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Especiais Legislação

Afinal, o limite de isenção em


remessas internacionais é de
US$ 50 ou US$ 100?
Por Emerson Alecrim
9 anos atrás • Atualizado há 2 semanas

As melhores ofertas,
sem rabo preso

Em abril, publicamos um post sobre o sistema


que a Receita Federal pretende empregar até
2015 para automatizar a tributação de
remessas internacionais. A matéria registra
muitos acessos até hoje e, consequentemente,
ainda gera bastante discussão. Neste ponto,
nos chamou a atenção a quantidade de
comentários que afirmam que o governo não
pode cobrar imposto de importação sobre
compras com valor de até US$ 100 e que,
portanto, o limite praticado de US$ 50 seria
ilegal.

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A crença nesta suposta isenção nos pareceu


tão difundida que, cerca de dois meses depois
do primeiro post, resolvemos tirar o assunto a
limpo. Ou pelo menos tentar.

O surgimento do limite de US$


100

A história começou com uma matéria publicada


pelo Blog do Jotacê (BJC) em janeiro deste
ano. O texto dá atender que, com base no
Decreto-Lei 1.804 , de 3 de setembro de
1980, remessas internacionais cujo valor não
ultrapasse US$ 100 ou o equivalente em outra
moeda não podem ser tributadas quando
destinadas a pessoas físicas.

Por outro lado, uma portaria do Ministério da


Fazenda (Portaria MF nº 156, de 24 de junho de
1999) e uma instrução normativa da Receita
Federal (Instrução Normativa SRF nº 096, de 4
de agosto de 1999) estabelecem isenção
apenas para remessas com valor de até US$
50, desde que remetente e destinatário sejam
pessoas físicas.

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O texto do BJC explica, em contrapartida, que


portarias e instruções normativas não podem
se sobrepor a um decreto-lei e, assim, a
tributação de qualquer remessa com valor de
US$ 100 ou menos não só é ilegal como pode
ser contestada. Se é assim, a Receita Federal
está descumprindo a lei?

A resposta da Receita Federal

Decidimos consultar a própria. Com alguma


insistência, obtivemos algumas respostas que,
basicamente, condizem com o posicionamento
público da entidade . De modo geral, a
explicação dada pela Receita Federal dá a
entender que o decreto-lei que trata da
suposta isenção de US$ 100, na verdade, está
sendo interpretado de maneira incorreta, não
havendo, portanto, nenhum descumprimento
de lei ou qualquer coisa parecida.

A assessoria de imprensa do órgão informou


que o tal decreto, na verdade, não afirma que
remessas de até US$ 100 não podem ser
tributadas, mas sim que o Ministério da
Fazenda pode – e deve – definir qualquer limite
de isenção dentro deste valor.

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Tendo este poder, o Ministério da Fazenda


determinou que a isenção de impostos de
importação vale para remessas de até US$ 50
(é a tal Portaria MF nº 156), desde que
destinatário e remetente sejam pessoas físicas.
Se a entidade entender que deve aumentar
este limite para US$ 90, por exemplo, pode
fazê-lo por ter liberdade para isso; se quiser
baixá-lo para US$ 20, também. A condição aqui
é o limite de isenção respeitar o teto de US$
100.

No mais, as únicas formas de conseguir


isenção é torcer para o pacote passar “ileso”
pelos sistemas dos Correios ou ter remessas
que correspondem a medicamentos (com
apresentação de receita médica que justifique
a sua importação), livros, periódicos e jornais.
Está tudo explicado nesta página da Receita.

Mas, se existe a possibilidade de o limite


chegar a US$ 100, por que o Ministério da
Fazenda escolheu US$ 50? A Receita Federal
explicou que a definição deste valor tem como
base vários critérios, como a concorrência de
remessas internacionais com produtos
similares fabricados no Brasil, custos de
fiscalização e o impacto que o limite de isenção
tem na arrecadação de tributos.

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Bom, convincente ou não, é uma resposta. Mas,


se os argumentos da Receita Federal estão
corretos, por que não é difícil encontrar relatos
de pessoas que fizeram pedidos de revisão ou
mesmo recorreram à Justiça para anular a
taxação de remessas internacionais?

Processos judiciais

É necessário levar em conta que muito destes


tais processos ou pedidos de revisão se
referem a remessas com valor de até US$ 50,
se baseiam em decisões de primeiro grau (ou
seja, a outra parte ainda pode recorrer) ou
envolvem pessoas jurídicas (que são
submetidas a regras diferentes), por exemplo.

O fato é que a questão toda gira em torno da


interpretação. Não deveria, mas o Decreto
1.804, da forma como foi redigido, parece
mesmo dar margem a entendimentos
diferentes. O artigo 2º do decreto, inciso II, diz
o seguinte:

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Art. 2º O Ministério da Fazenda,


relativamente ao regime de que trata o art.
1º deste Decreto-Lei, estabelecerá a
classificação genérica e fixará as alíquotas
especiais a que se refere o § 2º do artigo
1º, bem como poderá:

II – dispor sobre a isenção do imposto de


importação dos bens contidos em
remessas de valor até cem dólares norte-
americanos, ou o equivalente em outras
moedas, quando destinados a pessoas
físicas.

Há quem entenda o inciso acima como “o limite


de isenção é de US$ 100 e ponto final”. Outro
posicionamento recorrente é o de que o texto
concede autonomia para o Ministério da
Fazenda decidir apenas se aplica isenção ou
não, mas não para definir qualquer limite,
devendo haver seguimento ao valor de US$
100. Neste caso, a Portaria MF nº 156 não seria
válida por se contrapor a um decreto-lei.

Entretanto, a interpretação que mais vem


sendo aceita – pelo menos até agora – é a de
que este “dispor sobre…” dá liberdade ao
Ministério da Fazenda de definir qualquer limite
de isenção que esteja dentro da faixa de US$
100, fazendo a Portaria MF nº 156 valer, tal
como justificou a Receita Federal.

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Qual a interpretação correta, no


final das contas?

Se fosse simples encontrar esta resposta, não


haveria margem para tanta discussão, por isso,
nada mais apropriado do que procurar
gente que entenda bastante de leis para pelo
menos termos esclarecimentos sobre os
aspectos mais relevantes. É isso o que nos
levou a contatar, entre outras pessoas, o juiz
Jorge Alberto Araujo , que deu
um posicionamento interessante sobre o limite
de isenção em seu blog DireitoeTrabalho.com.

O magistrado também entende que a


explicação dada pela Receita Federal é correta,
independente de concordarmos ou não com
ela: “o meu entendimento, contudo, é distinto.
O decreto-lei, ao permitir à autoridade
tributária dispor sobre isenção, fixou um ‘limite’
ou um ‘teto’ desta isenção a bens de até 100
dólares, não um ‘piso'”.

Note ainda que a aplicação ou não de isenção


envolve o destinatário, conforme o decreto-lei
descreve. Com o entendimento de que não há
regra impeditiva, o Ministério condicionou o
remetente a também ser pessoa física.

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Se é assim, o que dizer então de ações judiciais


que, pelo menos em um primeiro momento, dão
ganho de causa a quem acredita que o limite
de isenção deva ser de US$ 100?

O jeito é procurar a Justiça – ou


não

Estes processos podem até existir, afinal, como


nos explicou Jorge Araujo, “cada juiz tem
liberdade para decidir de acordo com a sua
convicção”. O ponto é que um processo ganho
aqui ou ali dificilmente é suficiente para servir
de precedente para casos em andamento,
como sugerem matérias sobre o assunto
em outros veículos.

Em relação a este aspecto, Jorge Araujo


esclareceu que as chances de decisões
anteriores servirem de referência para
processos ainda não finalizados são maiores
caso haja manifestação do Supremo Tribunal
Federal (STF) ou do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) a favor de um lado ou de outro.

Só não podemos contar muito com isso: ainda


segundo Jorge, questões como esta
apresentam pouca expressão monetária, assim,
mesmo quando cabíveis, os custos para fazer
ações do tipo serem tratadas pelos órgãos
máximos do Poder Judiciário são,
invariavelmente, várias vezes maior que o seu
eventual benefício.

Talvez seja o caso de o Ministério Público


Federal, por exemplo, intervir para o STF ou
STJ se posicionar, mas a questão da baixa
expressão monetária talvez também
tenha efeito aqui.

Em resumo, o debate acerca do assunto está


longe de terminar, mas em termos práticos, não
adianta muito esbravejar aos quatro cantos que
remessas internacionais com valor de até US$
100 não podem ser tributadas, muito menos ter
como única reação o envio de um pedido de
revisão à Receita Federal com base neste
argumento – no contexto atual, o órgão não
está em posição desfavorável e não se mostra
nem um pouco disposto a mudar de postura.

O caminho mais natural para quem não aceita a


justificativa para a isenção de até US$ 50 são
mesmo os meios judiciais. Porém, como deixou
claro o post, as possibilidades de uma decisão
favorável a quem ajuizar uma ação relacionada
ao assunto são pequenas.

O Juiz Jorge Alberto Araujo destacou que um


processo movido por uma associação de
consumidores ou de contribuintes, por
exemplo, pode ter chances um pouco maiores
de dar certo pela sua representatividade
coletiva. Em outras palavras, alguma mudança
só será tangível se houver algo maior do que
meras iniciativas individuais.

Em grupo ou não, com boas chances ou não,


quem apela à Justiça está em seu direito –
qualquer cidadão pode questionar a aplicação
de uma lei ou norma, mesmo quando esta é
descrita de maneira absolutamente clara. Mas,
é preciso pesar os prós e contras: os valores
envolvidos compensam o esforço? O trabalho
de reunir documentos, comparecer ao tribunal,
etc., vale a pena? Há a noção de que o
processo pode durar muito tempo? E assim por
diante.

Atualizado às 17:47

Compras Internacionais Limite De Isenção

Ministério Da Fazenda Receita Federal MPF

STJ Supremo Tribunal Federal Correios Brasil

Emerson Alecrim
Repórter
/

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou


para o Tecnoblog em 2013, se especializando na
cobertura de temas como hardware, sistemas
operacionais e negócios. Formado em ciência da
computação, seguiu carreira em comunicação, sempre
mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi
reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em
Informação. Participa do Tecnocast, já passou pelo
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