Você está na página 1de 4

Um Argumento Cosmológico A Partir Do Big Bang Para A Inexistência de

Deus

Parte 6 – A Questão da Simplicidade Relativa das Hipóteses Teísta e Ateísta

Autor: Quentin Smith


Fonte:
http://www.infidels.org/library/modern/quentin_smith/bigbang.html
[Publicado originalmente em FAITH AND PHILOSOPHY em abril de 1992
(Volume 9, No. 2, págs. 217-237)]
Tradução: Gilmar Pereira dos Santos (blog Rebeldia Metafísica)

-------------------------------------------------

Pode não haver nenhuma verdade a priori que exclua de consideração a


singularidade do Big Bang, mas existe um argumento probabilístico que
respalda a visão de que o universo começou com uma explosão
divinamente criada em vez de com uma singularidade incompatível com a
concepção ortodoxa de Deus.

A hipótese da criação divina é mais simples e por esta razão é mais provável
de ser verdadeira do que a hipótese ateísta.

O argumento de que a hipótese teísta é mais simples foi formulado por


Swinburne. Ele afirma que Deus é mais simples do que o universo físico e,
portanto, é mais provável do que o universo físico de existir inexplicado.

‘Se algo tem que ocorrer inexplicado, um universo físico complexo deve ser
menos esperado do que outras coisas (por exemplo, Deus).’ [21]
Se o universo físico é criado por Deus então ele tem sua explicação em Deus
e consequentemente não existe inexplicado; neste caso, somente Deus
existe inexplicado.

Como a hipótese de que Deus existe inexplicado é mais simples do que a


hipótese ateísta, é mais provável de ser verdadeira.

O princípio a que Swinburne está recorrendo é:

(1) Quanto mais simples um existente é, mais provável é que ele exista
inexplicado.

Eu acredito, contudo, que mesmo se concedermos a Swinburne esta e


outras de suas premissas, pode-se demonstrar que considerações de
simplicidade favorecem o ateísmo em vez do teísmo.

O critério de simplicidade de Swinburne é que existe uma simplicidade


‘relativa ao zero e ao infinito ausente em números finitos particulares.’ [22]

Por exemplo, ‘a hipótese de que alguma partícula tenha massa zero, ou


velocidade infinita, é mais simples do que a hipótese de que ela tenha uma
massa de 0.34127 de alguma unidade, ou uma velocidade de 301.000
km/seg.’ [23]

Igualmente, uma pessoa com poder, conhecimento e bondade infinitos é


mais simples do que uma pessoa com um certo grau finito de poder,
conhecimento e bondade.
Além disso, uma pessoa com poder, conhecimento, etc., infinitos é mais
simples do que um objeto físico que tem valores finitos particulares para
seu tamanho, duração, velocidade, densidade, etc.

Assumindo estas premissas, examinemos a hipótese de que um universo


finito começa com uma singularidade incausada. A singularidade em
questão possui volume espacial zero e duração temporal zero e não possui
valores finitos particulares para sua densidade, temperatura ou curvatura.

Parece razoável supor que em virtude destes valores zero e não-finitos, este
ponto instantâneo é o objeto físico mais simples possível.

Se concedermos a Swinburne que Deus é a pessoa mais simples possível e


mantermos que Deus e a singularidade incausada não podem ambos existir
(pelas razões enunciadas no argumento ateológico da seção 3), então
nossas alternativas são supor que ou a pessoa mais simples possível existe
e criou o universo espaço-temporal quadridimensional ou que o objeto
físico mais simples possível existe e emite o universo espaço-temporal
quadridimensional.

Se usamos o critério de simplicidade, existe alguma razão para preferirmos


uma destas hipóteses em detrimento da outra? Parece razoável supor que
o objeto físico mais simples possível é igualmente tão simples quanto a
pessoa mais simples, de modo que não há razão para preferir um em
detrimento do outro com base na simplicidade intrínseca.

Swinburne sustenta que Deus existe inexplicado e, portanto, Deus e o mais


simples objeto físico também se equiparam neste aspecto. Mas a hipótese
de que o universo espaço-temporal quadridimensional começou a partir do
mais simples objeto físico é, em um aspecto decisivo, mais simples do que
a hipótese teísta.
É mais simples imaginar que o universo físico 4D começou a partir da
instância mais simples possível de uma mesma categoria básica a que
pertence o próprio universo, qual seja, a dos objetos físicos, do que
imaginar que este universo começou a partir da instância mais simples
possível de uma categoria básica diferente, qual seja, a das coisas não-
físicas e pessoais.

A explicação ateísta da origem do universo 4D postula fenômenos de


apenas uma categoria básica (fenômenos físicos), ao passo que a explicação
teísta de sua origem postula fenômenos de dois tipos básicos (fenômenos
físicos e fenômenos pessoais incorpóreos).

Assim, por razões de simplicidade, a postulação de uma singularidade que


explode num Big Bang prevalece sobre a postulação de uma divindade que
cria a explosão do Big Bang ex nihilo.

Notas.

21. R. Swinburne, The Existence of God, op. cit., p. 130.

22. Ibid., p. 94.

23. Ibid.

Você também pode gostar