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Disciplina Imagem e Cultura

na Amazônia
Radiografia Textual / Imagética

Edrita Frita. Joan Mitchell, 1981.


Identificação da Obra:

MANGUEL, Alberto. Joan Mitchell: a imagem como ausência. In Lendo imagens: uma
história do amor e ódio, (pp. 35-55. Tradução Rubens Figueiredo, Rosaura Eichemberg
e Cláudia Strauch. São Paulo. Cia. Das Letras, 2001.

O autor:
Alberto Manguel (1948 - ), argentino e
naturalizado cidadão canadense. É escritor,
tradutor, ensaísta e editor. É autor de vários
livros de não-ficção e análise literária, a
maioria deles em inglês. Por mais de 20
anos, Alberto editou antologias literárias
de vários temas e gêneros, indo desde
obras eróticas a história de fantasia e
mistério. De julho de 2016 a agosto de
2018 foi diretor da Biblioteca Nacional da
Argentina.
Objeto de Estudo: as imagens reproduzidas nas telas de Joan Mitchell e
Jackson Pollock.

Problemática: o autor questiona se na pintura de Joan Mitchell há algo mais


do que a massa de pinceladas coloridas?

Se existe um contexto em que a confusão de formas e cores podem ser lidas?


Se existe uma linguagem com que o expectador possa familiarizar-se antes de
a tela admitir um significado?

Ou a tentativa de ir além da reação emocional imediata é algo alheio à criação


de Mitchell, a imposição de uma leitura que, como o remate moral em uma
fábula vitoriana [ou seja, contraditória], desvirtua a própria coisa que ela tenta
apreender?
Objetivo geral: Problematizar sobre obras de arte inscritas na categoria
“ausência de linguagem” – para além do entendimento.

Fontes documentais: Livros, artigos, entrevistas, pinturas de Joan


Mitchell e as “pinturas respingadas” de Jackson Pollock.
Aporte
Teórico:
Citação das principais passagens:

• Sobre a obra “Dois Pianos”: “... creio que consigo reconhecer duas
vagas formas de piano nos trechos de cor lilás da esquerda para a
direita – mas esse reconhecimento não é muito convincente. A única
coisa certa é o brilho do amarelo, que se torna ainda mais quente em
virtude da sua associação com o lilás quase cor de rosa, e a impressão
de movimento ou mancha, criada pela proximidade e direção das
pinceladas (MANGUEL, 2001, p. 40).
Joan Mitchell
Dois pianos’, 1980, óleo sobre tela, díptico, 110 x 142.
• Joan Mitchell (1925-1992). Ela
ocupou uma estatura célebre na
geração que sucedeu Pollack e
Rothko
(http://www.foundationcenter.org/gr
antmaker/joanmitchellfdn/about.htm
l).
• Paul Jackson Pollock (1912 —
1956), conhecido
profissionalmente como Jackson
Pollock, foi um pintor norte-
americano e referência no
movimento do expressionismo
abstrato.

• Ele se tornou conhecido por seu


estilo único de pintura por
gotejamento
(https://www.wikiart.org/pt/jacks
on-pollock).
- Em 1948, Jackson Pollock expôs sua primeira “pintura respingada”, ...
produziu uma imagem que recusava toda tentativa de narração, quer em
palavras, quer em imagens, que rejeitava todo e qualquer controle, tanto
do artista como do espectador, e que parecia existir em um presente
constante, como se a explosão da tinta na tela estivesse sempre prestes a
acontecer (MANGUEL, 2021, p. 40-41).
Número 1A, 1948. Óleo s/tela (1,73 X 2.64 m) - Jackson Pollock.
- Pollock e seus colegas consideravam essas técnicas uma solução para
o dilema: de que modo responder emocionalmente ao mundo, e não
copiá-lo ou melhorá-lo, nem comunicar alguma coisa sobre ele, mas
simplesmente compartilhar o seu impulso criativo, trazendo o artista e o
espectador para dentro da própria pintura (MANGUEL, 2021, p. 42-43).
Número 1 (névoa de lavanda). Jackson Pollock 1950.
- Se um espectador preferir “ler” a pintura, a responsabilidade tanto da
leitura como da escrita, da decifração e da codificação de uma
mensagem cifrada, não está nas mãos do artista, mas do espectador
(MANGEUL, 2021, p. 43).
Número 3. Jackson Pollock , 1949.
- O que Pollock criou foi um sistema de signos que ele recusava imbuir
de mensagem ou de sentido. O estilo novo tornou-se conhecido como
expressionismo abstrato (MANGUEL, 2021, p. 43).
Número 5. Jackson Pollock , 1948.
- A tentativa de não comunicar é, de qualquer modo tão complexa
quanto a tentativa de comunicar, e sem dúvida igualmente antiga. Mas a
admissão formalizada dessa tentativa, desse enriquecimento do silêncio
– mediante palavras, gestos ou sinais – é um fenômeno moderno ... e
Pollock pendura na parede de um museu uma tela coberta de espirros
mudos (MANGUEL, 2021, p. 43).
Número 8. Jackson Pollock , 1949.
- Jackson Pollock corporificou essa antiga recusa de retratar o que
não pode ser retratado. Ele intuiu (ou acreditou ter intuído) as mais
antigas e mais profundas concepções da humanidade; também
compreendeu que essas concepções, se verdadeiras, deveriam ser
incomunicáveis, pois qualquer linguagem que tentasse exprimi-las,
em sons ou em formas, necessariamente as restringiria ou as
transformariam, por conta da natureza mesma dessa linguagem
particular. Para pôr na tela essas concepções ancestrais, ele tinha de
trabalhar fora da linguagem, ou dentro da ausência de linguagem
(MANGEUL, p. 44-45).
Postes azuis (Número 11). Jackson Pollock, 1952.
Número 32. Jackson Pollock, 1947.
Forma livre. Jackson Pollock, 1946.
Joan Mitchell

- Joan Mitchell pertence a geração que sucedeu imediatamente à de


Pollock e partilhou ou herdou um credo artístico semelhante ... no
íntimo, ela era uma romântica e tentava pintar, assim como Pollock
havia desejado, “sem ter consciência do ato” (MANGUEL, 2021, p. 46-
47).
Sem título. Joan Mitchell, 1951
• Ela geralmente trabalhava em vários painéis ou telas de grande escala -
esforçando-se para atrair um ritmo "natural" e não construído da
composição, um ritmo que emana da expansividade do gesto ou do uso
desenfreado da cor e da luminosidade penetrante
(http://www.foundationcenter.org/grantmaker/joanmitchellfdn/about.ht
ml)
Paisagem da cidade . Joan Mitchell, 1955.
• Os títulos de suas últimas pinturas sugerem os vales abstratos e os
"campos" empíricos de seu amado campo francês
(http://www.foundationcenter.org/grantmaker/joanmitchellfdn/about.ht
ml)
Cicuta . Joan Mitchell, 1956.
- Embora Mitchell não parta de um código predeterminado ou comum,
as cores dela transmitem sua significação própria para o espectador
(MANGUEL, 2021, p. 48).
O Grande Vale XIV (por um tempo). Joan Mitchell, 1983.
- ... O emprego que Mitchell faz das cores parece realçar ou esconder
uma escrita em esqueleto. Não existe, é claro, nenhum alfabeto desse
tipo, mas nossa tendência para ler, para buscar sinais significantes em
todas as criações artísticas, transforma as explosões de cores de Joan
Mitchell, aos nossos olhos, em textos iconográficos à beira da
significação (MANGUEL, 2021, p. 48).
Sem título. Joan Mitchell., 1992.
- ... Nenhuma cor, nenhum sinal é inocente. Atribuímos às cores tanto
uma realidade física como uma realidade simbólica ... as cores são
fisicamente agradáveis em si mesmas (vale dizer, na nossa percepção),
mas são também emblemas do nosso relacionamento emocional com o
mundo, por meio dos quais intuímos o insondável (MANGUEL, 2021,
p. 48-50).
Aqui. Joan Mitchell, 1992.
Girassóis. Joan Mitchell, 1991.
Rio. Joan Mitchell, 1990.
Edrita Frita. Joan Mitchell, 1981.
• - Ao contrário de uma superfície colorida, um espaço em branco
parece exigir um preenchimento, desperta em nós uma vontade de
intrusão... Mitchell associou esse branco primordial, visível no fundo
do seu quadro “Dois Pianos”, com a surdez da sua mãe. “Penso no
branco como silêncio” (MANGUEL, 2021, p. 51).
Joan Mitchell
Dois pianos’, 1980, óleo sobre tela, díptico, 110 x 142.
• “Dois Pianos” sugere uma escrita apagada ou corrigida por meio da
cor. Os elementos que entram em sua criação adicionam camadas
possíveis à nossa leitura intuída e ainda inconclusa: por que nossa
tentativa de ler como espectadores, aquilo que em sua essência é
ilegível meramente preenche a ausência deliberada de um código
decifrável com um que tanto inventamos quanto desentranhamos
(MANGUEL, 2021, p. 54-55).
Parágrafos síntese:

- ... Esse método de ler a uma pintura, que usurpa para nós as
prerrogativas tanto de um escritor quanto de um leitor – um método
similar à identificação supersticiosa de sinais no jogo de cartas ou de
augúrios no casco queimado de uma tartaruga -, é o único pelo qual nós,
os espectadores, podemos almejar penetrar na imagem posta à nossa
frente ... talvez, seguindo esse método, nos iludamos, imaginando que a
nossa leitura abrange e até se assemelha à obra de arte em sua essência,
quando tudo que ela faz é permitir uma débil reconstrução de nossas
impressões por meio de nossa própria experiência e conhecimento
deturpados, enquanto relatamos para nós mesmos narrativas que
transmitem não a Narrativa, nunca a Narrativa, mas sim alusões,
insinuações e suposições novas (MANGUEL, 2021, p. 55).

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