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Sumário
Módulo 1 - Introdução a Psicologia Perinatal________________________ 5

O que é a Psicologia Perinatal?____________________________________ 5

Área de atuação do psicólogo perinatal_____________________________ 6

Dados estatísticos relevantes do período perinatal___________________ 8

Módulo 2 - Planejamento familiar________________________________ 10

O que é planejamento familiar?__________________________________ 10

A atuação do psicólogo no planejamento familiar no âmbito da contra-


cepção.________________________________________________________ 10

A família na pós-modernidade___________________________________ 11

Infertilidade e o seu impacto na saúde mental______________________ 13

Reprodução Assistida___________________________________________ 14

Atuação do psicólogo no âmbito da reprodução humana.____________ 16

Módulo 3 - Gravidez____________________________________________ 18

Fatos sobre a gravidez___________________________________________ 18

Um período potencial de crise___________________________________ 19

Primeiro trimestre da gravidez___________________________________ 20

Segundo trimestre da gravidez___________________________________ 21

Terceiro trimestre da gravidez___________________________________ 21

A família grávida_______________________________________________ 22

Gestação de alto risco___________________________________________ 23

Gravidez na adolescência________________________________________ 24

Ansiedade na gravidez__________________________________________ 26

Estresse na gravidez____________________________________________ 27

Depressão na gravidez__________________________________________ 28

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Atuação do psicólogo na gravidez_________________________________ 29

Luto perinatal__________________________________________________ 31

Módulo 4 – Parto_______________________________________________ 34

Parto e suas mudanças ao longo da história________________________ 34

A epidemia de cesáreas _________________________________________ 37

Humanização do parto__________________________________________ 39

Violência obstétrica_____________________________________________ 40

Plano de parto_________________________________________________ 41

O psicólogo na cena de parto____________________________________ 42

Módulo 5 – Puerpério___________________________________________ 44

Puerpério físico x puerpério psicológico___________________________ 44

Baby Blues ou Disforia Puerperal ________________________________ 45

Depressão pós-parto____________________________________________ 46

Psicose puerperal_______________________________________________ 48

Atuação do psicólogo no puerpério_______________________________ 49

Módulo 6 - Sexualidade no período perinatal______________________ 51

Sexualidade na gravidez_________________________________________ 51

Sexualidade no puerpério_______________________________________ 52

Módulo 7 - Os primeiros mil dias (da gestação até os 2 anos do bebê)_ 54

A importância dos primeiros mil dias de vida______________________ 54

Epigenética____________________________________________________ 54

Vínculo materno_______________________________________________ 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS______________________________ 57

Sobre a Autora_________________________________________________ 63

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Módulo 1 - Introdução a Psicologia Perinatal
O que é a Psicologia Perinatal?
A psicologia perinatal é uma área de atuação e produção de conhe-
cimento ainda muito nova no Brasil e em fase de expansão, por esse mo-
tivo ainda é possível encontrar profissionais que utilizam nomenclaturas
diferentes para a mesma função, sendo elas:

- Psicologia Obstétrica;

- Psicologia da Gravidez, Parto e Puerpério;

- Psicologia da Maternidade;

- Psicologia da Parentalidade.

Não existe um consenso ainda sobre o termo correto a ser utiliza-


do, entretanto, o nome Psicologia Perinatal é o que tem sido usado com
mais frequência tanto nos cursos de formação como nas publicações mais
recentes.

No dicionário da língua portuguesa a palavra perinatal significa:


referente a pouco antes ou depois do parto. Já a etimologia da palavra é
a junção dos termos “peri” (em torno de) e “natal” (nascimento).

Portanto, a psicologia perinatal estuda todos os fenômenos psicoló-


gicos que ocorrem em torno do nascimento de um bebê, ou seja, durante
o planejamento familiar, a gravidez, o parto e pós-parto.

Pelo fato de o nome não abranger toda as possibilidades de atuação


do psicólogo, alguns autores acrescentam a palavra Parentalidade (Psico-
logia Perinatal e da Parentalidade) que se refere às práticas utilizadas na
interação entre pais e filhos.

A história da Psicologia Perinatal no Brasil

A psicóloga Maria Tereza Maldonado é a percursora da psicologia


perinatal no Brasil, ao publicar, no final da década de 70, sua tese de mes-
trado intitulada “Psicologia da gravidez, parto e puerpério”, que poste-
riormente é transformada no livro Psicologia da Gravidez que teve a sua
primeira edição publicada em 1976. Conforme novos estudos apareciam
na área, a autora realizou diversas atualizações do livro sendo a mais re-
cente em 2017.

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Na década de 80, a Profª. Ma. Fátima Ferreira Bortoletti começa a
utilizar o termo Psicologia Obstétrica e a realizar os primeiros cursos nes-
sa área para psicólogos. Ela é autora de várias publicações neste tema e do
livro “Psicologia na Prática Obstétrica – Uma abordagem interdisciplinar”
que reúne especialistas de diversas áreas envolvidas no atendimento do
ciclo gravídico puerperal.

No final da década de 90 inicia-se no Brasil uma grande discussão


acerca da humanização do parto e tal movimento leva a psicanalista Profª.
Drª. Vera Iaconelli a criar o Instituto Gerar: escola de pais, que naquele
primeiro momento tinha o objetivo de levar informações referentes à ges-
tação, parto e pós-parto para pais e mães. E ela que ministra os primeiros
cursos de formação livre em Psicologia do ciclo gravídico puerperal no
Brasil e também é a responsável por passar a utilizar e divulgar, desde o
2007, o termo Psicologia Perinatal.

Vale citar ainda a Profª. Drª Alessandra Arrais e a Profª. Drª. Rafa-
ela Schiavo como autoras de diversas publicações de estudos científicos
mais recentes na área perinatalidade e da parentalidade.

Área de atuação do psicólogo perinatal


O campo de atuação do psicólogo perinatal é bem amplo, uma vez
que público alvo pode estar presente em diferentes locais, tais como:

- Clínicas de psicologia

- Clínicas de ginecologia, obstetrícia e de reprodução assistida.

- Unidades Básicas de Saúde

- Hospitais e maternidades

- Empresas

- Escolas

É importante ressaltar que se você é psicólogo e já atua em algum


desses contextos, você já atendeu ou vai atender demandas do período
perinatal: mulheres tentando engravidar, queixas relacionadas a inferti-
lidade, luto perinatal, grávidas com alterações emocionais próprias desse
período, mulheres no puerpério, com transtornos de ansiedade, depres-
são pós parto, entre outras inúmeras possibilidades dentro deste tema.

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O período perinatal é um período potencial de risco, pesqui-
sas apontam que mais de 50% das mulheres tem alguma alteração emo-
cional significativa nessa fase portanto, há uma alta demanda e ao mesmo
tempo uma escassez de profissionais capacitados nesta área de atuação.

A atenção psicológica qualificada nesse período é importante pois


os cuidados com a saúde mental materna podem:

• Evitar o agravamento dos sintomas em mulheres que já apresen-


tavam alterações emocionais significativas anteriormente;

• Diminuir a probabilidade o nascimento prematuro e/ou de baixo


peso do bebê;

• Diminuir a probabilidade de a criança apresentar problemas de


comportamento e transtornos mentais ao longo da vida, inclusive na fase
adulta;

• Fortalecer o vínculo mãe-bebê criando um ambiente saudável


para a família que está se formando e para o desenvolvimento do bebê.

Aprofundar os conhecimentos em psicologia perinatal vai auxiliar o


psicólogo a oferecer um atendimento qualificado no sentido de:

• Acolher e apoiar emocionalmente a mulher e toda a família neste


período de transição;

• Informar e esclarecer dúvidas;

• Promover a saúde mental materna;

• Reduzir o estresse e a ansiedade

• Prevenir a depressão pós-parto;

• Trabalhar medos relacionados a gravidez e ao parto;

• Preparar a mulher para o puerpério;

• Trabalhar as mudanças dos papéis familiares e sociais, entre ou-


tras questões próprias do ciclo gravídico puerperal.

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Dados estatísticos relevantes do período perinatal
Uma pesquisa realizada por Almeida, Nunes, Camey e Schmidt, em
2007, com 712 gestantes de 18 unidades básicas de saúde no sul do Bra-
sil, para determinar a prevalência de prováveis transtornos psiquiátricos
durante a gravidez e os fatores sociodemográficos associados apresentou
os seguintes resultados:

Verificou-se que 41,7% da amostra (297 gestantes) preenchiam cri-


térios para pelo menos um provável diagnóstico psiquiátrico. O transtor-
no depressivo maior foi o mais prevalente (21,6%) seguido pelo transtor-
no de ansiedade generalizada (19,8%). Das 297 gestantes com provável
diagnóstico, 126 (42,4%) apresentavam dois ou mais diagnósticos conco-
mitantes.

Em um estudo longitudinal realizado por Lima, Tsunechiro, Bona-


dio, e Murata, no ano de 2017 com o objetivo de identificar a frequência
de sintomas depressivos no decorrer da gestação e verificar sua associação
com variáveis sociodemográficas, obstétricas e de saúde, utilizou-se uma
amostra de 272 gestantes em 12 unidades de saúde do município de São
Paulo e verificou-se a presença de sintomas depressivos durante todo o
período gestacional em 7% das gestantes, em alguma etapa da gestação
em 38,5% e em nenhuma etapa 54,5%.

Sentir-se ansiosa ou preocupada sem uma boa razão foi o item mais

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frequente entre as gestantes da amostra, mantendo ao longo da gestação
porcentagens acima de 80%. Os fatores associados de proteção (que dimi-
nuem a probabilidade de apresentar sintomas) foram maior escolarida-
de, gestação planejada e continuidade da gestação. Sofrer ou ter sofrido
violência psicológica foi fator de risco (que aumenta a probabilidade de
apresentar sintomas) ao longo da gravidez.

A Pandemia do Covid-19 é sem dúvida nenhuma um fator de risco


para as alterações emocionais maternas. Schiavo e Castro (2020) realiza-
ram recentemente um estudo com o objetivo de avaliar e comparar alte-
rações emocionais em gestantes no terceiro trimestre em momento e não
momento de Covid-19). Participaram da pesquisa 160 gestantes, 80 do
Grupo 1 (época de Covid-19) e 80 no Grupo 2 (época anterior à covid) e
apresentaram os seguintes resultados:

Verificou-se neste estudo que os sintomas de estresse e depressão


em gestantes do Grupo 1 estão mais frequentes quando comparados às
gestantes do Grupo 2. Entretanto, a hipótese de que a ansiedade entre
esses grupos também seria diferente não foi observada nesta amostra.

Os resultados das pesquisas acima demonstram altas taxas de altera-


ções emocionais significativas no período perinatal e evidenciam a impor-
tância da atenção psicológica, com o objetivo de melhorar a qualidade de
vida destas mulheres, e consequentemente dos seus filhos.

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Módulo 2 - Planejamento familiar
O que é planejamento familiar?
A Constituição Federal Brasileira em seu Art. 226 § 7° diz que: fun-
dado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo
ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício
desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições
oficiais ou privadas.

O princípio do planejamento familiar é regulamentado pela Lei


9.263/1996 que assegura a todo cidadão, não só ao casal, o planejamento
familiar de maneira livre, não podendo nem o Estado, nem a sociedade
ou quem quer que seja estabelecer limites ou condições para o seu exer-
cício dentro do âmbito da autonomia privada do indivíduo. A referida
lei considera o planejamento familiar o conjunto de ações de regulação
de fecundidade que garante direitos iguais de constituição, limitação ou
aumento da prole.

O planejamento familiar orienta-se por ações preventivas e educati-


vas e pela garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos e
técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade.

O Brasil apresenta dados alarmantes no que se refere ao planeja-


mento familiar, a baixa escolaridade e as condições sócio econômicas são
fatores de risco e pelo menos 1 em cada 2 mulheres grávidas não pla-
nejou a gestação. Talvez por esse motivo as políticas públicas existentes
hoje estão mais voltadas para a contracepção, que na maioria das vezes se
resume a oferta de camisinhas e pílulas anticoncepcionais e realização de
vasectomias e laqueaduras.

Infelizmente ainda não existe de fato uma educação para a saúde


reprodutiva, um bom planejamento familiar diminuiria as gestações não
planejadas, o número de abortos e consequentemente os problemas de
saúde mental na gestação e no puerpério.

A atuação do psicólogo no planejamento familiar no


âmbito da contracepção.
Ao atuar no planejamento familiar junto a famílias que querem evi-
tar filhos o psicólogo pode realizar atendimento individual, atendimento
conjugal, dinâmicas de grupo, palestras informativas, e as suas principais

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atribuições são:

• Avaliar aspectos emocionais permitindo escolhas adequadas e


conscientes.

• Informar e esclarecer dúvidas sobre os métodos contraceptivos e


os procedimentos cirúrgicos possíveis.

• Promover a compressão das expectativas e motivações para limi-


tação da prole.

• Trabalhar questões relacionadas aos medos, mitos, crenças incor-


retas ou religiosas que pode estar interferindo nas decisões.

• Conhecer a dinâmica e as particularidades da família envolvida.

• Identificar pressões familiares e sociais que podem estar interfe-


rindo nas decisões.

• Realizar avaliação psicológica pré-cirúrgicas (vasectomia e laque-


adura).

A família na pós-modernidade
A instituição familiar vem se modificando ao longo do tempo e o
modelo hierárquico, onde o homem é a autoridade e o provedor e a mu-
lher fica responsável pelos cuidados domésticos e dos filhos deixou de ser
o único formato possível dando lugar para uma extensa gama de possibi-
lidades.

Em 1994 a Organização Mundial de Saúde destacou que o conceito


de família não pode ser limitado a laços de sangue, casamento, parceria
sexual ou adoção. Segundo a OMS qualquer grupo cujas ligações sejam
baseadas na confiança, suporte mútuo e um destino comum, deve ser en-
carado como família.

Para Relvas (1996) a família é uma rede complexa de relações e


emoções na qual se passam sentimentos e comportamentos que sofrem
modificações ao longo do ciclo vital. Não existe um formato de família
modelo ou ideal e sim vários tipos de organização familiar, sendo elas:
família nuclear com e sem filhos biológicos, famílias monoparentais, famí-
lias reconstituídas, famílias alargadas, adotivas e de acolhimento.

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Carnut e Faquim (2017) apresentam as diferenças entre a família
nuclear tradicional e os novos tipos de família na contemporaneidade

Família Nuclear Tradicional Novas alternativas

União legal Solteiros, união consensual

Com filhos Voluntariamente sem filhos

Pai e mãe Pai ou mãe (nunca casados ou separados)

Permanente Divórcio, reconstituição

Homem como provedor primário e autori- Casamento igualitário (incluindo carreira de


dade única ambos os cônjuges e casais que residem em
lugares diferentes)

Exclusividade sexual Relações extramaritais (incluindo casamen-


tos sexualmente abertos, prática de troca de
casais e amizades íntimas)

Heterossexualidade Relações íntimas entre pessoas do mesmo


sexo

Domicílio com dois adultos Domicílio com mais de dois adultos (incluin-
do múltiplos cônjuges, habitação comunal,
famílias extensas, multigeracionais)

Mas por que para trabalhar com questões perinatais o psicólogo


precisa estar ciente dos diversos formatos de família? Pois, a partir do
momento a chegada de um filho pode acontecer dentro de todos estes
contextos e trazer alterações emocionais significativas é preciso conhecer,
entender e respeitar as particularidades de cada família para oferecer
acolhimento e orientação qualificada.

Uma outra característica da família pós moderna é o adiamento


do projeto parental. Na década de 1950 ter filhos era algo esperado por
todas as mulheres, fazia parte do casamento e a maternidade era uma
meta de vida conjugal. A partir da década de 1960 com o surgimento da
pílula anticoncepcional e os avanças da ciência, as famílias sofrem várias
transformações e a procriação passa a ser uma escolha. A mulher começa
exercer novos papéis e a ter outros objetivos de vida além da maternida-
de, como por exemplo, entrar no mercado de trabalho.

Além disso há um aumento significativo na expectativa vida e os

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casais adiam a parentalidade para aproveitar situações de vida ou oportu-
nidade que não seriam viáveis se tivessem filhos. (Ribeiro, 2004)

Na contramão de todas essas mudanças há um relógio biológico


feminino que não acompanha essas decisões uma vez que há um declínio
acentuado da capacidade conceptiva da mulher aos 35 anos, na medida
que a idade avança a qualidade dos óvulos e a reserva ovariana diminuem
significativamente e há um descompasso entre o corpo e o desejo de ter
filhos.

A capacidade reprodutiva não espera. A ânsia por “aproveitar a


vida” antes de ter filhos e/ou o desconhecimento sobre a fertilidade fe-
minina tem feito os casais enfrentarem dificuldade para engravidar e,
portanto, há um aumento na procura por tratamentos de reprodução
assistida.

Infertilidade e o seu impacto na saúde mental


Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-
-se que entre 60 e 80 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentem
dificuldades na concretização do projeto parental, e calcula-se que esse
índice atinja aproximadamente 20% dos casais em idade reprodutiva.

A infertilidade é um evento traumático para a maioria dos casais,


sendo relatada por eles como o evento mais estressante de suas vidas,
muitas vezes não é possível distinguir o que causa mais sofrimento: a au-
sência do filho desejado ou os sentimentos de fracasso, de perda e de
insegurança.

A experiência de infertilidade pode gerar culpa e vergonha, muitas


vezes produzindo um estigma social, que pode acarretar alienação e isola-
mento. Uma acentuada queda na auto-estima, carregada de sentimentos
de inferioridade, é capaz de configurar quadros importantes de depres-
são e de ansiedade elevada, podendo desencadear severas perturbações
nas esferas emocional, da sexualidade e dos relacionamentos conjugais.
(Farinati et al., 2006).

Embora as causas possam ser femininas, masculinas ou de ambos as


respostas emocionais são singulares e estão relacionadas com a história de
vida de cada um dos envolvidos e com o repertório que cada um possui
para lidar com a frustração e com todos os outros aspectos associados ao
diagnóstico, mas alguns comportamentos costumam aparecer com mais

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frequência tais como:

1. A negação (“isto não pode estar acontecendo comigo”)

É uma reação esperada, mas que, assim como em qualquer outro


processo de luto, é considerada nociva quando se prolonga por muito
tempo e impede uma reação no sentido de tomar decisões, procurar aju-
da ou iniciar um tratamento.

2. A sensação de injustiça (“o que eu fiz de errado para merecer


isso”)

É uma tentativa de lidar com essa situação frustrante e é necessário


um período aceitação e de elaboração de novos projetos de vida.

Lidar com a infertilidade requer uma reorganização, individual e


do casal, pode bloquear capacidades, enrijecer o funcionamento psíquico,
empobrecer recursos (Makuch, 2001; Ribeiro, 2004).

Daí a importância de profissionais capacitados e com um olhar vol-


tado para o impacto emocional destas vivências.

Reprodução Assistida
As técnicas de Reprodução Assistida trazem esperança ao desejo de
constituir uma família, mas também podem ser fonte de sofrimento e
frustrações, elas possibilitam, um novo olhar sobre a capacidade de re-
produzir-se, relacionar-se e dar continuidade à cadeia de gerações (Ri-
beiro, 2004),

A presença do psicólogo se torna cada vez mais necessária nas equi-


pes multidisciplinares compostas por médicos, embriologistas, biólogos e
enfermeiras especializadas. Em alguns países já existem leis de obrigato-
riedade de atenção psicológica em todas as clínicas médicas de reprodu-
ção assistida, sendo eles Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia. Embora
não seja obrigatório em outros países, inclusive no Brasil, é recomendado
que um profissional da área de saúde mental faça parte da equipe e isso
vem se tornando uma realidade aos poucos.

Segue abaixo um quadro com as técnicas de reprodução assistida e


suas características:

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Técnica Característica

Inseminação intrauterina (IUI) Introdução de espermatozoides dentro do


útero.

Fertilização in vitro-(FIV) Remoção de óvulos dos ovários, com ferti-


lização no laboratório.

Injeção Intracitoplasmática de Espermato- Indicada em casos de infertilidade masculi-


zóides (ICSI) na, falhas de FIV prévia ou número baixo de
óvulos.

Existem ainda algumas situações especiais como: a doação de esper-


matozoides e de óvulos, a doação de embriões e a gestação de substituição.

As técnicas apesar de possuírem características diferentes tem em


comum protocolos complexos, uso de medicações, injeções diárias, múl-
tiplos exames e ultrassons, procedimentos invasivos e altos custos. Todos
esses fatores contribuem para um alto nível de estresse nos pacientes que
se submetem aos tratamentos, principalmente nas mulheres uma vez que
a maioria dos procedimentos são realizados no corpo dela.

Além disso é comum a presença de questionamentos pessoais, reli-


giosos e éticos tais como:

“Se Deus não me permitiu ter filhos será que devo insistir?”

“Será que é correto gerar um filho com a ajuda de um laboratório?”

“Até que ponto devo interferir num processo que deveria ser natural?”

Nos casos em que há a necessidade de utilizar os recursos de doação


de gametas e gestação de substituição ainda existem conflitos em relação
a possibilidade de constituir uma família com filhos geneticamente não
relacionados aos pais ou só a um deles. É um procedimento emocional-
mente conflitante uma vez que redimensiona o significado de materni-
dade e/ou paternidade e desfaz a ideia de continuar existindo através de
um filho.

Diante do exposto, é evidente que as técnicas de reprodução assisti-


da resultam em determinadas respostas emocionais uma vez que alteram
aspectos culturais e separam a sexualidade, a reprodução e as vias de
acesso a parentalidade.

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Atuação do psicólogo no âmbito da reprodução huma-
na.
Ao atuar no atendimento de pacientes que lidam com a infertilida-
de e buscam tratamentos de reprodução humana o psicólogo precisa:

• Avaliar aspectos emocionais permitindo escolhas adequadas e


conscientes.

• Conhecer a dinâmica e as particularidades da família envolvida.

• Avaliar o estado emocional dos envolvidos (homem, mulher, ca-


sal).

• Conhecer e se familiarizar com as técnicas e procedimentos exis-


tentes.

• Identificar transtornos psicológicos existentes que podem interfe-


rir na aceitação de um diagnóstico e/ou no tratamento.

• Auxiliar na elaboração da ideia de não poder engravidar ou de


gerar um filho de forma “não natural”.

• Auxiliar na elaboração da ideia de ter um filho geneticamente não


relacionado com o casal (ovodoação).

• Trabalhar as questões relacionadas aos medos, fantasias e insegu-


ranças em relação ao tratamento e ao filho.

• Promover a compressão das expectativas e motivações para o tra-


tamento.

• Auxiliar no momento de tomada de decisão sobre interromper as


tentativas ou continuar o tratamento.

• Melhorar o repertório dos envolvidos em lidar com frustrações e


com um possível insucesso no tratamento.

• Ajudar na elaboração do luto.

• Trabalhar questões relacionadas aos mitos, crenças incorretas ou


religiosas que pode estar interferindo nas decisões.

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• Identificar pressões familiares e sociais que podem estar interfe-
rindo nas decisões.

• Reduzir o estresse e a ansiedade.

• Reforçar o vínculo do casal.

• Esgotadas todas as possibilidades ou quando o casal decide parar,


o psicólogo pode oferecer acompanhamento psicológico nos processos de
adoção e pós-adoção.

• Auxiliar no processo de elaboração de uma vida sem filhos, se for


o caso.

Vale ressaltar que todas essas mudanças na sociedade e os frequen-


tes avanços da ciência em relação as técnicas de reprodução assistida são
fenômenos recentes, com poucos estudos nos Brasil e impacto emocional
destas vivências ainda é pouco conhecido.

Segue em anexo (Anexo 1) um guia com os principais tópicos a se-


rem abordados na escuta/entrevista junto a casais inférteis e/ou em trata-
mento de reprodução assistida.

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Módulo 3 - Gravidez
Fatos sobre a gravidez
Conforme a perspectiva de Piaget (1970) somos seres biopsicosso-
ciais, isso significa dizer que a formação de um indivíduo se dá pela com-
binação de aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Para Skinner (1999)
o comportamento humano é produto de 3 tipos de variação e seleção:
filogênese (genética), ontogênese (história de vida) e cultural. Isso quer
dizer que cada indivíduo é único e possui sua própria subjetividade.

Desta forma não existe “a mulher grávida” existe “cada mulher grá-
vida” cada uma dentro de seus contextos e histórias de vida. Existem
inúmeras possibilidades e cenários para a ocorrência de uma gravidez
conforme quadro abaixo:

A GRAVIDEZ PODE SER

Planejada Sem apoio do parceiro

Direta Intermediada
(sexo) (reprodução assistida)

Consentida Não consentida


(violência, furo na camisinha)

Organicamente favorável Organicamente desfavorável (doenças)


(organismo saudável)

Psicologicamente favorável Psicologicamente desfavorável


(em crise ou com transtornos)

Socialmente aceita Não aceita socialmente


(família) (na adolescência, fora do casamento)

Economicamente viável Economicamente inviável

Com apoio familiar Sem apoio familiar

Com apoio do parceiro Sem apoio do parceiro

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Nesse sentido a gravidez pode ser tanto um período feliz, de realiza-
ção de um sonho, de boas experiências, expectativas e simbolismos como
um período de crise, caracterizado por vivências complexas e difíceis.

Um período potencial de crise


O ciclo vital feminino possui 3 períodos potenciais de crise: a puber-
dade, o climatério e o período perinatal (gravidez e pós parto).

Na teoria da crise desenvolvida por Caplan (1964), a crise pode ser


definida como um período temporário de desorganização no funciona-
mento de um sistema aberto, precipitado por circunstâncias que transito-
riamente ultrapassam as capacidades do sistema, para adaptar-se interna
e externamente. É uma reação temporária a eventos traumáticos.

De acordo com Maldonado (1985) a crise é uma encruzilhada no


caminho da saúde mental e a solução encontrada para superá-la pode ser
saudável ou doentia, a crise representa ao mesmo tempo um risco (desor-
ganização, desajustamento) e uma oportunidade (amadurecimento).

Para a autora o termo crise deve ser utilizado para períodos mais
dramáticos e o termo transição existencial para os períodos que, como
as crises, também são passagens de uma situação para a outra, mas que
acontecem de modo mais suave. Assim, toda crise é uma transição, mas
nem toda transição resulta em crise.

A gravidez é uma fase de transição, de mudança nos níveis hormo-


nal, físico, emocional, familiar, social e, portanto, vai desencadear vários
mecanismos de defesa necessários para a adaptação à nova fase. A ma-
neira como essas mudanças são vivenciadas tem relação com a história de
vida da mulher, com a sua personalidade, com a sua rede de apoio, com
o desejo e com o significado da gravidez (Correia, 1995)

Diversos estudos apontam que transtornos mentais tais como, ansie-


dade e depressão resultam em risco aumentado para desfecho negativo
ao feto. A prevalência de depressão no período gestacional é de aproxi-
madamente de 7% a 15% e ansiedade em torno de 20%, esses quadros
não tratados na gestação aumentam o risco de exposição ao tabaco, álcool
e outras drogas, além do risco de desnutrição e a dificuldade de seguir
as orientações médicas do pré-natal o que é associado ao maior risco de
mortalidade neonatal (Costa, Daisy Oliveira et al, 2018).

Vale ressaltar que mulheres com histórico anterior de transtornos


mentais tem mais chance de apresentar os sintomas na gravidez e no pós-

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-parto e a maior parte das mulheres com depressão pós-parto já apresen-
tavam sintomas na gravidez que não foram tratados.

Primeiro trimestre da gravidez


O primeiro trimestre é, em geral, o momento em que a gravidez é
descoberta, independente do desejo e/ou planejamento ao reconhecer
que a concepção ocorreu de fato é comum o sentimento de ambivalência.

Freud define ambivalência como a oscilação entre amor e ódio e


está presente, em maior ou em menor grau, em todas as relações, mas
principalmente nas mais próximas. Para Colman e Colman (1994) a am-
bivalência característica do primeiro trimestre da gravidez se refere a si-
multaneidade de aceitação e de rejeição da gravidez. Para Maldonado
(1985) não existe gravidez totalmente aceita ou totalmente rejeitada. Po-
dem surgir ao mesmo tempo sentimentos como alegria, raiva, amor, apre-
ensão, ansiedade, prazer, medo, insegurança, realização.

No primeiro trimestre as alterações corporais ainda são discretas e é


comum a mulher não se sentir grávida mesmo após confirmação clínica,
entretanto, alguns sintomas podem começar a aparecer e os mais comuns
são:

• Hipersonia: a mulher sente mais vontade de dormir do que o


normal.

• Náuseas e vômitos: é o mais comum neste período, mas há uma


grande amplitude de ocorrência, persistência e severidade.

- Hiperemese gravídica: grau patológico dos vômitos na gravidez,


em alguns casos requer hospitalização e põe em risco a saúde da mulher
e do feto.

• Desejos: vontade compulsiva e intensa por determinado alimento.

• Aversão: repulsa intensa por alimentos que não sentia antes.

• Aumento do apetite: que pode ter como consequência o aumento


de peso exagerado ocasionando complicações na gestação.

• Oscilações de humor: alternar entre momentos de depressão e


euforia sem motivo aparente.

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Os referidos sintomas trazem incômodos e aumentam significati-
vamente os níveis ansiedade, uma mulher não precisa necessariamente
estar rejeitando a gravidez para não gostar de estar grávida.

Vale lembrar que no primeiro trimestre existe uma maior proba-


bilidade de ocorrência de aborto espontâneo em decorrência de proble-
mas no desenvolvimento do feto. O aborto por desejo da mulher também
ocorre geralmente nesse período. Em ambos os casos temos a presença
de um luto perinatal que será abordado em outro módulo desta apostila.

Nesse sentido, o primeiro trimestre corresponde ao período de


aceitação psicológica da gravidez e o início de diversas adaptações físicas
e emocionais que serão necessárias ao longo da gestação.

Segundo trimestre da gravidez


Colman e Colman (1994) denominam o segundo trimestre como a
fase de diferenciação onde o feto que é inicialmente percebido como uma
parte de si, passa a ser visto como um ser autônomo distinto do corpo da
mãe. Essa percepção é importante na formação do vínculo mãe-bebê e na
preparação para a separação que ocorre na ocasião do parto.

O segundo semestre é considerado o mais estável sob o ponto de


vista emocional, a visualização do feto proporcionada pelo ultrassom e a
percepção dos movimentos fetais são os eventos característicos deste perí-
odo e tem papel importante na construção do vínculo entre a família e o
bebê, favorecendo a aceitação da gravidez e ajudando a mãe a personifi-
car o filho (Maldonado, 1985).

Neste período os sintomas ficam mais leves e as alterações no corpo


da mulher estão mais evidentes. Se para algumas mulheres o crescimento
da barriga traz feminilidade e sensação de poder por gerar um filho para
outras pode ser gatilho para alterações emocionais como o medo do cor-
po não voltar ao normal.

Terceiro trimestre da gravidez


O último trimestre é o período de preparação para a separação, é
comum a presença de sentimentos ambivalentes como a vontade de ver o
filho e terminar a gravidez coexistindo com o desejo de continuar grávida

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e adiar as mudanças que ocorrem com a chegada do bebê. Autores como
Maldonado (1985) e Colman e Colman (1994) definem como o período
onde os níveis de ansiedade voltam a aumentar com a proximidade do
parto e da adaptação a nova rotina.

Os temores mais comuns na gravidez surgem nesse período tais


como: medo da dor do parto, medo de morrer no parto, de ficar com os
órgãos dilacerados, de não conseguir amamentar, do leite ser fraco, do
bebê nascer com algum problema. Nesse momento é importante o acesso
a informações que ajudem a desfazer mitos e crenças incorretas dimi-
nuindo medos, fantasias e inseguranças em relação a chegada do bebê.

Para além de toda instabilidade emocional a gravidez é uma opor-


tunidade de desenvolvimento de identidade, de amadurecimento, de au-
toconhecimento, de preparação para o papel de mãe e de fortalecimento
do vínculo mãe-bebê o que torna a atenção psicológica qualificada ainda
mais imprescindível.

A família grávida
Ao atuar na perinatalidade o psicólogo pode oferecer apoio/escuta
não só a mulher grávida, mas a toda família que irá se transformar com a
chegada do bebê, avós, avôs, irmãos mais velhos e principalmente o pai.

Na teoria freudiana o pai era ignorado em um primeiro momento


uma vez que a satisfação do bebê ocorria de forma oral e quem o alimen-
tava era, geralmente, a mãe. O papel do pai seria num período mais tar-
dio da infância, quando ele deveria cortar a relação simbiótica entre mãe
e bebê.

Bowlby (1989) apesar de citar a mãe como a figura mais importan-


te no período de lactação, em toda sua obra ele fala da importância de
ambos os pais estarem disponíveis para responder às necessidades das
crianças para que estas se tornem seres autônomos e independentes. Ele
afirma que cuidar de uma criança não é tarefa de uma pessoa só, os cui-
dados precisam ser complementados por outras pessoas além da figura
materna, frequentemente o pai.

O pai como autoridade, provedor e sem tempo para participar da


criação dos filhos é uma ideia ultrapassada, as visões sobre maternidade
estão mudando, as famílias passaram por muitas transformações e os ho-
mens têm desempenhado um papel mais ativo no cuidado dos filhos.

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Ainda existem poucos estudos acerca das alterações emocionais que
podem ocorrer na figura paterna durante a gravidez e a chegada de um
filho, mas já se sabe que as mudanças físicas e comportamentais sofridas
pela gestante associada as mudanças na rotina da família podem ter di-
ferentes impactos na figura paterna e levá-lo ao desenvolvimento da Sín-
drome de Couvade.

A Síndrome de Couvade é caracterizada pelo conjunto de sintomas


físicos apresentados pelo pai que se iniciam na gestação e desaparecem,
quase que imediatamente, após o parto, e em alguns casos antes do nas-
cimento do bebê. Os principais sintomas são:  náuseas, vômitos, perda de
apetite, dores de cabeça, dores de dentes, dores nas costas, aumento do
peso, desejos por determinados alimentos, indigestão, azia, dores abdo-
minais e dificuldades respiratórias. (Martini, Piccinini e Gonçalves, 2010)

Uma gestação afeta toda a família, desta forma a atenção psicológica


deve se estender a todos os envolvidos. Intervenções que contemplem as
dúvidas, sentimentos e vivências da família, em especial do pai, contri-
buem para a relação conjugal e para o fortalecimento do vínculo com o
bebê.

Gestação de alto risco


A maior parte das gestações vão ocorrer de forma natural e sem
grandes intercorrências uma vez que esta é um fenômeno fisiológico e
corpo de organiza para tal. Entretanto há uma pequena parcela de mu-
lheres que são portadores de alguma doença e/ou desenvolvem algum
problema que aumenta a probabilidade de uma evolução desfavorável da
gravidez, tanto para o feto quanto para a mãe.

De acordo com o Manual Técnico de gestação de alto-risco do Mi-


nistério da Saúde (2010) as gestações de alto-risco podem ser assim ca-
racterizadas por apresentar marcadores e fatores de risco presentes antes
da gestação ou devido condições e complicações que podem aparecer no
transcorrer dela.   Os fatores de risco anteriores à gestação englobam: ca-
racterísticas individuais e condições sociodemográficas desfavoráveis; his-
tória reprodutiva anterior com intercorrências para a mulher ou para o
feto e condições clínicas preexistentes. As possíveis complicações ocorrem
devido: exposição indevida ou acidental de fatores teratogênicos; doença
obstétrica na gravidez atual (diabetes gestacional, óbito fetal, trabalho de
parto prematuro, por exemplo) e intercorrências clínicas como doenças
infectocontagiosas ou doenças clínicas diagnosticadas durante a gravidez

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atual.

Para além de todas as questões emocionais e adaptativas de uma


gravidez sem intercorrências, na gestação de alto risco é preciso lidar com
novas questões tais como: perda da autoestima, sentimento de incompe-
tência, dificuldade de vinculação com o bebê, luto (morte da gravidez
idealizada), medo de morrer, medo de perder o bebê, preocupação com
a nascimento de um bebê com algum problema.

A necessidade de longos períodos hospitalização é comum nesses


casos e pode se tornar mais um fator de estresse e ansiedade uma vez que
traz à tona preocupações como a organização familiar, os cuidados da casa
e a perda do emprego.

O acompanhamento de uma gestante de alto risco tem o objetivo


de minimizar os riscos para mãe e para o bebê e a maior probabilidade de
desfechos desfavoráveis do ponto de vista orgânico exige também gran-
des adaptações emocionais. Nesse sentido, faz-se necessária a atuação de
uma equipe multidisciplinar que inclui especialistas de diversas áreas tais
como enfermagem, nutrição, serviço social e psicologia.

Gravidez na adolescência
A Organização Mundial de Saúde define a adolescência como o sen-
do o período da vida que começa aos 10 anos e termina aos 19 anos com-
pletos. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera
a adolescência, a faixa etária dos 12 até os 18 anos de idade completos,
sendo referência, desde 1990, para criação de leis e programas que asse-
guram os direitos desta população.

É na adolescência, em geral entre os 10 e 14 anos, que acontece a


primeira menstruação da mulher, a menarca. O surgimento da menstru-
ação marca o início da vida fértil portanto, após a menarca qualquer ativi-
dade sexual sem métodos contraceptivos pode resultar em uma gravidez.

O Brasil registra anualmente o nascimento de 300 mil crianças que


são filhos(as) de mães que estão na adolescência. A gravidez na adoles-
cência é considerada pela maioria dos autores uma gestação de alto risco
e também um problema de saúde pública, uma vez que pode acarretar
complicações obstétricas, com repercussões para mãe e para o bebê, bem
como problemas psicossociais e econômicos.

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De acordo com Costa (2011) a gestação nos anos iniciais da vida re-
produtiva está relacionada a fatores de natureza objetiva e subjetiva tais
como o desconhecimento dos métodos contraceptivos, a dificuldade de
acesso do adolescente a tais métodos, a dificuldade das meninas em nego-
ciar o uso do preservativo, ingenuidade, violência, submissão, desejo de
estabelecer uma relação estável como parceiro, forte desejo pela mater-
nidade, com expectativa de mudança social e de obtenção de autonomia
através da maternidade.

Sob o ponto de vista da saúde mental e das práticas educativas não


há diferenças entre mães adolescentes e adultas. Para Dias e Teixeira
(2010) é necessário questionar até que ponto adolescência e gravidez são
experiências que conflitam entre si, o que certamente depende do modo
como se entende a própria adolescência – tanto em termos teóricos quan-
to em termos do que se espera socialmente de um adolescente.

Ainda segundo Dias e Teixeira (2010) alguns estudos demonstram


que a gestação na adolescência pode ser desejada e considerada uma ex-
periência gratificante, apesar dos inúmeros problemas descritos na litera-
tura sobre o tema. Vale ressaltar ainda que a gravidez nesse período pode
representar a busca por reconhecimento e concretização de um projeto
de vida viável para algumas adolescentes, especialmente aquelas de nível
socioeconômico menos favorecido.

Em termos psicológicos um fator de risco que deve levado em con-


sideração é que no caso de uma gestação na adolescência a mulher vi-
vência dois períodos críticos de transição ao mesmo tempo: a gravidez e
a adolescência. São períodos caracterizados por mudanças metabólicas
complexas, estado temporário de equilíbrio instável devido as grandes
mudanças nos papéis sociais, necessidade de novas adaptações, reajusta-
mentos interpessoais e intrapsíquicos e mudança de alguns aspectos da
identidade. (Maldonado, 1985)

Diante do exposto, não podemos considerar a gravidez na adoles-


cência como um fenômeno homogêneo pois pode assumir diferentes con-
tornos dependendo do contexto social, do significado da gestação, do
impacto dessa experiência de vida no desenvolvimento da adolescente.
Cabe ao psicólogo um cuidado ao emitir juízo de valor a respeito do tema
já que apesar de ser um fenômeno com desfechos negativos sob o ponto
de vista da saúde pública ele pode também ter aspectos positivos para a
adolescente.

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Ansiedade na gravidez
A ansiedade é um estado emocional transitório ou, dependendo do
nível, uma condição inerente ao ser humano que faz parte do desenvol-
vimento e pode estar presente em todos os períodos do ciclo vital. Ela é
útil para a sobrevivência e proteção do indivíduo, mas, quando sentida
em alta frequência e intensidade deixa de ser um fator de proteção e pre-
judica a qualidade de vida.

É uma característica biológica que acontece em momentos de medo,


perigo e tensão e só deve ser considerada patológica quando é exagerada,
desproporcional em relação ao estímulo e interfere na qualidade de vida,
no conforto emocional ou no desempenho diário do indivíduo (Castillo
et. al., 2000)

Na 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatísticos de Transtornos


Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, os Transtornos
de Ansiedade incluem transtornos que compartilham características de
medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relaciona-
dos. Os sintomas podem ser divididos em: sintomas subjetivos, referen-
tes à percepção de sensações desconfortáveis como angustia, inquietação,
preocupações excessivas, medo ou pavor; e sintomas físicos referentes às
sensações corporais como aperto no peito, palpitação, falta de ar, náusea,
cólica abdominal, transpiração excessiva, tontura, tremores, calafrios ou
formigamentos.

Em um momento de tantas exigências e adaptações como a gravidez


não é de se admirar que a ansiedade esteja presente, não necessariamen-
te de forma patológica. É descrita como uma das alterações psicológicas
mais comuns na gravidez e de acordo com Schiavo, Rodrigues e Perosa
(2018) altos níveis de ansiedade podem resultar em complicações e inter-
corrências obstétricas como: nascimento prematuro e de baixo peso, me-
nor tempo de aleitamento materno exclusivo, dificuldade na vinculação
mãe-bebê, atrasos no desenvolvimento infantil e maior probabilidade de
a mãe apresentar alterações emocionais significativas no pós parto.

Ainda de acordo com as referidas autoras são considerados fatores


de risco para ansiedade na gravidez a pouca idade materna, ter muitos
filhos, baixa escolaridade, baixa renda, ameaça de abortamento, histórico
de abortamento anterior e violência doméstica. Cabe incluir como fator
de risco estar em processo de tratamento de reprodução assistida.

O simples fato de se imaginar grávida pode causar crises de ansie-


dade em algumas mulheres, o medo exagerado e irracional da gravidez

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e do parto é chamado de tocofobia. A tocofobia é considerada um trans-
torno de ansiedade e seus principais sintomas são: ataques de pânico,
pesadelos, irritabilidade, sentimento de culpa, impaciência, alteração do
sono e do apetite. Ela pode ser dividida em:

• Primária: acontece a qualquer momento da vida, inclusive na ado-


lescência, sempre antes de engravidar e pode estar relacionada a alguma
experiência traumática de alguém próximo, abuso sexual ou até mesmo
assistir vídeos de parto.

• Secundária: acontece quando a mulher já passou por uma gra-


videz e pode estar relacionada a uma experiência anterior, como parto
prematuro, aborto ou violência obstétrica.

Na tocofobia primária, geralmente, se a paciente não conta o que


está sentindo, ela não sabe que tem. Sente apenas um receio de engra-
vidar e, muitas vezes, acaba não tendo filhos por causa disso. Por isso, é
mais comum chegar a um diagnóstico quando se trata da tocofobia secun-
dária. É normal a gestante sentir medo, mas quando esse medo deixa de
ser natural e se transforma em um pavor irracional a fobia é facilmente
diagnosticada e se não tratada pode levar a casos de depressão grave e até
psicose.

Não existe nenhum instrumento específico para avaliar a ansiedade


na gravidez e a utilização de testes psicológicos utilizados para medir an-
siedade podem ter o seu resultado prejudicado uma vez que alguns sin-
tomas avaliados como ansiedade podem ser características esperadas em
uma gravidez. Ao psicólogo cabe fazer uma avaliação subjetiva e encami-
nhar o paciente para o psiquiatra avaliar a ocorrência de um transtorno
e medicar caso necessário.

Estresse na gravidez
Enquanto a ansiedade é uma reação emocional o estresse é o conjun-
to de respostas físicas para reagir frente a algo que o despertou. Quando
o organismo é exposto frequentemente a fatores estressores o corpo passa
a trabalhar com maior gasto de energia e apresenta respostas fisiológicas,
psicológicas e comportamentais para se ajustar às solicitações internas e/
ou externas do organismo. (Rodrigues e Schiavo, 2011)

O estresse, assim como a ansiedade, não é necessariamente negativo


e acontece em várias situações normais do cotidiano, sendo a sua evolução

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dividida em três partes: alerta, resistência e exaustão. (Selye, 1959)

• Fase de alarme: ocorre quando o indivíduo entra em contato com


o agente estressor e é benéfica ao organismo pois prepara o indivíduo
para a ação em situações de urgência.

• Fase de resistência: ocorre quando a fase de alarme persiste e o


organismo utiliza reservas adaptativas para voltar ao seu equilíbrio. O or-
ganismo pode se adaptar ao problema ou eliminá-lo.

• Fase de exaustão: ocorre quando o organismo se encontra esgo-


tado pelo excesso de atividades e pelo alto consumo de energia gasto na
tentativa de buscar o equilíbrio.

De acordo com Rodrigues e Schiavo (2011) mais de 75% das ges-


tantes apresentam sinais significativos de stress em algum nível. Gestantes
expostas por longo prazo a eventos estressores são fortes candidatas a
apresentar riscos à sua saúde e a de seus descendentes. Entre as consequ-
ências, o feto pode responder ao stress materno com predisposição a do-
enças mentais, alergias e asma. Estudos têm também associado a presen-
ça de stress na gestação a prejuízos ao desenvolvimento infantil. Quanto
mais elevado o stress na gestação, a probabilidade de a criança apresentar
problemas temperamentais e comportamentais  aumenta, e problemas
temperamentais na criança podem levar a mãe a sintomas depressivos.
O stress também pode resultar em sequelas danosas para a saúde do ne-
onato, como a prematuridade abaixo do peso. O stress pode, também,
causar complicações obstétricas na gestante, além de ser um indicativo
para manifestação de depressão pós-parto.

Não existem instrumentos específicos para avaliar níveis de estresse


em mulheres na gravidez. Para auxiliar na avaliação psicológica sugiro
a utilização da Escala de Estresse Percebido (Anexo 2) traduzida para o
português por Luft et. al. (2007). Vale ressaltar que este não é um instru-
mento privativo do psicólogo e não possui validação do Conselho Federal
de Psicologia.

Depressão na gravidez
A depressão é o transtorno mental de maior prevalência durante
a gravidez e seus efeitos possuem diversas consequências para a saúde
materna e fetal tais como o baixo peso ao nascer, diminuição do escore do
Apgar, prematuridade, diminuição da circunferência cefálica; desenvolvi-

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mento deficiente no primeiro ano de vida e ideação suicida pela mãe com
tentativas de autoextermínio. Sua ocorrência durante o pré-natal ainda é
pouco estudada, uma vez que a maioria das investigações sobre a depres-
são materna centram-se na período pós-parto. (De Jesus Silva, 2016)

Sintomas de depressão no período gestacional podem estar associa-


dos a altos níveis de ansiedade e estresse (fase de exaustão) e devem ser
considerados os seguintes fatores de risco: histórico anterior de depres-
são, problemas na relação conjugal, gravidez não planejada, ocorrência
de violência doméstica, eventos traumáticos ocorridos anteriormente ou
na gestação e uso de álcool e drogas. Vale ressaltar ainda que a maior
parte das mulheres com depressão pós-parto já apresentava sintomas du-
rante a gestação.

A depressão na gravidez pode ser caracterizada pela ocorrência por


um período maior de 2 semanas de pelo menos 5 dos seguintes sintomas:
tristeza na maior parte dos dias, ansiedade exagerada, crises de choro,
perda de interesse pelas atividades diárias, irritabilidade, agitação ou len-
tidão quase todos os dias, fadiga ou perda de energia todos os dias, ou
na maior parte do tempo, distúrbios do sono como insônia ou sonolência
exagerada, praticamente todos os dias, excesso ou falta de apetite, falta de
concentração e indecisão praticamente todos os dias, sentimento de culpa
ou de desvalorização a maior parte do tempo, pensamentos de morte ou
suicídio, com ou sem tentativa de suicídio.

Grande parte dos sintomas de depressão podem ser confundidos


com os sintomas comuns da gravidez o que pode dificultar o diagnóstico
do quadro. O Inventário de Depressão de Beck (Anexo 3) pode auxiliar o
psicólogo na avaliação dos sintomas de depressão, no entanto o diagnós-
tico médico do transtorno depressivo deve ser realizado pelo psiquiatra,
que irá avaliar a necessidade de tratamento medicamentoso que deve ser
compatível com a gestação.

Atuação do psicólogo na gravidez


Conforme já vimos anteriormente a gravidez provoca uma série de
alterações no comportamento da mulher e na vida do casal, o Pré-Natal
Psicológico (PNP) é um novo conceito em atenção psicológica perinatal,
voltado para a humanização do processo gestacional, mapeando suas fun-
ções e impactos na saúde mental da gestante, com o intuito de prevenir
transtornos psicológicos no puerpério.

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Bortoletti (2007) afirma a importância do PNP, que tem como obje-
tivo acolher a gestante e o casal, principalmente escutando-os e permitin-
do a troca de experiências, pois é esperado que os participantes possam
compartilhar e expressar suas culpas, dúvidas, medos, anseios e angústias
inerentes a este período. Trata-se de um modelo de intervenção preven-
tivo que consiste em propiciar suporte emocional, informacional e instru-
cional por meio de atendimentos psicoeducativos com grupos de gestan-
tes e seus familiares durante o ciclo gravídico-puerperal.

O psicólogo atua como facilitador na criação de um ambiente para


troca de experiências, no qual os participantes são encorajados a expres-
sar e a compartilhar seus conhecimentos, angústias, ansiedades, culpas,
ambivalências, e outros assuntos que contemplam as diferenças e as iden-
tificações entre eles. O PNP não se restringe ao atendimento de casais e
gestantes que estejam passando por crises emocionais, mas a todos que
tenham interesse em compreender e aprimorar essa nova identidade fa-
miliar. (Arrais, Cabral e Martins, 2012)

Os grupos podem ter um número de sessões pré-estabelecido e es-


truturas diferenciadas, Benincasa et. al. 2019 ao realizar uma pesquisa
com o objetivo descrever a contribuição de um programa de Pré-Natal
Psicológico durante a gestação, utilizaram o formato a seguir:

• 1º encontro: Apresentação do grupo.

• 2º encontro: Vínculo mãe-bebê

• 3º encontro: Relacionamento conjugal

• 4º encontro: Rede de apoio

• 5º encontro: Ansiedades e medos inerentes a este período

• 6º encontro: Feminilidade

• 7º encontro: Amamentação

• 8º encontro: Tipos de parto

• 9º encontro: Baby blues, depressão e Acolhimento

• 10º encontro: Encerramento

Vale ressaltar que é possível adaptar o PNP para o atendimento


individual de gestantes e/ou do casal e seus principais benefícios são: pre-

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parar para a maternidade/paternidade, facilitar a relação do casal diante
dos novos desafios, promover a participação ativa do pai, facilitar a vin-
culação mãe-bebê, estimular uma postura ativa da gestante, preparação
emocional para o parto, prevenir problemas de saúde mental pós-parto,
psicoeducação e orientação para a família e rede de apoio.

No contexto de um atendimento clínico de gestantes, independen-


temente de sua abordagem teórica, é indicada a utilização de psicoterapia
breve. A característica principal da psicoterapia breve é atingir objetivos
terapêuticos em um curto espaço de tempo baseando-se no tripé: foco,
atividade e planejamento. (Knobel, 1986)

No caso da gravidez o foco deve ser na queixa específica pela qual


a gestante procurou a terapia e nas alterações emocionais próprias do
período, a atividade se refere a postura ativa do terapeuta em fazer per-
guntas, resumir e parafrasear e o planejamento se refere a organização
das sessões de forma antecipada com o objetivo de manter o foco.

O Caderno de Investigação Psicológica para Gestantes (Anexo 4)


criando por Schiavo em 2012 pode ser usado como entrevista inicial de
um atendimento clínico ou ainda no início de atendimentos em grupo e
serve para identificar possíveis focos de trabalho tais como, acolhimento,
orientação e/ou psicoterapia. Vale ressaltar que o referido instrumento
está em fase de validação pelo Conselho Federal de Psicologia e não é
privativo do psicólogo.

Luto perinatal
O luto decorrente de óbito de feto ou de recém-nascido é denomi-
nado por Iaconelli (2007) como luto perinatal. As intercorrências no ciclo
gravídico puerperal se contrapõem com a concepção social de maternida-
de, é a morte onde se espera alegria, nascimento e vida.

Gesteira et. al. (2006) definem luto como uma reação normal e es-
perada quando um vínculo é rompido e sua função é proporcionar a re-
construção de recursos e viabilizar um processo de adaptação às mudan-
ças ocorridas em consequência das perdas. A perda de um filho implica
num tipo particular de luto, pois solicita adaptações, não só individuais,
mas também na relação conjugal, no sistema familiar e na sociedade.

A elaboração do luto pela morte de uma criança que não nasceu tem
uma dinâmica diferente pois não houve a construção de vínculos afetivos

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e de recordações da convivência. Este tipo de luto merece uma atenção
especial visto que é uma perda não plenamente reconhecida, que não é
abertamente apresentada e muito menos socialmente aceita. (Muza et.
al.,2013)

Os processos de luto, independente das situações parecem seguir


um curso previsível, Elisabeth Kübler-Ross (1998) foi uma pioneira no
sentido de sistematizar o processo de perda em estágios: negação e isola-
mento, raiva, barganha, depressão e aceitação. Vale ressaltar que alguns
desses estágios podem ocorrer de forma simultânea e que se considera
saudável que a pessoa possa viver cada estágio em sua completude, tendo
tempo e apoio para lidar com cada um deles.

1. Negação e isolamento: é a fase de negação inicial, completa ou


parcial, a uma notícia catastrófica, podendo vir acompanhada de certo
isolamento. (Não é verdade, isso não está acontecendo comigo)

2. Raiva: ao superar a fase de negação a pessoa já consegue falar


sobre o evento traumático e passa a nutrir sentimentos de raiva, revolta,
injustiça. A pessoa pode questionar suas crenças religiosas e se revoltar
com as pessoas que o cercam. (Por que eu?)

3. Barganha: a pessoa se dá conta que a raiva não evitou o des-


fecho e com isso, tenta negociar, fazendo uso de bom comportamento.
(promessas, pacto com Deus, receber um milagre)

4. Depressão: é a partir desse momento que a pessoa passa a lidar


verdadeiramente com o luto, é a fase mais difícil e pode se prolongar por
bastante tempo e até mesmo não ser superada.

5. Aceitação: é a fase onde a pessoa consegue lidar melhor com o


luto e retomar os seus afazeres com mais tranquilidade.

Há uma variedade de critérios adotados por diferentes pesquisado-


res para diferenciar o luto normal do luto complicado (patológico), sem
que tenhamos ainda evidências empíricas suficientes para dar sustenta-
ção à escolha de qualquer um. Dentre os critérios propostos pelos espe-
cialistas podemos citar: duração do luto, intensidade dos sintomas, com-
prometimentos funcionais, entre outros. De acordo com a literatura, 10%
a 20% dos casos de luto não seguem o curso normal de aceitação da per-
da, sendo que pais e cônjuges são as pessoas mais afetadas, nesse sentido
um luto perinatal tem grandes chances de se tornar um luto complicado.

O luto perinatal apresenta algumas reações comuns tais como in-

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tenso sofrimento, tristeza, lembranças intrusivas recorrentes, isolamento,
distração, sentimento de vazio e busca de sentido para o ocorrido.

No atendimento de famílias enlutadas em contexto perinatal cabe


ao psicólogo:

• Acolher a mulher e toda a família na elaboração do luto.

• Facilitar a expressão dos sentimentos de culpa, fracasso e im-


potência.

• Promover explicações acerca do processo de luto.

• Prevenir um luto complicado e minimizar o sofrimento.

• Individualizar os casos.

• Informar sobre a importância de rituais de despedida e auxiliar


na medida do possível para que eles ocorram.

• Respeitar as necessidades de cada família.

• Preparar a rede de apoio.

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Módulo 4 – Parto
Parto e suas mudanças ao longo da história
A experiência do parto é envolvida por significados culturais que
foram se modificando ao longo do tempo e da história da humanidade,
particularmente da mulher. O evento da gravidez, parto e nascimento,
em que as pessoas estavam ligadas por fortes vínculos humanos e supor-
tes sociais, com a introdução e evolução dos avanços tecnológicos e cien-
tíficos na área da saúde e a medicalização do corpo da mulher, passa de
evento familiar para evento hospitalar, conduzido por meios tecnológicos
e cirúrgicos, com o objetivo de controlar as complicações e situações de
risco para o binômio mãe-filho. (Souza, Gaíva e Modes, 2011)

Até o século XVII o parto era considerado um assunto de mulheres,


em geral estavam presentes uma parteira e a mãe da parturiente, apenas
em casos complicados, quando a parteira não conseguia resolver o pro-
blema chamava-se o médico. A especialidade da obstetrícia nasceu nas
faculdades europeias de medicina na primeira metade do século XIX, a
partir disso os obstetras passaram a fazer campanhas para transformar o
parto em um evento controlado por eles e circunscrito às maternidades,
o que se efetivou na metade do século XX. A consolidação da presença do
médico na cena do parto está associada à criação de um instrumental pró-
prio (fórceps, pelvímetro, sondas, agulhas, tesouras) e a práticas cada vez
mais intervencionistas, associação esta usada para construir uma imagem
de conhecimento científico, competência e superioridade dos médicos em
relação às parteiras, que usavam apenas as mãos nas suas manobras e
diagnósticos. (Maia, 2010)

Conforme Vendrúscolo e Kruel (2015) a institucionalização do par-


to provocou um afastamento da família no processo de nascimento, as
mulheres passaram a ser internadas em quartos coletivos, sem privacida-
de, tornaram-se passivas diante das regras e foram privadas da presença
de uma pessoa de confiança. O parto hospitalizado tirou da mulher o di-
reito de poder de decisão sobre como, onde e na presença de quem será
o seu parto.

A Organização Mundial de Saúde afirma que o parto é um evento


natural que não necessita de controle, mas sim de cuidados e apresenta
diretrizes que enfatizam boas práticas de atenção ao parto e ao nascimen-
to baseadas em evidências científicas, entretanto, o modelo de atenção ao
parto normal, mais comum no Brasil ainda possui um viés tecnocrático
e centrado no profissional médico e a mortalidade materna ainda é um
dado alarmante.
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Nesse sentido, em meados de 2000 o Ministério da Saúde criou o
Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) com o ob-
jetivo de oferecer atenção específica à gestante, ao recém-nascido e à mu-
lher no período pós-parto. A inciativa buscou a redução das altas taxas de
morbimortalidade materna e perinatal, procurando assegurar o acesso, a
melhoria da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da
assistência ao parto, puerpério e neonatal.

Segundo a filosofia do Programa de Humanização no Pré-natal e


Nascimento, a condição primeira para o adequado acompanhamento do
parto e puerpério é o direito à humanização da assistência obstétrica e
neonatal.  A humanização compreende, entre outros, dois aspectos fun-
damentais. O primeiro relaciona-se à adoção de uma postura ética e soli-
dária por parte dos profissionais e diz respeito à convicção de que é dever
das unidades de saúde receber com dignidade a mulher, seus familiares
e o recém-nascido, reconhecendo que a instituição deve organizar-se de
maneira a criar um ambiente acolhedor e adotar condutas hospitalares
que rompam com o tradicional isolamento imposto à mulher. O segundo
refere-se à adoção de medidas e procedimentos sabidamente benéficos
para o acompanhamento do pré-natal, do parto e do pós-parto, evitando
práticas intervencionistas desnecessárias que, embora tradicionalmente
realizadas, não beneficiam a mulher, nem o recém-nascido e que, com
frequência, acarretam maiores riscos para ambos.

Tipos de parto

Existem dois tipos de parto: o parto cirúrgico (cesárea) e o parto


vaginal (normal). E as principais diferenças entre eles são:

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Para além de todos os benefícios do parto normal vale ressaltar que
nem sempre ele é possível e a realização de uma cesárea pode ser decisiva
para garantir a segurança da mãe e do bebê.

O melhor tipo de parto é aquele que tanto a mãe quanto o bebê


saem nas melhores condições físicas e emocionais. Desde que sejam obe-
decidas as orientações médicas é importante considerar os medos e dese-
jos da mulher em relação ao seu próprio parto.

A epidemia de cesáreas
A transferência do ambiente de nascimento melhorou os indicado-
res de saúde no Brasil, sobretudo na diminuição das taxas de mortalidade
materna e neonatal nos últimos trinta anos. Em condições ideais, a cesa-
riana é segura e contribui para a redução da morbimortalidade materna
e perinatal, portanto tem seu valor na obstetrícia moderna. Entretanto, a
consequência negativa foi o aumento no número de intervenções no nas-
cimento sem razões médicas que as justificassem. Nesse sentido, a Orga-
nização Mundial de Saúde afirma que taxas superiores ao intervalo de 10
a 15% não contribuem para a redução da mortalidade materna, perinatal
ou neonatal. (Gomes et. al., 2018)

No contexto brasileiro, no qual há um elevado índice de cesarianas


prévias, estima-se que a taxa de referência esteja em torno de 55%.

Uma cesárea sem indicação oferece riscos para a saúde materno


infantil, os principais problemas decorrentes da cirurgia são: interrom-
per prematuramente a gravidez por erro de cálculo da idade gestacional,
angústia respiratória para os recém-nascidos de parto cesárea em compa-
ração com os de parto vaginal, embolia amniótica, hemorragia na mãe no
pós-parto, aumenta as chances de morte materna, aumenta as chances de
infecção hospitalar.

Apesar dos riscos acima citados o Brasil ocupa a segunda posição no


ranking de países com maior porcentagem de cesáreas no mundo, atrás
apenas da República Dominicana. Mas será que as mulheres brasileiras
preferem a cesariana do que o parto normal?

Conforme Faúndes e Cecatti (1991) há uma incidência mais alta


de cesárias em mulheres e regiões mais favorecidas economicamente. Os
autores citam ainda outros fatores que influenciam essa alta incidência:

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1. Fatores socioculturais: medo da dor durante o trabalho de parto,
preocupação com a anatomia e a fisiologia da vagina e do períneo, crença
popular de que o parto vaginal é mais arriscado para o bebê.

2. Conveniência e segurança do médico: intervenção programada,


incerteza quanto à possibilidade de sofrimento fetal durante o trabalho
de parto e pós-parto aliada a treinamentos obstétricos incompletos e a
falta de segurança do médico em sua habilidade.

3. Fatores institucionais: tanto o SUS quanto os planos de saúde pa-


gam para os médicos o mesmo valor pelo parto normal ou pela cesárea,
acontece que em condições de pagamento idêntico para todos os proce-
dimentos, a cesárea continua compensando mais para o médico, conside-
rando o ganho por hora. Enquanto uma cesárea não dura mais que uma
hora, um parto normal poderá demorar de seis a doze vezes mais tempo.

Além disso, seja por falta de informação ou por conveniência ainda


há um número alto de “falsas” indicações de cesárea. Com o objetivo de
incentivar o parto normal e orientar a população e os profissionais de
saúde, em março de 2016, o Ministério da Saúde elaborou as ‘’ Diretrizes
de Atenção à Gestante: a operação cesariana’’ que estabelece parâmetros
e um referencial para as condutas acerca da operação cesariana no Brasil
e diretrizes nacionais para a sua utilização e acompanhamento das mulhe-
res a ela submetidas. Entre os principais destaques/recomendações estão,
por exemplo:

• A operação cesariana não é recomendada como forma de pre-


venção da transmissão vertical em gestantes com infecção por vírus da
hepatite B e C;

• A operação cesariana programada é recomendada para prevenir


a transmissão vertical do HIV;

• A operação cesariana é recomendada em mulheres que tenham


apresentado infecção primária do vírus Herpes simples durante o tercei-
ro trimestre da gestação;

• A operação cesariana não é recomendada como forma rotineira


de nascimento de feto de mulheres obesas;

• A operação cesariana é recomendada para mulheres com três ou


mais operações cesarianas prévias;

• O trabalho de parto e parto vaginal não é recomendado para mu-


lheres com cicatriz uterina longitudinal de operação cesariana anterior,

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casos em que há maior comprometimento da musculatura do útero, au-
mentando o risco de sua ruptura no trabalho de parto.

A maneira como se pratica a assistência obstétrica no Brasil também


contribui para esta situação. O cuidado pré-natal, em geral, não prepara
a mulher grávida psicologicamente para o parto. O medo e insegurança
que toda mulher grávida sente são mais estimulados do que prevenidos
no pré-natal que ela recebe e no contexto social em que ela passa a sua
gravidez.

Daí a importância de um acompanhamento psicológico especializa-


do durante o ciclo gravídico puerperal que dentre outras coisas oferece
informações qualificadas e a aumenta a probabilidade da ocorrência de
escolhas mais autônomas e conscientes.

Humanização do parto
O parto humanizado não pode ser entendido como um tipo de par-
to, a humanização tem a ver com deixar a natureza fazer o seu trabalho,
realizando o mínimo de intervenções possíveis e deixando que a mulher
assuma o seu protagonismo. Cabe aos profissionais envolvidos assumir
uma postura respeitosa quanto aos desejos e necessidades da mãe e do
bebê, levando em conta sempre a sua saúde e bem-estar.

Em geral esse termo é associado ao parto normal, mas nem sempre


ele ocorre de maneira humanizada. A Organização Mundial de Saúde
(OMS) faz algumas recomendações para uma experiência de parto posi-
tiva tais como, permitir um acompanhante durante o trabalho de parto,
permitir que a mulher se movimente e escolha a posição mais confortável
para ficar, permitir a alimentação e a hidratação da mãe durante o traba-
lho de parto, oferecer métodos de alívio da dor se requisitados, evitar a
episiotomia e a manobra de kristeller (pressão na barriga para acelerar o
parto) e não acelerar o trabalho de parto com aplicação de ocitocina.

Além disso é possível a realização de uma cesariana respeitosa. Al-


guns cuidados podem ser extremamente importantes na vinculação mãe-
-bebê e independem da via de parto, tais como: permitir o contato pele a
pele entre a mãe e o bebê após o nascimento, respeitar a importância da
primeira hora após o parto (hora de ouro), aguardar o cordão umbilical
para de pulsar para realizar o corte, atender aos desejos da mãe em re-
lação a luz, a temperatura do ambiente, permitir o uso de uma playlist,
entre outros.

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Um maior conforto e apoio emocional nesse momento propiciam
uma experiência positiva do parto favorecendo a recuperação e dimi-
nuindo as chances de complicações tanto físicas quanto emocionais.

Violência obstétrica
De acordo com Maldonado (1985), se a gravidez é considerada um
período de vulnerabilidade, o parto deve ser visto como um momento
crítico que marca o início de uma série de mudanças significativas e envol-
ve diversos níveis de simbolização. Dependendo da forma como acontece,
do preparo da mãe e da equipe médica, do envolvimento ou não da fa-
mília, dos riscos existentes e de uma série de outros fatores, o parto pode
ser um evento feliz ou traumático.

Todos os atos de violência física, psicológica, sexual e negligência


da equipe de saúde contra a mulher e seu recém-nascido, no contexto
da gravidez, parto e pós-parto, são definidos como violência obstétrica. A
violência obstétrica pode ocorrer de forma explícita e/ou de forma vela-
da como em atitudes discriminativas contra a mulher ou na utilização de
procedimentos não embasados em evidências científicas, sem explicações
ou consentimento, como a episotomia, a manobra de kristeller, a tricoto-
mia, o uso de ocitocina entre outros.

Segundo estudos de base populacional realizados no Brasil a pre-


valência de violência obstétrica tem variado entre 18,3% e 44,3%. Para
Andrade e Aggio (2014) a violência obstétrica é ainda pouco reconhecida
enquanto um ato violento, pois no mesmo momento que ela ocorre, as
mulheres estão vivenciando marcantes emoções, que as fazem se calar,
sendo necessário abordar os direitos da mulher durante a gestação, par-
to e pós-parto, especialmente nas consultas de pré-natais, onde tem-se a
oportunidade de abordar os variados assuntos e, instrumentaliza-la para
à tomada de decisões no que se refere ao seu corpo e a sua parturição , e
que ela possa argumentar e denunciar situações de desrespeito.

A violência obstétrica tem consequências a médio e longo prazo,


gera sentimentos de frustração, raiva, angustia, impotência e pode reper-
cutir em várias questões da vida da mulher tais como: na sexualidade, na
vinculação com o bebê e na autoestima. Em estudo realizado por Schwab,
Marth e Bergant (2012), foi feita uma avaliação do impacto do parto no
desenvolvimento de transtornos em mulheres, e destacou que entre as
que passaram por uma história de parto traumático, 60% apresentaram
sintomas depressivos nas primeiras semanas após o parto.

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Uma vivência negativa no parto dependendo da agressão sofrida e
da sua intensidade pode desencadear quadros graves de ansiedade, fo-
bias, compulsão alimentar, distúrbios do sono, estresse pós-traumático e
depressão pós-parto.

Plano de parto
O Plano de Parto é um documento escrito, de caráter legal, onde
as gestantes expressam antecipadamente suas preferências e expectativas
referentes ao cuidado que gostariam de receber durante o trabalho de
parto e parto, considerando seus valores, desejos e necessidades pessoais,
de modo a evitar intervenções indesejadas. (Medeiros et. al., 2019)

A elaboração de um plano de parto é a primeira de uma série de


recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) denominadas
“Boas Práticas de Atenção ao Parto e Nascimento” e preconizadas desde
1996, com o intuito de reorganizar e humanizar a assistência obstétrica
em todo o mundo.

Conforme Medeiros et. al. (2019) o plano de parto deve conter as


preferências e expectativas relacionadas ao manejo obstétrico, a escolha
das pessoas que estarão presentes no parto, escolha quanto a ingesta hí-
drica e alimentar, posições corporais a serem adotadas, cuidados deseja-
dos com o recém-nascido, intervenções médicas em caso de complicações
e observações culturais. Os referidos autores ao realizarem uma pesquisa
acerca das repercussões da utilização do plano de parto encontram as se-
guintes evidências:

• A construção do plano de parto durante o pré-natal influencia


positivamente o processo de parto e os desfechos materno-fetais.

• Expectativas irrealistas podem causar insatisfação com a experi-


ência de parto.

• Prestadores de cuidado desempenham um papel central no apoio


a realização do plano de parto e no cumprimento deste.

Escrever um plano de parto ajuda a mulher a se familiarizar com


o que acontece em cada fase do trabalho de parto, a organizar as suas
ideias, a entrar em contato com os seus sentimentos, seus medos e as suas
expectativas, e permite ainda que o acompanhante esteja ciente dos dese-
jos da mulher e atue como um facilitador do processo.

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É fundamental conversar com antecedência com a equipe respon-
sável pelo parto, em especial o obstetra, a fim de alinhar as expectativas
com o que é possível de ser atendido por aquele profissional. O parto pela
sua natureza é um evento impossível de se prever onde tudo pode mudar
de uma hora para outra portanto, deve haver flexibilidade por parte de
todos os envolvidos.

O psicólogo pode ter aqui um papel importante no sentido de tra-


balhar as emoções e as expectativas em relação ao parto, além de evitar
frustrações garantindo que a grávida esteja ciente que o plano de parto é
um desejo e não um conjunto de regras rígidas que serão seguidas à risca
independente de qualquer coisa.

O plano de parto não tem o objetivo apenas de evitar intervenções


médicas desnecessárias, ele possui também um papel psicoemocional uma
vez que ao sentirem-se mais preparadas, as mulheres expressam mais
confiança, autonomia, menos ansiedade e participam mais ativamente do
processo, o que resulta em uma experiência de parto positiva.

Considerando que a proposta de humanização do parto baseia-se


no tripé: restituição do protagonismo feminino; visão do parto como um
evento humano biopsicosociocultural; e vinculação com a medicina base-
ada em evidências, para Medeiros et. al. (2019) o Plano de Parto é uma
tecnologia potencializadora de cuidados humanizados à mulher e recém-
-nascido.

Segue no Anexo 5 desta apostila um modelo de Plano de Parto.

O psicólogo na cena de parto


A presença do psicólogo no parto não é rotineira e nem necessária
em todos os casos. Ainda não é uma prática comum das maternidades,
mas em alguns casos o psicólogo pode ter um papel importante tais como
em gravidez de risco, quando há internação durante a gestação, no nas-
cimento de bebês com problemas de saúde e malformações, quando há
histórico de tocofobia ou de outros transtornos mentais.

Para que o psicólogo possa fazer parte da equipe de profissionais de


saúde na hora do parto algumas questões devem ser levadas em conside-
ração:

• A equipe médica precisa entender o papel do psicólogo naquele

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momento.

• O psicólogo precisa estar ciente do funcionamento do centro


cirúrgico para não colocar ninguém em risco. (contaminação)

• É importante que tenha sido estabelecido um vínculo anterior


com a parturiente.

• Foco deve ser exclusivamente na parturiente, e em algumas


situações pode se estender para o pai e a família.

• Cabe ao psicólogo estar ao lado da parturiente auxiliando a


lidar com as emoções e medos que podem surgir.

• O psicólogo pode estar presente independente da via de parto


desde que seja a vontade da parturiente.

• A presença do psicólogo como alguém que sabe de todas as


angústias e anseios da parturiente pode diminuir os níveis de ansiedade
contribuindo assim para uma boa evolução e fluidez do parto.

• Se o psicólogo tiver capacitação técnica pode realizar interven-


ções para alívio da dor como massagem e exercícios de respiração/relaxa-
mento.

É importante frisar que psicóloga não faz o papel de doula e nem


a doula possui formação em psicologia na maioria dos casos. Algumas
psicólogas perinatais tem buscado se formar também como doula, mas é
preciso separar os papéis e os momentos de atuação de cada profissional.
Em linhas gerais o papel da doula estaria mais voltado para trazer con-
forto físico e emocional durante o trabalho de parto, já o psicólogo é o
profissional capacitado para oferecer assistência psicológica especializada
a parturiente.

Partindo da ideia de que a parturiente deve ser a protagonista do


seu parto e que as equipes já são formadas por um número grande de
pessoas é de extrema importância que necessidade da presença do psi-
cólogo seja avaliada caso a caso. A presença do psicólogo só deve ocorrer
se a parturiente fizer questão e/ou se a equipe de saúde achar prudente.

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Módulo 5 – Puerpério
Puerpério físico x puerpério psicológico

Do ponto de vista médico o puerpério é o período de adaptação


após o parto no qual o sistema reprodutor da mulher retorna ao seu esta-
do pré-gravidez. Sendo dividido em três fases: imediato, tardio e remoto.
A primeira fase corresponde ao período compreendido do 1º ao 10º dia
pós-parto, durante o qual se desenrolam todas as modificações necessárias
ao retorno do funcionamento do organismo da mulher ao estado anterior
à gravidez; o tardio que vai do 11º ao 25º, onde se desenrolam todas as
manifestações involutivas de recuperação e regeneração da genitália ma-
terna, e seguido do remoto, com término impreciso, na dependência da
lactação, normalmente em torno de 6 semanas, permeados por processos
físicos, sociais e psicológicos, inerentes à maternidade (Rezende, 1995).

Caracterizar a gravidez como um período de crise ou transição não


significa que a fase crítica se encerra no parto. O processo de maturação
ocorre após o parto e o puerpério é um período de transformação, de
mudanças psicológicas, de consolidação da relação pais-filho e de muitas
adaptações a uma nova rotina e um novo relacionamento familiar. (Mal-
donado,1985)

O tempo de adaptação emocional a tantas mudanças não condiz


com o período do puerpério físico desta forma o puerpério psicológico
seria o tempo que a mulher necessita para se reencontrar após a mater-
nidade e identificar os seus novos papéis sociais. Não há uma data crono-
lógica para que isso aconteça, mas em geral esse tempo pode se estender
de 2 a 3 anos, em média.

Pesquisas mostram que o sofrimento faz parte do puerpério e está


associado a uma combinação de perdas e adaptações, como as mudanças
no corpo, a experiência com o bebê real e não mais idealizado e as pró-
prias necessidades que não podem ser atendidas em razão das demandas
do bebê. No pós-parto ocorre uma mudança de foco para o bebê, no
entanto, é uma fase em que a mãe ainda precisa de cuidado e amparo.
(Campos e Féres-Carneiro, 2021)

Para os referidos autores a carência de informação sobre estas vi-


vências e a idealização desse período contribuiu para aumentar o sofri-
mento na passagem pelo puerpério. A visão romantizada sobre o amor
materno repercute em culpas, frustrações e sentimentos de inadequação,
por não corresponderem a esse ideal.

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Conforme Cantilino et. al. (2010) no puerpério, ocorrem bruscas
mudanças nos níveis dos hormônios e além das alterações biológicas, a
transição para a maternidade é marcada por mudanças psicológicas e so-
ciais. No puerpério há necessidade de reorganização social e adaptação
a um novo papel, a mulher tem um súbito aumento de responsabilidade
por se tornar referência de uma pessoa indefesa, sofre privação de sono
e isolamento social. Além disso, é preciso reestruturação da sexualidade,
da imagem corporal e da identidade feminina.

Mudanças de humor, conflitos, inseguranças, desconfortos, cansaço


e também medo são alguns dos sentimentos esperados para o período,
entretanto, os desafios dos primeiros anos de vida da criança podem fazer
surgir situações adversas no aspecto psicológico dessa nova mãe tais como
a o baby blues, a depressão pós-parto e a psicose puerperal.

Dentre todas as fases da vida da mulher, o pós-parto é o período de


maior vulnerabilidade para o aparecimento de transtornos psiquiátricos.

Baby Blues ou Disforia Puerperal


Na década de 1960, pesquisadores observaram que grande parte
das mulheres apresentava choro com facilidade nos primeiros dias após
o parto, notaram ainda que esse choro não tinha relação com sentimento
de tristeza, que essas mulheres apresentavam empatia exacerbada e fica-
vam com sensibilidade excessiva a rejeição. Eles descreveram essa condi-
ção como disforia puerperal. (Cantilino et. al. 2010)

A disforia puerperal ou baby blues, como é popularmente conhe-


cido, é a forma mais leve dos quadros puerperais, dura em média entre
uma e duas semanas, e acomete de 50% a 80% das mães. Os sintomas
podem incluir ansiedade, choro, apetite diminuído, exaustão, perda de
interesse nas atividades habituais, mudanças de humor, tristeza, proble-
mas no sono e preocupação. Algumas mulheres podem apresentar com-
portamento hostil para com familiares e acompanhantes, sentimentos de
estranheza, despersonalização e até elação. (Campos e Féres-Carneiro,
2021 & Cantilino et. al., 2010)

Nenhuma intervenção isolada é apontada como capaz de controlar


o desenvolvimento do baby blues, no entanto a rede de apoio é conside-
rada um dos fatores de maior importância para a sua prevenção. Nesse
sentido, podemos afirmar que a presença de uma rede de apoio funciona
como um dos fatores de proteção à maternidade. Não somente o apoio

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instrumental, mas afetivo, fornecendo encorajamento para a que a mu-
lher se sinta autorizada em sua função materna. De acordo com Campos
e Féres-Carneiro (2021) outras formas de prevenir o baby blues são ter
acompanhamento psicológico, ter padrões regulares de sono e praticar
atividade física durante a gravidez e o pós-parto.

Depressão pós-parto
A Depressão pós-parto é a mais frequente complicação emocional
materna, em geral o quadro inicia-se entre duas semanas até três me-
ses após o parto, e os sintomas são os mesmos de um quadro depressivo
comum sendo eles:, humor deprimido, perda de prazer e interesse nas
atividades, alteração de peso e/ou apetite, alteração de sono, agitação ou
retardo psicomotor, sensação de fadiga, sentimento de inutilidade ou cul-
pa, dificuldade para concentrar-se ou tomar decisões e até pensamentos
de morte ou suicídio.

No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª Edi-


ção – DSM-V, a depressão pós-parto, foi incluída na seção sobre os Trans-
tornos Depressivos e passou a se enquadrar como um especificador do
Transtorno Depressivo Maior, compreendendo o período gestacional e
as quatro semanas iniciais após o parto. Cerca de 50% dos episódios de-
pressivos maiores no pós-parto começam antes do parto propriamente
dito, e por isso passaram a ser designados como episódios no periparto
ou depressão perinatal na última edição do DSM. (Arrais e Araújo, 2017)

A nível mundial a depressão pós-parto pode atingir de 15% a 20%


das puérperas. Em pesquisa realizada por Saraiva e Coutinho (2008), no
Brasil, a ocorrência foi de 32% a 38%. De acordo com Arrais e Araújo
(2017) diversos fatores podem influenciar a vulnerabilidade ou a prote-
ção de uma mulher com episódios depressivos no pós-parto conforme
será descrito no quadro a seguir.

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Tipo Fatores de risco Fatores de proteção

Psicológicos / • Ter histórico de episódios • Percepção de suporte


Psiquiátricos depressivos pessoais anteriores à social durante a gravidez;
gestação; • Apoio social no
• Presença de estresse na gestação; puerpério; e
• Ansiedade gestacional; • Relações sociais
• Depressão gestacional; positivas.
• Presença de antecedentes
psiquiátricos pessoais;
• Idealização da maternidade;
• Insatisfação com a gravidez; e
• História familiar de transtornos
mentais.
Suporte social / Relações • Baixo apoio social e familiar; • Percepção de suporte
interpessoais • Conflito e insatisfação conjugal; social durante a gravidez;
• Falta de apoio do parceiro; • Apoio social no
• Falta de apoio social no puerpério; puerpério; e
• Exposição à violência por parceiro • Relações sociais
íntimo no ciclo gravídico puerperal; e positivas.
• Conflito familiar.
Sociodemográficos/ • Idade materna; • Idade materna; e
Contextual • Baixo status de escolaridade; • Alto status de
• Desemprego ou subemprego; e escolaridade.
• Ser solteira • Emprego; e
• Ser solteira
Físico / Hormonal • História de síndrome pré-
menstrual;
• Desregulação hormonal e de
citocinas inflamatórias; e
• Anemia pós-parto precoce.

Físico / Obstétrico • Complicação/ intercorrência • Analgesia de parto;


médica na gestação; • Amamentação
• Complicação/ intercorrência contínua; e
médica na gestação; • Parto via vaginal.
• Gravidez indesejada;
• História de aborto espontâneo
• Não amamentar até as oito
semanas do pós-parto;
• Parto vaginal;
• Falta de acompanhamento pré-
natal ginecológico;
• Problemas no parto atual; e
• Violência conjugal moderada ou
grave durante a gravidez.

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Diante do exposto uma triagem para mulheres que têm esses fa-
tores de risco é essencial para evitar a instalação dessa depressão. Esta
detecção deve ser feita no início de pós-parto ou então nas consultas pré-
-natais anteriores. Isto permite um tratamento adequado para as mães,
para a relação mãe-recém-nascido e, mais tarde, para o equilíbrio psico-
lógico da criança. Portanto, o impacto na vida dos envolvidos requer um
trabalho não só remediativo, mas também preventivo, a fim de evitar este
grave transtorno.

Para Neto e Alvares (2013) a depressão pós-parto é um problema de


saúde pública uma vez que interfere no vínculo mãe-bebê e pode estar as-
sociada ao suicídio materno e ao infanticídio nos casos mais graves. É tam-
bém um importante problema para as puérperas e seus familiares uma
vez que causa estranheza entre as pessoas pois se contrapõe a felicidade
que se espera com o nascimento e um bebê. Estudos mostram que pode
existir inclusive um subdiagnóstico do problema pois o “mito do amor
materno” faz com as mulheres tenham vergonha em manifestar mal estar
frente a chegada do bebê, tendendo a esconder ou minimizar a depressão
dos familiares e dos profissionais de saúde.

Psicose puerperal
A psicose pós parto é o quadro mais grave do período perinatal. É
um transtorno raro com prevalência de 0,1% a 0,2%, sendo que mulheres
com transtorno bipolar tem mais chance de evoluir para uma psicose. Os
sintomas iniciais são euforia, humor irritável, agitação e insônia, logo em
seguida aparecem delírios, ideias persecutórias, alucinações, comporta-
mento desorganizado, desorientação, confusão mental, perplexidade e
despersonalização. (Cantilino et. al., 2010)

De acordo com Camacho et. al. (2006) a psicose puerperal costuma


ter início mais abrupto. Estudos verificaram que 2/3 das mulheres que
apresentaram psicose puerperal iniciaram sintomatologia nas duas pri-
meiras semanas após o nascimento de seus filhos. Apesar do suicídio ser
raro no período puerperal em geral, nos quadros de psicose a prevalência
é alta, necessitando muitas vezes de internação hospitalar por esse moti-
vo, bem como para prevenir o infanticídio.

Os fatores de risco que aumentam a probabilidade de ocorrência


da psicose puerperal são: ser a primeira gravidez, ter ocorrido alguma
complicação obstétrica, ter histórico pessoal ou familiar de transtornos
psiquiátricos, sobretudo os transtornos psicóticos.

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O tratamento é o mesmo recomendado para transtornos psicóticos
agudos que inclui medicação e na maioria das vezes internação. Confor-
me Cantilino et. al. (2010) cerca de 20% tem remissão completa do qua-
dro após tratamento adequado e não apresentam recorrência. Estudos
sugerem que há recorrência de novo episódio de psicose pós-parto em
18% a 37% das mulheres e que pode haver episódio subsequente, fora do
pós-parto, de algum transtorno psicótico ou afetivo em 38% a 81% das
mulheres.

Atuação do psicólogo no puerpério


Os transtornos psiquiátricos na gestação e no puerpério são mais
comuns do que se imagina, e muitos casos ainda são subdiagnosticados.
Tem-se dado importância crescente ao tema, e pesquisas recentes têm
focado também o prejuízo que essas patologias podem ocasionar não só à
saúde da mãe, mas também ao desenvolvimento do feto, ao trabalho de
parto e à saúde do bebê. (Camacho et. al., 2006)

No caso do Baby Blues o psicólogo, além do acolhimento, tem ain-


da um papel informativo no sentido de conscientizar sobre a alta proba-
bilidade de ocorrência desta labilidade emocional no puerpério, contri-
buindo pra que essas mulheres vivenciem essa condição sem se sentirem
anormais em virtude dos seus sintomas. Apesar desse quadro ser consi-
derado normal, e não haver indicativo de tratamento farmacológico, o
aconselhamento com profissionais capacitados apoiam mãe e a família
nesse processo facilitando o entendimento e prevenindo a evolução para
outros transtornos psíquicos.

Para Arrais e Araújo (2007) é importante identificar os sintomas


iniciais que desencadeiam a depressão pós-parto, pois quanto antes se
detectam os fatores de risco e proteção melhor será a assistência oferecida
a puérpera. A realização de um pré-natal psicológico é uma forma eficaz
de prevenção de transtornos psicológicos no puerpério.

No diagnóstico da depressão pós-parto, assim como em outros tipos


de depressão, cabe ao psicólogo identificar os sintomas e encaminhar a
paciente para acompanhamento psiquiátrico a ser realizado em conjunto
com a psicoterapia.

Dentre as tentativas de se desenvolverem instrumentos de triagem


para facilitação da identificação e tratamento dos quadros de depressão
pós-parto, um dos instrumentos mais utilizados é a Escala de Depressão

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Pós-Parto de Edimburgo – EDPS (Anexo 6). A EPDS foi adaptada e vali-
dada em diversos países, incluindo o Brasil. É uma escala autoaplicável,
constando de dez itens, divididos em quatro graduações (0 a 3), a escala
mede a presença e intensidade de sintomas depressivos nos últimos sete
dias. O instrumento deve ser aplicado entre 45 dias e 6 meses após o par-
to, sua aplicação é rápida e simples, podendo ser utilizada por profissio-
nais da área de saúde não-médicos, ou seja, não é privativo do psicólogo.

A Triagem Psicológica Pós-Parto de Schiavo (Anexo 7) também é


um instrumento que pode ajudar psicólogos na triagem de puérperas.
Ele deve ser aplicado 45 dias após o parto e antes de completar 3 anos
do pós-parto. Não é um instrumento validado e padronizado, ele tem o
objetivo de ser uma ferramenta para nortear o trabalho do psicólogo em
diversos contextos de atendimento como clínica, hospital, centros de saú-
de e etc.

Ao identificar sintomas de psicose puerperal o psicólogo deve en-


caminhar imediatamente ao psiquiatra e somente retomar o acompanha-
mento psicoterápico quando a mulher estiver medicada e fora do surto.
Nesses casos o psicólogo pode orientar e oferecer acompanhamento psi-
cológico para a família da paciente.

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Módulo 6 - Sexualidade no período perinatal
Sexualidade na gravidez
A gravidez é um período de adaptações em todos os sentidos: físico,
emocional, existencial e também sexual, não apenas para a mulher, mas
também para o seu parceiro. As principais queixas relacionadas a sexu-
alidade nesse período são a diminuição do desejo, interesse e atividade
sexual.

No primeiro trimestre em razão dos sintomas inicias da gestação


como náuseas, vômitos, constipação ou diarreia, é comum haver perda
do desejo sexual. Já no segundo trimestre a gestação torna-se mais real
com as mudanças físicas e os sintomas inicias tendem a desaparecer o que
pode melhorar a disposição sexual. No terceiro trimestre alguns casais
ficam mais reticentes em buscar atividade sexual e as vezes até se abstém
em razão do desconforto da barriga e de outros incômodos como insônia,
cansaço, fadiga, contrações uterinas aumentadas e etc. (Barbosa et. al.,
2011)

Mais raramente observa-se um aumento da atividade sexual, embo-


ra algumas mulheres experimentem o orgasmo pela primeira vez na gra-
videz. Com a mudança da percepção de si própria na gravidez, algumas
mulheres sentem-se mais maduras e femininas, saindo de uma posição
infantil e, portanto, permitindo-se viver uma sexualidade adulta. Essa
mudança na maneira de se ver é muito relatada por adolescentes grávi-
das. (Maldonado, 1985)

Em um estudo realizado por Barbosa et.al. (2011) com o objetivo de


caracterizar a sexualidade de gestantes, foram realizadas 108 entrevistas
e verificou-se que em relação às orientações sobre sexualidade fornecidas
durante o pré-natal, apenas 47 (43,5%) mulheres declararam já haver re-
cebido alguma orientação durante as consultas. Com relação aos motivos
que interferiam nas relações sexuais na gestação, as mulheres puderam
responder positivamente a mais de um item. Muitas gestantes afirma-
ram sentir medo de machucar o bebê e de abortar durante o ato sexual,
respectivamente, 74 (68,5%) e 62 (57,4%). As gestantes afirmaram que
as náuseas ou a presença de dor interferiram no ato sexual, sendo estas,
respectivamente, 27 (25%) e 51 (47,2%) mulheres. Como pontos positivos
no âmbito da sexualidade destas gestantes, 48 (45,4%) se consideraram
atraentes fisicamente e 71 (65,7%) estavam felizes com as mudanças ocor-
ridas no seu corpo.

Para Maldonado (1985) a maneira como a mulher lida com as al-

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terações do esquema corporal está diretamente relacionada com as alte-
rações da sexualidade, como ela olha para o seu corpo grávido e com a
atitude do homem em relação as mudanças corporais da sua parceira. A
sensação de ser fecunda e estar desabrochando como mulher pode es-
timular orgulho pelo corpo grávido principalmente quando é elogiado
pelo parceiro. Em outros casos a sensação pode ser oposta, e as alterações
no corpo são vistas como deformações, a mulher se sente feia e incapaz de
atrair alguém. Nesses casos pode haver retração sexual, ciúme e suspeita
de infidelidade, o que pode se tornar real quando o homem dissocia ma-
ternidade de sexualidade.

O que pode ser observado é que as gestantes em sua maioria não


recebem orientações acerca da sexualidade neste período, fazendo surgir
muitos mitos, crenças equivocadas e tabus como medo de abortar, medo
de machucar o bebê, o que interfere na qualidade da atividade sexual.
Cabe aos profissionais que atuam na assistência pré-natal, inclusive o psi-
cólogo, estar preparado para acolher as questões relacionadas a sexuali-
dade e orientar as gestantes no sentido de amenizar as dúvidas, medos,
inseguranças e desconfianças dessa mulher melhorando o autocuidado
em âmbito sexual e a promovendo uma melhor interação entre o casal.

Sexualidade no puerpério
No que se refere as questões fisiológicas do pós-parto, o déficit de
estrogênio e progesterona, associado ao aumento da prolactina, causam
a redução do desejo sexual e da lubrificação vaginal, o que justifica a in-
satisfação de mulheres em relação à resposta sexual neste período. Mas
além da necessidade de o corpo voltar ao funcionamento normal depois
da gravidez a desmotivação sexual no puerpério também está relacionada
com todas as mudanças psicológicas, sociais e emocionais, com os cuida-
dos com o recém-nascido, com a perda de intimidade do casal, com as
mudanças na imagem corporal, com a dessexualização da mãe, de forma
que as atividades sexuais não combinam com as funções dessa nova mu-
lher.

Conforme Vettorazzi et. al. (2012), ao longo do período puerperal,


até 86% das mulheres apresentam queixas sexuais, sendo mais frequen-
tes a dispareunia (dor na relação sexual) de 22 a 41% e diminuição do
desejo sexual de 83 a 86%. No terceiro mês após o parto, cerca de 45 a
55% referem dispareunia e, no sexto mês, 18 a 30% ainda persistem com
problemas sexuais.

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A dispareunia é um dos aspectos de maior incidência na retomada
das atividades sexuais. Além disso há também a preocupação com o pe-
ríodo necessário para o aparelho genital se recuperar do parto, princi-
palmente nos casos de episiotomia e laceração. Vale ressaltar que não há
diferença na função sexual entre mulheres que realizaram parto normal
ou cesárea.

O medo de uma nova gravidez também é uma questão levantada


por puérperas, demonstrando que o conhecimento e as informações re-
lacionados a esse assunto são insuficientes ou precárias, o que pode oca-
sionar, por vezes, na mulher ou no casal, sentimentos de dúvida e insegu-
rança. Para tanto, o ideal é que haja esclarecimento sobre o planejamento
familiar no pós-parto, de preferência, ainda durante o pré-natal. (Siquei-
ra, Melo e Morais, 2019)

O diagnóstico de depressão pós-parto também é um fator de risco


para a disfunção sexual, e o tratamento nem sempre auxilia na melhora
uma vez que a maioria dos antidepressivos pode apresentar como efeito
colateral a diminuição do desejo sexual. Nesses casos é importante que o
psiquiatra esteja ciente do problema para utilizar medicamentos que não
causem prejuízo ao bebê e tenham menos efeitos sobre a função sexual.

Os baixos níveis de hormônios sexuais em razão da amamentação


podem contribuir para a diminuição do interesse sexual e para a falta ou
diminuição importante da lubrificação vaginal. A avaliação de 315 puér-
peras mostrou que 61% das que amamentavam não haviam retomado a
atividade sexual no sexto mês após o nascimento, em comparação a ape-
nas 41% das que não amamentavam. Em estudo realizado entre 570 mu-
lheres o fato de estar amamentando (4 e 12 meses pós-parto) foi associado
a menor frequência de atividade sexual e menor satisfação sexual.  (Vet-
torazzi et. al. 2012)

Diante do exposto a orientação ao casal é importante no sentido de


esclarecer que não é desinteresse sexual da parceira, mas que fatores or-
gânicos estão envolvidos, amenizando assim a culpa num momento que já
costuma ser tão tumultuado por tantas outras intercorrências.

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Módulo 7 - Os primeiros mil dias (da gestação até os 2
anos do bebê)
A importância dos primeiros mil dias de vida
Os primeiros mil dias do bebê compreendem desde a concepção até
os dois anos de idade, sendo 270 dias de gravidez mais 365 dias do pri-
meiro ano mais 365 dias do segundo ano. Esse período faz parte da pri-
meira infância e estudos recentes da neurociência indicam ser o momento
mais crítico para a saúde, o crescimento e o desenvolvimento emocional e
neurológico do ser humano.

O conceito dos primeiros mil dias surge em 2008, quando a revis-


ta The Lancet publicou uma série sobre desnutrição materno infantil e
identificou que nesse período uma boa nutrição e o crescimento saudável
teriam benefícios que se prolongariam para a vida toda. A importância
da nutrição no desenvolvimento infantil é inegável, entretanto evidên-
cias mostraram que crianças que tem acesso a uma alimentação adequada
às vezes não conseguem comer e crescer por falta de estimulação quan-
do pequenas. Desta forma, além das intervenções nutricionais, como por
exemplo o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses, é
fundamental que as crianças tenham um ambiente propício e acolhedor
para desenvolver laços fortes com seus cuidadores o que é base para o seu
desenvolvimento pleno. (da Cunha et. al., 2015)

A saúde física e emocional do bebê já começa a ser impactada na


gestação. Sabe-se, por exemplo, que a alimentação da mãe nesse período
ajuda a determinar o paladar e o olfato do bebê, e que estresse ocorrência
de estresse e ansiedade na gestação aumentam a probabilidade de nasci-
mento prematuro e dificultam a formação do vínculo. Assim, ao planejar
uma gravidez, a mulher já deve estar atenta aos cuidados com sua saúde
física e mental.

Epigenética
De acordo com o Centro de Desenvolvimento Infantil da Universi-
dade de Harvard, a epigenética é uma área emergente de pesquisa cien-
tífica que mostra como as influências ambientais – na primeira infância
– podem afetar a expressão dos nossos genes.  Assim, foram refutadas as
antigas ideias de que os genes são “imutáveis” ou de que apenas eles de-
terminam o desenvolvimento. Não existe mais o debate natureza x cria-

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ção – agora, quase sempre ambas estão juntas!

Durante o desenvolvimento, o DNA que compõe nossos genes acu-


mula marcas químicas que determinam a quantidade expressa de genes.
Esse conjunto de marcas químicas é conhecido como epigenoma. As dife-
rentes experiências que as crianças têm reorganizam essas marcas quími-
cas. Isso explica por que gêmeos geneticamente idênticos podem mostrar
comportamentos, habilidades, saúde e realizações diferentes.

O epigenoma pode ser afetado por experiências positivas como bons


relacionamentos familiares ou influências negativas como circunstâncias
estressantes. As experiências deixam uma “assinatura” epigenética nos
genes que pode ser temporária ou permanente. Pesquisas mostram que
pode haver maneiras de reverter certas mudanças negativas e restaurar
o funcionamento saudável, mas a melhor estratégia é apoiar relaciona-
mentos responsivos e reduzir o estresse para criar cérebros fortes desde
o início.

Os cérebros das crianças nos primeiros anos de vida são muito sensí-
veis a alterações epigenéticas o que torna essencial fornecer experiências
de apoio e carinho nessa fase da vida. Cuidar da saúde mental materna
na gravidez e no puerpério pode – literalmente - ter um impacto positivo
na química em torno dos genes das crianças.

Vínculo materno
O vínculo se inicia na gestação, à medida que o bebê cresce para
além de todas as mudanças físicas notáveis existe uma mãe, e uma família,
se preparando para assumirem novos papéis e se conectarem com esse
novo integrante. Ao contrário do que se espera esse vínculo não é auto-
mático/natural, é algo a ser construído e desenvolvido diariamente.

O processo é único para cada mulher, uma vez que nem toda grávida
esta plena e feliz, nem toda gravidez foi planejada ou desejada. E mesmo
quando tudo acontece dentro do esperado, existem sentimentos ambiva-
lentes diante da espera por um bebê: amor, medo, alegria, insegurança.
O feto entra em contato com as emoções da mãe continuamente durante
a gestação, daí a importância de cuidar da saúde mental para fortalecer o
vínculo e criar uma experiência intrauterina positiva para esse bebê.

Diversos autores como Bowlby, Spitz e Winnicott apontam que o


período inicial do desenvolvimento infantil é fortemente marcado pela

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presença materna, de tal modo que uma criança não chega a se desen-
volver satisfatoriamente sem estabelecer um vínculo com a mãe ou quem
cumprir a função materna.

O bebê, ao nascer, é um ser ainda incapaz de sobreviver sozinho


e de prover suas necessidades, dependendo de um adulto cuidador e
responsivo, que lhe propicie os recursos que faltam para a nutrição fí-
sica e higiene e lhe ofereça suporte emocional. Se isso ocorre com uma
figura constante – a mãe ou um cuidador substituto competente – estes
são denominados por Bowlby como Figura de Apego e essa relação pode-
rá proporcionar à criança um desenvolvimento biopsicoafetivo seguro e
saudável. Estudiosos da Psicologia com foco no desenvolvimento infantil,
como Bee e Spitz ratificam também que as vinculações familiares seguras,
quando na infância, promoveriam uma apreensão mais positiva da reali-
dade bem como autoestima e vínculos afetivos satisfatórios na vida adulta
(Sá e Nascimento, 2016)

Transtorno psicológico no período pré e pós-gestacional, e depres-


são pós-parto são fatores de risco para o vínculo e podem afetar negati-
vamente a qualidade e a disponibilidade do cuidado e a interação mãe/
criança e, consequentemente o desenvolvimento infantil. Já os estudos
relacionados aos fatores de proteção ressaltam a importância do contato
físico da mãe com o bebê nas suas primeiras semanas de vida.

A atenção psicológica no período perinatal pode diminuir a proba-


bilidade de ocorrência de transtornos psicológicos e garantir um conheci-
mento maior das mulheres sobre a importância na qualidade do vínculo
afetivo materno na prevenção e promoção da saúde mental.

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Sobre a Autora

Juliana Monnerat graduada em Psicologia pelo Centro Universitá-


rio de Brasília. Pós graduada pelo IBAC em Analise do Comportamento
e pelo Instituto Materonline em Psicologia Perinatal e da Parentalidade.
Experiência de mais de 10 anos como psicoterapeuta clínica, atua de for-
ma autônoma como psicóloga perinatal e parental.

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