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INSTITUIÇÃO ACADÉMICA/NIVEL-CURSO/UNIDADE CURRICULAR:

UNIVERSIDADE JEAN PIAGET DE CABO VERDE/DOUTORAMENTO EM DESENVOLVIMENTO E


SUSTENTABILIDADE GLOBAL/EDUCAÇÃO, CIDADANIA E ECOPEDAGOGIA SUSTENTÁVEL
PROFESSOR(ES/AS) TITULAR(ES) DA UNIDADE CURRICULAR:
Professora Doutora Joanita Rodrigues/Professor. Doutor Wlodziemierz Szymaniak
DOUTORANDO:
PAULO JORGE DOS REIS LOPES
NATUREZA DO TRABALHO ACADÉMICO:
Relatório Crítico das 4 Miniconferências da Unidade Curricular
DATA DE ENTREGA/DEPÓSITO NO MOODLE:
30.04.2023

AVALIAÇÃO___________________________________

ASSINATURA DO
PROFESSOR____________________

Procuro com o desenvolvimento e a redação deste relatório crítico, dar a conhecer, os pontos mais
salientes das miniconferências apresentadas no transcurso da unidade curricular referida em supra, isto, no
Doutoramento em Desenvolvimento e Sustentabilidade Global, ministrado pela Universidade Jean Piaget de
Cabo Verde. Será um dos elementos da gradativa avaliação dos doutorandos.
Foram quatro as apresentações e sobre temáticas das mais variadas. A seguir, o decalque aproximado
dos conteúdos partilhados, e uma análise crítica dos pontos que considero mais relevantes para um trabalho
desta envergadura e nível de estudo. A sequência temporal da redação e do relato será cronológica.
Começarei com a primeira conferência apresentada pela Professora Doutora Ana Carvalho, terminando com
a da Professora Doutora Luiza Flores.
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COMUNICAÇÃO NA MINICONFERÊNCIA DO DIA 03.03.2023

“Ecopedagogia”

Professora Doutora Ana Carvalho

A Professora Carvalho começou por colocar a questão da utilidade daquela que é tida como uma
teoria ou um movimento, a Ecopedagogia. A Ecopedagogia preocupa-se com quê? Disse ela estar associada
à ecologia natural, que, por sua vez, acoplada à ecologia social, suscita a ecologia integral. Esta última,
entenda-se, a ecologia integral, é propulsora de mudanças económicas, sociais e culturais.
Aqui, aproveito para afirmar que, a Ecopedagogia assume caráter eclético, com fluxos e refluxos,
porque emana da sociedade e alimenta-a de igual modo.
A Ecopedagogia deve gerar uma mudança, mas a Professora Carvalho acabou por afirmar que, tem
havido mudanças a vários níveis, mas no social, as mudanças têm sido ténues.
Os colegas do Doutoramento, por exemplos vários, puderam sancionar positivamente esta asserção
feita pela Professora Carvalho. Foi unânime a ideia, de que, mesmo num país minúsculo como Cabo Verde,
a ideia que subjaz a Ecopedagogia, tem perdido fôlego entre nós, mesmo não sabendo nós de que se tratava
de uma abordagem Ecopedagógica. Vários foram os exemplos, calcorreando áreas do ambiente à vida
social, entre outras.
Na dinâmica da aula deste dia 03.03.2023, a Professora Carvalho acabou por listar o Holismo, a
teoria da complexidade de Edgar Morin, a Pedagogia de Paulo Freire, o Paradigma da Cosmodernidade de
Nicolescu como propostas pedagógicas válidas para a educação, em detrimento da instrução, que, nada mais
é, do que, as coisas no seu lado meramente teórico, sem a necessária dimensão prática que a educação
suscita.
São propostas pedagógicas que fazem a ecopedagogia sonorizar, visto ser uma teoria ou movimento
com heteroclíticas raízes, ou seja, bebe e se alimenta de várias fontes, influenciando de igual modo, a
dinâmica social no seu todo.
Num vídeo exibido pela Professora Carvalho, a realidade foi explicitada, veiculando aquilo a que já
se convencionou como fluxo da potência (Machado Silva, 2003), traduzido na perceção sobre aquilo que se
passa no subterrâneo. O sistema capitalista assim comporta, propondo uma vida de luxo e regalo, o que não
se verifica sempre, pois ele está também, emaranhado numa plêiade de tessituras que escondem tristes e
irreversíveis realidades, que colocarão muito e todos em risco.
Basicamente, traduz-se na exploração até à exaustão, numa lógica linear, quando a própria natureza,
não se compagina com a lógica linear, porque, finita em sua essência.
É preciso e com carácter de urgência, procurar e fomentar práticas que respeitem a natureza e sua
dinâmica própria, obedecendo a Lei de Parkinson, que nada mais é, do que, respeitar o tempo que cada coisa
toma para a sua fruição, não acelerando, por conseguinte, o processo que cada um leva até sua maturação.
Agindo assim, estar-se-á a apresentar uma alternativa às proposições escorregadias e efémeras, a que
Bauman (2001), descreveu como, a modernidade líquida, onde a consistência das coisas está em causa ou
perigo.
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COMUNICAÇÃO NA MINICONFERÊNCIA DO DIA 06.03.2023

“Os desafios da educação para o cidadão global”

Professor Doutor Oumar Diallo

Como antídoto à educação global, o Professor Oumar Diallo, propõe a ativação do método indutivo e
a participação dos(as) aprendentes. Há na globalização, efeitos sobre o todo social, vindos da tecnologia e
de relações complexas, o que gera crises. E, porque o mundo está assente sobre os tentáculos da educação,
seja por meios formais ou informais, ela deverá ser o fórum em que as formas de superação das crises
experimentadas até agora deverão ser construídas e propostas. O professor Diallo, coloca a educação como o
elemento charneira para se fazer frente aos desafios que a própria globalização vem impondo. Aqui,
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recuperaria o contributo de Bourdieu e de Passeron (2014), que nos lembra que, a escola pode e tem o poder
de legitimar e reproduzir as desigualdades sociais. No reverso da moeda, há uma proposta que nos lembra
que a educação pode ter um papel mais virtuoso, se, houver uma relação com o saber, como advoga Charlot
(2000). Muito importante esta informação derivada de uma meridiana clareza, porque será o próprio cidadão
conscientemente avisado, a reconhecer o estado em que se encontra, buscando por si mesmo, formas de
superação e alternativas válidas, para não ser capturado pelo báratro preparado e ativado, por quem tem
interesse em subjugar os outros, estabelecendo uma dependência e total subserviência.
Na comunicação do Professor Diallo, ele recupera a segunda agenda da UNESCO, sublinhando que,
a educação promove o desenvolvimento sustentável. Aqui, os(as) aprendentes são tomados(as) em conta,
numa perspetiva local e na sua vida quotidiana. Concordo em plenitude com esta visão, porque a educação é
virtuosa em sua essência, contrariamente às proposições que compõem e esboçam a instrução.
Pode-se ultrapassar as entropias da educação global através desta perspetiva que tem os(as)
aprendentes e a vida local e quotidiana dos(as) aprendentes em consideração, mas de igual modo, através de
professores com visão local antes da global. Há, aqui, claramente um desafio por parte do(a) professor(a),
uma vez que, estando envolvido(a) num contexto territorial, pode não fazer total correspondência entre o
local e o global, se não preparado(a), formado(a). Na perspetiva de Diallo, faz-se necessária uma abordagem
interdisciplinar, para se estudar os fenómenos com a perspetiva de várias disciplinas, como Edgar Morin
propõe também. Avanço, a par com Diallo e Morin, a necessidade de haver professores com uma:
“…formação multiculturalmente orientada, deve ser o resultado da combinação das dimensões
pedagógica, política e cultural, de modo que se possa criar condições e instrumentos que permitem aos
futuros educadores atuarem como profissionais reflexivos e comprometidos a romper com as práticas
monoculturais presentes no quotidiano escolar.” (Pansini & Nenevé, 2008, p. 31)

Bem assim, uma formação docente que enfatize “…a de tornar o social, o cultural, o político e o
económico, os principais aspetos de análise e avaliação da escolarização contemporânea.” (Moreira &
Silva , 2005, p. 5).

O professor deve reger-se pela interdisciplinaridade. A formação generalista está ganhando fôlego,
em detrimento da especializada. Aqui avanço, por exemplo, que para se entender as convulsões africanas nas
suas dimensões inter/intra fronteiriças, não se pode fazê-lo, sem se entender por exemplo, a divisão da
África por parte dos colonos e suas artimanhas legitimadas em espaços de subjugação, como, no da
Conferência de Berlim. Persistam incompreensões sociais, políticas e culturais, derivadas daquele tempo
pretérito com ressonância hoje, e quiçá no futuro, se não houver uma educação esclarecida de libertação das
mentes. De notar que, a Europa até finais do século XVII, viveu cenas dramáticas sem ter tido invasões e
imposições hétero-europeias. Portanto, a acusação da África ser um continente irreconciliável, deve ser
integrado numa perspetiva interdisciplinar, para uma compreensão global dos factos subjacentes, reais.
A proposta do local em primeira instância, e o apego à realidade, são claramente premissas para um
rompimento com a herança da ciência na sua génese (antropológica).

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De relembrar que, o envolvimento de todos, era prática do fazer-se ciência em África, antes da
invasão colonial. Todos eram incluídos, porque conscientes ou não, guardavam a ideia de que, a ciência não
se faz só com a função dos cientistas, como lavrado na História Geral de Africa VIII (Muzrai, Ade Adayi,
Boahen, & Tshibangu, 2010).
Houve um claro rompimento com esta lógica de se fazer ciência com cientistas e populares, porque
ditados pela lógica de uma racionalidade em que as proposições da ciência ativavam a isenção, quando se
sabe que, o conhecimento é sempre situado.
Para se dar resposta à educação global, o Dr. Diallo, na sua apresentação, faz dialogar o ambiente
intra e extra escolar, para que, a mudança ocorra. Isto, vem em linha do pensamento de Mohamed Cherkaoui
(2010), que argutamente sugere haver fluxos e refluxos na dinâmica escolar.
A par com a interdisciplinaridade, Diallo dá o salto, propondo também a transdisciplinaridade.
Traduz-se numa dinâmica afora a lógica das disciplinas consideradas isoladamente, tal como esboçadas pela
academia ocidental. Disciplinas que não proveem respostas aos desafios colocados por racionalidades de
outras latitudes ou geografias.
Para se fazer frente à educação global e suas entropias, o Professor Diallo propõe também, uma
educação operacional, permitindo conhecer as especificidades ante a generalidade das coisas.
Percebo ter ele associado a dimensão teórica à prática. Faz todo o sentido esta associação. O
aforismo II de Francis Bacon que partilha desta lógica associativa quando atesta:
“Nem a mão, nem o intelecto, deixados a si mesmos logram muito. Todos os efeitos se comprovam
com instrumentos e recursos auxiliares, de que dependem, em igual medida, tanto o intelecto quanto
as mãos. Assim como os instrumentos mecânicos regulam e ampliam o movimento das mãos, os da
mente aguçam o intelecto e o precavem.” (Bacon , 1988, p. 7)

Conclusão: O cidadão que se quer ajustado ao desenvolvimento sustentável, deve importar ferramentas de
mediação social, com capacidade de navegar do intrapessoal para o sócio coletivo e vice-versa.
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COMUNICAÇÃO NA MINICONFERÊNCIA DO DIA 07.03.2023

“EKONATURA”

No dia 7 de março de 2023, apresentou-se a temática sobre a experiência da Ekonatura, tendo como
comunicadora a Sra. Edite. Foi fecunda a comunicação estabelecendo como introito uma questão, esta,
lavrada nos seguintes termos: o que fazer com os produtos utilizados e que se transformam em lixo? Não foi
uma questão retórica para a audiência dos doutorandos e para a Professora Rodrigues que facilitava a
comunicação e posterior necessário debate, outrossim, uma pergunta com resposta e resposta avisada,

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quando a Sra. Edite afirmou ser, através da reutilização deles, entenda-se, reutilização dos produtos, para a
produção de novos, que se fará luta ao lixo gerado/criado.
Os problemas do ambiente são uma temática com dimensão global e planetária, muito pela ação do
homem, numa antropização voraz, que não teve em consideração a gestão dos recursos de forma racional e
estendida no tempo, outrossim, gerada e alimentada por uma lógica imediatista e egoíca, com raízes
profundas em momentos bem identificados da história da humanidade, e com sua ignição plenamente
ativada com a agressão sobre os países colonizados que alimentaram esta faminta procura pelos bens
materiais numa perspetiva capitalista - vide Acto Colonial - (Portuguesa, 1933), exponenciada pela
perspetiva neoliberal e com tentáculos que perduram até hoje, razão por que, experimenta-se nestes tempos
hodiernos esta “crise diluviana”, como corajosamente caraterizada pelo Secretário Geral das Nações Unidas,
Engenheiro António Guterres.
Está-se perante uma crise planetária, porque somatório da agressão local nas várias topografias do
mundo, mas com especial acuidade dos países desenvolvidos. Porque uma agressão local também, a
localidade de São Francisco (Ilha de Santiago/Cabo Verde) mereceu/merece a intervenção de um grupo de
cidadãos, motivados por uma intervenção cidadã e despretensiosa, isto, para a minimização dos problemas,
e, por conseguinte, da maximização das potencialidades que o próprio lixo pode gerar. Aqui pode-se
perceber a definição daqueles(as) que consideram os valores como sendo bipolares, isto, na lógica dos
estudos axiológicos. O lixo é prejudicial para o ambiente, mas pode também ser benéfico, quando reutilizado
numa lógica de maximização dos recursos que a própria natureza oferece, em contraposição ao descarte
recorrente.
Retive como importantíssimo a questão da identificação do problema maior em meio a vários
problemas importantes assinalados. A Ekonatura identificou a poluição das ribeiras daquela localidade (São
Francisco), como a mais gritante e saliente, e que deveria merecer uma atenção particular e focalizada por
parte dos integrantes da associação.
Quando se fala sobre Cabo Verde, um país com uma orografia essencialmente acidentada,
designadamente nas ilhas de Santo Antão, São Nicolau, Santiago, Fogo e Brava, as ribeiras acabam sempre
por serem as mais assoladas, em virtude do natural curso que os resíduos tomam, quer pelas águas das
chuvas, quer pelo poder do vento na densidade e posição que assume em cada momento e estacão do ano,
mormente nesta zona do Sahara (Vento Harmatão, comumente designado em língua cabo-verdiana de
“Bruma Seca)”).
Assim sendo, a identificação deste problema maior em concertação com a comunidade local, é de
extrema importância, para se poder concentrar as energias numa causa principal e maior, para que, os
resultados sejam mais evidentes e duráveis, depois da intervenção. É consabido que, a realidade social é
heteroclítica na sua forma, como afirmara Fanscis Bacon, mas não se pode abordar e resolver tudo ao

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mesmo tempo, quanto mais não seja, por parte de uma organização que não tem o poder financeiro e
capacidade interventiva que o estado tem na sua multiforme autoridade.
A intervenção da Ekonatura, mostrou-se sábia desde sua fase inicial, na meso, e na atual. Os
plásticos e os vidros, foram identificados como os maiores problemas naquela localidade, isto, em termos
ambientais. Sábia, porque se baseou tudo, numa pesquisa, sendo esta fator decisivo para a intervenção por
parte daquela ONG e naquela área geográfica em particular, a saber, a do combate a um dos fatores que
concorre para as mudanças climáticas a nível mundial, o lixo, resultante dos plásticos e vidros, num
consumismo voraz decorrente da excessiva materialização da vida por parte do ser humano e também da
pressão resultante da população mundial que já cruza os 8 bilhões de seres. E porque assim é, um grupo de
cidadãos visionou o Ecocentro como um negócio viável, porque como disse anteriormente, os valores são
bipolares, geram oportunidades também. Fizeram-no com uma estratégia certeira, que foi a de se fazerem
próximos aos maiores acumuladores (Bares e Lojas) daqueles objetos/resíduos (plásticos e vidros), através
da colocação de depósitos para a recolha dos mesmos e posterior reciclagem. Tudo, para se poder viabilizar
o negócio, instituindo uma política de produção e consequente venda, numa perspetiva integradora, em que a
comunidade fez e faz parte de todo o processo, desde a sua fase embrionária, até esta mais atual e madura.
A experiência da Ekonatura transporta em si virtuosidades de ponta nesta luta de combate às
mudanças climáticas, quando por exemplo, montam uma política de energia usada como crédito, quando
outras fontes de energia renovável indisponíveis. Afirmo mesmo que, há uma coerência nas políticas, porque
não se pode combater por um lado e contribuir por outro para a degradação do ambiente, através da
utilização de energia fóssil disponibilizada pela empresa nacional de geração de energia, a Electra.
Deve-se envolver toda a comunidade nas atividades do ecocentro. Este é um outro ponto de capital
importância nesta ventura da Ekonatura. A recolha de resíduos nas casas numa base bissemanal, faz sentido,
garantindo-se assim, uma progressiva assunção da população daquela localidade neste projeto empreendido,
porque, não se pode esperar total envolvimento da comunidade, mormente numa área de intervenção nova e
diametralmente oposta aos hábitos e a costumeira vivência da gente daquela localidade. Estão mais atreitos a
lutarem por aquilo de que necessitam diariamente, e não a pensarem e combaterem os fatores de geração das
mudanças climáticas, o que tem horizonte maior, não imediatista. Portanto, o envolvimento da população
local e da forma como o fazem, estabelece uma identificação com o projeto da Ekonatura, fazendo-o fruir, e
com possibilidades de futuro, não sendo um aborto ab initio.
Estabeleceu-se aquilo que hoje é apelidado de andaimaria (Coll & Miras, 1996). Uma abordagem de
progressiva autonomia e identificação com aquilo que se faz. Garante-se por esta via, uma assunção do projeto, e
quando assim é, há sustentabilidade do projeto, porque intergeracional e atemporal a influência.
Os arquitetos deste projeto, Ekonatura, mostram-se mais uma vez esclarecidos e como gente avisada
que mostram ser, dão visibilidade ao projeto, através de sinalética instalada para se poder chegar ao centro.
Há sinalização ao longo do percurso, fazendo com que, quem queria ir visitar o espaço, tenha
autonomia até lá chegar. Muito visionário este projeto da Ekonatura e neste quesito em particular, porque em
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Cabo Verde, ainda não há ferramentas avançadas disponíveis, designadamente a mais sofistica como é o
caso da GPS, que permite a localização dos espaços e nem há toponímia estabelecida, como já houve em
tempos pretéritos. Uma prática que acho deve ser reativada, a toponímia, porque, em Cabo Verde deseja-se
os dividendos do turismo, mas não se está a cuidar destes pormenores e que se apresentam como
“pormaiores” numa área tão sensível, como o turismo.
Outra medida que entendo fecunda neste empreendimento com cariz marcadamente ambiental, é a da
reciclagem de dois tipos de plásticos e um de vidro. A variabilidade de tratamento do lixo, com dois tipos de
plásticos e um de vidro, faz o projeto fugir ao fracasso, porque se optassem apenas por um tipo de resíduo,
facilmente, e no nosso contexto de microestado, logo de baixo consumo, haveria períodos de paragem por
falta de produtos para reciclagem. Mas, porque a reciclagem é diversa em termos dos produtos-alvo, a
sustentabilidade está grandemente assegurada.
Porque as fontes de rendimento também contam, isto para a viabilidade do projeto, a Ekonatura tem
estabelecido fontes de financiamento e que passam por vendas, via parceiros. A perspetiva é reticular,
acabando-se por captar boa parte dos parceiros que fazem parte desta rede. Há muitas partes interessadas
que estão incluídas, para que a venda seja efetiva.
As parcerias passam por organizações credíveis e com forte reconhecimento por parte da sociedade
civil, nomeadamente via o Laboratório de Engenharia Civil e que chancela como boa, a produção de
paveses, classificando-as como boa e até de maior qualidade do que as comumente fabricadas por empresas
já estabelecidas no país e nesta área. A Ekonatura tem uma perspetiva sistémica da sua atuação. Não é uma
organização enclausurada, outrossim, aberta e fluída, capaz de captar para o seu meio, organizações outras, e
com prestígio social, garantindo, por conseguinte, a simpatia e credibilidade sociais, fulcrais para a
continuação e aprofundamento do que se tem feito e do que se pretende fazer, logo, maiores possibilidades
de apoio a vários níveis.
A Ekonatura não se mostra arrogante e com antídotos de carácter prescritivo na sua atuação e ação.
Não! Ela se mostra como organização que sabe interagir com o seu entorno, a saber o ambiente externo,
através da comunicação. E sabe-se que, a comunicação ocupa 80% daquilo que se faz nas organizações. A
Ekonatura faz comunicação a nível comunitário, nacional e internacional, participando e sendo parte das
discussões nos mais diversos fora.
Ela não é hermeticamente fechada em si mesma, outrossim, em total e absoluta relação com o
ambiente que a rodeia, sendo, portanto, parte das organizações que nunca falecem, muito por via da sintropia
que ativam, em detrimento da entropia, esta sim, uma força que definha e fraqueja as organizações que
arrogantemente laboram na lógica de desprezo ao ambiente externo que as rodeia.
As virtuosidades deste empreendimento, a Ekonatura, cruzam também com a perspicácia, que por
sua vez ativa uma relação entre o tradicional e aquilo que é visto como moderno. Aqui o tradicional e o
moderno como faces da mesma moeda, mas separadas pela lógica temporal, e, pelas características que cada

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um, comporta. Pode-se dizer que, a Ekonatura faz coabitar o filoneísmo e o misoneísmo, rebatendo, por
conseguinte, a dicotómica relação excludente entre o tradicional e o moderno. Casam-se afinal! O caso
prático desta coabitação, foi trazida por um saco de areia exibido em uma das fotos de apresentação do
projeto da Ekonatura feita pela Sra. Edite, artefacto para proteção do ambiente interno das casas, de
detenção do pó, fulcral para um ar respirável, saudável e promotor do bem-estar. É um artefacto a que já
estamos habituados (tradicional), instalado na parte inferior das portas, mas que ganhou cintilância, através
do tecido multicolor que trazia, numa espécie de “pano terra” reeditado (modernidade).
Outro ponto que fez deter minha atenção, fixou-se nas políticas com caráter público e nas com
carácter privado.
As políticas de cariz público, têm mais recursos, contudo, quando em comparação com as do
privado, há claramente menos recursos. Todavia, há menor identificação e menos rostos visíveis no público,
do que, nas iniciativas privadas, porque nestas últimas, há maior motivação interna, logo, maior entrega por
parte dos(as) promotores(as). O Estado deve, por conseguinte, socorrer-se do privado, para que melhores
resultados sejam alcançados.
Nesta parte final desta comunicação da Sra. Edite, deverei compor aqui um axioma que busca
sumarizar toda a intervenção feita e as silhuetas gizadas. Resume-se em:
“Na economia solidária, na circular e na social, os membros da comunidade devem ser parte do
projeto.”
Esta, está imbricada a ideia sistémica, em oposição à reducionista. O todo é mais do que a soma das
partes, ao mesmo tempo, sendo menor do que a soma das partes, cujas qualidades são inibidas pela
organização no seu conjunto. A ideia deve ser sempre, pensar globalmente e agir localmente (Paquette,
1979).
As instituições sociais evoluem em direção à uma complexidade e diferenciação crescentes (Capra ,
1983). Portanto, a Ekonatura deve continuar a receber do seu entorno, todas as contribuições, por forma a
manter sua organicidade, não falecendo, por conseguinte, derivado da falta de vitalidade que a sociedade
empresta às organizações, quando assim pretendem.
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COMUNICAÇÃO NA MINICONFERÊNCIA DO DIA 09.03.2023

Professora Doutora Luiza Flores

Universidade Federal do Amazonas

No dia 9 de março de 2023, na quarta temática das miniconferências, a Professora Doutora Luiza
Flores, da Universidade Federal do Amazonas, partilhou com a turma do Doutoramento em

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Global, excertos da sua tese de Doutoramento, mormente sobre formas
de resistências.
O terreiro, o Quilombola, mereceram análises como formas de resistência ao poder instituído e
marcadamente eurocêntrico.
A Professora Flores começou por situar estas formas culturais como expressões de resistência. O
terreiro assim o é, porque eivada em práticas ancestrais africanas.
O quilombola é também uma forma de resistência, mas com uma nuance diferente, porque prática
rural e urbana.
Importante sublinhar aqui que, o hiato entre o pedido de certificação desta expressão e seu efetivo
reconhecimento foi de quinze anos. Vê-se claramente que há formas sub-reptícias de negar o palco a estas
expressões marcadamente africanas e de resistência. Num Estado democrático como é o Brasil, o espaço
mediático é dado aos que vociferam a visão eurocêntrica, recusando outras formas de visão do mundo,
mesmo os que fazem parte do substrato da sua própria existência como país. Portanto, o primeiro ponto a
merecer análise aqui, é o facto de se estar a negar a própria história que subjaz o Brasil como país. Continua-
se a experimentar os efeitos da divisão que se fez na história da humanidade, em que, tudo o que seja
africano, seria subalterno, pelo que, deveria ser submetido à um processo de decantação, para se tornar
perene e aceitável, a partir daquilo a que Hilton Japiassú (2012) chama de, a razão ocidental, quando de
facto, há racionalidades múltiplas e multiformes do outro lado. Experimenta-se em Cabo Verde esta
demarcação entre o aceitável e o não aceitável, a ponto de, por exemplo, uma das maiores marcas da nossa
identidade ser recusada como oficial, passados 47 anos da declaração da independência - A nossa Língua!
Avançando com a conferência proferida pela Professora Flores, tomei boa nota sobre questões de
género, em que as mães são tidas como o elemento de ligação entre a política, a ecologia e a espiritualidade.
Elas são tidas como vértices deste triangulo equilátero que liga a política, a ecologia, e, por fim, a
espiritualidade. Hoje, sabe-se ser o ser humano um ser biopsicossocial, logo, merecedor desta integradora
abordagem.
Darcy Ribeiro, usa o termo monismo legiferante, como o sistema, em cujo poder, é unicamente
estatal. Outras formas do exercício do poder são coartadas ab initio e tidas como contrapoder. Na lógica
estatal monista, estas mulheres não são à primeira, reconhecidas como tendo habilidades para a gestão ou
administração, invisibilizadas por marcas estabelecidas por décadas e centúrias, resistentes à mudança. É
preciso uma consistente luta, para que, o lugar de visibilidade lhes sejam dadas.
A par esta forma de poder centralizada na mulher, importa aqui sublinhar o valor da palavra, que nas
IPADES é sacralizada. A palavra é sacralizada. Esta sacralização tem proveniência ancestral africana, em
que, a palavra assume valor absoluto, contrariamente às proposições do monismo jurídico, que, apenas
chancela a letra da lei, escusando o poder da palavra. A palavra não conta, deve ser mediada pelo poder

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jurídico para ter valor vinculativo. É o terceiro poder proposto por Montesquieu, o poder judicial, que deverá
sancionar positiva ou negativamente o valor da palavra.
Creio termos necessidade como do pão para a boca, de recuperar este legado marcadamente africano,
porque tem o poder de fazer consolidar a tessitura social, esbatendo a desconfiança e o oportunismo que
imperam de há décadas para cá. Se o valor da palavra for ativado, haverá mais e maior confiança e uma
necessária comunhão, capaz de fazer distender a tensão social nas nossas cidades, dando fôlego à partilha e à
construção mútua, viabilizando este país em todas as áreas que enformam a dinâmica social.
Importante também sublinhar a fase de iniciação a que a Professora Flores foi submetida. Causou-lhe
estranheza num primeiro momento, como ela mesma disse, tudo, creio pela cosmovisão a que foi submetida,
por via da formação escolar. Esta é uma das razões, por que desenvolverei a temática para o artigo final
sobre as insonoridades do currículo ante a ecosonoridade do professor, isto porque, o professor pode notar e
fazer ruir as subtilezas que os curricula veiculam de forma sub-reptícia. Por exemplo, facilmente e de boca
cheia, um professor pode se orgulhar, a partir da cátedra, de que há objetividade garantida na constituição
cabo-verdiana para que qualquer um que tenha 35 anos de idade possa concorrer à Presidência da República.
No entanto, o(a) professor(a) avisado(a), porque portador(a) de uma dimensão cultural, social e política,
pode comprovar a fragilidade desta pretensa objetividade exarada na constituição, porque, na cosmovisão
africana, aquele que era para governar, era preparado por anciões com experiência de vida e deveriam passar
por um processo de decantação apertadíssimo. Hoje sabemos que a idade cronológica pode não ter
alinhamento total com a idade mental. Portanto, pode ser insuficiente esta pretensa objetividade
constitucional.
Avançando, digo que depreendi que no Quilombola, a iniciação tem uma dimensão abstrata,
igualmente inteligível. Há uma comunhão harmoniosa entre o corpo e o espírito. Há uma relação biunívoca
entre eles. Pode-se pensar isto em relação a razão ocidental como cunhada por Japiassú (2012), uma razão
em que apenas por se ter poder económico alimenta-se de forma descontrolada, trazendo para o corpo
comorbidades várias, desde a obesidade e demais problemas de saúde pública corelacionados ao consumo
excessivo.
Posso também falar no uso de tintas para tatuagens, com o fito único de endeusar uma determinada
estética tida como moda, sem se pensar na própria fragilidade física do homem/mulher, num tempo em que
as doenças não contagiosas ferozmente perigam umas vidas e penetram outras indiscriminadamente, desde
as mais pueris até aos mais senis. Deve-se fazer uma avaliação minimamente prospetiva destas ações que
são assumidas a partir da liberdade individual, mas, com implicações sobre o todo social, designadamente no
aumento de despesas da previdência social, e de um menor desenvolvimento do próprio país que se vê
privado da contribuição que os(as) afetados(as) poderiam emprestar.
Voltando para a questão da governança, importante dizer que, naquelas comunidades, as entidades
são consultadas e têm poder sobre às decisões adotadas pela comunidade. Na nossa cosmovisão

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eurocêntrica, a entidade suprema foi banida, porque fora do cânone científico. Esquecemo-nos de que há
realidades afora à realidade objetiva e palpável. Aqui, meio puxando pelo lado da fé que professo, as
próprias sagradas escrituras nos dizem que o mundo foi feito daquilo que não é aparente. Estava-se a falar
dos átomos num tempo em que a própria ciência não dispunha deste conhecimento. Os átomos não eram
vistos, mas existiam. Podemos estar hoje a negar aquilo sobre o qual teremos total compreensão num tempo
vindouro. Portanto, é aconselhável esta prudência sobre aquilo que entendemos como realidade. A natureza
geme hoje por causa das limitações que o homem emprestou à esta forma de vida em que ele mesmo se
tornou o centro (antropocentrismo), ficando tudo à sua volta, coisificando tudo para o seu belo prazer e
regalo. Perdeu-se a harmonia, porque ele o homem, evadiu-se do todo.
Avançando para uma forma de educação proposta por aquelas comunidades, propuseram uma
educação feita em conjunto, não profissional, o que radica suas raízes numa abordagem colegial, contrária
àquela que Paulo Freire apelida e contraria, a educação bancarizada. Há uma pedagogia do encanto, num
respeito ao ambiente envolvente, a todo o entorno, uma educação que tem em perspetiva a cosmovisão local.
Aqui nesta conferência, deixei uma interrogação sobre, se esta pedagogia, virtuosa também, não terá
seus defeitos em igual medida, visto carecer de uma visão global como dimensão complementar ao
encantamento? Que formas são ativadas para que a pedagogia do encantamento não seja excludente no seu
esforço de inclusão.
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