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Argumentos Cosmológicos e as Vias de Tomás de Aquino

Resumo:
Trecho adaptado do livro “Arguing About Gods”, onde o filósofo Graham Oppy analisa
a estrutura dos argumentos cosmológicos e as três primeiras Vias de Tomás de Aquino.

Tradução: Raphael Costa

Existem muitos tipos diferentes de argumentos a posteriori para a existência de Deus.


Seguindo Kant, devemos supor que é possível classificar muitos desses argumentos em
duas classes principais: os argumentos cosmológicos e os argumentos teleológicos.
Pelo menos aproximadamente, podemos supor que os argumentos cosmológicos
anunciam as características estruturais muito gerais do universo e/ou nossas formas
de conceituar o universo, enquanto os argumentos teleológicos anunciam as
características funcionais mais particulares do universo e/ou nossas formas de
conceituar o universo.
Talvez esta caracterização aproximada esteja totalmente equivocada. Não importa:
uma vez que trataremos cada argumento por seus méritos - isto é, sem levar em conta
a classe geral à qual é atribuído - a única consideração importante é que não devemos
negligenciar quaisquer argumentos plausíveis a posteriori que não serão tratados em
outro lugar.
Mais uma vez, falando muito aproximadamente, podemos supor que é característico
dos argumentos cosmológicos que eles envolvam uma premissa que afirma que um
certo tipo de regressão infinita ou coleção infinita é impossível.
Embora as características estruturais gerais do universo que são mencionadas em
argumentos cosmológicos variem amplamente - estrutura temporal, estrutura modal,
estrutura causal, estrutura explicativa, estrutura inteligível, estrutura axiológica e
assim por diante - parece plausível afirmar que todos esses tipos de argumentos
tipicamente envolvem o apelo à afirmação de que existem maneiras pelas quais essas
várias estruturas não podem ser infinitas.
Uma característica final dos argumentos cosmológicos é que eles tipicamente resultam
em conclusões que - pelo menos prima facie - são apenas muito duvidosamente de
significado religioso genuíno.
Mesmo que, por exemplo, possa-se estabelecer que existe uma causa eficiente para a
existência do universo visível (físico), não está claro por que se deve supor que esta
causa eficiente pode ser identificada com a atividade criativa de qualquer um dos
deuses cuja existência é postulada nas religiões mundiais existentes.
Na melhor das hipóteses, os argumentos cosmológicos são argumentos para uma
conclusão que pode servir como uma premissa importante em algum argumento
adicional para a existência de um ser religiosamente significativo.
As Primeiras Três Vias de Aquino
Como muitos autores notaram, há semelhanças estruturais interessantes entre os
argumentos em pelo menos três das primeiras Cinco Vias de Tomás de Aquino.
Começarei com uma discussão sobre a Segunda Via e, então, depois de uma discussão
mais breve sobre a Primeira Via, passarei a uma discussão igualmente extensa da
Terceira Via.
Deixarei a discussão da Quarta e Quinta Via para alguma outra ocasião.
Segunda Via: a Segunda Via é plausivelmente interpretada como um argumento sobre
causação eficiente.
Com pouca alteração nas traduções padrão, podemos representar esse argumento da
seguinte forma:

1. Algumas coisas existem e sua existência é causada.


2. Tudo o que é causado a existir é causado por outra coisa.
3. Uma regressão infinita de causas resultando na existência de uma coisa
particular é impossível.
4. (Consequentemente) Há uma causa primeira (única) de existência que não é
causada por si mesma.

A dificuldade mais óbvia com esse argumento é que ele é inválido.


A conclusão mais forte que pode ser tirada das três premissas é que existem causas
primeiras, isto é, que existem causas de existência que não são causadas por si
mesmas.
Não há nada nas premissas que justifique tirar a conclusão de que existe exatamente
uma causa primeira!
Mesmo se a conclusão desse argumento fosse meramente que existem causas
primeiras de existência, não é claro que a conclusão resultaria das premissas.
Se supormos que a relação causal em questão é transitiva - de modo que, se a é uma
causa de b, e b é uma causa de c, então a é uma causa de c - então, pela irreflexividade
da relação causal que é concedida pela premissa 2, seguir-se-á que não existem
círculos de causas.
No entanto, se não supormos que a relação causal é transitiva, então não há nada nas
premissas que exclua círculos de causas, por exemplo, uma situação em que a causa b,
b causa c e c causa a.
A terceira premissa no argumento é claramente mais forte do que o necessário: seria
suficiente supor que não há regressão infinita de causas resultando na existência de
uma coisa particular.
Naturalmente, pode-se supor que a única razão que se poderia ter para acreditar
nessa afirmação é que há boas razões para aceitar que não pode haver uma regressão
infinita de causas resultando na existência de uma coisa particular.
Mas, qualquer que seja a opinião que você adote sobre essa afirmação modal,
dificilmente poderia supor que ela é mais segura do que a afirmação de que nada pode
ser a causa eficiente de sua própria existência.
Portanto, há uma disparidade curiosa na modalidade da segunda e da terceira
premissas no argumento conforme é apresentado.
Levando todas essas dificuldades em consideração, podemos supor que o argumento
seja melhor reformulado da seguinte forma:

1. Algumas coisas são causadas.


2. As coisas não causam a si mesmas.
3. Não existem círculos de causas.
4. Não há regressões infinitas de causas.
5. (Consequentemente) Existem primeiras causas.
6. Não há mais do que uma causa primeira.
7. (Consequentemente) Há exatamente uma causa primeira.

Embora esse argumento seja, penso eu, válido, ainda há questões que podem ser
levantadas sobre a maioria das premissas.
Deixando de lado as preocupações que se possa ter sobre a falta de uma análise
satisfatória da causalidade eficiente, parece bastante incontroverso aceitar que
algumas coisas têm causas. Mas, além desse ponto, há muitas questões difíceis a
enfrentar.
Parece ser relativamente incontroverso supor que nada pode ser uma causa direta ou
não mediada de si mesmo. No entanto, é muito mais controverso supor que não pode
haver um - talvez muito grande - círculo de causas, cada uma das quais sendo uma
causa eficiente para a próxima.
As grandes literaturas sobre a possibilidade de viagem no tempo e a possibilidade de
tempo circular atestam o status controverso da afirmação de que nada pode ser uma
causa indireta ou mediada de si mesmo (e/ou a afirmação de que não pode haver
círculos de causas).
Talvez possamos argumentar a partir da ausência de evidência de viagem no tempo
para a conclusão de que não existem círculos de causas ou coisas que são causas
indiretas ou mediadas de si mesmas.
No entanto, pelo menos, deve-se reconhecer que a segunda e a terceira premissas
precisam de apoio adicional substancial.
Como argumento em Oppy (2006), é muito duvidoso que haja um argumento
convincente para a conclusão de que não pode haver uma regressão infinita de causas
eficientes - ou, pelo menos, que haja um argumento deste tipo que não seja petição de
princípio no contexto atual.
É bastante claro, por exemplo, se supormos que Deus existe por necessidade lógica, e
que não existe um mundo logicamente possível no qual existe um universo físico que
não é trazido à existência por Deus, então estaremos em uma posição para concluir
que não pode haver regressão infinita de causas eficientes.
Mas, se esta é nossa razão para sustentar que não pode haver regressão infinita de
causas eficientes, então não estaremos bem posicionados para confiar na afirmação de
que não pode haver regressão infinita de causas eficientes quando passamos a
argumentar pela existência de Deus.
No entanto, uma vez que as considerações de petição de princípio gritantes são postas
de lado, é muito difícil ver como alguém poderia construir um argumento convincente
para a afirmação de que não pode haver uma regressão infinita de causas eficientes.
Talvez se possa esperar argumentar a partir da cosmologia do Big Bang para a
afirmação de que não há regressão infinita de causação eficiente.
Mas parece ser o caso de que podem haver regressões infinitas de causação eficiente
dentro dos universos do Big Bang e essa causação eficiente pode se estender "através"
da singularidade inicial nos universos do Big Bang.
Se isso estiver certo, então é difícil ver como se poderia esperar montar um argumento
empírico para a afirmação de que não há regressão infinita de causação eficiente em
nosso mundo.
Tomás de Aquino oferece um argumento em nome da premissa fundamental de
"regressão infinita" na Segunda Via, recapitulando um argumento semelhante que é
dado na Primeira Via.
O que ele diz é que, se não houvesse uma causa primeira em uma série de causas,
então também não haveria causas intermediárias e, portanto, nenhum efeito.
Mas este argumento é impotente para estabelecer a conclusão de que não pode haver
uma regressão infinita de causas: pois, se houvesse uma regressão infinita de causas,
então seria verdade que não há causa primeira, e ainda assim poderia ser verdade que,
se qualquer uma das causas anteriores fosse "eliminada", o efeito também seria
eliminado.
Claro, não é realmente verdade que a 'eliminação' de uma causa garante a 'eliminação'
do efeito: poderia ser, por exemplo, que a causa precede algum outro processo que
daria origem ao efeito se não fosse assim antecipado.
Mas, tendo observado esta consideração, não há mal em deixá-la de lado: a objeção ao
argumento atualmente em consideração continua mesmo se as causas são -
implausivelmente - supostas serem condições necessárias e suficientes para seus
efeitos.
Como muitos outros comentaristas notaram, não há nada nas considerações às quais
Tomás de Aquino apela aqui que mereça ser tratado como uma razão convincente
para supor que não pode haver uma regressão infinita de causas eficientes.
Mesmo se alguém não for persuadido pelas críticas que foram feitas às outras
premissas em nossa versão revisada da Segunda Via, deve-se certamente pensar duas
vezes antes de supor que a premissa final é adequadamente incontroversa para
desempenhar o papel que é exigido neste argumento.
Visto que uma causa primeira é meramente uma causa eficiente que em si mesma não
tem uma causa eficiente, pode-se pensar que qualquer um que aceite uma concepção
libertária de liberdade está fadado a permitir que o universo físico esteja cheio de
causas primeiras.
Minha decisão livre de escrever este texto é uma causa eficiente da existência deste
texto, mas essa decisão livre - de acordo com os libertários sobre a liberdade - não
tinha em si uma causa eficiente.
Além disso, mesmo os compatibilistas sobre a liberdade deveriam exigir evidências
para apoiar a alegação de que qualquer par de objetos compartilha uma causa
eficiente comum de sua existência.
Nos modelos padrão do Big Bang, há partes do universo que são causalmente isoladas
umas das outras: há cadeias de causalidade eficiente que remontam a dados “iniciais”
independentes.
Dado esse fato, certamente não há suporte empírico para a afirmação de que todas as
cadeias de causalidade eficiente terminam na mesma causa eficiente inicial.
Em suma, há muitas razões para pensar que a Segunda Via não é um argumento
persuasivo ou convincente para a conclusão de que existe uma causa primeira única de
existência que não foi causada por si mesma.
Mesmo quando o argumento de Tomás de Aquino é reparado de forma que a
conclusão siga das premissas fornecidas, descobrimos que as premissas são altamente
controversas e, em alguns casos, totalmente carentes de suporte que não seja de
petição de princípio.
Primeira Via: às vezes, a Primeira Via é expressa em termos de "mudança" e, às vezes,
em termos de "movimento". Não acho que seja importante para nossos propósitos
como escolhemos interpretar o termo-chave em nossa versão do argumento.

1. Algumas coisas estão em processo de mudança.


2. Tudo o que está em processo de mudança está sendo alterado por outra coisa.
3. Uma regressão infinita de mudanças, cada uma alterada pela outra, é
impossível.
4. (Consequentemente) Existe uma causa primeira de mudança, não estando ela
mesma em um processo de mudança.

Este argumento está sujeito a muitas das mesmas dificuldades da Segunda Via.
Para começar, o argumento parece ser totalmente inválido: o máximo que poderia
resultar das premissas é que existem primeiras causas de mudança que não estão elas
mesmas em um processo de mudança.
Não há nada nas premissas desse argumento que justifique tirar a conclusão de que
existe uma única causa primeira de mudança que não está ela mesma em um processo
de mudança.
Além disso, como no caso da Segunda Via, há uma incompatibilidade modal entre a
segunda e a terceira premissas, talvez mais plausivelmente reparada pelo
enfraquecimento da terceira premissa para uma afirmação sobre o mundo real
isolado.
A segunda premissa - que qualquer coisa em um processo de mudança está sendo
mudada por outra coisa - parece altamente controversa.
Se houver processos objetivamente incertos, então há processos de mudança que não
são "provocados" por qualquer outra coisa. Portanto, em particular, se existem
escolhas livres libertárias, então existem processos de mudança que não são
"provocados" por qualquer outra coisa.
Quando as mentes estão em um processo de mudança livre, então - a fortiori - pelas
luzes libertárias, não há mais nada que esteja 'provocando' essas mudanças.
A aceitação da segunda premissa deste argumento não requer apenas a rejeição da
alegação plausível de que existem processos objetivamente incertos, mas também
envolve a rejeição de ambas as defesas do livre-arbítrio contra os argumentos lógicos
do mal e as teodiceias do livre-arbítrio de maneira bastante geral.
A terceira premissa também é extremamente controversa, pelas mesmas razões que a
premissa correspondente na Segunda Via é extremamente controversa.
Como observamos acima, é difícil ver se existe algo na cosmologia do Big Bang que
exclua a existência de uma regressão infinita de modificadores, cada um alterado por
outro, embora seja verdade na cosmologia do Big Bang que o universo físico tem
apenas idade finita.
Mas, por outro lado, como também observamos acima, é igualmente difícil encontrar
uma objeção convincente a priori à existência de regressos infinitos fisicamente
instanciados que não seja uma petição de princípio gritante no presente contexto.
Terceira Via: O núcleo da Terceira Via parece ter praticamente o mesmo tipo de
estrutura que as duas primeiras vias.
De acordo com as traduções padrão, o argumento da Terceira Via é mais ou menos
assim:

1. Existem coisas contingentes.


2. Se uma coisa existente é contingente, então houve um tempo em que ela não
existia.
3. (Portanto) Se tudo o que existe é contingente, então havia um tempo em que
nada existia.
4. Algo que não existe pode ser trazido à existência apenas por algo que já existe.
5. (Portanto) Se houve um tempo em que nada existia, então nada existe agora.
6. Algo existe agora.
7. (Portanto) Nem todo ser existente é contingente.
8. Um ser necessário pode ou não dever sua necessidade a outra coisa.
9. A série de seres necessários que devem sua necessidade a outra coisa não
regride ao infinito.
10. (Portanto) Há um ser necessário que não deve sua necessidade a outra coisa.

A primeira dificuldade em discutir este argumento é decidir como as palavras


'necessário' e 'contingente' devem ser entendidas.
A explicação que o próprio Tomás de Aquino fornece é que um ser é contingente se for
possível que esse ser venha a existir ou se for possível que ele deixe de existir.
Eu entendo que o que se segue desta explicação é que um ser é necessário se existir
todo o tempo em todos os mundos possíveis em que existe em qualquer momento,
mas que não precisa ser o caso de um ser necessário existir em todos os mundos
possíveis.
Se um ser necessário existe a qualquer momento em um determinado mundo possível,
ele existe em todos os momentos nesse mundo possível.
Dado este entendimento de "contingência", a primeira premissa no argumento parece
não problemática: existem muitos seres que são "contingentes" neste sentido.
No entanto, nesta compreensão de 'contingência', é muito difícil ver por que devemos
supor que a segunda premissa é verdadeira: só porque é possível que um ser venha à
existência não implica que, de fato, ele nem sempre existiu (e nem acarreta que, de
fato, o ser deixe de existir).
Talvez alguém possa tentar argumentar da seguinte maneira: se existe um mundo
possível no qual um ser passa a existir, então existe um mundo no qual esse ser é feito
para vir à existência.
Mas se há um mundo possível em que um ser é feito para vir à existência, então em
cada mundo possível em que esse ser existe, ele é feito para vir à existência
exatamente da mesma maneira, porque a origem causal é uma propriedade essencial
de qualquer ser.
Acho que a tese da necessidade de origem é muito controversa para desempenhar o
papel que aqui seria exigido dela; mas seria necessária uma digressão muito
substancial para fornecer um tratamento satisfatório desse ponto.
Em qualquer caso, há uma objeção mais urgente à segunda premissa.
Em nossa consideração da contingência, um ser é contingente apenas no caso de ser
possível que venha a existir ou seja possível que deixe de existir.
Considere, então, um ser contingente que não pode vir a existir, embora possa, é claro,
deixar de existir: se tal ser existisse agora, então não poderia ter deixado de existir em
qualquer momento anterior.
Não há nada em nosso comentário sobre contingência que exclua a existência atual de
coisas contingentes que existiram em todos os tempos anteriores.
Mesmo se supormos que a segunda premissa é verdadeira, parece que há uma boa
razão para contestar a inferência das duas primeiras premissas para a primeira
conclusão provisória em 3.
Mesmo que nenhum ser contingente exista em todas as épocas anteriores em nosso
mundo - isto é, nenhum ser contingente existe em todos os momentos em algum
segmento inicial da história de nosso mundo - não se segue que, se todo ser existente
é contingente, então houve um tempo anterior em que nada existia.
Para obter essa conclusão provisória, precisaríamos adicionar outra premissa que
exclui uma sequência infinita de idas e vindas à existência.
Do contrário, podemos satisfazer a demanda de que nenhum ser contingente existe
em todos os momentos em algum segmento inicial da história de um mundo - e a
demanda adicional de que qualquer ser contingente é trazido à existência por alguma
mudança em algum outro ser - em um mundo no qual não há mais do que dois seres
contingentes, A e B: apenas suponha que a saída de A traz B à existência, e a saída de
B traz A à existência.
Claro, não precisamos supor que o tempo passado é infinito para fazer esta história
rodar: poderíamos ajustar a série infinita de alternâncias entre A e B em uma estrutura
padrão do Big Bang, desde que os intervalos em que A e B existam se tornem cada vez
mais curtos à medida que nos aproximamos da origem temporal.
Além disso, mesmo que você não ache que seja possível haver uma existência
intermitente desse tipo, é claro que, no mínimo, você precisará supor que houve
apenas um número finito de seres contingentemente existentes em ordem para
chegar à primeira conclusão provisória em 3.
A próxima premissa no argumento introduz uma nova rodada de dificuldades.
Inicialmente, pode parecer plausível supor que, se algo deve vir a existir em um
momento t, então deve ser trazido à existência por algo que existe às vezes antes de t.
Mas por que deveríamos supor que é simplesmente impossível que algo venha a existir
em um momento t sem ser trazido à existência por algo que existe às vezes antes de t?
Em particular, se supomos que pode haver um primeiro instante de tempo, t0, então
como podemos supor que aquelas coisas que passam a existir no tempo t0 são trazidas
à existência por coisas que existem às vezes antes de t0?
Devemos retornar a uma discussão mais detalhada da afirmação de que tudo o que
começa a existir tem uma causa para seu início de existência quando nos voltarmos
para discutir os argumentos cosmológicos Kalam.
Por enquanto, devo apenas me contentar com a observação de que é muito difícil ver
como fornecer a essa afirmação uma defesa convincente e sem petição de princípio.
Dada a discussão até este ponto, parece-me que temos o direito de concluir que
Tomás de Aquino falha em fornecer suporte argumentativo adequado para a
afirmação de que nem todo ser existente é contingente.
No entanto, pode ser que possamos defender esta reivindicação - embora de uma
forma que muito provavelmente prejudique seriamente o objetivo geral do argumento
da Terceira Via.
Suponha que a variedade espaço-temporal do universo real seja fortemente
inextensível. Nesse caso, é totalmente verdade que o próprio universo físico é um
existente necessário: não há nenhum mundo possível em que exista em alguns
momentos e ainda assim deixe de existir em todos os momentos.
Se o universo físico conta como um "ser", então é muito plausível supor que, por conta
da "contingência" agora em jogo, o universo físico é um ser necessariamente existente.
Se o universo físico conta como um "ser", então nem todos os seres são contingentes,
por conta da "contingência" agora em jogo.
Dada a suposição de que a variedade espaço-temporal do mundo real é fortemente
inextensível, a alegação de que um ser necessário pode dever sua necessidade a
alguma outra coisa claramente se baseia na suposição de que como as coisas são no
reino temporal pode depender de como as coisas são em algum reino atemporal.
Se a existência do universo físico depende de outra coisa, então - no mínimo - existem
mundos possíveis nos quais não há universo físico porque essa outra coisa é diferente
de alguma forma.
Além disso, se não houver espaço nem tempo "além" do universo físico, então a "outra
coisa" da qual depende a existência do universo físico não pode ser espacial nem
temporal.
Mas por que deveríamos supor que a existência do universo físico depende de outra
coisa? Se a existência do universo físico não depende de outra coisa, então, no sentido
de "necessidade" agora em jogo, parece que existe um ser necessário que não deve
sua necessidade a nada mais.
No entanto, nesse caso, a conclusão a que chegamos parece ser aquela que carece de
qualquer tipo de significado religioso: mesmo o ateu mais exigente poderia concordar
que o universo físico é um ser necessário que não deve sua necessidade a mais nada,
no sentido de 'necessidade' aqui em questão.
Claro, mesmo se alguém rejeitar a conclusão para a qual acabei de argumentar, há
outras razões para encontrar falhas no argumento de Tomás de Aquino a partir da
afirmação de que nem todo ser existente é contingente à conclusão de que existe um
ser (único) necessário que não deve sua necessidade a mais nada.
Como nas duas primeiras vias, o argumento parece claramente inválido: o máximo que
o argumento poderia estabelecer é que existem seres necessários que não devem sua
necessidade a nada mais.
Além disso, a premissa que exclui uma regressão infinita de seres necessários, cada um
dos quais deve sua necessidade ao próximo, claramente precisa de mais apoio.
Em suma, há muitas razões para pensar que a Terceira Via não é um argumento
persuasivo ou convincente para a conclusão de que existe uma causa primeira única de
existência que não é causada por si mesma.
Mesmo quando o argumento de Tomás de Aquino é reparado de forma que a
conclusão siga das premissas fornecidas, descobrimos que as premissas são altamente
controversas e, em alguns casos, totalmente carentes de suporte que não seja de
petição de princípio.
Se as análises que apresentei são bem fundamentadas, então há boas razões para
pensar que nenhuma das três primeiras das Cinco Vias de Tomás de Aquino seja um
argumento persuasivo ou convincente para a conclusão de que existe um modificador
inalterado ou uma causa não causada, ou um ser necessário que não deve sua
necessidade a nada mais.
Muito menos, então, qualquer um desses três argumentos fornece uma razão para
acreditar na existência do Deus de qualquer corrente familiar do pensamento religioso
monoteísta.
Existem formas bem conhecidas - e difundidas - de pensamento religioso monoteísta
que não aceitam que Deus é imutável, ou que Deus é a única causa não causada, ou
que Deus é o único ser necessário que não deve sua necessidade para qualquer outra
coisa.
Em muitas das concepções de Deus que podem ser adotadas, esses argumentos não
forneceriam nenhum suporte para a existência de Deus, mesmo se eles fossem
argumentos convincentes para a existência de coisas imutáveis, ou causadores não
causados, ou seres necessários que não devem sua necessidade a qualquer outra
coisa.

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