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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR DA __ CÂMARA

CÍVEL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE GOIÁS

AELTON TERTULIANO DE OLIVEIRA, brasileiro, casado, Capitão da


reserva remunerada, RG 16.143-PM/GO e CPF 226.725.751-34, domiciliado na Rua 227
Qd 112 Lt 11 – Parque Estrela D’Alva 9, Céu Azul, Luziânia – GO, por seus advogados
(doc. 01 e 02), com endereço neste impresso, com espeque na Lei 12.016/2009, impetra

MANDADO DE SEGURANÇA

em face do COMANDANTE GERAL DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE


GOIÁS, a ser notificado na Av. Anhanguera, 7.364, S. Aeroviário, CEP 74.435-900,
Goiânia – GO, e do seu órgão de representação judicial, o

ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica de direito público interno, CNPJ


01.409.580/0001-38, com endereço na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, 3 – S. Central,
nesta capital, pelo seguinte:

I. DOS FATOS

2. O impetrante integrava o Curso de Formação de Sargentos (CFS) na


Academia de Polícia Militar (APM) de Goiânia, quando participou com os seus
respectivos colegas do policiamento do evento Césio 137, em setembro de 1987, por
ordem da autoridade coatora, o Comandante Geral da PMGO (doc. 04, fl. 4):
3. O sargenteante – responsável pela elaboração de escalas e envio dos alunos
às frentes de serviço – declarou que o impetrante, com a sua turma de alunos sargentos,
foram empregados naquele policiamento em contato direto com os rejeitos radioativos
do Césio, em demonstração de sua exposição ao extremo risco de contaminação:

4. Em 20/11/2019 o impetrante requereu a sua promoção por bravura perante o


Comando Geral da PMGO (doc. 05, fl. 3/8), que instaurou a sindicância SEI n.
201900002112088, cujo encarregado colheu provas suficientes da participação do
impetrante em atividade de alto risco de contato com a radiação, em ambiente insalubre
e sem condição adequada (doc. 07, fl. 12):
5. O encarregado da sindicância relata mais (doc. 07, fl. 13):

6. A Corregedora da PMGO, diante das provas apresentadas, concluiu que “há


indícios probatórios capazes de retirar qualquer dúvida sobre a atuação do Sindicado
no fatídico acidente radiológico” e “tem-se que a atuação do Sindicado pode ser
qualificável pelo senso comum, como corajosa e audaciosa; ultrapassou os limites
normais do cumprimento do dever do militar; e, sendo individual e personalíssima,
mostrou-se indispensável e útil para as operações que participou” (doc. 09).

7. Em 28/04/2021, a Comissão de Promoção de Oficiais (CPO) indeferiu o


pedido, sob o fundamento de que “a simples atuação com desconhecimento do perigo
afeto ao que se enfrenta não é suficiente para qualificar como ato de bravura aquele
praticado pelo policial” (doc. 11, fl. 3), “não sendo suficiente ter trabalhado na operação
pura e simplesmente” e, por isso, “não ficou exposto ao risco de contato” (doc. 11, fl. 5).

II. DO DIREITO

8. Violação ao princípio da legalidade. A Lei Estadual n. 18.182, de


01/10/2013, destaca em seu art. 1º: “Ao militar da inatividade integrante da Polícia
Militar [...], oficial ou praça, poderá ser concedida promoção por ato de bravura
advindo de ação meritória por ele praticada quando em atividade” (grifamos).

9. O ato de bravura foi comprovado na sindicância, tanto pela coleta de provas


realizada pelo seu encarregado, quanto pela referência da Corregedora da PMGO.

10. Violação ao princípio da isonomia. A CPO (Comissão de Promoção de


Oficiais): a) reconheceu que o impetrante prestou seus serviços nas frentes de trabalho do
evento Césio 137, que os militares “ficaram no isolamento das áreas contaminadas”, mas
“não expostos ao produto radioativo nem sob o risco de contato” (doc. 11, fl. 5); b) ao
mesmo tempo, deferiu pedidos de promoção por bravura a outros militares por terem se
sujeitado ao risco de contato com a radiação nas mesmas áreas que o impetrante.

11. 1º Caso. Para o Tenente-Coronel JOÃO BATISTA SANTOS OLIVEIRA, a


autoridade coatora (Comandante Geral da PMGO) opinou pela promoção por bravura,
diante do mesmo trabalho que o impetrante: isolamento da área contaminada pelo Césio
e reforço do policiamento. Note (doc. 12, fl. 14):
12. Por isso a CPO (Comissão de Promoção de Oficiais) deferiu o pedido de
promoção por bravura ao referido Tenente Coronel João Batista (doc. 12, fl. 18).

13. 2º Caso. Para deferir o pedido de promoção por bravura do militar ROBERTO
CARLOS CARRIJO DE OLIVEIRA (doc. 13), colega do impetrante no Curso de Formação de
Sargentos (CFS 87/88), a CPO levou em consideração os mesmos documentos que
compõem a sindicância do impetrante, como o termo de inquirição do Coronel PM
Waltervan Luiz Vieira, Comandante Geral da PMGO à época, declaração do sargenteante
Calixto Divino de Oliveira, com o detalhe de que nenhuma testemunha foi ouvida naquela
sindicância (de Roberto Carlos Carrijo de Oliveira), conforme doc. 13, fl. 2/3.

14. 3º Caso. Para o militar VALMIR LUIZ, colega do impetrante no CFS 87/88 e
que com ele trabalhou no evento Césio 137, a CPO reconheceu o seu risco de exposição
à radiação na “contenção e isolamento da área contaminada pelo radioisótopo Cs-137”
(um dos trabalhos desempenhados pelo impetrante, conforme reconhecido pela CPO),
mas indeferiu o pedido desse militar (Valmir Luiz) por não tê-lo requerido no prazo de 5
anos após a sua sujeição à radiação (doc. 14).

15. Essa decisão da CPO foi revertida por meio do mandado de segurança n.
5001042.80, julgado pela 3ª Câmara Cível do TJGO, sob a relatoria do Dr. Roberto
Horácio de Rezende, substituto do Des. Itamar de Lima, que concedeu a ordem para a
promoção do colega do impetrante no CFS 87/88, Valmir Luiz, face ao mesmo trabalho
realizado pelo impetrante (doc. 15).

16. 4º Caso. Para o militar DAN ÁLVARO ABREU NETO, outro colega do
impetrante no CFS 87/88, a CPO deferiu o seu pedido de promoção por bravura,
considerando o mesmo trabalho executado pelo impetrante, pois ambos integraram o
Curso de Formação de Sargentos, cujo efetivo foi empregado no evento Césio 137 e ali
se expuseram ao risco de contaminação pela radiação (doc. 10). Destaca-se a declaração
de uma de suas testemunhas naquela sindicância (doc. 10, fl. 15):

17. 5º Caso. Para a militar JOELI MARIA APINAGÉS, a CPO reconheceu a sua
participação no evento Césio 137 como aluna do CFS 87/88 (doc. 16, fl. 10):

18. O trabalho da militar JOELI, idêntico ao realizado pelo impetrante, não teve
suas provas refutadas pela CPO (Comissão de Promoção de Oficiais), que só indeferiu o
seu pedido de promoção por ausência de doenças oriundas da radiação (doc. 16, fl. 11/12).
19. Dada à ilegalidade do ato, a Coronel JOELI impetrou o mandado de segurança
n. 5132948.28, distribuído para a 2ª Câmara Cível do TJGO, sob a relatoria do Des.
LEOBINO VALENTE CHAVES, cuja votação, unânime, concedeu-lhe a ordem para a sua
promoção por ato de bravura (doc. 17).

20. Comprovado que o impetrante se expôs ao mesmo risco de contaminação


que os seus colegas do seu Curso de Formação de Sargentos – cujo efetivo foi
comprovadamente empregado nas mesmas atividades da operação Césio 137 e que todos
foram promovidos por ato de bravura – a autoridade coatora feriu o princípio da isonomia.

21. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Esse TJGO, em


08/07/2020, definiu no IRDR 5419721.92, como tese vinculante e obrigatória, o seguinte:

3. Tese fixada: sempre que demonstrado que a atuação do militar


na guarda do material radioativo do césio 137 ou em atividade que
nesse dever tenha representado exposição ou risco de contato,
ocorreu em ambiente insalubre, nocivo à saúde e/ou sem condições
adequadas para o exercício daquela função, resta evidenciada a
atuação ensejadora do reconhecimento da coragem e audácia que
exorbitam os limites normais do cumprimento do dever e, de
consequência, ensejam a concessão de promoção por ato de bravura.

22. Demonstrada a participação do impetrante no evento Césio 137 e


configuradas as situações previstas no incidente de resolução de demandas repetitivas,
faz-se obrigatória a aplicação da mesma tese ao caso.

III. DOS PEDIDOS


Assim exposto, requer: a) a notificação das autoridades coatoras; b) a
manifestação da Procuradoria de Justiça; c) no mérito, a concessão da ordem para a
promoção do impetrante ao posto imediato, com efeito financeiro a partir da impetração.

Dá-se à ação o valor de R$1.000,00.

Pede Deferimento.

Goiânia, 17 de maio de 2021.

PAULO SÉRGIO PEREIRA DA SILVA RAYFF MACHADO DE FREITAS MATOS


OAB/GO 12.491 OAB/GO 24.513

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