido, encontramos classificações como
trabalho rural e trabalho urbano, trabalho masculino e trabalho feminino, trabalho
intelectual e manual etc.
Para Gil (2011), ao analisar as relações de trabalho, Marx destaca três períodos funda-
mentais da sua organização: o artesanato, a manufatura e a grande indústria. Antes
de caracterizar cada um desses momentos, chamamos a atenção para uma situação
importante: a manufatura desencadeia a revolução no modo de produzir, porque
promove uma intensa divisão do processo de fabricação de um produto em etapas
diversas, cada uma a cargo de um trabalhador especializado. A grande indústria in-
corpora e amplia essa divisão, contando também a maquinaria, cada vez mais sofis-
ticada. Entretanto, ainda que o capitalismo se fundamente de forma expressiva na
grande indústria, ele não supera totalmente o artesanato. Você pode observar como
até nos dias de hoje a produção artesanal é intensa.
O artesão independente, que faz seus produtos para levar ao mercado, é o respon-
sável pela fabricação deles. Ele prepara a matéria-prima, realiza todas as etapas da
fabricação e comercializa o produto nos comércios. O artesão é, por assim dizer, au-
tônomo. É ele quem decide o que, quando e como fazer.
Nesse sentido, predominava a educação informal, que não possui um tempo de-
terminado para se realizar nem um currículo específico, como ocorre na educação
escolar.
Tal trabalho parcelado, ou seja, em que cada trabalhador cuida apenas de uma etapa
O trabalho parcelado em larga escala revolucionou a produção, uma vez que os tra-
balhadores passaram a se especializar na realização de parte do processo produtivo.
Em consequência, a educação modificou-se, pois passou-se a exigir dos trabalhado-
res uma aprendizagem ligada às atividades específicas que ele iria realizar.
Para Ferreira (1996), no campo educacional houve também uma revolução a partir da
qual a escola passou a ser reivindicada para a educação do povo. A educação, cada
vez mais associada à escola, passou a ser vista como um direito do cidadão e um de-
ver do Estado. Aqui, é apresentada a educação formal, ou seja, trata-se de concentrar
o ensino de conteúdos específicos, planejados em um currículo, em um tempo de-
terminado, sequencial, com avaliações, notas, aprovações, reprovações, certificados e
diplomas para aqueles que completam determinados níveis de escolarização. O novo
modo de produção passou a exigir trabalhadores cada vez mais qualificados para o
exercício de funções cada vez mais exigentes.
Para Durkheim, a educação é o mesmo que socialização e tem como objeto formal
o ser social, isto é, tornar o ser egoísta que somos ao nascer em um indivíduo social-
mente ajustado. Toda criança deseja que o mundo seja seu. É por meio da educação
que ela aprende a conviver na sociedade, reconhecendo o outro. Esse ser social é
produto da coerção exercida pela sociedade, que tende a moldar a criança à sua ima-
gem, “pressão de que tanto os pais quanto os mestres não são senão representantes
e intermediários” (DURKHEIM, 1990, p. 5).
Para Durkheim, a escola possuía uma importância fundamental por dois motivos
principais: 1) cabia a ela desenvolver as aptidões individuais, permitindo aos indiví-
duos se adequarem à divisão do trabalho; 2) por seu importante papel no processo
de socialização, criando e difundindo ideias que reforçam as estruturas da sociedade.
Segundo Durkheim, educação é:
A ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encon-
tram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvol-
ver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, recla-
mados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a
criança, particularmente, se destine (DURKHEIM, 1987, p. 42).
Durkheim chega a essa definição a partir de um diálogo crítico com ouros autores,
em uma abordagem histórica das práticas pedagógicas. Ele reconhece a influência
Nesse sentido, é por essa vertente, do uno e do múltiplo, que a educação exerce
uma função homogeneizadora, ou seja, aspecto uno, e diferenciadora, isto é, aspectos
múltiplos.
Para que você possa entender melhor este tema, faça a leitura do artigo “Traba-
lho e educação: fundamentos ontológicos e históricos”, elaborado por Dermeval
Saviani, disponível no Portal Scielo.
CONCLUSÃO
Esta unidade objetivou refletir sobre a interação trabalho e educação conforme uma
análise crítica e reflexiva dos aspectos sociológicos, de modo a permitir que os pro-
fissionais da educação entendam a origem, a influência e o impacto que a educação
vive decorrente de uma sociedade, de um sistema econômico-social vigente.
Foi possível constatar que Karl Marx faz uma análise crítica da divisão técnica de tra-
balho, porque, ao parcelar as atividades do processo de produção, essa divisão técni-
ca leva os trabalhadores a desenvolverem habilidades muito parciais e limitadas. Dur-
kheim, pelo contrário, diz que as pessoas têm habilidades apenas parciais, cabendo à
educação desenvolver essas habilidades para que, à medida que cada um faça uma
tarefa, o processo se realize no seu todo.
UNIDADE 3
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
3 EDUCAÇÃO COMO
PROCESSO SOCIAL
DE INTEGRAÇÃO E
TRANSFORMAÇÃO DA
SOCIEDADE
Nesta unidade, discutiremos a educação como processo social de integração e
modificação da sociedade por meio de reflexões sobre a educação como ação que
liberta, emancipa e transforma socialmente o indivíduo e consequentemente a
sociedade. Estaremos fundamentados em autores de referências como Antônio
Carlos Gil (2011), Nelson Piletti (1999) e Alberto Tosi Rodrigues (2002) entre outros,
que permitirão a reflexão e compreensão desta temática.
3.1 INTRODUÇÃO
Esta unidade permitirá uma reflexão sobre a educação. Inicialmente, será apresen-
tada uma discussão sobre este tema como integração e transformação social; poste-
riormente, uma reflexão da educação como ação libertadora, e por último, a educa-
ção como emancipação dos indivíduos.
Desejamos que esta unidade propicie conhecimentos para analisar a relação educa-
ção e sociedade, uma vez que serão analisadas as possibilidades de o fenômeno edu-
cativo ser refletido como um elemento importante de contribuição para a integração
e transformação social.
Esta unidade está organizada em três tópicos: Educação como integração e transfor-
mação social; A educação como ação libertadora; A educação popular como eman-
cipação dos indivíduos.
Para Gramsci (1991), a dominação econômica de uma classe sobre outra exige tam-
bém o domínio dos poderes político e ideológico. Segundo o autor, particularmente
a dominação ideológica leva à produção de um consenso social que implica, por sua
vez, a aceitação pela classe dominada dos princípios que a classe dominante define
como verdadeiros, para fazer valer sua visão de mundo.
Esse processo garante o domínio político e cultural de uma classe social sobre ou-
tra, sendo a educação um dos instrumentos mais importantes para assegurá-lo. Para
conseguir manter seu domínio, a classe dominante produz um discurso dissimulado,
pretensamente universal e igualitário, visando assegurar seu poder e, consequente-
mente, as desigualdades sociais que surgem na organização da sociedade capitalista.
FIGURA 14 - INTELECTUAL
Para Gramsci (1991), todos os seres humanos são intelectuais, embora, devido às
condições materiais e ideológicas da organização da cultura, só alguns deles efetiva-
mente desempenham essa função. Assim, não existe nenhuma atividade humana na
qual não esteja presente o elemento intelectual.
Esse pensamento de Gramsci que diz que todo ser humano é intelectual é relevante
e necessário. Você já pensou nisso? Para que você entenda melhor essa ideia, veja um
exemplo:
Então, imagine que você tenha que planejar uma aula sobre o conteúdo “família”.
Para ilustrar melhor suas explicações, você resolve confeccionar um cartaz com gra-
vuras e figuras de revista. Você seleciona, recorta e cola as gravuras, escreve o título do
cartaz e contorna, com pincel, a folha da cartolina ou do papel pardo.
Ao realizar essa ação, você pode perceber que, por trás da atividade humana, estão
presentes dois elementos: o trabalho intelectual e o trabalho manual. Certo? Observe
que, ao defender que todos os homens são intelectuais, Gramsci está chamando nos-
sa atenção para a necessidade de rompermos a separação histórica produzida em
relação a essas duas formas de trabalho. Você já pensou como em nossa sociedade o
trabalho manual tende a ser desvalorizado em relação ao trabalho intelectual?
Gramsci aborda também que educação deve ser uma obrigação do Estado, po-
rém numa perspectiva diferente daquela defendida pela burguesia. Para o re-
ferido autor, há uma contradição fundamental no trabalho escolar: ao mesmo
tempo em que ele procura manter a visão de mundo da classe dominante,
também deixa espaços de resistência que possibilitam o desenvolvimento de
atitudes contrárias a essa mesma visão. Esse processo ocorre porque a escola
pode e deve contribuir para o esclarecimento político das classes dominadas.
Segundo Gil (2011), para tornar mais concretas suas propostas de uma educação
voltada para a transformação social, Antônio Gramsci propõe um tipo de escola cujo
principal orientador é o trabalho – ele a chamou de Escola Unitária. Nessa escola,
os aspectos clássicos (humanistas) estão articulados com os aspectos profissionais
visando assegurar a relação teoria e prática. Ao associar esses dois elementos, a Escola
Unitária deseja, simultaneamente, o homem técnico e o homem político de tal forma
que a separação entre o trabalho manual e o trabalho intelectual seja superada.
Essa citação apresenta como a participação dos alunos é importante e pode contri-
buir para o trabalho escolar, se este for orientado na perspectiva da transformação so-
cial. Observe que há dois elementos indicados por Snyders como forças progressistas
no âmbito da escola: o trabalho dos professores e a resistência dos alunos à ideologia
burguesa. Entretanto, falta analisar o caso dos movimentos populares que pressio-
nam o trabalho escolar com vistas à transformação social.
A cada dia que passa, os movimentos sociais se tornam também uma das forças pro-
gressistas que atuam sobre a escola. Desses movimentos, surgem os pais que exigem
bom atendimento escolar aos seus filhos e também os alunos com senso crítico. A
partir daí, muitos diretores e professores são forçados a tomar medidas que melho-
rem o padrão de ensino ou que modifiquem aspectos conservadores da escola (MEK-
SENAS, 1992, p.74).
Eles desejam a técnica em lugar de se deixar escravizar por ela e percebem que uma
formação mais avançada os ajudará: a educação como um meio de defesa contra um
trabalho parcelar e desqualificado. “Os trabalhadores não ignoram que um aumento
cultural e também um maior domínio dos instrumentos e técnicas da cultura lhes
permitirão compreender melhor o mundo e lutar mais eficazmente” (SNYDERS,1981,
p.86).
Paulo Freire, por reconhecer que suas reflexões estão relacionadas àquelas produzidas
por diversos outros pensadores brasileiros que discutem a necessidade de uma edu-
cação que ajude as camadas dominadas a se libertarem da opressão que lhes é im-
posta pelas classes dominantes, ainda que não tenha desenvolvido propriamente
uma Sociologia da Educação, apresentou grandes contribuições para a análise da
relação educação e sociedade, problematizando o conceito de cultura.
Paulo Freire parte do pressuposto segundo o qual vivemos em uma sociedade divi-
dida em classes, que determina privilégios para uns e impede a maioria de usufruir
os bens produzidos. Nesse contexto de luta de classes, um dos bens essenciais é a
educação, da qual é excluída grande parte da população dos países pobres. Na pers-
pectiva desse autor, a educação seria o bem necessário para a superação das desi-
gualdades sociais.
Por ser um ato político, a educação pode passar de domesticadora a libertadora. Dei-
xa de ser domesticadora porque não se preocupa apenas em transmitir o maior nú-
mero de informações ao aluno, mas pretende apresentar ao indivíduo instrumentos
que lhes possibilitem questionar não só as condições concretas de sua existência
como também as relações sociais e o mundo.
Na visão da educação defendida por Paulo Freire, o professor não precisa ser au-
toritário e apenas depositar informações na cabeça do educando. Ele continua
tendo sua autoridade, porém desenvolvendo sua capacidade de proporcionar
aos alunos condições de aprendizagem não só para o trabalho de sala de aula,
mas também para que eles aprendam a ler criticamente o mundo social, visan-
do modificá-lo.
A educação proposta por Paulo Freire pode também contribuir para o processo de
construção da cidadania social, baseando-se em um projeto de sociedade democrá-
tica na qual o princípio da igualdade social orienta a distribuição dos bens sociais,
entre os quais a educação se destaca. Em decorrência disso, a escola passa a ser en-
carada de forma diferente, sendo convidada a enfrentar o desafio de reorientar suas
práticas.
As considerações atentadas pelo autor apontam para uma educação que se mostra
como um processo humanizado e que deve propiciar uma práxis libertadora para as
pessoas que estão submissas, imposta pela sociedade capitalista.
Desse modo, para a reflexão do método educativo popular é necessário conceituar al-
guns elementos importantes. Como estratégia de discussão, foram elencados cinco.
Segundo, a prática dialógica que protegia as interações por meio do diálogo entre o
educador e o educando, uma vez que esse instrumento é necessário para a totalida-
de do processo educativo.
e admitem que outras pessoas com as quais residem construam sua própria história.
Terceiro, a práxis. Para Freire (2008, p.142), “sem o diálogo com os oprimidos, não é
possível uma práxis autêntica nem para estes, nem para eles”. Sendo assim, a práxis
pode ser entendida como uma ação efetiva onde as pessoas querem mudar a reali-
dade em que estão inseridos, e, posteriormente, a si próprios (FREIRE, 2008).
Uma das formas de exercer a cidadania é por meio de uma educação que promova
um comprometimento entre os cidadãos na participação do exercício do poder. Esta
se baseia numa participação com autonomia e informação, visto que descaracteriza
o poder de manipulação na participação livre da pessoa humana que tem a capaci-
dade de transformar.
A partir desta proposta libertadora de Paulo Freire, essa formação para cidadania
deve ser orientada para uma educação de valores e saberes que se dá entre educador
e educando e que tem como objetivo principal a transformação social. Encerramos
esta unidade com uma citação de Freire (2008, p.28): “o homem deve ser o sujeito da
sua própria educação. Não pode ser objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém”.
Para que você possa entender melhor este tema, pesquise na internet e leia o
artigo Educação e transformação social hoje: alguns desafios político-pedagó-
gicos, de autoria de Danilo R. Streck.
CONCLUSÃO
Nesta unidade, refletimos sobre a Educação como um processo social de integração e
transformação da sociedade tendo como referência a relação educação e sociedade.
Foi possível constatar que a educação, como um processo voltado para a emancipa-
ção do indivíduo, ocorre na relação educação e sociedade. E, para que isso ocorra, é ne-
cessário o envolvimento de todos, uma participação ativa socialmente e simultânea.
UNIDADE 4
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
4 EDUCAÇÃO E CIDADANIA:
CAMINHOS PARA A
IGUALDADE SOCIAL
Esta unidade permitirá uma reflexão sobre a educação e cidadania como caminhos
para a igualdade social. Inicialmente, será apresentada a definição com breves re-
flexões sobre cidadania, posteriormente uma discussão da Educação como instru-
mento de igualdade social e por último, uma reflexão dos programas de educação
compensatória.
Esta unidade está organizada em três tópicos: Cidadania: conceitos e breves refle-
xões; Educação como instrumento de igualdade social; Uma reflexão dos programas
de educação compensatória.
Diante dessa reflexão, observa-se que, ao mesmo tempo em que se amplia os direitos
inerentes à cidadania aos cidadãos de uma mesma nação, também se restringe a
decisão política ao controle de seus representantes.
Para Marshall (1967), a cidadania é composta por três elementos fundamentais para
sobrevivência e bem-estar do indivíduo, sendo eles o Direito Civil, Direito Político e
Direito Social. Os três direitos fundidos como se fosse apenas um direito universal.
Mais tarde essa fusão foi desfeita, e cada direito se desenvolveu de forma temporal e
espacial. Em ordem cronológica, deu-se o surgimento do Direito Civil no século XVIII,
com o código civil napoleônico na França; mais tarde o Direito Político no séc. XIX foi
instituído, dando direito ao indivíduo de votar e ser votado, podendo, assim, exercer
uma participação política na sociedade; e, por último, o Direito Social no séc. XX entra
em cena para equilibrar um pouco as injustiças e desigualdades. Segundo Marshall,
Já autores como Dagnino (2000) acrescenta outros direitos a estes que compõe, na
contemporaneidade, cidadania. São eles o direito à diferença e o da sustentabilidade.
Nesse sentido, pretende-se destacar os diversos tipos de participação e as condições
para a participação política e cidadã.
Conforme Dagnino (2000) a Cidadania pode ser compreendida como a plena confi-
guração de conquistas para maximizar o coletivo no âmbito das relações sociais, es-
tas extrapolem as prerrogativas do direito e perpassam pela busca da promoção hu-
mana a partir da valorização da política. Esta, por sua vez, não se pauta na militância
político-partidária, mas sim na “politicidade” que pressupõe também a mobilização
dos diversos atores sociais.
Para Dagnino (2000), a cidadania tem dois sentidos, se por um lado apresenta um
caráter de estratégia política que responde a um conjunto de interesses, que não
necessariamente significam o de toda a sociedade, por outro se configura na defini-
ção de direitos. É importante dissociar a cidadania da visão neoliberal vinculada aos
interesses das classes dominantes, isso seria possível a partir de uma nova definição
do pensamento de direitos, que consiste no direito a ter direitos. No entanto, essa
prerrogativa supera as conquistas por direitos legais, pois pressupõe a formulação e
efetivação de novos, resultantes de lutas e práticas dos diversos atores sociais.
Dessa forma, Evelina Dagnino (2000) enfatiza que a cidadania, diante do contexto
neoliberal, se apresenta muito mais como individual que coletiva, estando atrelada
diretamente ao consumo. Seria como ser cidadão, fosse para adquirir condições fi-
nanceiras com objetivo de consumir. Portanto, para conviver com a democracia e a
soberania popular, no referido contexto, faz-se necessário desvincular o Estado dos
interesses capitalistas e relegar a ele o papel de promotor de justiça social, que per-
passe pelos interesses da coletividade e não de uma classe social minoritária.
Esta concepção de Cidadania aponta para uma discussão a respeito da cultura de-
mocrática e da concretização de direitos que vai para além da igualdade, no senti-
do de ampliar-se para o campo das diferenças, visto que é preciso reconhecer que
apesar de iguais em direitos, os indivíduos possuem particularidades que precisam
ser consideradas e respeitadas. Remetendo-nos ao conceito material de igualdade
apresentada pela lógica aristotélica: tratar os iguais de forma igual e os desiguais de
forma desigual na medida de suas desigualdades.
Sendo assim, a Cidadania prima por direitos que consigam identificar e respeitar as
particularidades, ou ainda as multiplicidades existentes na dimensão da pluralidade
humana. Os valores da igualdade e da desigualdade, intrínsecos à justiça, são esta-
belecidos a partir das regras, valores socialmente condicionados. Defender a igualda-
de entre os indivíduos significa reconhecer sua condição de ser social e portador de
direitos, no entanto, sem desconsiderar sua condição enquanto ser peculiar e uno.
(HELLER E FEHER, 1998).
Pressupõe-se, portanto, que a cidadania não deve repudiar as disparidades, mas en-
cará-las enquanto direito que é resultado de um processo histórico de lutas e con-
quistas, realizadas por atores sociais, sendo constituída por uma diversidade de direi-
tos e instituições para garanti-los.
Para que a cidadania seja efetivada em sua totalidade, é necessário que a educação
seja para todos, nesse sentido antes de discutirmos sobre a concepção educacional
como instrumento de igualdade social, é importante observar que:
Para Ferreira (1996), é importante não perder de vista esta pensamento pois, na so-
ciedade moderna, a educação escolar passa a ter grande importância no processo de
transmissão, construção e socialização do conhecimento.
Conforme Piletti (1999), Cada concepção de educação deriva de uma concepção par-
ticular de mundo, o que torna impossível a defesa de uma educação ideal, perfeita
e homogênea para todos os homens, de todos os tempos. Nesse sentido, as con-
cepções de educação são definidas sempre tendo em vista a realidade concreta de
uma sociedade observando o histórico específico, ou seja, a historicidade.
Para Rodrigues (2002), esse dilema pode ser traduzido da seguinte forma: os filhos
da classe trabalhadora procuram encontrar na educação uma oportunidade de as-
censão social; e os da classe dominante tentam manter, também via educação, o
domínio já assegurado pela sua classe social.
Essa postura faz surgir a ideia de que é preciso educar o ser natural e transformá-lo
em um indivíduo social, visando a atender necessidades e desejos da sociedade. Para
tanto, os conteúdos culturais devem ser transmitidos de geração a geração, por meio
de modelos, apresentando-se o mestre como “intérprete das grandes ideias morais
do seu tempo e do seu país. (DURKHEIM, 1975,p.34)
Na visão dos defensores dessa ideia, isso seria garantido por meio da educação o que,
como já analisamos, mostra suas limitações em função da forma como está organi-
zada a sociedade capitalista.
Nesse sentido, a alegação básica era que as crianças negras e das classes sociais des-
favorecidas, em geral, possuíam condições materiais inadequadas, cronicamente in-
suficientes, que as levavam ao insucesso na escola e à marginalização no sistema
educacional.
Na época, muitas pesquisas foram feitas para discutir essa questão, dando origem a
diversas nomenclaturas para identificar os grupos a serem atendidos pela educação
compensatória: os culturalmente desfavorecidos, os linguisticamente deficientes, os
socialmente prejudicados etc.
Para Ferreira (1996), uma grande crítica dirigida aos programas de educação com-
pensatória refere-se à importância exagerada atribuída aos primeiros anos de vida da
criança, para o seu desenvolvimento nas etapas seguintes. Alguns estudos na época
criticam essa postura, chamando a atenção para o fato de que essa etapa, então cha-
mada de educação pré-escolar, em vez de ser discutida com a seriedade e o alcance
que merecia, estava se transformando em um mito. Essa fase de escolarização passa-
va a ser considerada, então, como a solução de todos os males e compensadora das
mais variadas deficiências da população com um todo.
Em função da forma como educação compensatória foi interpretada entre nós na dé-
cada de 70, alguns estudos brasileiros chamaram a atenção para o fato de que essa
abordagem da questão educacional acaba por localizar, fora da escola, as variadas cau-
sas do insucesso da “criança pobre”, até mesmo contribuindo, para desmobilizar aque-
les grupos que procuram investigar essas causas numa perspectiva mais ampla e crítica.
Observe, caro(a) aluno(a), que, se voltando para a resolução de problemas que não lhe
cabe solucionar, a escola pode correr o risco de deixar, sem a devida solução, aqueles
problemas de que precisa dar conta. Essa ideia leva Basil Bernstein, um dos teóricos
que mais discutiu e criticou o conceito de educação compensatória, a fazer o seguin-
te alerta: “ Deveríamos parar de pensar em termos de educação compensatória e,
em vez disso, considerar mais seriamente e de maneira sistemática as condições e os
contextos do ambiente educativo. (BERNSTEIN, 1979,p.48)
Leitura Complementar
Para que você possa entender melhor este tema, faça a leitura do artigo “Po-
líticas públicas de educação: equidade e sucesso escolar”, elaborado por Val-
ter Lemos. Este artigo está disponível no Portal Scielo.
CONCLUSÃO
Esta unidade consistiu em refletir sobre a interação entre educação e cidadania como
possibilidades para a igualdade social, partindo do pressuposto da relação educação
e sociedade, de modo a permitir reflexões sobre a compreensão de que educação
como instrumento de igualdade social e os programas de educação compensatória,
analisados, veicula à sua maneira, um discurso relacionando o fenômeno educativo e,
consequentemente, a função social do professor na manutenção do status quo.
UNIDADE 5
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
5 EDUCAÇÃO E PENSAMENTO
SOCIAL: REPRODUÇÃO E
RESISTÊNCIA
Esta unidade permitirá uma reflexão sobre a educação e o pensamento social como
instrumentos de reprodução social e resistência cultural. Inicialmente, será apresen-
tada a definição com breves reflexões sobre a educação como meio de reprodução
social, posteriormente uma descrição das teorias crítico - reprodutivistas continuan-
do a reflexão sobre a reprodução social e por último, uma análise da educação como
fator de resistência cultural.
É importante assinalar, desde já, que apesar de essa concepção educacional descon-
siderar a escola como instituição social que desenvolve um trabalho simultâneo de
reprodução e transformação social, sua importância é muito grande para a discussão
da relação entre educação e sociedade.
Nesse sentido, o poder da escola decorre do fato de ela lidar com todas as crianças,
impondo-lhes a ideologia da classe dominante. Durante muitos séculos, lembra Al-
thusser, o aparelho ideológico de Estado que assegurou uma posição dominante no
processo de transmissão dos valores culturais foi a igreja, mas, a partir do século XIX,
com separação entre essa instituição e o Estado, a escola passou a ocupar esse lugar.
Para Ferreira (1996), escola, sendo o mais poderoso Aparelho Ideológico de Estado,
ela assume um papel fundamental no processo de inculcação da ideologia da classe
dominante à classe trabalhadora. Esse processo de inculcação pode ocorrer por meio
“Se estudarmos muito , poderemos até ser professoras mais tarde. Tem que
prestar muita atenção na aula. (...) Se ela economizasse poderia ficaria rica.
(...) Com jeitinho encontra-se um lugar para trabalhar. (...) quem não tem a
profissão que gosta é porque não estudou.” (SILVA, 1992,p.16)
Para Piletti (1999), percebendo o campo educacional como um espaço onde ocorre
disputa de poder, esses teóricos analisam como as posições dos indivíduos no sis-
tema educacional estão diretamente relacionadas às origens sociais e culturais dos
jovens. Nessa visão teórica, a escola assume um papel reprodutor independente dos
contextos históricos que a geram.
Segundo a visão crítico - reprodutivista, julgando que não vale a pena fazer inovação,
o professor apresenta sua expectativa negativista contribuindo, assim, para a margi-
nalização cultural do aluno, fato que o caracteriza como um “funcionário” das classes
dominantes.
Observe que esses questionamentos das teorias crítico - reprodutivistas revela que as
mesmas não conseguem perceber a real complexidade do fenômeno educativo, e
não mostram a educação como um espaço que não se esgota da reprodução social,
mas que pode trabalhar também voltado para a transformação social.
Porém, mesmo com essas limitações, é a partir dessas contribuições teóricas que vá-
rios pensadores têm ampliado a reflexão sobre a concepção de educação e da função
social do professor, em uma abordagem mais crítica.
Você se lembra de que a perspectiva marxista entende que toda sociedade enfrenta
contradições e conflitos decorrentes das relações entre os seres humanos? Tal pers-
pectiva é muito importante porque dela decorre uma concepção de educação volta-
da para a emancipação do homem e, consequentemente, para a transformação so-
cial. É dessa possibilidade de a educação vir a contribuir para o processo de mudança
social que perpassará nossa discussão.
Conforme Rodrigues (2002), embora Marx não tenha escrito sistematicamente sobre
a educação, o seu pensamento tem apresentado grandes contribuições para inú-
meros estudos sobre o fenômeno educacional no contexto da sociedade capitalista.
Para Rodrigues (2002), partindo das reflexões pedagógicas de base marxista pro-
posta por Gramsci, intelectual italiano do início do século XX, essa nova abordagem
trabalha com a concepção da resistência cultural, elemento desconsiderado pelas
teorias da reprodução social. Abordagens como a da resistência cultural são acen-
tuadamente críticas e procuraram explicitar o caráter da educação e da função do
professor numa perspectiva voltada para a transformação social, considerando suas
implicações em uma sociedade capitalista.
Ao observar, assim, a educação , essa teoria busca retomar a luta contra a seletivida-
de, a discriminação e a baixa qualidade do ensino que, muitas vezes, é ofertado às
camadas populares. Veja que a contribuição da teoria crítica para a discussão da re-
lação educação e sociedade é extremamente importante, pois que apresenta novos
elementos de análise para a interpretação sociológica do trabalho docente.
De fato, existem muitas vertentes críticas que abordam a relação escola e sociedade,
inclusive as crítico-reprodutivistas. As teorias crítico-reprodutivistas se revelam críticas
na medida em que denunciam o papel da escola capitalista voltado para a repro-
dução social e acusam essa instituição de reproduzir a ideologia e o poder da classe
dominante. Enquanto isso, as teorias propostas aqui também são críticas porque,
além de denunciarem esse mesmo papel da escola capitalista, reconhecem a possi-
bilidade de o trabalho dessa instituição voltar-se simultaneamente para o processo
de transformação social.
• Político – O princípio político tem levado a teoria crítica a analisar o papel que
as escolas assumem na vida cultural e política dos indivíduos na sociedade
contemporânea. Em função dele, é preciso que os professores entendam a
associação entre conhecimento e poder e o modo como essa associação pode
ser utilizada no desenvolvimento da consciência crítica e ativa dos cidadãos.
Para Rodrigues (2002), a teoria da educação como fator de resistência cultural, defen-
de uma educação que seja capaz de mostrar que o processo de dominação nunca
é total. Dessa forma, quem sofre o processo de dominação sempre encontra possi-
bilidades de posicionar-se e refletir em relação à ação de dominação que o atinge.
A resistência cultural parte, então, do princípio de que é preciso investigar a constru-
ção de uma pedagogia que mostre aos indivíduos possibilidades de emancipar-se
e que, acima de tudo, aponte para formas humanas de resistir no processo total de
dominação.
Você já viu ou escutou, casos de professores que resistem a reforçar, em suas aulas,
as relações de poder existentes na sociedade? Essa resistência mostra que o trabalho
desenvolvido no contexto escolar é perpassado por relações de poder e que toda re-
lação de poder é marcada por conflitos, os quais revelam que os processos históricos
nunca estão acabados. À medida que esses processos se manifestam nas situações
sociais e escolares cotidianas, a dominação não elimina a resistência dos indivíduos
nas relações sociais.
Observe no processo de luta estabelecido na escola, cada cultura ali presente está
ideologicamente ligada ao poder que possui de definir um determinado processo
de construção da realidade. A partir dessa compreensão, a concepção de educação
como fator de resistência cultural faz críticas às teorias da reprodução social. Uma
dessas críticas refere-se ao fato de que essas teorias não chegaram a enfatizar suficien-
temente o potencial que as escolas podem assumir como espaços de transformação
social, à medida que as reconheceram apenas como reprodutoras da dominação.
De acordo Rodrigues (2002), essa teoria a função social do professor volta-se para
ajudar os oprimidos a criarem um discurso capaz de libertá-los dos problemas her-
dados culturalmente. Vendo as escolas como espaços que podem contribuir para a
mudança social, o professor coloca-se na condição de um intelectual transformador
e engajado nos processos de luta dos desprivilegiados e oprimidos.
Para assumir essa tarefa, o professor deve investigar a forma pela qual as escolas re-
produzem determinados aspectos da sociedade considerada em sua totalidade, os
quais contribuem para as injustiças ligadas, por exemplo, ao gênero, à classe e à raça.
Nesse sentido, seu trabalho exige uma postura crítica capaz de resistir à redução de
sua função social à mera reprodução da visão de mundo das classes dominantes.
Leitura Complementar
Para que você possa entender melhor este tema, faça a leitura do artigo
“Sociologia da educação, reprodução das desigualdades e novas formas de
dominação”, elaborado por Kimi Tomizaki Este artigo está disponível no
Portal Scielo.
CONCLUSÃO
Esta unidade objetivou em discutir sobre a relação educação e o pensamento social,
por meio de análises e reflexões acerca da reprodução social, as Teorias crítico - repro-
dutivistas e da educação como fator de resistência cultural, propiciando um entendi-
mento da questão educacional, considerando a dinâmica que a escola mantém com
a sociedade, a partir da relação entre estrutura social e desempenho escolar.
UNIDADE 6
OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos
que possa:
6 EDUCAÇÃO E ESTRUTURA
SOCIAL
Esta unidade permitirá uma reflexão sobre três questões importantes na relação edu-
cação e estrutura social. O primeiro é em relação a Cultura e Sociedade, o segundo a
Economia e Mobilidade Social, e o terceiro é a mudança social. Interessante ressaltar,
que todas estas questões estão relacionadas intrinsecamente com a educação e essa
relação, isto é, mencionar, narrar, expor, descrever. Ou seja, o que nós estamos fazendo
o tempo todo: mencionando, narrando, expondo, descrevendo. Mas não é só isso. Esta-
mos também, comparando, estabelecendo ligações, vínculos, correspondências. Esta-
mos sempre voltando no tempo, referindo-nos a lugares diferentes, chamando a aten-
ção para que vocês busquem outras fontes para a discussão de um mesmo assunto.
Aqui, nós vamos analisar de que maneira a escola moderna, que foi se constituindo
no capitalismo, seleciona determinados componentes da cultura para ensinar aos
seus alunos. As perguntas que teremos que responder, portanto, são: O que é a cul-
tura? O que é conhecimento? Como a escola se posiciona frente ao conhecimento?
De que conhecimento se trata?
Nós somos pessoas que conhecemos diversas coisas e sabem que o conhecimento
de cada um é diferente do conhecimento dos professores que já tiveram, do conhe-
cimento dos seus alunos, do conhecimento dos seus vizinhos etc. Vocês sabem que
o conhecimento das pessoas que moram na cidade é diferente do conhecimento
das pessoas da área rural, que o conhecimento dos brasileiros é diferente do conhe-
cimento dos norte-americanos; que o conhecimento prevalecem na média das pes-
soas do mundo ocidental é muito diferente do conhecimento que circula no oriente.
A quinta e a última é a filosófica, que afirma ser a cultura, “antes de tudo, um estado
especificamente humano, ou seja, aquilo que pelo qual o homem, distancia-se da
natureza e distingue-se especificamente da animalidade.” (FORQUIN, 1993,p.12)
Isso significa que, quando uma instituição, como a escola, está a serviço da trans-
missão cultural, é preciso que certos aspectos da cultura sejam reconhecidos
como mais levantes que outros para que possam ocupar um lugar privilegiado
como objeto de ensino.
Segundo Piletti (1996), foi, também, ao longo do século XIX que os ideais de liberda-
de e igualdade trazidos pelo liberalismo começaram a ser questionados. Ao mesmo
tempo em que o modo de produção capitalista se mostrava cada vez mais eficiente
ao produzir mercadores, ele ia demonstrando cada vez mais dificuldades de garantir
as mesmas oportunidades para todos. O capitalismo concorrencial foi se transfor-
mando em capitalismo monopolista, isto é, um capitalismo de grandes indústrias
que monopolizavam a produção em determinados setores e impediam e /ou difi-
cultavam a concorrência. Quanto mais se ampliavam as relações de mercado, mais
visíveis se tornavam as desigualdade sociais e econômicas.
Quanto mais avança no tempo, mais dinâmico o capitalismo se torna. Essa dinâmica
se liga a vários fatores, como crescimento e desenvolvimento. Mas, ela se relaciona,
também, a dois outros fatores: a mobilidade social e a mudança social.
São muito comuns os estudos sobre mobilidade social associada à escola, princi-
palmente nos Estados Unidos, onde é forte a concepção meritocrática da educação.
Conforme essa concepção, a escola premia os melhores com as boas posições dis-
poníveis no mercado, dependendo o sucesso do indivíduo apenas de seus próprios
talentos, esforços, competência e etc. Esses estudos centram-se na ascensão social
dos indivíduos e se esforçam por demonstrar que a escolarização é, de fato, a chave
do sucesso numa sociedade democrática e de amplas oportunidades de mobilidade.
Entretanto, foi se tornando cada vez mais difícil estabelecer uma correlação direta
entre educação escolar e mobilidade social, entre diploma e emprego/salário, entre
crescimento da escolarização e desenvolvimento social, político, econômico e cultu-
ral. Ao longo do tempo, foi havendo uma mudança na organização geral da produ-
ção, que consiste em ocupar, em termos relativos e absolutos, um número cada vez
menor de pessoas em todos os setores da economia.
Por isso é que estamos discutindo da relação entre educação e mudança social.
Em outras palavras: como é possível fazer do conhecimento um instrumentos de
mudança das nossas práticas pedagógicas e como colocar essa pedagogia a serviço
da melhoria da qualidade de vida da população como um todo e não apenas de
alguns indivíduos?
Sabe-se que não é fácil. A educação já foi vista como o mecanismo de reconstrução
das relações sociais em crise. Já foi denunciada como mecanismo de reprodução de
todas as relações de desigualdade econômica, social e cultural do capitalismo. É ne-
cessário chegar-se a uma posição mais equilibrada. A educação não pode fazer tudo,
porque ela está limitada por fatores da estrutura social. Mas ela pode fazer alguma
coisa é Esso que motiva os profissionais do ensino a continuarem na luta. Porque não
é vontade de mudar o que diz.
Para Ferreira (1996), a distinção entre educação e escolarização serve apenas para
enfatizar o lugar da escola como instituição educadora. Para sermos mais precisos,
quando nos referimos à educação que se realizam na escola, deveríamos falar em
escolarização ou em educação formal ou em educação escolar. Porém, o termo edu-
cação já foi incorporado ao nossa linguagem cotidiana, seja para dizer da escolariza-
ção seja para dizer da educação que acontece fora da escola. Na realidade, quando
falamos de educação geralmente é à escola que se refere.
cultivar o espírito. Foi a partir de meados do século XIX, que a escola adquiriu grande
centralidade como instituição educadora porque ela era um dos poucos meios de
difusão de conhecimento.
Segundo Ferreira (1996), mas a realidade não é produto apenas das boas ideias e
dos grandes ideais. O projeto de mudança social, mesmo que bem fundamentado
e sustentado em elevados ideais de igualdade entre todos, nem sempre se efetiva
conforme o desejado ou o previsto. A História já demonstrou que o seu movimento
acontece entre avanços e recuos. Os fatores mudam em ritmos diferentes, alguns fa-
tores mudam de modo a atender apenas a alguns, uns avançam outros retrocedem
etc. Ciente desse movimento da história é que temos que ficar sempre atentos ao
nosso papel de membros ativos da sociedade e não apenas de espectadores passivos
dos anos dos outros.
É essa criatividade que move a prática pedagógica rumo a uma mudança consciente
construída. È fato que estamos transitando por caminhos “estreitos” no campo da
educação. Mas estamos sempre, por ou para algum lugar, tomando rumo, um cami-
nho, uma direção.
Nesse sentido que nos apontam as palavras de uma das maiores autoridades em
educação no Brasil, o Professor Dermeval Saviani. Em seu livro chamado Escola e De-
mocracia, ele nos sugere uma pedagogia revolucionária:
Então, Saviani sugere uma pedagogia revolucionária. Para ser revolucionária, ela tem
que ser crítica. Para ser crítica, ela tem que se nutrir de conteúdo, porque a crítica
sem conteúdo é como palavras ao vento, não se sustenta. Não se trata, simplesmente,
de ver ingenuamente a educação como o fator responsável pela solução de todos os
nossos problemas. Se a própria escola vive seus dramas, grande parte deles decorre
de fatores extra - escolares, isto é problemas ligados à estrutura da sociedade em que
se situa a escola. Mas não se trata, também, de ver a escola como um lugar passivo,
apensas “correria de transmissão” dos interesses dominantes na sociedade.
Essa é uma relação na qual os participantes são vistos na perspectiva de sujeitos ati-
vos e não simplesmente determinados pelas estruturas, com intensa observação feita
no interior do aparelho escola sobre a vida na escola e fora dela, o mundo do traba-
lho e das relações sociais, num processo em que análise microssociológica se junta
à análise macrossociológica. Ou seja, essa análise tenta dar visibilidade à ação dos
sujeitos, verificando como os profissionais do ensino se portam, efetivamente, como
medidores da cultura.
Leitura Complementar
Para que você possa entender melhor este tema, faça a leitura do artigo “So-
ciedade, cotidiano escolar e cultura (s): uma aproximação”, elaborado por
Vera Maria Ferrão Candau. Este artigo está disponível no Portal Scielo.
CONCLUSÃO
Esta unidade consistiu em refletir sobre a relação educação e estrutura social, por
meio de análises e estudos acerca da Cultura, Sociedade, Economia, Mobilidade So-
cial e Mudança Social, propiciando compreensão ampla da questão educacional.
Foi possível constatar que em um cenário cada vez mais caracterizado por vertigino-
sas mudanças, necessário se faz uma mudança de concepção relativamente à escola.
Mesmo reconhecendo a necessidade de pôr a escola a serviço da qualificação profis-
sional, é preciso pensá-la como espaço de produção de conhecimento como fim em
si mesmo e não apenas como um meio para atingir outros fins.
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