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O be-a-bá do blablablá: as primeiras palavras do bebê

Quando a dificuldade de comunicação de seu filho pode se transformar em uma


preocupação real?

Arte iG
Confira a idade limite para a criança dominar cada fonema
Desde o primeiro contato com o bebê, no momento de seu nascimento, uma das
principais alegrias de qualquer mãe ou pai é ouvir a primeira palavra que sairá da boca
de seu filho. Se será “mama” ou “papa”, tanto faz. O importante é que desde muito
cedo a comunicação entre pais e filhos pequenos seja estabelecida de maneira
efetiva, a fim de que antes mesmo de largar a fralda seu bebê já saia por aí rasgando
o verbo. E olha que isso é mesmo provável e possível.

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Não que antes mesmo de completar seu primeiro aninho os bebês estejam prontos
para sair por aí bradando o hino do time do coração de seu pai, ou cantando os
ingredientes da receita do bolo favorito da sua mãe. Mas uma coisa é verdade: quem
exercita, desde o momento do nascimento, a comunicação – ainda que inicialmente
gestual – com seus filhos, contribui para que eles estejam mais preparados para
encarar o desenvolvimento da comunicação oral nas primeiras etapas da vida.

“Muito antes da emissão das primeiras palavras, os bebês já estão familiarizados com
a linguagem e se expressam de diversas maneiras, como pelo choro e pela
movimentação corporal. O feto é capaz de ouvir, ainda que de forma atenuada, a partir
do quinto mês de vida intrauterina e desde as primeiras semanas de vida o bebê
prefere a voz humana entre outros sons, particularmente se essa voz for a materna”,
conta Rosa Resegue, presidente do departamento de Pediatria Ambulatorial e
Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo e coordenadora do
Projeto Desenvolver da Unifesp.

Até os 8 meses, o vínculo comunicativo que o bebê estabelece com o mundo ainda
não é intencional, mas é a primeira maneira que o cérebro encontra para comunicar
seus anseios e necessidades. Aos 9 meses, ele passa a usar gestos, movimentos do
corpo e vocalizações. E, entre 11 e 12 meses, a fala pode começar a surgir. O
cronograma não é regra, mas passar demais destes períodos para começar a esboçar
os primeiros fonemas pode ser um sinal de que seu filho está sentindo dificuldade para
aprender a se comunicar.

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Influências biológicas x ambiente

Junte as influências biológicas e culturais que a criança experimenta nos primeiros


anos de vida ao processo de maturação neurológica característico de seu crescimento
e você terá o sistema perfeito para ajudar a desenvolver em seu filho as habilidades
da linguagem e de muitas outras coisas. No entanto, se algum desses fatores
encontrar obstáculos para se completar, pode ser que leve um pouco mais de tempo
para seu bebê soltar o verbo.

Jaime Luiz Zorzi, fonoaudiólogo especializado em linguagem, doutor em educação e


autor, entre outros, do livro “Aprendizagem e Distúrbios da Linguagem” (editora
Artmed), conta que os fatores de retardamento das habilidades orais podem ser dos
mais variados. “Distúrbios funcionais, falhas neurológicas, problemas de
amadurecimento do sistema nervoso central, bem como surdez ou outros tipos de
deficiência auditiva podem ser grandes responsáveis por dificultar o processo de
aprendizagem da fala em crianças pequenas”, conta. Por isso, quando os primeiros
sinais de dificuldade ou desinteresse em comunicação aparecem, é necessário se
consultar com especialistas a fim de rastrear a verdadeira razão do problema.

Episódios de otite (inflamações do ouvido), tão frequentes nas primeiras fases da vida,
também podem contribuir para que o bebê tenha mais dificuldades na hora de
aprender a falar. O desenvolvimento da fala está diretamente relacionado à audição.
Como a infecção no ouvido pode acumular cera no ouvido da criança, ela não
consegue escutar corretamente a fala de seus pais e das outras pessoas, e tem mais
dificuldade de emitir sons que se pareçam com os deles.

De acordo com Anne Elise Vivo Rodrigues, fonoaudióloga e especialista em


Linguagem Infantil pela Universidade de São Paulo, o repertório de sons que a criança
adquire, e que vai inspirar sua própria fala, se desenvolve naturalmente de acordo com
cada ano que a criança completa. Fonemas com “B”, “M”, “P” e “N”, por exemplo, são
os mais fáceis de se adquirir. Como “mama” e “papa” são as palavras que a criança
mais escuta, e contêm os fonemas mais fáceis de se reproduzir (até 1 ano e meio), os
pais corujas de plantão podem se alegrar. Já encontros consonantais com “R” e “L”
são os mais complicados, sendo verdadeiramente assimilados apenas por volta dos 5
anos.

Sinal amarelo
No meio desse desenvolvimento, chamar “água” de “aga” aos 3 anos é normal. Os
pais devem começar a se preocupar apenas quando a criança mostrar desinteresse
pela comunicação. Se aos 2 anos de idade, período em que a criança interage com o
ambiente a pleno vapor, ela não se anima com a fala dos pais ou demonstra apatia
para se expressar, é hora de consultar um especialista.

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Confira a idade limite para a criança dominar cada fonema
E tome cuidado na intervenção. “Quanto mais afastada da interação, mais insegura a
criança se sente para interagir. Se ao invés de tentar corrigir a situação ludicamente os
pais pressionam o filho a falar direito, a criança se sente fragilizada e distanciada da
possibilidade de comunicação com o mundo”, explica Zorzi.

Por outro lado, estimular seu filho a falar errado, porque é “bonitinho” ouvi-lo dizer
“aga” no lugar de “água”, é um erro tão fatal quanto reprimi-lo. “É importante que os
pais, mesmo sem corrigirem a criança, falem de modo correto com ela evitando que as
pequenas trocas se perpetuem. Espera-se que até os 3 anos a criança tenha uma fala
que possa ser compreendida por todos e não apenas por seus pais e familiares”, diz a
pediatra Rosa Resegue.

Nem elogiar o erro, nem pressionar pelo certo. O ideal para continuar estimulando a
criança a exercitar novos fonemas é fazer com que a aprendizagem aconteça, desde
muito pequeno, pela interação natural entre pais e filhos. “Quando a criança é
pequena, por volta de 1 ano de idade, e sua comunicação ainda é mais gestual, não
basta dar na mão tudo o que ela aponta. É preciso falar para ela como cada objeto de
seu desejo ou necessidade se chama, para ela se acostumar com os sons”, sugere
Anne Elise. “Para as crianças em fase escolar, a ideia é sempre conversar sobre como
foi seu dia, o que ela fez, de modo que ela treine sua fala em conversas com a
família”, completa a fonoaudióloga.

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