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Apresentação da unidade 2 -

Mercado financeiro e estrutura


de capital
Nathália Helena Fernandes Laffin

Olá, caro estudante!

Você sabe qual a relevância do mercado financeiro na perspectiva das finanças corporativas? Por mais que não
saiba detalhadamente o que é o mercado financeiro, deve imaginar que esses dois conceitos estão relacionados,
não é mesmo?

Finanças corporativas correspondem às decisões financeiras no ambiente corporativo e, nesse apecto,


compreendem todos os elementos fundamentais para a tomada de decisão. Nesse cenário, é importante destacar
que as decisões empresariais devem observar as normas delimitadas no ambiente em que as empresas estão
inseridas. Nesta unidade, conheceremos a estrutura e as particularidades do Sistema Financeiro Nacional (SFN),
compreendendo as funções de órgãos, como o Banco Central do Brasil (Bacen) e a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM).

Isso tudo é muito importante no ambiente de finanças corporativas, porque o mercado financeiro é normatizado
pelo SFN, e esse mercado é o universo que compreende a compra e venda de diferentes ativos financeiros. Assim,
quando uma empresa deseja negociar instrumentos financeiros, ela opera nesse mercado, composto por:
mercado de capitais (no qual são negociadas, por exemplo, ações); mercado de crédito (no qual são negociados
empréstimos e financiamentos), mercado cambial (no qual são negociadas moedas estrangeiras) e mercado
monetário (no qual se busca manter a liquidez da economia). Assim, ele permite que haja uma conversa entre
compradores e vendedores, possibilitando uma economia de mercado.

Além desses dois principais temas, você compreenderá a relação entre as fontes de capital das empresas – que
podem se originar a partir de capital próprio (sócios ou acionistas) e/ou a partir de capital de terceiros
(credores, fornecedores, financiadores etc.).

Nesse sentido, você, estudante, terá um panorama importante sobre o mercado financeiro brasileiro e a
estrutura de capital das empresas – conteúdos fundamentais para a compreensão da importância das finanças
corporativas em um cenário macroeconômico.

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Sistema Financeiro Nacional
(SFN)
Edílson Bezerra das Chagas

Introdução
Caro estudante, a disciplina de Finanças Corporativas nos ajuda a entender melhor o contexto econômico
brasileiro, uma vez que esse mercado interfere diretamente nas finanças do país e afeta a vida de todos nós por
meio de medidas tomadas por instituições, como o governo.

Você sabia que, no Brasil, existe um sistema que organiza o mercado financeiro? Para compreender essa relação
dele com a economia e nosso cotidiano, veremos, ao longo deste tópico, o que é o Sistema Financeiro Nacional
(SFN), quais são as instituições que o compõem, entenderemos o funcionamento delas e por que elas são tão
importantes para a movimentação das finanças nacionais. Bons estudos!

O que é o SFN?
O SFN é responsável pela organização do mercado financeiro brasileiro. Ele desenvolve mecanismos (leis) e cria
órgãos reguladores, como o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central do Brasil (Bacen) e a Comissão
de Valores Mobiliários (CVM), para sistematizar o funcionamento das instituições financeiras públicas e privadas
que intermedeiam a captação, a distribuição e as transferências de recursos financeiros da sociedade como um
todo (ASSAF NETO, 2014). Assim, as decisões desses órgãos impactam a economia e, consequentemente, toda a
sociedade.

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Curso de administração
financeira, dos autores Alexandre Assaf Neto e Fabiano Guasti Lima. Editora Atlas. Ano: 2014.
Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=571222

O SFN é composto por várias entidades, que são integradas e interligadas. Para entender sua função e
composição, podemos observar a figura a seguir, que traz todas as instituições que o constituem.

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Figura 1 - Composição do SFN: divisões e hierarquias
Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em BRASIL, 2018.

Para compreender o funcionamento desses órgãos, ao longo dos próximos subtópicos estudaremos essas
instituições e seus papéis.

Instituições do SFN
O SFN possui três divisões:
• órgãos normativos: criam as normas que regem todas as instituições financeiras;
• entidades supervisoras: orientam e acompanham as atividades das instituições, supervisionando-as;
• operadores: são as próprias instituições financeiras. Caso haja falhas, eles são responsabilizados pelas
entidades supervisoras que, por sua vez, são interpeladas pelos órgãos normativos.

Confira, na figura a seguir, o esquema com as funções dessas instituições.

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Confira, na figura a seguir, o esquema com as funções dessas instituições.

Figura 2 - Funções dos órgãos normativos, das entidades supervisoras e dos operadores
Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em BRASIL, 2018.

Essas instituições existem para organizar as mais variadas possibilidades de transações financeiras.

FIQUE ATENTO
A Caixa Econômica Federal (CEF) é uma instituição financeira, mas não pode ser classificada
como banco. Como o seu nome diz, é uma caixa econômica, ou seja, uma empresa totalmente
pública. Na prática, a CEF funciona como um banco comercial por autorização do CMN.

A partir do conhecimento dos tipos de instituições que compõem o SFN, entenderemos, com mais afinco, as
funções dessas entidades.

Órgãos normativos
O CMN é o órgão do SFN com maior poder, sendo responsável por determinar as regras para as instituições
financeiras que estão submetidas a ele. O Bacen e a CVM também são entidades normativas, com as funções,
respectivamente, de fiscalizar as instituições financeiras (como os bancos), e as operações realizadas (nas bolsas
de valores, por exemplo).

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Podemos concluir, então, que as instituições normativas do CMN estão interligadas a bancos, bolsas de valores e
outras instituições financeiras, e que o papel do CMN é criar as regras para essas instituições, cabendo a seus
subordinados (o Bacen e a CVM) fiscalizar a obediência das instituições operacionais a essas normas.

O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), por sua vez, determina as regras para outro tipo de instituição:
as seguradoras. Por exemplo, o CNSP estabelece critérios para as seguradoras constituírem as chamadas
reservas técnicas, ou seja, fundos especiais para atender a determinadas operações. Essas reservas, enquanto
não são utilizadas, são aplicadas no mercado financeiro para garantir segurança, rentabilidade e liquidez às
seguradoras.

Já a Superintendência de Seguros Privados (Susep), diretamente subordinada ao CNSP, fiscaliza as instituições


que realizam seguros, por exemplo: resseguradoras, entidades de previdência complementar aberta, sociedades
de seguradoras e sociedades de capitalização.

Por sua vez, o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) estabelece as normas que devem ser
obedecidas por fundos de pensão e planos de previdência complementar fechados. Caberá à Superintendência
Nacional de Previdência Complementar (Previc) fiscalizar se elas estão sendo cumpridas pelas instituições que
fazem planos de previdência complementar fechados e fundos de pensão. Nesse sentido, é importante destacar
que existem os planos de previdência complementar abertos (aqueles em que qualquer pessoa pode contribuir)
e fechados (vinculados a uma empresa).

FIQUE ATENTO
A previdência complementar, também chamada de privada, é aquela cuja escolha pela
contratação é totalmente do cliente, ou seja, facultativa. Ela é diferente da previdência social,
que é obrigatória para os funcionários registrados em carteira e regidos pela Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT).

Com essa definição das instituições normativas, entenderemos agora o papel que cabe a cada uma dessas
entidades do SFN. Como já vimos, cada instituição normativa tem uma área de atuação. Veja, no quadro a seguir,
cada uma delas.

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Quadro 1 - Instituições normativas: quais são e seus papéis no mercado financeiro
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em BRASIL, 2018.

Essas atribuições das instituições normativas fazem com que cada uma delas tenha sua importância no SFN, pois
regulamentam o funcionamento do SFN, modernizam as leis e determinam as garantias que devem ser dadas às
pessoas e empresas que operam nesse sistema. Para tanto, são compostas por diversos membros, que deliberam
sobre questões importantes do mercado.

Instituições do sistema de intermediação/operacionais


Os intermediários financeiros são aquelas instituições que atuam na intermediação de recursos financeiros,
facilitando o fluxo de recursos entre os agentes econômicos. Simplificando o conceito, podemos dizer que são
instituições que buscam recursos por parte de quem os tem sobrando e os canalizam para quem está precisando.
Um exemplo clássico são os bancos, que aplicam o dinheiro de investidores e emprestam os recursos necessários
para quem precisa.

As instituições financeiras estão divididas em grupos de acordo com sua forma de atuação. Veremos agora as
principais delas, com base nas definições do Bacen (BRASIL, 2018).

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Quadro 2 - Instituições de intermediação: quais são e seus papéis no mercado financeiro
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em BRASIL, 2018.

Como podemos perceber, temos como principais agentes intermediadores: bancos comerciais, bancos de
desenvolvimento e investimento, instituições que operam no mercado de câmbio, cooperativas de crédito,
seguradoras, fundos de previdência complementar, arrendamento mercantil e agências de fomento. Por estarem
em contato direto com os clientes, são responsáveis por alocar os recursos dos poupadores (investidores) para
os tomadores, que passam a ser devedores.

Instituições operacionais
As instituições operacionais são aquelas que fazem acontecer na prática tudo o que foi decidido pelos órgãos
normativos e detalhado pelos órgãos supervisores. É por meio delas que pessoas físicas ou jurídicas são
atendidas a necessidades relativas a alguma operação financeira. Temos como exemplos: seguradoras, bancos e
bolsas de valores.

Seu papel é, em sentido mais amplo, de funcionar como intermediadoras ou facilitadoras das atividades que
ocorrem no SFN, ou seja, oferecem ou vendem os serviços prestados pelo sistema financeiro. Assim, quando
desejamos fazer algum tipo de operação financeira, é a elas que recorremos.

Elas fazem a ligação entre a norma e o negócio em si, sendo de importância fundamental para que todo o sistema
funcione. Afinal, não haveria nenhuma utilidade prática para os agentes econômicos (pessoas, empresas,

governo etc.) se eles tentassem fazer negócios financeiros com uma estrutura adequada de órgãos contendo

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governo etc.) se eles tentassem fazer negócios financeiros com uma estrutura adequada de órgãos contendo
cargos, leis, normas e uma infinidade de controles, e os agentes de mercado (instituições operacionais) não
pudessem efetivamente atender às necessidades desses agentes econômicos.

São importantes, portanto, para dar credibilidade e transparência ao mercado financeiro. Podemos compreender
essa relevância utilizando um exemplo prático.

EXEMPLO
Uma pessoa busca uma seguradora para contratar um seguro para seu automóvel, cujo valor
de mercado é de R$ 30.000. São avaliados os riscos da operação (perfil do condutor, índices de
roubos e acidentes nas regiões onde ele circula etc.) e, a partir disso, a seguradora informa ao
cliente o valor que deve ser pago para que, em caso de incidente, ele possa receber uma
contrapartida financeira. Essas informações devem ser repassadas de forma simples, para que
o cliente se sinta tranquilo e atendido em suas necessidades.

Ao longo deste tópico, percebemos que o SFN é complexo, pois envolve muitos interesses e possui uma estrutura
hierárquica rígida, altamente regulamentada e com papéis bem definidos. Esse sistema precisa ser simples e
transparente para oferecer à sociedade o conhecimento e as informações adequadas para atender às suas
necessidades, além de todos poderem compreender seu funcionamento.

Fechamento
Concluímos, assim, a introdução sobre a estrutura do SFN, entendendo sua importância, seu funcionamento e o
papel dos principais agentes que atuam na normatização, na execução, na fiscalização e no contato direto com os
clientes. Também entendemos como funcionam suas instituições.

Todos esses órgãos são importantes para organizar a intermediação financeira da sociedade, equilibrando
interesses entre os diversos agentes. Conheceremos, em nosso próximo tópico, as instituições subordinadas aos
órgãos normativos e supervisores, ou seja, os órgãos de intermediação e operação.

Referências
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

_____; LIMA, F. G.Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Disponível
em:https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=571222
.

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BRASIL. Banco Central do Brasil. Composição e segmentos do Sistema Financeiro Nacional. Brasília, 2018.
Disponível em: <www.bcb.gov.br/?SFNCOMP>. Acesso em: 21/12/2018.

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Valores mobiliários e ativos
financeiros
Evandro Castro Pedro / Nathália Helena Fernandes Laffin / Ivoneti da Silva
Ramos

Introdução
Caro estudante, neste tópico, estudaremos valores mobiliários e ativos financeiros, isto é, títulos disponíveis para
negociação no mercado financeiro e de capitais. Assim, compreenderemos o que são ativos financeiros, de renda
fixa, de renda variável, emitidos pelo governo ou por organizações privadas, quais são seus prazos de
vencimentos e, principalmente, como as pessoas que os adquirem são remuneradas.

Além disso, entenderemos as características das ações, das debêntures e das cotas de fundos de investimentos,
que se constituem como os principais valores mobiliários brasileiros. Vamos lá?

Valores mobiliários
Consistem em títulos que se sujeitam às regras e à fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Apesar de haver vários tipos de valores mobiliários, de acordo com Assaf Neto e Lima (2014, p. 40), “[...] valores
mobiliários são, predominantemente, ações, debêntures e quotas de fundos de investimento”.

Vamos saber o que são cada um deles? Confira!

O que são ações?


São títulos emitidos por empresas de capital aberto e que representam uma proporção de participação societária
nelas. Após comprá-las, o acionista (termo utilizado para se referir ao detentor de uma ação) tem garantido o
direito de receber dividendos periódicos (uma parcela dos lucros da empresa) e juros sobre o capital próprio.
Dependendo do tipo de ação adquirida, conforme veremos adiante, também existe o direito de voto em decisões
societárias.

Elas podem ser revendidas a terceiros, transferindo a eles todos os direitos e todas as obrigações.

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FIQUE ATENTO
Dividendos são lucros distribuídos aos acionistas ao fim de um exercício social. Em nossos
país, a legislação que trata dos dividendos é a Lei n. 6.404, das Sociedades Anônimas, art. 202
(BRASIL, 1976). Esses lucros, porém, nem sempre são divididos, pois podem ser destinados ao
próprio investimento da companhia.

Geralmente, elas apresentam grande liquidez, pois podem ser facilmente vendidas e compradas no mercado de
ações. Mellagi Filho e Ishikawa (2003) acrescentam que esse tipo de mercado possibilita a movimentação de
recursos entre investidores de países distintos. Portanto, é possível que investidores estrangeiros participem do
mercado brasileiro, assim como brasileiros podem participar do mercado de outras nações.

A liquidez é gerada pela constante movimentação de investimentos entre os países e as diferenças de


perspectivas sobre os preços futuros. O fluxo de investimentos é intensificado pela presença de especuladores
(negociantes que buscam ganhos acima da média do mercado por meio das diferenças de expectativas futuras
dos investidores). Nesse sentido, o mercado de ações apresenta movimentos dinâmicos dos preços das ações,
considerados voláteis devido à instabilidade decorrente da especulação. Portanto, é possível que crises em
outros países afetem o mercado de ações brasileiro e vice-versa.

Tipos de ações
As ações podem ser classificadas de duas maneiras: conforme suas formas de circulação ou a participação
societária dos acionistas. Veja, na figura a seguir, o que significa cada uma delas.

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Figura 1 - Os cinco tipos de ações
Fonte: Elaborada pelos autores, baseados em MELLAGI FILHO e ISHIKAWA, 2003.

Como você sabe, os acionistas possuem direitos e cada tipo de ação confere um direito específico: eles detêm o
direito de remuneração de sua parcela de participação nos lucros da empresa. Essa remuneração, entretanto,
não é um valor fixo predeterminado no momento de compra da ação, pois depende da política de remuneração
da companhia. O lucro da organização pode ser destinado ao reinvestimento nela própria, valorizando a ação em
longo prazo, ou à remuneração do acionista, o que pode ser um fator de atratividade para novos sócios.

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Há duas formas comuns de os acionistas obterem remuneração, sendo que elas podem coexistir, dependendo de
qual é a estratégia da empresa em relação à atração de novos investidores e aos investimentos a serem
realizados:
• dividendos: são os lucros distribuídos aos acionistas segundo os resultados da companhia ao fim de
cada ano fiscal e os juros sobre o capital próprio;
• juros sobre capital próprio: são os juros sobre os lucros retidos em anos anteriores.

As ações ordinárias também dão a seu detentor o direito de participação societária na companhia, assim ele tem
direito a voto em assembleias de acionistas que definem o destino dos lucros, os membros da diretoria de seu
conselho fiscal, as mudanças no estatuto social, as emissões de debêntures e o aumento de capital.

A responsabilidade do acionista, tanto de ações ordinárias quanto preferenciais, limita-se à quantidade de ações
que ele possui. Desse modo, segundo Mellagi Filho e Ishikawa (2003), em caso de falência da empresa, as perdas
se restringem às ações, não implicando perdas de bens pessoais. No caso específico de acionistas detentores de
ações ordinárias, quanto mais ações, maior o peso de seu voto nas decisões da companhia.

Além disso, as empresas podem alterar a estrutura de seu capital social por meio de diferentes operações sem
impactar os direitos dos acionistas. Alguns exemplos são listados a seguir.
• Agrupamentos: a empresa transforma determinado grupo de ações em uma única ação, não alterando o
patrimônio total dos acionistas.
• Bonificações: a empresa converte suas reservas e seus resultados em novas ações, sem representar
ganho aos atuais acionistas.
• Desdobramentos: a empresa divide uma ação em ações menores, não alterando o patrimônio total dos
acionistas.
• Subscrições: a empresa aumenta seu capital ao emitir novas ações no mercado de ações, não alterando
a participação já detida por outros sócios.

Agora que apresentamos seus diversos tipos, é fundamental compreendermos o seu valor, tema que
abordaremos a seguir.

Valor das ações


O valor das ações fundamenta decisões de investidores, empresas e instituições que regulam o mercado de
ações. Conforme Fortuna (2013), as formas mais comuns de atribui-lo são:

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Quadro 1 - Valores das ações: formas de avaliação e atribuição de valor
Fonte: Elaborado pelos autores, baseados em FORTUNA, 2013.

Podemos concluir que esse valor varia conforme a perspectiva de análise de quem a valora e é utilizado por
novos investidores, sócios das companhias e fisco, entre outros.

O que são debêntures?


São valores mobiliários emitidos pelas sociedades por ações e se referem a títulos de dívida dessas empresas.
Trata-se, portanto, de um instrumento de captação de recursos no mercado de capitais, sendo um título de longo
prazo que confere benefícios ao adquirente pela sua parte no financiamento das atividades da empresa.

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Assim, ao adquirir uma debênture, o investidor se torna um credor da companhia emissora. O intuito desse tipo
de aplicação financeira é o financiamento das operações da empresa, e o adquirente recebe retorno financeiro a
partir do pagamento de juros periódicos, prêmio e outros rendimentos (fixos ou variáveis), além do recebimento
do valor nominal da debênture na data do seu vencimento.

O que são cotas de fundos de investimentos?


Outro ponto importante sobre o mercado financeiro é a possibilidade de juntar esforços, uma vez que,
individualmente, nem todos os investidores possuem volume de capital suficiente para operações de maior risco
ou que exijam maior comprometimento de recursos. Para isso, são utilizados os fundos de investimento.

FIQUE ATENTO
Os fundos são uma aplicação financeira que reúne recursos de um conjunto de investidores
(cotistas), com o objetivo de obter lucro com a compra e venda de títulos e valores mobiliários,
de cotas de outros fundos ou de bens imobiliários, no Brasil e no exterior.

Fundo é uma modalidade de investimento coletivo, sendo, geralmente, criado por um administrador da carteira
de ativos (pessoa responsável por definir os objetivos e as políticas de investimento, registrados em um
regulamento), que deverá ser criteriosamente observado pelo administrador ao realizar as operações.
Basicamente, possui as seguintes características:

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Figura 2 - Características dos fundos de investimentos
Fonte: Elaborada pelos autores, 2019.

O responsável pelas escolhas dos ativos que vão compor os investimentos do fundo é chamado de gestor, que
pode adotar posturas mais conservadoras (investir em ativos de menor risco e menores possibilidades de
retorno) ou agressivas (optar por ativos de maior risco, mas com maiores possibilidades de retorno).

O que são ativos financeiros?


São ativos intangíveis que decorrem de uma obrigação e que podem ser convertidos monetariamente. De acordo
com Assaf Neto e Lima (2014, p. 40), “[...] os ativos financeiros negociados no mercado podem ser classificados
com relação a renda, prazo e emissão”. Confira, no quadro a seguir, a que se refere cada uma dessas
classificações.

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Quadro 2 - Classificações dos ativos financeiros
Fonte: Elaborado pelos autores, baseados em ASSAF NETO e LIMA, 2014.

Percebemos, portanto, que os ativos financeiros se constituem como alternativas disponíveis no mercado

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Percebemos, portanto, que os ativos financeiros se constituem como alternativas disponíveis no mercado
financeiro e de capitais para negociação.

EXEMPLO
Um exemplo de ativo financeiro de renda fixa bastante negociado no Brasil são os certificados
de depósitos bancários (CDBs). As debêntures também são um exemplo de ativo financeiro de
renda fixa. As ações, no entanto, são exemplos de ativos financeiros de renda variável.

Destacamos que entender o mercado financeiro pode ser algo diferencial para os profissionais de finanças e
permite atuação em diversas áreas, como: assessoria de investimento, consultoria, administração de fundos e
regulação. Essa é uma tendência que só tem a crescer em longo prazo, apresentando oportunidades para
profissionais e investidores.

Fechamento
Neste tópico, você aprendeu o que são valores mobiliários e ativos financeiros. Vamos recapitular? Valores
mobiliários são, predominantemente, as ações, as debêntures e as cotas de fundos de investimento. As ações
representam uma parte de uma empresa, as debêntures são títulos de dívida de companhias privadas e as cotas
de fundos de investimento são compostas por um conjunto de investidores negociando títulos e valores
mobiliários.

Os ativos financeiros, por sua vez, são valores disponíveis para negociação no mercado financeiro e de capitais,
classificando-se quanto à renda, ao prazo e à emissão. Todos esses itens são fundamentais para pessoas que
estudam ou trabalham no mercado financeiro brasileiro, pois se constituem como campo de aplicação de seus
conhecimentos.

Referências
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G.Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Disponível
em:https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=571222

BRASIL. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 12/1/2019.

FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. 17. ed. São Paulo: Qualitymark, 2013.

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MELLAGI FILHO, A.; ISHIKAWA, S. Mercado financeiro e de capitais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MORANTE, A. S.; JORGE, F. T.Administração financeira: decisões de curto prazo, decisões de longo prazo,
indicadores de desempenho. São Paulo: Atlas, 2012. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br
/books/9788522466573>. Acesso em: 6/1/2019.

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Mercado financeiro
Edílson Bezerra das Chagas / Ivoneti da Silva Ramos

Introdução
Caro estudante, você sabia que a intermediação financeira existe desde muito antes do padrão monetário
conhecido atualmente? Isso porque, há muito tempo, a sociedade estabeleceu uma organização na qual era
necessário produzir, caçar, colher, plantar e armazenar suprimentos para sua sobrevivência. O mercado
financeiro é, portanto, o locus que propicia a circulação de ativos financeiros.

Quanto aos mercados financeiros, Gitman (2010, p. 6) afirma que eles “[...] representam fóruns que facilitam o
fluxo de recursos entre investidores, empresa e unidades e agência de governo” e são compostos por quatro
outros mercados: monetário, de crédito, de capitais e de câmbio. Neste tópico, saberemos mais sobre cada um
deles. Vamos lá?

Mercado monetário
As operações no mercado monetário têm o objetivo de captar recursos excedentes no mercado monetário e
alocá-los para os agentes que necessitam de financiamentos. Elas estão divididas em dois grandes grupos:
• títulos públicos: destinam-se ao financiamento do orçamento público;
• títulos privados: destinam-se à captação de recursos, em especial pelas empresas privadas e pelos
bancos.

Os principais títulos públicos e privados são:

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Figura 1 - Títulos públicos e privados disponíveis no mercado monetário
Fonte: Elaborada pelos autores, 2019.

As operações do mercado financeiro geram na economia uma dinâmica muito interessante, pois aproximam
empresas e governos ─ que emitem os títulos e precisam de recursos para financiar projetos e atividades ─ de
outras pessoas e empresas que têm sobra de recursos e compram esses títulos com a perspectiva de obter a
rentabilidade oferecida pelo emissor. Essas operações são importantes para a movimentação de todo o sistema
econômico.

Agora que entendemos o mercado monetário, seu conceito e sua importância, entenderemos agora como
funciona o mercado de crédito.

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Mercado de crédito
O mercado de crédito atua, principalmente, nos financiamentos realizados por famílias, empresas e governo, com
o objetivo de organizar os fluxos financeiros, transferindo recursos de que tem sobrando para quem tem
necessidade ou proporcionando liquidez ao mercado financeiro. Essas transações financeiras entre as partes
interessadas têm nos juros seu elemento principal de remuneração.

O governo também dispõe de recursos do seu orçamento para crédito e financiamento. Como exemplo, podemos
citar parte dos impostos cobrados pelo governo, que é direcionada para linhas de crédito do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que, por sua vez, pertence ao governo. O BNDES, muitas vezes,
repassa esses recursos aos demais bancos conveniados que, ao fazerem as operações de crédito com seus
clientes, assumem o risco das operações e recebem uma remuneração por isso.

Devido à importância do mercado de crédito, trata-se de uma atividade altamente regulamentada, com forte
atuação de órgãos governamentais, como Ministério da Fazenda, Conselho Monetário Nacional (CMN) e Banco
Central (Bacen), no caso do Brasil.

Esse mercado é tão relevante que, em todo o mundo, em momentos de crise, o crédito tem sido utilizado como
ferramenta de combate e recuperação das nações. Sendo assim, a política monetária, em conjunto com políticas
fiscais, cambiais e comerciais, é um instrumento para combater esses ciclos que afetam a produção das empresas
e o consumo das famílias.

Nesse contexto, Securato e Securato (2013) destacam, entre as atribuições do crédito, a de satisfazer as
necessidades de caixa (financeiras e monetárias) dos vários agentes econômicos nas modalidades de
empréstimos e financiamentos, considerando questões como prazo, taxa e nível de risco.

Para entender melhor, veremos agora alguns exemplos de operações no mercado de crédito.

Operações no mercado de crédito


Securato e Securato (2013) descrevem algumas das principais linhas de crédito oferecidas às empresas pelas
instituições financeiras (bancos) e ressaltam que essas soluções, de curto prazo, são de modo geral muito
parecidas e variam apenas em relação a taxas, risco e garantia.

FIQUE ATENTO
Os bancos são exemplos de operadores no mercado de crédito (ou seja, são credores neste
mercado) e têm sua concentração de operações no prazo de 12 meses para reduzir os riscos
das operações de sua carteira de crédito.

Vejamos algumas operações de crédito comuns nas empresas.

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Quadro 1 - Operações de crédito
Fonte: Elaborado pelos autores, baseados em SECURATO e SECURATO, 2013.

Neste subtópico, vimos o mercado de crédito, sua conceituação, importância e alguns tipos de operações de
empréstimos. Conheceremos agora o mercado de capitais.

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Mercado de capitais
Está relacionado à comercialização de títulos pelas empresas, para que elas arrecadem recursos para o
financiamento de seus projetos ou sua estruturação financeira. Em contrapartida, há uma promessa de
pagamento de juros ou de ganhos aos interessados na oportunidade, por meio da valorização de suas ações no
mercado.

Para Assaf Neto e Lima (2014, p. 46), o mercado de capitais “[...] é a grande fonte de recursos de longo prazo para
investimentos da economia, assumindo um papel relevante no processo de desenvolvimento econômico”.

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Introdução à administração
financeira: uma nova visão econômica e financeira para a gestão de negócios das pequenas e
médias empresas, de Edson Cordeiro da Silva. Editora LTC. Ano: 2009. Disponível
em:https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=564210

Assim, o mercado de capitais se constitui como operações com valores mobiliários, proporcionando recursos
financeiros às empresas emitentes desses papéis para que possam continuar seus projetos e investimentos. Em
contrapartida, essa empresa emitente se compromete a praticar uma gestão que ofereça aos investidores
transparência, liquidez e minimize os riscos. Atuam nesse mercado as bolsas e corretoras de valores e outras
instituições financeiras autorizadas.

FIQUE ATENTO
Quem fiscaliza as empresas que atuam no mercado de capitais é a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), ligada ao Ministério da Fazenda, com o objetivo de proteger os clientes
interessados em participar dessas operações.

As negociações no mercado de capitais acontecem em dois momentos:


• mercado primário: contempla as empresas que estão abrindo seu capital pela primeira vez e os
recursos investidos pelos interessados vão diretamente para elas;
• mercado secundário: onde são comercializadas as ações a qualquer momento.

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Figura 2 - Mercado de capitais
Fonte: cifotart, Shutterstock, 2019.

No caso do mercado secundário, o resultado das vendas vai diretamente para o proprietário da ação, e não mais
para a empresa.

EXEMPLO
Podemos pegar como exemplos de operações do mercado de capitais: ações, opções de ações,
debêntures, notas promissórias, commercial papers, contratos futuros de opções e outros
derivativos.

A transparência e a profissionalização na gestão empresarial são um legado do mercado de capitais, à medida


que as empresas que nele atuam são avaliadas em tempo real. Aspectos como lucros, vendas, sazonalidade e até
imagem podem influenciar a percepção do investidor e interferir no preço das ações.

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Mercado de câmbio
Segundo Assaf Neto (2014), mercado de câmbio é o ambiente no qual ocorrem as transações de compra e venda
de moedas estrangeiras, utilizando como parâmetro de conversão a moeda nacional. A principal moeda
estrangeira envolvida nessas transações é o dólar, e suas formas mais comuns de negociação são:

Quadro 2 - Negociação do dólar


Fonte: Elaborada pelos autores, 2019.

A cotação do dólar é definida diariamente pelo mercado ou agentes, pelas empresas e pelos corretores, que
analisam notícias, traçam cenários, executam suas posições (realizam operações de compra e venda) e impactam
essa movimentação.

O movimento do mercado de câmbio é altamente influenciado por notícias internas e externas. Pessoas do
mundo inteiro acompanham esse cenário global e procuram oportunidades de negócios ou fragilidades pontuais
ou duradouras para tomar decisões e influenciar as cotações das moedas globalmente.

As operações de câmbio podem ser representadas de várias formas, como uma empresa que exporta produtos e
recebe seu pagamento em dólares, provenientes de seu cliente no exterior, ou uma família brasileira que passará
férias nos Estados Unidos e comprará dólares para as despesas e aquisições previstas no país. No caso da
empresa, ela deve entrar em contato com uma instituição financeira autorizada para poder receber o valor em
dólares no exterior e convertê-los em reais, enviando posteriormente esse crédito ao Brasil. Já a família pode
procurar uma instituição financeira ou uma casa de câmbio autorizada para efetuar a compra de dólares, que
serão convertidos pela taxa de câmbio do dólar turismo.

Existem ainda transações, como a compra com cartão de crédito no exterior. Nesses casos, a compra é efetuada e
convertida em dólares, mas, como as instituições financeiras demoram alguns dias para repassar os recursos às
administradoras, podem fazer mais de um lançamento (débito ou crédito) em meses diferentes, referentes à
variação da moeda no momento do repasse do recurso ao favorecido no exterior.

-7-
Fechamento
Ao longo deste tópico, percebemos a dimensão do mercado financeiro e sua influência para o desenvolvimento
de uma sociedade. Estudamos as transações de compra e venda de produtos e serviços que fazem a moeda
circular, e entendemos o conceito de mercado monetário em seus contextos histórico e teórico. Vimos também o
papel do crédito como alavanca de negócios, as diferentes formas de obtê-lo e o funcionamento do mercado de
câmbio.

Por fim, compreendemos que o mercado de capitais é importante não só pela possibilidade de ganhos, mas
também como fonte de financiamento das empresas em longo prazo, de forma complementar a outras fontes,
como as instituições financeiras, que atuam mais fortemente em curto e médio prazos.

Referências
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G.Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Disponível em:
https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=571222

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. Tradução técnica de Antonio Zoratto Sanvicente. 12. ed.
São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2010. Disponível em: <https://bv4.digitalpages.com.br/?
filtro=autores&term=gitman&searchpage=1&from=autor%2F291%2FGitman%2C%252520Lawrence%
252520J.&page=0&section=0#/edicao/327>. Acesso em: 14/1/2019.

SECURATO, J. C.; SECURATO, J. R. Mercado financeiro: conceitos, cálculos e análise de investimento. 3. ed. São
Paulo: Saint Paul, 2013.

SILVA, E. C. Introdução à administração financeira: uma nova visão econômica e financeira para a gestão de
negócios das pequenas e médias empresas. Rio de Janeiro: LTC, 2009. Disponível em: https://
biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=564210

-8-
Fontes de capital: capital
próprio e capital de terceiros
Ivoneti da Silva Ramos

Introdução
Caro estudante, você sabe como podemos analisar o custo de oportunidade do capital próprio na estrutura de
capital da empresa e do projeto? O custo do capital tem um papel fundamental na tomada de decisão financeira,
por isso abordaremos a estrutura de capital, que é o ponto de partida para a verificação dos custos, analisando
sua relação com o capital próprio.

Assim, neste material, analisaremos o custo de oportunidade do capital próprio na estrutura de capital da
empresa e do projeto, visando auxiliar o investidor na melhor tomada de decisão. Vamos lá?

Estrutura de capital
O termo “capital” está relacionado aos fundos de longo prazo de uma empresa e estes podem se dividir, de
acordo com Gitman (2010), entre:
• capital próprio: é o foco deste material e se refere aos fundos de curto e longo prazo proporcionados
pelos proprietários (acionistas) da empresa;
• capital de terceiros: é oriundo de empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo contraídos
pela empresa.

A análise do custo de oportunidade do capital próprio de empresas/projetos passa pela compreensão da


estrutura de capital que, segundo Gitman (2010, p. 445), “[...] é uma das áreas mais complexas da tomada de
decisões financeiras por causa de sua interação com outras variáveis de decisão em finanças”. O autor salienta
que decisões erradas acerca da estrutura de capital podem resultar em um custo elevado, reduzindo o retorno
ou até inviabilizando determinados projetos, enquanto as eficazes podem influenciar na redução do custo do
capital, melhorando o resultado em termos de retorno que, por sua vez, impacta positivamente no valor da
empresa.

Para entender como podemos estruturar o capital de uma empresa/projeto, utilizaremos um balanço
patrimonial simplificado, com o qual podemos ilustrar os dois componentes que compõem a estrutura básica de
capital: o capital próprio e o capital de terceiros. Observe a figura a seguir.

-1-
Figura 1 - Estrutura de capital: balanço patrimonial simplificado
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em GITMAN, 2010.

No caso do capital próprio, existem duas fontes básicas:


• ações preferenciais;
• capital de acionistas ordinários, o que incluem as ações ordinárias e os lucros retidos.

Vejamos os conceitos de cada componente, de acordo com Assaf Neto (2012) e Hoji (2014):
• ações: constituem a menor parcela do capital social de uma sociedade anônima;
• ações ordinárias: têm como principal característica o direito a voto, além de ter direito à distribuição
de lucros (após distribuição aos acionistas preferenciais);
• ações preferenciais: embora não tenham direito a voto, são caracterizadas pela preferência no
recebimento de dividendos.

FIQUE ATENTO
De acordo com Gitman (2010), em uma escala simples, o capital obtido com a emissão de ações
ordinárias é, geralmente, a forma mais cara de capital próprio, seguida pelos lucros retidos e
pelas ações preferenciais.

Na estrutura de capital de empresa, a relação entre capital de terceiros e capital próprio tem um peso
importante, uma vez que, em função da posição secundária em relação ao capital de terceiros, o capital próprio
precisa ser recompensado com retornos esperados mais altos e deve permanecer na empresa por um período
indefinidamente longo.

-2-
indefinidamente longo.

Ross et al. (2012) analisam a composição da estrutura de capital por meio da teoria da pizza. Observe:

Figura 2 - Teoria da pizza


Fonte: Elaborada pela autora, baseada em ROSS et al. (2012).

A distribuição de valores nas “pizzas” corresponde à combinação de valores dos direitos financeiros sobre a
empresa – dívidas e ações. Conforme Hoji (2014), a melhor estrutura de capital de uma empresa é aquela em que
a relação entre o exigível de longo prazo e o patrimônio líquido produza o menor custo do capital.

Nas análises financeiras, também devemos considerar as diferenças básicas existentes entre as duas fontes de
recursos (de terceiros e próprios), conforme a figura a seguir.

-3-
Quadro 1 - Diferenças básicas entre recursos de terceiros e próprios
Fonte: Elaborado pela autora, baseada em GITMAN, 2010.

Hoji (2014) salienta que investimentos com prazo de retorno longo ou alto grau de risco devem ser financiados
com capital próprio, uma vez que, em caso de insucesso das operações, a empresa sofrerá menos com uma crise
de liquidez.

Independentemente de quanto seja o percentual de capital próprio que fará parte da estrutura de capital, o custo
do capital deve ser acompanhado de forma persistente.

Custo do capital da empresa


Nas análises financeiras, o custo do capital é um elemento sempre presente. Ele se refere à taxa de retorno que
uma empresa deve conseguir nos projetos em que investe para manter o valor de mercado de sua ação. Também
pode ser considerado a taxa de retorno exigida pelos fornecedores de capital no mercado para que seus fundos
sejam atraídos (GITMAN, 2010).

Para melhor expormos o tema, dividiremos este tópico em outros dois subtópicos. Acompanhe!

Custo do capital da empresa/projeto


Vincula as decisões de investimento de longo prazo da empresa e a riqueza dos proprietários, determinada pelos
investidores no mercado.

-4-
FIQUE ATENTO
O custo do capital é um conceito dinâmico, afetado por uma variedade de fatores econômicos
gerais e específicos à empresa. Nos grifos de Gitman (2010), o custo do capital é o “número
mágico” usado para decidir se um investimento proposto permitirá aumentar ou reduzir o
preço da ação.

Para identificar a estrutura básica do custo do capital, Gitman (2012) apresenta algumas hipóteses básicas em
relação ao risco e ao imposto de renda.

Quadro 2 - Hipóteses básicas do custo do capital


Fonte: Elaborado pela autora, baseada em GITMAN, 2010.

Se o risco for mantido constante, os projetos com taxa de retorno superior ao custo do capital elevarão o valor da

-5-
Se o risco for mantido constante, os projetos com taxa de retorno superior ao custo do capital elevarão o valor da
empresa, e aqueles com taxa inferior o reduzirão.

Custo de oportunidade do capital próprio


As empresas têm por objetivo oferecer retorno aos seus investimentos que possam cobrir, pelo menos, a
expectativa mínima de ganhos almejada pelo seu proprietário. Por isso, o custo do capital, determinado pela
combinação dos custos de oportunidade do capital próprio e do capital de terceiros devem ser considerados.

Ele representa a taxa de retorno da melhor proposta de investimento disponível de forma alternativa à proposta
em consideração, de risco similar. Para o acionista, esse conceito se iguala ao retorno da melhor oportunidade de
investimento abandonada quando da decisão de realizar o investimento na empresa (ASSAF NETO, 2014).

O custo de oportunidade do capital próprio ou o retorno do investimento pode ser medido em duas instâncias:
se tudo for financiado com capital próprio e se um percentual do total da estrutura de capital for financiado por
capital de terceiros.

Utilizando os indicadores de retorno do ativo total (ROA) e retorno do capital próprio (ROE), podemos analisar o
retorno sobre os investimentos da empresa.

Consideramos que os proprietários pretendem financiar os R$ 50 milhões totais de ativo com seus próprios
investimentos (patrimônio líquido), ou seja, apenas com recursos próprios. Para esse caso, o ROA é igual ao ROE.

Vejamos os conceitos desses índices, de acordo com Assaf Neto (2014):


• ROA: mostra o retorno produzido pelo total das aplicações realizadas por uma empresa em seus ativos.
É o lucro disponível para acionistas ordinários/ativo total;
• ROE: mensura o retorno dos recursos aplicados na empresa por seus proprietários, em que, para cada
unidade monetária de recursos próprios (patrimônio líquido) investida na empresa, mede-se o quanto o
acionista aufere de lucro. É o lucro disponível para acionistas ordinários/patrimônio dos acionistas
ordinários.

Supondo também que o lucro originado desse investimento seja de R$ 8 milhões, teremos, neste caso, como taxa
de retorno:

-6-
EXEMPLO
Os proprietários de uma empresa pretendem financiar uma parte dos R$ 50 milhões totais de
ativo e solicitam um empréstimo no valor de R$ 25 milhões, ou seja, 50% serão financiados
com recursos de terceiros a uma taxa de 12% ao ano (custo do capital de terceiros anual = R$
25.000.000,00 x 0,012 = R$ 3.000.000,00).
Nessa situação, qual o retorno produzido pelos ativos? Ele deve ser apurado antes ou após os
encargos financeiros?

Por esse exemplo, podemos perceber pelo ROA (após as despesas financeiras) que, ao incorporar o custo do
capital de terceiros na estrutura de capital, o retorno do ativo total tem uma redução considerável.

Gitman (2010), Ross et al. (2012) e Assaf Neto (2014) concordam que o custo do capital é estimado em um
momento específico e reflete o custo futuro médio de fundos em longo prazo e que, embora as empresas
geralmente captem recursos para determinados lotes de produção, o custo do capital deve refletir a inter-relação
das atividades de financiamento.

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Estudos de casos em finanças:
gestão para criação de valor corporativo, do autor Robert E. Bruner. Editora AMGH. Ano: 2010.
Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=563605

Uma medida que pode ser usada no caso do custo do capital próprio é o valor da taxa obtida no modelo de
precificação de ativos financeiros (MPAF), o qual mostra que o custo do capital próprio é o retorno exigido pelos
investidores como recompensa pelo risco não diversificável da empresa, medido pelo beta, que é a volatilidade
do investimento em comparação ao mercado como um todo (GITMAN, 2010).

-7-
Fechamento
Neste material, apresentamos elementos importantes que podem ser utilizados para analisar o custo de
oportunidade do capital próprio na estrutura de capital da empresa/projeto. Primeiramente, apresentamos o
conceito de estrutura de capital, com a divisão clássica em capital próprio e capital de terceiros, sendo que a
combinação deles deve prezar que a relação entre o exigível de longo prazo e o patrimônio líquido produza o
menor custo do capital.

Por fim, abordamos o conceito de custo do capital com foco no capital próprio e, para a fixação do conteúdo,
aplicamos os índices de retorno do ativo total (ROA) e retorno do capital próprio (ROE).

Referências
ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

______. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

BRUNER, R. E. Estudos de casos em finanças: gestão para criação de valor competitivo. Tradução de José Carlos
Barbosa. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?
codigo_sophia=563605

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. Tradução técnica de Antonio Zoratto Sanvicente. 10. ed.
São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2012.

HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégia financeira,


orçamento empresarial. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

ROSS, S. A. et al. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 2012.

-8-
Custo médio ponderado de
capital (CMPC)
Ivoneti da Silva Ramos

Introdução
Caro estudante, você sabe por que é necessário determinar o custo médio ponderado de capital (CMPC) de uma
empresa? Como já estudamos, na composição da estrutura de capital de uma empresa/projeto, podemos
encontrar custos relativos ao capital próprio e ao capital de terceiros. Quando a composição leva em conta as
duas fontes, podemos calcular o CMPC, que servirá como base do custo de oportunidade do investimento.

Nesse contexto, neste material, apresentaremos elementos que permitirão realizar o cálculo do CMPC na
estrutura de capital da empresa e do projeto. Vamos lá?

Custo de capital de terceiros


Muitas empresas necessitam captar recursos externos no momento de realizar investimentos. Casarotto Filho
(2010) afirma que esses recursos de investimentos provêm de várias fontes, entre as quais:
• acionistas (capital próprio da empresa ou patrimônio líquido);
• empréstimos;
• debêntures.

As duas últimas se chamam capital de terceiros, e a utilização de todos esses recursos requer uma remuneração,
ou seja, cada uma dessas fontes de recurso tem um custo: aos acionistas cabem os lucros, enquanto os
empréstimos e as debêntures são remunerados com juros.

O custo de capital de terceiros é relativamente menor comparado a outras formas de financiamento, pois os
credores são os fornecedores de capital de longo prazo que assumem menos risco, isto é, eles têm preferência
sobre quaisquer lucros ou ativos disponíveis para pagamento. Basicamente, o custo do financiamento com
capital de terceiros resulta, segundo Gitman (2010):
• da maior probabilidade de falência causada por obrigações de dívida;
• da restrição da liberdade de ação da empresa pelos custos de agência do credor;
• dos custos associados ao fato de que os administradores têm mais informações sobre as perspectivas da
empresa do que seus investidores (informação assimétrica).

-1-
FIQUE ATENTO
Os custos de agência (agency cost) retratam os custos trazidos pelos interesses conflitantes
entre as partes. Sobre eles, Gitman (2010) nos aponta que a taxa de juros cobrada (aquela que
os credores cobram das empresas) tem por base a avaliação do risco do negócio feita pelos
próprios credores.

Ainda nessa relação com os credores, podemos citar os custos de monitoramento, que são oriundos da seguinte
situação: caso a empresa invista em ativos de alto risco e tenha bons resultados, os proprietários receberão
todos os benefícios; mas, se o investimento fracassar, os credores compartilharão os custos. Em função dessa
possível ocorrência, os credores impõem determinados custos de monitoramento aos tomadores, por exemplo:
aumentar o custo de empréstimos futuros, negar solicitações posteriores de empréstimo e impor cláusulas
restritivas nos contratos de empréstimo (GITMAN, 2010).

Casarotto Filho (2010) salienta que os investimentos da empresa deverão render o suficiente para pagar os juros
dos capitais de terceiros e proporcionar um lucro compatível com as expectativas dos acionistas. Em outras
palavras, a taxa mínima de atratividade da empresa (aquela a partir da qual o investidor considera que está
obtendo ganhos financeiros) deverá ser maior ou igual ao seu custo de capital. Na análise financeira de uma
proposta de investimento, deve ser considerada a perda da oportunidade de aplicar esse capital em outros
projetos; por isso, o investimento escolhido deve render, no mínimo, a taxa de juros obtida em aplicações de
baixo risco.

Geralmente, as empresas captam recursos por meio da venda de obrigações e título, e alguns elementos
relacionados a esses capitais de terceiros merecem destaque, como os recebimentos líquidos e o custo de capital
de terceiros antes do imposto de renda. Descrevemos a explicação desses elementos no quadro a seguir.

-2-
Quadro 1 - Descrição de elementos relacionados ao uso de capital de terceiros
Fonte: Elaborado pela autora, baseada em GITMAN, 2010.

Entendendo o uso de cotação de custo: quando os recebimentos líquidos com a venda de uma obrigação são
iguais ao seu valor de face, o custo antes do imposto de renda se iguala à taxa de cupom. Por exemplo, uma
obrigação com cupom igual a 10% e que gera recebimentos iguais ao valor de face de R$ 1.000 teria um custo
antes do imposto de renda igual a 10%. Uma segunda cotação usada às vezes é o retorno esperado até o
vencimento de uma obrigação com risco semelhante. Se uma obrigação com risco semelhante tem um retorno
esperado de 9,7%, esse valor pode ser empregado como custo de capital de terceiros antes do imposto de renda.

Agora, considerando o custo de capital de terceiros depois do imposto de renda, também conhecido como custo
específico de financiamento: os juros do capital de terceiros são dedutíveis para fins de apuração de imposto de
renda; por isso, podemos encontrar o custo multiplicando o custo antes do imposto de renda por 1 menos a
alíquota do imposto de renda, de acordo com a equação a seguir:

Em que:

Ki = custo de capital de terceiros depois do imposto de renda

Kd = custo de capital de terceiros antes do imposto de renda

T = alíquota do imposto de renda

-3-
EXEMPLO
Supondo que a alíquota de imposto de renda da empresa ChicTotal seja de 40%. Usando o
custo de capital de terceiros de 9,4% antes do imposto de renda, determinado anteriormente,
isso resulta no custo de capital de terceiros depois do imposto de renda: [9,4% x (1-0,40)] =
5,6%.

É permitido deduzir os pagamentos de juros do lucro tributável, base do imposto de renda: as empresas
reduzem a parcela de seus lucros paga ao imposto de renda. Isso aumenta os fluxos de caixa e deixa maior valor
disponível aos investidores. Em essência, o governo está subsidiando o custo do financiamento com capital de
terceiros em relação ao financiamento com capital próprio (GITMAN, 2010).

Figura 1 - Estrutura de capital


Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2019.

A teoria financeira indica que, embora as empresas estabeleçam metas para estrutura de capital que minimizará
seu custo de capital, ainda não existe um método consagrado no uso da determinação da estrutura de capital

ideal para a empresa. A prática que permeia as análises financeiras é que a estrutura de capital ótima de uma

-4-
ideal para a empresa. A prática que permeia as análises financeiras é que a estrutura de capital ótima de uma
empresa necessita equilibrar os benefícios e os custos do financiamento com capital de terceiros. Nesse sentido,
o valor de uma empresa é maximizado quando se minimiza o custo de seu capital (ROSS et al., 2012).

Mas atenção: uma vez composta a estrutura de capital, temos como calcular o CMPC, o que possibilita ao
investidor um referencial de análise para a maximização do valor da empresa.

Critérios do peso dos custos na estrutura de


CMPC
Em longo prazo, uma empresa deve realizar investimentos que maximizem seu valor. Para isso, é necessário
empreender em projetos que gerem retornos que excedam o custo médio ponderado que compõem a estrutura
de seu capital.

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Princípios de administração
financeira, do autor Lawrence J. Gitman. Editora Pearson Adisson Wesley. Ano: 2010.
Disponível em:

O custo do capital da empresa deve, portanto, levar em conta a composição do capital, ou seja, deve ser calculado
o CMPC.

FIQUE ATENTO
A estrutura de capital de uma empresa/projeto pode ser formada por duas formas: somente
por capital próprio ou pela composição de capital próprio e capital de terceiros. Nesse segundo
caso, podemos calcular o CMPC.

Para realizar o cálculo do CMPC, vamos entender a equação a seguir, de acordo com Assaf Neto (2014),
considerando a estrutura de capital da empresa ChicTotal:

Em que:

w = participação do capital de terceiros


i

-5-
w = participação do capital de terceiros
i

w = participação das ações preferenciais


p

w = participação do capital próprio


s

r = custo do capital de terceiros


ct

r = custos das ações preferenciais


a

r = custo do capital próprio


cp

Geralmente, esses pesos são as metas percentuais de capital de terceiros e de capital próprio, que minimizarão o
custo geral de levantamento de fundos da empresa.

-6-
Quadro 2 - Bases para ponderação de custos na estrutura de capital da empresa
Fonte: Elaborado pela autora, baseada em ROSS et al., 2012 e ASSAF NETO, 2014.

Considerando que a empresa ChicTotal tenha um custo de capital de terceiros de 4%, custo de ações
preferenciais de 7% e custo de capital próprio de 14%. Usando os custos já calculados com os pesos do valor de
mercado no quadro anterior, podemos calcular o CMPC da seguinte forma:

-7-
Tabela 1 - Cálculo do CMPC
Fonte: Elaborada pela autora, 2019.

O valor do CMPC de 9,3% serve para referenciar, tanto aos investidores quanto aos credores da empresa
ChicTotal, o custo de oportunidade do investimento. Sobre esse valor, a empresa poderá colocar metas (por
exemplo, 10%) como gestão de riscos. Então, se acrescentarmos 10% ao CPMC, temos: 1,10 x 9,3% = 10,23%,
que pode ser considerada a taxa mínima de atratividade, ou seja, o retorno esperado da empresa precisa ser
superior a essa taxa para valer a pena o empreendimento.

Assim encerramos este tópico, no qual apresentamos o custo de capital de terceiros e o CMPC.

Fechamento
Neste tópico, pontuamos que os recursos de investimentos utilizados pelas empresas provêm de várias fontes,
entre elas as externas, por meio, geralmente, dos empréstimos e da emissão de debêntures. Em seguida,
apresentamos os fatores básicos que resultam no custo de capital de terceiros e ainda demonstramos como
calculá-lo antes e depois do imposto de renda.

Por fim, abordamos o tema relacionado aos pesos dos custos na estrutura de capital, que podem ter como
critérios os valores contábeis ou os valores de mercado. E demonstramos uma equação básica para o cálculo do
CMPC, importante elemento na análise financeira de projetos.

Referências

-8-
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

CASAROTTO FILHO, N. Análise de investimentos. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. Tradução técnica de Antonio Zoratto Sanvicente. 12. ed.
São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2010. Disponível em: <https://bv4.digitalpages.com.br/?
filtro=autores&term=gitman&searchpage=1&from=autor%2F291%2FGitman%2C%252520Lawrence%
252520J.&page=0&section=0#/edicao/327>. Acesso em: 14/1/2019.

ROSS, S. A. et al. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 2012.

-9-
Alavancagem empresarial
Ivoneti da Silva Ramos

Introdução
Caro estudante, você já ouviu falar em alavancagem? Esse importante conceito financeiro consiste na utilização
de itens patrimoniais e de resultado para alavancar o resultado da empresa, ou seja, o uso de ativos ou fundos
para aumentar os retornos de um determinado investimento.

Neste tópico, estudaremos o que é a alavancagem empresarial e quais são as três formas de analisá-la: a
operacional, a financeira e a total. Além disso, compreenderemos o que é grau de alavancagem e como ele é
calculado e interpretado. Bons estudos!

Alavancagem
Alavancagem empresarial é o resultado da utilização de ativos ou fundos a custo fixo para aumentar os retornos
de um investimento.

As empresas podem usar os custos fixos operacionais para obter a alavancagem operacional, assim como os
custos fixos financeiros (custo do financiamento) para obter a alavancagem financeira; ao final, obtém-se a
alavancagem total (GITMAN, 2010).

Veja, na figura a seguir, o que está imbricado em cada uma delas.

-1-
Figura 1 - Alavancagem operacional, financeira e total
Fonte: GITMAN, 2010, p. 434.

Sua análise é realizada a partir dos registros contábeis contidos na demonstração de resultado do exercício
(DRE): a alavancagem operacional está relacionada ao impacto no lucro antes de juros e imposto de renda
(Lajir), enquanto a alavancagem financeira impacta no resultado após o desconto das despesas financeiras.

Gitman (2010) salienta que aumentos de alavancagem resultam em elevações de retorno e risco, ao passo que
diminuições de alavancagem provocam reduções de retorno e risco.

Vamos conhecer um pouco mais sobre o tema? Continue a leitura!

Alavancagem operacional
Resulta do uso dos custos fixos operacionais para melhorar o Lajir. Somente as empresas que possuem custos
fixos em seus processos de produção de bens e de serviços apresentam alavancagem operacional.

Veja, na figura seguinte, um exemplo dela.

-2-
Figura 2 - Exemplo de alavancagem operacional
Fonte: GITMAN, 2010, p. 439.

Podemos observar, pela tabela anterior, que uma empresa tem previsão de vendas de mil unidades e um Lajir
previsto de R$ 2.500. Por outro lado, considerando um cenário favorável a vendas, um aumento de 50% nas
vendas resultaria em 1.500 unidades.

Para o caso 1, o Lajir previsto é de R$ 5.000, ou seja, um aumento de 100%. Vamos entender: os custos
operacionais, que são variáveis, aumentam proporcionalmente (50%) de valor, isto é, passam de R$ 5.000 para
R$ 7.500. Os custos operacionais fixos, porém, por sua natureza, permanecem os mesmos nas duas situações.
Como impacto, temos que o Lajir passa de R$ 2.500 para R$ 5.000 (o dobro do valor).

Por outro lado, a análise do caso 2 permite observar que, se a previsão de vendas cair em 50%, a empresa terá
uma redução de 100% no Lajir. Esse impacto também está relacionado aos custos fixos operacionais, que
permanecem os mesmos, independentemente do volume de vendas.

FIQUE ATENTO
O lucro por ação (LPA) é o resultado da divisão do lucro disponível para os acionistas
ordinários, auferido contabilmente pela empresa em um determinado período, sobre o
número de ações emitidas por ela no mercado (ASSAF NETO, 2012).

Analisaremos, agora, a alavancagem financeira.

-3-
Alavancagem financeira
Segundo Gitman (2010), a alavancagem financeira é a variação do Lajir sobre o lucro líquido ou sobre o LPA
quando a empresa registra custos financeiros fixos (juros de dívidas e os dividendos de ações preferenciais).

Veja, na figura a seguir, um exemplo dela.

Figura 3 - Exemplo de alavancagem financeira


Fonte: GITMAN, 2010, p. 442.

Na tabela que apresentamos, uma empresa tem previsão de Lajir de R$ 10.000 e um LPA previsto de R$ 2,40.
Todavia, considerando um cenário favorável (caso 1), o Lajir pode obter um aumento de 40%, o que resulta em
um LPA de R$ 4,80, ou seja, um aumento de 100% na lucratividade. Mas o que permitiu esse resultado? Observe
que a previsão de aumento de 40% nas vendas impacta o Lajir, mas os juros e os dividendos preferenciais
permanecem os mesmos, uma vez que são custos fixos financeiros. Dessa forma, um aumento no Lajir impacta
positivamente no LPA, porque a estrutura de custos fixos financeiros permanece a mesma.

Por outro lado, a análise do caso 2 permite observar que, se o Lajir previsto sofrer redução de 40%, haverá um
impacto em redução de 100% no LPA – também em função de que os custos fixos financeiros permanecerão no
mesmo montante, independentemente do resultado no Lajir.

-4-
SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Princípios de administração
financeira, de Lawrence Jeffrey Gitman. Editora Pearson Addison Wesley. Ano: 2010.
Disponível em:

Note também que, no caso dos juros, o desconto é antes do imposto de renda, o que também impacta no
resultado final da lucratividade, uma vez que o desconto dos juros reduz a base de cálculo para o imposto de
renda.

Assim, a alavancagem operacional relaciona a variação nas vendas com a variação no Lajir. Já a alavancagem
financeira relaciona a variação no Lajir com a variação no LPA. Podemos, portanto, analisá-las a partir do grau de
relacionamento: na estrutura de capital da empresa. Assim, o grau de alavancagem mede a sensibilidade na
atividade lucrativa da empresa. Vamos conhecê-los?

Segundo Gitman (2010) e Ross et al. (2012), temos três tipos.


• Grau de alavancagem operacional (GAO): mede a sensibilidade de variações de Lajir às variações de
vendas. Salientamos que somente as empresas que possuem custos fixos em seus processos produtivos
têm alavancagem operacional.
• Grau de alavancagem financeira (GAF): mede a sensibilidade de variações de LPA às variações de
Lajir. Salientamos que somente as empresas que usam capital de terceiros ou outras formas de
financiamento com custo fixo (como ações preferenciais) têm alavancagem financeira.

A fórmula do GAO é:

A fórmula do GAF é:

Na tabela apresentada a seguir, temos na parte do GAO o cenário 2 como cenário realista, em que as vendas
líquidas estão no patamar de R$ 700.000, sem variação. O cenário 1 é um cenário pessimista e indica uma
redução de 10% nas vendas líquidas, o que resulta em um decréscimo de 35% do Lajir.

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Tabela 1 - GAO e GAF: exemplo de cálculo
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em GITMAN, 2010.

O cenário 3 é um cenário otimista e indica um aumento de 10% nas vendas líquidas, o que resulta em um
acréscimo de 35% do Lajir. Como exemplo, vamos aplicar o cálculo do GAO ao cenário 3:

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EXEMPLO
Gitman (2010) explica que, uma vez que a empresa possui custos fixos operacionais, se as
vendas aumentarem 10%, o impacto sobre o Lajir será de 35%. No entanto, o autor ressalta: se
a empresa não possuir custos fixos operacionais, o GAO será igual a 1. Nesse caso, se as vendas
aumentassem em 10%, o Lajir sofreria uma variação na ordem de 10%.

A interpretação do valor do GAO de 3,50 mostra que o Lajir variou 3,5 vezes o valor da variação nas vendas.

Na figura anterior, na parte do GAF, temos o cenário 2 como cenário realista, em que o Lajir é de R$ 80.000, sem
variação. O cenário 1 é um cenário pessimista e indica uma redução de 35% no Lajir, o que resulta em um
decréscimo de 46,67% do LPA. O cenário 3 é um cenário otimista e indica um aumento de 35% no Lajir, o que
resulta em um acréscimo de 46,67% do Lajir.

Como exemplo, vamos aplicar o cálculo do GAF ao cenário 3:

Em função da presença de custos fixos financeiros no processo de produção da empresa, um aumento de 35% no
Lajir resultará em um aumento de 46,67% no LPA. A interpretação do valor do GAF de 1,33 mostra que os
acionistas estão com uma taxa de retorno que é 33% superior à taxa geradora de ativos da empresa. O LPA
variou em torno de 1,33 vezes o valor da variação no Lajir.

Finalmente, o terceiro tipo de grau de alavancagem:


• Grau de alavancagem total (GAT): é obtido a partir da combinação de capital de terceiros com capital
próprio, ou seja, a alavancagem total resulta do efeito combinado do uso de custos fixos, tanto
operacionais quanto financeiros, para amplificar o efeito de variações de vendas sobre os lucros por ação
da empresa.

FIQUE ATENTO
Segundo Gitman (2010) e Ross et al. (2012), a alavancagem total pode ser considerada como
uma medida do impacto total dos custos fixos na estrutura operacional e financeira da
empresa.

A fórmula do GAT é:

Vamos utilizar o exemplo da figura anterior, na parte do GAF, para a aplicação do GAT, em que temos:

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A interpretação do valor do GAT de 4,67 mostra um GAT maior que 1, indicando a presença tanto de custos fixos
operacionais quanto de financiamento. Dessa forma, ao aplicar as fórmulas apresentadas, podemos ter uma
relação de indicadores (GAO, GAF e GAT) que nos permitem analisar os impactos da alavancagem da empresa a
partir do uso dos custos fixos na estrutura de capital.

Fechamento
Neste tópico, estudamos o que é alavancagem empresarial, compreendendo sua importância para a gestão das
empresas. Dentre os conteúdos abordados, vimos a alavancagem operacional, calculada a partir dos custos fixos
operacionais; a alavancagem financeira, calculada a partir dos custos fixos financeiros; a alavancagem total, que
é uma composição das duas anteriores.

Contemplamos todos os principais aspectos deste conteúdo, mas é importante ressaltar ao estudante de
administração financeira que sempre é necessário ampliar os estudos para obter um melhor desempenho no
mercado de trabalho.

Referências
ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. Tradução técnica de Antonio Zoratto Sanvicente. 12. ed.
São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2010. Disponível em: <https://bv4.digitalpages.com.br/?
filtro=autores&term=gitman&searchpage=1&from=autor%2F291%2FGitman%2C%252520Lawrence%
252520J.&page=0&section=0#/edicao/327>. Acesso em: 14/1/2019.

ROSS, S. A. et al. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 2012.

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