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Aula 05 - Somente em

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CBM-PE - Redação S/ Correção - 2023
(Pós-Edital)

Autor:
Carlos Roberto, Marcio
Damasceno

17 de Dezembro de 2023

15091383409 - Alice Gabrielle Soares da Silva


Carlos Roberto, Marcio Damasceno
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SEGUNDA RODADA DE TEMAS ................................................................................................................. 1

Tema 5 – Desastres ambientais .............................................................................................................. 1

Abordagem teórica ................................................................................................................................ 3

Proposta de solução ............................................................................................................................... 7

Tema 6 – Privacidade ............................................................................................................................ 8

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 10

Proposta de solução ............................................................................................................................. 15

Tema 7 – Inteligência artificial .............................................................................................................. 16

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 17

Proposta de solução ............................................................................................................................. 25

Tema 8 – Segregação urbana .............................................................................................................. 26

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 27

Proposta de solução ............................................................................................................................. 34

Prática..................................................................................................................................................... 35

SEGUNDA RODADA DE TEMAS


Tema 5 – Desastres ambientais
O desastre
No dia 5 de novembro de 2015, aproximadamente às 15h30, aconteceu o rompimento da barragem de
Fundão, situada no Complexo Industrial de Germano, no município de Mariana/MG. Além do desastre
ambiental, a tragédia ceifou a vida de 19 pessoas.
[...]
O maior desastre ambiental do Brasil (até então) – e um dos maiores do mundo – provocou danos
econômicos, sociais e ambientais graves e tirou a vida de 19 pessoas. Os prejuízos que se viram às primeiras

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horas e que aumentaram com o passar do tempo projetam-se mesmo hoje como um devir que não tem
tempo certo para findar. Danos contínuos e, em sua maioria, perenes.

Disponível em: http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-samarco/o-


desastre. Acesso em: 10 de novembro de 2020. (Com adaptações)

Tragédia com barragem da Vale em Brumadinho pode ser a pior no mundo em 3 décadas
Relatório da Agência de Meio Ambiente das Nações Unidas registrou os maiores rompimentos de barragens
ocorridos desde 1985. Só nos últimos 5 anos, ocorreram oito grandes acidentes pelo mundo.
O Brasil, lamentavelmente, tem destaque nessa lista por ser o país com o maior número. Foram três
acidentes com perda humana ou grave dano ambiental de 2014 para cá: rompimento de uma barragem da
Herculano Mineração, em Itabirito (MG), em 2014, com três mortes; o vazamento na barragem do Fundão,
em Mariana (MG), em 2015, com 19 mortes; e, agora, a tragédia com grande perda de vidas, em
Brumadinho.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47034499. Acesso
em: 10 de novembro de 2021.

Mais de dois anos após acidente, corpo é identificado em Brumadinho (MG)


Rompimento de barragem matou 270 pessoas; 10 vítimas não foram localizadas ainda

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Mais de dois anos depois do rompimento da barragem de Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG),
foi identificado mais um corpo de uma vítima, Renato Eustáquio de Sousa, que tinha 34 anos e trabalhava
como soldador da mineradora.
A localização dos restos que possibilitaram a identificação ocorreu em janeiro de 2021.
O acidente, em 25 de janeiro de 2019, provocou a morte de 270 pessoas, sendo que 10 corpos ainda não
foram encontrados. A última identificação de vítima havia acontecido em 28 de dezembro de 2019.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/05/mais-de-dois-
anos-apos-acidente-corpo-e-identificado-em-brumadinho-
mg.shtml?origin=folha. Acesso em: 10 de novembro de 2021.

Considerando que os textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo acerca
do seguinte tema: DESASTRES AMBIENTAIS: CONSEQUÊNCIAS E AÇÃO GOVERNAMENTAL

Abordagem teórica
1. Danos a curto, médio e longo prazos

Um desastre ambiental é um evento de grande impacto ao meio ambiente. De acordo com o Decreto
10.593/ 2020, desastre é o resultado de evento adverso decorrente de ação natural ou antrópica sobre
cenário vulnerável que cause danos humanos, materiais ou ambientais e prejuízos econômicos e sociais.
Trata-se de um conceito bastante amplo, eis que engloba tanto os desastres ambientais antropogênicos,
gerados pelas ações ou omissões humanas, quanto os desastres naturais, causados pelo impacto de um
fenômeno natural de grande intensidade, os quais podem ou não terem sido agravados pelas atividades
antrópicas. Dessa forma, estamos falando tanto de: terremotos, tsunamis, furacões, eventos que
acontecem no planeta independentemente de qualquer intervenção humana; dos eventos naturais que são
amplificados pela ação antrópica, como as enchentes, decorrentes da falta de planejamento da ocupação
do solo e as secas prolongadas, decorrentes do desmatamento, entre outros; e também das situações que
decorrem diretamente da participação humana, como os rompimentos de barragens, acidentes em usinas
nucleares, vazamento de óleo no mar, entre outros.
Nos interessa aqui tratar sobre a participação do homem na ocorrência desses desastres e sobre como e até
onde se pode evitá-los.
A ação direta do homem pode afetar a atmosfera, como as queimadas no Pantanal em 2021, Austrália e
Califórnia. Pode afetar as águas, como o que ocorreu com o navio Exxon Valdez 1, na costa do Alasca, em
1989, e as manchas de óleo no litoral do nordeste brasileiro, em 2019.

1
O petroleiro colidiu com rochas submersas na costa do Alasca e iniciou um derramamento sem precedentes (cerca de 40
milhões de litros de petróleo), contaminando mais de dois mil quilômetros de praias e causando a morte de cem mil aves.

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Há os desastres terrestres, decorrentes da mineração e, infelizmente, nesse quesito, o Brasil é destaque


negativo no mundo. Mariana e Brumadinho contam uma história de descaso, corrupção e
irresponsabilidade, cujo saldo é o de, aproximadamente, 300 mortes. Mas não é só isso: o rompimento
dessas barragens destruiu quilômetros de ambientes naturais e cidades, causando danos à fauna e flora
local e provocando um impacto social irreparável. O rompimento da barragem de Brumadinho liberou cerca
de doze milhões de metros cúbicos de rejeitos, contaminando com metais pesados o solo e os rios. Por fim,
há os desastres nucleares, como os ocorridos em Chernobyl (1986) e Fukushima (2011).
Desastres ambientais não são novidades, entretanto a degradação ambiental e o avanço da intervenção do
homem na natureza têm os tornado prejudiciais e recorrentes. Nesse sentido, cabe abordar a questão dos
efeitos climáticos extremos.
A comunidade científica vê de forma predominante que a ação humana tem provocado os eventos
climáticos extremos — grandes inundações, grandes secas, ondas de calor muito fortes. E o pior,
principalmente pelo aumento do efeito estufa, a tendência é que tais eventos se tornem mais severos.
Destaco o seguinte fragmento do Nexo Jornal2:
As principais projeções de cientistas sobre o presente e o futuro próximo mostram que, por causa das
perturbações que esses poluentes causam na atmosfera e na dinâmica de todo o clima, a tendência é que
ao longo deste século os chamados eventos extremos climáticos (que são mais intensos e atípicos)
aumentem em frequência, intensidade e duração.
Assim, uma região como a Austrália, onde os incêndios já são parte natural dos ecossistemas, deve ver
mais casos em que o fogo extrapolará a intensidade usual, uma cidade como Veneza deve ver que a maré
ficará mais alta, as chuvas deverão ser mais fortes no Rio de Janeiro e a estação seca durará mais na
região da Amazônia, como é possível ver hoje. É provável que, com o tempo, isso se torne o “novo normal”.
Se não tiverem resiliência para suportar os eventos inéditos, os países estarão sujeitos a ver as mudanças
no padrão do clima se transformarem rapidamente em desastres. Após pouco mais de três meses desde
o início dos incêndios, em setembro de 2019, o caso australiano mostra que há 28 pessoas e cerca de um
bilhão de animais mortos. O impacto também recai sobre a agricultura e a economia local.
• 57,3 milhões de pessoas foram afetadas por fenômenos climáticos extremos em 2018, segundo a
base internacional Emergency Events Database
Nessa mesma linha de raciocínio, inundações e desabamentos são consequências diretas das chuvas, mas
o problema não é apenas meteorológico, é humano, pela falta de planejamento urbano. Disso derivam
outros elementos, como a ocupação desordenada e o acúmulo de lixo e entulho, todos ligados à ação
humana.

2
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/01/17/Como-a-ci%C3%AAncia-associa-desastres-
ambientais-%C3%A0-crise-do-clima. Acesso em 09 de setembro

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As construções deixam o solo impermeável, impedindo que ele absorva a água. O lixo entope bueiros. A
destruição da mata ciliar dos rios, a ocupação humana das áreas de várzeas e o desmatamento das encostas
ignoram o fato de as árvores funcionarem como uma camada impermeabilizadora. Assim, o
desflorestamento fragiliza o solo e as construções irregulares o tornam instável, tornando-o mais propenso
a deslizamentos. A maioria dos desastres ocorrem em áreas que não deveriam estar ocupadas ou que
deveriam ter um projeto urbanístico e técnicas de construção específicas.
Outra lógica é a duração dos efeitos dos desastres ambientais.
Como possíveis danos imediatos de um desastre ambiental, podem-se mencionar acidentes com mortos
e feridos, desabamentos, suspensão de fornecimento de água potável, de energia elétrica e de serviço
telefônico e de Internet, além de afogamentos (em caso de enchentes e tsunamis), do contato direto do ser
humano com agentes insalubres e(ou) tóxicos, da contração de doenças em decorrência do lixo acumulado
e da perda de bens móveis e imóveis – casas, carros, eletrodomésticos, documentos pessoais –, entre outros
exemplos.
Como possíveis danos a médio e longo prazo, podem ser mencionados os impactos em diversos setores
econômicos – tais como a agricultura, que pode levar anos para se recompor –, os prejuízos para a saúde
física e psicológica da população, os danos para a fauna e para a paisagem natural da região, a destruição
da infraestrutura pública, como a queda de pontes e estradas, entre outros.
É possível que se mencione, ainda, que desastres naturais também podem ocasionar movimentos
migratórios. Foi o que aconteceu, por exemplo, no ano de 2010, após um terremoto no Haiti, que atingiu a
magnitude de 7 graus na escala Richter, quando considerável parcela da população haitiana migrou para o
Brasil. Inclusive, a ONU reconheceu recentemente a existência dos refugiados climáticos, aqueles cujas
vidas são iminentemente ameaçadas pelas mudanças climáticas 3.
Em 2021, a agência da ONU para Refugiados (ACNUR) publicou dados mostrando como os desastres
ligados às mudanças climáticas provocaram mais do que o dobro de deslocamentos do que conflitos e
violência na última década. Desde 2010, as emergências climáticas obrigaram cerca de 21,5 milhões de
pessoas a se mudarem em média por ano segundo a ACNUR.
A tragédia de Brumadinho provocou o deslocamento de mais de 24 mil pessoas. Inclusive, segundo o
Instituto Igarapé, entre 2000 e 2017 estima-se a existência de cerca de 315 mil pessoas deslocadas
forçadamente no país, em função de desastres como alagamentos, deslizamentos, rompimento de
barragens e outros.
Quanto às ações do governo, pode ser mencionado, por exemplo, que é possível prever certos desastres
naturais e informar a população com antecedência, para que os danos sejam minimizados tanto quanto
possível. Pode-se, por exemplo, mapear as áreas em que ocorrem terremotos com mais frequência com o

3
Disponível em: https://g1.globo.com/natureza/blog/amelia-gonzalez/post/2020/01/31/onu-reconhece-pela-primeira-vez-que-
existem-refugiados-climaticos.ghtml. Acesso em 11 de novembro de 2020.

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uso de sismógrafos. Por meio dos dados obtidos, é possível supor que um terremoto deve atingir
determinada região dentro de um número estimado de anos, embora não seja possível prever a sua
ocorrência. É necessário, pois, incorporar uma cultura de gestão de riscos e atuar de forma preditiva.
Existem, também, sistemas de alarme que avisam sobre a ocorrência de um terremoto enquanto ele está
acontecendo e, com base nos tremores iniciais, é possível avisar a população, com alguns segundos de
antecedência, de que um tremor maior está por vir e aconselhar que se busque um lugar seguro. Foi o que
fez, por exemplo, o governo do Japão, que, em 2011, quando sofreu um terremoto fortíssimo (8,9 graus na
escala Richter) seguido de tsunami (com ondas de aproximadamente dez metros de altura), emitiu um alerta
para a população um minuto antes da ocorrência do maior tremor e cerca de uma hora antes que o tsunami
atingisse a costa, o que evitou danos ainda maiores à população.
É possível, também, prever a ocorrência de furacões e preparar-se para a sua chegada. O governo de locais
onde costuma haver furacões deve alertar antecipadamente a população acerca de sua ocorrência por meio
de mensagens nas mais diversas mídias. O governo dos Estados Unidos, por exemplo, tem um serviço de
alerta à população, via mensagens de celular, que informa, inclusive, sobre rotas de evacuação.
"Inovações tecnológicas, como inteligência artificial e automação de dados, podem representar respostas
mais eficazes para área de prevenção do rompimento de barragens e de alerta de grandes chuvas e
tempestades. Nos EUA, empresas como a Microsoft estão investindo no desenvolvimento de mapas de
altíssima resolução, que concentram enormes quantidades de dados, capazes de produzir análises e
projeções de enchentes e volume d’água em dada região. Com essas informações, os gestores podem
planejar melhor cidades ou até mesmo rotas de fugas emergenciais em caso de catástrofes. Além disso,
o desenvolvimento e a proliferação do uso de sensores fornecem dados mais exatos e atualizados,
podendo contribuir para agilizar a emissão de alertas aos cidadãos em casos de desastres iminentes"4.
No que diz respeito às enchentes, comuns no Brasil, a medida mais eficaz a ser adotada pelos governos
locais seria prevenir a sua ocorrência, o que pode se dar por meio da construção de sistemas eficientes de
drenagem, da desocupação de áreas de risco, da criação de reservas florestais nas margens dos rios, da
diminuição dos índices de poluição e geração de lixo e de um planejamento urbano mais consistente.
Além disso, ações que envolvessem o desenvolvimento sustentável, o manejo sustentável do solo, o uso
consciente da água, a reutilização de recursos naturais e o consumo consciente contribuiriam sobremaneira
para a diminuição das chances de ocorrência de certos desastres.
Outrossim, é papel do governo, por meio dos seus órgãos e entidades, exercer criteriosa fiscalização sobre
as empresas cuja atividade possa representar danos ao meio ambiente, como as mineradoras ou usinas
nucleares. Ao se detectarem desvios, deve-se buscar a responsabilização de forma célere e proporcional ao
dano sofrido.

4
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2020/Desastres-clim%C3%A1ticos-e-deslocamentos-for%C3%A7ados.
Acesso em 09 de setembro de 2021.

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Outra possibilidade é o investimento do governo em projetos educacionais voltados à conscientização da


população com relação ao meio ambiente, os quais também podem constituir uma importante medida de
prevenção de desastres.
Após a ocorrência dos desastres naturais, os governos locais devem dar total assistência às populações
atingidas, fornecendo, sempre que necessário, abrigo, água potável, alimentação, atendimento médico,
além de proporcionar meios favoráveis à retomada das condições de bem-estar existentes antes do
incidente.
Devem-se também, por meio de órgão como o Ministério Público (MP) ou análogos, promover a adoção,
por parte dos que deram causa ao desastre, de medidas reparadoras e compensatórias ao ambiente e às
pessoas. O MP possui legitimidade ativa para ajuizar ações civis públicas com o intuito de fazer com que se
reconstitua o meio ambiente e que se compensem as pessoas pelas perdas materiais e pessoais sofridas.
Além das ações judiciais, pode o MP firmar os Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), acordos do MP
com o violador de determinado direito coletivo e instrumento para dar maior celeridade às recomposições.
Referências Legais
1. Lei 12.608/2012: institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC, dispõe sobre o Sistema
Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil -
CONPDEC, autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres e dá outras
providências.
2. Decreto 10.593/ 2020: regulamenta a lei supra.
3. Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998): dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas
de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Esse seria o instrumento para a responsabilização penal
dos causadores de desastres ambientais.

Proposta de solução

Furacões, enchentes, terremotos, deslizamentos de terra, rompimento de barragens,


derramamento de óleo no mar: muitos são os desastres ambientais que acometem a humanidade.
Provocados ou não pela ação humana, esses eventos produzem diversas consequências danosas
à humanidade e ao meio ambiente, o que exige dos governos a adoção de ações preventivas e
reparadoras nos locais atingidos.

Inicialmente, pontue-se haver inúmeros danos provocados pelos desastres naturais. Entre
eles, mencionem-se a perda ou deterioração do patrimônio, a disseminação de doenças e, nos

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casos mais graves, a morte dos afetados. Há também graves danos ao meio ambiente e à
infraestrutura (pontes, estradas), prejuízos à agricultura, pela degradação da área afetada, e à
saúde física e mental das pessoas, que, além da possibilidade de contaminação e do trauma,
podem, inclusive, ter que migrar para reconstruir as suas vidas em outros locais.

Nesse contexto, há a necessidade de ações preventivas por parte dos governos. Com efeito,
é possível, em certos casos, prever a ocorrência de desastres e minimizar as suas consequências
aos indivíduos e ao meio ambiente. Por exemplo, com a utilização de tecnologia, pode-se antever
a ocorrência de furacões, preparar a população para a sua chegada e organizar a desocupação dos
locais possivelmente afetados.

Por fim, não sendo possível evitar a ocorrência das tragédias, os governos devem dar total
assistência às populações atingidas, fornecendo meios para a retomada das condições de bem-
estar existentes antes do incidente. Devem providenciar a satisfação de necessidades mais
imediatas dos atingidos, bem como buscar a regeneração das áreas degradas.

Tema 6 – Privacidade
A Era da Informação tem início nos últimos anos do século XX. Ela parte do princípio da substituição da
cultura material pelo avanço do segmento informacional que advém das novas tecnologias. Esse período de
revoluções no campo técnico engloba os avanços nas telecomunicações, na computação – incluindo
softwares e hardwares – e na microeletrônica. Com a interconexão entre essas ferramentas veio à tona o
progresso em campos como transportes, produção industrial, medicina e fontes de energia.
[...]
O sociólogo espanhol Manuel Castells afirma que a Era da Informação é um evento histórico com a mesma
importância da Revolução Industrial do século XVIII, pois ocasionou uma alteração em campos como cultura,
sociedade e economia. Em seu livro, “A Sociedade em Rede”, Castells coloca a relevância dessa nova era no
campo da informação não somente com foco no conhecimento de dados, mas na aplicação do know-how
que o origina.

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Para ele, as descobertas no segmento geram um ciclo que se retroalimenta. Nesse sentido, o usuário de
uma tecnologia primeiramente aprende por meio da utilização, depois passa a configurar as redes e
descobrir aplicações novas.
Esse fenômeno pode ser observado em um dos subprodutos notáveis da Era da Informação: as mídias
sociais. A partir do início de seu funcionamento na primeira década do século XXI, os usuários passaram por
um processo de transformação. Primeiramente, utilizadores tornaram-se produtores e modificadores de
conteúdo ao longo do tempo, criando uma troca constante e massiva de dados entre as redes e as pessoas.
O indivíduo passou a ser, dessa forma, também produto, ou seja, um ativo das companhias que gerenciam
as redes sociais, haja vista que sem a sua interação, essas empresas simplesmente inexistem.
Esse fenômeno é apontado por alguns especialistas. As críticas são a respeito da intromissão das grandes
companhias do gênero nas esferas particulares dos usuários. Ocorre, assim, uma crise entre o público e o
pessoal e são levantadas questões sobre os limites entre o real e o digital.
Derivado de uma pesquisa envolvendo especialistas da área, um paradigma tecnológico foi apontado na Era
da Informação. Ele diz respeito a algumas características problemáticas do funcionamento entre a
tecnologia e os indivíduos. Entre elas, as mais notáveis são: a penetrabilidade dos efeitos das novas
tecnologias, que poderiam moldar processos individuais e coletivos, e o que diz respeito à lógica das redes,
que implica no crescimento exponencial da tecnologia e um possível panorama de exclusão digital.
Esse processo poderia gerar contradições devido às interpretações do algoritmo aliadas aos problemas em
sociedades nas quais o avanço tecnológico não caminha em paralelo à compreensão dos cidadãos, mas
parece refrear o desenvolvimento referente a questões que envolvem a ética.
Disponível em: https://www.infoescola.com/sociedade/era-da-
informacao/. Acesso em: 20/08/2021. (Com adaptações)

Facebook conhece você melhor que seus amigos e família, diz pesquisa
Uma pesquisa publicada pelo “Proceedings of the National Academy of Sciences” afirmou que
o Facebook pode conhecer mais informações sobre você que a sua própria família e amigos. Os cientistas
criaram um modelo de computador que analisou os dados de 86.220 voluntários no Facebook, que também
completaram um questionário de 100 perguntas pelo aplicativo myPersonality. Cruzando as informações
das duas fontes, os estudiosos chegaram a resultados curiosos sobre a rede social.
Os voluntários também tiveram suas personalidades julgadas por amigos e familiares no Facebook, por
meio de 10 questões, e essas pessoas não conseguiram ser tão eficientes nas análises dos contatos quanto
os computadores. Os números são bem interessantes. O computador analisava curtidas em páginas de cada
usuário para fazer a análise da sua personalidade.
Em média, a cada 10 likes, era possível saber mais da pessoa do que um colega de trabalho, a cada 70 likes,
melhor do que um amigo ou colega de quarto, e a cada 150 likes, era mais eficiente até do que um parente.
Já para conseguir saber mais de alguém do que seu marido ou sua esposa, a coisa ficou mais difícil: foram
necessárias 300 curtidas analisadas para se obter o mesmo índice.

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Segundo os pesquisadores, isso pode ser considerado normal, porque os algoritmos dos computadores
conseguem ler mais dados simultaneamente. No entanto, a capacidade surpreendeu os usuários. Além
disso, também ligou um alerta: o Facebook certamente sabe mais de você do que você imagina.
Disponível em: https://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2015/01/facebook-
conhece-voce-melhor-que-seus-amigos-e-familia-diz-pesquisa.html. Acesso em:
20/08/2021. (Com adaptações)

Considerando os textos acima como meramente motivadores, redija um texto dissertativo-argumentativo


sobre o seguinte tema: o dilema da privacidade na era da informação.

Abordagem teórica
1. Internet e privacidade

Os ganhos trazidos pela internet são inegáveis. Por outro lado, recentemente, tem-se discutido de forma
crescente as implicações em relação à perda de privacidade por parte das pessoas.
Mas, afinal de contas, o que é privacidade? A privacidade é um direito humano reconhecido pela ONU desde
1948, na Declaração Universal dos Direitos do Homem5. Atualmente, a privacidade vai muito além do direito
de se isolar, de ficar só. Implica no direito de ter o controle sobre tudo que diz respeito à própria pessoa, de
escolher quais partes disso podem ser acessadas por outras pessoas e em como aquilo que se permitiu o
acesso pode ser usado. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 foi um marco por ter sido a primeira a
incluir o direito à privacidade.
Na era da tecnologia e das redes sociais, as violações mais comuns ocorrem no ambiente virtual. Divulgação
de fotos íntimas, vazamento e comercialização de dados pessoais ou e-mails, além da prática
de cyberbullying, por exemplo, são formas de violação à intimidade, à privacidade, à imagem ou à honra das
pessoas. A divulgação de fotos íntimas, por motivo de vingança (conhecida também como revenge porn),
por exemplo, tem se tornado cada vez mais comum no ambiente virtual e é um clássico exemplo de violação
à intimidade e à imagem.
Sem dúvidas, a privacidade tem grande dificuldade de se manter inviolável na era tecnológica, com a
exposição crescente na internet. As pessoas, por si sós, pelo uso das redes sociais de maneira livre e
consciente, fornecem uma série de informações sobre as suas vidas: círculo social, trabalho, família, locais
onde esteve etc. O que talvez muitos não sabem é como esses dados são usados.
Mais complexo ainda quando as pessoas sequer têm a noção de que estão gerando uma série de
informações que podem servir para um delineamento do seu perfil digital e podem ser objeto de
comercialização, servindo, inclusive para oferecer produtos de forma customizada.

5
Nos termos do artigo 12 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Universal Declaration of Human RIGHTS): “Ninguém
será sujeito a interferências na sua vida privada, família, lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Toda
Pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques”.

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De fato, a Era da Informação é também a era do fim da privacidade e da mercantilização da intimidade, da


monetização do comportamento, dos sentimentos (modernidade líquida6). A internet e a superconexão, onde
cada vez mais pessoas e coisas estão conectadas por mais tempo, geram uma infinidade de dados que há muitos
anos estão sendo armazenados (o Big Data) e que, agora, começam a ser tratados e vendidos, gerando um
mercado bilionário para empresas e até governos7.

Exibicionismo
Exibir detalhes da vida virou, sem dúvida, uma febre entre parcela dos usuários das redes sociais. A
sociedade atual está vivenciando a era do exibicionismo digital, pois as pessoas sentem uma necessidade
crescente de se autopromover nas redes sociais, mesmo que para isso tenham que abrir mão da própria
privacidade.
A sociedade vive um momento de supervalorização do “eu” e não estar nas redes sociais significa uma
condição de invisibilidade. Um dos motivos que explica isso é a possibilidade de criar fantasias nesse mundo
e transmitir uma imagem daquilo que gostaríamos de ser. A reação positiva, advinda das curtidas, afaga o
ego e supre lacunas existentes no mundo fora do virtual. Também, incentiva uma corrida para se tornar uma
celebridade online, seja entre seus amigos, seja em um grupo de desconhecidos em escala global.
Como diria o sociólogo Zygmunt Bauman: “Os tempos atuais escorrem pelas mãos, um tempo líquido em
que nada é para persistir. Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente
necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso
fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar”.
Contudo há ainda uma série de desdobramentos mais problemáticos. A alienação, consistente na
substituição do contato mais profundo com as pessoas pelo mundo de aparência das redes, e a idealização
de uma realidade inexistente ou de um modelo de beleza socialmente estabelecido pode comprometer
seriamente a saúde mental dos usuários. O Instagram é a rede social mais prejudicial à saúde mental dos
usuários, de acordo com o estudo da instituição Royal Society For Public Health. O estudo mostrou que o
compartilhamento de fotos pelo Instagram impacta negativamente o sono, a autoimagem e aumenta o
medo dos jovens de ficar por fora dos acontecimentos e tendências (FOMO, fear of missing out).
A “vida perfeita” compartilhada nas redes sociais faz com que os jovens desenvolvam expectativas irreais
sobre suas próprias vivências. Não à toa, esse perfeccionismo atrelado à baixa autoestima pode desencadear
sérios problemas de ansiedade. Os pesquisadores advertem: os usuários que passam mais que duas horas

6
O conceito de modernidade líquida foi desenvolvido pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman e diz respeito a uma nova época
em que as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos.
7
Disponível em: https://reformapolitica.org.br/2017/07/31/sorria-voce-esta-sendo-monitorado-e-tem-muita-gente-lucrando-
com-isso/. Acesso em 21 de agosto de 2021.

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diárias conectados em mídias sociais são mais propensos a desenvolverem distúrbios de saúde mental, como
estresse psicossocial8.

A privacidade digital se tornou um tema recorrente no debate público durante a década de 2010. Em 2013,
o ex-técnico da CIA Edward Snowden divulgou um esquema massivo de coleta de dados por parte do
governo americano. Em 2018, um escândalo envolvendo o direcionamento de publicidade política manchou
a reputação do Facebook.

Entenda o caso de Edward Snowden, que revelou espionagem dos EUA9


No mês de junho, uma revelação sobre um esquema de monitoramento de dados organizado pelo governo
dos Estados Unidos agitou o noticiário internacional. Tratava-se do Caso Snowden, "batizado" com este
nome por causa do delator do esquema de monitoramento: Edward Snowden. O americano é um ex-
consultor técnico da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos (EUA). Na época, Snowden
revelou os documentos secretos sobre o modus operandi da segurança norte-americana para os jornais The
Guardian (Reino Unido) e Washington Post (EUA).
Na reportagem publicada no dia 5 de junho de 2013 pelo The Guardian, Snowden apontou que a Agência
Nacional de Segurança (NSA) coletou dados de ligações telefônicas de milhões de cidadãos americanos a
partir do programa de monitoramento chamado de PRISM. O ex-consultor da CIA também revelou que a
Casa Branca acessava fotos, e-mails e videoconferências de quem usava os serviços de empresas
como Google, Skype e Facebook.
As denúncias não pararam por aí. No dia 7 de junho, o jornal americano Washington Post detalhou a
existência de um programa de vigilância secreta dos Estados Unidos que envolve setores de inteligência de
gigantes da internet como Microsoft, Facebook e Google.
Após realizar as denúncias, Snowden fugiu para Hong Kong (China). A partir da pressão dos Estados Unidos
pedindo sua extradição, o ex-técnico viajou secretamente para a Rússia onde ficou refugiado no Aeroporto
Internacional de Moscou até conseguir asilo político temporário de um ano no país. O pedido foi aceito no
início de agosto.

Por meio dos smartphones, obtém-se informações sobre gastos, com quem falamos, nossos itinerários, os
sites que navegamos e as mensagens que trocamos. Já reparou como quando você faz a busca sobre um
produto e, a partir disso, em todo site que você entra há propagandas sobre o produto buscado? Isso ocorre
porque os dados gerados pela pesquisa são compartilhados em diversas plataformas, há todo um mercado
ocorrendo por trás, sem a nossa consciência. Por isso, podemos falar sobre a mercantilização da intimidade
ou da privacidade.

8
Disponível em: https://super.abril.com.br/sociedade/instagram-e-a-rede-social-mais-prejudicial-a-saude-mental/. Acesso em
21 de agosto de 2021.
9
Disponível em: https://memoria.ebc.com.br/tecnologia/2013/08/web-vigiada-entenda-as-denuncias-de-edward-snowden.
Acesso em 21 de agosto de 2021.

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Muitas vezes baixam-se aplicativos grátis, mas, como, em regra, não se leem os termos de uso, não se sabe
sobre o real uso dos dados. Às vezes é ainda pior: mesmo quando não se autoriza o uso dos dados pessoais,
isso acaba sendo feito. É como diz aquele velho ditado: "se não somos os clientes pagando, somos o produto
vendido" ou "se você não paga pelo produto, o produto é você.".
Às vezes, propostas para gerar comodidade às pessoas, como "logar com o facebook", acabam sendo mais
uma forma de captura de dados. Usando os likes e sofisticados mecanismos de inteligência artificial, é
possível saber quem é você, seu estado mental, inclinação política, estado conjugal, etnia etc. Mesmo que
você não curta nada, ainda assim, é possível levantar essas informações pelo seu círculo de amizades.
Lembram-se do escândalo da Cambridge Analytica?
Os seus dados acabam servindo para que possam ser oferecidos produtos e serviços customizados para
você, mas também para te manter mais tempo conectado. As suas preferências servem para lhe oferecer
conteúdos que sejam interessantes e isso acaba sendo uma bola de neve, pois, quanto mais usa, mais dados
se tem sobre você, o que aumenta o refinamento das sugestões de posts e produtos. As big techs não são
empresas de caridade, elas ganham dinheiro (e muito!) por meio de anunciantes. Então, quanto mais tempo
você fica conectado, maior a probabilidade de ter contato com anúncios e maior a probabilidade de compra.
Apesar de toda a discussão sobre a importância da privacidade, há parcela da sociedade que ainda não
despertou para o fato. Ainda se ouvem frases do tipo, “eu não tenho nada a esconder, minha vida é um livro
aberto". De fato, talvez você acredite que não tenha nada a esconder, mas será que queremos que as
empresas e as máquinas saibam mais sobre nós do que nós mesmos? Uma frase famosa de Edward
Snowden sobre o assunto é a seguinte: "Argumentar que você não se importa com o direito à privacidade
porque não tem nada a esconder não é diferente de falar que você não se importa com a liberdade de expressão
porque não tem nada a dizer.".
Contudo é também inegável o ganho em comodidade proporcionada por empresas e serviços de
tecnologia, como a capacidade de acionar eletrodomésticos e aplicativos com um comando de voz ou então
fazer compras instantaneamente no celular

Referências Legais
1. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948): "Artigo 12. Ninguém será sujeito à interferência
na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e
reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques."
2. Constituição Federal de 1988: de acordo com o inciso X do art. 5º, são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação. Assim, a Constituição eleva ao nível de direito e garantia fundamento a
intimidade e a privacidade.
3. Lei Carolina Dieckmann ( Lei 12.737 de 2012): a referida lei foi criada após fotos íntimas da atriz
Carolina Dieckmann terem sido divulgadas na internet. Ela teve seu e-mail invadido por hackers, que
exigiram o pagamento de uma alta quantia para que as fotos não fossem vazadas. A atriz denunciou a

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chantagem à polícia e suas fotos acabaram sendo publicadas na internet, obviamente sem seu
consentimento. O caso teve grande repercussão na mídia, que exerceu pressão para que se criminalizasse
esse tipo de violação à intimidade. Como consequência, foi inserido no Código Penal o crime consistente na
conduta de invasão a dispositivos informáticos, cuja pena base é a de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)
ano, e multa.
4. Marco Civil da Internet (Lei n° 12 965/2014): é o primeiro dispositivo regulatório amplo sobre a rede no
país e estabelece regras a respeito da retenção de dados dos usuários por provedores. A referida lei prevê
princípios que regulam o uso da internet no Brasil, enumerados no artigo 3º, dentre outros, o princípio da
proteção da privacidade e dos dados pessoais, e assegura, como direitos e garantias dos usuários de internet,
no artigo 7º, a inviolabilidade e o sigilo do fluxo de suas comunicações e inviolabilidade e sigilo de suas
comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial.
O artigo 10º, § 1º, que trata de forma específica da proteção aos registros, aos dados pessoais e às
comunicações privadas, é bem claro quanto à possibilidade de fornecimento de dados privados, se forem
requisitados por ordem de um juiz, e diz que o responsável pela guarda dos dados será obrigado a
disponibilizá-los se houver requisição judicial.
5. Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) (Lei n. 13.709/2018) 10: dispõe sobre o tratamento de dados
pessoais, inclusive nos meios digitais, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de
privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.
Além de ser a primeira lei geral nacional sobre o tema, a importância da LGPD está na apresentação de
regras para o tratamento de dados pessoais. Essas regras vão desde os princípios que disciplinam a proteção
de dados pessoais, passando pelas bases legais aptas para justificar o tratamento de dados, até a
fiscalização e a responsabilização dos envolvidos no tratamento de dados pessoais.
A LGPD também prevê a possibilidade de a pessoa natural a quem se referem os dados pessoais requerer
informações como a confirmação da existência de tratamento dos seus dados pessoais, o acesso aos dados,
a correção de dados incompletos, a eliminação de dados desnecessários e a portabilidade de dados pessoais
a outro fornecedor de produtos e serviços.
Em resumo, a LGPD inaugura uma nova cultura de privacidade e proteção de dados no país, o que demanda
a conscientização de toda a sociedade acerca da importância dos dados pessoais e os seus reflexos em
direitos fundamentais como a liberdade, a privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa
natural.

Por fim, a título de proposta de intervenção, mais uma vez a responsabilidade é compartilhada. Com o
Governo fica a parte legislativa e fiscalizatória, bem como a execução de políticas públicas, notadamente,
no campo da educação.

10
Disponível em: https://www.tjsc.jus.br/web/ouvidoria/lei-geral-de-protecao-de-dados-pessoais/a-importancia-de-conhecer-
a-lgpd#:~:text=Em%20resumo%2C%20a%20LGPD%20inaugura,da%20personalidade%20da%20pessoa%20natural.

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Às empresas reserva-se o compromisso ético. Aqui temos um ponto bastante delicado, pois, além de não
haver transparência sobre o que realmente acontece, essas empresas se utilizam dos dados coletados para
obterem lucro. Então, restaria ao Estado estudar mecanismos legais que garantissem o respeito ao direito
de privacidade dos indivíduos.
Às pessoas cabe a busca da informação sobre todos os reflexos dessa coleta e vigilância permanentes. Uma
alternativa bastante viável é o uso de extensões como "disconect" ou "do not track", as quais permitem
bloquear quem captura os seus dados de navegação, e o "DuckDuckGo", um buscador que promete não
recolher os seus dados.

Proposta de solução
A Era da Informação proporcionou uma série de avanços. Entretanto um dos
desdobramentos introduzidos pela Era da Informação é a crescente perda da privacidade
por parte dos indivíduos. Esse problema decorre, principalmente, da coleta massiva de dados
individuais privados na internet e é agravado pelo crescente exibicionismo nas redes sociais.
Inicialmente, explique-se que o uso da internet tem possibilitado uma intensa captação
de informações pessoais, o que pode se reverter num maior controle sobre os indivíduos. De
fato, os rastros digitais gerados pelos usuários permitem que máquinas construam padrões de
comportamento e criem perfis de consumo, o que pode servir para uma sutil manipulação.
Assim, observa-se que o uso de informações, obtidas de forma nem sempre consentida, viola
a privacidade das pessoas e cerceia, ainda que veladamente, a liberdade de escolha.
Além disso, a perda da privacidade é maximizada pelo intenso exibicionismo, marca
da sociedade atual. Com efeito, principalmente com o advento das redes sociais, contexto em
que há uma hipervalorizarão da imagem, observa-se uma forte tendência à autopromoção dos
indivíduos e à artificialização da realidade. Com isso, no afã de se exibirem, muitas pessoas

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acabam, ainda que de forma inconsciente, abrindo mão da sua privacidade, na medida em
que revelam informações de caráter pessoal, como endereço, locais frequentados, entre outros.
Portanto observa-se que a modernidade descortinou uma série de desafios no que se
refere à privacidade. Nesse sentido, é fundamental que se conheçam e se discutam os riscos a
ela associadas, sob pena de, ao invés de assegurar direitos, a tecnologia seja um mecanismo de
supressão deles.

Tema 7 – Inteligência artificial


Quando pensamos em Inteligência Artificial, logo imaginamos androides que parecem humanos. A ideia da
existência de computadores inteligentes sempre foi retratada na ficção científica. Personagens famosos são
o HAL 9000, computador imortalizado no filme “2001, uma odisseia no espaço” e o androide T-800, do filme
“O Exterminador do Futuro”.
Em 1950, o matemático inglês Alan Turing (1912-1954), pai da computação e precursor da Inteligência
Artificial, escreveu um artigo em que fazia a seguinte pergunta: se um computador pudesse pensar como
nós pensamos, ele conseguiria nos enganar ao ponto de pensarmos que estamos nos comunicando com um
humano e não um protótipo?
O artigo foi uma das primeiras reflexões sobre o conceito de Inteligência Artificial, ou seja, a capacidade de
máquinas raciocinarem como pessoas e simularem comportamentos inteligentes. O matemático previu que
até o ano 2000, máquinas seriam capazes de "enganar seres humanos através de diálogos entre humanos e
máquinas”.
Com adaptações. Disponível em: https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-
disciplinas/atualidades/tecnologia-voce-sabe-o-que-e-inteligencia-artificial-e-
singularidade.htm

Elon Musk anuncia robôs humanoides para substituir pessoas em 'trabalhos chatos'
Depois de dominar o mercado de veículos elétricos e de se lançar na multimilionária corrida espacial, Elon
Musk, o dono da Tesla, anunciou o último marco que pretende alcançar: robôs humanoides.
Baseado na mesma tecnologia dos veículos semiautônomos da empresa, o robô seria capaz de realizar
tarefas básicas repetitivas com o intuito de eliminar trabalhos perigosos ou "chatos" para as pessoas, disse
Musk, em um evento online sobre os avanços da Tesla em inteligência artificial.

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No entanto, Musk garantiu que seu futuro robô seria benigno. Ele disse que o Tesla Bot que terá mãos com
cinco dedos e virá em preto e branco, será "amigável" e construído de forma que, em qualquer caso, "você
poderá fugir dele e desligá-lo". "Espero que isso nunca aconteça, mas quem sabe", brincou.
Disponível em: https://link.estadao.com.br/noticias/empresas,elon-musk-
anuncia-robos-humanoides-para-substituir-pessoas-em-trabalhos-
chatos,70003816499.

Elon Musk, dono da Tesla e da SpaceX, é um inimigo ferrenho da inteligência artificial (IA). O executivo já
criticou a tecnologia diversas vezes, e, em uma recente entrevista concedida ao Business Insider, voltou a
atacar tal conceito — desta vez, sendo ainda mais agressivo.
De acordo com Musk, aquelas pessoas que desacreditam na potência da IA e não temem que os
computadores se tornem mais inteligentes do que os seres humanos no futuro são “mais burras do que elas
pensam que são”.
“Estive batendo nessa tecla da inteligência artificial por uma década. Nós temos que nos preocupar sobre
onde essa coisa de IA está indo. As pessoas que eu vejo estando mais erradas sobre IA são aquelas que são
muito inteligentes, pois elas não imaginam que um computador possa ser mais inteligente do que elas. É
uma falha de lógica. Elas, desse jeito, estão sendo muito mais burras do que elas pensam que são”, afirma
Musk.
Vale lembrar que, em 2018, o empresário chegou a dizer que “os perigos da inteligência artificial são muito
maiores do que aqueles das armas nucleares”, argumentando sobre um cenário em que robôs e
computadores decidam se livrar dos seus criadores por não nos verem mais como úteis para a sociedade.
https://canaltech.com.br/inteligencia-artificial/elon-musk-pessoas-que-nao-temem-
ia-sao-mais-burras-do-que-elas-pensam-168677/.

Tendo os textos acima como referência inicial, redija um texto dissertativo-argumentativo acerca do
seguinte tema: desafios éticos e morais da inteligência artificial.

Abordagem teórica
A inteligência artificial é um software que utiliza uma base de dados para tomar uma decisão, assim como
uma pessoa. Pode-se dizer também que se trata de um serviço ou sistema que pode realizar tarefas que
usualmente requerem nível de inteligência humana, como percepção visual, reconhecimento de fala, tomar
decisões ou fazer traduções.
Mais do que automatização, a condição de avaliar grandes montantes de informações de forma complexa
permite também a otimização de processos e tarefas, a previsão de comportamentos e a tomada de
decisão. A IA consegue tanto transformar dados quantitativos quanto imagens em informações para tomar
decisões autônomas.
Você pode até não ter percebido, mas a Inteligência Artificial já é uma realidade. Está no seu PC, no seu
smartphone ou no seu carro, coletando e interpretando dados que você mesmo fornece ao fazer uma busca
no Google, ao procurar um endereço no GPS ou perguntar algo ao Siri. Usando técnicas como o aprendizado

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de máquina, quanto mais você fizer pesquisas no Chrome, navegar no Facebook, traçar uma rota no Waze,
conversar com o iPhone, mais essas empresas sabem sobre você e podem antecipar seus desejos. Isso,
naturalmente, apresenta vantagens e desafios. Sabe quando você entra no Spotify ou Netflix e há uma lista
personalizada para você? Pois é, isso ocorre pelo uso da inteligência artificial, a qual, por meio dos rastros
que você deixou, consegue entender o seu perfil e os seus gostos, propondo listas de grande assertividade.
Dentre os exemplos notáveis da aplicação de IA hoje, temos desde assistentes virtuais, mecanismos de
busca e algoritmos de recomendação de conteúdos, presentes em grandes plataformas online, até
ferramentas de reconhecimento facial, geolocalização e monitoramento epidemiológico.
Além de já ser uma realidade, a IA tende a ampliar de forma crescente a sua aplicação. Com o
armazenamento na nuvem e o uso de processadores e sensores cada vez menores e com alta capacidade
de análise e interpretação de dados, a IA tende a se incorporar ao nosso cotidiano transformando negócios
em diferentes áreas como medicina, comércio, transporte, marketing, mídia e serviços financeiros.
A maioria dos casos de sucesso atuais de IA envolve formas de sistemas de aprendizado de máquina (ML),
em aplicações em que uma grande quantidade de dados está disponível. Essas técnicas básicas já existem
há muito tempo, mas, na última década, novos hardwares, softwares e dados em grande escala tornaram o
ML notavelmente mais poderoso. As aplicações de ML incluem classificação de imagens, reconhecimento
facial e tradução automática. Elas são familiares para os consumidores em aplicativos como Amazon Alexa,
análises de esportes em tempo real, reconhecimento facial em redes sociais e mecanismos de
recomendação para clientes. Um conjunto equivalente de aplicações encontra seu lugar nos negócios,
incluindo análise de documentos, atendimento aos clientes e previsão de dados.
Ao mesmo tempo em que o uso de IA pode contribuir em grande medida para estratégias que visem ao
desenvolvimento humano sustentável, ela também é objeto de atenção por parte de pesquisadores,
gestores públicos, empresas e organizações da sociedade civil. Os efeitos potencialmente exponenciais do
uso de IA têm gerado alertas e criado preocupações fundadas frente a possíveis impactos na liberdade,
privacidade e proteção de dados pessoais.
Já tratamos a questão da privacidade em outras oportunidades. Como vimos, a inteligência vem sendo
utilizada para influenciar as decisões humanas, para a criação das bolhas e para o disparo em massa de
mensagens por robôs.
Há também o problema da acentuação da desigualdade. O problema é que nem sempre essas tecnologias
são orientadas para gerar uma prosperidade compartilhada e justa começar pelo gap existente entre os
poucos países que desenvolvem essas novas tecnologias e a imensa maioria das nações do planeta. Quando
as tecnologias não se mostram capazes de beneficiar a todos, os resultados quase sempre apontam para a
concentração de renda, o aumento da distância que separa os países desenvolvidos dos emergentes, a
elevação das desigualdades, para não falar dos desequilíbrios no campo da ética, da privacidade, dos
direitos humanos e da democracia.

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Vamos então focar nos impactos da IA no mercado de trabalho. Quando surgiram as máquinas, houve um
grande desemprego nas cidades e nos campos, o que gerou um profundo descontentamento das classes
operárias. Veja a caixa abaixo:

Alusão histórica - Ludismo


No início do século XIX, a Inglaterra assistiu à explosão do movimento operário contra o avanço da
Revolução Industrial. Batizado de Ludismo, trazia como bandeira uma oposição à mecanização e à chegada
das novas tecnologias, que eram vistas como exterminadoras implacáveis de empregos em substituição à
mão de obra humana. Esses trabalhadores ficaram conhecidos como os “quebradores de máquinas” e
lideraram greves em diversos setores impactados pela automação nas linhas de produção em detrimento ao
trabalho artesanal.

Não há consenso, afinal é algo difícil de saber qual, exatamente, será o impacto, contudo, assim como tem
sido de forma mais intensa nos últimos 300 anos, os avanços tecnológicos continuarão mudando a estrutura
do mercado de trabalho e demandarão a requalificação dos trabalhadores. É precipitado afirmar que o
desemprego irá aumentar, visto que outros empregos podem vir a aparecer. Quem imaginava, há 15, 20
anos, quando a internet começou a se popularizar, que hoje uma das principais demandas nas empresas
seria por profissionais como programadores, analistas de dados, especialistas em mídia social, em
marketing digital, mobile ou e-commerce?
O relacionamento entre trabalho e automação opera por meio de três canais distintos, mas relacionados:
substituição, complementaridade e criação de novas tarefas. A substituição é o mais conhecido,
representada pela substituição do trabalho humano pelas máquinas. Foi o que aconteceu quando a
maquinaria industrial têxtil substituiu fiandeiros, rendeiros e tecelões das zonas rurais com teares manuais
na Inglaterra do século XIX.
A substituição de trabalhadores por máquinas cria vencedores e perdedores. Os ganhos normalmente fluem
para as empresas por meio de lucros maiores e, para os clientes, por meio de preços mais baixos, em tese.
Os custos, no entanto, normalmente são pagos por trabalhadores deslocados, suas famílias e suas
comunidades, bem como pela população, por meio de programas de benefícios sociais dos quais os
trabalhadores dependem quando perdem seus empregos.
Contudo nem sempre a tecnologia substitui trabalhadores, às vezes serve para complementar as suas
capacidades cognitivas e criativas, dando-lhes mais eficiência e facilitando o seu trabalho. Por exemplo, os
arquitetos e engenheiros que usam o software Computer Aided Design (CAD), por exemplo, podem projetar
edifícios mais complexos com mais rapidez do que se fizessem com desenhos em papel. Sob essa ótica, o
maquinário aumenta o valor do conhecimento humano no desenvolvimento e na orientação de processos
de produção complexos, assim como fornece ferramentas que permitem que as pessoas transformem suas
ideias em produtos e serviços.
E, como já abordamos, há a criação de novas tarefas. No século XX, mesmo com o maquinário agrícola
deslocando trabalhadores agrícolas, as mudanças provocadas pela mecanização e pelo aumento da renda
geraram novos empregos em fábricas, escritórios e na área de finanças. No século XXI, à medida que os

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computadores e softwares deslocavam trabalhadores que executavam tarefas repetitivas criaram,


simultaneamente, novas oportunidades em trabalhos novos e cognitivamente intensos, como desenhar,
programar e manter máquinas sofisticadas, analisar dados e muitos outros.
Uma tendência que vem se fortalecendo entre os especialistas é que, com o advento dessas novas
tecnologias, como a IA, deve haver uma polarização do emprego, ou seja, a redução nos empregos de nível
intermediário, sobrando, predominantemente, os empregos mais sofisticados e os mais básicos. Seriam
considerados empregos médios os que executam tarefas codificáveis de rotina, como vendas, suporte de
escritório e administrativo, além de ocupações nas áreas de produção, artesanato e consertos em geral.
Nesse sentido, profissões tradicionais, como contadores, administradores e auditores, podem estar sob
ameaça da IA.
Assim, no mercado, predominariam os empregos altamente qualificados, concentrados em setores como
Tecnologia da Informação (TI) e finanças e os de nível muito básico, em setores como comércio e serviços
pessoais, os quais incluem tarefas que exigem destreza física, reconhecimento visual, comunicação face a
face e adaptabilidade situacional, cujas habilidades permanecem amplamente fora do alcance de hardware
e software atuais.

Relatório "O Futuro do Emprego 2020" - Fórum Econômico Mundial11


Em um prazo de cinco anos, robôs e máquinas vão dividir todos os empregos no mundo, segundo relatório
“O Futuro do Emprego 2020”, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial. Atualmente, cerca de um terço de
todas as tarefas são realizadas por máquinas, segundo o estudo.
A automação tem potencial para criar 97 milhões de empregos em empresas de 15 setores pesquisados em
26 economias do mundo, incluindo a brasileira.
A geração de vagas deve ocorrer em áreas ligadas principalmente a cuidados com a saúde, big data,
economia verde, e-commerce, além de atividades relacionadas à engenharia, computação em nuvem e
desenvolvimento de novos produtos.
Por outro lado, a “revolução dos robôs” deve extinguir 85 milhões de empregos, que estão vinculados
principalmente a trabalhos rotineiros ou manuais, afetando mais os trabalhadores menos qualificados, com
menor renda.
Nas empresas, empregos relacionados a atividades em setores como administrativo e processamento de
dados devem ser os mais substituídos pela tecnologia.

Outra questão relevante refere-se à discriminação. A discriminação algorítmica pode ocorrer em diversos
contextos, por exemplo, erros maiores para grupos vulneráveis em sistemas de reconhecimento facial,
priorização no atendimento a serviços médicos, falhas em recrutamento para empregos, entre outros.

11
Disponível em: https://noomis.febraban.org.br/noomisblog/robos-terao-metade-dos-empregos-em-5-anos-preve-forum-
economico-mundial. Acesso em 28 de agosto de 2021.

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Isso ocorre, também, por diversos motivos. Um deles é o fato de que aplicações da inteligência artificial são
alimentadas por bases de dados já construídas – por determinado grupo de pessoas, com características
específicas e correspondentes a grupos historicamente dominantes. Outro motivo vem do fato de que esses
sistemas são projetados por um grupo relativamente homogêneo de pessoas, cuja visão de mundo é
reproduzida nas suas criações, as quais carregarão os preconceitos e as concepções predominantes nesse
grupo. Assim, a máquina acaba sendo um espelho das crenças do grupo, reproduzindo preconceitos.
É interessante lembrar que a Lei Geral de Proteção de Dados prevê, no art. 6°, IX, o princípio da não
discriminação: impossibilidade de realização do tratamento para fins discriminatórios ilícitos ou abusivos.
Vou abrir um box para esclarecermos melhor o tema.

Discriminação (fonte AgênciaBrasil12 - com adaptações) ==29b4ab==

Uma vez que os sistemas de inteligência artificial vêm ganhando espaço em análises e decisões diversas,
essas opções passam a afetar diretamente as vidas das pessoas, inclusive discriminando determinados
grupos em processos diversos, como em contratações de empregados, concessão de empréstimos, acesso a
direitos e benefícios e policiamento. Uma das aplicações mais polêmicas são os mecanismos de
reconhecimento facial, que podem determinar se uma pessoa pode receber um auxílio, fazer check in ou até
mesmo ir para a cadeia.
Na China, uma ferramenta chamada SenseVideo passou a ser vendida em 2019 com funcionalidades de
reconhecimento de faces e de objetos. Mas a iniciativa mais polêmica tem sido o uso de câmeras para
monitorar atos e movimentações de cidadãos com o intuito de estabelecer notas sociais para cada pessoa,
que podem ser usadas para finalidades diversas, inclusive diferenciar acesso a serviços ou até mesmo gerar
sanções.
No Brasil, soluções desse tipo vêm sendo utilizadas tanto para empresas, como o Sistema de Proteção ao
Crédito (SPC), como para monitoramento de segurança por câmeras, como nos estados do Ceará, Bahia e
Rio de Janeiro. Neste último, no segundo dia de funcionamento, uma mulher foi presa por engano,
confundida com uma fugitiva.
Em fevereiro de 2018, dois pesquisadores do renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, sigla
em inglês) e da Universidade de Stanford, Joy Buolamwini e Timnit Gebru, testaram sistemas e constataram
que as margens de erro eram bastante diferentes de acordo com a cor da pele: 0,8% no caso de homens
brancos e de 20% a 34% no caso de mulheres negras. Estudo do governo dos Estados Unidos, publicado no
ano passado, avaliou 189 ferramentas desse tipo, descobrindo que as taxas de falsos positivos eram entre
10 e 100 vezes maior para negros e asiáticos do que para brancos.
Os questionamentos levaram estados e cidades a banir a tecnologia, inclusive São Francisco, a sede das
maiores corporações de tecnologia do mundo; e Cambridge, onde fica o Instituto de Tecnologia de

12
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-08/riscos-da-inteligencia-artificial-levantam-alerta-e-
suscitam-respostas. Acesso em 28 de agosto de 2021.

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Massachusetts. A Comissão Europeia anunciou, no início do ano, a possibilidade de banir o reconhecimento


facial, tema que está em debate no bloco. No Brasil, ao contrário, há dois projetos de lei obrigando o
reconhecimento facial em determinadas situações, como em presídios.
Projetos de inteligência artificial podem promover a discriminação também em políticas públicas'. Na
província de Saltas, na Argentina, a administração local lançou uma plataforma tecnológica de intervenção
social em parceria com a Microsoft com o intuito de identificar meninas com potencial de gravidez precoce a
partir da análise de dados pessoais, como nome e endereço.
“Além dos métodos estatísticos serem malfeitos, a iniciativa tem presunções sexistas, racistas e classistas
sobre determinado bairro ou segmento da população. O trabalho é focado em meninas, somente,
presumindo que os garotos não precisam aprender sobre direitos sexuais e reprodutivos. Temos que tomar
cuidado para que segmentos já segregados não sejam mais discriminados sob uma máscara de opções
neutras da tecnologia”, observa a diretora da organização Coding Rights e pesquisadora do Berkman Klein
Center da Universidade de Harvard, Joana Varón, que elaborou um artigo sobre a experiência.
A analista de políticas para América Latina da organização internacional Eletronic Frontier Foundation,
Veridiana Alimonti, ressalta questões a serem observadas nas decisões automatizadas. Os parâmetros dos
modelos são construídos por um humano, que tem concepções e objetivos determinados. E seu emprego em
larga escala traz riscos ao devido processo em decisões que afetam a vida das pessoas a partir de sistemas
que, muitas vezes, não possuem transparência tanto no seu desenvolvimento quanto na sua aplicação.

Outro risco é a concentração, muito poder com poucos. No caso, estamos falando, principalmente, das Big
Techs. Representam esse grupo as Big Five: Alphabet (holding que administra todos os serviços do Google),
Microsoft, Facebook, Amazon e Apple. Juntas somaram quase US$900 bilhões em receitas em 2019, o
equivalente à 18ª posição no ranking de PIB dos países.
Essas multinacionais oferecem inúmeras soluções por meio da oferta de seus produtos e soluções – alguns
até gratuitos -, que captam a atenção dos consumidores pela sua ótima qualidade. Contudo essas grandes
empresas criaram um monopólio, o que suscita uma série de polêmicas. Por exemplo: como lidar com o
poder de influência delas nas decisões das pessoas? como os dados dos clientes serão protegidos e usados?
de que forma elas deverão pagar impostos? devem elas moderar o conteúdo que seus usuários publicam?
O expressivo faturamento e o acesso a uma infinidade de dados13 permitem que esses grandes
conglomerados liderem as pesquisas e a implementação da IA. Trata-se de um mercado monopolizado e de
elevadas barreiras a novos entrantes e isso representa um grande potencial para aumento dos preços, perda
da qualidade e maior dificuldade em obter uma transparência sobre o que está ocorrendo.

13
Segundo reportagem do Ebc: “O Google possui mais de 90% do mercado de buscas e mais de 70% do mercado de navegadores,
bem como controla a maior plataforma audiovisual do mundo, o Youtube. O Facebook alcançou 2,5 bilhões de usuários e controla os
três principais aplicativos do mundo: Facebook, FB Messenger e Whatsapp, além do Instagram”. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-08/riscos-da-inteligencia-artificial-levantam-alerta-e-suscitam-respostas.

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Outra questão é o uso de armas inteligentes, como drones e tanques autônomos, descritas como a terceira
revolução das guerras após a pólvora e as armas nucleares. Tais máquinas têm que tomar decisões que
envolvem a vida ou a morte de pessoas, por isso a sensibilidade do tema. Tornou-se famoso o caso do robô
atirador (F.E.D.O.R.). No final das contas, o robô russo acabou não vingando, justamente por conta dos
boicotes de empresas preocupadas com o caminho que se estava seguindo.
Em 2015, mais de mil pesquisadores da área de inteligência artificial e especialistas, como o falecido físico
Stephen Hawking, o cofundador da Apple Steve Wozniak e o cérebro por trás da Tesla e da SpaceX Elon Musk,
assinaram uma carta aberta cobrando que as Nações Unidas banissem o uso de armas autônomas como drones.
Uma campanha foi criada para essa finalidade, chamada Parem os Robôs Assassinos, advogando pela
proibição da produção e do uso de armas totalmente automatizadas. Em fóruns internacionais e nas Nações
Unidas, governos discutem a regulação ou o veto ao emprego dessas tecnologias, ainda sem conclusão 14.
Assim, nota-se uma gama de questões éticas que envolvem a IA. Essas preocupações têm resultado em uma
série de reações por parte da sociedade, empresas e governos.
Uma dessas reações materializou-se nos Princípios de Asilomar, uma lista de 23 diretrizes que os
pesquisadores de inteligência artificial, cientistas e legisladores devem respeitar para garantir o uso seguro,
ético e benéfico da IA. Tocam questões no que concerne a pesquisa, ética e prevenção, de estratégias de
pesquisa e direitos de dados a questões de transparência e os riscos da superinteligência artificial. Os 23
princípios Asilomar tiveram notáveis apoiadores, o físico Stephen Hawking, o CEO do SpaceX Elon Musk, o
futurista Ray Kurzweil e o cofundador do Skype Jaan Tallinn, entre muitos outros.
Em sentido semelhante, podemos falar do documento “Call for an AI Ethics” (Apelo por uma Ética da
Inteligência Artificial), iniciativa do Vaticano, da IBM, da Microsoft e da FAO. No texto, defende-se a visão
"algorética" nos algoritmos, cuja aplicação deve se basear em alguns princípios, tais como: transparência,
inclusão, responsabilidade, imparcialidade e confiabilidade. O Vaticano, inclusive, criou um órgão interno
para o estudo do uso da IA.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) também divulgou um guia sobre ética e governança na utilização
da inteligência artificial na saúde. Uma das grandes preocupações diz respeito à quantidade e qualidade de
informações que serão gerenciadas pelos bancos de dados e se transformarão em orientações e práticas
que agentes de saúde replicarão para milhões de pessoas. Um sistema que esteja “contaminado” com
preconceitos ou qualquer visão parcial ou distorcida de um determinado grupo populacional terá um
enorme impacto negativo.
Como propostas de intervenção, podemos sugerir as seguintes:
• Auditoria nas empresas que desenvolvem essas tecnologias de modo que se dissemine uma cultura
da transparência. Os sistemas devem ser robustos e seguros, de modo a evitar erros ou a ter condição

14
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-08/riscos-da-inteligencia-artificial-levantam-alerta-e-
suscitam-respostas.

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de lidar com eles, corrigindo eventuais inconsistências. Devem também ter a garantia de sua
rastreabilidade e explicabilidade, para que não haja dificuldades na compreensão de sua atuação.
• Governos: devem regular a matéria e estabelecer princípios éticos a serem obedecidos pelas
empresas. Além disso, devem fiscalizar o cumprimento das normas e desenvolver políticas públicas
informacionais, de modo que as pessoas possam perceber a sensibilidade do tema.
• Organismos internacionais/locais: devem se organizar para exigir que governos e empresas cumpram
com as suas obrigações.

Yuval Harari - historiador e filósofo israelense


Yuval Noah Harari é professor do Departamento de História da Universidade Hebraica de Jerusalém e um
dos pensadores mais influentes da humanidade na atualidade, principalmente no campo da IA. Seus livros
mais conhecidos são: Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, Homo Deus – Uma breve história do
amanhã e 21 lições para o século 21.
Harari não é muito otimista com o futuro da humanidade. Segundo ele, todas as funções que têm potencial
de resultar em economia para as empresas serão automatizadas, o que pode criar uma geração de pessoas
inúteis e, nesse processo, os países em desenvolvimento serão os mais afetados se não se reinventarem. Se,
antes, esses países poderiam vender a sua mão de obra, no futuro, isso será ameaçado pela intensa
mecanização.
Segundo Harari, empresas como Netflix, Amazon e Spotify já nos dizem o que assistir, comprar ou ouvir,
baseadas nos nossos interesses (que muitas vezes nem nós mesmos conhecemos) e em seus algoritmos
superpoderosos. "Se empresas como essas já podem nos recomendar coisas novas com uma precisão
absurda hoje, imagine daqui alguns anos, quando o número de dados produzidos por cada um de nós será
imensamente maior do que é hoje? Empresas como essas poderiam não apenas nos recomendar o que
assistir, comprar ou ouvir, mas também o que estudar, para onde ir ou com quem casar".
Segundo matéria jornalística15:
Para o autor, mesmo funções que demandam alta capacitação, como a dos médicos, serão substituídas por
algoritmos. A razão é que esses profissionais lidam muito mais com dados para a tomada de decisões -
diferentemente dos enfermeiros, por exemplo, que precisam de habilidades mais interpessoais com os
pacientes. “Os médicos-robôs vão chegar muito mais rápido do que os enfermeiros-robôs”, afirma.
Harari acredita que o avanço de IA também significa menos privacidade e mais vigilância. As corporações
serão capazes de desenvolver algoritmos que compreendam as pessoas melhor do que elas mesmas. “A
combinação do conhecimento biológico, o poder computacional e a análise de dados tornará possível
hackear os cidadãos de qualquer país”, diz.

15
https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/11/inteligencia-artificial-vai-tornar-os-profissionais-irrelevantes-
e-hackear-seres-humanos.html

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Pode chegar um ponto em que a tecnologia descubra a orientação sexual 16 do usuário antes mesmo do que
ele - com o intuito de criar anúncios mais personalizados, por exemplo. “As pessoas precisam se conhecer
melhor para não ficar em uma posição vulnerável, em que possam ser manipuladas", afirmou.
Para o israelense, é muito provável que daqui a décadas estaremos vivendo em uma ditadura digital, sendo
monitorados por computadores e máquinas que analisarão informações essenciais para o governo e grandes
corporações. Daqui a dez anos, algumas pessoas no mundo, bilhões de pessoas, podem estar vivendo numa
ditadura digital onde não só tudo o que fazem, mas até tudo o que sentem é constantemente monitorado.
O ideal, segundo Yuval, é regulamentar as tecnologias mais perigosas, como sistemas autônomos de
armamentos e robôs assassinos, até a regulamentação de sistemas de vigilância para prevenir a criação de
ditaduras digitais. "Podemos prever que nos próximos dez ou vinte anos, a ascensão dessas ditaduras
digitais, ditaduras baseadas em tecnologias digitais de vigilância que seguem tudo o tempo todo. Podemos
prever que isso acontecerá não só nos países mais desenvolvidos, mas até em alguns países mais atrasados
do mundo, na África e no Oriente Médio", analisou17.

Proposta de solução
No ano de 1996, a ciência deu um passo que suscitou intensos debates sobre a ética e
o progresso científico: pela primeira vez, clonou-se um animal mamífero, a ovelha Dolly.
No âmbito dessa relação por vezes conflituosa, destacam-se as aplicações que utilizam a
tecnologia da inteligência artificial, notadamente pelos seus reflexos no campo do trabalho e
por reforçar discriminações entre os indivíduos.
Inicialmente, frisem-se as implicações da inteligência artificial sobre uma dimensão
essencial para a dignidade humana, o trabalho. Com efeito, apesar dos pontos positivos, como
a criação de novas profissões, especialistas, como o historiador Yuval Harari, acreditam
que a inteligência artificial (IA) criará uma massa de pessoas sem utilidade, especialmente

16
"Talvez eu não veja nenhum filme gay, nada do tipo, mas simplesmente monitorando a reação dos meus olhos o algoritmo e
a empresa por trás dele, já sabem que sou gay. Digamos que, no Youtube, eu veja um vídeo de um rapaz e uma moça, em roupas
de banho na praia. O computador sabe para onde eu olho. Se eu olhar mais para o rapaz do que para a moça, o algoritmo já sabe
que sou gay, e isso pode ser usado para me vender produtos", afirmou. Veja mais em https://www.uol.com.br/tilt/noticias/
redacao/2019/11/11/escritor-yuval-harari-roda-viva-entrevista.htm?cmpid=copiaecola
17
https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2019/11/11/escritor-yuval-harari-roda-viva-entrevista.htm?cmpid=copiaecola

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as que não conseguirem desenvolver novas habilidades. Opiniões dessa natureza reforçam a
preocupação sobre a obsolescência de uma gama de profissões e sobre o futuro do trabalho.
Outra aplicação potencialmente preocupante da IA é aquela capaz de reforçar
preconceitos. Com efeito, pesquisas, como a realizada pelo Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, mostraram que o sistema de reconhecimento facial possui vieses que
reforçam preconceitos, o que pode significar, por exemplo, a incriminação de inocentes e
acentuar discriminações contra grupos historicamente vulneráveis.
Diante da problemática exposta, ficam patentes os riscos associados à IA. Apesar
de auspiciosos os horizontes ampliados pela sua utilização, é necessário examinar
cuidadosamente as novas ferramentas antes de sua aplicação, bem como repensar as
competências requeridas para formar o profissional do futuro.

Tema 8 – Segregação urbana


Todos nós construímos a cidade pouco a pouco no nosso cotidiano: pegando o ônibus para ir trabalhar,
construindo nossa casa, elegendo prefeitos e vereadores, participando das mobilizações em nossa
vizinhança… Se produzimos coletivamente a cidade, temos também o direito de habitar, usar, ocupar,
produzir, governar e desfrutar das cidades de forma igualitária.
O Direito à Cidade é um direito humano e coletivo, que diz respeito tanto a quem nela vive hoje quanto às
futuras gerações. É um compromisso ético e político de defesa de um bem comum essencial a uma vida
plena e digna em oposição à mercantilização dos territórios, da natureza e das pessoas.
A expressão “direito à cidade” foi originalmente cunhada pelo filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre
em 1968, ano que ficou marcado pelo potente movimento iniciado pelas juventudes engajadas na luta por
direitos civis, liberação sexual, oposição ao conservadorismo, crítica à guerra no Vietnã, entre outras.
Lefebvre estava sensível às vozes e aos movimentos que irrompiam nas ruas, percebendo que as cidades
haviam se convertido no locus de reprodução das relações capitalistas, mas também onde a resistência
poderia constituir formas de superação criativa desse modelo.

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Disponível em: https://polis.org.br/direito-a-cidade/o-que-e-direito-a-


cidade/. Acesso em 23 de julho de 2021.

Na verdade, durante a maior parte do século XX, os estádios eram lugares onde os executivos empresariais
sentavam-se lado a lado com os operários, todo mundo entrava nas mesmas filas para comprar sanduíches
e cerveja, e ricos e pobres igualmente se molhavam se chovesse. Nas últimas décadas, contudo, isso está
mudando. O advento de camarotes especiais, em geral, acima do campo, separam os abastados e
privilegiados das pessoas comuns nas arquibancadas mais embaixo. (…) O desaparecimento do convívio
entre classes sociais diferentes, outrora vivenciado nos estádios, representa uma perda não só para os que
olham de baixo para cima, mas também para os que olham de cima para baixo.
Os estádios são um caso exemplar, mas não único. Algo semelhante vem acontecendo na sociedade
americana como um todo, assim como em outros países. Numa época de crescente desigualdade, a
“camarotização” de tudo significa que as pessoas abastadas e as de poucos recursos levam vidas cada vez
mais separadas. Vivemos, trabalhamos, compramos e nos distraímos em lugares diferentes. Nossos filhos
vão a escolas diferentes. Isso não é bom para a democracia nem sequer é uma maneira satisfatória de levar
a vida.
Democracia não quer dizer igualdade perfeita, mas de fato exige que os cidadãos compartilhem uma vida
comum. O importante é que pessoas de contextos e posições sociais diferentes encontrem-se e convivam
na vida cotidiana, pois é assim que aprendemos a negociar e a respeitar as diferenças ao cuidar do bem
comum.
Michael J. Sandel. Professor da Universidade Harvard. O que o dinheiro não
compra. Adaptado

Considerando essas reflexões, elabore um texto dissertativo-argumentativo que responda ao seguinte


questionamento: a segregação urbana no Brasil é uma realidade?

Abordagem teórica
Vamos iniciar essa abordagem com algumas perguntas. Na sua opinião, as cidades (brasileiras) são espaços
democráticos, onde todos possuem acesso aos mesmos serviços? As opções de mobilidade urbana, os
equipamentos referentes à segurança pública e os de entretenimento estão disponíveis de forma isonômica
entre os diversos setores da cidade? A cidade permite o seu usufruto por parte das pessoas com deficiência?
Inicialmente, aproveitando uma ideia do nosso texto motivador, é importante conhecer o conceito de
direito à cidade, o qual refere-se à ideia de que todas as pessoas têm o direito de habitar, usar, produzir,
governar e desfrutar das cidades de forma igualitária18.

18
Disponível em: https://polis.org.br/direito-a-cidade/o-que-e-direito-a-cidade/. Acesso em 20 de julho de 2021.

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De forma objetiva, podemos definir segregação como o processo econômico, social ou cultural que se
relaciona com a perda de contato entre diferentes segmentos sociais dentro do espaço urbano. Você pode
abordar esse tema de diversas formas.
Você pode definir a sua tese apresentando as causas do problema (tese por responsabilização), a exemplo
do rápido processo de urbanização e da intensa desigualdade social existente no país. É possível também
apresentar as consequências (tese por problematização), por exemplo, o processo de favelização (formação
dos aglomerados subnormais) e do aumento da violência. Uma terceira via é misturar os dois tipos,
apresentando na tese uma causa e uma consequência. Por fim, pode também uma tese por antecipação da
proposta de intervenção, em que você aponte como resolver o problema da segregação urbana.
As primeiras cidades surgiram, inicialmente, como pequenas aldeias às margens dos rios, por volta de 4.000
a 3.000 a.C.. Ao longo do tempo, a dinâmica de ocupação territorial passou por diversas transformações,
mas pode-se dizer que foi a partir da Revolução Industrial, ocorrida no final do século XVIII, que a
urbanização se acelerou. A pujante atividade industrial fez com que as pessoas se deslocassem para as áreas
próximas ao trabalho, iniciando, assim, um intenso êxodo rural. Esse processo veio se consolidando ao longo
do tempo, influenciado pela centralização da administração do Estado, pelo crescimento do comércio nas
cidades, pela mecanização do meio rural e pela concentração fundiária.
Esse movimento que, no seu início, restringia-se aos países desenvolvidos, generalizou-se a partir do século
XX. Se, no início do século 19, menos de 5% da humanidade vivia em cidades, atualmente, segundo a ONU,
55% da população mundial vive em áreas urbanas e a expectativa é de que essa proporção aumente para
70% até 205019.
Junto à intensa urbanização o crescimento das cidades em população e extensão, vieram os problemas,
sentidos, principalmente, nos países em desenvolvimento. O rápido crescimento populacional nesses países
não veio acompanhado de estruturas que pudessem acomodar de forma sustentável essa população, o que
acarretou problemas em áreas como transportes, energia, saneamento urbano, saúde, trabalho e moradia.
Esse processo de rápida urbanização, aliado a falhas de planejamento e gestão, gerou consequências e
desafios que permanecem presentes até os dias atuais: favelização; vários problemas referentes ao
saneamento básico (excesso de lixo, falta de rede de coleta de esgoto e de rede de distribuição de água
potável); poluição; violência; inundações; presença de ocupações irregulares; falta de opções de lazer e
cultura e problemas de mobilidade urbana.
Assim como grande parte dos países em desenvolvimento, o processo de urbanização brasileiro se acelerou
a partir da segunda metade do século XX, ancorando-se num crescimento populacional expressivo. O dado
mais recente foi divulgado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015 (PNAD): 84,72% dos
brasileiros vivem em áreas urbanas. Acompanhe a evolução pela tabela abaixo:
Ano 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007 2010

19
Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2019/02/1660701. Acesso em 20 de julho de 2021.

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Urbanização (%) 31,24 36,16 44,67 55,92 67,59 75,59 81,23 83,48 84,36

Feita essa introdução, será que as cidades brasileiras podem ser consideradas democráticas?
As cidades são por definição espaços compartilhados por cidadãos de diferentes origens e classes
sociais. Uma cidade democrática é aquela em que todas e todos, sem discriminação de classe social, gênero,
cor ou orientação sexual, podem desfrutar dos espaços públicos com a mais ampla liberdade possível. Isso
envolve mobilidade, meio ambiente, moradia, lazer, segurança, saúde, educação, saneamento, acesso à
cultura, participação política, entre outras questões. Vamos analisar essa questão em detalhes logo depois
de esclarecer alguns conceitos.
Quando se fala em direito à cidade, naturalmente, emergem três conceitos da geografia social: segregação
socioespacial, autossegregação e gentrificação.
A segregação socioespacial é um conceito que relaciona as desigualdades sociais, econômicas, culturais,
históricas e raciais ao espaço físico. Trata-se de um processo socioeconômico que diz respeito à perda de
contato entre grupos sociais dentro de um mesmo espaço urbano. A segregação socioespacial nega o
direito à cidade, visto que marginaliza indivíduos ou grupos sociais. A formação de favelas, habitações em
áreas irregulares, cortiços e áreas de invasão são exemplos comuns de materialização da segregação
urbana.
No caso brasileiro, essa segregação foi iniciada pelo processo de urbanização e intensificada pela enorme
desigualdade social existente no país. Esse fenômeno, inclusive, pode ser reforçado pelo próprio Estado
quando prioriza investimentos nas áreas ocupadas pela população de mais alta renda ou constrói casas
populares em bairros desprovidos de infraestrutura adequada, negligenciando ou simplesmente ignorando
a parte ocupada pelos mais pobres.
Essa segregação pode ocorrer de forma compulsória, em que aos pobres só resta a ocupação das áreas
periféricas, ou de forma voluntária, assumindo a forma de autossegregação.
Por autossegregação entende-se a decisão espontânea de se isolar. Isso ocorre de forma clara na formação
dos condomínios fechados. Trata-se de locais fechados, permanentemente vigiados, seguros e onde os
moradores podem encontrar todo tipo de serviço. Isso também tem a ver com a tendência de
"camarotização" da sociedade.
A "camarotização" relaciona-se também à ideia de separação física entre as pessoas, tendo como critério a
renda. Decorre dessa tendência a criação dos espaços VIP em estádios de futebol, boates, teatros, carnaval,
entre outros. Envolve conceitos ligados a privilégio, sociedade do espetáculo, poder do consumo,
ostentação, entre outros. Trata-se da superação do modelo em que o "ter" é mais importante que o "ser",
pois, com esse processo, o "parecer" acaba sendo mais importante que o "ter", podendo ser considerado
como um fim em si mesmo.
A mercantilização existente em todas as esferas faz com que se perca o contato entre pessoas de classes
econômicas diferentes, o que representa uma perda em termos coletivos. Os "rolezinhos" nos shoppings
mostram uma tentativa de romper essa lógica, fato que, obviamente, não justifica o vandalismo.

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Já a gentrificação é um processo pelo qual áreas que anteriormente eram degradadas, ocupadas pela
população de baixa renda, ao passarem por um processo de valorização, têm o seu custo de vida
aumentado, expulsando os antigos moradores da área. Esse processo de valorização se reflete, por
exemplo, no aumento dos aluguéis, do IPTU, do valor dos produtos no comércio e pode ser causado pela
construção de um museu, um parque, um shopping ou um estádio de eventos esportivos.
Um exemplo claro de gentrificação ocorreu no Rio de Janeiro por conta da revitalização do centro da cidade
por causa das Olimpíadas e da Copa do Mundo. Lugares antes totalmente degradados foram valorizados
pela realização de inúmeros empreendimentos (exemplo: Porto Maravilha e Lapa Legal), expulsando a
população mais pobre desses locais.
Pode-se falar também em mercantilização das cidades, ou seja, a transformação da cidade em mercadoria.
Observa-se, nesse contexto, que as decisões privilegiam o interesse de grupos financeiros e do mercado
imobiliário em detrimento dos interesses e das necessidades da maioria da população urbana. Observa-se,
nesse mesmo sentido, uma privatização dos espaços públicos, processo em que espaços, antes dedicados
ao público, foram transferidos para a iniciativa privada.
Um exemplo disso pode ser visto no contexto da transformação dos estádios em arenas. Acerca do tema,
confira o seguinte excerto20:
A maior parte dos estádios foi repassada para o controle de empresas privadas, que os transformaram em
arenas com shoppings, em templos de consumo. Assim, os estádios deixaram de ser espaços populares,
onde o ato de ir a um jogo de futebol era uma prática identitária cultural brasileira, e agora passaram a dar
lugar a uma espetacularização do esporte. Hoje assistir a uma partida de futebol tornou-se uma experiência
de consumo em que as pessoas vão às arenas, sentam-se na área VIP em cadeiras confortáveis. A maneira
de torcer muda e os valores que se paga também mudam. Nesse espaço há lojas, restaurantes e
lanchonetes de grife. E assim a própria experiência de torcer vai sendo transformada nesse processo de
mercantilização da cidade e dos seus lugares públicos.
[...]
Quem tiver dinheiro terá acesso ao melhor, quem tem uma renda média vai usufruir de espaços e serviços
médios e quem não tiver recursos será excluído de tudo. Mais uma vez estamos diante do risco de
construirmos cidades mais desiguais, mais excludentes.
Feitos esses esclarecimentos, podemos analisar alguns aspectos que nos permitirão formar uma opinião
sobre se as cidades são, de fato, espaços democráticos.
No que se refere à mobilidade urbana, sabe-se que os meios de transporte não são compartilhados de forma
isonômica. É inconteste que as áreas mais nobres são mais bem assistidas por meio de transporte público.

20
http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/550815-megaeventos-e-a-mercantilizacao-das-metropoles-
brasileiras-entrevista-especial-com-orlando-alves-dos-santos-junior

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Agrava essa situação o fato de as populações que habitam nas áreas periféricas serem justamente as que
mais necessitam de transporte público e as que residem mais distante dos locais onde trabalham.
Há, no entanto, outros vieses na lógica da mobilidade urbana. A mobilidade envolve, também, questionar a
sua acessibilidade, ou seja, se as pessoas com deficiências ou com mobilidade reduzida podem desfrutar
do direito de circularem e se movimentarem pelos espaços da cidade de forma plena e livre de barreiras.
Apesar dos recentes avanços legislativos, nas cidades brasileiras, a acessibilidade está ainda longe de ser
alcançada, haja vista os seus inúmeros problemas. São comumente encontradas calçadas com problemas
de pavimentação, transporte público sem as adaptações para quem usa cadeira de rodas, falta de rampas
de acesso em edifícios, entre outros.
No que se refere às opções de lazer, esporte e cultura, também se verifica uma distribuição geográfica
assimétrica nas cidades, ou seja, a disponibilidade desses equipamentos também está relacionada a uma
perspectiva de divisão socioespacial. As áreas consideradas nobres contam com a maioria dos
equipamentos desse tipo, fato que, aliado à questão dos custos envolvidos, dificulta o acesso por parte da
população mais carente.
É importante rememorar que, embora seja direito assegurado na Constituição Federal da República
Federativa do Brasil de 1988 a todos os cidadãos, percebe-se ainda no Brasil um contexto em que o lazer se
posta como privilégio de consumo e como um produto da mercantilização da qualidade de vida. Trocando
em miúdos, majoritariamente, só tem condições de usufruir de espaços como museus, quadras
poliesportivas, cinemas, entre outros, quem possuir renda para tal.
Outra abordagem a ser trabalhada é a da segurança pública. De fato, as áreas mais nobres e turísticas
recebem uma atenção especial do policiamento, muito mais presente e mais dedicado em resolver os
problemas que nas áreas periféricas. Já nas áreas mais pobres, muito mais desassistidas, a violência se
manifesta das mais diversas formas.
As zonas pobres, caracterizadas pela ausência do Estado em diversos sentidos, oferecem a localização
privilegiada para o estabelecimento do território do crime. As organizações criminosas se apropriam desses
locais, tornando-os seus territórios, e articulam as ações no espaço urbano, subjugando a população desses
locais a toda sorte de violências. O crime organizado se alimenta da pobreza e o isolamento imposto pelo
seu controle contribui para aumentá-la. Os confrontos com o Estado e entre as próprias facções geram
violência, representada pelo alto número de homicídios.
Embora a Constituição Federal de 1988 garanta o direito fundamental de ir e vir com segurança, isso está
bem longe de se concretizar. Embora detenham direitos constitucionais como os demais, os habitantes de
áreas carentes são tratados como “infracidadãos” ou “subcidadania”.
Nesse quesito há também um recorte de segregação racial. Segundo o Atlas da Violência de 2020, em 2018,
os negros representaram 75,7% das vítimas de homicídios e, para cada indivíduo não negro morto em 2018,
2,7 negros foram mortos.

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Assim, observa-se a existência de cidades diferentes dentro da mesma cidade. O direito à vida não é
assegurado de forma isonômica, independentemente do local em que se reside. Não sem causa, o Brasil é
o país onde a população mais teme a violência no mundo conforme o Global Peace Index 2021.
Esse pânico coletivo, cada vez mais legitima políticas de segurança, de controle, e os espaços públicos
deixam de ser espaços de convivência. Exemplos disso são os grandes condomínios, tema já mencionado.
Outro ponto cuja discussão é necessária é a capacidade de participação nas decisões políticas das cidades.
A gestão participativa e democrática, prevista no Estatuto da Cidade – art. 2º, II –, assegura a participação
da população e associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, na
execução e no acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano nas
discussões e debates sobre o futuro da cidade, de modo que os cidadãos possam manifestar sua opinião.
Apesar dos avanços, essa participação popular no planejamento urbano é ainda bem escassa. Segundo a
pesquisa "Direito à participação nas políticas urbanísticas: avanços após 15 anos de estatuto da cidade21"
[...] tendo em vista o contexto vigente de escassa atuação popular na elaboração, execução e fiscalização
do cumprimento dos instrumentos de planejamento urbano, os avanços do período democrático
trouxeram conquistas legais que, embora relevantes, foram insuficientes, com resultados que não se
manifestaram plenamente na esfera executiva, com nítidas defasagens nos canais de participação. E,
mais do que isso, com notáveis exceções, destaca-se o esvaziamento das instâncias participativas e
decisórias tidas como “de fachada”, existentes apenas para constar no processo de elaboração dos planos
diretores, mas carentes de efetividade ou de relevância para os responsáveis pelas decisões
governamentais. Assim sendo, embora tenham sido identificados profundos avanços normativos, legais
e institucionais quanto à adoção de iniciativas inclusivas e dialogadas, com controle social sobre o
planejamento urbanístico, ainda imperam formas de participação popular restritas ao caráter consultivo
e informativo (em vez de decisório).
Outro ponto refere-se ao meio ambiente. Não há dúvidas sobre a discrepância existente entre áreas nobres
e pobres nesse quesito. Como primeiro aspecto, pode-se falar sobre o saneamento básico, pois imensas são
as diferenças no que se refere a água potável, coleta de lixo e rede de esgoto.
Além do fator ambiental, deve-se recordar que esse aspecto afeta diretamente o direito à saúde. A carência
de serviços de água potável e de coleta e de tratamento de esgoto, a destinação inadequada do lixo e a má
deposição dos dejetos cria um ambiente propício ao desenvolvimento de doenças graves, como diarreia,
hepatite A, verminoses, dengue, leptospirose, entre outras. A maior parte das doenças relacionada à falta
de saneamento básico se desenvolvem devido à água contaminada

21
https://www.nexojornal.com.br/academico/2018/12/19/Como-a-popula%C3%A7%C3%A3o-
participa-da-gest%C3%A3o-das-cidades-no-Brasil

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Além disso, há o problema da exposição das periferias às intempéries. Eventos como chuvas torrenciais
provocam deslizamentos de terra e inundações, consequências vivenciadas, principalmente, pela
população de baixa renda.
Segundo o Documento Temático 11 da Conferência Habitat III (Espaço Público) (ONU, 2015), ao longo dos
últimos trinta anos, os espaços públicos se tornaram altamente comercializados e estão sendo substituídos
por edifícios privados ou semipúblicos, e essa comercialização divide a sociedade e separa as pessoas por
classes sociais. Como resposta ao aumento do total de taxas de criminalidade registradas no mundo (em
torno de 30%), houve um crescimento de comunidades fechadas, seladas por muros e instalações de
segurança sofisticadas, em quase todas as cidades da América Latina.
Acredito que tenhamos passado pelos principais pontos. Vamos focar aqui no arcabouço legislativo
brasileiro a tratar sobre a matéria.
A Constituição Federal de 1988 (CF/1988), em seu art. 6°, estabeleceu uma série de direitos no que se refere
à cidade, entre eles moradia, transporte, lazer, segurança e proteção à maternidade e à infância. Adensando
a discussão, lá no seu art. 182, a CF/1988 estabelece a obrigatoriedade (para as cidades com mais de 20.000
pessoas) da existência de um plano diretor, bem como das diretrizes gerais da política urbana.
Essas diretrizes foram estabelecidas pelo famoso Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001), entre as quais,
posso destacar: garantia do direito a cidades sustentáveis22, gestão democrática, planejamento do
desenvolvimento das cidades, oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços
públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais, ordenação e
controle do uso do solo, entre outros. Pode-se dizer, então, que a ideia de direito à cidade expressa na lei
sintetiza um amplo rol de direitos.
O instrumento mais importante no planejamento das cidades é o plano diretor. Trata-se do instrumento
básico da política de desenvolvimento e expansão urbana, de âmbito municipal, que, em linhas básicas, tem
como objetivo estruturar o crescimento e o desenvolvimento da cidade de maneira organizada ao longo do
tempo.
Sugestão de repertório
1.Cidadania segundo Thomas Marshall: segundo o sociólogo britânico, somente seria possível falar em
cidadania a partir da conquista de direitos civis, políticos e sociais.
2. Cidadão de Papel por Gilberto Dimenstein: no livro O Cidadão de Papel - A Infância, A Adolescência e Os
Direitos Humanos no Brasil, o jornalista explica que "cidadão de papel" se refere a " um cidadão com direitos
adquiridos, mas não usufruídos e isso acontece, na grande maioria, por falta de informação. Ele conhece pouco
ou quase nada sobre os direitos que possui, não manifestando suas opiniões, não fazendo reivindicações e muito

22
Segundo o Estatuto das Cidades, esse conceito deve ser entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento
ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras
gerações.

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menos lutando pela garantia destes direitos". "É um cidadão que usufrui uma cidadania aparente denominada
cidadania de papel. A verdadeira democracia implica na conquista e efetividade dos direitos sociais, políticos e
civis, caso contrário, a cidadania permanece inerte no papel. A cidadania de papel, portanto, surge com o
desrespeito aos direitos fundamentais do homem, com a falta de escolas, com a migração, com a desnutrição,
com o desemprego e com a pobreza"23.
Assim, o cidadão de papel é um indivíduo cujos direitos encontram-se positivados apenas no papel,
carecendo de aplicação prática.
3. Apartheid social: trata de uma expressão que sinaliza "uma situação em que pessoas de diferentes estratos
sociais são rejeitadas e discriminadas, não tendo as mesmas oportunidades que as outras pessoas. Assim,
alguns grupos sociais são desfavorecidos, não tendo acesso a condições satisfatórias de educação, saneamento
básico, saúde, transporte e moradia.24"
Feitas essas considerações, acredito que já existem insumos mínimos para a produção do seu texto. Por
isso, mãos à obra!

Proposta de solução

A atual Constituição Federal do Brasil garante aos indivíduos uma gama de


direitos, cujo exercício é condição para a cidadania. Apesar disso, observa-se, no país, um
cenário urbano de intensa segregação, provocado pelo processo acelerado de urbanização e que
se evidencia pela considerável desigualdade de direitos entre os cidadãos.

Inicialmente, esclareça-que o processo acelerado de urbanização é uma das causas da


intensa segregação espacial. Com efeito, o processo de industrialização provocou uma rápida
urbanização: o país, eminentemente agrário até a primeira metade do século XX, hoje
conta com mais de 80% dos seus habitantes residindo em cidades. Contudo junto a essa
migração massiva vieram os problemas, causados pela incapacidade do governo de
proporcionar condições mínimas de sobrevivência para esse contingente humano.

23
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=22237
24
https://www.significados.com.br/apartheid/

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Essa segregação socioespacial acaba se refletindo, diretamente, no exercício de direitos


por parte dos cidadãos. De fato, entre os moradores dos bairros nobres e das periferias, há
uma enorme discrepância na qualidade dos serviços públicos ofertados, como segurança
pública, saneamento básico, lazer e transportes. Essa diferenciação, a qual obsta o exercício
de direitos por parte das populações mais precarizadas, fragmenta o tecido social e cria
escalonamento entre os cidadãos, o que vai de encontro à acepção de igualdade inerente a essa
condição.

Diante do exposto, verifica-se um contexto de intensa segregação urbana no país. Sem


a superação desse problema, os ideais previstos na Constituição Federal consistiram em
mera teoria, apartada da realidade de grande parte da população brasileira.

PRÁTICA
Caro aluno, agora é com você! Treine bastante com os temas expostos, lembrando-se sempre de aplicar o
conhecimento acumulado nas aulas anteriores, tanto sob o ponto de vista da estrutura quanto dos aspectos
gramaticais.

Lembrem-se de nos encaminhar seu texto, se assim desejarem, por meio da área do aluno, de forma
manuscrita digitalizada, conforme explicado na aula 00 do curso.

Para a sua redação, é importante especificar o número do texto escolhido no campo apropriado. Você pode
nos encaminhar um arquivo único (em PDF) ou colar as imagens digitalizadas dentro de um documento em
Word.

As questões discursivas serão devolvidas exclusivamente ao aluno, por meio da área destinada ao curso no
site do Estratégia Concursos.

Desejamos um excelente trabalho a todos vocês!

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