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Liliane Müller1
Katia Cristina Schuhmann Zilio2
RESUMO
Este artigo pretende analisar discursivamente a peça publicitária "Ostrich" ("Avestruz") da Samsung,
compreendendo como o consumo pode ser influenciado pelos discursos que se organizam em torno
da ideia de oferta e procura. Os discursos publicitários transmitem valores, ideais, emoções, utilizando
recursos próprios da língua. Na peça em estudo há também a mobilização de conceitos da
Administração, como: empreendedorismo, liderança e motivação, que, se entrelaçam com noções da
Análise do Discurso, e, nos proporcionam uma interpretação pautada em como a ideologia capitalista
se faz presente no comercial e como ela nos influencia. O discurso do “eu posso” presente no comercial,
nos chama atenção pelo fato de tornar possível, coisas que biologicamente seriam impossíveis. O
objetivo é nos fazer acreditar que tudo está ao nosso alcance, desde que façamos uso da tecnologia
como aparato. O olhar do analista é crítico e busca analisar os efeitos de sentido que estão presentes
na textualidade. Os aspectos metodológicos que dizem respeito a este trabalho correspondem ao viés
da análise de discurso, de origem francesa mais precisamente de Michel Pêcheux. Concluímos que,
além de vender a marca, a empresa empreende um discurso que revitaliza o discurso capitalista.
ABSTRACT
This paper aims to discursively analyze the advertising piece "Ostrich" (Samsung's "Ostrich"),
understanding how consumption can be influenced by the discourses that are organized around the
idea of supply and demand. Advertising speeches convey values, ideals, emotions, using the language's
own resources. In the article under study there is also a mobilization of management concepts, such as:
entrepreneurship, leadership and motivation, that come into contact with the notions of Discourse
Analysis, and give us an interpretation based on how the capitalist ideology is not present and how it
influences us. The discourse of the non-commercial present "I can" calls us attention to the fact that it
makes things biologically impossible. The goal is to make us believe that everything is within our reach,
as long as we make use of technology as an apparatus. The analyst's view is critical and seeks to
analyze the effects of meaning and disposition in literature. The methodological methods that concern
the work corresponding to the means of discourse analysis, of French origin more precisely of Michel
Pêcheux. We conclude that in addition to selling a brand, a company undertakes a speech that
revitalizes the capitalist discourse.
Figura 2 - Print da peça Ostrich (Avestruz), da Samsung, criada por Leo Burnett, 2017 0m28s
Na figura 3 somos pegos por uma ave motivada a desenvolver sua habilidade
de voo, causando espanto e curiosidade nos que estão ao seu redor, deixando-os
sem entender nada. O discurso que se forma em torno desta cena, nos faz refletir
sobre a ideologia de poder, de conseguir tudo de qualquer forma, ignorando até
mesmo a realidade.
A análise da ideologia na sociedade atual não é uma tarefa fácil, uma vez que
sua manifestação aparece, às vezes, de forma explícita, e, em outras, de forma tão
sutil, pois as formas simbólicas são muitas e seu atravessamento com as relações de
poder ganham uma dimensão ainda maior.
Para estudar a ideologia é preciso estudar, também, as maneiras como o
sentido, mobilizado pelas formas simbólicas, pelos signos ideológicos, pelo discurso
e pela linguagem, servem para estabelecer e sustentar relações e o exercício do poder
O discurso pode ser interpretado como uma forma de nos convencer de algo
ou alguma coisa, não somente através da língua, mas também de imagens, dogmas,
crenças, por meio de ideologias. Afinal, como diz Pêcheux (1975), não há discurso
sem sujeito e não há sujeito sem ideologia: o indivíduo é interpelado em sujeito pela
ideologia e é assim que a língua faz sentido. (ORLANDI, 2015, p. 15).
Quando somos expostos aos discursos é necessário que saibamos nossas
forças e fraquezas, para que entendamos a que estamos sendo submetidos.
Nesta mesma figura, observamos que ainda existe o horizonte, distante, mas,
iluminado. No centro da imagem está o nosso personagem em sua missão, que passa
destrambelhado pelas outras aves, que o observam de perto todo o processo e
demonstram curiosidade em entender o que está havendo, o que é comum diante de
situações inesperadas.
Em relação à AD, vale questionar por que somos afetados por certos sentidos
e outros não, ficamos por conta da história e do acaso. A AD nos propõe construir
escutas que nos permitam levar em conta esses efeitos e explicitar a relação com
esse “saber” que não se aprende, que não se ensina, mas que produz seus efeitos.
(ORLANDI, 2012, p. 34). A escuta a que nos propomos aqui é entre a AD e a
administração.
O efeito de que estamos sempre em busca de oportunidades e de que isso é
considerado a chave de uma boa administração para que nunca percamos
oportunidades. Mencionamos aqui, um profissional chamado coaching que trabalha
com a questão da motivação nos colaboradores, usando métodos diferenciados,
busca trabalhar autocontrole, bons relacionamentos além de foco e sucesso.
Sucesso é um dos novos valores presentes na sociedade atual. O sucesso é
uma forma de dividir a sociedade entre os que têm sucesso e aqueles que não o
possuem. Sucesso abrange a formação social da qual depreendemos a ideologia
reproduzida no discurso, que, por sua vez, se imprime na prática da língua. Nos dias
atuais o sucesso está ligado à produção de sentidos.
Como diz Orlandi (2012), a ideologia materializa-se no discurso, esse
concretiza-se no texto, que, por sua vez, se efetiva pelo uso da língua. É observando
a ligação entre ideologia, discurso e língua que poderemos compreender os efeitos
de sentido que determinado discurso carrega.
Não basta analisarmos apenas um item (ideologia, linguagem, memória) do
corpus, ele não está sozinho, ele é formado por uma série de conceitos, que juntos
nos possibilitam a interpretação. Não podemos falar em ideologia sem falarmos e
sujeito, e assim sucessivamente. Nada mais é do que um conjunto de conceitos,
unidos para que atinja o objetivo principal, neste caso: atrair consumidores para os
produtos Samsung.
Figura 4 – Print peça Ostrich (Avestruz), da Samsung, criada por Leo Burnett, 1m23s
Figura 5 – Print peça Ostrich (Avestruz), da Samsung, criada por Leo Burnett, 1m06s
Figura 6– Print peça Ostrich (Avestruz), da Samsung, criada por Leo Burnett, 1m27s
Figura 7 – Print peça Ostrich (Avestruz), da Samsung, criada por Leo Burnett, 1m33s
Na frase final “Nós fazemos o impossível, para que você faça o impossível”
presente nas imagens 6 e 7, a empresa se autopromove e instiga-nos a acreditar que
consumindo sua linha de produtos/serviços seremos capazes de realizar o impossível.
A ideologia capitalista que somos submetidos fica evidenciada nas palavras:
“para que você faça o impossível” faz referência ao eu/nós posso/podemos tudo,
muitas vezes isso não é verdade, o objetivo é de nos motivar a buscarmos por nossos
ideais e desejos.
A Samsung busca espalhar a ideia de que adquirindo seus produtos,
conseguiremos realizar coisas grandiosas, realizar o improvável, nos tornamos reféns
da tecnologia, de marcas e de pessoas que acreditam que a ideologia capitalista é a
melhor a seguir. Capitalismo e Administração, andam lado a lado, o conceito de que
o melhor sempre realiza tudo o que quer, está sempre presente, tal qual a ideologia.
Retomando os conceitos da AD em relação à memória, pois a frase final sepulta
a ideia do impossível rejeitada pelo capitalismo, você pode tudo, basta querer. A ideia
é repetida e insiste na possibilidade do impossível. Tudo corrobora o discurso de que
o sujeito é como o avestruz: nada pode ser impossível àquele que deseja.
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALICE no Pais das Maravilhas. Direção de Tim Burton. Estados Unidos, 2010. Walt
Disney Pictures, P&B.
HUNTER, James C.. O monge e o executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. 144 p
PARLATO, Erika Maria; SILVEIRA, Lauro Frederico Barbosa da. O Sujeito entre a
Língua e a Linguagem. 2. ed. Santo André: Editora Lovise, 1997. 159 p.
PÊCHEUX, Michel; ORLANDI, Eni P.; ACHARD, Pierre. Papel da Memória. 3. ed.
Campinas: Pontes Editores, 2010. 71 p.
YOUTUBE. Comercial Oficial Samsung Galaxy S8 Avestruz. 1m50s. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=WN8fFIBjwUA>. Acesso em: 20 set. 2017.