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Avaliação Psicológica na área de cirurgia bariátrica

Ester, Fabiana Albuquerque e Francielle Martins.

Introdução:

A cirurgia bariátrica é constituída por uma intervenção realizada no aparelho


digestivo, reduzindo o reservatório gástrico e/ou a absorção intestinal. Desta
forma, trata-se de um tratamento da obesidade com fins de redução de peso.
Segundo Franques e Arenales-Loli (2006), “a presença obrigatória dos
psicólogos em equipes de cirurgia bariátrica foi oficialmente instituída por meio
da Resolução do Conselho Federal de Medicina sob o n° 1766/05”.

A avaliação para fins de cirurgia bariátrica é uma atividade recente no campo


da Psicologia da Saúde.

Importância da avaliação:

De acordo com Maria Olívia Belfort, em Franques e Arenales-Loli (2006), é


necessária a avaliação psicológica para esse tipo de paciente uma vez que a
cirurgia acarreta numa reorganização da vida da pessoa em grandes
proporções, seja porque impõe uma nova rotina de hábitos alimentares, que
pode ser assimilada com maior ou menor facilidade, ou porque os efeitos da
cirurgia interferem na imagem corporal que a pessoa tem de si. (...) É
necessário explicitar nesse momento quais os recursos psíquicos que tornam o
paciente mais apto para esse procedimento. Entre eles destacamos que, além
das questões básicas como ausência de psicopatologias graves, devem ser
observadas a existência de uma capacidade de elaboração de conflitos (o que
possibilitará surgimento de um comportamento adaptativo mais eficiente), as
condições para separar a cirurgia da problemática emocional e uma percepção
da imagem corporal menos distorcida.

Além disso, existe contraindicação da cirurgia para pessoas com qualquer


doença mental que possa interferir no tratamento, especificamente:
a) alcoolemia; b) dependência química; c) depressão grave com ou sem
ideação suicida; d) psicoses graves e e) pessoas com qualquer doença mental
que, a critério da avaliação do psiquiatra, contraindique a cirurgia de forma
definitiva ou até que a doença tenha sido controlada por tratamento.

Instrumentos utilizados na avaliação:

Silva et al. (2018) em uma revisão sistemática das principais bases de dados
não identificaram instrumentos que tenham sido construídos ou validados para
o contexto da cirurgia bariátrica no Brasil. Não existe fórmula pronta, portanto,
o psicólogo deverá estabelecer quais instrumentos são necessários para se
atingir o objetivo de responder a seguinte a pergunta: : O candidato tem
condições psicológica para se submeter a cirurgia e a todos os procedimentos
posteriores, assim como adaptar-se a um novo estilo de vida?

Como é realizada a avaliação:

Como não existem fórmulas e nem testes específicos a avaliação do candidato


a cirurgia poderá ser feita por meio de uma entrevista semiestruturada, na qual
é de suma importância a verificação e correta compreensão dos seguintes
pontos:

 Investigação sobre o início da obesidade, padrões familiares, maneiras


de lidar com a doença, quantas e quais tentativas buscou para
emagrecer, prejuízos causados pela obesidade em sua vida, casos de
obesidade na família, autoestima e imagem corporal, estado de humor,
qualidade do sono, vida social e profissional;
 O objetivo do sujeito com a cirurgia – que expectativas tem, como
encara a obesidade, que benefícios imagina que a cirurgia irá trazer, o
nível de consciência dos riscos envolvidos;
 A condição de saúde em geral – física e psíquica;
 O estabelecimento de um prognóstico a partir da cirurgia (se for o caso
da indicação).
 Como o sujeito poderá se adaptar ao novo estilo de vida, as
possibilidades de transferência da compulsão, as tendências à
ansiedade e depressão.

Também podem ser utilizados testes projetivos e expressivos, a fim de reduzir


a manipulação por parte dos candidatos e, portanto, conferir maior
confiabilidade aos resultados da avaliação.

Obstáculos da avaliação:

A insatisfação corporal tem se revelado como um dos principais pontos de


atenção na investigação. É sempre importante lembrar que a CB é um
procedimento para promoção de saúde, mas frequentemente os relatos são da
busca por um procedimento estético.

“Como ainda não há um protocolo de avaliação estabelecido, configuram-se


como muito difíceis as situações de contraindicação, pois os psicólogos ficam
inseguros em conseguir prever a condição de “sucesso psicológico” de uma
cirurgia como essa. Também não há pesquisas consistentes sobre os
resultados dessas cirurgias, que possam apontar procedimentos e tomadas de
decisão a respeito dos candidatos. Assim, é uma área ainda muito incipiente,
na qual há, em geral, pouquíssimas referências a respeito na formação da
graduação, assim como pesquisas ou referências bibliográficas. Também
pode-se perceber nessa área a banalização deste processo de avaliação, com
profissionais inconscientes, que consideram esse tipo de avaliação simples e
de menor responsabilidade. Infelizmente, não é rara a informação de que
alguns psicólogos somente fazem entrevistas ou atendem em somente um
horário.” Série Técnica - Manual de Avaliação Psicológica, pág 55

Considerações:

“Considerando que após a cirurgia a perda de peso abrupta resulta em flacidez


excessiva, sendo necessário, em muitos casos, procedimentos cirúrgicos para
o resultado idealizado, a imagem corporal pode gerar um sentimento de
frustração e constrangimento. Os relatos revelam em grau maior, inclusive,
naqueles vivenciados antes da cirurgia, e os resultados contribuem para o
adoecimento psíquico, dentre eles, transtornos de ansiedade, depressão,
automutilação, ideação suicida e tentativa de suicídio. O comportamento
compulsivo também deve ser investigado. São frequentes os relatos da
mudança de alvo da compulsão, destaca-se a compulsão por álcool,
provavelmente pelo prazer, que também é oral. Mas pela necessidade da
mudança de hábitos há, também, relatos de vigorexia, bigorexia, que é a
preocupação exagerada com a prática de atividades físicas e alimentação
saudável, impactando nas relações e convívio social.” - FERNANDA GONÇALVES DA
SILVA, Doutoranda da Universidade Federal do Rio de Janeiro pelo Instituto de Psiquiatria,
mestre em avaliação psicológica e construção de instrumentos e docente da Universidade
Estácio de Sá, além de ser editora da revista Psicologia e Conexões.

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