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APRECIAÇÃO MUSICAL – AULA 6

FORMA E ESTRUTURA (I)


Os compositores de música erudita se valem de uma série variável de atributos
para se manifestarem. Podemos resumir tais atributos, do ponto de vista formal,
em três:
Estrutura, expressão e formação timbrística. Por estrutura, entende-se a
“arquitetura de construção” utilizada para compor a narrativa lógica; por expressão
entende-se os elementos harmônicos, rítmicos e melódicos (incluindo dinâmica e
agógica) reunidos dentro do discurso musical; e por formação timbrística entende-
se o instrumento ou conjunto instrumental escolhido pelo compositor. Em termos de
“arquitetura musical”, podemos delimitar dois conceitos distintos: o de
ESTRUTURA propriamente dita, que abrange a totalidade da música e o que
poderiam se comparar aos “tijolos de uma construção”: estruturas menores que,
juntas, construirão os edifícios musicais. Esses “tijolos” são a FORMA DA MÚSICA.
Embora sejam flexíveis, a história enfatizou determinados padrões que são
conhecidas como "Formas Musicais". São elas que possibilitam a visão discursiva
completa de uma obra, e que, se expandidas, sustentam-se sem problemas sobre
longas narrativas sinfônicas como por exemplo, uma sinfonia de Mahler (que chega
a durar mais de uma hora e meia). Vejamos algumas formas:
FORMA BINÁRIA
É a mais básica de todas as formas musicais. Constitui-se, como o próprio nome
diz, de duas seções, A e B, uma após a outra, no esquema A-B. As duas partes
mantém entre si uma forte sensação de unidade, mais do que nas diversas formas
seccionadas. Mesmo assim, é possível escutar nitidamente a separação entre elas.
A forma A-B foi muito utilizada no Barroco, principalmente nas obras curtas para
cravo. Exemplo : Minueto em G – Bach
FORMA TERNÁRIA
Esta é muito mais utilizada que a binária, e é também chamada de A-B-A. Como se
pode deduzir, ela é constituída de 3 seções, e não duas. Porém a 3a. seção, a
última, nada mais é que a repetição da primeira. Ou seja, são duas seções
temáticas, e a repetição da primeira. A segunda seção neste caso é uma seção
constrastante, geralmente em outra tonalidade. Ex: – Dança Russa – Tchaikovsky.

RONDÓ
O Rondó vem da dança francesa 'Rondeau' (literalmente 'Roda'), de caráter circular,
em que um tema é sempre retomado depois de passar por uma série de variações.
O rondó seria assim: Tema A - Tema B - Tema A - Tema C - Tema A e final (A-B-A-
C-A). Cada seção intermediária, ou episódio, possui algum tipo de constraste à
primeira seção A. Em geral, os temas apresentados nos episódios do rondó são
novos, de tonalidade, dinâmica e ritmo diferentes que o da seção principal. Em
termos práticos, o número de episódios de um rondó pode ser infinito. Mas eles
tendem à monotonia com facilidade, razão pela qual o rondó de 3 episódios é o
mais visitado. Ex: Te Deum de Charpentier.

TEMA E VARIAÇÕES:
Esta é uma forma mais livre, e como o nome prediz, trata-se de um tema que
sofrerá variações constantes, cujas seções também podem ser infintas dependendo
da capacidade do compositor em variar o tema. Diferentemente das formas
anteriores, o tema e variações sustenta-se num único tema, ou seja, todas as
seções são desdobramentos deste primeiro tema, mas a maneira de contrastá-lo
pode variar enormemente. São exemplos típicos de tema-e-variações as variações
Diabelli de Beethoven, as Variações Goldberg de Bach, e outras.

FORMA SONATA:
A forma sonata é uma das mais complexas e bem acabadas da música. Talvez
metade da música erudita já escrita no mundo tenha na forma-sonata sua estrutura
arquitetônica solidamente edificada. É uma forma que surgiu no classicismo,
desenvolvida principalmente pelos filhos de J.S. Bach, notadamente por Carl Phillip
Emanuel, e consolidada pelo uso por vários outros autores, como Stamitz,
Boccherini, Dittersdorf e principalmente, Joseph Haydn, autor de nada menos que
104 sinfonias hoje conhecidas e consideradas autênticas, mais um número
elevadíssimo de música de câmara, sonatas para piano, óperas e oratórios. Sua
produção instrumental é mais relevante que a vocal (embora esta não deixe a
desejar em termos qualitativos) e a grande maioria de suas obras se utilizam da
forma-sonata. Ela não serve apenas de estrutura para sonatas, mas para qualquer
formação possível, duetos, trios, quartetos, quintetos, aberturas, concertos e
sinfonias. Por aí bem se vê que seu uso foi (e ainda é) amplo, e, curiosamente,
mesmo seguindo um padrão rígido de disposição, dificilmente é monótono. É uma
das formas mais perfeitas que já inventaram.
A forma-sonata clássica descende diretamente da abertura da suíte barroca e se
estrutura da seguinte maneira:
I) Uma introdução lenta, mas não obrigatória, muitos compositores prescindem
dela;
II) Exposição do tema principal (A), rápido daí em diante;
III)Exposição do segundo tema (também conhecido como contra-tema, B)
geralmente em constraste com o primeiro;
IV)Repetição desde a exposição do tema principal (A);
V) Desenvolvimento: Uma das partes mais elaboradas da sonata, onde os dois
temas surgem muitas vezes em contraponto com tonalidades diferentes e variações
rítmicas diversas, gerando certa instabilidade e como que "pedindo" a volta da
tonalidade e do tema principal;
VI)Reexposição do tema e contra-tema (A e B) com variações e preparação para o
final, conhecido como coda;
VII) Coda. Reafirma o tema na tonalidade do início e termina na tônica;
Este esquema pode ser reduzido em:
Exposição / Desenvolvimento / Reexposição / Coda
Grande parte dos primeiros movimentos das sonatas e sinfonias clássicas,
românticas e até modernas seguem, rigorosamente ou não, este esquema.
Exemplos:
Joseph Haydn - Várias Sinfonias, em especial as últimas, 94, 96, 100-104.
W.A.Mozart - Sinfonias no.40 e 41 <Júpiter>
Beethoven - Sinfonias (todas as 9, mais nítidas nas 2 primeiras)
Schubert - Sinfonias (todas, mas nitidamente as 4 primeiras)
Schumann - Sinfonia no.1 < Primavera>
Brahms - Sinfonia no.1
Dvórak - Sinfonia no.9

MICROFORMAS : MOTIVO – FRASE – SENTENÇA – PERÍODO

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