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Psicologia Perinatal
Psicologia Perinatal
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 4
2
7.3 Desenvolvimento infantil e depressão pós-parto ............................ 51
11 BIBLIOGRAFIA ............................................................................... 87
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA PERINATAL
http://redecec.com.br
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institucionais e profundas transformações sócio-históricas, depois da segunda
guerra mundial (NIERI, 2012).
A palavra paliativo é derivada do vocábulo latino pallium, que significa
manto, cobertor, expressando um propósito de proteção contra as intempéries do
caminho. Portanto, Cuidado Paliativo pode ser entendido como Cuidado de
Proteção, dentro de uma visão holística das várias dimensões do ser humano
(FLORIANI; SCHRAMM, 2007 apud NIERI, 2012).
Consequentemente, acima, Gómez (1998) definiram cinco elementos que
compõem as bases terapêuticas em pacientes terminais.
Primeiro, há um cuidado abrangente, ou seja, a consideração de aspectos
físicos e psicológicos, emocionais e sociais e espiritual no contexto do cuidado
contínuo e individualizado (NIERI, 2012).
Segundo o paciente e sua família são definidos como a unidade a ser
tratada. A família é o núcleo fundamental do apoio ao paciente; requer, portanto,
medidas de auxílio específicas e educação (GÓMEZ, 1998 apud NIERI, 2012).
Terceiro, a promoção de autonomia e dignidade do paciente, onde tentase
elaborar junto com ele os objetivos terapêuticos.
O quarto elemento tem a ver com uma concepção terapêutica ativa, que
implica uma ação reabilitadora e ativa na situação terapêutica (NIERI, 2012).
E, finalmente, devemos considerar a importância do meio ambiente, uma
vez que é necessário criar um ambiente de respeito, conforto, apoio e comunicação
adequada, que estará intimamente ligado a atitudes profissionais e familiares
(GÓMEZ, 1998 apud NIERI, 2012).
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É necessário levar em conta que a maternidade é um fenômeno
psicobiológico e também uma crise evolutiva e vital, que reativa os problemas do
passado e aumenta os problemas do presente - afetando principalmente o vínculo
com os outros (NIERI, 2012).
Esta crise evolutiva é atravessada pela mãe com base em sua história
pessoal, sua estrutura personalidade, situação atual, características do bebê e
localização dessa criança no gatilho histórico de sua família (OIBERMAN, 2005
apud NIERI, 2012).
Embora a própria gravidez envolva uma crise normal, como mencionado
acima, tenha em mente que o nascimento de uma criança em risco ou com
deficiência, causa na mãe outra crise circunstancial, isto é, que uma dupla crise
seria provocada: crise de maternidade e crise circunstancial devido à hospitalização
de seu filho na UTI-neonatal (NIERI, 2012).
Essa interseção de crise causa a mães um sentimento de angústia,
ansiedade, ressignificação de problemas anteriores, entre outros. É dizer, que um
bebê na UTI-neonatal, cria nos pais um estado de perda de um bebê saudável.
É importante entender a perspectiva dos pais quando o bebê é internado na
UTI neonatal, pois ocorre uma separação associada a más notícias - às vezes
devastadoras - que afeta o núcleo da família e, por sua vez, os leva a enfrentar
decisões e responsabilidades muitas vezes difíceis e inesperadas (GONZÁLEZ et
al., 2007 apud NIERI, 2012).
Em casos de prematuridade extrema, patologias congênitas complicadas,
sepse ou asfixia grave, a morte pode se tornar inevitável, apesar de todos os
esforços. É muito chocante, é um momento triste, às vezes de desespero, em que
através do manejo adequado dos sintomas do bebê minimizando a dor, tentando
maximizar seu conforto (NIERI, 2012).
Edith Veja, em seu livro "El psicoterapeuta em neonatología” descreve os
diferentes estágios e reações que os pais passam quando recebem as notícias da
hospitalização de seu bebê (NIERI, 2012).
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A primeira reação é de "incerteza” dos pais, ao saberem da situação do bebê
começam a surgir novas perguntas. Nesta fase a comunicação é a coisa mais
importante, os médicos devem classificar os dados, sendo honestos, claros e
consistentes com as informações (NIERI, 2012).
Então, surge o segundo estágio, caracterizado pela "busca de
significados", geralmente os pais experimentam a doença do bebê como um
ataque a si mesmos - lesão narcísica. Além disso, muitas vezes se sentem
culpados ou procuram outras pessoas a quem culpar - como por exemplo: os
médicos, ao destino, a Deus, etc (NIERI, 2012).
Seguido por isso aparece rebelião, negação e isolamento. Depois a
negociação e os rituais; finalmente, os pais aceitam o diagnóstico e seus
tratamentos futuros (NIERI, 2012).
Nessas circunstâncias, a equipe aborda o paciente recém-nascido (RN) e
também os pais; eles são os intermediários da sua comunicação e de suas
necessidades. As informações sobre o diagnóstico e prognóstico devem ser um
processo contínuo progressivo, que inclui as perguntas dos pais, desde o início da
internação até o momento da morte (NIERI, 2012).
Como mencionamos anteriormente, uma das funções do psicólogo perinatal
devem ser o elo entre os pais do bebê e os médicos, a fim de ser capaz de traduzir
e transmitir a linguagem técnica dos médicos (EDITH VEJA, 2006 apud (NIERI,
2012).
Outra função do psicólogo nessa área é de ajudar os pais a aceitarem a
realidade do bebê e que por sua vez, eles podem se conectar com o filho - tocando,
abraçando retirando da incubadora, etc. (NIERI, 2012).
Também é necessário levar em consideração que, em muitos casos, a
melhora do bebê não ocorre rapidamente, é um processo longo, onde é necessário
segurá-lo e acompanhá-lo. Aqui a intervenção do psicólogo é reforçar o vínculo mãe-
pai-bebê, para que este se sinta cuidad (NIERI, 2012)..
A morte de um filho é um evento profundamente doloroso, que afeta toda a
estrutura familiar devido ao que está depositado nela e torna o processo de luto mais
complexo (EDITH VEJA, 2006 apud (NIERI, 2012).
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Além disso, a morte de um recém-nascido afeta a equipe de saúde; é muito
difícil para eles serem testemunhas de uma morte na qual foram feitas tentativas de
lutar de diferentes formas. Isso envolve enfrentar problemas intelectuais, técnicos e
emocionais, onde pensa sobre o que poderia ter feito e como teria sido caso
pudessem evitar essa situação; isso significa que eles devem renunciar à sua
onipotência e aceitar suas limitações (NIERI, 2012).
A equipe médica será afetada emocionalmente, pois é um bebê perdido, é
um espaço emocional que permanece com o vazio da morte do bebê e com a dor
pelo sentimento que acompanha a perda desses pais.
No entanto, a equipe médica deve oferecer um apoio emocional em sentido
integral, não apenas dando informações claras, fechadas e detalhadas; também
deve fornecer companhia e conforto (NIERI, 2012).
Quando o bebê morre, a informação deve ser dada por um profissional que
atendeu o bebê e tem um vínculo mais estreito com os pais, tendo confiança e
empatia. No entanto, é necessário levar em consideração que esses eventos nas
UTI neonatal, devem ser assistidos e acompanhados por um especialista no
gerenciamento de emoções e, principalmente, no luto, já que todos que frequentam
uma unidade intensiva são afetados pela morte (PINZÓN et al., 2007 apud NIERI,
2012).
É necessário que os médicos, antes da morte do bebê, forneçam um local
privado - um quarto ou uma pequena área, onde os pais possam receber seus
grupos familiares, dando origem ao início dos rituais necessários, diante do corpo
da criança a ser transferida para o necrotério. Eles podem acompanhá-los, se
desejarem ou precisarem, bem como também facilitar todos os procedimentos
complexos institucional e extrainstitucional (GONZÁLEZ, LARGUÍA E LOMUTO,
2007 apud NIERI, 2012).
Além disso, é importante se referir a criança por seu nome e aceitar que
seus familiares falem sobre a criança. É uma atitude de respeito e acolhimento que
favorece o início do processo de luto dos pais (NIERI, 2012).
Neste momento, é importante disponibilizar a família os serviços de Saúde
Mental, para que possam consultar. Acontece de muitos pais retornarem - quando
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o choque inicial é superado, para procurar certo médico ou enfermeiro a fim de
cumprimentá-los ou fazer perguntas sobre a morte e / ou patologia da criança
(NIERI, 2012).
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ideia de ser esse período um tempo de grandes transformações psíquicas, de onde
procede uma importante transição existencial (SARMENTO; SETÚBAL, 2003).
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3.2 Próximas consultas
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parto (medo da dor e da morte) e por fim há um aumento das queixas físicas
(SARMENTO & SETÚBAL, 2003).
Assim, neste momento é importante evitar o excesso de tecnicismo, estando
atento também para essas características comuns das diferentes etapas da
gravidez, criando condições para uma escuta acolhedora, continente, onde os
sentimentos bons e ruins possam aparecer. Deve-se observar e respeitar a
diferença de significado da ecografia para a mãe e para o médico. Os médicos
relacionam a ecografia com a embriologia do feto e os pais com as características
e personalidade do filho. Eles necessitam ser guiados e esclarecidos durante o
exame pelo especialista e pelo obstetra. É de extrema importância fornecer
orientações antecipatórias sobre a evolução da gestação e do parto: contrações,
dilatação, perda do tampão mucoso, rompimento da bolsa. Deve, assim, evitar
muitas informações, buscando comunicar orientações simples e claras e analisar o
seu impacto em cada paciente, na sua individualidade. E por último deve preparar
a paciente para os procedimentos médicos do pré-parto para suavizar as vivências
negativas que causam mais impacto (SARMENTO & SETÚBAL, 2003).
3.3 Parto
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Além do medo do ambiente hospitalar que lhe é desconhecido e assustador,
fora do seu contexto habitual. Existem expectativas quanto ao seu desempenho e à
saúde do bebê, no contexto de uma experiência emocionalmente intensa em que
permeia um misto de ansiedade e alegria (SZEJER, 1997; SOIFER, 1977;
MALDONADO, 1981 apud SARMENTO & SETÚBAL, 2003).
É importante (SARMENTO & SETÚBAL, 2003):
- Ter claro que a performance da mulher no parto está intensamente
ligada ao preparo dessa gestante no decorrer do pré-natal, bem como a sua própria
história de vida;
- Saber que o medo do parto sempre vai existir devido à tensão ligada
à imprevisibilidade de todo o processo e que isso repercute, necessariamente, sobre
a paciente e a equipe;
- Evitar recorrer ao exagero de tecnicismo tentando obter o maior
controle da situação;
- Orientar a gestante sobre as técnicas de controle da dor – respiração
e relaxamento;
- Fortalecer a grávida, no decorrer do pré-natal, sobre às suas
capacidades de dar à luz, preparando-a para o “parto possível”, sem valorizar
demasiadamente um tipo de parto, porque a frustração da mãe por não ter tido um
parto “ideal” pode interferir no vínculo mãe-bebê;
- Esclarecer à mulher a respeito de recursos médicos disponíveis para
que se previnam e se evitem situações de dor, desconforto, riscos para a mãe e o
bebê (Ex: analgesia, monitoramento fetal, etc.);
- Ouvir as fantasias da grávida quanto aos vários tipos de parto, e num
linguajar apropriado, dirigi-la sobre todos os procedimentos, especialmente quando
existem deformidades a respeito da realidade (Ex: uso de fórceps);
- Deixar claro os limites quanto às decisões a respeito da indicação de
um tipo de parto ou outro;
- Descrever a sala de parto, encorajando a gestante a visitar o Centro
Obstétrico e, assim, o que era desconhecido e assustador passa a ser conhecido e
manejável;
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- Acolher a vontade do casal de que o marido possa participar do parto
orientando e avaliando essa participação;
- Acolher a criança que nasce: o médico obstetra é o primeiro a receber
o bebê, e que essa acolhida seja revestida de significado afetivo e existencial.
3.4 Puerpério
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3.5 Intercorrências Perda Fetal
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Aborto provocado: é resultante de uma ambivalência que, apesar de
comum a todas as gestações, torna-se extremamente perturbadora, acolchoando a
gravidez de um caráter tão persecutório (por fatores internos e/ou externos), que
fica incapaz de ser levada adiante. Ocorrendo o uso de mecanismos de defesa
intensos para proteção da dor psíquica (ironia, indiferença). Corresponde a uma
decisão dolorosa e difícil e o sentimento de culpa está sempre presente e em vários
casos fica escondido pelo mecanismo de negação. Por isso, o profissional deve
receber a paciente sem juízo moral; reconhecer as angústias e dúvidas existentes
nessa decisão; dirigir a paciente quanto aos métodos seguros de anticoncepção
para impedir novos sofrimentos (SARMENTO & SETÚBAL, 2003).
Aborto terapêutico (em casos de estupro ou risco materno): Sempre existe
conflito nessa decisão, tanto por parte da gestante como do médico, e a permissão
jurídica para a interrupção não necessariamente minimiza o sentimento de culpa.
Ocorre idealização do aborto como solução para todos os conflitos e medo de não
ser capaz de engravidar novamente (SARMENTO & SETÚBAL, 2003).
Neste período é importante explicar sobre os riscos maternos, respeitando
a decisão da mulher de descontinuar ou não a gestação; ter cuidado para não
reforçar apenas um dos aspectos da ambivalência; respeitar suas limitações
pessoais quanto a ser aquele que executa os procedimentos técnicos (SARMENTO
& SETÚBAL, 2003).
Interrupção legal (em casos de fetos com malformações graves
incompatíveis com a vida extrauterina): é frequente que exista uma sensação de
incredulidade diante do diagnóstico. Frequentemente ainda ocorre uma busca
intensa de possibilidades terapêuticas, mágicas ou religiosas para a reversão do
quadro. Existem dificuldades de compreensão das características da malformação
e de como ela afeta o bebê e a sensação de estar sendo castigada, de
ressentimento, raiva e revolta, enfim, uma sensação de fracasso por ter gerado um
bebê imperfeito (SETUBAL et al., 2001 apud SARMENTO & SETÚBAL, 2003).
É importante formular um diagnóstico preciso que evidencie essa condição
e que este seja apresentado com objetividade, tanto à gestante quanto a sua família;
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poder refletir sobre as duas possibilidades, igualmente difíceis – interrupção ou levar
adiante a gestação; não induzir os pais do concepto a qualquer uma das
possibilidades. O casal, diante da inevitabilidade da morte e impossibilidade de
qualquer recurso terapêutico é que deve concluir sobre interromper ou não a
gestação; orientar e esclarecer sobre todos os aspectos legais e sobre o processo
de autorização judicial, orientando a paciente quanto ao processo de indução de
parto: internação, parto, ver ou não o bebê, procedimentos pós-morte. O profissional
deve falar abertamente sobre o ocorrido no pós-parto imediato, avaliando a
condição em que a paciente se encontra e quais foram as repercussões de toda
essa experiência em sua vida; encaminhar para uma avaliação de Genética
Perinatal para o fechamento do diagnóstico e aconselhamento genético e antecipar
o retorno da gestante na Revisão de Parto, visando ter uma noção mais clara de
como está sendo elaborado o luto (SARMENTO & SETÚBAL, 2003).
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3.7 Prematuridade – internação do recém-nascido
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do bebê movimenta nos pais sofrimento, angústia e dor, levando-os a entrar em
contato com sua própria impotência e fragilidade diante das adversidades. Além
disso, a aparelhagem é vista como geradora de sofrimento e dores e não como
possibilidade de promover a adaptação do bebê ao mundo externo, ao meio aéreo.
Os sentimentos depressivos se exacerbam, dadas aos problemas reais, os ajustes
necessários e a mobilização psíquica intensa (SARMENTO & SETÚBAL, 2003).
Isto posto, o profissional deverá estar atento para perceber os mecanismos
psíquicos pelos quais a puérpera está passando, acentuados pela internação do
filho e que causam muita angústia para a família como um todo; para orientar
claramente o casal, estimulando-os a ver o bebê, interagir com ele, tocá-lo, falar
com ele, reconhecendo-o como filho e para acolher as oscilações emocionais do
casal, propiciando melhores condições para formação do vínculo afetivo com o
bebê, que ficou ameaçada pela separação precoce e a internação (SARMENTO &
SETÚBAL, 2003).
Malformação fetal, segundo Setubal et al (2001) apud Sarmento; Setúbal
(2003).
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- Conduzir o casal para interconsulta com a cirurgia pediátrica,
neurologia e outras. Abrigar suas angústias, medos, fragilidades e orientando-os a
compartilhar com a família e os outros filhos sua dor.
- Fornecer orientações claras quanto ao parto: Via de parto: existe a
fantasia de que sempre a cesárea seria a indicação, dado que faria menos mal ao
bebê. Poder desmistificar essa ideia, objetivamente; Visita à Neonatologia: colocar
o casal de forma mais concreta frente ao futuro imediato do bebê, aliviando muitas
das suas ansiedades; de um modo geral, a ideia de um bebê malformado é sempre
pior do que a realidade. Dessa forma, ver o bebê real logo após o nascimento é
sempre um alívio para os pais que passam a poder lidar com a realidade e não com
aquilo que imaginavam, e ficam em condições de valorizar os aspectos saudáveis
do seu bebê. A fragilidade do bebê e suas necessidades de cuidados despertam
nos pais sentimentos de proteção que estavam adormecidos pelo receio de que o
bebê não sobrevivesse.
-
Morte Fetal, segundo Defey (1985) apud Sarmento; Setúbal (2003):
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almeja ver o bebê, animando a ver, pegá-lo, poder se despedir da criança, para que
se possa começar o processo de luto pela morte de alguém muito querido; indicar
um possível acompanhamento psicológico ao decorrer do processo de diagnóstico,
indução, nascimento e pós-parto (SARMENTO & SETÚBAL, 2003).
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da mãe e do bebê, o pré-natal psicológico - que ainda é pouco falado – tem o objetivo
de tornar mínimo o vazio existente nesse período e permitir um atendimento integral
para a mãe-pai-bebê (ARRAIS, 2012).
Assim, com o intuito de avaliar os impactos diferenciais do pré-natal
psicológico como um programa de intervenção benéfico junto a gestantes,
analisouse o estado emocional e a vivência de mulheres que participaram de um
grupo de pré-natal psicológico durante seu ciclo gravídico-puerperal, comparando
essas vivências com aquelas mulheres que, embora também estivessem no mesmo
ciclo, passaram apenas pelos procedimentos do pré-natal tradicional (ARRAIS,
2012).
Segundo Arrais et al. (2012):
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Diante dessa realidade, o pré-natal psicológico se propõe a ser uma
abordagem diferenciada de atendimento, ainda pouco encontrada em serviços de
obstetrícia, de forma a complementar os aspectos discutidos nos cursos de
gestantes e no pré-natal tradicionalmente realizado pelo médico. Trata-se de uma
abordagem terapêutica e preventiva com a finalidade de acompanhar as gestantes
e casais grávidos, oferecer apoio emocional, orientar na elaboração do plano de
parto, e orientar questões mais complexas que podem surgir no período
gravídicopuerperal, as quais serão discutidas adiante (ARRAIS, 2012).
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As reflexões acerca dessas experiências ajudam os pais a desenvolver
confiança em sua própria percepção e sensibilidade, dando-lhes autonomia,
chamando a atenção para a importância do apoio familiar, social e profissional, e
oferecendo apoio emocional e suporte cognitivo imediato (BORTOLETTI, 2007),
além de desmitificar representações sociais da maternidade e da paternidade que
estão fortemente ancorados em estereótipos de gênero (ARRAIS, 2005 apud
ARRAIS, 2012).
As mulheres – e casais - que procuram um acompanhamento especializado
por meio do grupo de pré-natal psicológico são estimuladas a pensar sobre seus
medos em relação à gravidez, ao parto e pós-parto, sobre os mitos em torno da
maternidade, sobre as dificuldades e exigências em abrigar o papel de mãe ou pai
e a tomar uma atitude mais ativa diante das recomendações médicas, a seguir uma
alimentação apropriada, a praticar atividades físicas, a conhecer os principais sinais
do trabalho de parto, os tipos de parto e seus aspectos favoráveis e desfavoráveis,
e a ponderar criticamente determinados procedimentos médicos aconselhados
(tricotomia, episiotomia, enema etc.), bem como aspectos unidos à amamentação e
ao desmame gradual, entre outros (ARRAIS, 2012).
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Conforme o estudo realizado por Piccinini, Silvia, Lopes, Gonçalves e Tudge
(2004), que procurou avaliar e descrever o envolvimento paterno na gravidez, a
participação do pai não se resume a acompanhar a esposa em consultas, mas
determina também um envolvimento emocional que abrange: a participação nas
atividades da gestante, nas preparações para vinda do bebê, dividindo as angústias,
fantasias, idealizações e dúvidas, que são extensões significativas para um bom
desenvolvimento do apego materno ao bebê, da relação pai-bebê e da relação
mãepai-bebê. Nos casos da presença do pai nas consultas pré-natais, na ocasião
do parto, na consulta pós-parto e nos cuidados junto ao bebê e à própria puérpera,
têm sido compreendidas mudanças positivas no envolvimento e na autoimagem da
paternidade, que é evidenciada pela maior participação na educação dos filhos e
melhora na relação familiar (BERTHERAT, 1997 apud ARRAIS, 2012).
Outra importante preocupação refere-se à fase do puerpério, período
relativo aos primeiros dias após o parto, que são de intensa emoção: alívio ao ver o
filho saudável, tranquilidade em ter “sobrevivido” ao parto, desconforto em função
das dores (principalmente nos casos de intervenção cirúrgica), fragilidade (se
conseguirá amamentar ou cuidar bem do bebê – principalmente quando é o primeiro
filho), ansiedade quando não reconhece a necessidade do filho que chora sem
cessar, cansaço físico, necessidade de apoio do marido e/ou família, falta de tempo
e privacidade para se cuidar ou estar com o marido. Esta fase de adaptação exige
muito da mulher/casal, sendo que o tipo de apoio, e os recursos emocionais e
psíquicos envolvidos, podem influenciar positiva ou negativamente na adaptação
(ARRAIS, 2012).
Nessa fase também é relevante nortear a mulher sobre como o bebê é
sensível à maneira como é manejado pela mãe e que o contato físico entre eles
(olhar, acariciar, falar, nutrir), patrocina a consolidação do vínculo, pois ele reage a
todos os estímulos aos quais é revelado. Assim, torna-se principal o trabalho do
psicólogo no acompanhamento das emoções e comportamentos da mãe no
pósparto, admitindo um espaço de confiança no qual ela tenha liberdade de
proclamar como de fato está se percebendo, e permitindo ao profissional reconhecer
e distinguir patologias que podem nascer com constância, tais como o baby blues,
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a depressão pós-parto, e a psicose puerperal. O baby blues (um estado considerado
normal após o parto) é uma forma mais leve dos quadros de depressão, também
conhecida por tristeza materna, que se caracteriza por um estado de
hipersensibilidade, sendo seus sintomas mais comuns: insônia, choro fácil, tristeza,
irritabilidade e falta de energia, que nascem logo após o parto e duram por volta de
duas semanas, desaparecendo espontaneamente sem ocasionar prejuízos à mãe
ou à relação mãe-bebê (ARRAIS, 2005 apud ARRAIS, 2012). Em relação à
depressão pós-parto (cuja duração é maior que o baby blues e pode ter os sintomas
agravados ao longo do tempo), a intervenção psicológica visa compreender as
emoções, sentimentos, fantasias e temores decorrentes desse período de transição
para aliviar as ansiedades presentes (ARRAIS, 2005 apud ARRAIS, 2012). A
psicose puerperal é uma manifestação da depressão pós-parto exacerbada, que se
caracteriza pelo repúdio total ao bebê: a mãe não quer vê-lo, aterroriza-se com ele,
permanece triste, afastada, ausente, sofre de insônia, inapetência, descuida-se da
própria aparência. Muitas vezes, refere-se a alucinações auditivas, ou exprime
ideias delirantes (ARRAIS, 2005 apud ARRAIS, 2012).
Entre os fatores que podem influenciar na experiência do puerpério ainda é
preciso analisar a questão concernente ao tipo de parto desejado pela mãe: para
além de uma simples tarefa de esclarecimento sobre as diferenças entre o parto
normal e a cesariana, o pré-natal psicológico aprecia a elaboração do conceito de
“parto escolhido”, ou seja, a grávida é estimulada a se colocar na posição de
protagonista de sua história gestacional até no momento do parto. Dessa forma, se
supera a dimensão unicamente técnica de uma escolha acerca do tipo de parto, e
dos aspectos fisiológicos da gravidez, conferindo-se importância ao envolvimento
emocional da mãe, que passa a perceber a equipe obstétrica – que inclui o psicólogo
– de forma diferenciada, mais próxima e acolhedora (ARRAIS, 2012).
O intercruzamento desses fatores, desde o bom exercício da paternidade, até a
definição autônoma e empenhada pelo tipo de parto, será essencial para uma
eventual necessidade de recuperação de uma mãe abatida, além de colaborar para
a redução das chances do desenvolvimento da depressão pós-parto (ARRAIS, 2005
apud ARRAIS, 2012). Nesse sentido a construção de uma rede de apoio à mulher
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também no grupo do pré-natal psicológico é um dos aspectos fundamentais para
precaver as ocorrências mórbidas que comumente procedem do fato de que a maior
parte das gestações, embora almejadas, não são planejadas, e que muitas
mulheres se sentem inseguras quanto a conseguirem ser boas mães, gerenciarem
as mudanças na rotina de sua vida pessoal e social, estabelecerem novas
prioridades, interromperem ou adiarem planos profissionais ou acadêmicos,
modificarem o papel social (sua nova identidade de mãe) etc. Ao debater e
aprofundar essas questões junto às grávidas e aos casais grávidos, o grupo de pré-
natal psicológico mostra-se um instrumento apropriado para potencializar a
elaboração de identidades renovadas em relação à futura parentalidade,
beneficiando o amadurecimento emocional perante a perspectiva de um grupo
familiar ampliado, e a compreensão da situação de eventual fragilidade – física e
emocional - da mulher perante os desafios e dificuldades desse “novo mundo” da
maternidade (ARRAIS, 2012).
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Quando os bebês nascem, encontram-se em um ambiente totalmente
estranho e têm como primeiro desafio adaptar-se ao meio extrauterino, utilizando
somente suas habilidades senso-perceptivas. Por outro lado, a figura materna
também se depara com o recém-nascido, e geralmente desempenha o papel de
adaptar-se às demandas do bebê, proporcionando a ele os estímulos necessários
para integrá-lo ao ambiente. Desse modo é dado prosseguimento ao processo de
vinculação iniciado ainda durante a gestação (SILVA & PORTO, 2016).
Essa complicada relação de vinculação vem sendo analisada por distintos
autores, dentre os quais destacamos o teórico John Bowlby. Em sua Teoria do
Apego (BOWLBY, 1984), relata que a sobrevivência individual e da espécie é o
componente básico da constituição do apego, o qual é formado por meio da relação
mãe-bebê. Assim, o recém-nascido reage à atenção do cuidador com particular
importância, consentindo que se desenvolva o vínculo emocional com aquele que
lhe responde com gratificação, estimulação apropriada, proteção e aprovação
(SCORTEGAGNA et al., 2005).
O bebê, ao nascer, é incapaz de sobreviver sozinho e de prover suas
necessidades, por isso, depende de um cuidador adulto e responsivo, que
proporcione os recursos necessários para sua nutrição física e higiene e que forneça
também suporte emocional. Quando isso ocorre com uma figura constante
(frequentemente a mãe ou um cuidador substituto), denominados por Bowlby como
Figuras de Apego, essa relação poderá fornecer à criança um desenvolvimento
biopsicoafetivo seguro e saudável (SANTO & ARAÚJO, 2016).
Bowlby apelidou de sistema de apego as estruturas neuropsicológicas que
transportam a ligação do bebê com seu cuidador. Esse sistema emocional e
comportamental foi definido por ele como inato e instintivo, cria-se num sistema
organizador dos processos de memória do bebê, que o dirige a buscar proximidade
e comunicação com sua mãe ou cuidador (MOTTA, LUCION & MANFRO, 2005).
Winnicott, também um dos autores de renome na discussão sobre o apego,
vem reforçar a perspectiva de Bowlby, ao denominar de vínculo seguro ou vínculo
afetivo satisfatório a relação existente entre mãe- bebê, resultando, na criança, na
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geração de um ego fortalecido em virtude do apoio do ego da mãe. De acordo com
Winnicott, essa criança cedo se torna verdadeiramente ele(a) mesmo(a), sendo
capaz de expressar e lidar com todos os tipos de sentimentos (WINNICOTT, 2011).
Tanto Bowlby quanto Winnicott destacam a importância das primeiras
relações entre a díade para o desenvolvimento do bebê, embora divirjam-se em
distintos aspectos em suas teorias. Para Bowlby, estar vinculado à figura materna é
muito distinto da dependência à mãe, proposta na teoria de Winnicott, embora
ambas tenham como base o vínculo mãe-bebê. Nas primeiras semanas de vida, o
recém-nascido depende da figura materna para sobreviver, apesar disso, ainda não
está apegado a ela. De acordo com a perspectiva de Winnicott, a maior dependência
do neonato acontece no nascimento, diminuindo no decorrer da vida. Já para
Bowlby, o apego não está presente durante o nascimento e inicia ao longo dos
meses, a ser arquitetado e fortalecido (BRUM & SCHERMANN, 2004).
Em relação às etapas de vinculação mãe-bebê, de acordo com Sá (2004),
a primeira inicia-se na gravidez, sendo denominada vinculação prénatal,
caracterizada pelas representações do bebê fantasmático, o qual corresponde às
fantasias infantis de identificação dos próprios pais, além das representações do
bebê imaginário, que aparecem de acordo com os desejos da imaginação parental.
Durante esse período, a vinculação é promovida através do anúncio da gravidez, a
primeira ultrassonografia obstétrica, a audição dos batimentos cardíacos e a
percepção dos movimentos do bebê. Desde a concepção, mães e bebês
compartilham um sistema intrincado de relações, que se organizam e se modificam
por meio do fluxo da evolução e de eventos culturais que estão relacionados ao
desenvolvimento da díade (ZAMBERLAN, 2002).
A segunda fase, definida como vinculação perinatal, caracteriza-se pelos
período de parto e pós-parto imediato, sendo influenciada pelo trabalho de parto e
pelo encontro com o bebê real, o qual é possível ver, tocar e ouvir. Destaca-se que
a vivência positiva do parto pode ser um facilitador da união mãe-bebê (SÁ, 2004).
A última fase é a vinculação pós-natal, estabelecida através da capacidade
da mãe em responder às necessidades do seu filho e do feedback deste ser
satisfatório para ela (SÁ, 2004). O puerpério começa entre uma a duas horas após
32
a saída da placenta e tem seu fim indeterminado, uma vez que enquanto a mulher
amamentar ela vai continuar sofrendo alterações da gestação (BRASIL, 2001). Em
relação às questões psicológicas, o puerpério é o período mais crítico do ciclo
gravídico-puerperal, pois é nesse momento que as fantasias se confrontam com a
realidade e o casal finalmente encontra-se diante da maternidade e da paternidade
(BORTOLETTI, SILVA, & TIRADO, 2007).
Nesse sentido, com a vinda do bebê é comum o aparecimento de muitas
ansiedades e sintomas depressivos. Os “lutos” vividos na transição
gravidezmaternidade podem abarcar a perda do corpo gravídico; o não retorno
rápido do corpo original; a separação mãe/bebê; o bebê deixar de ser idealizado e
passar a ser e visto como um ser real e diferente da mãe; e a postergação das
necessidades próprias em função das necessidades do bebê (SARMENTO &
SETÚBAL, 2003).
Além disso, a alteração emocional provisória que ocorre durante o puerpério
é essencial, na qual existe uma maior fragilidade psíquica, semelhante a do bebê, e
que por certo grau de identificação, permite que as mães se liguem intensamente
ao bebê, adaptando-se ao contato com ele e atendendo às suas necessidades
básicas (SARMENTO & SETÚBAL, 2003).
De acordo com Bowlby (1990), existem quatro diferentes estágios para o
desenvolvimento do apego. O primeiro acontece nos primeiros três meses de vida
do bebê, quando o mesmo passa a evidenciar por meio de comportamentos alguma
diferenciação entre os estímulos sociais e não sociais, com certa limitação de
comportamentos conduzidos especificamente para o cuidador principal. Bowlby
afirma que tais comportamentos ajudam no estabelecimento e manutenção da
aproximação física entre o bebê e sua figura de cuidado, apresentando-se como
aspectos cruciais para o estabelecimento do apego entre os parceiros. Esse
momento é categórico para o desenvolvimento do apego. Dessa forma, os três
primeiros meses após o nascimento são um período importante para a construção
do vínculo para a díade, podendo definir a qualidade da vinculação que irá se
constituir entre mãe-bebê, por conseguinte influenciando no desenvolvimento global
da criança (BORSA & DIAS, 2004).
33
O segundo período se dá entre os três e seis meses de vida do bebê,
caracterizado pela orientação do corpo do bebê e com os comportamentos de apego
mais claramente direcionados para o cuidador principal que passa a ser idealizado
como uma fonte de proteção e segurança.
Já o terceiro período começa-se entre o sétimo mês de vida e os três anos
e meio de idade, caracterizando-se pela ampliação dos comportamentos da criança,
incluindo comportamentos de seguir o seu cuidador nos períodos de separação e
confirmar alegria nos momentos da volta. Tais comportamentos mostram que o
vínculo de apego vem sendo constituído e internalizado pela criança.
O quarto período começa na segunda metade do terceiro ano de vida,
quando a criança passa a desenvolver habilidades cognitivas para compreender as
relações de causa e efeito entre o seu comportamento e o comportamento de sua
figura materna. Neste período, a criança passa a ter um entendimento mais refinado
de sua relação com sua mãe e o apego torna-se mais flexível.
Assim, ao decorrer dos anos iniciais do desenvolvimento psicológico da
criança o ambiente compreende quase que excepcionalmente o relacionamento
entre mãe e filho. O bebê se encontra em desenvolvimento psíquico, sendo assim
necessário que seu ambiente acomode condições adequadas que viabilizem a
experiência de plenitude e sustentação. Por isso, quando a mãe ou cuidador
providencia esses recursos, a criança pode se desenvolver e se separar deles de
forma benéfica, usando o apego mãe-bebê como um meio para a construção de sua
própria identidade (SCALCO & DONELLI, 2014).
Já em relação às dimensões psicológicas relacionadas ao vínculo mãebebê,
duas dimensões essenciais são enfatizadas, segundo Isabella (1994): o impacto da
relação conjugal e o impacto do estilo de vinculação da mãe no seu envolvimento
emocional com o bebê. As mães que possuem relações mais positivas e íntimas,
apresentando maior apoio por parte dos companheiros, frequentemente
desenvolvem um envolvimento mais favorável com o bebê. O apoio emocional é
considerado um elemento essencial, sendo necessário tanto para a saúde física e
emocional da mãe quanto para a relação especial que se constrói entre os pais e
deles com o bebê (KLAUS, KENNEL & KLAUS, 2000).
34
O nascimento de um bebê transforma a vida do casal, e principalmente da
mãe. A resposta da mãe às diferentes mudanças que ocorrem nesse período é
influenciada por aspectos individuais e ambientais, enfatizando-se, o apoio que ela
recebe do seu círculo social mais próximo, especialmente do pai do bebê. A
disponibilidade de apoio social favorece uma maternagem responsiva,
especialmente em situações estressantes, facilitando a construção de um apego
seguro entre mãe-bebê e afetando diretamente a criança por meio do contato dela
com os integrantes da rede de apoio (RAPOPORT & PICCININI, 2006).
O hospital, como cenário contemporâneo da maior parte dos nascimentos,
pode agir como promotor ou não do vínculo mãe-bebê. Porém, nem sempre os
partos acontecem dentro das instituições hospitalares. A assistência oferecida às
mulheres durante o parto e puerpério sofreu modificações no decorrer de nossa
história. No século XV, a maioria das mulheres davam à luz em suas casas,
assistidas por parteiras e acompanhadas por seus familiares. Assim, o binômio mãe-
filho se formava de uma forma mais natural e fisiológica. A partir dos séculos XVI e
XVII, os hospitais transformaram-se em instituições com competência, apesar disso,
apenas a partir do século XX os partos passaram a acontecer, predominantemente,
no ambiente hospitalar, acrescentando normas e rotinas. Nesse momento, a díade
era separada, as mulheres estavam em unidades de puerpério e os bebês eram
isolados em berçários. Já nos anos 40, com o aparecimento de estudos acerca da
saúde emocional do ser humano foi confirmada que essa separação do binômio
gerava receio e insegurança nas mães (PASQUAL, BRACCIALLI & VOLPONI,
2010).
Após a realização de estudos e ações de movimentos sociais de mulheres
que reivindicavam a permanência dos bebês com suas mães após o parto, deu-se
início ao desenvolvimento do alojamento conjunto, com objetivo de humanizar o
nascimento e promover o aleitamento materno (PASQUAL et al. 2010). Diante
desse contexto, o Ministério da Saúde vem fomentando a implementação de
políticas incentivadoras para as mães, como a Política Nacional de Humanização
do Parto (PNHPN) e a Estratégia Rede Cegonha (SANTOS, MELO & CRUZ, 2015).
Sendo assim, fortalecida a criação do alojamento conjunto, o mesmo caracteriza-se
35
como um sistema hospitalar em que o recém-nascido sadio, logo após o
nascimento, permanece ao lado da mãe durante 24 horas por dia até a alta
hospitalar. O alojamento conjunto favorece o relacionamento mãe-bebê,
proporciona satisfação, tranquilidade e confiança pessoal, permitindo que as mães
possam se sentir mais seguras e confiantes. Além disso, o alojamento conjunto, ao
proporcionar o contato direto entre a díade, é considerado um elemento importante
para o êxito da amamentação (PASQUAL et al., 2010).
Nesse contexto, mostra-se importante entender os aspectos iniciais que
ajudam na constituição do vínculo mãe-bebê, ainda dentro do estabelecimento
hospitalar. Tendo em vista a importância dessa relação de troca entre a díade, que
irá influenciar o desenvolvimento da criança no transcorrer de sua vida, torna-se
também importante compreender o estabelecimento desse vínculo durante o
puerpério, por se tratar de um período complicado para o desenvolvimento do
apego.
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36
Dentre os fatores que colaboram com o processo interativo, o papel
cumprido pela depressão pós-parto tem sido abordado por inúmeras investigações
nas últimas décadas, devido às evidências de que o estado depressivo da mãe pode
refletir negativamente no estabelecimento das primeiras interações com o bebê e,
em consequência, no desenvolvimento afetivo, social e cognitivo da criança
(CUMMINGS & DAVIES, 1994; DODGE, 1990; FIELD, 1998; TRONICK &
WEINBERG, 1997 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003).
O exame da literatura demonstra que grande parte dos estudos que versam
sobre a interação bebê-mãe deprimida aborda as implicações da depressão
pósparto para a interação nos primeiros meses após o nascimento da criança,
considerando-se a maior incidência dos quadros depressivos nesse período
(CAMPBELL, COHN & MEYERS, 1995 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003). No
entanto, evidências de que muitas mulheres permanecem com os sintomas por um
período prolongado enquanto outras começam a se sentir deprimidas mais
tardiamente no primeiro ano após o parto apontam para a necessidade da
realização de investigações que abordem o problema em períodos mais avançados
do desenvolvimento do bebê (BROWN, LUMLEY, SMALL & ASTBURY, 1994 apud
SCHWENGBER; PICCININI 2003).
37
falta de energia e motivação, desinteresse sexual, transtornos alimentares e do
sono, a sensação de ser incapaz de lidar com novas situações, bem como queixas
psicossomáticas (KLAUS et al., 2000 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003).
Os distúrbios do humor que caracterizam o período pós-parto incluem
também a melancolia da maternidade (baby blues) e as psicoses puerperais
(SOUZA, BURTET, & BUSNELLO, 1997 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003).
O primeiro quadro, que se caracteriza por um distúrbio de labilidade transitória de
humor, atinge cerca de 60% das novas mães entre o terceiro e o quinto dia após o
parto, porém geralmente tem remissão espontânea. Já as psicoses puerperais
apresentam sintomas acentuados, os quais frequentemente requerem tratamento
intensivo e, por vezes, hospitalização. A incidência desse quadro, de acordo com os
autores, é de apenas dois a quatro casos em cada mil partos, ocorrendo entre as
duas primeiras semanas após o parto (SCHWENGBER; PICCININI 2003).
Alguns autores indicam que, por vezes, os sintomas da depressão pósparto,
podem iniciar em determinado momento no primeiro ano de vida do bebê e não
essencialmente nas primeiras semanas após o seu nascimento (BECK, 1991;
BROWN et al., 1994; KLAUS et al., 2000; MURRAY, COX, CHAPMAN, & JONES,
1995 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003). Para esses autores, ainda que o
quadro evidencie características específicas nas semanas que se seguem ao
nascimento da criança, similaridades em relação à incidência, prevalência,
características clínicas e fatores associados sugerem pouca distinção entre as
depressões que acometem mães de crianças pequenas, independentemente de
suas idades (BEEGHLY, WEINBERG, OLSON, KERNAN, RILEY, & TRONICK,
2002; COOPER, CAMPBELL, DAY, KENNERLEY, & BOND, 1988; COX, MURRAY,
& CHAPMAN, 1993 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003).).
A vulnerabilidade da mulher ao desenvolvimento ou agravamento da
depressão depois do nascimento de um filho tem sido enfatizada em diversos
estudos (HOPKINS, MARCUS, & CAMPBELL, 1984; O'HARA, NEUNABER, &
ZEKOSKI, 1984 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003). De acordo com a
literatura, existem poucos destaques de que a presença da depressão pós-parto
esteja conexa exclusivamente a mecanismos biológicos, como, por exemplo, a uma
38
redução nos níveis hormonais, o que a elucidaria como resultado de alterações
metabólicas (CARNES, 1983 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003). Nesse
sentido, alguns autores enfatizam que uma combinação de fatores biológicos,
obstétricos, sociais e psicológicos pode significar risco para a depressão pós-parto
(COOPER & MURRAY, 1995; READING & REYNOLDS, 2001 apud
SCHWENGBER; PICCININI 2003). De fato, uma série de estudos tem evidenciado
uma associação entre a ocorrência da depressão pósparto e o pouco suporte
oferecido pelo parceiro ou por outras pessoas com quem a mãe mantém
relacionamento (BECK, 2002; BECK, REYNOLDS, & RUTOWSKY, 1992; BROWN
et al., 1994; DEAL & HOLT, 1998; KUMAR & ROBSON, 1984; PFOST, STEVENS,
& LUM, 1990; ROMITO, SAUREL-CUBIZOLLES, & LELONG, 1999 apud
SCHWENGBER; PICCININI 2003), o não planejamento da gestação, o nascimento
prematuro e a morte do bebê (KUMAR & ROBSON, 1984 apud SCHWENGBER;
PICCININI 2003), a dificuldade em amamentar (WARNER, APPLEBY, WHITTON,
& FARAGHER, 1996 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003), e a dificuldades no
parto (BROWN et al., 1994 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003). Além disso,
alguns estudos mostram uma associação entre a depressão da mãe e eventos de
vida estressantes, como: problemas de saúde da criança (ROMITO et al., 1999 apud
SCHWENGBER; PICCININI 2003); dificuldades relacionadas ao retorno ao trabalho
(HOCK & DEMEIS, 1990; MURRAY et al., 1995 apud SCHWENGBER; PICCININI
2003); e adversidades socioeconômicas (SEGUIN, POTVIN, ST DENIS, &
LOISELLE, 1999 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003).
Variáveis sócio-demográficas, como idade, nível educacional e estado civil
da mãe não têm apresentado uma associação consistente com a ocorrência da
depressão pós-parto (ROMITO et al., 1999 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003).
Contudo, entre esses fatores o estado civil tem aparecido em alguns estudos como
mais associado a esse quadro especialmente entre mães solteiras sem apoio social
(PFOST et al., 1990 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003). Em outro estudo que
avaliou a contribuição de fatores sócio-demográficos para a ocorrência da
depressão pós-parto entre adolescentes, Deal e Holt (1998) apud Schwengber;
Piccinini (2003). encontraram que a depressão das mães estava associada com a
39
pouca idade, com a raça negra, estado civil de solteira, baixo nível educacional e
suporte social inadequado. Apoiando esses resultados, Brown e colaboradores
(1994), em uma investigação que avaliou a incidência de depressão e a experiência
da maternidade oito e nove meses após o parto, encontraram que a depressão
materna nesse período estava associada principalmente com a ausência de um
parceiro, com complicações obstétricas e com a insatisfação relacionada aos
cuidados recebidos na maternidade. No entanto, nesse estudo, a idade da mãe, seu
nível educacional e renda familiar não estiveram associados com a ocorrência de
depressão (SCHWENGBER; PICCININI 2003 apud SCHWENGBER; PICCININI
2003).
Além dos fatores destacados acima, algumas pesquisas mostraram que
história prévia de doença psiquiátrica ou problema psicológico prévio da mãe,
abrangendo a melancolia da maternidade também predisseram o episódio posterior
de depressão pós-parto (BECK et al., 1992; CUTRONA & TROUTMAN, 1986;
KLAUS et al., 2000 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003). Apoiando esse ponto
de vista, Klaus e colaboradores (2000) apud Schwengber; Piccinini (2003),
afirmaram que a ocorrência de história anterior pessoal ou familiar de depressão
aumenta a possibilidade da depressão pós-parto, sem desconsiderarem a seriedade
da contribuição de fatores psicossociais contemporâneos. Cramer e Palácio-Espasa
(1993) apud Schwengber; Piccinini (2003), no entanto, defenderam que o encontro
mãe-bebê pode levar a uma patologia específica, determinada mais pelas
vicissitudes da interação do que por uma patologia preexistente da mãe.
Alguns autores ressaltaram o caráter conflituoso da experiência da
maternidade como um fator de risco para a ocorrência de distúrbios mentais após o
nascimento de um bebê (MALDONADO, 1990; SOIFER, 1980 apud
SCHWENGBER; PICCININI 2003). Nesse sentido, conceberam que tais distúrbios
podem ter origem no conflito da mulher em assumir o papel materno, o que tornaria
necessário um redimensionamento da própria identidade. Da mesma forma, Stern
(1997) apud Schwengber; Piccinini (2003). afirmou que, com a chegada do bebê, a
nova mãe percebe-se diante de uma reelaboração de esquemas a respeito de si
mesma, os quais englobam todos os aspectos do seu ser. A reavaliação de sua
40
identidade, sob essa ótica, pode ser acompanhada de um sentimento de perda
subjacente ao sentimento de ganhos com a maternidade, o qual pode estar
relacionado à presença de sintomas depressivos (SCHWENGBER; PICCININI
2003).
Embora a vivência da maternidade de mulheres que exibem sintomas
depressivos após o nascimento do bebê ainda seja raramente explorada, alguns
estudos que investigam o tópico mostram consistentemente que as mães
deprimidas geralmente têm mais dificuldade em exercitar sua maternidade do que
as mães não deprimidas. (DOWNEY & COYNE, 1990; HOCK & DEMEIS, 1990;
LOVEJOY, GRACZYK, O'HARE, & NEUMAN, 2000; MCKIM, CRAMER, STUART,
& O'CONNOR, 1999; RUTTER, 1990 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003).
Algumas dessas pesquisas mostraram que mães deprimidas determinaram-se
como menos competentes, menos unidas emocionalmente às suas crianças, mais
dependentes e isoladas socialmente (MILGRON & MCCLOUD, 1996 apud
SCHWENGBER; PICCININI 2003), descreveram menos confiança e satisfação com
o performance do papel materno do que mães não-deprimidas (ANDERSON,
FLEMING, & STEINER, 1994; BROWN ET AL., 1994; FOWLES, 1996;
PANZARINE, SLATER, & SCHARPS, 1995 apud SCHWENGBER; PICCININI
2003), e tenderam a descrever seus bebês como crianças com temperamento difícil
(BROWN ET AL., 1994; CAMPBELL & MARCUS, 1987; MEBERT, 1991; WHIFFEN,
1990 apud SCHWENGBER; PICCININI 2003).
Alguns autores apontaram para a contribuição do temperamento do bebê
na precipitação da depressão materna, mostrando que, diante de um bebê mais
difícil, as mães perceberam a si mesmas como desempenhando uma maternagem
mais pobre (CUTRONA & TROUTMAN, 1986 apud SCHWENGBER; PICCININI
2003).
Endossando essa concepção, Murray, Stanley, Hooper, King e Fiori-
Cowley (1996) apud Schwengber; Piccinini (2003), ao avaliarem o comportamento
neonatal de bebês de mães primíparas que na gestação foram avaliadas como
tendo risco para o desenvolvimento de depressão após o nascimento do bebê,
encontraram que funcionamento motor pobre e alto nível de irritabilidade dos bebês
41
entre o décimo e o décimo quinto dia após o nascimento estiveram associados ao
início da depressão da mãe dois meses depois do parto. De acordo com os autores,
esses resultados indicam que fatores neonatais podem causar um impacto
significativo no estado mental da mãe. Contudo, ao avaliarem a contribuição do
temperamento do bebê na precipitação da depressão da mãe, Cummings e Davies
(1993) apud Schwengber; Piccinini (2003), chamaram a atenção para a necessidade
da realização de estudos que avaliassem o comportamento neonatal antes da
ocorrência da depressão da mãe. Os autores consideraram que os resultados
encontrados por Cutrona e Troutman deveriam ser interpretados com cautela, tendo
em vista a possibilidade de que os bebês já sofressem o impacto das alterações do
estilo interativo da mãe deprimida, uma vez que estavam com dois meses de idade
no momento da investigação.
http://sociedadeinteramericanadehipnose.com
42
sociais e psicológicos que se inter-relacionam. Ao mesmo tempo, a literatura aponta
também para o caráter conflituoso da experiência da maternidade como um fator de
risco para a depressão da mãe, uma vez que a maternidade provocaria na assunção
de novos papéis e em modificações profundas na identidade da mulher. As
pesquisas indicam também que mães deprimidas tendem a entender a própria
experiência mais negativa do que uma mãe que não está deprimida
(SCHWENGBER; PICCININI 2003).
50
evidenciaram menos expressão afetiva, positiva ou não. Segundo os autores, os
resultados indicam que a exposição da criança a estilos de interação não
apropriados, como ocorre com mães deprimidas, concebe distintos tipos de risco
para o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança. Uma vez avaliados de forma
conjunta, estas pesquisas apontam para vários efeitos da depressão da mãe na
interação com o bebê tanto nos primeiros meses após o parto como em ocasiões
mais avançados do desenvolvimento (HART; JONES; FIELD; LUNDY, 1999 apud
SCHWENGBER; PICCININI, 2003).
https://araujoefazzito.com.br
51
mais amplo, no qual agem elementos interdependentes. Assim, o modelo de
entendimento das implicações da depressão da mãe para o desenvolvimento infantil
sugerido pelos autores ponderou as características maternas, as relações mãe-
criança, o funcionamento do casal e as características da criança. Para os autores,
o impacto da depressão na criança vai depender de como esta afeta o
comportamento, a cognição e as emoções da própria mãe. Nesta perspectiva, a
depressão afeta a criança pela alteração dos modelos de interação mãe-criança ou
pelo aumento da discórdia entre o casal, que tem efeitos negativos no
desenvolvimento infantil. De qualquer modo, a criança não é considerada um
recipiente passivo dos estímulos ambientais, mas, sim, um participante ativo na
formação de suas trajetórias de desenvolvimento e nos efeitos dessas trajetórias.
Cummings e Davies ressaltaram também a importância da transmissão genética no
desenvolvimento de problemas emocionais e comportamentais na criança,
concebendo, no entanto, que outros mecanismos operam igualmente bem neste
sentido: o ambiente e os efeitos da interação. Nessa perspectiva, a transmissão da
psicopatologia dos pais para a criança aconteceria na medida em que a depressão
parental leva a uma desordem na parentalidade e no ambiente familiar, que, por sua
vez, transporta ao funcionamento mal-adaptativo da criança (CUMMINGS; DAVIES
1994 apud SCHWENGBER; PICCININI, 2003).
Ao situar a interação com a mãe como o caminho pelo qual a maioria das
influências do mundo chega ao bebê, Stern (1997) apud Schwengber; Piccinini,
(2003), também concebeu a psicopatologia infantil em termos de problemas que
ocorrem na interação mãebebê. Para o autor, influências patogênicas poderiam
estar associadas a fatores sociais, econômicos e culturais, mas só teriam um
impacto sobre o bebê na medida em que influenciassem a díade mãe-bebê.
Portanto, fatores externos que poderiam afetar a saúde mental posterior da criança
teriam significado apenas quando traduzidos na linguagem interativa. Mazet e
Stoleru (1990) apud Schwengber; Piccinini, (2003), também caracterizaram as
psicopatologias que envolvem recém-nascidos como sendo perturbações
interativas, na medida em que os transtornos do bebê não se encontram
organizados em uma estrutura psicopatológica clara, mas tendem a ser construídos
52
na relação mãe-bebê. Sendo assim, afirmaram que a etiologia das perturbações
pode estar ligada a fatores próprios da criança, à patologia prévia dos pais, ou a
uma combinação de ambos. Da mesma forma, ao defenderem uma abordagem
interdisciplinar das perturbações apresentadas pelo bebê afirmaram que a
psicopatologia do bebê se relaciona à psicopatologia da interação, devendo ser
considerados igualmente na investigação dos sintomas o que se mostra observável
e o cenário fantasmático por trás da manifestação da desordem (BRAZELTON;
CRAMER, 1992 apud SCHWENGBER; PICCININI, 2003).
Algumas pesquisas mostraram uma relação entre o episódio de depressão
pós-parto e relatos sobre problemas de comportamento da criança aos vinte e oito
e trinta e seis meses (LEADBEATER, BISHOP, & RAVER, 1996 apud
SCHWENGBER; PICCININI, 2003) e aos quatro anos de idade (CAPLAN et al.,
1989 apud SCHWENGBER; PICCININI, 2003) entre mães que sustentaram os
sintomas nesse período. Da mesma forma, pesquisas apontam para o impacto da
depressão pósparto no desenvolvimento cognitivo da criança, indicando uma
associação entre distúrbios na qualidade da interação com a mãe deprimida no
primeiro ano de vida do bebê e baixo desenvolvimento cognitivo aos dezoito meses
(MURRAY, FIORICOWLEY, HOOPER, & COOPER, 1996 apud SCHWENGBER;
PICCININI, 2003) e aos quatro anos de idade (HAY & KUMAR, 1995 apud
SCHWENGBER; PICCININI, 2003).
O impacto da depressão pós-parto para a competência social da criança foi
examinado em uma investigação conduzida por Goodman, Brogan, Lynch e Fielding
(1993) apud Schwengber; Piccinini, (2003), a qual evidenciou que crianças de mães
deprimidas foram taxadas como menos populares por seus professores, mas não
apresentaram escores menores de autoconceito, competência no autocontrole ou
nas habilidades em relacionamentos com pares quando comparadas a crianças de
mães sem indicadores de depressão. Evidências empíricas apontam também para
as implicações da depressão pós-parto na qualidade do apego estabelecido entre a
mãe e a criança aos dezoito meses (MURRAY et al., 1996 apud SCHWENGBER;
PICCININI, 2003). Os autores encontraram que mães que estiveram deprimidas
dois meses após o nascimento foram menos sensíveis e atentas aos bebês aos
53
dezoito meses. Além disso, mostraram-se menos afirmativas e mais negativas em
relação ao desenvolvimento dos bebês. Os autores concluíram que a qualidade do
apego era influenciada não só pela depressão materna após o nascimento do bebê,
mas também pelas experiências da mãe sobre o seu próprio nascimento e a
natureza do relacionamento com sua própria mãe.
As pesquisas revisadas são sólidas ao afirmar que a depressão materna
após o nascimento do bebê provoca importantes consequências para o
desenvolvimento infantil, principalmente no que se menciona à ocorrência posterior
de problemas emocionais e de comportamento da criança. Da mesma forma, vários
autores têm ressaltado que a depressão da mãe afeta o bebê ao interferir
negativamente na interação constituída entre a díade (SCHWENGBER; PICCININI,
2003).
55
Apesar disso, é relevante apontar que a presença da depressão em um
determinado período após o nascimento do bebê, por si só, não admite a realização
de um prognóstico conciso a respeito de suas decorrências na qualidade da
interação que se estabelece entre a díade nos meses subsequentes. Nesse sentido,
faz-se imprescindível a concretização de estudos que usem uma abordagem
longitudinal a respeito da depressão pós-parto, a qual leve em conta os vários
fatores que podem colaborar para a sua prorrogação ou remissão. Espera-se que a
presente revisão da literatura possa incitar novas pesquisas e, especialmente, o
desenvolvimento de táticas precoces de intervenção que ponderem as
particularidades dos quadros depressivos observados a partir do nascimento de um
bebê (SCHWENGBER; PICCININI, 2003).
https://br.mundopsicologos.com
56
começo, vida. Entretanto, existem situações em que ocorrem intercorrências no
ciclo gravídico puerperal, o que se contrapõe a essa imagem social da maternidade.
Paradoxalmente, a morte é um evento que ocorre mais frequentemente na
maternidade do que gostaríamos de supor (IACONELLI, 2007 apud MUZA et al.,
2013). Apesar disso, poucos são os estudos que se debruçam sobre esse tema e
orientam como deve ser o manejo de pais que perdem seus bebês no contexto no
qual esperariam ganhá-los (MUZA et al., 2013).
A dificuldade de elaboração do luto decorrente do óbito fetal ou de recém-
nascido, chamado genericamente por Iaconelli (2007) apud Muza et al. (2013) de
luto perinatal, é vivenciada pela sociedade como algo que deve ser evitado. Opta-
se pela negação e racionalização, sem o contato com a angústia. Assim, as reações
das pessoas à notícia da perda de um bebê são sentidas e interpretadas pelos pais
como, no mínimo, desconcertantes (MUZA, et al., 2013).
A morte de um filho antes ou logo depois do nascimento rompe com a ordem
natural da vida, assim como interrompe os sonhos, as esperanças, as expectativas
e as esperas existenciais que normalmente são depositados na criança que está
por vir. Nas palavras de Torloni (2007, p. 297) apud Muza et al. (2013, p. 35), “A
morte de um feto é a morte de um sonho”.
Além de Freud (1976) e Kübler-Ross (1998) apud Muza et al. (2013),
analisar um crescente número de pesquisas (GESTEIRA, BARBOSA, & ENDO,
2006; KOVÁCS, 2008 apud MUZA et al., 2013) sobre a relação das pessoas com a
morte, focando normalmente os processos de luto. Ainda assim, raros estudos
focam o luto perinatal, por este ser composto por temas interditos e negados.
Destaca-se que o luto perinatal merece uma atenção especial, visto que é uma
perda não plenamente reconhecida, que não é claramente apresentada, e muito
menos socialmente validada (GESTEIRA et al., 2006 apud Muza et al., 2013), pois
existe um pouco da perda desse objeto que não se proporciona à percepção, ou
melhor, parafraseando Freud (1976) apud Muza et al. (2013), não se enxerga o que
foi perdido no objeto e com o objeto. Notamos que as reações das pessoas ao
receber à notícia da perda de um bebê são sentidas e explicadas pelos pais como,
57
no mínimo, desconcertantes. Segundo Iaconelli (2007, p. 5) apud Muza et al. (2013,
p. 35), as mães por vezes escutam:
“Calma, você é jovem e poderá ter outros filhos”, “Volte para casa e
desmanche o quartinho”, “Foi melhor assim...”, o que pode trazer
repercussões consideráveis àqueles que não tiveram a oportunidade de
viver essa perda de forma mais saudável.
58
filho perdido, enquanto que, para as pessoas que a acompanham, fica difícil
vislumbrar o que ela perde” (IACONELLI, 2007, p. 6 apud MUZA, et al., 2013, p. 36).
Assim sendo, a laboração do luto pela morte de uma criança antes de seu
nascimento tem uma dinâmica diferente, pois “a constituição de vínculos afetivos
fortes e de recordações de convivência mútua fica impossibilitada, uma vez que
lembranças não podem ser chamadas depois e a ausência da criança é
intensamente sentida, como se fosse retirada parte do corpo” (DUARTE & TURATO,
2009, p. 487 apud MUZA et al., 2013, p. 36). Além disso, Duarte e Turato (2009, p.
487 apud MUZA, et. al 2013, p. 36). complementam a ideia garantindo que “essa
ausência de lembranças também pode trazer a sensação de que a criança foi
alguém que não existiu”.
O processo de luto parental é parte integrante do processo de luto familiar,
afetando todos os outros subsistemas e sendo afetados por eles. O luto parental por
si só já é um fator de risco para o desenvolvimento de um luto complicado
(CASELATTO, 2002 apud SILVA, 2009). A ameaça básica que paira sobre a função
parental pode gerar consequências drásticas, como inabilidade provisória ou
permanente para o exercício dessa função ou ainda um isolamento social irrestrito
e de duração indeterminada. Sob a perspectiva parental, não existe uma idade
menos traumática para a morte de um filho, e estudos da área apontam que
sentimentos como frustração, decepção, revolta, tristeza, culpa e choro são comuns
aos pais e familiares (SANTOS, ROSENBURG, & BURALLI, 2004 apud MUZA, et
al., 2013).
De acordo com Bartilotti (2007) apud Muza et al. (2013), não é rara que o
luto perinatal desmantele a compreensão do papel feminino que passa a ser seguido
pelo desprezo, pelo desajustamento e por um intenso sentimento de ineficiência.
Normalmente é um “golpe” para a autoestima da mulher, para sua competência
maternal e para sua feminilidade. Percebe-se que a “criança morta” é também “mãe
morta”, pois a constituição do papel de mãe e a identidade materna que se edifica
vagarosamente com a gravidez são, de forma abrupta, interrompidas. E com isso,
pela impossibilidade de gerar o próprio filho, despontam sentimentos de intenso
59
fracasso, incapacidade e inferioridade (BARTILOTTI, 2007 apud MUZA, et. al.,
2013).
Essa mesma autora analisa uma prática comumente observada que diz
respeito a “poupar” e/ou supervalorizar a fragilidade da mãe em detrimento da
expressão dos sentimentos, igualmente presentes, por parte do pai. Segundo
Maldonado (1986) apud Muza et al (2013),
60
atualidade, ficando os pais duplamente abandonados: pelo bebê e pelos adultos
(MUZA, et. al., 2013).
Assim, diante de toda repercussão que o luto perinatal pode acarretar para
os pais, familiares e até mesmo equipe de saúde, entende-se como fundamental a
presença da psicologia. Muitas vezes a equipe de saúde evidencia seu despreparo
para lidar com a dor e a angústia do outro, principalmente pelos próprios conflitos
que possui na relação com a morte ou com a eminência desta (BARTILOTTI, 2007
apud MUZA, et al., 2013). O psicólogo é o profissional que tem preparação para
viabilizar a expressão do luto (MUZA, et. al., 2013).
‘’A psicologia compreende que para desaparecer a dor psíquica de uma
perda, é preciso que ela seja dita, vivida, sentida, refletida e elaborada, mas jamais
negada’’ (GESTEIRA, et al., 2006, p. 465 apud MUZA et. al., 2013). Contudo, existe
um tempo para todo esse processo se constituir que não pode ser abreviado pela
família e pela equipe de saúde. Na verdade, o tempo deve ser utilizado para
aprimorar a capacidade do enlutado de elaborar a perda do bebê.
Segundo Carvalho e Meyer (2007) apud Muza et el.(2013), um dos papéis
da psicologia diante de intercorrências como o luto perinatal é desafiar a
mentalidade da morte como tema interdito, buscando identificar as vulnerabilidades
e o alto risco dos pais que perderam seus filhos. Cabe à psicologia ajudar os pais e
familiares a se apropriar da situação que estão vivendo, de modo que,
posteriormente, eles consigam falar do fato ocorrido, assimilá-lo e, algum tempo
depois, aceitá-lo. De acordo com Gesteira et al. (2006) apud Muza et al. (2013), os
rituais fúnebres ajudam no processo de luto, pois a recuperação é centrada na
aceitação, e o velório permite que as pessoas se despeçam e que o enlutado seja
considerado como tal (MUZA, et. al., 2013).
Abordagens terapêuticas que permitem amparar os pais no processo de
perda do filho, bem como torná-la mais real, consistem em deixar que os pais visitem
o recém-nascido, toquem-no, caso queiram, e recolham lembranças possíveis
(BARTILOTTI, 2007 apud MUZA, et. al., 2013). Essas estratégias ajudam a saúde
psíquica – que é o objetivo primordial da psicologia hospitalar – de muitos casais e
de seus futuros bebês (MUZA, et. al., 2013).
61
9 GESTAÇÃO DE ALTO RISCO: PARTO PREMATURO, MALFORMAÇÃO
CONGÊNITA E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
http://www.cemefe.com.br
62
implantado pelo Ministério da Saúde, por meio da Declaração de Nascido Vivo (DN),
padronizada nacionalmente e preenchida nos hospitais e em outras instituições de
saúde nos quais ocorrem partos, e nos Cartórios de Registro Civil para os partos
domiciliares (RAMOS; CUMAN, 2009).
O SINASC proporciona uma contribuição significativa de dados sobre a
gestação, o parto e as condições da criança ao nascer, com suas características
mais relevantes. Esses dados são importantes para análises epidemiológicas,
estatísticas, demográficas, e para a definir prioridades das políticas de saúde. As
informações são solidificadas pelos municípios e estados e constituem o
"fechamento" da base nacional (RAMOS; CUMAN, 2009).
O resultado esperado de uma gestação é a obtenção de recém-nascido
(RN) sadio com mínimo trauma para a mãe. Em algumas situações, isso não é
possível, devido a complicações durante a gravidez ou parto, ou com o concepto
(CUNHA et al., 2004). Essas intercorrências no processo do ciclo gravídico
puerperal geram riscos à integridade da saúde tanto da mãe quanto do concepto e
podem evoluir para a morte (RAMOS; CUMAN, 2009).
Tão importante como saber quantos nascem é saber quantos morrem,
principalmente no primeiro ano de vida. Por isso, o coeficiente de mortalidade infantil
é tão significativo, pois comprova uma série de fatores: saberes das mães, nível de
imunização, disponibilidade de serviços de saúde, disponibilidade de renda e
alimentos na família, disponibilidade de água limpa e saneamento básico, entre
outros. Esse coeficiente é estimado a síntese da qualidade de vida e do nível de
desenvolvimento de uma população (MIRANDA & FERRIANI, 2001 apud RAMOS;
CUMAN, 2009).
A prematuridade como causa de mortalidade infantil tem sido estudada em
diferentes países, e os estudos constatam que inúmeras são as causas que levam
um bebê a nascer prematuro, especialmente as relacionadas ao aparelho genital
feminino, alterações placentárias (placenta prévia e descolamento prematuro) e
excesso de líquido amniótico. Outros fatores incluem: a idade materna (maior
incidência em mães mais jovens), infecções maternas, primiparidade (mais
63
frequente no primeiro filho). Porém, na maioria dos casos, a causa é desconhecida
(RAMOS; CUMAN, 2009).
O parto pré-termo é definido como aquele cuja gestação termina entre a 20ª
e a 37ª semanas ou entre 140 e 257 dias após o primeiro dia da última menstruação
(RAMOS et al., 2001). A mortalidade e a morbidade neonatal são maiores entre os
neonatos prematuros, além disso, a carga econômica associada a esses
nascimentos é significativa na medida em que o parto prematuro demanda
assistência e cuidados de maior nível de complexidade, especialmente com relação
ao neonato (KENNER, 2001 apud RAMOS; CUMAN, 2009).
A imaturidade geral leva à disfunção em qualquer órgão ou sistema
corporal, e o neonato prematuro pode também sofrer comprometimento ou
intercorrências no decorrer do seu desenvolvimento (RAMOS; CUMAN, 2009).
O conhecimento das características de um grupo populacional contribui para
a redução dos índices dos indicadores de saúde, principalmente o coeficiente de
mortalidade infantil. Esses dados alicerçam, direcionam e subsidiam as ações
propostas pelos diversos serviços de assistência inclusive a assistência à saúde,
bem como sua forma de execução. Portanto, uma avaliação contínua desses
indicadores de saúde pelas administrações públicas forneceria estratégias para
assistência integral à criança e instrumentos para redução da incidência de
morbimortalidade infantil (RAMOS; CUMAN, 2009).
Guarapuava é um município de médio porte situado na região centro-oeste
do Paraná, cuja economia se fundamenta na agropecuária extensiva. Nos últimos
anos, ocorreu redução das elevadas taxas de mortalidade infantil, um dos seus
principais problemas de saúde. Segundo fonte da Divisão de Epidemiologia da SMS,
o índice de mortalidade infantil no ano de 2005 foi de 22,35. O índice indicado pela
OMS como aceitável é de 15 mortes para cada mil nascidos vivos (RAMOS;
CUMAN, 2009).
Segundo a Divisão de Vigilância Epidemiológica, a principal causa direta de
mortes infantis no município no ano de 2005 foi a prematuridade; e as causas
indiretas foram outros agravos e patologias. Embora obscuras as suas causas, elas,
porém estão sempre vinculadas com os fatores de risco, o que nos faz refletir que
64
estão diretamente relacionadas com o perfil e condições maternas, bem como com
a assistência e cuidados prestados na gestação e parto (RAMOS; CUMAN, 2009).
A principal forma de interferir e precaver agravos ou riscos é exatamente o
saber e o monitoramento desses fatores, bem como das condições de nascimento,
ponderando o estado geral, as condições de saúde da mãe e a assistência
apresentada no processo do nascimento, principal marco do ciclo gravídico-
puerperal (RAMOS; CUMAN, 2009).
A partir da década de 90, a maior visibilidade dos óbitos em recém-nascidos
e os alarmantes índices de mortalidade materna foram responsáveis pela inclusão
das estratégias de organização da atenção à gestante e ao recém-nascido na
agenda de prioridades das políticas de saúde; entretanto, a análise da atenção ao
prematuro em nosso meio revela necessidade de uniformidade na cobertura e
confiabilidade na assistência. O acesso aos serviços de maior complexidade é difícil,
em função da sua oferta insuficiente, o que também é verdadeiro no que se refere
à quantidade e à qualidade de recursos humanos (CARVALHO; GOMES, 2005 apud
RAMOS; CUMAN, 2009).
A prematuridade tem se comprovado no município como um dos principais
problemas de saúde. É um relevante fator que colabora para a alta taxa de
mortalidade infantil, ocasionando danos e sequelas de complexa mensuração aos
recém-nascidos que conseguem superar a ocasião neonatal de risco (RAMOS;
CUMAN, 2009).
Essa sobrevida ocorre devido aos cuidados intensivos e tecnologias
utilizadas, porém a manutenção dessa assistência tem um alto custo financeiro e
depende da disponibilidade de recursos humanos preparados e capacitados para
tal (RAMOS; CUMAN, 2009).
Portanto, conhecer e entender o complexo processo do nascimento e os
fatores que nele interferem, é essencial para a assistência de qualidade eficaz ao
binômio mãe-filho, bem como para otimizar e racionalizar o atendimento
proporcionado em todas as etapas do ciclo reprodutivo, priorizando as ações de
prevenção, recuperação e manutenção da vida. E identificar fatores de risco
65
associados ao ciclo gravídico-puerperal permite direcionar e adotar medidas
preventivas e curativas de forma apropriada à realidade (RAMOS; CUMAN, 2009).
66
Nos hospitais de referência, as malformações congênitas adotam papel
relevante na morbimortalidade. No Rio de Janeiro, de 1999 a julho de 2003, a
malformação congênita foi um dos três diagnósticos fundamentais codificados na
internação em 37% das admissões hospitalares pediátricas. A mortalidade
hospitalar no grupo com malformação correspondeu a 9,8%, avaliada o dobro
daquela do grupo sem malformação (HOROVITZ, 2003 apud CARVALHO et al.,
2006).
Pesquisas sugerem que a incidência geral dos defeitos congênitos na
América Latina não difere expressivamente daquela achada em outras regiões do
mundo. Em média, 5% dos nascidos exibem alguma anomalia do desenvolvimento,
apontada, total ou parcialmente, por fatores genéticos. Acrescentam-se os
distúrbios que se revelam posteriormente, como certas enfermidades
crônicodegenerativas (HOROVITZ; LLERENA; MATTOS, 2005 apud CARVALHO et
al., 2006).
Em face dos avanços da medicina neonatal, o número de recém-nascidos
(RN) que sobrevivem após um nascimento prematuro ou alguma enfermidade e/ou
malformação é cada vez maior. O nascimento de um filho que requer internação e
cuidados específicos leva a mãe a inserir-se em uma “nova realidade”: a
representação de que o bebê é uma criança que apresenta uma série de agravos
de saúde, os quais se traduzem em sério risco de vida (RODRIGUES; JORGE;
MORAIS, 2005 apud CARVALHO et al., 2006).
Em virtude das condições de nascimento, os RNs patológicos são
afastados de suas mães, o que causa a estes períodos de medo, dor, tristeza,
acanhamento e esperanças, situação que desperta atenção especial. No entanto
esses bebês lutam por continuar a viver e suas mães resistem para se adaptar às
consequências psicológicas causadas por uma situação imprevista (OLIVEIRA;
CARDOSO, 2002 apud CARVALHO et al., 2006).
Destarte, a hospitalização é um evento que provoca impactos em várias
dimensões do ser humano, e para garantir uma assistência que atenda a todas as
necessidades deste ser, preservando sua autenticidade, é importante conhecer as
67
experiências de quem vivencia esse fenômeno (RODRIGUES; JORGE; MORAIS,
2005 apud CARVALHO et al., 2006).
Por sua vez, o atendimento apropriado ao RN implica a existência de um
serviço de enfermagem especializado, que atenda ao grau de complexidade da
unidade neonatológica. Assim, o enfermeiro deve detectar as alterações expostas
pelo RN, por meio dos dados adquiridos pelo exame físico e pela observação
durante qualquer ação de enfermagem (CAMARGO; QUIRINO, 2005 apud
CARVALHO et al., 2006). Além do enfermeiro, toda a equipe multiprofissional deve
partilhar com os pais a atenção e as devidas orientações (apud CARVALHO et al.,
2006).
Durante a internação na unidade é reforçada a presença dos pais, pois a
criança deve ser posicionada em uma constelação familiar, e não observada
isoladamente. A família é vista como unidade de saúde ou de doença, por isso é
necessário olhá-la como objeto de cuidado, em um processo de relações e
intervenções que ultrapasse as barreiras do cuidado clínico, incluindo cuidados
especiais, como o de crianças com malformação congênita e seus familiares
(PINHEIRO; VARELA, 2002 apud CARVALHO et al., 2006).
Quando a família encara a doença grave de seu filho, surgem sentimentos
e buscam-se forças por meio de quatro recursos: identificando anormalidades,
buscando recursos, vivenciando a hospitalização, sentindo-se fragilizada e
necessitando e recebendo ajuda (OLIVEIRA; CARDOSO, 2002 apud CARVALHO
et al., 2006).
A contribuição de diversos autores nos revela que a principal meta do
cuidado à criança deve estar sempre focada na família, considerada unidade
primária do cuidado, e que a hospitalização pode ocasionar um enfraquecimento de
vínculo entre paciente/família, principalmente quando o referido paciente é um RN,
apresentando um tipo de malformação congênita (CARVALHO et al., 2006).
No entanto, apesar da ajuda expressiva das pesquisas com enfoque na
família, ainda têm brechas significativas entre a teoria, a pesquisa e a verdadeira
prática (WRIGHT; LEAHEY, 2002 apud apud CARVALHO et al., 2006). Por isso, a
68
abordagem centralizada na família conservar-se como utopia de um ideal e não uma
prática prevalente, mas possível de tornar-se alterada (CARVALHO et al., 2006).
Nesse sentido, a equipe multiprofissional deve estar preparada para
interagir com a família, viabilizando o contato para fortalecimento da tríade mãe-
filho-pai. Para Oliveira e Collet (1999) apud Carbalho et al., 2006, o enfermeiro, que
opta por cuidar de criança, deve buscar a compreensão do fenômeno
relacionamento pais-filhos, solidificando laços entre os pais e a criança, priorizando
a comunicação efetiva. A comunicação é o alvo principal no relacionamento entre
as pessoas, e para isso é imprescindível utilizarmos habilidades que nos tornem
capazes de entender a família quando se encontram com dúvidas e expectativas
(CARVALHO et al., 2006).
https://guiadoestudante.abril.com.br
69
taxas desse tipo de gestação venham decrescendo nos últimos anos, ainda
representam uma grande porcentagem dos nascimentos (COSTA 2019).
O Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC) faz o
levantamento dessas taxas por meio da coleta de dados nas Declarações de
Nascidos Vivos (DNV) sobre o nascimento, a mãe, a realização do pré-natal, entre
outros dados. O Ministério da Saúde publicou os dados do SINASC no site do
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). A
porcentagem de 17,5%, no País, foi obtida ao realizar a busca do número de
nascimentos de filhos de mães adolescentes (10 a 14 anos e 15 a 19 anos de idade),
por Estado/Unidade Federativa [UF], no ano de 2016. Essa porcentagem varia em
cada Estado, sendo o Distrito Federal o que tem menor ocorrência (11,9%), e o Acre
(26,1%) a maior taxa no Brasil. (BRASIL, 2008).
Acompanhe no Quadro 1, a seguir, o número absoluto de nascimentos por
faixa etária da adolescência, o total de nascimentos e a porcentagem que os
nascimentos de filhos de mães adolescentes representam, no total, para cada um
dos estados brasileiros. Observe que as maiores taxas são dos Estados das regiões
Norte e Nordeste; porém, mesmo nas regiões com menores taxas, a gravidez na
adolescência ainda representa um desafio para o SUS, que necessita fortalecer as
ações de prevenção da gravidez na adolescência (COSTA 2019).
70
71
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a gravidez em
adolescentes é uma condição preocupante, pois aumenta de forma significativa as
chances de complicações e os riscos para a mãe, para o feto e, posteriormente,
72
para o nascido vivo. Esses fatores de risco são classificados em três categorias
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019).
▪ prematuridade;
73
▪ baixo peso (menos do que 2.500 g) ou pequeno para a idade
gestacional (PIG);
▪ comprimento menor do que 48 cm;
▪ Apgar inferior a 5;
▪ parto sem assistência médica ou em condições desfavoráveis;
▪ malformações congênitas ou síndromes;
▪ alteração das circunferências cefálica, torácica e abdominal;
▪ dificuldade de sucção (aleitamento materno);
▪ doença por transmissão vertical: aids, sífilis, hepatites B ou C,
toxoplasmose, herpes, zika;
▪ condições sanitárias inadequadas no domicílio;
▪ falta de acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento
(atenção primária à saúde);
▪ falha no esquema de vacinação (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PEDIATRIA, 2019).
74
▪ evasão escolar por parte da adolescente e consequente não
colocação no mercado de trabalho (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA,
2019).
A adolescência corresponde ao período da vida entre 10 e 19 anos de
idade, no qual ocorrem alterações, caracterizadas principalmente por:
▪ crescimento rápido;
▪ surgimento das características sexuais secundárias;
▪ conscientização da sexualidade;
▪ estruturação da personalidade;
▪ adaptação ambiental;
▪ Integração social (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019).
No dia 3 de janeiro de 2019, foi publicada a Lei nº. 13.798 que institui a
Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Atividades especiais,
com informações sobre medidas preventivas e educativas voltadas ao tema devem
ser amplamente realizadas em todo o território nacional na semana que incluir o dia
1 de fevereiro (COSTA 2019).
76
10 PSICOLOGIA APLICADA À REPRODUÇÃO ASSISTIDA/INFERTILIDADE
https://psicoaqui.com.br
82
recebê-los e fornece suporte para eventos traumáticos de infertilidade. Para esses
autores, é importante ouvir o que o casal traz, falar sobre suas histórias de vida,
seus planos, medos, fantasias e expectativas, e enfatizar que o tratamento médico
pode lidar com várias possibilidades. Sua sugestão é que, para todos os pacientes
nos serviços de reprodução humana, pelo menos uma entrevista inicial faça parte
de seu plano de tratamento médico, a fim de proporcionar a primeira oportunidade
de escuta e orientar o falante (paciente ou casal) a escutar; o segundo passo, Se o
resultado da gravidez for negativo, aconselhamento psicológico será fornecido ao
casal (ou paciente), possibilitando a verbalização de frustrações e angústias. A
escuta e a oferta de suporte emocional não têm objetivo de acalmar ou aconselhar
os casais, mas afirmam que a verbalização pode ter efeito no alívio de estresse e
ansiedade, aumentando assim as chances de sucesso de gravidez (AVELAR et al.
1999, 2000 apud CRESSONI-GOMES, 2007).
A primeira forma de intervenção a escuta dos casais, a partir da qual é possível
ajudá-los a elaborar sentimentos desagradáveis que a infertilidade provoca. Os
autores indicam também que uma das tarefas do analista é ajudar homens e
mulheres a renunciar as suas esperanças de ter um filho e aceitar a dura realidade
de que não poderão conceber. Consideram importante que os casais sejam
questionados quanto a seus objetivos de vida, para que possam encontrar
alternativas que favoreçam o bem-estar e a autoestima. Os autores também
sugerem que os casais sejam aconselhados a respeito do momento adequado para
suspender a investigação e o tratamento médico. Esta proposta faz menção a outro
extremo perigoso nestes atendimentos. É o contraponto do trabalho para o sucesso
da gravidez e, neste sentido, toda postura extremista pode ser perigosa
(GUAZZELLI; VAZ, 2000 apud CRESSONI-GOMES, 2007).
Recomenda-se realizar entrevistas em profundidade antes de permitir que
os pacientes recebam medicamentos para melhorar os indicadores de como esses
tratamentos afetarão a vida psicológica dessas mulheres. Eles também sugeriram a
criação de um grupo de psicoterapia, com foco na infertilidade ou psicoterapia breve
individual, que dura cerca de seis meses. Este grupo considera importante a
intervenção na estrutura narcisista da personalidade de mulheres que se submetem
83
continuamente a tratamentos de reprodução assistida, levando-as a avaliar se
devem persistir em suas tentativas em ter o filho idealizado ou se dispõem de outras
opções, como a adoção ou a aceitação de sua infertilidade (LARA et al., 2001a,
2001b, 2001c apud CRESSONI-GOMES, 2007).
Outro grupo de pesquisadores (MOREIRA et al. 2002 apud CRESSONI-
GOMES, 2007). Acreditam que, no atendimento psicológico da infertilidade, seja
necessário o diagnóstico, condições pessoais e necessidades para selecionar o
método de tratamento mais eficaz, sendo necessário um tratamentos psicoterápicos
mais breve. Eles também apontaram que, independentemente de sua abordagem
teórica, o papel dos psicólogos deve ser conscientizar casais inférteis da magnitude
dos problemas que enfrentam no contexto biopsicossocial e tentar conectá-los à
equipe profissional do Centro de Medicina Reprodutiva Integrar juntos. Os autores
indicam como objetivos da psicoterapia breve de orientação dinâmica a superação
de sintomas e de problemas atuais da realidade do paciente infértil, desenvolvendo
modos mais eficazes de enfrentar determinadas situações conflitivas relacionadas
a infertilidade, assim como a recuperação da capacidade de auto- desenvolvimento.
Moreira et al. (2002, 2005a, 2005b) apud Cressoni-Gomes (2007), indicam também
que o psicólogo deve discutir com os casais as decisões a serem tomadas em
relação ao tratamento, ajudando o casal a aceitar o tratamento médico e a aumentar
o sentimento de controle sobre a vida, reduzindo sentimentos de angústia e
ansiedade. O psicólogo deve avaliar o estresse do casal (ou do paciente) em uma
primeira entrevista no início do tratamento médico para fazer encaminhamentos
para aconselhamento ou para apoio psicológico durante e após cada intervenção
terapêutica do tratamento médico (CRESSONI-GOMES, 2007).
As intervenções dos psicólogos devem ser planejadas para reduzir os
sintomas de depressão e o estresse. O aconselhamento psicológico pode variar
dependendo do quadro psicológicas: casais com infertilidade de seis meses a dois
anos devem ser informados a respeito da infertilidade e receber atenção quanto às
necessidades, dúvidas e temores pessoais a respeito da gravidez; quando o tempo
de infertilidade é de dois a cinco anos precisa conversar a respeito de problemas
psicológicos em relação as distintas alternativas terapêuticas do tratamento médico;
84
quando o tempo de infertilidade excede cinco anos necessita lidar com a adaptação
a ideia de não ter filhos ou com a escolha de métodos alternativos, como a adoção,
além da resolução de sintomas depressivos produzidos pela infertilidade (SILVA et
al., 2003 apud CRESSONI-GOMES, 2007).
Para Ribeiro (2004) apud Cressoni-Gomes (2007), o serviço de reprodução
humana com a presença de um profissional de saúde mental, aparentemente
considera que a infertilidade é uma experiência que promove perturbação
significativa na estrutura psíquica. A autora afirma que o psicólogo que faz parte da
equipe pode, além de oferecer atendimento aos pacientes, atuar também como
consultor da equipe, trabalhando sua dinâmica interna e oferecendo apoio e
orientação a seus membros. Quanto ao atendimento aos pacientes, diz que os
atendimentos podem ser pontuais, por não apresentarem um setting específico.
Essa relação analítica sofre, segundo a autora, infiltrações, contaminações, das
complexas relações da equipe médica, da qual o profissional da área de saúde
mental faz parte (RIBEIRO, 2004, p. 87 apud CRESSONI-GOMES, 2007, p. 33). O
resultado é a formação de uma complexa rede transferência, que requer do
profissional: atenção, habilidade e a presença de um supervisor. Para esta autora,
cabe ao psicólogo dar continência às angústias e aos traumas oriundos dos
procedimentos médicos, colaborando com a decisão do casal de quando proceder
ou parar com tais procedimentos (CRESSONI-GOMES, 2007).
Outros estudos (Palacios; Jadresic, 2000; Dominguez, 2002; Faisal- Cury,
2003 apud Cressoni-Gomes, 2007) recomendam que as várias formas de terapia
ou suporte psicológico têm influência nos Índices de sucesso nos procedimentos de
reprodução assistida, privilegiando abordagens que tem por objetivo reduzir níveis
de estresse e ansiedade. (CRESSONI-GOMES, 2007).
Os estudos apresentados, de modo geral, parecem indicar o atendimento
psicológico como um recurso oferecido a pacientes inférteis em sua busca pela
gravidez, seja para aumentar taxas de sucesso, ou para aplacar as dificuldades
emocionais decorrentes do processo. Não parece haver, contudo - mesmo quando
há coincidências de abordagem teóricas - consenso quanto a como proceder
tecnicamente nestes atendimentos. Não há uma clara delimitação
85
teóricometodológica a ser seguida. São indicadas entrevistas, mas não se discute a
técnica. São indicadas psicoterapias breves, mas seus referenciais teórico-técnicos
não são demarcados (CRESSONI-GOMES, 2007).
86
11 BIBLIOGRAFIA
87
RAMOS, H. A. C.; CUMAN, R. K. N. Fatores de risco para prematuridade:
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Aspectos Emocionais da Gravidez, parto e puerpério. Rev. Ciênc. Méd.,
Campinas, 12(3):261-268, jul/set., p. 262 a 268, 2003.
88