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RESUMO

Partindo da experiência de uma residência artística, o presente texto pretende


entrincheirar, uma na outra, teoria e prática, para que forneçam elementos para se
pensar a respeito do vazio e do silêncio, suas promessas e impossibilidades. A
experiência estética aparece como problema central, indicando o modo com que obras
esvaziadas existem e de que maneira se relacionam com um público.

ABSTRACT

Starting from the experience of an artistic residency, the current text intends to entrench
theory and practice in one another, in order for them to provide elements for reflecting
upon void and silence, their promises and impossibilities. Aesthetic experience appears
as the central issue, indicating the manner in which emptied works of art exist and the
relationship they have with the public.
INTRODUÇÃO

Certos empreendimentos em arte encontram sua melhor apresentação na forma


do relato:. Como uma segunda chance de existência, que difere da primeira pela
possibilidade de pensar o que foi feito depois de ter sido feito e permite elaborar as
consequências do que passou. Na condição de artista, apresentarei um breve relato
sobre a construção de uma situação artística em queonde o esvaziamento da
forma/conteúdo das obras fez da experiência estética seu problema central. A pesquisa
teórica que se desenvolve entrelaçada aos relatos práticos não pretende fornecer uma
explicação “do porquê”, mas disponibilizar elementos que contribuam para o
pensamento acerca das obras. No primeiro semestre de 2017, fui um dos artistas a
participar da Residência Artística da Fundação Armando Alvares Penteado (ou FAAP),
na cidade de São Paulo. Tendo planejado para esse período a continuação de minhas
pesquisas acerca do esvaziamento sensível, do vazio e da negatividade, segui com
minha produção nesta direção. Como prática comum em residências artísticas, os
artistas residentes apresentam suas produções em eventos de open studio, onde o
público é convidado a visitar o espaço de trabalho de cada artista e onde este, o artista,
também encontra-se
disponível. Foram dois desses eventos e é deles quede onde parte o texto. A escolha
da forma do texto pretendeu, de alguma maneira, preservar acerta coerência em
relação ao caráter “aberto” das obras sobre as quais nos debruçamos, orientando -
senos sobre formulações que devem ser conectadas pelo leitor por quem as lê. Como
todo texto que pretende pensar um objeto por diferentes vias, as ideéias, originalmente
dispersas em suas fontes de origem, são reapresentadas em um estado estruturado,
combinadas entre si em um sistema. A ordenação dos elementos está para direcionar o
pensamento em direção ao que nos interessa, porém, dentro do que nos interessa,
está a possibilidade de se pensar para além e através do que está apresentado ;, para
isso, a estrutura de manteve porosa e penetrável. Evitamos, o tanto quanto possível,
conclusões definitivas:, apresentando ideéias divergentes e, por vezes,
contrastamosando a prática e a teoria, pondo uma à prova da outra. Este texto não
busca teorizar uma prática artística, tampoucotão menos o que é aqui apresentado não
são as consequências práticas de uma ou de outra teoria:, o que constrói este texto é a
relação dialética entre estas duas instâncias., onde Oo desenvolvimento de uma
forneceu subsídios para o desenvolvimento da outra, e assim circularmente. As obras
com maior destaque aqui foram pensadas, produzidas e apresentadas em meio às
pesquisas teóricas, e o texto foi esboçado em meio àa produção e apresentação
dessas obras. Do mesmo modo, o formato da escrita pretende, assim como nosso
objeto, se manter suficientemente aberto sem ser vago;, sintético sem ser hermético; e
propositivo sem ser positivo. Se queremos que este texto funcione, em algum grau,
como funcionam as obras que ele apresenta, é porque queremos que seja,
também ele, uma dessas obras. O que se espera é que a introdução seja o lugar de
apresentar sumariamente a totalidade do texto: tema, problema, hipótese, objetivo,
justificativa, metodologia, etc.a…, para que o leitor possa ter uma ideéia geral do que o
espera. Algo que poderia ser dito, então, é que este texto apresenta obras nas
quaisonde a expectativa frustrada, ou até mesmo um certo grau de surpresa, possuem
um importante papel na constituição das experiências delas advindasque nelas se
originam. Se queremos um texto que funcione como essas obras, ele não poderia
antecipar seu conteúdo, já que, ao fazê-lo com sucesso, criaria uma expectativa que
seria prontamente correspondida. Poderíamos mentir, enganar o leitor, e, dessa
maneira, obteríamos sucesso alcançando a decepção, mas não é disso que se trata:,
não queremos enganar ou apresentar algo que seja o contrário da verdade., Ppelo
contrário, tudo neste texto é verdadeiro. Ou, simplesmente, poderíamos não produzir
nenhuma introdução, se nos eximir dessa tarefa de apresentar o que virá e, por tanto,
diminuir drasticamente qualquer possibilidade de incentivar a criação de expectativas e
seu consequente sucesso ou insucesso de correspondência. No entanto, também não
se trata de “não fazer”. Não que não pudéssemos não produzir uma introdução, mas,
nesse caso, teria sido melhor não produzir um texto, e tamão pouco ter produzido
obras, pois, se a intenção em não fazer é não produzir efeitos, seriaé mais coerente
que não se fazerça nada. O que devemos fazer, então, é mostrar que algo existe, dizer
que algo existe, e é dessa atitude, e da compreensão de que algo existe, que essa
coisa que existe (mas não exatamente como o esperado) produz um efeito conflitante
com as expectativas de um público. É desta maneira que essa introdução pretende
funcionar, e, para mostrar que algo existe, estamos expondo a estrutura desse
algo que é o texto. Como chave de leitura, é importante sabermos do que se tratam as
divisões dno texto. As seções identificadas por algarismos romanos apresentam o
relato das obras e seus consequentes acontecimentos, e estão, quando necessário,
divididas em subseções identificadas pelas 4 primeiras letras do alfabeto latino, cada
uma designando especificamente uma obra: A: Declaração de Apropriação (Metrô
de São Paulo) ; B: Cartaz Preto Caído ; C: Vontade de Nada ≠ Nada de Vontade; e;
D: Sem Título (Amplificador Ligado Sem Sinal no Input) . As seções apresentadas
por numerais indo-arábicos se referem à pesquisa teórica. Eventualmente, em meio
aos aforismos numerados, há aforismos entre parênteses:, estes são comentários que,
por vezes, se descarrilham do trilho do texto, mas, quando o fazem, correm em
paralelo. Apesar do formato fragmentado, o texto segue uma ordenação lógica -
temporal, para o relato, e de raciocínio, para a pesquisa, e deve ser lido na ordem em
que é aqui apresentado. A primeira e segunda partes se referem, respectivamente, ao
primeiro e segundo eventos de open studio, enquanto que nna terceira parte é
apresentada uma ação sistemática de registrar e catalogar as estruturas publicitárias
“quasevazias” do Metrô de São Paulo. Entre a primeira e a segunda partes há um
interlúdio que pretende apresentar uma certa tradição, difusa e periférica, de obras que
se conectam pela ideéia de vazio e silêncio.

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