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Karl Popper Thomas Kuhn

Não

Mudança de paradigmas que são


descontínuos e incomparáveis
entre si – incomensurabilidade.
Fase Normal – manutenção do
paradigma atual, aperfeiçoar e
encontrar erros (anomalias) –
ciência normal.
Sim
Fase crítica – o acumulamento
das anomalias é tratado – ciência
Existe Existe uma aproximação da
revolucionária, existem 3
progresso verdade sem nunca a
hipóteses (1. A anomalia é
na ciência? alcançarmos. O motor do
resolvida e acomodada no
progresso na ciência é o erro e as
paradigma atual; 2. A anomalia é
conjeturas.
esquecida e deixada para as
próximas gerações resolverem; 3.
Surge um novo paradigma
candidato.)
Fase revolucionária – disputa
entre dois paradigmas e
restruturação na comunidade
científica – revolução científica.

Sim
Não
Uma teoria deve procurar servir
A ciência é de forma mais próxima a verdade. A adesão a um paradigma
objetiva? Assim na mudança de teorias envolve fatores objetivos, mas
optamos por teorias também subjetivos e pode ser
objetivamente mais próximas da vista como um ato de fé.
verdade.

Objeções Sobrevalorização do erro e


desprezo de previsões bem- Relativismo –
sucedidas. a incomensurabilidade de Kuhn
impede a consideração de uma
A teoria de Popper não se verifica aproximação à verdade.
no passado da ciência, é
historicamente incorreta. Irracionalismo – Kuhn usa a
psicologia e a subjetividade para
explicar a adesão a um paradigma
e parece cair num raciocínio
irracional.
A filosofia da ciência trata principalmente dois temas referentes a duas
questões nucleares: Existe progresso na ciência? A ciência/prática científica é objetiva?
Surgem então dois filósofos com visões opostas em relação a ambos os temas – Karl
Popper e Thomas Kuhn.
A perspetiva de Karl Popper em relação a estas questões é positiva. Começa por
nos explicar que a ciência é evolutiva e que existe progresso notável na mesma. Ao
encontrar erros numa teoria – conjeturas – que a tornam falsa, essa teoria é
abandonada e é formada uma nova teoria mais próxima da verdade. Assim, o erro é o
motor do progresso na ciência e promove uma aproximação da verdade, mas sem
nunca a alcançar.
Em relação à objetividade Popper justifica que a ciência é objetiva por se poder
definir a prática científica como uma busca constante por algo cada vez mais próximo
da verdade. Deste modo, toda a prática científica tem de ser objetiva de modo a
conseguirmos alcançar esta aproximação à verdade.
No entanto o ponto de vista Popperiano levanta algumas questões não
respondidas/objeções. Uma delas – que a meu ver pode ser aplicada também ao
método científico por conjeturas formulado pelo mesmo autor – é que o erro é
sobrevalorizado. E por mais os casos bem-sucedidos são desprezados. Ou seja, basta
um erro para derrubar uma teoria inteira, mas vários casos favoráveis não são
suficientes para a confirmar ou tornar válida. A outra crítica explica que a teoria de
Popper não é historicamente correta, isto é, considerando o passado da ciência esta
teoria não faz sentido. Por fim considero que uma crítica não referida pode ser a
questão de Popper considerar possível fazer ciência de forma imparcial. Parece-me que
ao atribuir um caracter sumamente objetivo à ciência estaríamos a incutir uma
imparcialidade na prática científica, seria impossível sermos apenas objetivos sem que
sejamos imparciais e parece impossível sermos imparciais na prática científica visto que
estamos sujeitos a muitas condicionantes exteriores que quer queiramos que não nos
afetam a forma de raciocinar.
Por outro lado, Thomas Kuhn responde negativamente às duas questões em
tratamento. Ao longo da sua argumentação Kuhn refere o conceito de paradigma, acho
por isso relevante definir este conceito antes de analisar a sua teoria. Paradigma é o
nome dado a um modelo ou sistema de trabalho que reúne várias ideologias e teorias
e nos condiciona a visão do mundo – quase como uma lente que aplicamos à ciência.
Kuhn defende ainda que o paradigma é o critério de demarcação, ou seja, um
paradigma distingue a ciência da não-ciência.
Para defender que a ciência é um processo descontínuo onde não existe
progresso Kuhn define 3 fases: Fase normal; Fase crítica e Fase revolucionária. A fase
normal é a fase mais comum da ciência, a mais longa, onde maioria dos cientistas
passam a sua vida. Serve para aperfeiçoar o paradigma, limar arestas, abranger mais
temas – no fundo é uma manutenção do paradigma. A esta fase associa-se o conceito
de ciência normal que é mesmo isto que expliquei, por exemplo os cientistas que
trabalham hoje na área da evolução de espécies, analisando fósseis e dados
paleontológicos de modo a reconstruir a história da evolução das espécies, estão a
praticar ciência normal contribuindo para o paradigma atual – o evolucionismo. No
entanto, durante esta fase podem começar a surgir anomalias (erros, casos
desfavoráveis, falhas, questões não respondidas).
Caso as anomalias se comecem a acumular entramos na fase crítica onde se
tenta tratar destas anomalias – ciência revolucionária. Surgem então três hipóteses. A
primeira e mais apetecível é que a anomalia seja resolvida e acomodada no paradigma
retornando à fase normal. A segunda é o esquecimento, a anomalia é posta de parte e
reservada par as seguintes gerações resolverem. Pro fim a terceira hipótese é o
surgimento de um novo paradigma capaz de responder a esta anomalia, mas sempre
diferente do atual. Por exemplo a mudança entre o fixismo e evolucionismo, perante
dados que sugerem uma evolução de espécies ou existência de espécies que não
existem na atualidade é questionado o paradigma atual (fixismo) e surge um candidato
(evolucionismo).
Seguindo a terceira hipótese dá-se a entrada numa fase revolucionária raríssima
na ciência onde no fundo se dá uma revolução científica. Os paradigmas disputam pela
aceitação da comunidade científica e eventualmente há uma restruturação da
comunidade científica perante a adoção de um novo paradigma. Assim Kuhn conclui
que, devido à ciência se basear em trocas de paradigmas incomparáveis, a ciência é
descontinua e incomensurável.
De seguida explica que a ciência jamais poderá ser um processo objetivo uma
vês que a adesão a um paradigma (que é o cerne da ciência) pode ser vista como um
ato de fé resultante de tanto fatores objetivos como fatores subjetivos.
Assim como Popper, Kuhn também é questionado sobre alguns detalhes na sua
teoria e são levantadas duas principais objeções: Relativismo; Irracionalismo. A
primeira (relativismo) explica que a incomensurabilidade de Kuhn nos impede de
aproximar da verdade, e a segunda comenta que ao explicar a adesão a um paradigma
com a psicologia e subjetividade Kuhn parece cair num certo irracionalismo.
Ao estudar estas duas questões olho para a ciência de modo diferente e surgem
me questões que parecem não ter sido respondidas ainda. Reconheço alguma validade
em ambos os autores, mas sinto que nenhum responde de modo válido o suficiente às
questões. Popper parece apresentar uma resposta interessante ao problema do
progresso a ciência encaminhando-nos para uma visão otimista de aproximação da
verdade e Kuhn defende a existência e subjetividade na ciência como a mim me parece
existir, mas apresenta apenas um argumento que me parece fraco.

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