Você está na página 1de 4

“Eles carregavam tudo o que podiam suportar, e mais um pouco, incluindo

um temor silencioso pelo terrível poder das coisas que carregavam.”


(The O’Brien, The Things They Carried)

https://www.ted.com/talks/joelle_rabow_maletis_the_psychology_of_post_traumatic_stress_disorder

| A psicologia do distúrbio de stress pós-traumático – Joelle Rabow Maletis

Muitos de nós passamos por algum tipo de trauma durante a nossa vida.
Às vezes, escapamos sem efeitos de longo prazo. Mas, para milhões de
nós, essas experiências perduram, causando sintomas como flashbacks,
pesadelos e pensamentos negativos que interferem na vida cotidiana. Esse
fenômeno, chamado de distúrbio de estresse pós-traumático, ou PTSD
(sigla, em inglês, de distúrbio de stress pós-traumático), não é uma falha
pessoal; em vez disso, é um mau funcionamento tratável de certos
mecanismos biológicos que nos permitem lidar com experiências
perigosas.
Para entender o PTSD, primeiro precisamos entender como o cérebro
processa uma ampla gama de dificuldades, incluindo a morte de um ente
querido, violência doméstica, ferimento ou doença, abuso, estupro, guerra,
acidentes de carro e desastres naturais. Esses eventos podem trazer
sentimentos de perigo e impotência, que ativam o sistema de alarme do
cérebro, conhecido como a resposta “lutar-fugir-congelar”. Quando esse
alarme soa, os sistemas hipotálamo, hipófise e adrenal, conhecidos, em
inglês, como eixo HPA, trabalham juntos para enviar sinais ao sistema
nervoso parassimpático. Essa é a rede que se comunica com as glândulas
adrenais e órgãos internos para ajudar a regular funções como frequência
cardíaca, digestão e respiração. Esses sinais iniciam uma cascata química
que inunda o corpo com vários hormônios do estresse diferentes,
causando mudanças fisiológicas que preparam o corpo para se defender.
Nossa frequência cardíaca e respiração aceleram e os músculos ficam
tensos.

Mesmo depois que uma crise passa, os níveis crescentes de hormônios do


estresse podem durar dias, contribuindo para sentimentos de agitação,
pesadelos e outros sintomas. Para a maioria das pessoas, essas
experiências desaparecem dentro de alguns dias a duas semanas à
medida que os níveis hormonais se estabilizam. Mas uma pequena
porcentagem das pessoas que sofrem traumas têm problemas
persistentes — às vezes desaparecendo temporariamente apenas para
ressurgir meses depois. Não entendemos completamente o que está
acontecendo no cérebro, mas uma teoria é que o hormônio do estresse
cortisol pode estar continuamente ativando a resposta
“lutar-fugir-congelar” enquanto reduz o funcionamento geral do cérebro,
levando a uma série de sintomas negativos. Esses sintomas geralmente se
enquadram em quatro categorias: pensamentos intrusivos, como sonhos e
flashbacks, evitando lembretes do trauma, pensamentos e sentimentos
negativos, como medo, raiva e culpa, e sintomas “reativos”, como
irritabilidade e dificuldade para dormir. Nem todo mundo têm todos esses
sintomas ou os experimenta com a mesma extensão e intensidade.
Quando os problemas duram mais de um mês, o PTSD é costumeiramente
diagnosticado. A genética, o excesso de estresse contínuo e muitos
fatores de risco, como doenças mentais preexistentes ou falta de apoio
emocional, provavelmente desempenham um papel importante em
determinar quem terá PTSD. Contudo, a causa subjacente ainda é um
mistério médico.

Um grande desafio de lidar com o PTSD é a sensibilidade aos gatilhos,


estímulos físicos e emocionais que o cérebro associa ao trauma original.
Esses gatilhos podem ser sensações cotidianas que não são
inerentemente perigosas, mas que provocam fortes reações físicas e
emocionais. Por exemplo, o cheiro de uma fogueira poderia evocar a
memória de estar preso em uma casa em chamas. Para alguém com
PTSD, essa memória ativa a mesma cascata neuroquímica do evento
original. Isso, por conseguinte, desperta os mesmos sentimentos de
pânico e impotência, como se a pessoa estivesse vivenciando o trauma
novamente.
Tentar evitar esses gatilhos, que às vezes são imprevisíveis, pode levar ao
isolamento. Isso pode fazer com que as pessoas se sintam invalidadas,
ignoradas ou incompreendidas, como se um botão de pausa fosse
pressionado em suas vidas enquanto o resto do mundo continua girando
ao seu redor.

Porém, existem opções. Se você acha que pode estar sofrendo de PTSD, o
primeiro passo é uma avaliação com um profissional de saúde mental que
pode encaminhá-lo para os diversos recursos disponíveis. A psicoterapia
pode ser muito eficaz para o PTSD, ajudando os pacientes a entender
melhor seus gatilhos. E certos medicamentos podem tornar os sintomas
mais administráveis, assim como as práticas de autocuidado, como
meditação e exercícios físicos regulares.

E se você notar sinais de PTSD em um amigo ou membro da família?


Apoio social, aceitação e empatia são essenciais para ajudá-los a se
recuperar. Deixe-os saber que você acredita em seu relato sobre o que
estão passando, e que você não os culpa por suas reações. Se eles
estiverem abertos a isso, incentive-os a buscar avaliação e tratamento.

O PTSD é chamado de “ferida oculta” porque não apresenta sinais físicos


externos. Mas, mesmo que seja uma desordem invisível, não precisa ser
silenciosa.

Transcrição revisada por: Ender Wolfgang.

Você também pode gostar