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FORMAÇÃO

HISTÓRICA DO
ESTADO MODERNO
E TIPOLOGIA DO
ESTADO

Ana Carolina Greco Paes


Formação histórica do Estado Moderno
1. INTRODUÇÃO
Na aula de hoje trataremos sobre a origem e a formação do Estado a partir de duas
perspectivas, a primeira é a época de aparecimento do Estado e a segunda é a partir das
causas de surgimento do Estado.
Posteriormente, trataremos sobre a origem histórica do Estado, como ele se
desenvolveu através da história e, por fim, veremos como se dá o conceito de soberania
na construção do Estado moderno.

Fonte: FLICKR, 2022.


2. ORIGEM E FORMAÇÃO DO ESTADO

Época Motivo

Estado enquanto Estado surge de acordo


Formação
elemento universal da com as condições Natural e originária
contratual
organização humana concretas de cada lugar.

Estado enquanto
conceito histórico Formação derivada
concreto

Fonte: PAES, 2022.

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Formação histórica do Estado Moderno
Quando tratamos sobre a formação do Estado há duas perguntas que podem ser
feitas, uma delas é sobre a época do aparecimento do Estado, a outra é relativa aos motivos
que determinaram e determinam o surgimento de novos Estados. Sobre a criação do termo
Estado, temos o seguinte:
A denominação Estado (do latim status = estar firme), significando situação
permanente de convivência e ligada à sociedade política, aparece pela primeira
vez em “O Príncipe” de Maquiavel, escrito em 1513, passando a ser usado
pelos italianos sempre ligada ao nome de uma cidade independente, como, por
exemplo, stato di Firenze. Durante os séculos XVI e XVII a expressão foi
sendo admitida em escritos franceses, ingleses e alemães. Na Espanha, até o
século XVIII, aplicava-se também a denominação de estados a grandes
propriedades rurais de domínio particular, cujos proprietários tinham poder
jurisdicional. De qualquer forma, é certo que o nome Estado, indicando uma
sociedade política, só aparece no século XVI, e este é um dos argumentos para
alguns autores que não admitem a existência do Estado antes do século XVII.
Para eles, entretanto, sua tese não se reduz a uma questão de nome, sendo mais
importante o argumento de que o nome Estado só pode ser aplicado com
propriedade à sociedade política dotada de certas caraterísticas bem
definidas. A maioria dos autores, no entanto, admitindo que a sociedade ora
denominada Estado é, na sua essência, igual à que existiu anteriormente,
embora com nomes diversos, dá a essa designação a todas as sociedades
política que, com autoridade superior, fixaram as regras de convivência de
seus membros (DALLARI, 2016, p. 59).

Feitas essas considerações, vamos agora ver sobre algumas das teorias sobre a
origem do Estado. Como vimos anteriormente, elas podem ser analisadas a partir de dois
aspectos, a época de aparecimento do Estado e os motivos que levaram o Estado a se
organizar.
Sobre a época de aparecimento do Estado, podemos condensar as teorias existem
em três posições fundamentais:
a) Há autores que acreditam que assim como a própria sociedade sempre existiu,
pois desde que o homem vive na Terra, ele se organiza em grupos, essas
organizações sociais sempre foram dotadas de poder e autoridade que
determinavam o comportamento de todo grupo. De acordo com Dallari (2016),
alguns dos autores que adotam essa posição são: Eduard Meyer, historiador das
sociedades antigas; Wilhelm Koppers, etnólogo. Ambos afirmam que o Estado é
um elemento universal da organização social humana.
b) Uma segunda corrente afirma que os Estados foram surgindo de acordo com as
condições concretas de cada lugar, não houve o surgimento do Estado em um
período determinado. Para esses autores a sociedade humana existiu um período
sem a necessidade de um Estado e, posteriormente, por motivos específicos,

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precisou se organizar centralizando o poder nas mãos de um ente. Esta corrente
tem vários adeptos.
c) A terceira posição afirma que Estado têm algumas características muito bem
definidas, sendo assim, ele não existe desde sempre e também não é possível
considerar Estados entes que não possuam essas características. “Justificando seu
ponto de vista, um dos adeptos dessa tese, Karl Schmid, diz que o conceito de
Estado não é um conceito geral válido para todos os tempos, mas um conceito
histórico concreto, que surge quando nascem a ideia e a prática da soberania”.
(DALLARI, 2016, p. 60).
No que diz respeito as causas do aparecimento do Estado, antes de analisarmos as
causas em si, precisamos ter em mente que é possível analisar a formação dos Estados a
partir de dois aspectos. A primeira é a formação originária dos Estados, que dizem
respeito a agrupamentos humanos que ainda não estavam integrados a nenhum outro
Estado. E a segunda é a formação derivada dos Estados, que dizem respeito aos Estados
que surgiram a partir de outros já preexistentes.
Na sociedade atual é muito raro o surgimento de um Estado originário, porém
estes podem ser estudados a partir das lições de antropólogos e etnólogos que auxiliaram
com o estudo das sociedades.
Sobre as principais teorias sobre as formas originárias dos Estados, há duas
classificações majoritárias, as teorias que afirmam que o Estado apareceu de forma natural
e teorias que afirmam que o Estado é fruto da vontade humana e cada uma dessas teorias
se desdobra em causas específicas, conforme veremos a seguir.

Origem familiar ou patriarcal

Origem em atos de força, violência ou conquista

Origens econômicas ou patrimoniais

Origem no desenvolvimento interno da sociedade

Fonte: PAES, 2022.

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a) Teorias que afirmam sobre a formação natural ou espontânea do Estado, que
afirmam que o Estado surgiu de forma natural como forma de organização
social. Sobre a formação natural e originária do Estado, temos as seguintes
origens:
a.1) Origem familiar ou patriarcal. Estas teorias afirmam que o núcleo social
fundamental é a família, sendo assim, cada família primitiva se ampliou dando
origem ao Estado. Um dos defensores dessa teoria é Robert Filmer.
a.2) Origem em atos de força, de violência ou de conquista. As teorias que
atribuem a origem do Estado aos atos de força, sustentam, de forma geral, que
a superioridade da força de um grupo social permitiu a sujeição de um grupo
social mais fraco, nascendo assim o Estado a partir da conjunção de
dominantes e dominados. “Entre os adeptos dessa teoria situa-se
Oppenheimer, que, afirmando ter sido criado o Estado para regular as relações
entre vencedores e vencidos, acrescenta que essa dominação teve por
finalidade a exploração econômica do grupo vencido pelo vencedor”
(DALLARI, 2016, p. 62).
a.3) Origem em causas econômicas ou patrimoniais. Sobre essa causa, vamos
recorrer a lição de Dalmo de Abreu Dallari (2016, p. 62)
Há quem pretenda que essa tenha sido a origem indicada por Platão, quando
nos “Diálogos”, no Livro II de “A República”, assim se expressa: “Um Estado
nasce das necessidades dos homens; ninguém basta a si mesmo, mas todos nós
precisamos de muitas coisas”. E logo depois: “... como temos muitas
necessidades e fazem-se mister numerosas pessoas para supri-las, cada um vai
recorrendo à ajuda deste para tal fim e daquele para tal outros; e, quando esses
associados e auxiliares se reúnem todos numa só habitação, o conjunto dos
habitantes recebe o nome de cidade ou Estado”. Dessa forma, o Estado teria
sido formado para se aproveitarem os benefícios da divisão do trabalho,
integrando-se as diferentes atividades profissionais, caracterizando-se, assim,
o motivo econômico. Nessa mesma ordem de ideias coloca-se Heller, dizendo
que a posse da terra gerou o poder e a propriedade gerou o Estado, e Preuss,
sustentando que a característica fundamental do Estado é a soberania
territorial.
Ainda sobre a origem em causas econômicas, a de maior repercussão prática foi a
teoria desenvolvida por Marx e Engels que escreveram a obra: “A origem da Família, da
Propriedade Privada e do Estado”. Engels afirma que o Estado é um produto da sociedade
que atingiu um determinado grau de desenvolvimento. Parte-se do pressuposto que o
Estado nasceu para assegurar a criação d novas riquezas e também o reconhecimento da
aquisição da propriedade. “[...] uma instituição que, em uma palavra, não só perpetuasse
a nascente divisão da sociedade em classes, mas também o direito de a classe possuidora

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explorar a não possuidora e o domínio da primeira sobre a segunda. E essa instituição
nasceu. Inventou-se o Estado” (ENGELS, 1986, p. 140).
A crença nessa origem tem dois reflexos importantes na teoria marxista sobre o
Estado, a primeira delas é a qualificação do Estado como um instrumento da burguesia
para exploração do proletariado. A segunda é que não tendo existido o Estado nos
primeiros tempos da sociedade, este também poderá ser extinto.
a.4) Origem no desenvolvimento interno da sociedade. De acordo com esta
teoria, o Estado nasce da necessidade natural da sociedade a partir do grau de
complexidade que ela vai adquirindo. Quando as sociedade se mantêm
simples ou poucos desenvolvidas não há a necessidade de um Estado para
organiza-las. Sendo assim, não há influência de fatores externos à sociedade,
o próprio desenvolvimento espontâneo da sociedade é quem dá origem ao
Estado. O principal representante dessa corrente é Robert Lowie.
b) Teorias que sustentam a formação contratual dos Estados, apesar de
divergirem entre si em relação as causas, crenças em que foi a vontade de
alguns homens ou de todos. De maneira geral, os adeptos dessa corrente
defendem a tese de uma criação contratualista do Estado, que foi feita com
base na vontade dos homens.
No que diz respeito ao aparecimento do Estado de forma derivada, há duas
principais origens de novos Estados e são elas: o fracionamento e a união de Estados.
No fracionamento dos Estados, há o território de um Estado que se desmembra e
a partir daí surgem novos Estados. Foi este o processo que se deu com os territórios
coloniais, ainda existentes no século XX, que passaram a ser unidades independentes e
adquiriram o estatuto de Estados.
Outro fenômeno menos comum é a separação de uma parte do território de um
Estado para que este constitua um novo Estado, este fenômeno geralmente ocorre por
meios violentos, quando há movimentos separatistas. Um exemplo de fracionamento
pacífico foi o que ocorreu em Cingapura, quando este ganhou independência da Malásia
no ano de 1965.
Outro processo típico de formação derivada é a união de Estados, nesse caso há a
doção de uma Constituição comum que faz desaparecer os Estados preexistentes que
aderiram à União. Nesse caso, o que tem sido mais comum é a união através da
constituição de federações, “preferindo-se esta forma porque, não obstante submeter
todos os componentes a um poder central único, bem como a uma Constituição comum,

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permite a preservação das autonomias locais e das características socioculturais de cada
componente da federação” (DALLARI, 2016, p. 65).
Por último, além dos processos típicos aqui referidos, é preciso lembrar que,
vez ou outra, por motivos excepcionais, pode-se dar a criação de novos Estados
por formas atípicas, não usuais e absolutamente imprevisíveis. Assim, por
exemplo, depois de grandes guerras as potências vencedoras, visando
assegurar o enfraquecimento permanente dos países vencidos, ou procurando
ampliar o seu próprio território, procedem a uma alteração dos quadros
políticos, não raro promovendo a criação de novos Estados, em partes de
território de um ou mais dos vencidos. Um fenômeno atípico ocorrido no
século XX foi a criação de dois Estados alemães – A República Democrática
Alemã e a República Federal Alemã - ,em lugar do único Estado alemão
existente antes da II Guerra Mundial. Terminada a guerra, em 1945, a
Alemanha vencida tinha seu território ocupado pelos vencedores, a União
Soviética, no lado oriental, e os Estados capitalistas, no lado ocidental. No ano
de 1949 a situação de ocupação foi substituída pela criação de dois novos
Estados, a República Democrática Alemã e a República Federal da Alemanha
o que perdurou até 1989, quando ocorreu a reunificação da Alemanha,
desaparecendo a República Democrática e ressurgindo um único Estado.
Como exemplos de ocorrências atípicas poderiam ser lembrados também o
Estado da Cidade do Vaticano e o Estado de Israel (DALLARI, 2016, p. 65-
66).

3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO

Nós já trabalhamos com as possíveis origens do Estado, sobre a época em que


surgiram e os possíveis motivos que levam os Estados a surgirem, agora veremos a
evolução histórica do Estado. Neste ponto, deve ficar claro que para fins didáticos,
veremos modelos de Estados ao longo da história, porém, não é possível determinar com
precisão o início dos Estados, principalmente porque há opiniões diversas em relação
aquando de fato os Estados começaram a se estruturar. Se pensarmos que os Estados
somente foram constituídos na Idade Moderna, não poderíamos falar sobre Estados na
antiguidade, por isso, essa evolução histórica é construída de forma didática.
Será realmente possível, com objetividade, o estabelecimento de tipos de
Estados? Essa possibilidade foi demonstrada por Jellinek, constituindo, aliás,
uma de suas principais contribuições para Teoria Geral do Estado. Seu ponto
de partida é que todo fato histórico, todo fenômeno social oferece, além de suas
semelhança com outros, um elemento individual que os diferencia dos demais,
por mais análogos que sejam. Dentro da variedade das coisas humanas há algo
de permanente de independente das particularidades individuais. Por métodos
científicos é possível isolar, sem perder a noção de unidade e continuidade,
certos fenômenos sociais ou ainda alguns de seus aspectos particulares.
Mediante esse isolamento consegue-se excluir grande parte do individual e,
relacionando-se o particular com o geral, faz-se ressaltar este último. Por esse
mesmo critério, pode-se procurar, de início, o conhecimento dos Estados
particulares, descrevendo suas singularidades, tanto por seus aspectos
histórico-políticos, quanto pelos jurídicos. Mas um Estado particular não é, em
qualquer sentido, um fenômeno isolado, mas, de maneira mais ou menos
consciente, influíram sobre ele as relações atuais e pretéritas dos demais
Estados, ou seja, a evolução total das instituições dos Estados. E o problema

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Formação histórica do Estado Moderno
de uma teoria geral do Estado consiste, justamente, em buscar os elementos
típicos nos fenômenos do Estado e as relações em que se encontram
(DALLARI, 2016, p. 67-68).

Com pequenas variações, a doutrina tem tratado desse assunto compreendendo as


seguintes fases: Estado antigo, Estado Grego, Estado Romano, Estado Medieval e Estado
Moderno.

A)Estado antigo
No âmbito dos Estados antigos, encontramos as monarquias orientais até o Estado
romano e grego. Nestes Estados não havia uma separação clara entre o pensamento
político da religião, da moral, filosofia ou doutrina econômicas. Há duas marcas
fundamentais desses Estados: a natureza unitária a religiosidade. Via de regra, o Estado
antigo está sempre inserido no contexto de uma unidade geral, sem quaisquer divisões
interiores como, por exemplo, territorial ou de funções.
No que diz respeito ao fato religioso, ele é bastante marcante nestes Estados,
qualificados como Estados Teocráticos. Na Teocracia há uma estreita relação entre o
Estado e a divindade, sendo que esta relação pode ser definida de duas formas:
a) quando o governante se assemelha a divindade, dando ao Estado um caráter de
objeto, submetido a um poder estranho e superior a ele; b) quando o governante está
vinculado a vontade divina, sendo apenas um veículo desta vontade e submetendo-se a
ela.

A.1) Estado Grego

Fonte: Flickr (2022).


Embora alguns autores falem sobre um Estado Grego, na verdade, não se tem
notícia da existência de um Estado único que englobe toda a civilização helênica. Pode-

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se falar genericamente de um Estado Grego observando as suas principais características
que foram comuns a todos os Estados que floresceram da cultura helênica.
Realmente, embora houvesse diferenças profundas entre os costumes adotados
em Atenas e Esparta, dois dos principais Estados gregos, a concepção de
ambos como sociedade política era bem semelhante, o que permite a
generalização. A característica fundamental é a cidade-Estado, ou seja, a polis,
como sociedade política de maior expressão. O ideal visado era a
autossuficiência, a autarquia [...]. Essa noção de autossuficiência teve muita
importância na preservação do caráter de cidade-Estado, fazendo com que,
mesmo quando esses Estados efetuaram conquistas e dominaram outros povos,
não se efetivasse expansão territorial e não se procurasse a integração de
vencedores e vencidos numa ordem comum (DALLARI, 2016, p. 71).

No Estado Grego, apesar de existir a democracia, essa democracia era possível a


uma faixa restrita da população – os cidadãos - que participavam das decisões políticas.
Essa pequena parte da população fazia parte da elite que tomava as decisões a respeito de
assuntos de caráter público.

A.2) Estado Romano

Fonte: Flickr (2022).


O Estado Romano passou por modificações através do tempo, ele teve início com
um pequeno agrupamento humano e experimentou várias formas de governo, até chegar
ao ápice na tentativa de constituir um império mundial.
Apesar do longo tempo decorrido, desde a fundação de Roma em 754 a.C. até a
morte de Justiniano em 565 da era cristã, Roma sempre manteve as características básicas
de cidade-Estado.

Uma das peculiaridades mais importantes do Estado Romano é a base familiar


da organização, havendo mesmo quem sustente que o primeiro Estado, a
civitas, resultou da união de grupos familiares (as gens), razão pela qual
sempre se concederam privilégios especiais aos membros das famílias

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patrícias, compostas pelos descendentes dos fundadores do Estado. Assim
como no Estado Grego, também no Estado Romano, durante muitos séculos, o
povo participava diretamente do governo, mas a noção de povo era muito
restrita, compreendendo apenas uma faixa estreita da população. Como
governantes supremos havia os magistrados, sendo certo que durante muito
tempo as principais magistraturas foram reservadas às famílias patrícias
(DALLARI, 2016, p. 71).

Aos poucos, outras camadas da população também foram conquistando direitos,


sem que, até o final, desaparecessem a base familiar e a ascendência de uma nobreza
tradicional. “[...] nos últimos tempos, quando já despontava a ideia de Imperio, que seria
uma das marcas do Estado Medieval, foi que Roma pretendeu realizar a integração
jurídica dos povos conquistados, mas, mesmo assim, procurando manter um sólido núcleo
do poder político” (DALLARI, 2016, p. 72).

B) Estado Medieval

Fonte: FLICKR (2022).


Já com a queda do Império Romano por conta das invasões bárbaras que
buscavam riquezas, o Estado Romano acabou passando por algumas modificações. Os
territórios que eram conquistados por outros povos tentavam manter o poder sobre aquele
território conquistado.
Cada grande porção de terra era considerada um pequeno reino e entregue a
alguém de confiança do conquistador, quer fosse um general de seu exército
quer fosse um ‘traidor’ dos conquistados em troca de fidelidade, ajuda militar
e pagamento tributário. Surgem nessa época os chamados feudos. (PINTO,
XX, p. 230).

Com a divisão territorial, houve grandes dificuldades de controle e exercício de


um poder único. Sendo assim, houve um ambiente propício para o ressurgimento do poder

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de origem divina que havia lá nos Estados Antigos. A Igreja Romana deu ao papa uma
grande parcela do poder temporal ao lado do poder espiritual que este já exercia. O rei,
para que fosse considerado uma autoridade, deveria ser coroado pelo papa, esse é um
grande exemplo do poder que a religião teve no desenvolvimento do Estado na Europa
no período medieval.
O cristianismo vai ser a base da aspiração à universalidade. Superando a ideia
de que os homens valiam diferentemente, de acordo com a origem de cada um,
faz-se uma afirmação de igualdade, considerando-se como temporariamente
desgarrados os que ainda não fossem cristãos. Afirma-se desde logo a unidade
da Igreja, num momento em que não se via claramente uma unidade política.
Motivos religiosos e pragmáticos levaram à conclusão de que todos os cristãos
deveriam ser integrados numa só sociedade política. E , como havia a aspiração
a que toda a Humanidade se tornasse cristã, era inevitável que se chegasse à
ideia de Estado universal, que incluísse todos os homens, guiados pelos
mesmos princípios e adotando as mesmas normas de comportamento público
e particular (DALLARI, 2016, p. 73).

Considerando as invasões bárbaras, o feudalismo e o cristianismo, temos que a


caracterização do Estado Medieval serviu mais como uma aspiração do que como uma
realidade, havia o poder exercido pelo Imperador que acaba sendo fracionado em uma
pluralidade de poderes menores, sem hierarquia definida. Além disso, havia uma
multiplicidade de ordens, a ordem imperial, a ordem eclesiástica, o direito das monarquias
inferiores, as ordenações dos feudos e as corporações de ofícios que surgiram mais no
final da Idade Média. Esse fracionamento era resultado da instabilidade política,
econômica e social que as constantes invasões e tentativas de manutenção de poder
geraram na época.

C)O ESTADO MODERNO

Fonte: FLICKR (2022).

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As deficiências da sociedade política medieval contribuíram para construção e
consolidação do Estado moderno. A busca pela unidade que foi uma aspiração de Roma
na antiguidade, não foi alcançada no Estado Medieval, com o aumento de proprietários
de terra e com a cultura de subsistência sendo cada vez mais comum, o sistema feudal
não ofereceu bases para integração. Além disso, os senhores feudais não toleravam mais
as aventuras dos Monarcas que impunham grandes taxações e mantinha um estado de
guerra constante.

Isso tudo foi despertando a consciência para a busca da unidade, que afinal se
concretizaria com a afirmação de um poder soberano, no sentido de supremo,
reconhecido como o mais alto de todos dentro de uma precisa delimitação
territorial. Um testemunho histórico do surgimento dessa consciência são os
tratados de paz de Westfália, região do oeste da Alemanha, celebrados em
1648. Nesse ano foram assinados, nas cidades de Osnabrück e Münster, dois
tratados, que puseram fim à chamada “guerra dos trinta anos”, uma sequência
de conflitos armados envolvendo várias disputas territoriais. Os signatários dos
tratados, Império Germânico, França, Províncias Unidas e Espanha,
reconheceram os limites territoriais de cada um dos outros, comprometendo-
se a respeitá-los e a reconhecer a supremacia dos respectivos governos dentro
daqueles limites. Os tratados de paz de Westfália tiveram o caráter de
documentação da existência de um novo tipo de Estado, com a característica
básica de unidade territorial dotada de um poder soberano. Era já o Estado
Moderno, cujas marcas fundamentais, desenvolvidas espontaneamente, foram-
se tornando mais nítidas com o passar do tempo e à medida que, claramente
apontadas pelos teóricos, tiveram sua definição e preservação convertidas em
objetivos do próprio Estado (DALLARI, 2016, p. 77).

Os autores divergem em relação aos elementos fundamentais de compõe o Estado


Moderno, contudo, de acordo com Dallari (2016) de modo geral há quatro notas
características que podem ser observadas, sendo elas: soberania, território, povo e
finalidade. A noção de uma ordem jurídica já está implícita no Estado Moderno, uma vez
que todas as sociedades são ordens jurídicas. No que diz respeito a finalidade, é implícita
a qualificação de sociedade política.

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3. SOBERANIA E O ESTADO

Fonte: FLICKR (2022).


Basicamente, os elementos que constituem o Estado são: povo, território e
governo, contudo, há autores que colocam um quarto elemento essencial a própria
constituição do Estado, sendo ela a soberania, palavra essa que já foi muito utilizada na
aula de hoje e agora veremos esse conceito mais de perto.
De acordo com Maluf (2018, p. 43) “Soberania é uma autoridade superior que não
pode ser limitada por nenhum outro poder”. Dessa afirmação é possível extrair algumas
conclusões, pensando no nosso Estado brasileiro, todos os estados que compõe a
federação não são soberanas, pois cada um dos estados (Paraná, São Paulo, Pernambuco,
Rio de Janeiro, etc) se submetem a um poder maior que é justamente o nosso Governo
Federal. O primeiro teórico que trabalhou com o termo soberania foi Jean Bodin, jurista
francês, quando afirmou que a soberania é um poder absoluto e perpétuo.
Tendo afirmado que a soberania é um poder absoluto e perpétuo, cuida Bodin
de tornar mais claro o sentido dessas duas características, estendendo-se mais
na explicação da primeira. Sendo um poder absoluto, a soberania não é
limitada nem em poder, nem pelo cargo, nem por tempo certo. Nenhuma lei
humana, nem as do próprio príncipe, nem as de seus predecessores podem
limitar o poder soberano. Quanto às leis divinas e naturais, todos os príncipes
da Terras lhes são sujeitos e não está em seu poder contrariá-las, se não
quiserem ser culpados de lesar a majestade divina, fazendo guerra a Deus, sob
a grandeza de quem todos os monarcas do mundo devem dobrar-se e baixar a
cabeça com temor e reverência. São essas, portanto, as únicas limitações ao
poder do soberano. Como um poder perpétuo, a soberania não pode ser
exercida com um tempo certo de duração. Esclarece Bodin que, se alguém
receber o poder absoluto por um tempo determinado, não pode chamar
soberano, pois será apenas depositário e guarda do poder. Acrescenta ainda
que a soberania, via de regra, só pode existir nos Estados aristocráticos e
populares, pois nestes casos, como titular do poder é uma classe ou todo o
povo, há possibilidade de perpetuação. Nas monarquias só haverá soberania se
forem hereditárias (DALLARI, 2016, p. 83).

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Após Bodin outros autores também trabalharam com o conceito de
soberania como, por exemplo, Rosseau. Com o passar do tempo, o conceito de soberania
se alargou tanto e tomou formas variadas que “acabou sendo prejudicado, tornando-se
cada vez menos preciso e dando margem a todas as distorções ditadas pela conveniência”
(DALLARI, 2016, p. 80). Apesar disso, vamos tratar dos elementos principais que
compõe a soberania, para que assim, possamos entender como ela é importante para o
estabelecimento e manutenção do próprio Estado.
1.Quanto às características, pode-se dizer que a soberania é una, ou seja, ela não
admite que em um mesmo Estado coexistam duas soberanias. Ela é indivisível, não há
como dividir a soberania, este atributo está ligado a sua unidade. A soberania é
inalienável, “aquele que a detém desaparece quando ficar sem ela, seja o povo, a nação
ou o Estado” (DALLARI, 2016, p. 86). Por fim, a soberania é imprescritível pois para
que ela seja realmente superior não pode ter um prazo de duração. Todo poder soberano
visa se perpetuar e só se extingue quando é forçado por algo superior a ele.
2.Quanto à justificação e titularidade da soberania, de maneira geral, as teorias
que justificam o poder soberano podem ser divididas em dois grandes grupos com outras
divisões:
2.1 Teorias teocráticas. Elas têm como ponto de partida o princípio cristão de que
todo o poder vem de Deus. Estas teorias foram muito fortes no período medieval, a ideia
de que o direito divino era sobrenatural e o próprio Deus concedia o poder ao príncipe,
ou , o direito divino providencial, quando sustentavam que a soberania vem de Deus,
como tudo o que há na terra, porém, ela vem diretamente do povo e, por isso, apresenta
imperfeições. Em ambos os casos, o titular da soberania era uma única pessoa, o monarca.
2.2 Teorias democráticas. Estas teorias sustentam que a soberania vem do próprio
povo e apresentam três fases sucessivas. Na primeira a soberania tem como titular o
próprio povo situado ainda fora do Estado. Na segunda, a titularidade da soberania é
atribuída à nação, que é o povo concebido em uma ordem integrante. A consolidação
dessa titularidade se deu com as concepções políticas do final do século XIX e início do
século XX. Por fim, chega-se à afirmação de que a soberania é do próprio Estado, esta
concepção se consolida no século XX. Neste caso, se a soberania é um direito, o seu titular
só pode ser uma pessoa jurídica. “Mas, como ele participa do Estado ou é o elemento
formador da vontade deste, a atribuição da titularidade da soberania ao Estado atende às
exigências jurídicas, ao mesmo tempo que preserva o fundamento democrático”.
(DALLARI, 2016, p. 88).

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3. Por fim, quanto ao objeto e significação, verifica-se que o poder soberano se
exerce sobre os indivíduos que compõe o Estado. Neste ponto é importante fazer uma
ressalva, o poder soberano do Estado incide sobre os seus cidadãos mesmo que estes
estejam fora dos limites territoriais dele, contudo, em relação aos que não são cidadãos,
o poder soberano do Estado em que estes se encontram, só é exercido quando estes estão
dentro do seu território.
Por tudo quanto foi visto, pode-se concluir que o conceito de soberania, tendo
sido de índole exclusivamente política na sua origem história, já se acha
disciplinado juridicamente, quanto à sua aquisição, seu exercício e sua perda.
Essa afirmação do poder soberano como poder jurídico é de evidente utilidade
prática, constituindo mais um importante obstáculo ao uso arbitrário da força.
Como é natural, e os fatos o comprovam constantemente, é absurdo pretender
que a soberania tenha perdido seu caráter político, como expressão de força,
subordinando-se totalmente a regras jurídicas. Entretanto, sua caracterização
como um direito já tem sido útil, quando menos para ressaltar o caráter
antijurídico injusto da utilização da força incondicionada, para a solução de
conflitos de interesses dentro de uma ordem estatal ou entre Estados,
contribuindo para formação de uma nova consciência que repudia o uso
arbitrário da força (DALLARI, 2016, p. 89).

Via de regra, a soberania tem sido vista de duas formas distintas, como sinônimo
de independência, dessa forma, os Estados não se submetem uns aos outros e também
como forma de expressão de poder jurídico mais alto, no sentido de que dentro de seu
território, é ele quem tem direito de dar a decisão final sobre as questões jurídicas. A
soberania é um conceito importante para o Estado, pois dá a ele o poder para governar e
se ordenar de modo independente.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 33. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.

ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 3.


ed. São Paulo: Global, 1986.

MALUF, Sahid. Teoria geral do Estado.35. ed. São Paulo: Saraiva, 2018

PINTO, Kleber Couto. Curso de Teoria Geral do Estado: fundamentos do direito


constitucional positivo. São Paulo: Atlas, 2013.

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