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CAMPUS CORURIPE
CORURIPE-AL
MARÇO/2022
KAYLANE MAYARA DA SILVA SANTOS
Matrícula: 2018305141
CORURIPE-AL
MARÇO/2022
KAYLANE MAYARA DA SILVA SANTOS
Matrícula: 2018305141
Aprovado em
Orientador:
__________________________________________
Ma. Priscila de Souza Maciel - IFAL / Campus Coruripe
Banca examinadora:
__________________________________________
Dr. Fulano de Tal – IFAL / Campus Maragogi
__________________________________________
Dr. Fulano de Tal – IFAL / Campus Maragogi
__________________________________________
Dr. Fulano de Tal – UFAL / Campus Arapiraca
CORURIPE-AL
MARÇO/2022
RESUMO
É fato que a mineração é uma das atividades econômicas mais relevantes para o país, tendo
grande influência no valor do Produto Interno Bruto (PIB) e na distribuição de empregos,
todavia, também é de conhecimento geral que barragens de rejeito não estão promovendo
segurança para a população, visto que o caso mais recente de rompimento de barragem, em
Brumadinho – Minas Gerais (MG), tirou 262 pessoas mortas, além dos danos ambientais e
socioeconômicos. Diante disso, é sabido que a suposta melhoria que deveria ter sido feita desde
o desastre de Mariana - MG em 2015 não foi efetivada, a maioria dos problemas dessas
estruturas vem desde a sua construção – geralmente alteada a montante – que não garante uma
total estabilidade ou controle construtivo. No Chile, depois do acidente com a El Cobre n°1,
foram iniciados diversos estudos para a construção de barragens que resistissem à forte
sismicidade da região, chegando às barragens ciclonadas, que perduram até hoje. O objetivo
central do trabalho é analisar a atuação dessas barragens em território brasileiro e justificar
porque elas garantiriam maior segurança aos brasileiros. Propõe-se assim, o estudo, a partir da
literatura de especialistas, da situação chilena com esse tipo de barragem e a revisão de
problemas gerais encontrados nas estruturas que colapsaram no Brasil. Sob essa ótica, visto que
tais construções chilenas suportam abalos sísmicos, sua atuação no país seria uma ótima
proposta, visando a segurança dos trabalhadores, da população e do meio ambiente, sem
interferir nas atividades de mineração, que acrescentam muito à economia do país.
It is a fact that mining is one of the most relevant economic activities for the country, having
great influence on the value of the Gross Domestic Product (GDP) and the distribution of jobs,
however, it is also common knowledge that tailings dams are not promoting safety for the
population, since the most recent case of dam rupture, in Brumadinho - Minas Gerais (MG),
took 262 people dead, in addition to environmental and socioeconomic damage. Given this, it
is known that the supposed improvement that should have been made since the disaster in
Mariana - MG in 2015 has not been effected, most of the problems of these structures come
from their construction - usually raised upstream - which does not guarantee total stability or
constructive control. In Chile, after the accident with El Cobre n°1, several studies were
initiated for the construction of dams that could resist the strong seismicity of the region,
arriving at the cyclone dams, which endure until today. The central objective of this work is to
analyze the performance of these dams in Brazilian territory and justify why they would
guarantee greater safety for Brazilians. It is proposed to study, based on the literature of
specialists, the Chilean situation with this type of dam and to review the general problems found
in the structures that collapsed in Brazil. From this point of view, since these Chilean
constructions can withstand seismic tremors, their performance in the country would be an
excellent proposal, aiming at the safety of workers, the population and the environment, without
interfering in the mining activities, which add a lot to the country's economy.
2. OBJETIVOS ........................................................................................................................... 8
4. METODOLOGIA ................................................................................................................. 10
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................................... 30
7. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 32
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 34
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1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo a análise do uso de barragens ciclonadas como método mais
seguro para a disposição de rejeitos no Brasil.
3. ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO
4. METODOLOGIA
5. REFERENCIAL TEÓRICO
Luz e Lins (2004) explicam que o procedimento de liberação do mineral ocorre por meio
da operação de tamanho – de britagem ou moagem – e varia entre centímetros e micrômetros.
Em seguida, a operação de concentração vai ser desenvolvida baseando-se nas diferenças de
propriedades do mineral de interesse e o mineral de ganga, que é o mineral sem valor
econômico. As propriedades que são levadas em consideração na separação de elementos são:
susceptibilidade magnética, que é uma característica exclusiva de cada material e está
relacionada à ação exercida pelos dipolos magnéticos dos átomos; a condutividade elétrica, que
é a capacidade que o material tem de conduzir eletricidade a partir dos elétrons; propriedades
químicas de superfície, como a permeabilidade ou o brilho, por exemplo; a cor, a radioatividade,
a forma e etc.
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De acordo com o gráfico, o teor de finos dos materiais fica entre 21,2% e 81,3%, já o teor
de areia fica entre 33,3% e 77%. O tamanho do grão e o teor de argila vão atuar diretamente no
controle de vazios, uma vez que as areias se encontram numa faixa de vazios de 0,6 a 1,1 e os
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lodos de argila, altamente plásticos, vão estar numa faixa de 4 a 10, ou seja, os lodos de argilas
são propensos a possuírem mais vazios em seu volume.
Sarsby (2000) apresenta outro grande fator físico em sua obra, sendo o índice de
permeabilidade do material, que depende diretamente da classificação do rejeito. Por exemplo:
rejeitos de areia limpos e grosseiros apresentam grandeza de cerca de 10 -9 m/s para argilas
consolidadas. O grau de permeabilidade destes materiais vai atuar no desempenho da barragem
de forma considerável, visto que quanto menor o coeficiente de permeabilidade maior é a
facilidade de surgirem desafios nos processos de alteamento.
De acordo com Araújo (2006) o método de alteamento por montante é o mais antigo e
preferido das empresas de mineração, tanto por sua simplicidade e velocidade de construção,
quanto por ser mais econômico para as mineradoras. Este método consiste na construção dos
diques de partida, com material argiloso ou com enrocamento compactado, sob a própria praia
de decantação dos rejeitos, dessa forma, o rejeito é lançado por canhões dispostos por todo o
barramento diante da linha de simetria do dique, assim que formada a praia de deposição, que
será utilizada como fundação da barragem, os alteamentos continuam sucessivamente até
atingir a cota prevista do projeto.
Em concordância, Vick (1983) alega que no caso dos alteamentos construídos com no
máximo 50% de finos, é necessário que na saída/descarga da polpa de rejeitos, a mesma seja
constituída de alta porcentagem de sólidos por peso, para que haja a segregação natural do
material e seja possível a permeabilização natural, em que essa porcentagem pode ser obtida na
ciclonagem dos rejeitos antes do seu uso direto na estrutura.
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Klohn (1981) diz que as vantagens desse tipo de alteamento para a segurança é o constante
controle construtivo do lançamento do rejeito na barragem e na sua compactação, além da
capacidade de implantação de um sistema de drenagem eficiente, diferentemente do método à
montante.
longo do perímetro da crista do dique inicial, que resulta na praia de rejeitos - a zona mais
próxima do ponto de lançamento - e essa praia servirá de fundação para os alteamentos futuros
(Lozano, 2006).
Ainda segundo Lozano (2006), a descarga dos rejeitos em polpa é feita através de ciclones
ou de um sistema de tubulações - spigots - menores posicionados de forma perpendicular à
tubulação principal, que vão permitir a formação de uma praia de rejeitos mais uniforme. Os
diques de alteamento são construídos de rejeito e a partir da compactação com o próprio
aparelho de espalhamento, esse processo é repetido até alcançar a cota prevista pelo projetista.
Por outro lado, mesmo o alteamento por montante sendo o mais comum e econômico - a
curto prazo -, há inúmeros riscos em sua aplicação, principalmente quando o projeto não é
compatível com este tipo de barragem. Chambers e Higman (2011) argumentam que esse
método é instável pelo fato de que as estruturas dos alteamentos são construídas acima do
próprio rejeito resultante dos processos de beneficiamento, podendo estar e permanecer
saturado por um longo período. Ademais, Troncoso (1997) afirma que esse apresenta risco de
ruptura por liquefação, quando a estrutura sólida transita para o estado líquido , além de risco
de ruptura por percolação e piping, um processo de erosão interna provocada por falhas nos
sistemas de drenagem.
Nesse contexto e ainda segundo Troncoso (1997), o controle construtivo desse método se
torna o mais instável em comparação com jusante e linha de centro, além do estado do rejeito,
ao ser usado na sua forma mais saturada. Outro fator é a compactação restrita aos diques
apoiados sobre um tipo de fundação não compactada. Um dos maiores exemplos da
instabilidade desse tipo de alteamento são as barragens de Brumadinho (2019) e Fundão (2016),
que foram construídas por alteamentos a montante, não seguindo totalmente os requisitos de
segurança, e resultaram em dois dos maiores acidentes ambientais do Brasil, como é mostrado
nas Figuras 07 e 08.
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Além disso, de acordo com o 121° boletim publicado pelo ICOLD em 2001, intitulado como
“Riscos de Ocorrências de Perigos em Barragens de Rejeito, Lições Aprendidas a Partir de Experiências
práticas”, em que foi feita uma pesquisa com 221 casos de acidentes de rompimentos de barragens no
mundo, concluiu-se que o maior número de casos estava relacionado a estrutura de montante.
Pode-se notar no gráfico da Figura 09 a discrepância nos números de casos, confirmando que o
método é o mais suscetível a acidentes, sejam por: falhas estruturais, falta de controle hídrico
ou terremotos - o que não é o caso do Brasil.
um terremoto, resultando em mais de 200 mortes. Logo após a tragédia, ficou proibida a
construção de barragens alteadas pelo método a montante.
Em concordância com Troncoso (1997) e Chambers e Higman (2011), Valenzuela logo
conclui que a maior dificuldade de manter uma estrutura alteada por esse método,
principalmente levando em conta a evolução da demanda na mineração, produzindo mais
rejeitos que na época de El Cobre, é garantir um controle construtivo excelente para que se
possa assegurar que a construção vai ser feito da maneira correta e respeitando os limites
construtivos impostos na tabela 01.
Barragens ciclonadas são estruturas que utilizam do próprio rejeito a ser armazenado para
os alteamentos. Para a construção, o rejeito em polpa passa por um processo de separação
simples ou dupla - a depender do material - em que o rejeito é separado em dois e usado de
formas diferentes durante a construção. Ao sair do processo de beneficiamento, o rejeito
encontra-se com parcelas de material de diferentes tamanhos, por possuírem características
diferentes é feita a separação por meio de hidrociclones (ARAÚJO, 2006).
O hidrociclone funciona pelo efeito da força centrífuga. Ao receber a polpa o
equipamento faz com que as partículas mais densas - chamadas underflow - organizem-se em
movimento descendente e as partículas menos densas - chamadas overflow - organizem-se de
forma ascendente; dessa maneira, em solos convencionais em que a densidade dos grãos é
geralmente a mesma, pode-se dizer que é uma separação granulométrica (RUSSO, 2007).
Assim, Russo (2007) argumenta que a parcela do overflow, por possuir uma variedade
muito grande de grãos finos e apresentar saturação considerável, não é indicada para a
construção dos alteamentos da barragem; no entanto, a parcela do overflow possui
características geotécnicas superiores a anterior, e mesmo também apresentando boa quantidade
de água, seu teor de sólidos a torna vantajosa. Em concordância, Ribeiro (2000) diz que ao
lançar a parcela fina no reservatório comum e usar a parcela mais grossa nos alteamentos, é
garantida uma estabilidade maior à construção, pois, o coeficiente de permeabilidade do
underflow permite drenagem rápida e natural da água em excesso, além de impedir que parcelas
muito finas participem do barramento. A Figura 10 apresenta o esquema de utilização dos
ciclones quando na crista da barragem.
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Segundo Ribeiro (2000) para que a construção seja verdadeiramente viável, é preciso que
a parte grossa do rejeito possua um alto teor de sólidos para que a variabilidade de tamanho dos
grãos promova a permeabilidade natural e torne a estrutura mais estável e menos suscetível à
liquefação. Em concordância, Mafra (2015) ressalta que o teor de sólidos do underflow ao sair
da ciclonagem está por volta dos 70%, porém, mesmo que seja um valor considerável, essa
parcela ainda possui umidade acima do valor recomendado para compactação, aceitável entre
11% e 15%.
Dessa maneira, exige-se um coeficiente de permeabilidade de 10-³ para que haja o
desaguamento natural e sua umidade alcance valor próximo a umidade ótima para a
compactação. Segundo Valenzuela (2015), é de suma importância que haja um limite para o
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número de finos passantes na peneira n° 200, pois, após vários anos de estudo, concluiu-se que
rejeitos de cobre que apresentam seu peso específico entre 2,7 g/cm³ e 2,8 g/cm³ apresentam
coeficiente de permeabilidade de 10-³ para porcentagem de finos passantes no máximo igual a
20%. No entanto, para rejeitos com peso específico entre 3,0 g/cm³ e 3,2 g/cm³ a porcentagem
de finos pode variar entre 20% e 25%, que é onde se encaixam os minérios de ferro, e o
coeficiente de permeabilidade chega a 10-³.
Nessa perspectiva, quando apenas a primeira ciclonagem não basta para a separação ideal
do rejeito, que é quando a curva granulométrica do rejeito ciclonado fica próxima a curva do
rejeito total, faz-se necessário uma segunda ciclonagem. Ao analisar a ciclonagem e o
comportamento granulométrico do rejeito proveniente do minério de ferro, Lopes (2000)
conclui que o hidrociclone - apesar de conseguir fazer a separação do underflow e overflow -
ainda assim não faz uma distribuição perfeita, pois existem muitas partículas que são menores,
em diâmetro, mas possuem peso semelhante às partículas de maior diâmetro. Ao observar a
Figura 11 é perceptível a proximidade entre as duas curvas, que mesmo após a ciclonagem,
possuem porcentagem de finos passantes igual a 45% e com coeficiente de permeabilidade
muito baixo - cerca de 10-4 cm/s -, o que o torna, portanto, impróprio para o uso em Barragens
Ciclonadas.
Figura 11: Gráfico granulométrico com curvas típicas do rejeito de minério de ferro.
de saturação aceito aumentou, tornando-se um dos primeiros passos para a liquefação da areia.
Entre 2010 e 2011, o critério básico da praia de rejeitos de 200 metros não foi respeitado, muitas
vezes com a lama da barragem chegando até a 60 metros da crista, resultando na sedimentação
da lama em locais que não eram indicados e que prejudicariam futuramente tudo o que restava
da estrutura. Por fim, o último incidente aconteceu no ano de 2012, quando um duto de concreto
localizado na ombreira esquerda da barragem foi dado como defeituoso e incapaz de resistir às
cargas adicionais da estrutura, a fim de manter as operações, essa ombreira foi recuada de sua
posição anterior e colocada exatamente sobre a lama sedimentada. Os três incidentes já eram
sinal suficiente de que a estrutura não estava sendo construída de forma devidamente segura,
levando em conta que a operação continuou e que os alteamentos continuaram sendo feitos, o
tapete drenante colocado anteriormente e que deveria servir para evitar a saturação completa
dos taludes atingiu a capacidade máxima, e somado a isso, houve o rompimento de mais de 62
bilhões de litros de rejeito (MORGENSTERN et al, 2016).
Além dos erros construtivos, uma série de pequenos sismos foi associada ao rompimento
na época, por ter sido registrada cerca de uma hora e trinta minutos antes do desastre; por causa
da grande instabilidade na ombreira esquerda da barragem, os sismos abalaram ainda mais a
estrutura, pois adicionaram uma força de movimentação horizontal sobre a areia, que já estava
em situação fofa (menos comprimidas, com vários vazios), e isso pode ter contribuído para a
aceleração do colapso. Na figura 12 é ilustrado o percurso que a lama percorreu após o
rompimento (MORGENSTERN et al, 2016).
Figura 12: Esquema com o caminho que a lama da barragem percorreu logo após o colapso.
fundo. Além disso, o local de construção de barragem, destinada a contenção de finos, era
inadequado, devido ao método de alteamento não seguro - a montante -, taxa de alteamento
elevada considerando-se as propriedades do rejeito (igual a 2,2 metros ao ano) e perfil de
drenagem bastante inadequado, que permitia que a área freática passasse por cima do maciço
da barragem. A sequência de fatores tornou a estrutura da Barragem 1 (Figura 14)
extremamente suscetível à liquefação, fenômeno observado no rompimento (Figura 15).
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 02: Relação de acidentes com barragens no Brasil por rejeito liberado.
Despejo (em
Barragens Alteamento
Milhões, m³)
Com grande histórico de rompimentos, a interpretação é que se tem diversas falhas nas
metodologias de construção. É fato que, por barragens de rejeitos possuírem uma construção e uso muito
longas, vários fatores ao longo do tempo podem interferir na estabilidade da construção, mas não deve
ser uma justificativa para se permitir a construção e operação de um barramento instável ou de
monitoramento insuficiente. Nessa lógica, a melhor solução é o aperfeiçoamento do processo
construtivo e do monitoramento das estruturas, com acompanhamento de uma equipe especializada e
única para tal ação. As medidas de fiscalização do governo também são essenciais para a salvaguarda
da estabilidade das barragens. Toma-se como exemplo as barragens chilenas, que após o decreto n° 248,
houve a proibição do alteamento por montante e foi exigida a ciclonagem dos rejeitos antes de serem
lançados na crista ou na praia de rejeitos.
Com o processo de ciclonagem sendo feito da forma correta, os rejeitos são separados por parcelas
com destinos diferentes, com a parcela mais grossa sendo usada na construção da crista e a parcela mais
fina sendo utilizada na praia de rejeitos, funcionando como a zona entre a lama e o barramento e
impedindo a saturação dos taludes. As barragens chilenas sobrevivem a grandes sismos, visto que o
Chile é um território de intensa atividade sísmica por estar localizado na zona de convergência de duas
placas tectônicas. As estruturas são construídas segundo projeto e de acordo com a quantidade de rejeito
a ser armazenado, muitas já ultrapassaram duzentos metros de altura e permanecem intactas.
Com resultados positivos no Chile, país de alta sismicidade, pode-se questionar a respeito do uso
de tais barragens no território brasileiro, uma vez que está localizado longe da zona de convergência de
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placas próximas e possui alta produção de rejeitos de minério. O Brasil é um país amplo, considerado
um dos maiores mineradores do mundo, porém com um controle construtivo mediano. é fato, portanto,
que vale investir em construções duradouras e mais seguras do que gastar com manutenção e talvez,
com o custo futuro de indenização em casos de rompimento, salientando-se que as perdas são por
diversas vezes irreparáveis financeiramente.
Nesse sentido, o Brasil poderia começar a estudar as técnicas chilenas e construir barragens
ciclonadas. Como o rejeito de minério de Ferro é granulometricamente diverso no quesito peso e
tamanho, as mineradoras devem analisar a possibilidade de adotar a dupla ciclonagem para que as
partículas sejam separadas devidamente e cumpram suas funções. Além disso, também é indicado que
o método de alteamento para montante seja deixado no passado, que as construtoras optem cada vez
mais por alteamentos feitos a jusante ou em linha de centro, que tem melhor retorno em questões de
estabilidade e armazenamento.
A construção de barragens ciclonadas alteadas para jusante são a melhor opção para construções
mais seguras, pois a estrutura do alteamento a jusante permite que a barragem cresça em cima de si
mesma, independente do rejeito. O próprio método de alteamento é mais estável e, com a ciclonagem,
o rejeito que contribui para a construção também estaria em condições ótimas de uso. Apesar disso, com
a escolha desse método construtivo, faz-se necessário o aperfeiçoamento geral dos serviços das
mineradoras, pois, mesmo que haja a construção de uma barragem teoricamente mais segura, é crucial
que haja um sistema de monitoramento e a implantação de um controle de riscos.
Sob essa perspectiva, apesar de ser uma opção que conduz a vantagens econômicas, quando em
comparação a barragens de terra, a barragem ciclonada à jusante proporciona grandes impactos
ambientais, tendo em vista a grande área necessária para sua implantação, sendo esse, assim, um fator
negativo em relação aos prós econômicos e de segurança. Logo, é de suma importância que tais impactos
sejam levados em consideração visando a sustentabilidade.
7. CONCLUSÕES
território brasileiro, dado que dois dos maiores rompimentos de barragens no Brasil,
Brumadinho e Mariana, estão entre os piores rompimentos do mundo. A causa que provocou
essas tragédias está atrelada ao tipo de barragem que foi feito, as barragens de Mariana e
Brumadinho eram alteadas para montante, que resultava em uma estrutura instável e
imprevisível.
Sob essa perspectiva, é vital que sejam estudados novos métodos de construção de
barragens. O tipo ciclonada adapta-se bem ao Brasil perante seu vasto território e sua posição
como um dos países que mais exporta minério, o que aumenta a extração e, consequentemente,
a quantidade de rejeitos. Essa metodologia é ideal para grandes armazenamentos, pois o projeto
cresce junto com o material a ser armazenado, além disso, a ciclonagem garante mais
estabilidade a barragem por permitir a segregação natural das partículas mais grossas presentes
no barramento e uma grande praia de rejeitos com a parcela fina da polpa, evitando a saturação
e liquefação dos taludes. A construção de barragens ciclonadas se mostra como um grande
passo para a indústria de mineração, visto seu histórico de sucesso no Chile, um país de alta
sismicidade e com grande quantidade de rejeitos, e um grande passo para a garantia de
segurança de populações próximas a minas de extração e barragens.
Dessa maneira, barragens alteadas para jusante ou linha de centro e proveniente da
ciclonagem de rejeitos são a alternativa mais seguras para a disposição desses materiais,
todavia, é importante ressaltar que barragens do tipo jusante são mais agressivas ao meio
ambiente, por necessitarem de grande área para sua construção. Logo, é preciso avaliar com
cuidado e, quando possível, estudar a atuação da ciclonagem nos projetos de barragens. Espera-
se que as barragens a montante se tornem cada vez mais raras e que se busque metodologias a
fim de promover a mineração de forma mais segura à sociedade e ao meio ambiente.
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REFERÊNCIAS
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35
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