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FACULDADE DE DIREITO DO VALE DO RIO DOCE

NÚCLEO DE CRIMINOLOGIA PENAL E EXECUÇÃO PENAL “VALÉRIA VIEIRA ALVES”


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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES – MG

Autos nº.: 0105.16.018.910-3

SIDNEY LUIZ DA SILVA, já qualificado nos autos, por um de seus defensores ao final
assinado, intimado, vem apresentar suas RAZÕES RECURSAIS em relação ao inconformismo
demonstrado por ocasião de sua condenação pelo Egrégio Tribunal do Júri desta comarca.
Recebida esta e ouvido o Ministério Publico para suas Contra Razões, requer a subida
dos autos para Superior Instancia objetivando a analise do apelo apresentado.

Governador Valadares 11 de Junho de 2018.

Luiz Alves Lopes


OAB/MG 45.286

RAZÕES RECURSAIS

Ínclitos Julgadores,
Egrégia Câmara.

Trata-se de recurso de apelação intentado por SIDNEY LUIZ DA SILVA com arrimo no
disposto no artigo 593, III, alíneas “c” e “d” do Código de Processo Penal, inconformado com seu
julgamento pelo Egrégio Tribunal do Júri e pena fixada pelo Juiz togado.

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O Conselho de Sentença além de reconhecer a autoria e materialidade também


recepcionou as qualificadoras dos incisos II e IV do parágrafo 2º, do artigo 121 do Código Penal
vigente.
É o simples relatório.

DA EXACERBAÇÃO DA PENA APLICADA:

Registra a história do direito, precedentes antigos de decisões que não precisavam ser
motivadas. A partir da consagração no ocidente do racionalismo iluminista tal concepção alterou-
se. Já no final do século XVIII algumas legislações passam a adotar a necessária motivação das
sentenças. Esta surge como conquista liberal e garantia do cidadão no Estado de Direito, a qual
remonta à revolução francesa. A obrigatoriedade de motivação constituiria um traço marcante
das legislações que se seguiram.

Dado relevante é a atribuição da dignidade constitucional, em mais de um país, ao dever,


imposto aos juízes, de motivar as decisões. O fenômeno não esgota sua significação no
acréscimo de estabilidade que assim imprime à norma, colocada ao abrigo das vicissitudes
legislativas em nível ordinário; sugere, ademais, visualização diversa da matéria, pela adequada
valoração de seu enquadramento num sistema articulado de garantias fundamentais.

Entre nós, a partir de 1988, tal princípio processual também foi constitucionalizado.
Encontra-se consagrado no inciso IX do Art. 93, assim vazado: “todos os julgamentos dos
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes.”

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Se o dever de motivar é consagrado constitucionalmente e, também, na legislação
infraconstitucional de cunho processual, qual o fundamento a justificar a sua imposição em
julgados? Com o fim do sistema tarifado ou legal e a adoção do sistema do livre convencimento,
há a necessidade de estabelecer parâmetros para, garantindo o poder discricionário do
juiz na busca da verdade real, limitar o eventual arbítrio que poderia surgir da falta de motivação.

Além da motivação entendida como garantia do Estado Democrático de Direito, para a


tutela da liberdade individual, avultam aspectos mais puramente técnicos que se relacionam, de
forma específica, com o direito infraconstitucional. Relaciona-se com o direito penal que, em
nossos dias, orienta-se no sentido da realização da justiça material, ampliando-se, por isso
mesmo, os poderes discricionários do juiz na verificação do merecimento concreto da pena (em
caso de decreto condenatório). Em contrapartida, maior rigor deve haver na motivação da pena
imposta. Relaciona-se, ainda, com o direito processual, posto que é da própria essência de
nosso processo a motivação dos decisórios, seja para permitir sua impugnação, seja para
uniformizar os julgados.

A doutrina clássica entende a sentença como fruto de uma delicada e complexa operação
lógica em que o juiz manifesta por escrito o raciocínio por ele seguido e que tem suas raízes na
consciência moral do julgador. A motivação, enquanto rigidamente estruturada segundo uma
combinação lógica necessária, surge principalmente como um modo de impor a decisão,
reforçando a autoridade substancial e formal, posto que tende a demonstrá-la, mais que justificá-
la, pondo em evidência seu caráter racional. “Assim considerada, afigura-se correta a asserção
de que, do ponto de vista subjetivo, a motivação da sentença tem por escopo imediato
demonstrar ao próprio juiz, antes mesmo do que às partes, a “ratio scripta” que legitima o ato
decisório, cujo teor se encontrava em sua instituição”.

A exata motivação do quantun da pena aplicada é um elemento de garantia do


condenado. Este sabe que sua pena não exorbitará os parâmetros que escapam ao bom senso,
quer por seu crime ter causado comoção popular, quer por uma inclinação do juiz em ser mais
rigoroso em determinados crimes. Diz Hélio Tornaghi, no seu “Curso de Processo Penal”, que“ O

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Juiz tem que dizer também por que aplica determinada pena, especialmente no que respeita à
quantidade”.

Na consideração das circunstâncias legais e judiciais, confere o Código ao juiz o amplo


poder discricionário. Essa discricionariedade não pode ser confundida com arbitrariedade. Por
isso o juiz tem a obrigação de motivar o exercício do poder discricionário que lhe foi conferido. É
de mister que o julgador deixe dito como e por que chegou à fixação ou dosagem das penas que
impôs na sentença: como e por que reduziu certa quantidade de pena e não outra; como e por
que segue este caminho ou outro distinto. A sentença não é um ato de fé, mas um
documento de convicção racionada e as fases do cálculo de pena devem ser muito claras para
que a defesa e Ministério Público tenham ciência do julgado que possa dele recorrer. O réu,
especialmente para ele, não tem apenas o direito de saber por que foi lhe imposta esta ou
aquela pena.

No vertente caso, findo o trabalho de atribuição dos doutos jurados que figuraram no
conselho de sentença, coube a magistrada desenvolver seu trabalho de raciocínio, optando por
um “traçado” na conceituação e valoração das qualificadoras recepcionadas. Aqui diverge e se
insurge o acusado/apelante, via defensor. As qualificadoras implicaram na tipificação do
homicídio qualificado, não importando quantas.

Na apreciação das circunstâncias judiciais, sem grande esforço, verifica-se serem elas
favoráveis ao acusado/apelante, justificando assim o mínimo legal.

Presente atenuantes, foram elas desconsideradas por imperativo legal, porém a


motivação para a majoração não se justifica, esperando que os ínclitos julgadores façam a
moldagem aplicável.

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Finalmente, considerando o disposto no artigo 599 do Código de Processo Penal,


manifesta o acusado/apelante o desejo de que os ínclitos julgadores examinem o processo em
sua plenitude, com a hipótese do afastamento das qualificadoras recepcionadas.

Com tais razões, espera o apelante que egrégia câmara reveja a sentença de primeiro
grau, moldando-a aos princípios elementares do direito, atentando ainda para a tão decantada e
necessária política criminal.

Governador Valadares 11 de Junho de 2018.

Luiz Alves Lopes


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