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MINISTÉRIO PÚBLICO E MAGISTRATURA ESTADUAIS

Direito Civil
Profa. Mônica Queiroz
Aula 24

ROTEIRO DE AULA

Tema: TEORIA GERAL DOS CONTRATOS II

Na aula passada, vimos a principiologia dos contratos em uma aula mais teórica. Na aula de hoje, trabalharemos aquilo
que se chama de dogmática da teoria geral dos contratos, isto é, o que o nosso Código Civil cuida acerca dos contratos.

Quando estamos diante de um contrato que demora ao longo do tempo, meses ou anos, é possível que adiante
sobrevenha um desequilíbrio, é o chamado desequilíbrio superveniente. Tendo por base o princípio da justiça contratual,
é necessário combater esse desequilíbrio através da vedação à onerosidade excessiva, que nada mais é do que uma
aplicação moderna da cláusula rebus sic stantibus e se manifesta por meio de duas teorias:

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1. TEORIA DA QUEBRA DA BASE OBJETIVA DO NEGÓCIO JURÍDICO: estamos trabalhando a vedação à onerosidade
excessiva no âmbito do Código de Defesa do Consumidor

2. TEORIA DA IMPREVISÃO: estamos trabalhando a vedação à onerosidade excessiva no âmbito do Código Civil.

Teoria da Imprevisão (art. 478, CC)

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente
onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o
devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

Requisitos cumulativos e simultâneos:

a) Contrato de execução futura continuada ou diferida;

Contrato de execução futura é aquele que se protrai no tempo, que se estende no tempo. Quando falamos em contrato
de execução futura continuada, estamos falando daquele contrato em que uma das partes vai pagar parcelas (subvenção
periódica). Já quando falamos em contrato de execução futura diferida, o cumprimento também ocorrerá no futuro,
porém de uma só vez (um cheque pré-datado ou pós-datado).

OBS: A Teoria da Imprevisão não se aplica em se tratando de contrato de execução instantânea, que é aquele em que o
seu cumprimento ocorre logo após a sua constituição.

b) Acontecimento de evento extraordinário e superveniente → onerosidade excessiva;

Naquele contrato que está demorando ao longo do tempo, lá na frente aconteceu algo extraordinário que conduziu uma
das partes a uma situação de onerosidade excessiva. O contrato ficou oneroso demais para essa parte.

c) Imprevisibilidade do evento;

Aquele evento do requisito anterior que acontece no futuro e que conduz uma das partes a uma situação de ruína jamais
poderia ter sido previsto pelas partes quando da celebração do contrato. Por isso é que essa Teoria da Imprevisão tem
essa nomenclatura porque aquele evento era imprevisível.

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Contudo, o que é considerado imprevisível no caso concreto? Se formos considerar do ponto de vista do mercado, tudo
é previsível. No entanto, no ponto de vista da parte nem tudo é previsível. Há um enunciado que foi aprovado em jornada
de Direito Civil que nos traz um norte para compreendermos essa ideia de imprevisibilidade.

Obs. 1: Enunciado 175, CJF: “A menção à imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478 do Código Civil,
deve ser interpretada não somente em relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em relação às
consequências que ele produz.”

A fim de entendermos a redação desse enunciado, o que se quer dizer é que quando se cogita de imprevisibilidade do
evento, para que se configure a Teoria da Imprevisão, a imprevisibilidade deve ser analisada do ponto de vista da parte e
não do ponto de vista do mercado, porque se analisarmos a imprevisibilidade do ponto de vista do mercado, nunca
conseguiremos aplicar esta teoria.

⮚ Exemplo: uma pessoa trabalha no mesmo emprego há 20 anos. Em um dia, ele é demitido. Para o mercado, a
demissão dele era previsível. Qualquer um pode ser demitido. Contudo, para esse empregado isso não era
previsível em princípio.

Obs. 2: Art. 7º, Lei nº 14.010/20: “Não se consideram fatos imprevisíveis, para os fins exclusivos dos arts. 317, 478, 479 e
480 do Código Civil1, o aumento da inflação, a variação cambial, a desvalorização ou a substituição do padrão monetário.”

Essa lei é a que ficou conhecida como Lei da Pandemia ou Lei do RJET (Regime Jurídico Extraordinário e Transitório) e essa
lei veio no socorro do Direito Privado em virtude de tudo que aconteceu em várias relações diante da pandemia do COVID-
19. Esse artigo nos traz a informação de algo que já era entendido pelos nossos tribunais.

Não se tratam de fatos imprevisíveis a inflação, a variação cambial, a desvalorização ou a substituição do padrão
monetário. A Lei da Pandemia corrobora esse posicionamento jurisprudencial. Quando foi haver a sanção desta lei, o
Presidente vetou o art. 7º. Com isso, se os tribunais já entendiam que essas situações não eram situações de
imprevisibilidade e agora o Presidente veta esse dispositivo, significa que agora essas situações são situações de
imprevisibilidade e que, portanto, podem resultar na Teoria da Imprevisão?

Alguns meses depois, o Congresso Nacional derrubou o veto do Presidente da República e esse art. 7º volta a valer em
plena sintonia com o que a jurisprudência nacional já previa.

d) Que gera extrema vantagem para uma das partes.

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Em todos esses artigos, encontramos a Teoria da Imprevisão no CC.

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Temos que ter um contrato de execução futura continuada ou diferida com o acontecimento de algo extraordinário no
futuro que conduz uma das partes à situação de ruína, sendo que, quando da celebração do contrato, as partes jamais
poderiam prever algo como aquilo de acontecer e, ao mesmo tempo, a outra parte obtém extrema vantagem.

Esse quarto requisito é extremamente criticado pela doutrina porque o que a realidade nos mostra é que está
acontecendo um contrato que se prolonga pelo tempo, adiante acontece algo extraordinário que conduz uma das partes
à ruína, ninguém poderia ter imaginado que tal fato aconteceria, mas a outra parte não obteve extrema vantagem e, por
isso, não se consegue manejar a Teoria da Imprevisão.

A crítica doutrinária que há em relação à exigência deste último requisito é porque esse requisito, de certo modo, esvazia
a aplicação da Teoria da Imprevisão em nosso país.

Teoria da Imprevisão (art. 478, CC)


Requisitos:
a) Contrato de execução futura continuada ou diferida
b) Acontecimento de evento extraordinário e superveniente → onerosidade excessiva
c) Imprevisibilidade do evento
d) Que gere extrema vantagem para uma das partes

O efeito prioritário apresentado pelo art. 478 é exatamente a resolução daquele contrato, daquele negócio. Resolução
significa extinção. Será que é isso que, na maioria das vezes, a parte prejudicada quer? Não. Será que essa solução
apresentada pelo art. 478 está em consonância com a própria função social do contrato e da conservação dos contratos
festejados pelo CC/02? Não está.

A ideia desses princípios é tentar, primeiramente, tornar esse contrato de volta ao equilíbrio, aparando as arestas e, em
último caso, resolver/extinguir o contrato. Com isso, o art. 479 propõe, ainda que de forma muito tímida, essa
possibilidade de revisão contratual.

Art. 479. “A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato.”

O problema é que o CC traz de forma muito tímida a possibilidade de revisão do contrato no art. 479, na medida em que
essa possibilidade surge só se o réu quiser, pelo menos em uma primeira interpretação literal feita da leitura do art. 479.
Exatamente por causa desses tropeços do legislador é que há quem diga que, embora o art. 478 não seja muito bem
redigido, temos uma solução boa que está no mundo do Direito das Obrigações, no art. 317.

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Art. 317. “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do
momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor
real da prestação.”

Se o juiz vai promover uma correção das prestações, o que o juiz estará fazendo será uma revisão contratual, o que é
muito mais adequado tendo por base o princípio da função social dos contratos e o subprincípio da conservação ou
preservação dos contratos.

Teoria da Quebra da Base Objetiva do Negócio Jurídico (art. 6º, V, CDC)

Art. “6º São direitos básicos do consumidor: (...)


V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de
fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.”

Requisitos:

a) Contrato de execução futura continuada ou diferida;

Precisamos daquele contrato que se protrai ao longo do tempo. Em se tratando de contrato de execução instantânea,
imediata, não faz sentido querermos aplicar a teoria da quebra da base objetiva do negócio jurídico.

b) Acontecimento de evento extraordinário e superveniente → onerosidade excessiva.

O que é exigido pelo CDC são apenas esses dois requisitos. O CDC não exige imprevisibilidade do evento e nem que a
outra parte obtenha extrema vantagem. Não há dúvida de que o CDC foi uma lei muito mais bem redigida do ponto de
vista técnico do que o CC/2002.

Qual é o efeito trazido pelo CDC em primeiro plano? A revisão, sendo uma saída totalmente de acordo com a função social
dos contratos e com o subprincípio da conservação dos contratos.

Quando iremos aplicar essas duas teorias? Quando estivermos diante de um desequilíbrio superveniente, a depender da
relação que está por detrás. Se for uma relação civil comum, nos valeremos da teoria da imprevisão. Contudo, se for uma
relação de consumo, nos valeremos da teoria da quebra da base objetiva do negócio jurídico.

FORMAÇÃO DOS CONTRATOS (arts. 427 ao 435, CC)

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FASES:

1ª) Negociações Preliminares;


2ª) Proposta ou Policitação;
3ª) Aceitação.

1ª Fase – Negociações Preliminares ou Puntuação

O nome “fase da pontuação” vem do Direito Italiano, que significa que nesta fase serão estabelecidos os pontos principais
daquele contrato que será celebrado no futuro, os pontos principais.

- Sondagens, tratativas
- Não geram vinculação

Quando falamos em negociações preliminares, ainda está tudo muito vago. Uma pessoa entra em uma loja e experimenta
algumas roupas. Está em negociação preliminar. Ou em uma loja de perfumes, em que um cliente experimenta fragrâncias
de mostruário. Por causa disso, a cliente é obrigada a comprar? Claro que não, porque se está apenas sondando, nas
tratativas, em um momento de negociação preliminar.

Obs.: Exceção: pode gerar vinculação se houver violação à boa-fé objetiva. Encontraremos posicionamentos
jurisprudenciais nesse sentido. Excepcionalmente, se o comportamento naquele momento de negociação preliminar
induzir à ideia de violação à boa-fé objetiva, aí poderá gerar vinculação, resultando em pagamento de indenização.

⮚ Exemplo: o famoso caso da Cica (empresa que produz extrato de tomate e conserva alimentícia). Na década de
1980, a Cica “contratava” agricultores em cidades pequenas do Rio Grande do Sul e distribuía para eles sementes
de tomate, sem fazer contrato. Aqueles agricultores plantavam e produziam aqueles tomates e, ao final da
produção, a Cica comprava toda aquela produção. Isso aconteceu por anos, até que um ano a Cica não quis
comprar deles.

⮚ Esses fazendeiros ajuizaram ação contra a Cica pleiteando uma indenização. A Cica se defendeu arguindo que
estavam apenas em negociação preliminar, sendo uma mera tratativa que não vincula. Os desembargadores do
TJRS entenderam que negociação preliminar de fato não vincula, mas, a depender do comportamento da parte,
a Cica gerou na outra parte uma expectativa muito grande de contratação, essa negociação preliminar vai vincular
sim porque houve ofensa ao que manda o princípio da boa-fé objetiva.

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⮚ Essa responsabilidade que surge é de natureza contratual ou de natureza extracontratual? A doutrina se divide.
A professora está com aqueles, e esse é o posicionamento que tende a prevalecer, que dizem que se trata de uma
responsabilidade extracontratual, uma vez que o contrato ainda não foi feito.

2ª Fase – Proposta ou Policitação ou Oblação

Estamos diante de uma proposta que foi feita e essa proposta é séria e precisa. Enquanto que, na fase de negociação
preliminar, estava tudo muito vago e, por isso, aquela fase não gera vinculação em regra, a fase da proposta há de ser
séria e precisa, que, nesse momento, passamos a dar nomes aos sujeitos envolvidos naquela fase.

- Séria, precisa.

- Gera vinculação para o proponente.

⮚ São exemplos de proposta: quando alguém entra em uma loja e vê uma roupa pendura com uma etiqueta de
preço, aquilo é uma proposta. Quando alguém recebe em casa um folder com uma propaganda de uma farmácia
ou supermercado com o preço, aquilo é uma proposta.

A proposta pode se manifestar de duas formas:

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A proposta entre presentes é aquela em que as partes podem se comunicar imediatamente (dentro da loja, em uma
concessionária ou entre particulares vendendo um carro). Todavia, existe a chamada proposta entre ausentes que é
aquela em que as partes não podem se comunicar imediatamente (venda de um carro por carta via Correios ou
propaganda via folder).

Obs.: uma proposta via telefone é entre presentes ou entre ausentes? Uma proposta feita via telefone reputa-se entre
presentes, porque as partes podem se comunicar imediatamente, não sendo exigida a presença física.

Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:


I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que
contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;

Imagine que o destinatário da proposta, o oblato, promova modificações nessa proposta. Mônica oferece vender seu
carro para João, no valor de R$ 60.000,00. João diz que paga R$ 50.000,00. Ele pegou a proposta e promoveu modificações
nela, devolvendo para a Mônica. A isso dá-se o nome de contraproposta.

Quando há uma contraproposta, os papeis se invertem porque o João que era tão somente oblato, na medida em que ele
modifica aquela proposta recebida, ele se torna contraproponente ou proponente e se vincula à contraproposta que ele
fez, enquanto a proponente originária se torna oblato.

Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.

- Retratação da proposta: em regra, não é possível. Exceto: art. 428, IV.

Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: (...)


IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.

⮚ Exemplo: alguém foi enviar uma proposta de venda do carro pelos Correios para o João. No que essa pessoa sai
da agência dos Correios já se arrepende daquela proposta, porque se vincula. Excepcionalmente, é possível se
retratar da proposta.

Admite-se a retratação da proposta em duas situações:

- Se a retratação da proposta chegar antes da própria proposta; ou


- Se a retratação da proposta chegar simultaneamente à proposta.

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3ª Fase – Aceitação

- Ocorre quando o oblato (destinatário da proposta) adere à proposta.


- Ocorre a vinculação para o oblato.

Enquanto que a proposta vincula o proponente, a aceitação vincula o oblato.

Seria possível uma retratação da aceitação? Em regra, ele não pode se retratar, mas também vamos encontrar exceções
em que o CC, no art. 433, autoriza a retratação da aceitação.

Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.

A aceitação, bem como a proposta, pode se dar entre presentes ou entre ausentes. Aceitação entre presentes é aquela
em que as partes podem se comunicar imediatamente (João que aceita a proposta da venda do carro imediatamente).
Aceitação entre ausentes ocorre quando as partes não podem se comunicar imediatamente (João envia uma carta-
resposta e, nela, aceita a proposta feita).

Quando falamos em aceitação, visualizamos que o contrato está nascendo, qual o momento exato em que iremos
considerar aquele contrato formado?

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Depende se a aceitação aconteceu entre presentes ou entre ausentes. Se a aceitação aconteceu entre presentes, devemos
considerar que aquele contrato se formou imediatamente. Dúvida poderá permanecer acerca de qual momento
consideraremos esse contrato formado se a aceitação se der entre ausentes, e é com a expedição da resposta – quando
João envia a carta-resposta pelos Correios (Teoria da Expedição).

Entretanto, embora o nosso ordenamento jurídico adote a Teoria da Expedição por segurança jurídica, excepcionalmente,
vamos encontrar o nosso ordenamento adotando a chamada Teoria da Recepção (a partir do momento em que o
preponente receber a aceitação), nos incisos do art. 434 do CC.

Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente (Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao
proponente a retratação do aceitante);
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.

E também se adota a teoria da recepção:

● Enunciado 173, CJF: “A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-
se com a recepção da aceitação pelo proponente.”

Encerradas as fases de formação do contrato, vamos analisar um novo tópico dentro da teoria geral dos contratos.

CONTRATO PRELIMINAR

Esse tópico é analisado depois que superamos o estudo das fases de formação do contrato porque muito autor coloca o
contrato preliminar como fase de formação dos contratos. A professora particularmente entende que contrato preliminar
não é fase de formação dos contratos. O contrato preliminar é um contrato pronto e acabado que passou por aquelas
três fases, de negociação preliminar, de proposta e de aceitação.

● Arts. 465/466, CC.


● Sinônimos: promessa, compromisso, pactum de contrahendo, contrato preparatório, pré-contrato.

Esse último sinônimo, apesar de cair em provas, dá a impressão de que quando temos um contrato preliminar, não temos
um contrato, sendo que temos um contrato sim, só que é um contrato preliminar, não é o contrato definitivo.

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É muito comum encontrarmos contratos de promessa de compra e venda, sendo um compromisso de que, no futuro, irá
ocorrer a compra e venda e o contrato de compra e venda. As pessoas fazem esses compromissos por razões de
segurança, por razões financeiras em pagamentos parcelados, etc., enquanto, no futuro, o vendedor terá que ir ao
cartório e fazer a compra e venda propriamente dita, outorgando a escritura do imóvel em nome do comprador.

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à
constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o
maior salário mínimo vigente no País.

O objeto da promessa de compra e venda daquele imóvel é a celebração de um futuro contrato definitivo, de qualquer
objeto, sendo o mais comum o de compra e venda de um imóvel. Em virtude do art. 108 do CC, deve-se fazer aquele
contrato em um Cartório de Notas por meio de escritura pública.

- Conceito: se trata de um contrato cujo objeto é a celebração de um futuro contrato que é denominado de contrato
definitivo.

Quando fazemos a promessa, o contrato preliminar, o compromisso, quais são os requisitos? São os mesmos requisitos
do contrato definitivo (o objeto e as partes envolvidas são as mesmas).

Art. 462. “O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser
celebrado.”

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A compradora dá um prazo para o vendedor fazer o contrato definitivo, cumprindo com a obrigação dele que está naquela
promessa de compra e venda, mas o vendedor não se manifesta, só que a compradora já pagou por aquele apartamento.
O que pode ser feito?

Deverá se recorrer ao Poder Judiciário, pedindo ao juiz uma dessas duas possibilidades: que o juiz atribua caráter de
definitividade àquela promessa (ação de adjudicação compulsória) ou pode exigir uma indenização por perdas e danos,
além da devolução do valor efetivamente pago.

Quando a promessa aparece na matrícula do imóvel, é atrelada essa promessa ao mundo dos Direitos Reais e, a partir do
momento em que essa promessa aparece na matrícula daquele imóvel, estaremos diante do direito real à aquisição,
previsto no art. 1.417 e 1.418 do CC e o direito do comprador, nesse caso, estará muito mais resguardado, surgindo o
direito de sequela, de perseguir aquele imóvel caso ele seja vendido a terceiro.

Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento
público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à
aquisição do imóvel.

Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem
os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento
preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel.

Se o comprador tiver só a promessa de compra e venda e essa promessa não aparecer na matrícula do imóvel porque a
parte contrária não quis que fosse feito assim, estamos apenas no mundo do Direito Obrigacional e a outra parte continua
a ser dona e pode ter feito promessa com outras pessoas, ter vendido para outras pessoas.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS

1. Quanto às obrigações para as partes:

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a) Unilaterais: é aquele que gera obrigação para apenas uma dar partes. Exemplo: doação pura e simples, pois
apenas o doador tem obrigação a cumprir.

b) Bilaterais ou Sinalagmáticos: é aquele que gera obrigação para ambas as partes. Exemplos: contrato de compra
e venda, em que o comprador tem a obrigação de pagar o dinheiro e o vendedor tem a obrigação de disponibilizar
a coisa; doação com encargo, porque o doador tem a obrigação de disponibilizar o bem, mas o donatário tem que
cumprir com o ônus.

Obs.: Art. 476, CC – Exceção do contrato não cumprido (Exceptio non adimpleti contractus)

Esse instituto da exceção do contrato não cumprido, cuja expressão “expressão” juridicamente significa defesa, é aplicável
nas situações em que estivermos necessariamente diante de um contrato que seja bilateral. Pela própria natureza daquele
contrato ou porque está previsto no instrumento de criação do contrato, ficou estabelecido que João teria que cumprir
com a obrigação dele inicialmente, só que João não cumpre com a obrigação dele e João, embora não tenha cumprido
com a obrigação dele, ajuíza uma ação contra a outra parte exigindo que ela cumpra com sua obrigação.

A outra parte usa como defesa a exceção do contrato não cumprido, porque, pela natureza do contrato ou pela forma
com que foi pactuado, João deveria cumprir com sua obrigação primeiro. Essa é a chamada exceção do contrato não
cumprido e esse instituto somente tem cabimento em se tratando de contratos bilaterais ou sinalagmáticos.

Art. 476, CC: “Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o
implemento da do outro.”

2. Quanto ao sacrifício patrimonial:

a) Gratuitos: é aquele em que apenas uma das partes sofre sacrifício patrimonial. Exemplo: contrato de doação, em
qualquer dos seus tipos. A imposição de um encargo ao donatário não irá desnaturar aquele contrato enquanto
contrato gratuito que é.

b) Onerosos: é aquele contrato em que ambas as partes irão sofrer sacrifícios patrimoniais. Exemplo: contrato de
compra e venda, o comprador terá que dispender do dinheiro para pagamento e o vendedor terá que dispender
da coisa vendida.

3. Quanto ao aperfeiçoamento:

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a) Consensuais: são aqueles que se aperfeiçoam com o simples consenso, acordo das partes. 99% dos contratos que
existem no nosso país são contratos consensuais. Exemplos: contrato de compra e venda e contrato de locação.

b) Reais: o nome nada tem a ver com os Direitos Reais e vem do latim res, que significa coisa. Contratos reais são
aqueles em que, para que haja o seu aperfeiçoamento, além do consenso, deverá haver a entrega da coisa.
Exemplos: contrato de comodato (empréstimo de bem infungível), contrato de mútuo (empréstimo de bem
fungível) e contrato de depósito (uma pessoa guarda alguma coisa para outra).

4. Quanto à disciplina legal:

a) Típicos: é aquele que apresenta uma disciplina mínima em lei. A lei traz um regramento mínimo para aquele
contrato.

Obs.: alguns autores vão trazer como sinônimo de contrato típico a denominação “contratos nominados”. A professora
não gosta desse sinônimo, porque contrato nominado é aquele que tem um nome jurídico, independentemente de ter
regramento mínimo em lei.

b) Atípicos: é aquele que não tem disciplina mínima em lei.

Art. 425, CC: “É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.”

5. Quanto às formalidades exigidas:

a) Formais: são aqueles que a lei impõe alguma forma. Exemplo: compra e venda de imóvel, sendo que esse imóvel
tenha valor superior a 30 vezes o salário-mínimo → escritura pública.

Ex.: Art. 108, CC - “Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que
visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta
vezes o maior salário mínimo vigente no País.”

b) Informais: a lei não impõe uma determinada forma. Exemplo: compra e venda de bem móvel.

Obs.: alguns autores, quando vão apresentar essa classificação das formalidades, trazem como sinônimo de contratos
formais a denominação “contratos solenes”. A professora, particularmente, entende que devemos chamar de contrato
solene apenas aquela situação em que estivermos diante de um contrato formal cuja forma seja escritura pública.
Contrato formal poderá ser qualquer forma.

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6. Quanto ao modo de elaboração:

a) Paritário: é aquele que surge após amplo debate das partes sobre as cláusulas. As partes estão em situação de
paridade, por isso o nome.

b) De adesão: diante da massificação contratual em que vivemos, nem sempre dá para sentar com a outra parte e
elaborar o contrato, discutindo as cláusulas. Contrato de adesão é aquele cujo conteúdo é imposto
unilateralmente por uma das partes. Ainda prevalece a autonomia privada, mas a autonomia privada do aderente
se limita a ele aceitar ou rechaçar aquele contrato. Exemplo: relações de consumo.

Art. 54, CDC


Art. 423, CC
Art. 424, CC

O contrato de adesão acontece não apenas nas relações de consumo, mas também irá ocorrer na relações civis comuns,
regidas pelo Código Civil.

Art. 423, CC: “Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a
interpretação mais favorável ao aderente.”

O dispositivo foi alterado e a palavra final passou a ser “contratante”. É claro que a pessoa que fez a estipulação, em
princípio, estava em uma posição mais confortável. A Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/19) nos trouxe, no art. 113
do CC, novos parágrafos. No § 1º, há a extensão dessa ideia da interpretação favorável ao aderente mesmo aos contratos
paritários, desde que possível saber e comprovar quem redigiu.

Art. 424, CC: “Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito
resultante da natureza do negócio.”

Esse art. 424, embora esteja no Código Civil, tem sido aplicado nas situações em que alguém para o carro em um
estacionamento e recebe um papelzinho na entrada, escrito que esse estacionamento não se responsabiliza por qualquer
dano veículo, pelo desaparecimento de coisas que estejam no interior do veículo, etc.

Nada obstante haja uma relação de consumo, por um diálogo das fontes, esse art. 424 tem sido afastado para afastar
essa cláusula porque quem para o carro em um estacionamento quer proteção.

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7. Quanto aos riscos:

a) Comutativos: são aqueles contratos em que as prestações das partes já estão pré definidas. Sabemos quanto
cada um tem que pagar. Não há risco nesse contrato.

Contrato aleatório Emptio Spei → o risco é relativo à EXISTÊNCIA de coisa ou fato futuro.

⮚ Exemplo: alguém faz um contrato de seguro de veículo, em que tem que pagar X para a seguradora, chamado de
prêmio. Esse valor X é o devido para a seguradora, é a prestação do contratante. Qual é a prestação da
seguradora? Isso dependerá da existência de um fato futuro, que é a ocorrência ou não de um acidente. Se não
acontecer o acidente, a seguradora não tem que pagar nada e o segurado tem que continuar pagando.
Acontecendo ou não o acidente, a prestação do segurado é devida.

Art. 458, CC: “Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um
dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte
não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.”

Contrato aleatório Emptio Rei Speratae → o risco é relativo à QUANTIDADE.

⮚ Exemplo: João é produtor de café e Mônica comprou a safra de café que o João irá produzir no ano de 2022.
Mônica pagará X por essa safra a ser produzida em 2022. O valor X é devido, independentemente de, ao final de
2022, ele chegar com uma ou com mil sacas de café. A prestação dele é variável. Se João não produzir nada, nesse
caso, Mônica não assumiu risco quanto à existência, mas sim risco quanto à quantidade. Assim, Mônica não pode
aceitar 0 e pode pegar o dinheiro pago de volta.

Art. 459, CC– “Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir
em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido
culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.”
Parágrafo único. “Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.”

VÍCIOS REDIBITÓRIOS

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Há vício redibitório quando adquirimos alguma coisa e esta coisa vem com um defeito. Todavia, em nosso ordenamento
jurídico, existem duas sistemáticas para cuidar dos vícios redibitórios: a do CC e a do CDC (se chama vício do produto ou
vício do serviço). A lei aplicável é em conformidade com o tipo de relação jurídica.

⮚ Exemplo 1: alguém comprou um carro do vizinho. O vizinho não é vendedor de carros, ele estava vendendo o
carro particular dele simplesmente porque ele desejava comprar um mais novo e o carro dele veio com um defeito
no motor. Houve um vício redibitório e há uma relação civil, comum, entre pessoas que são iguais, que estão no
mesmo nível. Estão no CC as regras.

⮚ Exemplo 2: alguém comprou um carro em uma concessionária, que veio com defeito no motor. Estamos
enxergando uma relação de consumo e, por isso, devem ser reclamados os vícios daquele produto. Neste caso,
aplicamos as regras do CDC.

Vícios Redibitórios pelo Código Civil

✔ Conceito: vício redibitório é o efeito oculto que contém a coisa objeto de contrato oneroso que a torne imprópria
a uso ou prejudique o seu valor.

✔ Contrato: oneroso, aquele em que ambas as partes sofrem sacrifícios patrimoniais, como um contrato de compra
e venda (compra de carro do vizinho, que tem defeito no motor). De outro lado, se o contrato for gratuito, o
adquirente não pode reclamar.

Exceção: doação com encargo (modal/onerosa) – Art. 441, p.ú., CC. É aquela doação na qual o donatário terá que cumprir
uma condição imposta pelo doador. O vizinho dá um carro a fim de que a donatária leve os filhos dele na escola pelos
próximos seis meses. Nesse caso, pode se reclamar pelo vício redibitório constatado? Sim, é uma exceção.

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Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a
tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.
Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.

✔ Objeto: coisa. Se estivéssemos falando de CDC, deveríamos chamar de produto ou serviço.

✔ Defeito: oculto. Uma pessoa de conhecimento mediano não consegue detectar o efeito após um exame
superficial da coisa. Um defeito no motor do carro é um defeito oculto. Pelo CC, se o defeito for aparente (de fácil
constatação), não se pode reclamar, como um grande arranhão na porta de um carro.

Obs.: em uma relação de consumo, sob as regras do CDC, vamos ampliar a proteção ao adquirente, que é o consumidor.
No mundo do CDC, o consumidor pode reclamar, seja defeito oculto seja defeito aparente.

São efeitos as seguintes ações edilícias:

Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não
conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato.

Além do dinheiro de volta, a parte pode exigir perdas e danos, em ação redibitória, se o alienante conhecia do vício e se
conseguir provar. Pode acontecer de o alienante não saber da existência daquele vício, aí será sem perdas e danos. Esse
art. 443 é extremamente recorrente em provas de múltipla escolha. Isso nem sempre é o ideal tendo em base os princípios
da função social e da conservação do contrato.

Por isso, temos uma segunda possibilidade de ação edilícia, que é a chamada ação quanti minoris ou estimatória. Por meio
dessa ação, o que a parte adquirente busca é tão somente um abatimento no preço, querendo continuar com a coisa.

Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no preço.

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⮚ Em qual prazo se deve agir?

Art. 445, caput. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a
coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da
alienação, reduzido à metade.

Esses prazos serão contados da entrega da coisa.

⮚ E se o adquirente já estiver na posse da coisa? Como no caso de alguém que estava alugando o carro do vizinho,
mas comprou o veículo. Na segunda parte do art. 445, os prazos são os seguintes e contam a partir da alienação:

⮚ E se o vício se manifestar tardiamente?

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Art. 445, § 1º. Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento
em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano,
para os imóveis.

Portanto, existe uma limitação. Iremos contar 30 dias para o móvel a partir da descoberta e 1 ano para o imóvel a partir
da descoberta não podendo ultrapassar a 180 dias da entrega, no caso do móvel, e 1 ano no caso de imóvel.

Exemplo 1: João vendeu uma televisão para Mônica e entregou a televisão. A regra é que ela tem 30 dias para reclamar
de algum vício redibitório. Acontece que aquela televisão tinha um vício muito oculto que só veio a se manifestar 90 dias
depois que ele entregou. Ela ainda pode reclamar. O prazo será contado da descoberta e está dentro da limitação de 180
dias da entrega.

Exemplo 2: João vendeu uma televisão para Mônica e entregou a televisão. A regra é que ela tem 30 dias para reclamar
de algum vício redibitório. Acontece que aquela televisão tinha um vício muito oculto que só veio a se manifestar 170 dias
depois que ele entregou. Em princípio, ela teria mais 30 dias a contar da descoberta do vício redibitório, só que, se
somarmos 30 dias nesse caso, vai ultrapassar o limite de 180 dias e, portanto, ela só terá 10 dias para reclamar.

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Esse mesmo § 1º nos dirá que teremos 1 ano para reclamar contados da descoberta, não podendo ultrapassar a 1 ano da
entrega. Qual é a lógica? Se o vício do imóvel se manifestar 2 anos após a aquisição, a adquirente terá o prazo de 1 ano
após a descoberta do vício, só que não pode ultrapassar 1 ano da entrega. Isso não faz sentido, não tendo aplicabilidade
prática. Vejamos o seguinte enunciado:

Enunciado 174, CJF: “Em se tratando de vício oculto, o adquirente tem os prazos do caput do art. 445 para obter redibição
ou abatimento de preço, desde que os vícios se revelem nos prazos estabelecidos no § 1º, fluindo, entretanto, a partir do
conhecimento do defeito.”

O prazo flui a partir do conhecimento do defeito, mas ele tem que se revelar nos prazos do § 1º do art. 445.

EVICÇÃO (447/457)

- Conceito: evicção é a perda da coisa em virtude de sentença judicial ou decisão administrativa por quem a possuía como
sua em favor de um terceiro com direito anterior sobre ela.

⮚ Exemplo: Mônica adquire de João alguma coisa, como um carro, só que esse carro não vem com defeito nenhum.
Acontece que um dia chega um oficial de justiça na casa de Mônica dizendo que um terceiro chamado Manoel
está reivindicando este carro. Comparecendo em juízo, Mônica se defendeu. Embora sua boa-fé, o juiz mandou
entregar o carro para Manoel porque Manoel, no bojo daquele processo, conseguiu provar que aquele carro era
dele e o João era um ladrão de veículos, que tinha vendido para Mônica. A esse processo de perda da coisa
(sentença judicial ou decisão administrativa) se dá o nome de evicção.

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Também será caso de evicção quando ocorrer perda da coisa por decisão administrativa e o STJ já vem decidindo dessa
forma há anos.

O STJ reconheceu como caracterização de evicção a inclusão de gravame capaz de impedir a transferência livre e
desembaraçada de veículo objeto de negócio jurídico de compra e venda. (REsp 1.713.096 – SP)

“A evicção, portanto, não se estabelece com a ‘perda da coisa’ em si, como se lê ordinariamente, mas com a privação de
um direito que incide sobre a coisa.”

No caso, o alienante era o João, que vendeu o carro para a Mônica (adquirente evicta), que vem a perder o carro para
Manoel (o terceiro evictor). O evicto se voltará contra o alienante, por intermédio daquela modalidade de intervenção de
terceiros chamada de denunciação da lide.

⮚ A denunciação da lide é obrigatória?

✔ Para o STJ: não. (REsp 1.332.112 – GO). Pode ser ajuizada ação autônoma.
✔ Enunciado 434, CJF: “A ausência de denunciação da lide ao alienante, na evicção, não impede o exercício de
pretensão reparatória por meio de via autônoma.”
✔ CPC/15, art. 125, §1º: “O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for
indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida.”

• Art. 456, CC – Denunciação por saltos ou per saltum (o evicto, havendo cadeia de alienações, poderia saltar os
alienantes e se voltar contra o primeiro) – revogado pelo CPC/15

Aquisição em hasta pública – porque aquela hasta pública sequer deveria ter acontecido. O CC não fala, nesse caso, contra
quem irá se reclamar e isso é uma discussão para o Processo Civil. A reclamação tem cabimento apenas nos contratos
onerosos e jamais nos contratos gratuitos, sem exceção, em princípio.

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Art. 447: “Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se
tenha realizado em hasta pública.”

O que o evicto poderá exigir?

• Evicto de boa-fé: o valor pago de volta + indenização


• Evicto de má-fé: art. 457, CC

Art. 457. “Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa.”

• Cláusula de reforço, diminuição ou exclusão

Naquele contrato que Mônica fez com João da compra de um carro, poderia ter se colocado uma cláusula que reforçasse
a responsabilidade do alienante em caso de evicção (bom para o evicto), mas poderia haver o contrário – uma cláusula
de diminuição da responsabilidade do alienante ou até mesmo uma cláusula que exclua a responsabilidade do alienante.

Mesmo nas cláusulas de exclusão da responsabilidade do alienante, o evicto pode exigir o valor pago de volta. O que não
se pode cobrar é a indenização.

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É possível o alienante afastar a indenização e até mesmo o dever de devolver o valor pago pelo evicto se, além da cláusula
de exclusão, naquele contrato houver uma cláusula em que o adquirente assume o risco da evicção.

Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.

Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o
preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.

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