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THIAGO SOARES CASTELLIANO LUCENA DE CASTRO

CONCURSO DE
CREDORES NO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL
A DISPUTA ENTRE PREFERÊNCIAS E PRIVILÉGIOS NA
EXECUÇÃO CONTRA O DEVEDOR SOLVENTE
(ARTS. 797, 905, 908 E 909, DO CPC)

2ª EDIÇÃO

Londrina/PR
2023
Dados Internacionais de Catalogação na
Publicação (CIP)

Castro, Thiago Soares Castelliano Lucena


de.
Concurso de credores no Código de
Processo Civil: A disputa entre preferências
e privilégios na execução contra o devedor
solvente (arts. 797, 905, 908 e 909, do CPC)
- 2ª Edição./ Thiago Soares Castelliano
Lucena de Castro. – Londrina, PR: Thoth,
2023.
185 p.
© Direitos de Publicação Editora Thoth.
Bibliografias: 171-182
Londrina/PR.
www.editorathoth.com.br ISBN 978-65-5959-441-2
contato@editorathoth.com.br 1. Direito Processual Civil. 2. Concurso de
Credores. I. Título.

CDD 341.46

Diagramação e Capa: Editora Thoth


Revisão: Patrícia Ribeiro Corado Fernandez Índices para catálogo sistemático
Editor chefe: Bruno Fuga 1. Direito Processual Civil : 341.46
Coordenador de Produção Editorial: Thiago
Caversan Antunes
Diretor de Operações de Conteúdo: Arthur

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pela Editora Thoth. A Editora Thoth não se
responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta obra por
seus autores.
SOBRE O AUTOR

THIAGO SOARES CASTELLIANO LUCENA DE CASTRO


Juiz de Direito no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Mestre em Direito
do Agronegócio e Desenvolvimento pela Universidade de Rio Verde –
UniRV. Especialista em Direito Público pela Universidade Candido Mendes
(Rio de Janeiro/RJ). Curso de extensão em U.S. Legal System pela Fordham
University (Nova Iorque). Ex-Coordenador-Geral das ações de capacitação
em Mediação e Conciliação da Escola Judicial de Goiás – EJUG do Tri-
bunal de Justiça do Estado de Goiás. Ex-Diretor da Escola Superior da
Magistratura do Estado de Goiás – ESMEG castroecastelliano@yahoo.
com.br, @thiagocastelliano.
A Deus, por tudo.
À minha esposa, Fernanda, e nossos filhos, Lorenzo
e Frederico, pelo amor e apoio incondicional.
Aos meus pais, Geraldo e Eulalia, pela dedicação
e exemplo.
Aos meus irmãos, Carolina e Felipe, pelo diálogo
e companhia.
Ao Eduardo Chamel, Elizabeth e Fabiana pela
torcida.
Aos meus ex-professores, Fernando Gama de
Miranda Netto e José Eduardo Pinaud Madruga,
pelas primeiras e valiosas lições.
À memória de Sandra Castelliano de Lucena, pelas
primeiras oportunidades profissionais quando eu
ainda era um estudante universitário.
À memória do Professor Sylvio Capanema de
Souza, ser humano extraordinário na vida pessoal
e profissional, pelo exemplo.
AGRADECIMENTOS

Ao professor Fernando Gama de Miranda Netto, Doutor e Mestre


em Direito pela Universidade Gama Filho, integrante do departamento
de Direito Processual da Universidade Federal Fluminense – UFF, pela
orientação na elaboração deste trabalho. Foram muitos aconselhamentos,
diálogos, correções, indicações bibliográficas e extraordinárias reflexões e
sugestões a respeito do tema. Minha gratidão e eterna admiração desde o
tempo da graduação, na Universidade Candido Mendes.
À professora Flávia Simões de Araújo, doutoranda em Direito
pela Universidade Federal de Goiás – UFG, pela inestimável orientação
metodológica, especialmente nos aspectos ligados à linguagem e à escrita,
com críticas assertivas que forneceram as bases necessárias para a execução
deste trabalho.
Aos professores Guilherme Sarri Carreira e Maurício Ferreira Cunha
pelas sugestões e incentivos.
A Sandra Soares Castelliano de Lucena, com quem dei os primeiros
passos; Georgeana Leal de Macedo Rezende, que me ensinou a buscar a
excelência; e à Desembargadora Mônica Tolledo de Oliveira, inspiração de
magistrada e de quem tive a honra de ser assistente.
Ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás pela preocupação
diária com o jurisdicionado goiano; e aos meus extraordinários colegas
magistrados e magistrados que honram a toga.
Aos servidores e servidoras, estagiários e estagiárias, das comarcas
de Caiapônia e Jataí; especialmente àqueles da 2ª Vara Cível e Fazendas
Públicas de Jataí, pela dedicação e amizade. Amo trabalhar com vocês!
Registro, ainda, meus agradecimentos a Wallen Barros Lima, a Camilla
Costa Vilela, a Rosanna de Morais, a Daysa Peres Macedo Dias Batista
e a Cynthia Chaves Ferreira Campos, por todos esses anos juntos, numa
convivência diária espetacular.
Aos advogados e advogadas da labuta forense, pela relação cortês,
gentil e educada, e peço desculpas se, em algum momento, não pude atendê-
los(as) como desejado.
Aos meus alunos, pessoas com quem mais aprendi do que ensinei.
A todos os professores da minha vida.
Quem pensa demais antes de dar um passo
vai passar a vida toda em uma perna só.
Provérbio Chinês
APRESENTAÇÃO

Ao ser convidado pelo ilustre magistrado Thiago Soares Castelliano


Lucena de Castro para apresentar esta obra, senti-me duplamente
gratificado. Primeiro, por tratar-se de trabalho realizado por um jovem e
brilhante estudioso do Direito; segundo, por ser ele, na atualidade, Juiz de
Direito em Jataí, minha última comarca no interior de Goiás.
Já na página introdutória de sua valiosa obra, o autor salienta a
dubiedade de nossa legislação processual civil no que concerne ao chamado
concurso de credores. E se propõe a esclarecer pontos dos mais importantes,
informando sobre os requisitos à sua instauração, desde o início até a
entrega final da prestação jurisdicional.
Como proêmio, faz uma síntese histórica do Direito, lembrando,
desde o Código de Hamurabi (1772 a.C.), a penúria, muitas vezes, do
devedor que, não raro, era obrigado a pagar suas dívidas com a própria
vida, sendo seu corpo fatiado entre os credores.
Depois, lança uma visão sucinta da questão, em nossa legislação,
desde as Ordenações do Reino (Afonsinas, Manuelinas e Felipinas), cujas
regras, algumas das quais referentes ao concurso de credores, vigoraram até
a entrada em vigor do Código Civil de 1916.
No universo do direito processual civil, o autor realça algumas
questões, às vezes tormentosas, mesmo após a proclamação da República,
já vigentes os códigos regionais, passando pelos estaduais, até o nosso
primeiro Código (nacional) de Direito Processual Civil, que, publicado em
1939, entrou em vigor no ano seguinte.
Na sequência, passa em revista a matéria à luz dos códigos de 1973 e
do atual, comparando o que temos com as legislações argentina, espanhola,
italiana e portuguesa.
Ao discorrer sobre o tema, entretanto, lamenta que tenha o legislador
deixado à margem várias questões importantes. Com razão, mesmo que
essas dificuldades não se comparem àquelas, no dizer de Leite Velho, nos
idos de 1885, labirintosas da época, ainda assim existem e poderiam ter sido
minimizadas.
Essa modalidade de concurso, com tal denominação – lembra o autor
–, apareceu pela primeira vez no Código do Distrito Federal de 1924, e
assim foi repetida no Código de Processo Civil de 1939. Na doutrina, para
diferenciá-lo do concurso universal (falência), tem recebido outros nomes:
concurso particular, concurso de preferentes, concurso de preferência, etc.
Agora, alguns autores, apesar de nosso vigente diploma processual
civil não nominá-lo explicitamente, entendem poder ser ele chamado de
concurso singular de credores. Na minha modesta opinião, com a devida
vênia, penso que o vocábulo singular poderá provocar alguma confusão.
Talvez o melhor seja denominá-lo de concurso simples de credores.
Todavia, o nome é o que menos importa. O que vale, deveras, é poder
a comunidade jurídica dispor de obras como esta; pouco volumosa na
estrutura, porém bastante o suficiente para esclarecer sobre essa modalidade
de concurso de credores.
No que diz respeito ao procedimento, o autor, após mencionar que a
doutrina clássica o divide em quatro fases, entende que, modernamente, é
preferível desdobrá-lo em sete, explicitando-as, didaticamente.
O autor conclui seu trabalho, resumindo-o, inteligentemente, em
poucos parágrafos, os quais, lidos em poucos minutos, podem dar uma
ideia geral de seu valioso conteúdo.
É de se salientar tratar-se de obra oportuna e de grande valia. É de
se ter presente que esta pandemia que nos assola no momento, ceifando
preciosas vidas, já está repercutindo também no mundo econômico e, em
breve, lamentavelmente, poderemos nos deparar com vários problemas
que potencialmente desaguarão no Judiciário, na forma de concurso de
credores, simples ou universal.
Ao futuroso autor, sinceros cumprimentos, com votos de merecido
êxito.
Goiânia/GO, abril de 2.021.

SEBASTIÃO DE OLIVEIRA CASTRO FILHO


Ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça.
Ex-professor da Universidade Católica de Goiás, UNIESB/DF
e da Escola Superior da Magistratura de Goiás.
Advogado e consultor jurídico.
PREFÁCIO

Recebi com honra o convite do autor para prefaciar a segunda


edição deste magnífico livro, publicado pela Editora Thoth, que trata de
importantíssimo tema para a teoria jurídica e técnica processual, que é o do
concurso de credores no Código de Processo Civil.
Juiz de Direito no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, Thiago
Soares Castelliano Lucena de Castro se dedica com afinco ao estudo de
temas relevantes para o processo civil brasileiro, pautado sempre por aquilo
que costumo dizer que deve ser a base da doutrina processual: a busca de
soluções factíveis para problemas reais da prática forense.
Nesta segunda edição, o autor atualizou as referências jurisprudenciais,
inserindo acórdãos do Superior Tribunal de Justiça relativos a julgamentos
realizados no curso do corrente ano.
O autor inicia o capítulo primeiro traçando o delineamento histórico
do concurso de credores. O ponto de partida de sua investigação é a
disciplina legal conferida à execução do devedor no Código de Hamurabi
e no Direito Romano. Trata, na sequência, do concurso de credores nas
Ordenações do Reino, por nós herdadas, no Código Comercial de 1850,
nos Códigos Regionais Processuais e, por fim, nos Códigos de Processo
Civil de 1939 e de 1973, respectivamente.
No segundo capítulo, o autor registra as conclusões de seu estudo
acerca do concurso de credores no direito comparado, realizando a análise
da disciplina conferida à matéria pelas legislações argentina, espanhola,
italiana e portuguesa.
No capítulo terceiro, intitulado “Processo de execução e o surgimento
do concurso de credores”, o autor se dedica à teoria geral da execução,
abordando aspectos importantes das fases do procedimento executivo para
o objeto de seu estudo. No item 1.4, volta-se ao exame da fase de satisfação
e do fenômeno do concurso de credores.
No capítulo quarto, o autor trata dos aspectos introdutórios do
tema central de seu livro. Amparado na doutrina clássica e contemporânea,
aborda o objeto do concurso, a relação entre o concurso singular de credor
e as fases da execução (penhora, expropriação e satisfação), o tratamento
a ser conferido na hipótese de o dinheiro a ser entregue possuir origens
distintas, a adjudicação na hipótese de credores concorrentes, o significado
do direito de preferência, as semelhanças e diferenças entre os concursos
singular e universal, o estado de insolvência do devedor, a natureza jurídica
do concurso de credores (se incidente processual ou ação incidental), e,
por fim, as consequências da não instauração do concurso singular, em que
pese se tenha verificado a existência de outros credores com preferências
ou privilégios sobre um mesmo e único bem.
É de seu texto: “A expropriação e o concurso são fenômenos
processuais relacionados, porém, distintos. Relacionam-se porque aquele
é seu antecedente lógico, pois, no caso de dinheiro, não há concurso
sem prévia alienação; e, ao mesmo tempo, são distintos, operando-se em
momentos e objetivos diversos. Assim, realizada a expropriação, há ato
jurídico perfeito e acabado, cujas nulidades somente podem se referir a ela,
e não ao concurso de credores”. E conclui que “quando o juiz da execução
satisfaz o exequente sem observar que deveria ter facultado aos demais
credores a instauração do concurso singular, a expropriação se manterá
intacta, mas esses credores preteridos poderão reclamar, judicialmente, de
quem recebeu, por meio de ação regressiva”.
O autor dá início ao quinto capítulo tratando dos pressupostos
processuais específicos do concurso de credores. Examina, neste tópico,
a pluralidade de credores, registrando que, em seu sentir, “o legislador, ao
utilizar a palavra ‘exequentes’, referiu-se à posição processual de qualquer
credor postulante no concurso, mas a utilizou de forma equivocada. Isso
porque, cuida-se de uma ação declaratória incidental, cujo postulante
assume a posição processual de autor, em processo de conhecimento, e
não de exequente; assim, o estatuto deveria ter empregado as expressões
‘postulantes’, ‘requerentes’, ‘pretendentes’ ou algo parecido”.
Avança em seu propósito de sistematizar os requisitos para a
instauração do concurso de credores examinando a necessidade de que
não haja decretação da falência da sociedade empresarial ou da insolvência
civil da pessoa natural e também a controvérsia, nos planos da doutrina e
jurisprudência, acerca da necessidade ou não de prévia penhora sobre o
bem.
No penúltimo capítulo, dedica-se a elucidar o procedimento do
concurso de credores propriamente dito, propondo a sistematização em
sete fases.
Na primeira fase, diz em seu texto, ocorre a identificação de outros
credores, averiguando-se “se, sobre o bem, há penhora prévia de outro
credor ou, ainda, outros privilégios ou preferências instituídos anteriormente
à penhora do exequente”.
Na segunda fase, uma vez verificada a existência de outros credores,
estes devem ser cientificados. Nesse ponto, o autor analisa a cientificação
pessoal, por edital e o prazo para a efetiva instauração do concurso.
Na terceira fase, destinada à postulação, o autor analisa questões
relativas à competência do juízo e às hipóteses de modificação da
competência, aos requisitos da petição inicial e às peculiaridades da cognição
judicial nos planos horizontal e vertical.
Ainda nesse tópico, o autor trata de importantes temas de ordem
prática, tais como a suspensão da execução, a posição processual do credor
postulante (isto é, se ele intervirá na qualidade de terceiro ou assumirá
a posição de parte), a constituição de litisconsórcio entre exequente e
executado, a citação dos réus que contestem, as providências preliminares e
a possibilidade de o juiz julgar antecipadamente o mérito.
Na quarta fase, diz o autor, ocorre o saneamento e organização, e na
quinta, passa-se à instrução probatória voltada à reconstrução histórica dos
fatos para formação da convicção judicial. Segundo registra em seu texto,
“nas situações em que o credor deverá demonstrar a existência da penhora
como requisito de participação, encontrará obstáculo em prová-la, afinal,
a forma escrita é requisito de validade; o mesmo ocorre com credor sem
privilégio, que deverá fazer prova do critério temporal dessa penhora a fim
de estabelecer sua preferência (art. 838, do CPC/15). Mas esse empecilho
não encontra ressonância em relação a alguns privilégios, que poderão ser
provados por qualquer meio legalmente permitido, inclusive em audiência
de instrução”.
A sexta fase do procedimento é a fase decisória. No entender do
autor, “o concurso singular instaura-se a partir de uma postulação e forma
uma relação jurídica processual autônoma, cuja resolução exige como
meio a sentença, porque encerrará processo de primeiro grau com análise
fundada no art. 485 ou 487, do CPC/15”.
Na sétima e última fase, ocorre a distribuição e entrega, isto é, a
efetiva concretização daquilo que se decidiu no concurso singular.
No último capítulo, o autor se ocupa da classificação dos créditos
no concurso de credores. Trata do direito de preferência, dos créditos que
não participam do concurso, dos créditos privilegiados, da concorrência de
privilégios e da qualificação dos créditos.
Arremata seu estudo afirmando que: “Apesar de externalizarem uma
disputa entre os credores pela satisfação do seu crédito, o concurso singular
e o universal (falência e insolvência) não se confundem. Naquele se aplica
o princípio do prior in tempore, potior in iure e não haverá a convocação de
todos os credores, pois, participarão apenas os que obtiveram penhora
sobre o bem disputado; enquanto esse é regido pelo princípio da par conditio
creditorum e todos os seus credores serão indistintamente convidados a
participar. Apesar das diferenças, as semelhanças os aproximam, formando
um microssistema concursal, motivo pelo qual, havendo lacuna normativa
para o concurso singular, serão aplicadas as normas do universal, por meio
da analogia”.
É um trabalho excepcional! A todos que buscam conteúdo específico
sobre o tema, esta, certamente, é uma fonte a ser consultada.
Rio de Janeiro, dezembro de 2022.

LUIZ RODRIGUES WAMBIER


Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP) e Mestre em Direito pela Universidade Estadual de Londrina
(UEL). Professor no Programa de Mestrado e Doutorado em Direito do
Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). Autor,
entre outros livros, do “Curso Avançado de Processo Civil”, “Liquidação
da Sentença Civil” e diversos artigos publicados em revistas jurídicas,
nacionais e estrangeiras. Advogado.
SUMÁRIO

SOBRE O AUTOR .....................................................................................................................7


AGRADECIMENTOS ............................................................................................................11
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................15
PREFÁCIO ...............................................................................................................................17
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................25

CAPÍTULO I
ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO CONCURSO DE CREDORES ...................27
1 Primeiros delineamentos históricos .....................................................................................27
2 As ordenações do Reino ........................................................................................................30
3 O Regulamento n.º 737/1850 ...............................................................................................32
4 Códigos Processuais regionais ..............................................................................................33
5 Código de Processo Civil de 1939........................................................................................34
6 Código de Processo Civil de 1973........................................................................................35

CAPÍTULO II
CONCURSO DE CREDORES NO DIREITO COMPARADO.....................................39
1 Introdução................................................................................................................................39
2 Direito argentino.....................................................................................................................40
3 Direito espanhol......................................................................................................................41
4 Direito italiano.........................................................................................................................43
5 Direito português ....................................................................................................................45

CAPÍTULO III
PROCESSO DE EXECUÇÃO E O SURGIMENTO DO CONCURSO DE
CREDORES...............................................................................................................................49
1 Processo de execução .............................................................................................................49
1.1 A fase postulatória ...............................................................................................................50
1.2 A fase de constrição patrimonial: a penhora ...................................................................50
1.2.1 A coexistência de penhoras sobre o mesmo bem........................................................50
1.2.2 O objeto da penhora..........................................................................................................51
1.2.3 A forma de concretização................................................................................................52
1.2.4 Os efeitos da penhora.......................................................................................................53
1.3 A fase de expropriação do patrimônio do executado ....................................................55
1.3.1 A adjudicação.....................................................................................................................55
1.3.2 A alienação..........................................................................................................................56
1.4 A fase de satisfação e o fenômeno do concurso de credor...........................................57

CAPÍTULO IV
INTRODUÇÃO AO CONCURSO DE CREDORES ......................................................61
1 As primeiras notas sobre o concurso...................................................................................61
2 A denominação: singular, individual ou de preferência?...................................................63
3 O objeto do concurso ............................................................................................................65
3.1 A delimitação do problema ................................................................................................65
3.2 A opinião da doutrina .........................................................................................................66
3.3 A entrega do dinheiro .........................................................................................................70
3.3.1 O mesmo bem, mas com origens diferentes.................................................................70
3.3.2 A opção legal: dinheiro produto de alienação...............................................................71
3.4 A adjudicação .......................................................................................................................76
3.4.1 A adjudicação-arrematação...............................................................................................77
3.4.2 A adjudicação-remição......................................................................................................78
4 O direito de preferência .........................................................................................................79
5 O concurso singular e o universal ........................................................................................80
5.1 As semelhanças e diferenças ..............................................................................................80
5.2 A simultaneidade entre o concurso singular e o universal ............................................82
5.3 Por um tratamento igualitário, na medida do possível ...................................................83
6 O estado de insolvência do devedor ....................................................................................85
7 A natureza jurídica ..................................................................................................................85
7.1 Incidente processual ou ação incidental? .........................................................................86
7.2 O concurso singular seria uma oposição? ........................................................................89
7.3 A (má)técnica do pedido de reserva de crédito...............................................................91
8 A não instauração do concurso singular .............................................................................92

CAPÍTULO V
REQUISITOS DO CONCURSO DE CREDORES .........................................................95
1 Os pressupostos processuais específicos do concurso .....................................................95
1.1 A pluralidade de credores e/ou exequentes ....................................................................96
1.2 A inexistência de falência ou insolvência decretadas .....................................................97
1.3 A prévia penhora sobre o bem ..........................................................................................98

CAPÍTULO VI
PROCEDIMENTO DO CONCURSO DE CREDORES .............................................107
1 A proposta de sistematização do concurso em sete fases ..............................................107
2 As sete fases do concurso singular .....................................................................................109
2.1 Primeira fase: identificação de outros credores.............................................................109
2.1.1 Os bens sujeitos a registro..............................................................................................109
2.1.2 O protesto por preferência............................................................................................110
2.2 Segunda fase: cientificação dos credores........................................................................111
2.2.1 A cientificação pessoal....................................................................................................112
2.2.2 A cientificação por edital................................................................................................113
2.2.3 O prazo para a instauração do concurso.....................................................................114
2.3 Terceira fase: postulação ...................................................................................................115
2.3.1 O juízo competente........................................................................................................115
2.3.1.1 A competência funcional............................................................................................116
2.3.1.2 A competência no concurso universal.......................................................................117
2.3.1.3 A competência no concurso singular.........................................................................117
2.3.1.3.1 A disputa pelo dinheiro produto de alienação......................................................118
2.3.1.3.2 A disputa pelo próprio bem na adjudicação..........................................................121
2.3.1.4 A diversidade de juízos constitucionais.....................................................................121
2.3.1.5 A conexão entre mais de um concurso.....................................................................123
2.3.1.6 O conflito de competência.........................................................................................124
2.3.2 A petição inicial e a instauração do concurso................................................................124
2.3.3 A cognição judicial..........................................................................................................126
2.3.4 A suspensão da execução................................................................................................127
2.3.5 A posição do credor postulante....................................................................................128
2.3.6 A participação do exequente e do executado..............................................................130
2.3.7 A citação para contestar.................................................................................................132
2.3.8 As providências preliminares..........................................................................................133
2.3.9 O julgamento conforme o estado do processo...........................................................133
2.4 Quarta fase: saneamento e organização .........................................................................133
2.5 Quinta fase: instrução .......................................................................................................134
2.6 Sexta fase: decisão..............................................................................................................135
2.6.1 Sentença ou decisão interlocutória?.............................................................................135
2.6.2 Natureza jurídica e conteúdo.........................................................................................136
2.6.3 A fixação de honorários advocatícios.............................................................................137
2.6.4 A exclusão de outras restrições sobre o bem...............................................................138
2.7 Sétima fase: distribuição e entrega ..................................................................................138

CAPÍTULO VII
CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS NO CONCURSO DE CREDORES .............143
1 Considerações iniciais sobre o direito de preferência .....................................................143
2 Os créditos que não participam do concurso...................................................................145
2.1 Os créditos de obrigação propter rem ...............................................................................145
2.1.1 Taxa de condomínio versus IPTU...................................................................................147
2.1.2 Taxa de condomínio versus direitos reais de garantia..................................................148
2.1.3 Taxa de condomínio versus crédito trabalhista............................................................148
2.2 As despesas da execução ..................................................................................................149
3 Os créditos privilegiados......................................................................................................150
3.1 A concorrência de privilégios ..........................................................................................151
4 A classificação dos créditos para o concurso ...................................................................152
4.1 O crédito trabalhista e acidente do trabalho .................................................................153
4.2 O crédito tributário ...........................................................................................................155
4.3 Os direitos reais de garantia .............................................................................................156
4.4 Os créditos com privilégio especial ................................................................................158
4.5 Os créditos com privilégio geral ......................................................................................159
4.6 Os créditos quirografários e subquirografários.............................................................159
4.6.1 O critério temporal da penhora....................................................................................160
4.6.2 O registro da penhora no cartório imobiliário..............................................................161
4.6.3 A averbação da existência da execução........................................................................164
4.6.4 O arresto executivo e o cautelar...................................................................................165
4.6.5 A penhora no ‘rosto dos autos’......................................................................................166
4.6.6 A indisponibilidade dos bens.........................................................................................167

CONCLUSÕES .......................................................................................................................169
BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................................171
QUADRO COMPARATIVO ................................................................................................183
ANEXO ....................................................................................................................................183
INTRODUÇÃO

No processo de execução, os procedimentos e seus institutos foram


assimilados pelos operadores do direito em razão da minuciosa descrição
legal e da extensa doutrina escrita ao longo de décadas, na vigência dos
Códigos de Processo Civil de 1973 e de 2015, a exemplo do que ocorre com
a penhora, com o leilão e com os embargos do devedor.
Não é o caso do concurso de credores.
No exercício da judicatura, deparei-me com execuções por quantia
certa em que havia dinheiro depositado em favor do exequente, produto
do leilão, e, ao mesmo tempo, a existência de outras penhoras e privilégios
sobre o bem expropriado. Diante disso, muitos questionamentos surgiram.
O juiz deve identificar, de ofício, a existência ou não de outros credores
preferentes ou privilegiados? Se sim, como cientificá-los? O credor
estranho à execução, para participar do concurso, precisa ter prévia penhora
sobre o bem que foi leiloado ou que será adjudicado? Se essa penhora for
sobre bem imóvel, é necessário o registro na matrícula? Como o credor
dará início ao concurso: por meio de petição inicial ou ‘mera’ petição na
execução? O juiz deve proferir decisão de instauração do concurso ou
será instaurado automaticamente? Trata-se de incidente processual ou ação
judicial incidental? Há contraditório e ampla defesa para o exequente e para
o executado? Qual é o procedimento aplicável? Qual é o juízo competente?
Como encerrar o concurso: por sentença ou decisão? Qual é a ordem dos
privilégios e das preferências?
O tema é comum ao direito material, que disciplina as preferências
e os privilégios, e ao direito processual, que regulamenta sua efetivação na
execução. E foi justamente na seara processual que constatei que o Código
de Processo Civil brasileiro é omisso sobre quase todos os questionamentos,
revelando absoluto desinteresse por parte do legislador; que a doutrina
pouco se debruçou sobre a matéria; que há contradição nos julgamentos do
Superior Tribunal de Justiça; e que o assunto é bastante complexo.
Em linhas gerais, propomo-nos a responder às seguintes perguntas
sobre o concurso de credores na execução por quantia certa contra o
devedor solvente:
26 CONCURSO DE CREDORES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

a) Quando ele se manifesta?


b) Qual é o seu objeto?
c) Qual é a sua natureza jurídica?
d) Quais são os requisitos para a sua instauração?
e) Como ele deve ser iniciado?
f) Qual é o procedimento aplicável?
g) Como são classificados os créditos?
São as premissas e os objetivos que desejamos alcançar ao longo de
sete capítulos.
No primeiro, apresentamos as origens históricas do tema e o
tratamento conferido ao longo do tempo no direito brasileiro; no segundo,
passamos por algumas legislações estrangeiras; no terceiro, identificamos o
momento do surgimento do concurso na execução; no quarto e no quinto,
fixamos as principais premissas do instituto, com a definição do seu objeto,
sua natureza, o que o aproxima e distancia da falência e seus pressupostos
de existência e validade; no sexto, analisamos o procedimento aplicável; e,
por fim, no capítulo sétimo, identificamos a classificação dos créditos.
A partir de uma análise histórica e dogmática, identificamos e
examinamos sua disciplina pelo Código de Processo Civil, investigamos
a doutrina que se dedicou ao assunto e avaliamos as decisões do Superior
Tribunal de Justiça, com uma linguagem clara, direta e objetiva, a fim de
que a obra seja um porto seguro aos operadores do Direito. Com isso,
apresentamos sugestões e reflexões, sujeitas a críticas e sem pretensão de
esgotar o assunto.
CAPÍTULO I
Antecedentes históricos do
concurso de credores

Recria tua vida, sempre, sempre.


Cora Coralina

1 PRIMEIROS DELINEAMENTOS HISTÓRICOS

Historicamente, o descumprimento de um negócio ou a prática de


um ato ilícito fazia incidir sobre o devedor um sistema de responsabilidade
pessoal, que passava pela possibilidade da morte ou redução à qualidade
de escravo (sua ou de seus familiares).1 Assim, por exemplo, ocorreu no
Código de Hamurabi, de 1772 a.C., cujo parágrafo 117º previu a servidão
por dívida, podendo o devedor se oferecer – ou sua mulher ou filho –
para trabalhar na casa do credor por três anos. No quarto ano, a dívida era
extinta.2
No Direito romano, entre a queda da monarquia e a inauguração da
república, uma comissão foi criada para elaboração das primeiras leis e a
compilação de todas as normas então vigentes. Entre os anos de 452-450
a.C., foi promulgada a Lei das XII Tábuas.3
Ela manteve o sistema de execução pessoal. A tábua terceira, número
9, estabeleceu:
Se não forem muitos os credores, será permitido, depois do
terceiro dia de feira, dividir o corpo do devedor em tantos
pedaços quantos sejam os credores, não importando cortar
mais ou menos; se os credores preferirem, poderão vender
1. ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 226.
2. PEDROSA, Ronaldo Leite. Direito em História. Nova Friburgo: Imagem Virtual, 2002, p. 96;
e DA SILVA, Renato Gomes (org.). Código de Hamurabi, Manual dos Inquisidores, Lei das
XII Tábuas. São Paulo: Nilobook, 2013, p. 26.
3. CUNHA, Edilson Alkmin (cord.). Corpus Iuris Civilis Digesto – Livro I. Brasília: ESMAF,
2010, p. 138.
28 CONCURSO DE CREDORES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

o devedor a um estrangeiro, além do Tibre.4


Em 737 a.C., foi editada a Lex Iulia de Cessione Bonorum, que outorgou
ao devedor insolvente a faculdade de ceder a seus credores os bens que
possuía, afastando, assim, a execução pessoal.5
Mas foi em 326 a.C., com a Lex Poetelia Papiria, que o patrimônio do
devedor passou a ser a garantia de recebimento do crédito, colocando fim
ao sistema de responsabilidade pessoal.6
Se no passado era possível o esquartejamento do devedor em tantas
partes quanto fosse o suficiente para contemplar seus credores, com
o deslocamento da execução pessoal para a patrimonial, percebeu-se a
necessidade de criação de um novo procedimento, inclusive para contemplar
a pluralidade de credores. Foi então que o pretor Públio Rutílio introduziu,
em 118 a.C., o procedimento conhecido por bonorum venditio,7 que consistia
na venda dos bens do devedor em leilão, prevendo, ainda, a possibilidade de
concurso creditório, em quatro etapas.8
Na primeira etapa, um dos credores requeria ao magistrado a imissão
na posse dos bens do devedor e havia a concessão a título provisório, a fim
de que os bens fossem conservados; na segunda, decorridos trinta dias,
o magistrado determinava que os credores se reunissem e escolhessem o
magister bonorum9 que promoveria a venda, em leilão, do bem; na terceira,
o leilão era realizado; na quarta e última, o produto da venda era dividido
entre os credores, pagando-se primeiro aos privilegiados – na época eram
os garantidos por hipotecas – e, por fim, aos quirografários.10

4. ROLIM, Luiz Antônio. Instituições de Direito Romano. São Paulo: RT, 2008, p. 26; DA
SILVA, Renato Gomes (org.). Código de Hamurabi, Manual dos Inquisidores, Lei das XII
Tábuas. São Paulo: Nilobook, 2013, p. 86; LOBO, Abelardo Saraiva da Cunha. Curso de
Direito Romano. Brasília: Editora do Senado Federal, 2006, p. 285/286.
5. ARMARIO, Faustino Gutiérrez-Alviz y. Diccionario de Derecho Romano. Madrid: Reus, 1976, p.
397; ROCCO, Alfredo. Il fallimento. Napoli: Fratelli Bocca Editori, 1917, p. 169.
6. ROLIM, Luiz Antônio. Instituições de Direito Romano. São Paulo: RT, 2008, p. 247.
ARMARIO, Faustino Gutiérrez-Alviz y. Diccionario de Derecho Romano. Madrid: Reus, 1976, p.
416.
7. TOMKINS, Frederick, LEMON, William George. The commentaries of Gaius on the Roman Law.
London: Butterworths, 1869, p. 292; CUENCA, Humberto. Proceso Civil Romano. Buenos
Aires: Ediciones juridicas europa-america, 1957, p. 115; ROCCO, Alfredo. Il fallimento. Napoli:
Fratelli Bocca Editori, 1917, p. 142/143; BUZAID, Alfredo. Do concurso de credores no
processo de execução. São Paulo: Saraiva, 1952, p. 53.
8. ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 227/228.
9. Era um servidor público responsável pela alienação do patrimônio do devedor, sendo o
antecedente romano do atual administrador judicial.
10. J. X. Carvalho de Mendonça explica que nesse concursus creditorum uma das regras fundamentais
era o tratamento igualitário entre os credores, aplicando-se, desde aquela época, a par conditio
creditorum (Tratado de Direito comercial brasileiro. Campinas: Bookseller, 2004, p. 24).
Antecedentes históricos do concurso de credores 29

A execução no antigo Direito romano era universal e abrangia todo


o patrimônio do devedor (missio in bona), que era integralmente vendido
em hasta pública para pagar suas dívidas, ainda que tivesse um único bem
suficiente para adimpli-la. Nessa disputa, a legislação romana acolheu o
princípio da par conditio omnium creditorum para conferir tratamento igualitário
a todos os credores, salvo eventual privilégio legal.11
Somente durante o império a legislação se desenvolveu para instituir
a execução apenas sobre bens suficientes ao adimplemento, e não sobre
todo o patrimônio do devedor. Proibiu, todavia, a realização de mais de
uma penhora sobre o mesmo bem.12
Por esse motivo, surgiu o princípio do prior in tempore, potior in iure para
assegurar a satisfação do credor que primeiro pediu a execução e obteve a
missio possessione ex primo decreto, o qual deveria ser satisfeito primeiro, como
prêmio à sua vigilância e diligência.13
Esse princípio foi desenvolvido nos séculos XII e XVI pelos
glosadores e, a partir do momento em que as diversas legislações passaram
a permitir mais de uma penhora sobre o mesmo bem, sofreu uma mutação
para premiar aquele que primeiro obteve a penhora.14
O concurso de credor no Direito romano abrangia devedores de
qualquer classe ou categoria, inclusive comerciantes, uma vez que não existia
essa figura autônoma para aquele sistema jurídico. Apesar de os romanos
conviverem com um comércio florescente e intenso, os jurisconsultos não
separavam o direito comercial do civil, seja porque havia uma tendência
à abstração e à generalização para todos os ramos, seja porque inexistiam
corporações mercantis formais, ou ainda porque não havia relações
comerciais internacionais entre diversos Estados soberanos.15
Apenas na Idade Média, a partir do século XIII, iniciou-se a formação
de um direito comercial autônomo, cosmopolita e consuetudinário, com
normas próprias e apartadas do direito civil.16 Os italianos, entre os séculos
11. BUZAID, Alfredo. Do concurso de credores no processo de execução. São Paulo: Saraiva,
1.952, p. 78; ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Vol. II, Rio de Janeiro: Forense,
2001, p. 228.
12. SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Max
Limonad, 1973, p. 411.
13. BUZAID, Alfredo. Do concurso de credores no processo de execução. São Paulo: Saraiva,
1952, p. 105.
14. SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Max
Limonad, 1973, p. 413.
15. O professor João Eunápio Borges lembra que a origem do Direito Comercial, como ramo
autônomo, está intimamente ligada à transnacionalidade das relações comerciais, que exigiam
normas comuns entre diversos povos, de onde se iniciou a construção de um ramo próprio
embora, no início, de forte conotação consuetudinária (Curso de Direito comercial terrestre.
Rio de Janeiro: Rio, 1969, p. 21/22).
16. BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e falência: Lei n.º
30 CONCURSO DE CREDORES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

XV e XVI, conferiram os primeiros contornos da execução coletiva


falimentar, em estatutos esparsos por suas diversas cidades;17mas foi
Portugal, em 1595, que criou o primeiro diploma de matéria falimentar,
aplicável exclusivamente aos comerciantes, estabelecendo um marco na
separação entre o concurso falimentar e o não falimentar de credores.18

2 AS ORDENAÇÕES DO REINO

No descobrimento do Brasil, vigorava em Portugal a fase das grandes


codificações legislativas.
A primeira delas, denominada Ordenações Afonsinas, surgiu em
1446, por obra do rei Afonso V, e foi dividida em cinco grandes livros: o
primeiro cuidava das regras de administração do país; o segundo das normas
aplicáveis aos clérigos, ao Rei, aos estrangeiros e à nobreza; o terceiro era
relativo a processo civil; o quarto tratava de direito comercial e civil; e o
quinto discorria acerca de direito penal.19
Em 1512, foram promulgadas as Ordenações Manuelinas, do rei D.
Manuel I, que governou entre 1495 a 1521. A estrutura das Ordenações
Manuelinas seguiu a anterior, com previsão do concurso de preferência.20
De 1580 a 1640, Portugal ficou sob domínio da Espanha, cujo trono
era ocupado pelo rei Felipe II; diante da união Ibérica, o monarca editou as
Ordenações Filipinas em 1603.
Elas tiveram pouca incidência sobre o território brasileiro a partir
do descobrimento; todavia, mesmo depois da declaração de independência
do Brasil, em 1822, as normas portuguesas conservaram-se em vigor,
especialmente as Ordenações Filipinas, pois, em 20 de outubro de 1823,
foi editada lei que manteve em vigor todas as leis, regimentos, alvarás,
decretos, resoluções e ordenações promulgadas pelos Reis de Portugal, até
que fossem revogadas.21

11.101/2.005. São Paulo: RT, 2.018, p. 56; e MARTINS, Fran. Curso de Direito comercial.
Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 5.
17. VALVERDE, Trajano de Miranda. Comentários à Lei de Falências. Rio de Janeiro: Forense,
1962, p. 7.
18. BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e falência: Lei n.º
11.101/2005. São Paulo: RT, 2018, p. 57; MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de
Direito comercial brasileiro. Campinas: Bookseller, 2004, p. 27; e ALMEIDA, Amador Paes.
Curso de falência e recuperação de empresa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 31.
19. PEDROSA, Ronaldo Leite. Direito em história. Nova Friburgo: Imagem Virtual, 2002, p.
306/307.
20. BUZAID, Alfredo. Do concurso de credores no processo de execução. São Paulo: Saraiva,
1952, p. 120.
21. MARCOS, Rui de Figueiredo; MATHIAS, Carlos Fernando; NORONHA, Ibsen. História
do Direito brasileiro. São Paulo: Forense Universitária, 2014, p. 39. Disponível em: https://
www2.camara.leg.br. Acesso em 30/03/2019.
Antecedentes históricos do concurso de credores 31

As Ordenações Filipinas eram assim divididas: Livro I era dedicado


à organização judiciária; Livros II e IV, à legislação civil e comercial; Livro
III, ao processo civil; e Livro V; à legislação penal.22
Apesar de organizada, sua aplicação era confusa, pois eram editados
complementos normativos sucessivos; em matéria processual, por exemplo,
foram editados o Alvará de 24 de julho de 1713, que estabeleceu formalidade
nos tribunais, e a Lei n.º 20, de 1774, que fixou regras para as preferências.
Sobre o concurso de credores, a redação original das Ordenações, no
Livro II, Título XCI, previu:
quando o credor, que primeiro houver sentença, e fizer
execução, precederá os outros posto que sejam primeiros
em tempo. (sic)
Joaquim Ignacio Ramalho explicou que o fundamento do concurso
era a insolvabilidade do devedor comum, quando surgiam muitos credores
em busca da satisfação do seu crédito. Sua finalidade era conhecer se eram
verdadeiros e graduá-los entre si. Nenhum credor podia ser admitido sem
sentença e penhora prévias.23
O concurso tinha início com a citação de todos os credores, que
podiam deduzir sua preferência. Seguia-se a réplica e tréplica, com prolação
de sentença de declaração da graduação.
Eram distribuídos nas seguintes classes: os credores privilegiados
eram aqueles que detinham benfeitorias; os de dinheiro com que se comprou
o bem; a Fazenda Nacional; os de foros ou censos; os aluguéis de casas;
os honorários de juízes ou advogados; os soldos; os credores de dotes;
os credores de alimentos; o menor sobre os bens do tutor; as despesas
funerárias e as legítimas. Na segunda classe estavam os credores hipotecários
graduados pela ordem de antiguidade; por último, os quirografários, com
prioridade pela ordem da penhora.24
Cada capítulo da Ordenação Filipina foi revogado em momento
diferente. Assim, o Código Criminal do Império, de 1830, revogou o livro
V; o Código Comercial e o Regulamento n.º 737, ambos de 1850, revogaram
partes dos Livros II e IV que diziam respeito às matérias comercial e
processual; e o Código Civil de 1916 revogou os capítulos II e IV, sobre
legislação civil.

22. PEDROSA, Ronaldo Leite. Direito em história. Nova Friburgo: Imagem Virtual, 2002, p.
307.
23. RAMALHO, Joaquim Ignacio. Practica Civil e Comercial. São Paulo: Typographia imparcial
de Joaquim Roberto de Azevedo Marques, 1861, p. 232/234.
24. BUZAID, Alfredo. Do concurso de credores no processo de execução. São Paulo: Saraiva,
1952, p. 127.

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